30 de setembro de 2022

A TERNURA É A SEIVA DO AMOR

Como argumentava o filósofo e teólogo São João da Cruz: “o amor é uma doença que, nas minhas palavras, só se cura com aquilo que chamaria de ternura essencial”. Reiterando as palavras do místico poeta, vou um pouco mais além, citando outro grande filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “a ternura é a seiva do amor”. Penso que se cada um quiser guardar, fortalecer e dar sustentabilidade ao amor, que seja terno para com quem se ama. Sem o azeite da ternura não se alimenta a chama sagrada do amor, certamente ela se apagará.

Lembrando que ternura não é simplesmente uma emoção, excitação de sentimento face ao outro. Porém, se assim fosse seria sentimentalismo que é um produto da subjetividade mal integrada. O sujeito que se dobra sobre si mesmo e celebra as suas sensações que o outro provocou nele. Nunca sairá de sim mesmo, ao contrário, a ternura irrompe quando a pessoa se descentra de si mesma e sai na direção do outro, sente o outro como sendo parte da sua essência, participa de sua existência, se deixa tocar pela sua história de vida.

A ternura não é efeminação e renúncia de rigor. É um afeto que à sua maneira nos abre ao conhecimento do outro. Segundo o Papa Francisco (1936), quando esteve no Brasil, falou na sua homilia para os bispos latinos americanos presentes no Rio de Janeiro, cobrando-lhes “a revolução da ternura” como condição para um encontro fraterno e verdadeiro entre os humanos. Só conhecemos bem o outro quando nutrimos afeto e nos envolvemos com essa pessoa que queremos estabelecer laços de comunhão amorosos. É aqui que a ternura pode e deve conviver com o extremo empenho por essa causa.

No entanto, a relação de ternura não envolve angústia porque é livre de busca de vantagens e de dominação. O nascer do amor se da pela própria força do coração. É o desejo mais profundo de compartilhar carinhos. A angústia do outro é minha angústia, seu sucesso é o meu sucesso e sua salvação é a minha salvação. O amor e a vida são frágeis. Sua força invencível vem da ternura com a qual os cercamos e sempre os alimentamos.

Portanto, concluo esta reflexão citando um grande bandeirante do amor, o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998). Ele foi idealizador de um curso sobre amor na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos. Publicou um livro com o título “Amor”. Por coincidência, faleceu no dia dos namorados, 12 de junho de 1998 e nos deixou a seguinte mensagem: “O amor tem os braços abertos. Se você fechar os braços ao amor, verá que está apenas abraçando a si mesmo. Quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu. O amor verdadeiro só cria, nunca destrói”. Toque sempre o coração e a alma de quem você ama. Como dizia Platão: “tudo que está na minha alma, toca a alma do outro”.


22 de setembro de 2022

LEVO NO CORAÇÃO A INOCÊNCIA DE QUEM SE DESCOBRE

Certa vez uma pessoa da minha confiança, disse-me: “você está ficando velho, tornando-se uma pessoa amarga e teimosa”. Responder a essa pessoa, seria curvar-se diante da ignorância. Gente nasce não pronta e vai se fazendo ao longo da vida. O que fica velho são coisas. Gente não envelhece, gente se renova a cada ano que passa. Não estou ficando velho, estou me tornando sábio. Deixei de ser alguém que apenas agrada os outros, para transformar em alguém que me agrado em ser quem sou. Parei de procurar aceitação dos outros para me aceitar.

Não estou ficando velho como disse equivocadamente essa pessoa. Estou me tornando assertivo, seletivo com lugares, pessoas, costumes e ideologias. Já deixei apegos, dores desnecessárias, pessoas tóxicas, almas doentes e corações podres, não é por amargura, é simplesmente por saúde. Não adianta querer ter saúde mental se você se envolve com pessoas que te adoecem.

De modo que, parei de viver histórias e comecei a escrevê-las, deixei de lado os estereótipos impostos, parei de levar bagagens inúteis na minha bolsa, agora levo livros que embelezam a minha mente e daqueles que leem o que escrevo. Troquei os drinks alcoólicos por xícaras de café, esqueci-me de idealizar a vida e comecei a vivê-la.

Não estou ficando velho, engano de quem assim me vê. Levo na alma o frescor da vida e no coração a inocência de quem diariamente se descobre. Carrego nas mãos a ternura de um casulo, que ao abrir-se expandirá as suas asas a outros lugares inatingíveis, para aqueles, que só procuram a frivolidade do material. Do status e do sexo casual. Desconhecem os mandamentos do amor.

Portanto, levo no meu rosto o sorriso, que se escapa travesso ao observar a simplicidade da natureza. Levo nos meus ouvidos o canto das aves alegrando o meu caminhar. Não estou ficando velho. Estou ficando seletivo, apostando no meu tempo para o intangível, me dando a mim mesmo. Tem gente que se desgasta o tempo todo querendo ter razão, ao invés de querer ser feliz.

18 de setembro de 2022

VIVE-SE UMA RELAÇÃO PAUTADA NO DESRESPEITO

As pessoas têm uma tendência a tratar com superficialidade a felicidade quando ela se propõe. Basicamente não valorizam muito as relações amorosas quando as têm. Sempre querendo ter razão em vez de ser feliz. Viram as costas e partem em busca de outros amores achando que vai ser melhor. Na verdade, não muda muito. Aquele período de luto do amor que juntos viveram não se cumpriu. Aqui fica a seguinte observação: “se o indivíduo mal encerrou essa relação e já está com o pé em outra, é porque ele não é digno de você”.

Entre uma relação e outra existe um período de estiagem, de muita reflexão, de avaliação. Sobretudo, para não cometer os mesmos erros. Pois se tratando de seres humanos, acima de tudo temos que nos dar valor para poder valorizar o outro, caso contrário essa pessoa não te merece. É o mesmo que viver uma relação descartável, não consegue aprofundar na essência um do outro. Vive-se uma relação pautada no desrespeito.

As pessoas não sabem e não querem saber, quanto custa todo o prazer que não têm e que está aí ao alcance das mãos e do corpo. Contato, carícia, abraço, prazer, intimidade, quem não quer? Freud tem mostrado todo o penoso e ridículo contorcionismo psicológico que desenvolvemos a fim de conseguir fazer de conta que o outro só nos interessa pela sua aparência e pelas suas palavras bonitas que achamos que precisamos somente disso e mais nada.

É preciso fazer algo pela relação amorosa em vez de continuar procurando quem é que devia ou quem é o culpado. E com isso ficar justificando que tem outros amores melhores, na tentativa de agredir o outro. Essa conspiração contra a felicidade, contra esse amor que poderia ser de boa qualidade, pode acarretar outros problemas futuros. Certamente vai levar para a nova relação às mesmas dificuldades de filtragem e assim, sucessivamente. O mal não está em errar a dose. O mal está em não aprender a dosar os conflitos.

Um observador externo detecta com bastante facilidade distorções no relacionamento e na comunicação nas relações amorosas. Como os costumes de convívio se desenvolvem lentamente, as pessoas, na verdade, não percebem o que está acontecendo, a não ser pelo mal estar ou pelas brigas que não resolvem. Não é um problema de ensinar a viver, ainda que ensinar também tenha cabimento, penso que é uma questão de mostrar, apontar, fazer o outro ver o que está acontecendo. Não perdoamos quem nos vê como somos.

Portanto, tenho para mim que o maior perigo do nosso mundo não está na violência urbana, nem mesmo nos poderosos; está na falta de alegria de viver das pessoas, no seu tédio, na sua frustração e na sua indiferença. Por isso faz-se necessário desejar outros relacionamentos, superficiais tanto quantos já viveram. Contudo, a pessoa que torna superficial as relações amorosas ou que se aliena, pouco a pouco, faz com que vá crescendo nela o desejo de que esse mundo, infeliz, árido e ameaçador, termine de vez com os seus sonhos narcísicos. Enfim, a mais profunda felicidade do normopata é livrar-se de sua vida infeliz, matando quem lhe ama na fantasia partindo em busca de um novo amor centrado no seu egoísmo.  

12 de setembro de 2022

O AMOR GERA ENCANTAMENTO E NOS TRANSFORMA

A palavra amor tem mais sentidos do que qualquer outra palavra do mundo, segundo os especialistas em ciências humanas. De modo que, quando estamos diante de alguém que nos desperta emoção ou encantamento, penso estar aí a gênese do amor, somos tomados por uma ternura  que nos convida para uma fusão. Começa brando, suave e macio e aos poucos vai contaminando todo o nosso ser, tomando conta da nossa alma e do nosso corpo da cabeça aos pés.

O amor a meu ver tem duas funções que quase se confundem, mas podemos descrevê-las como se realmente fossem duas. A primeira é levar-nos à descoberta de nós mesmos enquanto pessoas que somos e capazes de amar. A segunda é pôr-nos em contato com a divindade, a eternidade, o infinito ou o ilimitado. Isto só se dá entre duas pessoas que se proponham a viver um romance ou um caso amoroso.

Portanto, pouco a pouco, ganhamos dignidade e respeito por nós mesmos, ao mesmo tempo vamos reconhecendo essa força interior chamada amor e cientes do quanto o outro é necessário para a manifestação desta força e o quanto ela é poderosa, a ponto de nos transformar. Tendo em vista que onde há amor há transformação. Onde não há transformação e nem crescimento não podemos dizer que exista amor.

6 de setembro de 2022

QUALIDADE DE VIDA SÓ É POSSÍVEL COM AMOR

Pesquisas apontam que estar em um relacionamento pode ser significante na percepção do bem-estar. O amor pode ser o segredo para a qualidade de vida. Não tem nada de escolher a vida de casado ou a de solteiro. Há muitas pessoas que são felizes mesmo não estando em um relacionamento.

Agora, o que não dá para negar, é que ter um amor faz bem. E mesmo que isso seja uma certeza para a maioria das pessoas que o vivem, algum tipo de relacionamento afetivo-amoroso. É o que alguns estudos nos ajudam a visualizar.

Um artigo de pesquisadores da USP, Manoel Antonio dos Santos e Fabio Scorsolini Comin, buscou compreender as correlações entre a vida a dois e o bem-estar. A investigação submeteu um grupo de 106 indivíduos a um questionário.

Quem respondia as perguntas fazia parte de diferentes grupos sociais e demográficos. A análise das respostas revelou que as pessoas que se dizem satisfeitas com a vida, em diferentes domínios, também o fazem em relação à experiência afetiva com o seu amado.

Portanto, segundo o artigo, a satisfação com a vida está positivamente correlacionado com a satisfação entre os amantes. “O que nos permite sugerir que uma vida a dois rica e carregada de elementos e vivências positivas, poderia estar diretamente ligada à percepção de satisfação com a vida expressa por aqueles que estão amando”.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...