31 de dezembro de 2017

FELIZ DOIS MIL E DEZOITO

Todo dia é ano novo, na escuridão do infinito, do ponteado das estrelas na amplidão do universo, no simples prazer de vê-las, nos segredos desta vida, no germinar da semente. Todo dia é ano novo, nos movimentos da terra que gira incessantemente. Todo dia é ano novo, no orvalho sobre a relva, na passarela que encanta, no cheiro que vem da terra e no sol que se levanta. Todo dia é ano novo, nas flores que desabrocham, perfumando a atmosfera, nas folhas novas que brotam, anunciando a primavera. Todo dia é ano novo, no colorido mais belo dos olhos dos filhos seu. Você é paz, é amor à alegria de Deus. Não há vida sem volta e não há volta sem vida, no ciclo da natureza neste ir e vir constante. No broto que se renova, na vida que segue adiante, em quem ajuda o irmão, colhendo felicidade e cumprindo a sua missão. “Pai”, aqui entrego o meu espírito e agradeço nesta singela oração, que brotou do meu coração:

Boa noite Pai, já está terminando o ano de 2017 e agradeço pela vida que me confiou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido. Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que vi no rosto das crianças e dos idosos. Obrigado pelo exemplo que recebi de pessoas iluminadas, pelo que aprendi aos meus sessenta e seis anos de vida, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro com as injustiças e a total falta de respeito entre os humanos. Obrigado Pai pelo dom de amar, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver até aqui, pelo meu esforço e desejo de superação. Amado Pai, desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpa ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei. Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou lhe pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está começando, a nossa vida não para nunca, só a morte pode nos cessar. Enquanto isso, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a humanidade. E que a cada novo dia seja um continuo sim, numa vida consciente.” Por conseguinte, todo dia é ano novo, portanto, feliz ano novo todos os dias em 2018. 

28 de dezembro de 2017

NA TEIA DA VIDA HÁ UMA CONEXÃO CÓSMICA

Todas as coisas estão conectadas como o sangue que une uma família. O que acontecer com a terra acontecerá com os filhos e filhas da terra. Não foi o homem que teceu a teia da vida, nesse entrelaçamento ele é apenas um fio. O que ele fizer para a teia estará fazendo a si mesmo. Na teia da vida somos o resultado do que tecemos no dia a dia, criando armadilhas, conflitos emocionais, alegrias, realizações e satisfação pessoal. Não somos o tempo todo a mesma pessoa. Atuamos em vários papéis dependendo do grau de condicionamento em que vivemos ao interagir com outras pessoas. Compreendemos a teia da vida, como a medicina da criação, a malha cósmica do Karma. Poucos sabem que a teia da vida é uma conexão cósmica, onde tudo se entrelaça. Segue a lógica do efeito "bumerangue", tudo que mandamos para o universo, volta para nós. Aquilo que você fizer, seja para quem for, um dia voltará para você. Se fizer o mal com o mal, mais tarde vai ter que conviver. A ferida que você causar no outro é em você que vai sangrar.

Formamos pares para que a espécie humana, e mais concretamente os nossos genes, se perpetuem e também para que a vida seja mais agradável na companhia de uma pessoa especial, que pode nos oferecer muito e vice-versa. Porém, não é pela fragmentação das ciências, da filosofia, da sociedade e da natureza que se tem uma compreensão geral das mesmas, não é por parte que a vida e toda a complexidade que esta palavra carrega em seu significado, devem ser analisadas, mas pelo todo que faz compreender a essência. O ser humano tomado como um ser complexo em relação aos demais organismos vivos, não pode ser visto como um ser controlador obrigatório da natureza e superior às demais distintas formas de vida, pois não se trata de um ser externo à natureza, ele faz parte dela, é a natureza. Não há partes isoladas que funcionam independentemente nesse complexo sistema que é a vida, vista aqui não apenas em sua forma biológica, mas social, política, cultural, científica e filosófica, essa é a teia da vida, da qual o ser humano é apenas um fio.

Portanto, na teia da vida o masculino e o feminino precisam se unir para ficarem “conscientes”, de que estão conectados com o plano cósmico. Se não unir o positivo com o negativo a água não aquece. A capacidade de sentir amor é que faz a gente melhorar como ser humano e promover a compaixão. Sendo a vida uma mistura do que a gente faz dela com o que ela poderia ser. Quando não vibramos na mesma sintonia com teia da vida, só podemos entender o que o outro fala, mas não compreendemos o que ele sente. Deixaram-nos com medo ao dizer que a divindade está fora. A divindade não está somente fora, essa é apenas metade da verdade. Ela está também dentro de nós. Somos todos seres divinos. Na teia da vida encontramos as respostas que tanto buscamos. A natureza animal e a natureza divina, que então separadas, precisam ser unidas. É o animal em nós que é medroso, que está sempre lutando para conseguir mais. Contudo, é o divino em nós que é capaz de cooperar e ser amoroso. Como dizia o mestre hindu Mahatma Gandhi (1869-1948): “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.

24 de dezembro de 2017

ESTAÇÃO NATAL NOSSA PRÓXIMA PARADA

A vida é comparada a uma viagem de trem cheia de mistérios, com embarque e desembarque, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre conosco nesta viagem. Talvez seja a hora de deixar para trás aquilo que nos trouxe tristeza, e todo o mau que sofremos até aqui. Chegou a hora de dar uma parada na estação Natal. Imagino que existe muitas expectativas nesta próxima parada. É nessa estação que o Cristo nos espera disfarçado num rosto qualquer. Vivemos a cada ano a falta de alguma coisa que não sabemos muito bem o que é. Talvez seja a falta do Cristo vivo em nosso coração. As músicas natalinas continuam as mesmas de décadas atrás, as comemorações são iguais em qualquer família cristã e o cardápio da ceia de Natal, até hoje continua o mesmo, ninguém mexeu. E Jesus que passou pela terra, é o mesmo Cristo que nos espera na estação Natal. Como será esse encontro com Ele?

Na estação Natal, muitos não conseguem enxergar o Cristo, porque não olham com o coração. Seu olhar é superficial e seu discurso é ideológico. Mal sabem eles que o Cristo pode estar disfarçado na figura de um morador de rua. Há pessoa que gosta de selecionar suas amizades, ela pode estar excluindo o Cristo que está disfarçado entre nós. Ao procurar o Cristo disfarçado entre os passageiros na estação Natal, certamente chegará a maior graça que um ser humano pode alcançar. Ao tentarmos descobrir quem é o Cristo que vive entre nós, passaremos a olhar cada um com os olhos do próprio Cristo, e aqui está o grande segredo. Enquanto não passar a enxergar cada um com os olhos do próprio Cristo, é impossível chegar à “experiência do amor”. Não adianta desembarcar na estação Natal se não encontrar o Cristo que vive em cada um. Desejar feliz Natal sem reconhecer o Cristo no outro, é hipocrisia.

Por outro lado, a nossa parada na estação Natal, nos remete a lembranças de pessoas queridas que já desembarcaram e não compartilham mais conosco desse encontro. Sentimos no corpo e na alma a saudade de pessoas amadas que se foram, e nesta lembrança nutrimos uma espera sem esperança. Porém, a vida é uma longa viagem só de ida, sem volta. De modo que, esse ilustre personagem chamado Jesus, que viveu a mais de dois mil anos, nos fez um convite: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João - 14, vs.02). Faço uso dessa metáfora, e assim parodiar a música de Sérgio Bittencourt (1941-1979), na voz de Nelson Gonçalves (1919-1998): “Naquela Mesa”, que traduz exatamente o que sentimos com a chegada do Natal. Permita-me usar a estória da minha saudosa mãezinha “Dona Lazinha”, uma mulher simples de uma fé incomensurável. Foi com ela que aprendi o verdadeiro sentido do Natal:

Lembro-me dela com carinho e me alimento dessa lembrança ao sentar nesta mesa, onde ela sentava sempre e me dizia feliz o que é viver melhor. Aqui ela contava história que hoje na memória eu guardo e sei de cor, e agora conto escrevendo. É nesta mesa que ela juntava gente e contava contente o que fez durante o ano que estava a findar. E nos seus olhos era tanto brilho, que por mais que seu filho fiquei seu fã. Eu não sabia que doía tanto, essa mesa no canto, aquela casa e um jardim que ficou lá em Rubião. Se eu soubesse o quanto doí à vida, essa dor tão doída não doía assim. Acreditem, nesta mesa está faltando ela (e tantas outros pessoas) e a saudade dela doe demais em mim.” A saudade só não mata, porque tem o prazer da tortura. Vale lembrar, que saudade é amar um passado que nos machuca no presente.

Portanto, fui educado nessa atmosfera natalina. A minha mãe que era uma mulher cristã e de muita fé. Ensinou-me que devemos amar sem criar expectativas. Devemos demonstrar gestos de gentileza e respeito sempre. Ser justo e nunca julgar o outro pelas suas fraquezas. Meditar muito e pensar sobre nossas ações. Levar conosco, apenas as boas lições da vida e as lembranças daqueles que nos fizeram felizes por algum tempo. O desembarque e o embarque na estação Natal, nos traz esperança, para continuar a viagem no trem da vida. A lição que tirei foi a seguinte: “Dizer o que penso com esperança, pensar no que faço com fé, fazer o que devo com amor. Pois, esforço-me para ser cada dia melhor, ser bom é um aprendizado indispensável”. Muitos ainda estão por descobrir o valor da amizade. Lembre-se, a próxima parada será na estação Natal, Cristo está a sua espera. Encontre-o.  

20 de dezembro de 2017

NOTA DE REPÚDIO E MANIFESTO

Eu, EDUARDO MORAIS, venho através da presente nota, sucintamente, esclarecer alguns fatos: “Venho sendo vítima de uma injusta e perversa perseguição via redes sociais, numa campanha difamatória de minha honra e de minha imagem, o que vem me causando inúmeros transtornos e prejuízos, inclusive pelo envolvimento de minha filha menor de idade”.

Sou um professor, escritor, educador, filósofo e pai de família, enfim, uma longa trajetória acadêmica e de vida, honrada, com mais de 35 anos de carreira, e agora tudo que foi construído arduamente durante toda uma vida querem destruir, de forma covarde, astuciosa e mentirosa. Diante de todo o ocorrido, todas as atitudes legais que posso lançar mão para coibir este mal serão utilizadas.

Informo a quem possa interessar que já fora lavrado um boletim de ocorrência ( 2128/2017 – 3ª DP de Campinas/SP) e foi comunicado oficialmente ao Ministério Público da 1° Vara da Infância e Juventude de Campinas/SP. Ademais, os responsáveis por tais atos, estão sendo notificados extrajudicialmente e responderão por todos os prejuízos causados na esfera “Cível” e “Criminal”.

Portanto, confiando na justiça e no bom senso dos homens de bem, era o que tinha a expor.

16 de dezembro de 2017

O AMOR COMO BUSCA DA COMPLETUDE

Acho muito difícil e complexo comentar de uma forma nova um assunto que já conhecemos. Temos uma forte tendência conservadora, que nos leva a rejeitar, ao menos num primeiro instante, qualquer ideia que não esteja em concordância com o que já sabemos. Trago para esta reflexão o outro lado do amor. Ou seja, o avesso de tudo aquilo que acreditamos que seja o amor. E o mais difícil ainda é a pessoa enxergar seu aspecto menos simpático. No entanto, o amor corresponde a uma busca de completude. Todos nós, desde o inicio da vida, temos a sensação de sermos incompletos. Parece que só nos sentimos inteiros e em paz quando estamos com o nosso eleito. Sendo assim, é óbvio que nosso primeiro amor é nossa mãe, e todos os outros objetos de amor que venhamos a ter ao longo das nossas vidas serão substitutos dela. Desse modo, passamos a viver com o outro uma relação infantilizada.

No entanto, quase todas as crianças são extremamente dependentes de suas mães, com as quais têm a sensação de estarem fundidas. Sentem-se inseguras quando estão longe delas e vivem atormentadas pelo pesadelo de que ela poderá abandoná-las ou morrer. Quando refletimos sobre as relações amorosas entre adultos, percebemos que o modo como se unem é muito semelhante ao sentimento que liga uma criança à sua mãe. A grande verdade é que os ingredientes negativos relacionados ao ciúme também se manifestam de uma forma muito intensa. É por causa disso que costumamos perceber o amor como um sentimento que acaba se opondo de modo mais ou menos definitivo aos desejos de individualidade. O amor adulto é uma cópia do que se passa na infância. O discurso é mais racional, mas as reações são idênticas às das crianças. Casais apaixonados se tratam com certo mimo infantil e gostam também de receber agrados infantis. Não sabem dialogar quando necessário.

Entretanto, esses pequenos detalhes não seriam importantes se não viessem acompanhados da noção, que aqueles que se amam têm direito sobre seus amados. A mãe se acha com direito sobre seus filhos e isso, até certa idade, faz sentido. Agora, que o marido possa dizer à esposa se ela pode ou não usar determinada roupa, se pode ir ou não a um dado lugar, é uma ofensa aos direitos individuais. O outro tipo de relacionamento íntimo que vivenciamos é o da amizade. Aqui, o prazer da companhia é tão importante quanto o que existe nas relações chamadas amorosas. A confiança recíproca, o vinculo criado e a cumplicidade costuma ser até maiores do que as alianças encontradas entre os que se amam. Somos mais respeitosos e menos dependentes de nossos amigos. Diz a sabedoria milenar que toda relação amorosa é uma longa conversa, entre duas pessoas amigas.

Portanto, qual a conclusão que tiramos disso? Para mim, fica claro que o amor é um processo infantil que costuma se perpetuar ao longo da nossa vida adulta. A amizade é um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão e sim a aproximação de duas criaturas que tenham importantes afinidades e interesses em comum. Nossa parte adulta estabelece vínculos respeitosos e ricos em intimidade, que correspondem à amizade. Nossa parte infantil tende a estabelecer um elo único com outra pessoa, em relação à qual passamos a ter expectativas similares àquelas que tínhamos de nossa mãe. Não tenho nenhuma dúvida a respeito: “amizade é um processo muito mais adulto do que aquele que chamamos de amor”. Aquele que se diz amar é o que mais machuca o seu amor. Só posso dizer que nesse amor infantilizado, não há completude.

13 de dezembro de 2017

TANTRA, UM CAMINHO DE CONEXÃO COM O OUTRO

Apesar do Tantra não se referir apenas a prática sexual, que na verdade, representa um mínimo percentual, de modo que é pela intimidade tântrica que o Tantra é mais conhecido. Mas, longe de ser mais uma tendência sexual. Tantra é um caminho espiritual, de reconexão consigo mesmo e conexão com o outro. Num mundo de relações humanas desgastadas e superficiais, muitos procuram técnicas novas que possam oferecer experiências diferentes das que tiveram. Vale lembrar, que é impossível à prática da intimidade tântrica, sem ter o mínimo de amor pela outra pessoa. O conceito de amor é bastante revisitado e ressignificado em um contexto tântrico. No entanto, a palavra ressignificado, é um método utilizado em neurolinguística para fazer com que pessoas possam atribuir novos significados aos acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo.

Criar um clima de intimidade mais profunda com seu parceiro para gerar uma conexão com o coração através da sexualidade de cada um. Fazer tudo de forma mais lenta irá ajudar a se fazer mais presente durante a intimidade e dar mais atenção aos sentimentos e necessidades dos apaixonados. Aceitar e utilizar a energia sexual que flui em comum entre ambos. Tornar esse momento mais provocante possível irá fazer com que os amantes, sintam tudo com o coração e também dar mais harmonia a relação amorosa. Neste momento, é muito comum que role vergonha de seus corpos e insegurança na hora do contato íntimo. O segredo é ir de mente aberta e receptiva para o encontro íntimo e se concentrar apenas no momento e sem medo de incorporar novas experiências.

Portanto, a principal ideia da intimidade tântrica é ir com calma. Estimular pontos de maneira relaxante e observar a reação do outro é um dos caminhos para aumentar o prazer entre os dois. Na intimidade tântrica os apaixonados desenvolvem os sentidos, o que proporciona sensações mais intensas do que em uma relação amorosa descompromissada. Por isso, o prazer físico pode ser mais longo e intenso. Mesmo porque a busca pelo prazer não é algo imediato e, portanto, os amantes não concentram a energia sexual somente nos órgãos genitais. A dica é se entregar para a experiência e criar um clima mais excitante, se possível num ambiente com música romântica a luz de vela e de preferência com arranjos de flores vermelhas, simbolizando o desejo carnal. Enquanto se estimulam, o casal deve sentir a respiração um do outro e promover carícias leves que aumentem a sintonia. Quebrar tabus e experimentar o novo, está na natureza humana. “Quem vive deseja, quem deseja sofre. Só posso concluir que a vida é dor” (Arthur Schopenharuer, 1788-1870).

10 de dezembro de 2017

O DESPERTAR FEMININO NO PRAZER TÂNTRICO

Na verdade, o Tantra é uma filosofia hindu milenar. Seus preceitos se baseiam na ideia que o corpo é um meio para o conhecimento, e a nossa consciência reside também nele e não só na nossa mente. Por isso o corpo é merecedor de atenção, reconhecimento e respeito. O Tantra percebe o corpo como uma ponte que liga a terra ao transcendental. Dessa maneira, tudo que o corpo vivencia e nos proporciona em termos de sensação deve ser tratado como fonte de autoconhecimento e conexão com o mais superior de nós mesmos. Por conta desses preceitos, o Tantra é considerado uma filosofia que afasta a possibilidade de qualquer repressão, que são impostas ao nosso corpo, nossos desejos e sensações pela cultura, pelas religiões e pela moral. O Tantra propõe uma cura através do prazer consciente e consequentemente da ativação da nossa energia sexual.

A grande questão a ser respondida é que todos os grandes pensadores da humanidade, sempre se referiram ao sagrado feminino com inferioridade e desdenho, como se a mulher existisse somente para procriar e servir ao seu senhor. O caminho percorrido para que as mulheres chegassem até os nossos dias em iguais condições com os homens e assim ser reconhecida, foi uma luta árdua e penosa. De modo que na filosofia Tantra Hindu, a mulher é considerada a “sacerdotisa do amor”, porque é com ela que os homens de boa vontade aprendem a “arte de amar”. Tem algo mais pleno e soberano que esse encontro com a deusa do amor? O Tantra nos revela que só a mulher é capaz de sentir prazer em qualquer parte do corpo, com muito mais intensidade do que os homens. Não é por acaso que na filosofia tântrica a mulher é considerada a professora do amor romântico, pela sua capacidade de intimidade amorosa com o seu homem.

Vale lembrar que a mulher se prende com muita facilidade aos estímulos românticos, enquanto o homem aos estímulos físicos. Desde a paquera até a cama quem dita às regras é a mulher. As mulheres sabem da suscetibilidade sexual dos homens. Talvez seja esse um dos pontos críticos do Tantra Hindu, saber prolongar o prazer sexual. Isto tem despertado muita estranheza nas pessoas e principalmente nos homens que tem muito que aprender com as mulheres a arte de vivenciar o sexo amoroso. Para quase todos os homens é impossível manter um controle no momento da intimidade com sua amada. Na hora da cama, do sexo, um número significativo de homens vira meio que bicho, afoito vai direto ao estímulo final a ser alcançado que é o orgasmo. A mulher até permite para ter o carinho do seu amado. Invariavelmente a mulher é obrigada a fingir orgasmo só para agradar o seu homem que reclama caso ela não sinta algum prazer.

Com o sexo tântrico não é assim que acontece. Aqui o sexo não é praticado visando o orgasmo. O que interessa aqui é atingir um estado de consciência maior sobre o corpo do outro. A prática não quer apenas potencializar o orgasmo e intensificar o prazer. É muito mais que isso, é espantar a afobação ao concentrar e espalhar a energia sexual pelo corpo inteiro. No entanto, a mulher por natureza é Tantra. Pelo simples fato de experimentar um ciclo sexual demorado, caso aceito e aproveito, posso dizer que estou me fazendo tântrico. De modo que se acompanhar o desenvolvimento natural da sexualidade e deixar amadurecer no sentido de ir aprendendo com ela, em vez de fixa-la em um padrão único e monótono, como faz a grande maioria dos homens modernos, esse aprendizado torna-me tântrico mesmo sem pretender ser, e mesmo sem treinamento.

Portanto, a sexualidade também amadurece com o tempo e pode ser aprendida, claro que evidentemente se o indivíduo conquistar liberdade e condições para isso. O mais difícil é vencer o preconceito que existe em torno desse assunto sexualidade. Se livrarmos de tudo o que é dito sobre o envelhecimento sexual, então qualquer pessoa, tanto homem quanto a mulher chega quase naturalmente ao Tantra. Podemos concluir que a mulher está ano luz na frente do homem na questão da sexualidade. Ela é capaz de sentir prazer em qualquer parte do corpo. Ela é uma lição para muitos homens que são diretos e precários no momento da relação amorosa. Contudo, não existe mulher fria, existe homem incompetente ou homem desinteressado. Assim, como não existe homem impotente e sim mulher incapaz de despertá-lo ou desinteressada. Vale dizer, que só o contato amoroso pode nos salvar através do prazer concreto, cutâneo, sensorial e afetivo. Enfim, Tantra é amor, é vida, é prazer e é transmutação. É o encontro vivo com a divindade. 

3 de dezembro de 2017

EMOCÕES E SENTIMENTOS

Temos uma tendência a tratar muito mal as nossas emoções. Damos pouca importância aos sentimentos nobres como é o caso das emoções. Desde nossa terá idade, somos permanentemente adestrados para não sentir e nem expressar naturalmente as nossas emoções. Esta é a educação que recebemos, principalmente em nosso ambiente familiar. Quantos problemas de relacionamento poderiam ser evitados se soubéssemos lidar com as emoções? Tendo em vista, que as emoções como medo, raiva, tristeza e alegria fazem parte do desenvolvimento da nossa personalidade e contribuem diretamente para a sobrevivência da espécie humana. Quanto bem direcionado serve para impulsionar e proteger a pessoa de diversas situações de desespero no dia a dia.

Entretanto, a partir do momento em que não se sente livre para sentir o que se sente, ficamos a mercê de doenças psicossomáticas. Significa a negação das emoções. É não aceitar a nossa totalidade. Só que o fato de negarmos o que sentimos não resolve, pois há em nós energia emocional contínua procurando uma forma de ser liberada. Caso sejamos proibidos de expressar o amor que sentimos, podemos acumular raiva, mágoas, ressentimentos ou desenvolver um sintoma físico. Sempre dizemos não à felicidade que insiste em bater a nossa porta. Pois vivemos com medo, e viver com medo é viver pela metade. As pessoas tem permissão para sentirem, mas não para deixar claro esse sentimento. O que vão pensar de mim os outros? Ou então, permite-se sentir, falar, mas não agir em função do que sente. De modo que o sentimento fica dissociado da nossa conduta, muitas vezes por não ter aprendido a tomar decisões baseadas nas emoções.

Porém, agir no impulso das emoções, sem controle é típico de quem coleciona determinadas frustrações, segundo os especialistas e estudiosos do assunto. No caso do amor essas emoções reprimidas, quando explode desencadeia nos chamados crimes passionais. Todavia, uma ação baseada no impulso, embora caracterize uma liberdade maior, não é isenta de problemas. Se for raiva contida, a pessoa explode não se importando onde ou com quem. Se for medo, a pessoa paralisa ou foge, agindo impulsivamente. É um indicador considerável que a pessoa tem um problema emocional de fato. No entanto, a criatividade, a empatia, a sensibilidade, a plenitude de viver estão associados à recuperação da capacidade de sentir e expressar essas emoções.

É nesta habilidade social que se exige um aprendizado mais apurado. Aprender em primeiro lugar a nos conhecer profundamente e a partir daí, compreender o outro. Conviver é estabelecer com o meu próximo, uma relação de empatia e compaixão. De modo que aprendemos a ler e a escrever, mas não aprendemos a lidar com as nossas emoções. Vivemos entre discussões inúteis, faltamos com o respeito no ambiente familiar, nas escolas e no trabalho. A maioria dos relacionamentos afetivos é uma catástrofe do começo ao fim, uma insatisfação evidente estampado no rosto de cada um. Que vem misturado com um ódio espantoso. Talvez esteja aqui o começo de todas as loucuras humanas.

Portanto, alguns estudos confirmam que oitenta por cento das pessoas que procuram médicos, sofrem de doenças emocionais e trinta e sente por cento, sofrem de doenças meramente imaginárias, isto é, imaginam uma doença e as têm com cem por cento. São os denominados hipocondríacos. Aqui está somente uma pequena amostra do quanto tratamos mal a nossa emoção. Contudo, os seres humanos tem a possibilidade de melhorar e desenvolver suas emoções. A chamada inteligência emocional pode ser desenvolvida, treinada e aprimorada por meio da construção de novos hábitos, novas formas de pensar e se comportar. Vale lembra, que quando discutimos com uma pessoa querida, deixamos o nosso coração se afastar dela. As palavras que emitimos de forma pejorativa, vão aos poucos distanciando esse ente querido. Pois, chegará um dia em que a distância é tanta que não encontraremos mais o caminho de volta, para os braços desta amada pessoa. Finalizo essa reflexão com uma frase do filósofo alemão Arthur Schopenharuer (1788-1870): “quem vive deseja, quem deseja sofre, logo, a vida é dor”.

26 de novembro de 2017

LIBERDADE E PAIXÃO PELA VIDA

O pai da psicanalise Sigmund Freud (1856-1939), sempre se referiu ao sexo feminino como um “continente negro”. Num dos seus ensaios ele conta que uma de suas pacientes, sonha com um arranjo de flores, misturando violenta com lírios e cravos. Numa abordagem psicanalítica, os lírios representam a pureza, os cravos o desejo carnal e por último, não menos importante, as violetas como a necessidade inconsciente da mulher de ser violentada pelo o homem.

Para contrapor Freud, vem surgindo um fato novo, que implica na mudança de comportamento do homem moderno. Para demonstrar essa tese, observa-se que os homens de modo geral andam fugindo da raia das mulheres. Talvez porque elas estão mais atualizadas, leiam mais, estudam mais e se interessam por novidades, sem falar na independência econômica de muitas. Uma parcela significativa de mulheres, atualmente cuida e administra sozinha uma casa de família. Todavia, os homens estão cada vez mais encolhidos no seu mundinho, e ainda acham que sabem tudo. Não leem livro, não estudam, não fazem cursos e vivem procurando não sabem bem o que, em whatsapps e redes sociais.

Entretanto, uma mulher moderna, razoavelmente bem sucedida na vida, independente, bonita e inteligente, de certo modo assusta os homens, ainda mais aqueles sarados, que se acham e são metidos a machões. Esses então, não suporta ficar de fora do centro das atenções. A grande maioria dos homens não tem tanta competência assim e nem maturidade para tanto. São carentes e frágeis, cai com facilidade na lábia de certas mulheres aproveitadoras e oportunistas. Sexualmente falando são extremamente monótonos e primitivos.

O homem que se acha o gostosão, o machão latino, como tem muitos por aí, não tem coragem de se propor ou de casar com mulher que ele sente-se inferior a ela. Ainda hoje em pleno século XXI, conheço mulher com grande potencial intelectual que se casou, não digo com homem incompetente, mas, com homem comum e com pouca formação escolar e muito autoritário. É bom que se diga, ao contrario também existe. Há mulheres que atazana a vida do homem. Mas, muita dessas mulheres submete inteiramente, para que o marido ou o namorado não se sinta ferido no seu amor próprio. Que horror!

Penso que está aqui o começo de todas as loucuras humanas. Deixar de ser eu mesmo, para ser o que o outro quer. Vale lembrar sempre, que viver com medo é viver pela metade. Todos nós aprendemos que o tempo nunca volta atrás e o futuro inventa novas emoções. É melhor fazer alguma coisa ao invés de não fazer nada. A nossa primeira obrigação é reconquistar a alegria de estar vivo, assim como a nossa dignidade. Isto é, seguir os interesses vivos que estão na minha frente. Ter maior clareza naquilo que realmente esperamos da vida, procurar olhar com o coração o que nos faz bem. E fazer amigos verdadeiros. O mundo precisa de boas amizades, para curar-se do egoísmo.

Portanto, uma abertura maior, mais segura e confiante, com menores possibilidades de engano a si mesmo e ao outro. A decorrência disso é a nossa capacidade de encontro conosco mesmo e com o amor que nutrimos pela vida. Passamos a atuar constantemente em favor do que realmente é a nossa vida, buscando o que nos dá prazer. Sobretudo, depois de tantos anos de repressão, agora chegou o momento das mulheres declarar independência ao machismo sádico. Somente pessoas sensíveis e gentis, tanto homem como mulher, irão herdar este espaço que constituímos para ser feliz com quem amamos. Contudo, agradeço a todos os dias da minha vida, dizendo: “que maravilha estar aqui, como é bom viver, como é bom ser eu mesmo”. Da vida nada se leva a não ser a vida que se leva.

24 de novembro de 2017

DESPIR-SE PARA TRANSFORMAR A DOR EM AMOR

Vivemos com medo de tudo que é novo, o desconhecido nos assusta e às vezes até nos paralisa. No filme: “Irmão Sol, Irmã Lua”, do diretor Franco Zeffirelli, de 1972, narra à trajetória da vida de São Francisco de Assis (1182-1226), um jovem sonhador, filho de comerciante, que desfrutava de bons vinhos, lindas mulheres e canções sem ter nenhuma preocupação. Quando a guerra e as doenças assolaram a região onde viveu, ele sofre uma grande transformação. Resolveu abandonar tudo ao ver essas coisas ruins acontecendo na sua região. Foi aí que resolver transformar essa dor em amor Ao aparecer diante do Bispo local, ele se despe de suas roupas, simbolizando a renúncia a sua vida prévia para dar início a uma vida dedicada a Deus e ajudar aqueles que mais necessitavam. Mas sua pregação só iria chegar ao ápice quando ele vai a Roma, para ter uma audiência com o Papa Inocêncio III.

O filme é maravilhoso relatando a vida do nosso bondoso Francisco de Assis. Um homem que teve a coragem de abandonar a vida rica, o luxo, os prazeres do mundo, a família e viver para o seu próximo. E o desistir das satisfações efêmeras, dos bens materiais, das regalias e diversões, ele alcançou o maior triunfo de sua vida. Seguindo o exemplo de Paulo de Tarso conseguiu realizar em si mesmo, uma profunda reforma moral e social, através do tempo. Compreendeu que o seu desiderato era servir, era amar ao próximo como a si mesmo, era seguir os ensinamentos maravilhosos do mestre Jesus. Irmão Sol, Irmã Lua que é um excelente filme, uma grande demonstração de humildade e uma lição de vida para os cristãos. Seu diálogo com Deus traduz a sua essência ao dizer: “Senhor, fazer-me instrumento de vossa paz! Onde houver ódio, que eu leve o amor (...). Pois é dando, que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”!

Puxei pelo filme, por ter muito a ver com a nossa reflexão. Principalmente, na cena em que ele se despe de suas roupas e sai rumo ao que acredita para sua vida. A atitude firme do jovem Francisco mostra que, em certos momentos de nossas vidas, a ruptura tem que ser radical. Para iniciarmos uma profunda transformação em nossa vida, devemos colocar em xeque valores, tradições, ensinamentos e posturas que são como roupas velhas em uma alma que aspira por amor e vida em abundância. Esse caminhar em direção ao nada, numa linguagem nietzschiana, só para fazer referência ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que chamava o nada de “niilismo”.

Sem essa consciência, como vou saber se sou conservador ou progressista, se sou bom ou mal, forte ou fraco, se não chego até a linha que demarca o limite entre uma posição e outra? Chegar ao ponto zero ou ao nada requer uma reflexão profunda, íntima, dos valores que tenho que são meus por convicção, com aquele que acostumei e incorporei por osmose social. Enquanto não chegarmos a esse ponto zero, despir-se dessas roupas velhas em detrimento das novas, a tendência é encontrar desculpas para nossas fraquezas e fracassos. Onde não há transformação e nem crescimento, não podemos afirmar que o amor ali impera. Ao plantar a dúvida podemos estar decretando a morte ou a possibilidade de conhecer o infinito. Pois é através do amor que o infinito revela-se em nós e com a sua luz nos ilumina e nos guia.

Portanto, dizer que somos assim por causa da família, ou da condição social é uma forma de arranjar culpados pela nossa inércia e esconder o medo que temos da transformação. Contudo, a tarefa em buscar do nada não é fácil, precisamos de ajuda, talvez de um psicoterapeuta ou de um religioso consagrado. Mas o importante é predisposição para o encontro é para com os conflitos diante das velhas roupas que queremos arrancar do corpo. A grande sabedoria da vida é saber envelhecer. Porque a alma nunca envelhece, só nos torna cada vez mais sábio. A mensagem que fica é a seguinte: “Despir-se para transformar a dor em amor”. Tudo na vida é consciência.

20 de novembro de 2017

O DRAMA DA NOSSA VAIDADE

Vivemos em tempos de modernidade líquida, nada é feito para durar muito, nem mesmo as amizades. Nós não consertamos mais coisas, assim como não consertamos mais relações humanas, nós trocamos. A vaidade é o preço maior que pagamos para qualquer coisa. Nós não compartilhamos mais dores e fracassos, pelo contrário, bloqueamos qualquer um que se atreva a nos contrariar no “Facebook” ou no “Whatsapp”. Julgamos o outro com facilidade, com sorriso no rosto e mostramos uma imagem falsa, de uma vida feliz. Ao trocarmos de carro, de computador ou de pessoas que amamos por outras, vamos substituindo a dor do desgaste pela vaidade da novidade. Ao trocar alguém creio, imediatamente tornamo-nos pessoas mais interessantes aos olhos do novo. E não percebemos que aquele espelho, continua sendo o drama da nossa vaidade.

Todavia, o que não toleramos na pessoa anterior é que ela nos mostrou o quanto estamos decaindo, envelhecendo e que não somos mais interessantes para ela. E na nova pessoa, exploramos o quanto queremos ser interessante. É triste constatar que o nosso mundo hoje tenha eliminado a humildade como virtude. É fascinante, por exemplo; que aceitamos todo e qualquer elogio, porque dentro de nós, segundo os místicos medievais, há um demônio da vaidade esperando por elogios. Aquele que acredita no que não pode ser acreditado. Como Lúcifer um dia, acreditou que podia ser igual a Deus. Apesar de saber que um Arcanjo criado, jamais poderia ser igual a Deus. Ou seja, repetimos e é aqui que a natureza humana entra: “O pecado de Lúcifer”.

Entretanto, brigamos permanentemente por esse “Ego” insaciável. Vale lembrar os budistas, que centraram fogo nesse ego que nos corrói por dentro. Porque nós preferimos ser perseguidos, a ser ignorados. Preferimos tudo, menos não ser visto e elogiado, porque viver hoje é ser visto. Senão fotografar onde estivemos e o que estamos fazendo, de nada valeu a nossa estadia. Ver é viver. E ser visto é ter a certeza que vivi. Se o homem escolher, poderá saber que tudo aquilo que parece fazer bem aos outros é na verdade, um engano de vaidade. De modo que, a todo instante a nossa vaidade é testada. E como não gostamos de dizer que somos vaidosos, nós a desfazemos através de recursos, fazendo-se passar por humildes e simpáticos a todos que nos rodeiam. De modo que, acabamos sustentando esse grande vicio que é o da vaidade. As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas. Mas que vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. O que nos determina é o que a vida nos ensinou.

Portanto, temos que nos conformar que a vaidade seja uma instituição, que a vaidade esteja presente entre nós permanentemente. Temos que aprender a lidar com ela, para não ficar com falsas humildades. Temos que aprender, que sempre haverá alguém mais hábil, melhor e acima de nós. A única maneira de não ser vaidoso e pensar apena em nós, é parar de nos comparar com os outros, ou seja, devo pensar somente em mim. Isto é uma redundância. Por conseguinte, não tem saída jeitosa para nós humanos, estamos todos isolados. Nos momentos que o meu “Eu” é reconhecido e dialoga com os outros. Chamamos a isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. E nos momentos que não dialoga, que ninguém se escuta e não se entende, chamamos a isso de encontro, amizade, namoro ou casamento. Contudo, no meio desta dialética, nós tratamos então, do pecado, do erro, do vício e da vaidade. Concluo com uma frase que gosto muito de João Guimarães Rosa (1908-1967), do seu livro: “Grande Sertão Veredas”: “Amigo para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo do outro. Amigo, é que a gente seja, mas sem precisar saber o por que é que é”.

18 de novembro de 2017

SE HÁ RESPEITO O AMOR NÃO MORRE

Os relacionamentos chegam ao fim por diversos motivos. Alguns por excesso de ciúmes, outros por exagerados cuidados, outros por falta de respeito, mas, dificilmente acabam por falta de amor. Talvez eu esteja entre uma pequena parcela da população, que ainda acredita no amor. Muitas vezes abandonamos uma pessoa, ainda sentindo muito amor por ela. Mas, a nossa relação sofreu tantos maus tratos, que não há mais como continuar. As relações são afetadas pela maneira como o outro nos trata, seja de uma forma boa ou ruim. Se bem cuidado, o amor dura uma vida, se maltratado dura semanas.

Porém, é interessante comparar do inicio ao fim do relacionamento. No começo as pessoas são gentis, educadas e se mostram preocupadas com o outro. Deixam até aquela sensação de eternidade na história de amor que estão começando a viver. Mas, na primeira briga, desrespeitam o companheiro de forma cruel, como se não tivesse nenhum sentimento entre eles. Em algum momento a sociedade pregou que basta amar para uma relação durar. E muita gente boa acreditou nisso. E o cuidado com o outro? E o afeto e o respeito, não precisam? Ou engole tudo isso com gelo? A verdade é que as pessoas perderam o respeito pelos outros e, no calor das emoções, usam as ofensas como quem usa uma metralhadora com a intenção de matar.

No entanto, conforme a rajada pode ser fatal e levar esse amor ao óbito. Mata o respeito, mata a confiança e principalmente a vontade de continuar. A pouco tempo li um livro interessar que tem tudo a ver com o tema tratado, cujo título é: “O Lobo da Estepe”, do escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), Prêmio Nobel de Literatura em 1946. Ele conta a história de um intelectual cinquentão vivendo em plena desvairada década de 1920 que, após abandonar a regrada vida burguesa, se entrega à dissipação da vida boêmia dos bares, dos salões de dança onde aprende o jazz das elegantes cortesãs.

Através dessa leitura e com a minha experiência, consegui entender o que acontece na alma humana diante dos conflitos e como podemos lidar com eles. Segundo o próprio Hesse: “o livro trata, sem dúvida, de sofrimentos e necessidades, mas mesmo assim não é o livro de um homem em desespero, mas o de um homem que crê no amor”. Nesse livro, em certo momento da narrativa, Hesse apresenta o conflito do homem entre a vontade de viver e de morrer, já que a segunda atitude parecia ser a solução de todos os problemas: “apesar de nunca querer morrer de verdade, sonhava com a morte do sofrimento”. Queria matar aquilo que doía: o remorso, o medo da solidão, uma saudade de quem partiu para sempre. Vale lembrar, que saudade é amar o passado que nos machuca.

Portanto, alguns relacionamentos, ainda que não levem à morte nem sirvam de reportagem para os noticiários sensacionalistas, deixam marcas profundas na alma das pessoas amadas. Entenda, de uma vez por todas, que ciúme doentio não é manifestação de amor, que onde prevalece à dor e a humilhação, não pode haver relacionamento saudável. Podemos ter a infelicidade de ser vítima da primeira ofensa ou da primeira agressão, mas não precisamos aceitar a segunda. Respeite-se e não precisará exigir isso dos outros. Lembre-se que violência começa com o desrespeito e, desrespeito, começa com a nossa aceitação. Contudo, todas as pessoas são merecedoras de respeito e consideração. Tendo em vista, que a felicidade só aparece para aquele que sofre, que se machuca na vida e que mesmo assim, busca e tenta sempre, trilhar o caminho do bem. 

15 de novembro de 2017

POR CIÚMES CAIM MATOU ABEL

No livro de Gênesis 4-8, registra a história de Caim e o seu irmão mais novo Abel que apresentaram ofertas a Deus. Porém, a oferta apresentada por Caim a Deus foi rejeitada e do Abel foi aceita. Possuído por ciúmes, Caim armou uma emboscada para seu irmão. Sugeriu a Abel que ambos fossem ao campo e, lá chegando, Caim matou o irmão. Pelo simples ciúmes que sentia do irmão em relação aos seus cuidados e amor com as ovelhas. Abel era um humilde pecuarista, que amava o que fazia. Algum tempo atrás, deixaram um comentário no meu Blog que dizia o seguinte: “lindo e verdadeiro, pois o ciúme realmente já me afastou de quem dizia me amar”. Fiquei sabendo depois que, muitos outros pretendentes se afastaram dessa pessoa. Esta é uma pequena amostra do quanto o ciúme é nocivo para nossa vida afetiva. Talvez porque ele cega o indivíduo, a ponto de tornar-se inseguro e covarde. Vale lembrar, que a covardia é mãe da crueldade.

De modo que, estar junto de alguém é uma arte por demais difícil em nosso mundo, onde as relações afetivas, não são feitas para durar muito. Nossa total falta de apoio cultural para as atitudes de convívio e interação. A pessoa amada é, entre outras coisas, um símbolo do outro ou de todos os outros. Quem está amando, sabiamente trata bem os demais. Na verdade, o amor é o sentimento concreto de solidariedade humana. Para entender melhor, faremos a seguinte pergunta: “O que espera de nós o mundo?” No mínimo que sejamos solidários e amorosos com os nossos semelhantes. É interessante perguntar quanta energia psicológica está sendo consumida por namorados e casais que tentam viver em seus relacionamentos por trás de uma máscara, recheada de intrigas, maledicências e fofocas. Usam com facilidade a palavra traição sem nada antes provar. Ouviram dizer e nada mais. A única coisa que a verdade nos pede é que não a julguem antes de conhecê-la.

Todavia, uma das coisas que a psicologia nos ensina, é que o indivíduo muito ciumento, geralmente é reprimido na sua subjetividade, pouco espontâneo, confia pouco nos seus próprios valores. Não pouco se apresenta como pessoa cheia de culpa e muito rígida em seus valores e, por conseguinte, torna-se muito controladora e o pior, manipula a todos que estão a sua volta. Vejo o ciúme como uma animada aventura policial, na qual o bandido, o cafajeste, o mentiroso, o traidor, é na verdade, a pessoa amada. Se não fosse trágico seria cômico. Quem se declara juridicamente vítima, na verdade, comporta-se como detetive e promotor, não raro com interrogatório sob tortura psicológica ou física, ameaças claras. Desconfia da pessoa com a qual vai continuar vivendo até não sei quando. E o pior, envolve outras pessoas que nada tem a ver com o seu problema.

O ciúme é o pior sentimento da humanidade, como vimos na história bíblica dos irmãos Caim e Abel, porque ele impede a generalização do amor. Parece que uma das raízes do ciúme é a possessividade, o pensar, sentir e comportar-se como se o outro fosse propriedade ou objeto possuído. O que nem sempre se esclarece é que esta posse quase sempre é recíproca. O policial manda e o bandido obedece. Está implícito que um é propriedade do outro. Não sei como dizer de modo decente essa coisa de subestimar um ao outro. De modo que, o ciumento é um verdadeiro senhor de escrevo diante daquele que se diz amar. Se o amor é reciproco, há espaço para sentir ciúmes? Como dizia o filósofo francês existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1980): “só existe senhor onde existem escravos”. Aceitar que meu amor possa não estar me amando neste momento é um alto índice de maturidade afetiva de ambos. Afirmam alguns psicanalistas que o ciúme é uma manifestação cultural de nossa inibição de agressão. Dos crimes passionais, nove em dez são por ciúmes. O ciúme tem tudo a ver com o ódio. O ciumento com o seu controle, consegue afastar cada vez mais, a quem ele diz amar. É um verdadeiro torturador do outro e de si mesmo.

Portanto, se alguém lhe disser que seu ciúme é sinal de amor, fuja desse amor como o diabo foge da cruz. Desejar a companhia de pessoas queridas, pedir por essas companhias, tentar prolongar os momentos juntos, fazendo-se o mais simpático possível, tudo isso parece muito bom e encantador. São tentativas legítimas de conservar ou conseguir o que desejo e o que é bom para o meu corpo e minha alma. É uma tentativa de conquistar aquilo que me é importante, e de um jeito que não afaste a pessoa da minha amizade, e nem da nossa convivência. Contudo, no momento em que começa a restrição, começa a agressão e o distanciamento. Quanto mais o ciumento fecha a vigilância, mais cresce no seu companheiro o desejo de se livrar desse vigilante. Quanto mais cresce na vítima o desejo de livrar-se, mais cresce no ciumento a necessidade de controlar. Enfim, permitir que o comportamento do outro seja a causa do meu desconforto emocional é de uma infantilidade absurda.

12 de novembro de 2017

HISTÓRIA DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

Para fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão, começo citando o filósofo e teólogo Huberto Rohden (1893-1981): “quem julga ter provado Deus é ateu, e quem adora esse deus, demonstrado é idólatra”. Diante destas palavras, então, não podemos ter certeza da existência de Deus? Não é uma resposta fácil. Vale lembrar, que a filosofia tem uma coisa que a religião não tem, que é a necessidade de certo “ateísmo metodológico”. O filósofo tem que ser alguém que não pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica, ainda que se tratasse de Deus, porque para a filosofia Deus não é “impossível” ele é “improvável”. Improvável significa que não posso provar e nem negar a existência de Deus. Porque Deus não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, teria que provar que Deus não existe. Como negar o que não posso provar?

De modo que não podemos negar aquilo que não se pode provar. Segundo porque Deus não é um ser físico, um super indivíduo, residente em alguma galáxia do universo. Terceiro porque, pessoa é necessariamente algo ou ser infinito que tem um fim, limitado. Tudo o que o homem fala sobre Deus, através da linguagem religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projeções. É sua consciência do mundo e de sua crença num ser metafísico. Podemos dizer que a Bíblia é, antes de tudo, a história da experiência religiosa de um povo singular. Aqui estamos falando do povo de Israel. Singular pela intensidade de sua experiência religiosa. Dentro da história das religiões, o povo judeu aparece marcado por sua inquietação religiosa, isto é, sua relação com Deus. A experiência religiosa concreta e singular desse povo não é a primeira que aparece ao ler a Bíblia. Apesar da singularidade assinalada, um historiador ou um filósofo imparcial, não verá em Israel nada de extraordinário.

Entretanto, o que se pode perceber ao assinalar o Antigo e o Novo Testamento, é que não seria mais do que um gênero literário, do qual se expressa à vivência religiosa de alguns seres humanos e através do qual só um crente poderá induzir a palavra de Deus. Portanto, a Bíblia é um livro escrito por homens, logo se conclui que a palavra de Deus não é direta e sim um desejo do autor que a escreveu. Levando em consideração que nós humanos somos a linguagem de Deus. Sendo assim, Deus é um nome religioso de Ser, enquanto este ser é experimentado em uma revelação que suscita a fé. Isto mostra que há mais sentido na palavra “Deus” que na palavra “Ser”. Parece que a primeira reúne todos os valores significantes da cultura pelo simbólico. Dirigimos diretamente ao Deus que formulamos, imaginamos e expressamos. Neste contexto, passamos a compreender a proibição do Antigo Testamento, de se fazerem imagens de Deus ou pronunciar seu nome.

Trata-se no fundo, de evitar o risco de idolatria. A ideia de Deus é sempre culturalmente condicionada. E mesmo quando um padre ou pastor transmite o que ele pensa que seja Deus, o seu deus, esse deus é transformado em função do que as pessoas então aptas a pensar sobre o que seja Deus. Não podemos definir Deus; porque no fundo toda tentativa de definir Deus encerra-se numa idolatria. Portanto, no pensamento do Antigo Testamento, Deus é revelado na história (o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó), é na história, não em uma situação que transcenda a história, que se acha a salvação do homem. Isto significa que as metas espirituais do homem são inseparavelmente ligadas a transformação da sociedade e da política. Fundamentalmente não é um domínio capaz de ser divorciado dos valores morais e da alto-realização do homem.

No entanto, o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) combateu a religião exatamente por ela estar alienada e não atender às necessidades verdadeiras do homem. A luta de Marx contra Deus era na realidade contra o ídolo a que chamam de Deus. Marx dizia: “não são ateus os que desprezam os deuses das massas, porém, aqueles que atribuem as opiniões das massas aos deuses”. O ateísmo de Marx era a forma mais adiantada de misticismo racional. Muito mais do que os defensores de Deus e da religião que o acusavam de ateu e impiedoso. De modo que a razão de Deus é uma necessidade que está no sonho, na linguagem, no discurso e na vida de cada ser humano. Quando deixamos de acreditar nestas instâncias, Deus desaparece. Gostaria de provocar o raciocínio lógico de alguns crentes fazendo a seguinte pergunta: “Qual seria a sua reação ao sentir que Deus é impotente diante do mundo?” O que me ocorre com esta indagação, é que haveria de revisar a onipotência de Deus, no sentido de mostrar que o mundo está em nossas mãos, sob a nossa exclusiva responsabilidade, e que nós, por outro lado, estamos nas mãos do mundo, nas mãos das forças da natureza e de suas leis, sem delas poder fugir.

Portanto, o verdadeiro crente não precisa recorrer à hipótese-Deus, para situar-se e atuar no mundo. O que minha fé diz: “é que Deus está presente no fundo da nossa própria atividade humana”. A experiência nos diz que é mais difícil acreditar nos humanos que a gente vê, do que em Deus que a gente não vê. Então, a pergunta que faço: “como acreditar em Deus, se não acreditamos no ser humano?” Tudo isso só para dizer, que a sombra dessa necessidade de transcendência de Deus, presente em algumas pessoas, que não esbouçam nenhuma reação critica sobre sua relação com Deus e com o seu próximo. De que adianta teoricamente, falar do meu amor a Deus, se não pratico esse amor com o meu próximo. Contudo, por conta disso, continua as eternas mentiras que criaram. Na verdade, não tem nada a ver com a fé ou crença de cada um. Mas, a fé e a crença têm que respeitar pelo menos o bom senso de cada um que pratica o bem. Talvez seja essa, a minha maior experiência com a divindade, praticar o bem sem olhar a quem. É com o meu semelhante, que compartilho a experiência do sagrado. Pensar Deus é uma questão de fé. Deus é um pensamento. Que sem o qual não existo. 

9 de novembro de 2017

OLHAR PARA O ENTARDECER DA VIDA

O símbolo das decisões sabia na Grécia Antiga era uma coruja. E a coruja só voa quando o sol se põe, os gregos e os romanos diziam: “a ave de minerva só alça voo no entardecer”. Assim como a juventude não é sinal de produtividade, a velhice não é sinal de estupidez. O meu medo não é da função que se encerra, mas, da vida que continua. Que o medo não seja da indiferença, mais da própria vida em si. A aposentadoria é uma ocasião não para deprimir, mas, para revelar quem de fato eu sou. Acredite, a cor da vida é a cor da morte. Ninguém se torna excepcionalmente diferente no fim do que era no meio, só a velhice piora algumas coisas.

Há um equilíbrio e uma contradição em cada idade. Suspiramos pela infância e a juventude, mas, nenhuma criança jamais acordou e disse: “como eu gosto de ser criança”. Só os mais velhos que compõem os poemas dizem: “aí que saudades que eu tenho da aurora da minha vida”. Por que naquela época o Natal era uma festa mágica? E hoje é uma festa cara, que eu lembro com susto quando se aproxima. Há uma dor em cada idade, há uma dor na falta de autonomia infantil, há uma dor no envelhecimento. Mas é o momento de dar uma resposta dura, que talvez os anos de trabalho tenham impedido que eu dissesse com clareza: “quem sou eu?” Agora sem a fantasia e sem a personagem.

Envelhecer é tornar-se invisível, já não sou mais o centro das atenções, logo, sou apenas eu e minha circunstância. Aquilo que está a minha volta. A solidão é o lugar onde estou comigo mesmo. A fama e a atenção é o lugar onde estou com os outros. Não sei mais se tenho medo da velhice ou tenho medo de mim mesmo. A diferença entre inferno e purgatório na tradição católica, é que o inferno é para sempre e o purgatório é passageiro. Os budistas tem razão, desejar incessantemente, tem um defeito. Impede que eu veja a beleza do lugar onde estou. Na certa vou ser infeliz. Incessantemente vou ver o pior de cada situação. Envelhecer é para mim, ficar observando as árvores, os rios e os pássaros, voando de galho em galho, coisa que eu não fazia quando jovem.

Portanto, envelhecer é afinar a sensibilidade, apreciar com a alma e ver com o coração. É levar os olhos para passear pela vida, é a estratégia bibliográfica, parar e fixar o olhar em tudo que encanta a alma. É saber desejar o que posso, e aproveitar o que consigo. Dizer a cada época, não existe nada no meu tempo que não seja agora. Como disse Santo Agostinho (354-430) nas Confissões: “só existe presente, o passado é uma memória e o futuro é inexistente”. Só existe hoje, este é o meu tempo. Nunca fui nada, apenas sou. Contudo, quero estar na companhia de pessoas que façam a viagem até o fim, e não daquelas que nos acompanham por conveniência. Pessoas que nos acompanham nesta jornada até o ultimo suspiro, que tenha objetivos e descubra no prazer de envelhecer uma alegria que nunca teve antes, porque o nosso tempo é agora. Quero ter garantia, que minha vida continua sendo minha e gerida por mim, instrumentalizada por mim, tecida com os fios aleatórios do amor. Como dizia Madre Tereza de Calcutá (1910-1997): “quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las”.

5 de novembro de 2017

PESSOAS EMOCIONALMENTE IMATURAS

O que caracteriza uma pessoa emocionalmente imatura? O problema da maturidade ou imaturidade traz consigo muitos mitos. Ninguém admite ser rotulado por um único aspecto. Cada um de nós é um recipiente no qual se misturam diferentes formas de consciência: “somos ignorantes e sábios”. Crianças e idosos, maduros e imaturos. Somos uma mistura, embora dependendo do momento algumas características se destaquem mais do que outras. Essa imaturidade pode ser definida como uma condição onde as pessoas ainda não renunciaram aos seus desejos ou fantasias da infância. Acreditam que o mundo gira ao seu redor e que a realidade está aí para se ajustar ao que elas desejam.

Como dizia o físico alemão Albert Einstein (1879-1955): “A maturidade começa a se manifestar quando sentimos que nos preocupamos mais com os outros do que com nós mesmos”. Mais do que uma definição abstrata, a maturidade ou imaturidade se mostra através de características de comportamento. Pessoas que agem mais pela emoção que pela razão. Entender que o mundo não gira ao seu redor é um processo doloroso para o imaturo. Aos pouco aprende a reconhecer que nem sempre consegue tudo o que quer, que as outras pessoas e o seu mundo também têm as suas necessidades. Até porque no limiar do amadurecimento, envolve o sair da prisão de si mesmo e perder a ilusão que nos rodeia durante a vida.

Enquanto estamos perdendo gradualmente essa fantasia, também estamos nos tornando consciente de uma bela possibilidade: “a aventura de explorar o universo simbólico do outro”. Aprenderemos a preservar o “Eu” e com isso, chegaremos até “Outro”. Porém, compreendemos que os sacrifícios e as restrições são necessários para alcançarmos o sucesso. Comprometer-se com uma meta ou com uma pessoa não é uma limitação da liberdade, mas uma condição para se projetar melhor a longo prazo. Crescer é abandonar esse doce estado de irresponsabilidade. Amadurecer é compreender que somos os únicos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Reconheça os seus erros e aprenda com eles. Saiba reparar os danos que causou e aprenda a pedir perdão. Todavia, para as pessoas imaturas, os outros são um meio e não um fim em si mesmo. Não precisam dos outros porque os amam, mas os amam porque precisam deles. Dessa forma, eles costumam construir laços através da dependência.

Para estabelecer ligações com base na liberdade, somos obrigados a ter autonomia. No entanto, as pessoas emocionalmente imaturas não têm uma noção clara do que seja autonomia. Muitas vezes elas acreditam que satisfazer as suas vontades é um comportamento autônomo, mas para assumir as consequências dos seus atos, elas precisam dos outros para amortecer, esconder ou aliviar a sua responsabilidade. Agir pelo impulso é uma das características mais marcantes das pessoas imaturas. Por exemplo; nas relações amorosas, a fim de satisfazer os seus desejos imediatamente, essas pessoas imaturas não medem esforços para machucar o outro, com o dinheiro é um pouco pior, compram o que não precisam com uma grana que não têm. Às vezes elas embarcam em aventuras fantasiosas bizarras. Não analisam objetivamente os sentimentos afetivos e não consegue avaliar as consequências a médio e longo prazo. Estão sempre deprimidas, pelo simples fato de satisfazer os seus caprichos.

Portanto, é bom que se diga as pessoas não decidem ser imaturas. Essas características de imaturidade não surgem ou permanecem com a decisão consciente dos indivíduos. Quase sempre resultam das lacunas ou vazios sofridos na infância ou podem ser consequência de experiências infelizes que o impediram de evoluir. Contudo, se você é assim ou conhece alguém assim, não o julgue. Na verdade, o importante é perceber que impulsionar o seu próprio crescimento emocional pode leva-lo a uma vida melhor.

2 de novembro de 2017

DAMOS O MÁXIMO, MAS NADA É VALORIZADO

Vivemos em um mundo em que os costumes pesam sobre nós como obrigações. Muitas coisas que fazemos por solidariedade acabam se transformando numa obrigação. Geralmente não é algo explícito, de alguma forma acabamos percebendo o que os outros esperam de nós e nos sentimos obrigados a fazê-lo. O problema é que, quando damos o máximo, dentro do nosso limite, nada disso é valorizado. Isto contrasta com o que acontece com as pessoas que faz pouco, sendo que o mínimo que fazem é valorizado. De modo que cada um se valoriza livremente através de um preço alto ou baixo, e ninguém vale mais do que o valor que da a si próprio. Portanto, ser livre ou escravo depende de cada um.

Muitas vezes damos tudo o que temos, mas ainda assim nunca é o suficiente. E quando deixamos de dar-lhes o que acham que precisam nos acusam de egoístas. É importante ressaltar que nem sempre essas atitudes são baseadas em egoísmo, mas em confusão, falta de diálogo e ausência de amor. Quantos relacionamentos acabaram por falta de diálogo. De modo que dar tudo, pode se transformar em um fardo para o outro, que imagina que não vai conseguir nos recompensar. Isso, às vezes, faz com que as pessoas sintam raiva, se afastem ou não saibam como agir. Não importa o que aconteça, o importante é comportar-se com moderação e não oferecer muito aos outros. De certa forma, somos nós que definimos nosso preço, por isso temos que ser cuidadosos na hora de nos entregarmos ao demais.

Como diz o escritor Paulo Coelho (1947): “Livre-se dos que duvidam de você, junte-se aos que lhe valorizam e ame a quem lhe apoia e respeita”. Todavia, se queremos ser livres, devemos nos livrar do egoísmo ao qual nos sujeitamos. Só porque alguém de quem gostamos espera algo de nós, não significa que devemos fazê-lo. Temos que desaprender que os sacrifícios nos fazem pessoas melhores. Agindo assim, estamos desprezando ou negligenciando uma parte emocional e física muito importante para a nossa felicidade. Quando alguém nos fere intencionalmente e nos exige algo, esta pessoa não merece continuar ao nosso lado. Chegou a hora de parar de apoiá-la e manter distância para não ser contaminado por esse egoísmo. Isso nos deixará mais forte.

Entretanto, quando analisamos essa situação, é normal sentir-se incomodado ou ferido. Temos que manter a concentração para sermos cada vez mais construtivos e não machucarmos ninguém, principalmente a nós mesmos. Não precisamos ser agressivos, mas assertivo e persistente. Começando com pequenas coisas, para que possa comunicar suas necessidades sem se sentir culpado. Fale na primeira pessoa e inicie o diálogo com frases como: “Há situações nas quais eu me sinto desrespeitado”, em vez de frases como: “Você não me valoriza”. O outro só nos valoriza se nós mesmos nos valorizarmos. Isso nos ajuda a rejeitar os pedidos abusivos que não trazem nada de bom, e a perceber o que nos faz bem.

Por conseguinte, ter sempre em mente que cada um tem o direito de ser respeitado e deve ficar atento para que ninguém roube a sua capacidade de sentir o quanto vale e aceitar o reconhecimento que merece. E com o amor não é diferente. Hoje o amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secreto egoísmo. Somos intolerantes e mesquinhos com os outros. A vida em sociedade é feita de pequenas e grandes mentiras. Assistimos diariamente as relações de amizade se deteriorando e o espaço para a solidão aumentando a cada dia. Contudo, pessoas fechadas no vazio do seu mundo e projetando no outro a razão do seu fracasso. Sem falar das relações que começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e frases de efeito. Não existe uma troca vivida. Estamos todos numa solidão em meio a uma multidão. O corpo se inquieta e a alma sufoca. 

28 de outubro de 2017

SÁBIO ARTESÃO DO AMOR

Os amores maduros são encontrados no meio da tarde da vida. São pessoas livres, tranquilas de coração e ricas de pensamento, porque nos seus rostos dançam os sorrisos e a vontade de continuar amando. Porque às vezes o primeiro grande amor não vem na ordem certa. Nem todas as pessoas que chegaram aos 50 ou 60 anos, são capazes de construir um amor maduro, consciente e feliz. Existem muitos corações amargos que não foram capazes de fazer essa viagem interior para poder perdoar, e fazer das vivências passadas caminhos renovados para transitar com esperança. Na verdade, a maturidade pessoal não é trazida pelos anos, nem pelos danos. Mas sim pela atitude e sabedoria das emoções, onde nem todos adquiriram esta capacidade de raciocinar.

Quando a gente chega nessa idade em que as décadas já traçaram em nós mais histórias do que poderíamos contar, às vezes nos vemos como essas frutas maduras ligeiramente machucadas nos cantos. Vale lembrar, que as frutas maduras têm um sabor muito mais doce e prazeroso do que essas outra muito verdes, firmes e ligeiramente amargas. De modo que ninguém deveria ser o resultado das suas decepções, dos seus fracassos, ou menos ainda, das feridas que outros causaram. Somos nossa atitude diante de tudo que foi vivido, nunca um mero resultado.

Por isso, o amor maduro agrega ao sentimento uma dose de sabedoria para poder construir aquilo que importa de verdade, que é um presente feliz, um presente digno e apaixonado no qual se descobre um ao outro. Nenhum dos dois membros renuncia a seu passado, simplesmente são aceitos, como se aceitam as peles nuas habitadas por algumas cicatrizes, alguma ruga feita pelo tempo nesse rosto e nesse corpo perfeitamente imperfeito onde, obviamente, também não importam as décadas nem as decepções. Somente o prazer do aqui e agora.

Portanto, o amor não tem idade, porque o coração não tem rugas, porque o amor se é intenso e puro, sempre é jovem. Os amores na idade madura já conhecem o suficiente o que é estar apaixonado, por isso, o que anseiam nesta etapa da vida é uma coisa muito mais profunda e ao mesmo tempo delicada. Desejam intimidade, a cumplicidade de dois olhares que se entendem sem palavras, desfrutarem de espaços em comum, mas ao mesmo tempo respeitando a individualidade de cada um. Anseiam por um vínculo forte e nobre no qual trabalhar e investir todo dia por esse pacto implícito. O diálogo é imprescindível seja qual for o relacionamento. Quando inexiste diálogo, falta o que é mais essencial no amor. Os espíritos que realmente desejam evoluir formarão autênticas teias dialógicas. Contudo, é através do diálogo, que o sábio artesão do amor, alcançará a sua plenitude. 

21 de outubro de 2017

O MELHOR DO AMOR NA VERSÃO PLATÔNICA

Qualquer tipo de relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o elemento sexual, por vários gêneros diferentes, como em um caso de amizade pura, entre duas pessoas, pode ser um indicio de amor platônico. Que também pode ser um amor impossível; difícil ou que não é correspondido. Só eu sinto o que não sentem por mim. O amor platônico é entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve, é feito de fantasias, é um amor idealizado, onde o objeto do amor platônico é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem defeitos. Somos facilmente atraídos e fisgados por esse tipo de sentimentos. Por que somos tão vulneráveis ao amor platônico?

 Vale lembrar que a paixão faz parte do inconsciente coletivo de todos nós, assim como ela está no ar que respiramos, no nosso olhar e no desejo que reprimimos. A exposição diária de olhares sedutores tão fascinantes a ponto de despertar inesperadamente o desabrochar da paixão. Talvez aqui esteja um dos enigmas para os humanos pensar. Já dizia o poeta que os olhos são à janela da alma: “É no olhar que te vejo, é no olhar que te mexo e disparo o teu coração, é com esse olhar que te desejo”. Porém, esse temor da paixão é que nos paralisa diante do encontro amoroso. Mesmo sem reconhecer, ainda assim o amor permanece como o enigma que norteia a existência humana. Temos uma tendência a maltratar o amor quando ele surge. Agregamos tudo de ruim, a começar pelo ciúme. Justificamos como se isto fizesse parte do amor.

Entretanto, as pessoas sempre buscaram preencher esse vazio e o sentido da sua existência com o tão cantado e desejado amor romântico. Porém, o amor que sempre se apresentou como um mistério para a condição humana, mistério esse que, ao longo dos séculos, filósofos, psicólogos, teólogos e poetas, sempre procuraram desvendar. No diálogo “O Banquete”, Platão (427-347 a.C.) coloca o amor em discussão para explicar a sua origem. Foi assim que saímos por aí numa busca incessante para restituir a nossa plenitude perdida. Na verdade, buscamos através do amor essa totalidade que se rompeu com a separação. O que fazemos no momento da sedução, senão buscar no outro a nossa identidade? Desta forma, viver o verdadeiro encontro amoroso seria reviver o encontro com a nossa própria essência, que desperta no amor. Eu desejo o outro para crescer com ele no amor.

Portanto, buscamos reencontrar o que em nós foi perdido. É no olhar que nasce a promessa que este encontro está prestes a acontecer. Para Platão quando estamos sós, somos seres humanos incompletos, reclamando a sua outra cara metade. Por mais imperfeitos que sejamos em nosso mais fundo vamos encontrar o “DNA de Deus”. Como se vê, tudo de melhor em nós se resume no amor, porque, como nos ensinou o apóstolo João: “Deus é Amor”. Sendo assim, o outro se torna o meu objeto de desejo. Na essência todos se completam nesse Amor. 

13 de outubro de 2017

EM BUSCA DA FÉ

Estamos constantemente buscando e alimentando a nossa fé, talvez porque nos foi ensinado na catequese, que o mundo criado por Deus tem muito mais coisas boas que ruins. Nós achamos as catástrofes da vida desconcertantes não apenas porque são dolorosas, mas também porque são excepcionais. A maioria das pessoas se sente bem disposta para ir à luta diariamente. Com o avanço da medicina muitas das doenças hoje são curáveis. Mas, é preciso ter fé em Deus e confiança nesses profissionais. Entender que são pessoas iluminadas sejam elas na saúde, na educação ou em qualquer outra profissão.

Mas, afinal o que é fé? É uma palavra de origem latina que significa “fides”, e quer dizer: fidelidade, confiança, credibilidade. A fé é um sentimento de total fidelidade por alguma coisa ou por alguém. Somente a fé pode nos mover na direção da esperança. De modo que a esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, faz parte da dinâmica do espírito humano. No entanto, a fé convive com a dúvida e elimina a possível certeza que alguém possa vir a ter. Assim como crer não é a mesma coisa que ter fé. Crer é algo incerto e vago. É acreditar que estamos sempre certo. Por exemplo, quando digo, creio que vai chover hoje, não estou afirmando. Crer em Deus ou em Nossa Senhora da Conceição Aparecida, não é a mesma coisa que ter fé. Isto é crença. Fé é canal aberto de diálogo com Deus e nosso semelhante.

Entretanto, quem tem fé ou fidelidade para com Deus, estabelece perfeita sintonia de pensamento com esse “Eu Divino”. Na verdade, é um salto no abismo, isto é ter fé. Quem tem fé transforma o mal em amor. Do contrário todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Estão sempre certas sobre seus pensamentos. Por que iria ouvir ideias diferentes? A menos que seja do seu interesse. As pessoas que têm certeza, não são abertas as novas ideias. Não são abertas ao diálogo e não estabelecem relações duradouras, por acharem que estão sempre certas. Somente com o distanciamento dos problemas é que podemos pensar melhor e perceber no contexto, que os monstros criados pela nossa mente, não são tão assustador assim.

De modo que, quando somos desnorteados por alguma tragédia ou perda de um ente querido, só podemos ver e sentir a tragédia. Porém, com a distância e o passar do tempo é que vamos ver esses acontecimentos no contexto da vida inteira. Pois, na tradição judaica, a oração especial conhecida como “Kaddish” não é sobre a morte, mas sobre a vida. Ela louva a Deus por ter criado um mundo basicamente bom, em que se pode viver bem. Recitando essa oração, a pessoa de luto é lembrada de tudo o que é bom e digno de ser vivido. A oração é uma afirmação de vida e esperança. Posso-lhe afirmar que Deus faz coisas muito nobres, inspirando pessoas a se ajudarem e as protegendo do perigo quando se sentirem as sós, abandonadas ou julgadas pelos seus opressores.

Portanto, para quem perguntar por que ter fé ou confiar em Deus, eu diria que Deus não pode evitar as calamidades da natureza física, mas pode dar-nos serenidade, sabedoria, coragem e perseverança para superá-las. Cheguei a esta feliz conclusão, que nós humanos somos a linguagem de Deus. Que nós, somos em determinados momentos o milagre da vida na existência do outro, principalmente, quando nos doamos, amamos e ajudamos o nosso próximo. Só posso concluir que Deus não pode fazer tudo, mas faz coisas muito importantes, para o nosso espírito. Tudo depende da nossa fé e confiança. Porque, onde há amor, há paz e onde há paz, há fé e onde há fé, há Deus. Sendo assim, onde há Deus, nada faltará. É a partir da fé, que inventamos um mundo mais seguro e mais humano para se viver. 

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...