21 de março de 2011

PAIXÃO NÃO É AMOR

      Nas minhas aulas de filosofia, depois que apresentei aos meus alunos o filósofo grego Platão, na sua obra o Banquete, agucei a curiosidade deles sobre o amor platônico, que acabou por levantar outra questão pertinente. A paixão. Existe algo mais apaixonante, de si para consigo, do que a paixão? Ao julgar se a paixão vale ou não vale a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia.

      Muitas pessoas confundem o amor com paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas, isto é, através de uma amizade constituída. É a capacidade de descentra-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em troca. Amar demanda cuidado com o outro, preservar a identidade e as diferenças do outro, sem perder a sua evidentemente. É o mesmo que estar comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo.

      A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar, na questão da poluição, segundo afirma a filósofa e educadora Neusa Vendramin Volpe.

      Ao contrário do amor está a paixão. O filósofo holandês Baruch Spinoza compreendeu que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: a que tipo de objeto estamos presos pelo amor? Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto. Segundo Platão, o amor perfeito só existe no mundo das idéias, ou seja, idealizamos esse amor e projetamos no outro. É um gostar de mim mesmo no outro. A partir do momento que esse não corresponder mais as minhas expectativas, deixo de amá-lo. Esse amor centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.

      Às vezes pensamos que gostamos de uma determinada pessoa, só porque ela nos entende. O que mais precisamos naquele momento é ser entendido por alguém, ou seja, compreendido por alguém.

      Portanto, ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe toda vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de amar. Ninguém da o que não tem. Se nunca fomos amados de verdade é pouco provável, entregarmos totalmente a um grande amor. Vamos estar sempre com um pé atrás. Vamos buscar no outro aquilo que não temos, aquilo que nos faltam e acreditamos encontrar na nossa  outra cara metade, parodiando Platão.

    

3 comentários:

  1. Mais uma vez , me surpreendo com a clareza do texto e a simplicidade para se falar de assunto tão complexo.
    vc é demais Edu.

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  2. Li, gostei e concordo. Apenas penso que gostar por nos ouvir, não é o mesmo que amar. Não dá para confundir. Será?! Rsrsrs

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  3. Gostei do que vc escreveu, realmente paixão não é amor.
    Quando eu tinha vinte anos,não sabia distinguir,amor e paixão,demorei pra discernir esses dois sentimento,agora não sofro mas com esse dilema.
    Não tenho dúvida do que é aamor, e do que é paixão! Um abraço meu amigo!

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