20 de novembro de 2011

FANTASIA E DESEJO

A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da outra pessoa.
É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor de amor.
Afinal, quanto maior a expectativa, maior a frustração e cuidamos de segurar estas expectativas. Então, desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista.
No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse vínculo.
No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças.
Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer. O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.
O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, usando uma linguagem yunguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto. A complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.
Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência.  

13 de novembro de 2011

O MITO DO AMOR PERFEITO

Costumo sempre dizer que o bom amor é aquele que transforma as pessoas. Se me envolvo com alguém e se conseguimos cultivar bons sentimentos, nós dois nos desenvolvemos como seres humanos. Por outro lado, se tenho muitos amores, mas sou sempre o mesmo, desconfio que não amo ninguém.
Para Leo Buscaglia, criamos um mito em torno do amor, como se ele fosse a solução para todos os problemas da nossa vida, alimentando-nos de felicidade a cada instante para todo e sempre. Na verdade, não é bem assim. Mas também ninguém nega que o amor é uma troca poderosa de influência, isto é, o único que nos transforma e que realmente nos humaniza pela sua força analgésica.
O mito do amor perfeito seria uma delícia, se fosse verdade, mas igualmente fantasioso para quem cultiva esse mito. Muitas pessoas estão procurando esse amor perfeito. É comum em rodas de mulheres fazerem a seguinte pergunta: “Onde acho um homem que não seja só para motel ou só um marido chato, que seja um intermediário entre os dois, que possa ser agradável, interessante, gostoso de olhar, bom de prosear, que gosta de agradar e que faz sexo gostoso?” Será que existe alguém assim?
Quando você ama alguém, você não ama o tempo todo exatamente da mesma forma, é importante assinalar esse fato. Isto é impossível de existir. Seria até uma mentira fingir que isto acontece.
Se fosse verdade, os casamentos não acabariam depois de algum tempo. Mas mesmo assim, é exatamente isso que a maioria de nós gostaria que fosse.
Para Maria Helena Matarazzo, toda a relação humana tem suas fases, são momentos em que o relacionamento atravessa maior ou menor intensidade. Há um momento em que a gente se sente absolutamente preenchido, em comunhão com o outro, isso quer dizer que estamos em comum-união, quando a comunicação é intensa e plena. Sentimos-nos nutridos e achamos que esse vínculo é para sempre. Mergulhamos na fantasia do amor perfeito, do encontro perfeito. Temos a sensação de completude total. É a fase onde o amor é cego. A gente esconde embaixo do tapete as coisas negativas, as nossas neuras, que podem corroer o desejo e o amor que existe entre ambos. São as nossas frustrações, as angústias e o medo que temos de mostrar esses sentimentos. Mas uma hora ele se apresenta e o encanto se despede.
A fase romântica tem prazo de duração, por mais intenso que seja esse romance, o desencantamento é inevitável. Só não sabemos quanto tempo dura essa fase, em que tudo parece ser lindo e não vemos defeito um no outro.
A expectativa criada em torno do príncipe encantado ou da princesa, logo se desmorona. Esse é o momento de confrontação das expectativas irreais do casamento. Aqui começamos a ver as diferenças daquilo que construímos antes do outro. Nesse momento sentimo-nos traídos, não aceitamos as diferenças. Também é o momento para surgir até uma nova paixão, as pessoas não acreditam que isso possa acontecer com elas. E carregam essa culpa pelo resto da vida.
Na fase da conquista, da sedução, as pessoas só mostram o lado bonito da sua personalidade, mostra uma educação, uma fineza que nunca se viu igual. Aqui as fraquezas e as feridas emocionais não aparecem, os medos ficam escondidos. Quando esse lado obscuro toma corpo, há uma tendência natural de cada um lutar, muitas vezes desesperadamente para mudar a pessoa amada, no intuito de salvar esse suposto amor perfeito. Começa o confronto entre as partes envolvidas na tentativa de um moldar o outro, para que ele corresponda à imagem idealizada lá no começo da sedução. 
Portanto, esse período é marcado de muita ansiedade, de muita angústia diante dos acontecimentos que ameaçam esse vínculo que ambos acreditam que é para sempre. É o momento em que a suposta união perfeita está chegando ao seu final. Descobrem que ninguém pode garantir a felicidade do outro. Cada um pode até criar condições para que o outro seja feliz, mas não pode lhe dar a felicidade. Cada um é único e ama do seu jeito. Os dois podem e devem se amar juntos. Mas esse amor não é perfeito, por ser interpessoal.      

2 de novembro de 2011

CONTATO ÍNTIMO TÂNTRICO

A massagem Tântrica veio da Índia, de uma cultura chamada Tantra. Na verdade, o Tantra aponta para autodescoberta através do corpo. No Tantra tudo é sagrado, desde o corpo até a sexualidade é sagrada. O corpo é visto como um templo. Partindo desse pressuposto a massagem Tântrica é uma ferramenta do Tantra que trabalha energia vital que também é chamada de energia sexual. A finalidade da massagem Tântrica é harmonizar o centro energético, que visa despertar e ampliar a sensibilidade do corpo e, consequentemente, intensificar as sensações de prazer. São toques de carícias suaves e agradáveis pelo corpo todo. Esse alisar o corpo inteiro estimula a bioeletricidade, harmoniza os chacras e libera o fluxo da energia pelos canais energéticos.   
Durante anos de nossas atividades sexuais, criamos hábitos e manias nada satisfatórios para nossa sexualidade. Fazemos sexo sempre na mesma posição, nos mesmos dias da semana, principalmente para os que são casados há muitos anos. O sexo passou a ser uma atividade orientada para somente ter orgasmo. Não há uma troca de contato íntimo e carícias entre os parceiros, que dê um tempero diferente nessa comida. Abusando um pouco do trocadilho. É tudo muito afoito, frenético e precário. Desta forma ficamos totalmente perdidos na pressa de chegar . Para usar uma linguagem poética, o melhor do passeio por esse santuário de prazer acaba por se perder ao longo dessa viagem prazenteira. Penetramos direto na caverna e não apreciamos a beleza que existe em torno dela.
Que intimidade pode existir numa relação sexual quando as luzes estão apagadas, ou quando os olhos estão fechados, com o parceiro perdido em alguma fantasia, pensando em outra ou em outro? Vale para os dois. Nesse momento o que vale é o conjunto todo, mente, corpo e espírito. O contato íntimo Tântrico é uma crescente satisfação sexual no nível físico e emocional, bem como no nível espiritual. A essência deste momento ímpar é que o sexo que já se encontra em estado amoroso, pode ser muito mais do que uma simples experiência física. É um ato muito íntimo que envolve deliciosamente o prazer intenso e prolongado, levando ambos ao êxtase.
O filósofo inglês Bertrand Russel, prêmio Nobel de Literatura em 1950, escreveu um ensaio sobre as três grandes paixões de sua vida. Vou deter-me somente na primeira das suas paixões para fundamentar o significado máximo desse estado amoroso que é o símbolo da nossa própria existência.
Argumenta Russel, “primeiro busquei o amor, que traz o êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o também, porque abranda a solidão, aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observa da margem do mundo, o insondável e frio abismo sem vida. Procurei-o finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bem demais para a vida humana, foi o que finalmente encontrei”. No entanto, para mergulhar nessa viagem ilustrada por Russel, é importante assinalar que na intimidade Tântrica não existe começo, meio e fim, como estamos acostumados na relação sexual rotineira. O que existe é o momento presente a cada etapa dessa viagem pelos corpos um do outro. Não existe tempo de duração é o encontro com o Divino. Só é dado esse direito aos santos e poetas, os seres mais sensíveis e iluminados desse planeta.
Portanto, neste momento de intimidade intensa a mulher é considerada uma Deusa, onde o sexo torna-se sagrado e a união dos amantes atinge um nível espiritual significativo para ambos. Essa troca de contato íntimo e consensual entre duas pessoas é uma expressão primária de amor. Por conseguinte, é aqui que o Tântrico aparece como observador da natureza íntima contida em tudo no universo, procura na união dos pólos opostos a unidade maior, sem se preocupar com abordagem ética e moral. Busca a transcendência do EU através da força máxima do universo que está contida nos mistérios sexuais e esses mistérios estão contidos dentro e fora de cada um de nós. Que são os nossos impulsos e atrações. A nossa metade em busca da outra metade perdida. São as nossas almas em busca de perfeição.             

1 de novembro de 2011

PODE-SE TER AMOR?

Toda a felicidade humana está fundada no amor. As pessoas que não amam não podem ser felizes. A embriaguez dos amantes é consequência do seu êxtase amoroso. Pessoas que durante muito tempo não acreditavam na própria possibilidade de amar, converteram-se em escravos humildes e rendidos a um parceiro que lhe proporcionou o encontro com a divindade, mostrando a riqueza desse sentimento quando experimentado no corpo e na alma. É a valorização plena do SER.
Se pudéssemos ter o amor, certamente ele deveria ser uma coisa, uma substância que pudéssemos tocar e possuir, uma coisa adquirida. Na verdade, não é bem assim, não existe algo tão sublime quanto o amor que se possa ter. O amor é algo para sentir e não para se ter. Amor é abstração, nele existe apenas o ato de amar. Implica cuidado, conhecimento, ajuste, afirmação, gozo. Significa trazer à vida, melhorar os anos vividos. É um processo, autorrenovador e autocrescente.
Quando o amor é vivido no modo ter, ele implica confinamento, aprisionamento ou controle do objeto que se ama. É sufocante, debilitante, mortificante e estéril. O que chamamos de amor é quase sempre um emprego equivocado da palavra, a fim de ocultar a realidade do desamor. As pessoas se tornam coisas que podem ser adquiridas, consumidas e descartadas ao gosto do consumidor, bastando apenas que ela enjoe do parceiro, trocando-o por outro que aparentemente demonstre ser mais interessante para aquele momento. É impressionante a facilidade que as pessoas têm para jogar no lixo o amor quando ele aparece.
Nessa dinâmica existencial, ninguém é considerado insubstituível e toda ideia de singularidade se torna motivo de risos e de zombaria pelo parceiro que não quer enxergar o amor como um dom a ser cultivado. As relações amorosas se tornam apenas um meio de obtenção imediata de prazer sexual e não uma genuína interação interpessoal pautada pelo respeito e afirmação do valor do outro, experiência na qual as duas partes ampliam as suas forças vitais por meio da alegria e do prazer de estarem juntas. Para Erich Fromm, “se amo o outro, sinto-me um só com ele, mas com ele como ele é, e não na medida em que preciso dele como objeto para o meu uso”.
Entretanto, essa disposição do TER desconhece a experiência da alteridade, aquilo que é distinto, a genuína compreensão da prática amorosa, que se sustenta na necessidade mais profunda do ser humano de superar seu estado de isolamento em relação ao outro. A incapacidade de amar das pessoas faz com que o outro vislumbre no consumismo a conquista de um fugaz bem estar por meio do consumo onde as relações permanecem descartáveis. Acredita que a felicidade pode ser adquirida como uma mercadoria, contudo, acaba originando uma sensação de vazio interior, de desespero, de confusão e temor.
As pessoas, na sua maioria, já sentiram isso no corpo e na alma e tornaram-se mais realistas e sóbrias, já perceberam que não é a atração sexual que significa amor, nem que um relacionamento amistoso seja manifestação de amor.
No entanto, o casamento dá a cada sócio a posse exclusiva do corpo do outro, dos sentimentos e do cuidado. Ninguém mais tem que conquistar, porque o amor tornou-se alguma coisa que eu tenho, ou seja, passo a ter o outro como minha propriedade. Ambos deixam de se esforçar em serem amáveis e produzirem amor, daí tornaram-se entediados, e com isto desaparece a beleza que poderia continuar a existir entre os pombinhos. Ficam desapontados e perturbados. Cada qual, em geral, procura a causa da mudança no outro e cada um sente-se enganado. O que não percebem é que não mais são a mesma pessoa daquela época, quando amavam um ao outro, que o erro do que se pode dizer que seja o amor levou-os a deixar de se amarem. Desse modo, em certos casos, o casamento iniciado na base do amor converte-se numa propriedade amigável, numa empresa em que os dois egoístas se juntam no único interesse o da sagrada família. 
Portanto, os defensores das formas modernas de relacionamentos amorosos, tais como de vida conjunta e casamento aberto, como troca de casais e sexo grupal, tentam apenas evitar o problema de suas dificuldades de amar. Este tipo de relacionamento aparece como alternativa, mediante a suposta cura do tédio que abatem os pombinhos. Surge como estímulo sempre novo e pela vontade de ter mais amantes do que ser capaz de amar mesmo que seja uma só pessoa.           

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...