28 de abril de 2021

A RAPOSA ENSINA O QUE É CATIVAR

Uma das personagens mais importantes da história contada no livro: “O Pequeno Príncipe (1943), do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), é a raposa. A raposa transmite uma série de reflexões sobre como nos relacionamos com os outros. É através dela que o pequeno Príncipe aprende, por exemplo, o que significa cativar alguém.

E foi então que apareceu a raposa: - Bom dia, disse a raposa. - Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada. - Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira. - Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita. - Sou uma raposa, disse a raposa. - Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste. - Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

Logo que a raposa aparece na história ela introduz um conceito profundo que, até então, não havia sido levantado. A raposa se recusa a brincar com o pequeno príncipe assim que o conhece argumentando que ainda não foi cativada. O menino, no entanto, não entende o que cativar significa e logo pergunta “Que quer dizer ‘cativar’?” Através da pergunta a raposa percebe que o pequeno príncipe não é dali e tenta ajudá-lo, perguntando o que ele procura. O que o menino diz que quer encontrar são homens, para fazer amigos. É a partir dessa interação que a raposa começa a filosofar.

Depois de muito insistir na pergunta sobre o que é cativar, a raposa responde que cativar significa “criar laços” e destaca que esse conceito vem sendo muito esquecido nos últimos tempos. De uma forma sutil, ela faz uma “crítica à sociedade”, dizendo que os homens estão cada vez mais distantes uns dos outros e, como têm sempre pressa, não têm tempo para conhecer a fundo o que está ao seu redor. A raposa, para explicar o que é cativar, mostra como uma criatura se diferencia de todas as outras quando se torna importante para nós:

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”

Sendo assim, aos sermos cativados, segundo a raposa, passamos a depender do outro e a vê-lo como essencial na nossa vida. A raposa é uma personagem, portanto, que traz para a história elementos importantes, que nos relembra do que é essencial, que fala sobre as relações que criamos e sobre os laços que desenvolvemos com aqueles que amamos.

27 de abril de 2021

MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS

No livro da psicóloga Junguiana, poeta e escritora norte-americana Clarissa Pinkola Estés (1945): “Mulheres que correm com os Lobos”, fala do amor, na vida da mulher depois dos 40 anos. Para Estés, a mente e a alma têm seus próprios ciclos e estações que passam por diferentes estados de atividade e solidão, de buscar e encontrar, de descansar, de pertencer e, até, de desaparecer. Quando uma mulher amadurece, os relacionamentos com ela são diferentes. Até mesmo o relacionamento que ela tem consigo mesma vai um passo além.

De modo que aos 40 anos é quando a mulher sente necessidade que não pode ser ignorada: a necessidade de retornar a si mesma. Este é o ponto emocional em que aprendemos a saudar nossas memórias no momento certo, a dançar e a nos acalmar com elas. É o momento em que a alma é amada para além dos nossos erros e da terra. A partir dessas eras, amando nossos semelhantes, descobrimos um coração sereno com sangue ardente que nos ajuda a entender que tipo de criaturas somos, com nossas forças e nossas fraquezas. Porque todos nós temos os dois e isso não é ruim, muito pelo contrário.

O retorno à casa da alma significa tomar consciência de tudo o que aconteceu em nossa vida anterior e resolver os conflitos criados nos ciclos anteriores à maturidade. Quando a mulher toma a decisão de abandonar o sofrimento, a mentira e a submissão. Quando a mulher diz, do fundo do seu coração: “Chega, paramos por aqui”. Nem mil exércitos de ego e nem todas as armadilhas da ilusão podem detê-la na busca de sua própria verdade.

Portanto, é neste momento que as portas de sua própria alma feminina abrem e o processo de cura começa. O processo que a devolverá pouco a pouco a si mesma, à sua verdadeira vida. E ninguém disse que esse caminho é fácil, mas é o único “caminho”, para o seu crescimento. Essa decisão por si só abre uma linha direta com sua natureza selvagem e é aí que o verdadeiro milagre começa.

26 de abril de 2021

NEGAR O AMOR É DAR AS COSTAS PARA O FUTURO

Todo ser humano na sua essência busca a harmonia e a paz, luta para um dia encontrar o amor “Eros”. Aquele amor do paraíso, dos deuses e venerado pelos mestres e iluminados. Aquele êxtase que encontramos quando estamos físico e espiritualmente tomado por esse amor. Mas quando o encontramos não tratamos com os devidos cuidados que demanda a preservação de algo tão sublime. Não temos absolutamente nenhuma dificuldade em fugir desse amor mesmo sabendo que dele necessitamos. Principalmente, quando um conflito ou incompatibilidade de opiniões floresce entre os eternos apaixonados. Não pensam duas vezes em duvidar e dar adeus a esse amor. Por outro lado, sentem que esse amor é verdadeiro, mesmo assim insistem em desistir. É o mesmo que declarar a nossa morte. Negar o amor é o mesmo que dar as costas para o futuro. Pois o que plantamos hoje será colhido por nós amanhã.

Na "Epopeia Medieval", encontramos todas as características daquilo que é relevante no amor sincero. Uma história sublime de amor e de morte, narra o romance entre Tristão e a rainha Isolda. A narrativa mostra como eles na sua inteira alegria, mas também tristezas se amaram um ao outro e, como por fim, morreram nesse amor no mesmo dia. Embora a história de Tristão e Isolda seja trágica e não como os contos de fadas, onde foram felizes para sempre, que muitos costumam entender isso como o verdadeiro romance. Nessa história mitológica nos é mostrado o outro lado da moeda. Predomina um arrebatamento transbordante pelo amor à vida e pelo êxtase sexual que, inevitavelmente, conduz à premonição da morte de ambos. Onde o amor impera como sempre, os apaixonados sentem o prazer e a dor de viverem esse desafio.  

O amor é basicamente isso, escolhemos morrer juntos. Fazemos pactos e levamos a sério o que um diz para o outro. Morremos na certeza de que nunca mais iremos amar. Separamos mas não desistimos do amor quando ele é verdadeiro, porque as almas ainda continuam juntas. Embora sejamos pouco relevantes com o amor quando ele aparece. Pois facilmente o rotulamos de mentiroso e o desprezamos sem compaixão, demonstrando a nós mesmos o quanto somos pequenos e mesquinhos, diante da grandeza do amor. 

Portanto, os amantes e apaixonados, quando atingem o clímax do amor romântico, não desejam mais existirem como vida individual, querem integrar nessa fusão ao todo universal e sentirem juntos o contato com a divindade. Contudo, quem não quer morrer não ama. Não há amor sem morte. Ambos sentem vagamente que a desejada fusão dos dois é vedada pela barreira dos corpos e, que com a morte individual essa barreira desaparece tornando os corpos extensão um do outro. Ao tocarem a divindade deixam de existir enquanto matéria, para se transformarem em únicos, num corpo totalmente espiritualizado. Acaba o medo, o pudor e a vergonha um do outro. Somos duas pessoas numa só carne, num só corpo unidos pela divindade.      

25 de abril de 2021

NOSSA ESPERANÇA ANDA POR AÍ PERAMBULANDO

A nossa esperança está no meio de uma multidão de pessoas por aí perambulando, sem destino a vaguear, independentemente do seu lugar social ou econômico, que vivem possuídos pelo sonho da vida, da beleza e da bondade. Talvez a mesma esperança de Camus, a qual foi amplamente debatida no século XX. Albert Camus (1913-1960) foi um escritor, jornalista, romancista, dramaturgo e filósofo argelino. Recebeu o Prêmio Nobre de Literatura em 1957 por sua importante produção literária.

Ele defendia a seguinte ideia: “Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvimos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios, e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que a tal esperança jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujo atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada de cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, que é construido para todos”.

Portanto, como bem argumenta Rubem Alves (1933-2014) no seu livro: “Pimentas”. E aqui também me incluo. Sabemos muito bem onde está a nossa esperança. Não está nas elites, sejam ricos ou doutores, intelectuais ou empresários. Não está nos partidos políticos, seja eles de direita ou de esquerda. E muito menos nos poderes legislativo, executivo e judiciário. Assim como também não está nas igrejas e nem nos movimentos religiosos.

24 de abril de 2021

GESTOS DE CARINHOS ESTEREOTIPADOS E VAZIOS

Parece que as pessoas estão se esquecendo de que as relações humanas precisam ser nutridas e cultivadas todos os dias para continuar vivas. O que me parece não é uma tarefa impossível, pois há de se praticar os exercícios naturais de constantes carícias como abraços, palavras carinhosas de incentivo e aceitação do outro. Porém, carícia significa toda manifestação humana física, verbal ou gestual que transmita a outra pessoa uma sensação de bem estar, aceitação e reconhecimento. Uma manifestação que demonstre o quanto aquela pessoa é importante para nós. Melhor do que falar sobre carícia é recebê-las ou praticá-las.

Segundo o filósofo e psiquiatra canadense Eric Berne (1910-1970), criador da “Análise Transacional”, ele acredita que exista na nossa estrutura corporal uma cadeia biológica que leva da privação emocional e sensorial a mudanças degenerativas e até a morte por causa da apatia. Neste sentido, a fome de contato físico, de abraço e de aconchego tem a mesma relação com a sobrevivência de um organismo humano quanto à fome de alimento. No livro “O Tocar”, do antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu, nos mostra o fantástico valor psicológico, afetivo e social do contato físico. Ele pouco fala de sexo. Fala de envolvência, carinho e contato como ações que estimulam a idade vital. O melhor estímulo conhecido para a defesa do sistema imunológico são as trocas de carícias bem feitas e bem recebidas.

No entanto, as pessoas estão cada vez mais se tornando apáticas. O diálogo de boa qualidade não existe mais, está escasso. Os nossos gestos de carinhos são estereotipados, tornam-se gestos vazios, feito automaticamente, meio robotizado, sem nenhuma conexão com o outro. É como se eu não tivesse presente. Mesmo o trabalho de alguns professores na educação é gelado, frio, somos indiferentes, mantemos uma relação de blindagem com os alunos. Temos a coragem de chamar essa linha de ensino de aprendizagem de educação, assim como chamamos a restrição da espontaneidade do aluno de educação. Por tudo isso é que acredito no poder do calor humano e na manifestação do coração através do contato físico e nas trocas de carícias. Não ficar apenas na intenção e na vontade de ser gentil.

Portanto, sempre que possível realçar verbalmente as qualidades do outro, pois esse é um comportamento lícito para que se concretizem as diversas manifestações de carícias. De dizer ao outro que está encantado e que é muito bom estar juntos, quando isto for verdadeiro, do coração, faz-se necessário que haja a fala informando a sua intenção, valido para todos os seguimentos sociais. Assim é nas relações, como na vida em geral, muitas coisas se perdem por não expressar ou pedir naquele momento em que há o envolvimento de um pelo outro. Nós humanos somos imperfeitos por natureza, não somos melhores e nem piores que o outro. Olhar o lado bom do outro, antes de perder energia em lamentar ou criticar o que é preciso mudar. Criar e recriar sempre e continuadamente novas sensações, novas emoções, novas manifestações de carícias através de uma expressão simples de afeto, como carinho, ternura, compaixão e companheirismo.

20 de abril de 2021

ETIMOLOGIA E HISTÓRIA DA DEMOCRACIA

Democracia é a palavra mais citada na balbúrdia dos poderes da República. Ela está na boca das autoridades e, claro, caiu na boca do povo. Vale, pois, invadir a intimidade do vocábulo. Foi na Grécia Antiga há muitos anos, que nasceram duas crianças e tornaram-se referência, para a nossa maior compreensão do que é governar para o povo. Uma recebeu o nome de “Demo”. A outra se chamou “Cracia”. Ambas eram gregas. Na língua delas, os dois nomes têm um significado. 

Demo quer dizer: “povo”. Cracia quer dizer: “governo”. O tempo passou. Um dia, Demo encontrou Cracia. Eles conversaram e paqueraram. E não deu outra, pintou uma atração muito forte entre ambos. Seria o impulso do amor. Casaram-se e juntos, viraram o casal “Democracia”. Eles tiveram muitos filhos. Os filhos lhes deram um montão de netos. Os netos os presentearam com uma infinidade de bisnetos.

De modo que a família ficou enorme. Quando todos estavam reunidos, podiam encher a catedral. O clã tinha um jeito especial de viver. Em casa, ninguém brigava. Eles eram tão respeitosos que faziam eleição para tudo. Nenhuma decisão era tomada sem o aval de todos. Após a refeição, tinha sobremesa, seria pudim ou sorvete? Todos votavam. Ganhava a maioria. A meninada ia à piscina ou ao parque? O voto decidia o lazer da meninada.

Por conseguinte, a moda pegou. O mundo observava atentamente o comportamento do casal democracia. Muitos países copiaram o exemplo. Se alguém queria ser senador, deputado, vereador, prefeito, governador ou presidente, teria que passar pelo crivo dos votos e participar da eleição. Neste sistema de governo é povo que decide. Ganha quem tiver a preferência da maioria. Portanto, num regime democracia é o povo que escolhe o seu governo. Viva a Democracia!  

19 de abril de 2021

CASAMENTO NÃO É PARA TODOS

Muita gente vem afirmando, com maior ou menor sinceridade, que não tem a intenção de se comprometer de forma tão supostamente definitiva como propõe o casamento. Porque acostumou a viver sozinha e por isso preza muito que a sua liberdade e individualidade sejam respeitadas. Muitas pessoas não conseguem se imaginar casadas, mas também não querem se privar da prática divertida e prazerosa da paquera e da sedução.

É bom lembrar que o casamento é uma invenção da sociedade patriarcal. O acasalamento é uma criação da natureza. Ambos promovem a união. Para os seres humanos, o casamento; para os animais, o acasalamento. A sensualidade e a sedução foi uma maneira que a natureza encontrou para aproximar as espécies.

Todavia, os principais apelos utilizados na sedução costumam estar sempre relacionados ao sexo. Mas, por trás dessas intenções, que não são as segundas e sim as primeiras, quase sempre se escondem o desejo de realmente encontrar alguém especial e viver uma relação mais estável e menos superficial. E se engana quem vincula a ideia de sedução apenas à conquista.

A sedução está presente em todas as etapas de um relacionamento amoroso. Uma das frustrações da sedução ocorre justamente porque depois da aproximação, quando se efetiva a conquista, as pessoas passam a agir como se ela não fizesse parte do relacionamento. E para onde vai a sedução quando o sexo acaba? Principalmente no casamento, o lugar onde menos se faz sexo, segundo os estudos vem demonstrando.

Geralmente o relacionamento começa com a sedução e, depois, evolui para alguma coisa a mais. Como no caso do namoro, o relacionamento torna-se sério e, posteriormente, pode vir a se consumar  no matrimônio. Essa parece ser uma forma de prazer e de agir de acordo com a própria consciência moral. Sendo assim, quem se propõe a ser fiel pela vida toda se propõe a frustrar um instinto, norma de troca de algumas compensações no relacionamento.

Se este é gratificante, no que se refere à sedução, afetividade, à cumplicidade, a frustração é pouca, porque está sendo trocada por algo muito bom. É preciso pensar e agir racionalmente. Casamento não é, e nem pode ser, a mesma coisa que acasalamento. Os critérios mais relevantes antes o empenho em seduzir não são os mesmos que contam quando se tem em mente um relacionamento mais sério e duradouro como no matrimônio. O casamento não é para todo mundo.

Cultivar uma relação afetiva dentro do casamento é uma das tarefas mais delicadas e difíceis, pois não temos preparo algum para que essa situação seja melhor estabelecida  em nosso mundo. Quando a pessoa gosta, simpatiza, namora, acha que dará certo, às vezes vive vinte anos ao lado de um estranho com o qual nunca teve uma conversa clara e honesta. Está implícito que a sedução está ligada a arte da criatividade. Nem todos usam dessa arte, e depois, reclamam que a relação está capenga e desinteressante.

Eu diria que a arte de seduzir consiste em surpreender o outro eternamente porque se você não abre o olho, entra na rotina e desaparece. Você vira a poltrona da sala, quase não se enxergam e não se olham na cara, quando um abre a boca, o outro já sabe tudo o que esse um vai responder. Uma monotonia infernal de ruim.

Só acredito em amor que aparece no brilho dos olhos, no gesto e no modo de tratar o outro. Mas é bom reconhecer que a infinita maioria das pessoas não consegue isso. No entanto, a situação de aprisionamento matrimonial quando vai se desfazendo cria, a meu ver, os piores sentimentos humanos que se pode imaginar. A pessoa vai morrendo aos poucos psicologicamente. É um destino quase universal, feliz ou infelizmente.

Portanto, precisamos nos situar no mundo em que estamos, em vez de dizer que somos culpados, vamos dizer que o nosso regime de vida é uma monstruosidade. Somos todos vítimas e, ao mesmo tempo, todos cúmplices e apoiando os que nos vitimam. Na maioria das vezes, a nossa conversa sobre relacionamento é tratada superficialmente, pois uma das graves hipocrisias históricas do casamento é constatar que em quase todas as sociedades, todos são unânimes em dizer que a felicidade no casamento é fundamental, mas é importante que se diga, que em todas elas havia relações extraconjugais em demasia. Então de que felicidade nós estamos falando? Do casamento ou do acasalamento?

13 de abril de 2021

A CONVIVÊNCIA ENTRE PAIS E FILHOS

Se as relações humanas não forem recíprocas, certamente serão de opressão ou de exploração. Se eu faço a minha parte, cabe ao outro fazer também. Se eu trato bem, cabe ao outro me tratar bem. Se vamos cooperar num trabalho, cada um faz a sua parte. Na família esta situação é muito evidente. De um lado as mães fazem demais, sem exigir nada dos filhos, e quando exige é sempre o mesmo absurdo, nos conselhos intermináveis que não se realizam nunca. Elas fazem cobrança falsa que não funciona. Contudo, não estão educando e sim criando filhos egoístas, que não conhecem limites, não respeitam os mais velhos, tratam os demais membros da família com grosseria e indiferença. As mães cobram, nós sabemos, mas cobra errado.

O bom desenvolvimento e o equilíbrio da personalidade dos filhos são a bondade e a firmeza. A bondade gera confiança, a firmeza gera segurança. Pais que pensam em ser bons, mas não usam de firmeza, são dominados pelo egocentrismo dos filhos. E pais que só usam de firmeza, sem o uso da bondade, são autoritários, geram medo, mentira e desconfiança. Outro valor que considero indispensável para o bom relacionamento é o respeito. Respeito para consigo e para com o outro. Quando os filhos perdem o respeito pelos pais é porque os pais já o perderam por si próprio, ou seja, não se fazem respeitar e não respeitam. Respeito é um valor, mas todo o valor só da frutos se for cultivado.

Considero também importante à questão dos limites nos filhos. O escritor, médico e sacerdote João Mohana (1925-1995) expressa bem isto. Ele diz num de seus escritos: “o pai e a mãe que têm medo de causar complexo, recalque, frustração, e sob tais pretextos deixam os impulsos fazerem tudo o que querem precisamente estes é que ficam com a casa cheia de complexados, recalcados e frustrados. A vida é quem se encarrega dessa operação”.

O terapeuta Robert Hoffman (1921-1997), conhecido pela sua capacidade intuitiva incomum, acreditava que o amor incondicional era um direito de nascença de todos os seres humanos. Diz ele que a criança, o adolescente e o próprio jovem precisam sentir o peso da autoridade dos pais para que recebam a orientação adequada e adquiram segurança para enfrentar a vida. Se não houver isto, criarão amorfos, sem fibra, egoístas e prepotentes indisciplinados e incapazes de um ato de renúncia ou desprendimento. A grande arte de educar está no saber equilibrar a autoridade com a liberdade, sem confundi-las com autoritarismo nem liberalismo.

Portanto, a liberdade educa, mas a liberdade conquistada, não a liberdade dada. O filho deve conquistá-la e os pais devem da-la aos poucos, em prestações, deve ser concedida à medida que este responde com responsabilidade a confiança depositada nele. Assim sendo, a relação se torna mútua. Contudo, falar de relacionamento entre pais e filhos é algo muito bonito, porém, muito difícil, porque é uma arte. Não é simplesmente falar de um fazer, mas é falar de uma vivência. Não se faz uma relação, mas se vive uma relação.

11 de abril de 2021

PRECONCEITO É PRETEXTO PARA AGRESSÃO GRATUITA

A escravidão é uma das feridas mais podre da humanidade, invariavelmente legitimada. Imaginem só, com o pretexto de que os escravos eram inferiores, sendo um pouco mais do que os animais. Vejam que amontoado espantoso de loucuras agressivas cometidas inteiramente dentro da lei, da moral e dos bons costumes das pessoas que se dizem ser do bem. Costumamos dizer que se brigamos é porque temos motivos, porque o outro fez, ou disse algo de ruim sobre minha pessoa.

Por vezes é verdade, mas em muitas outras situações brigamos, condenamos ou criticamos porque somos inerentemente agressivos e por isso, inventamos razões para poder agredir o outro, salvando assim a nossa culpa. Principalmente para poder agredir com aquela sensação de que estou fazendo um bem para o outro, coitado, porque ele está errado; então é o meu dever e me cabe ensiná-lo, por bem se possível ou por mal se necessário.

A agressão está no coração, na boca e na cabeça de todo mundo o dia todo. Quase sempre temos dois comportamentos e duas opiniões: quando em presença, a maioria das pessoas consegue ser mais ou menos “bem-educada”, manifestando um mínimo de gentileza, dando alguma atenção. Parece até uma dança social ensaiada.

Mas quando você vai comentar sobre essa pessoa com outra, na ausência da “vítima”, quase sempre somos maldosos, insinuamos a atuação de motivos pouco louváveis, tendemos a interpretar modos e fatos pelos seus aspectos menos confessáveis. Não somos nós, são os outros que estão cheios de defeitos, mal-educados, sem escrúpulos, interesseiros e egoístas. Buscamos mil adjetivos para depreciar ou diminuir o outro e no mesmo ato, nos glorificamos pelas virtudes opostas a tantos defeitos apontado no outro.

Desse modo, caso não faça nada fora de mim contra o outro, na certa, acontecem coisas muito ruins comigo. A raiva contida é uma das principais causas das doenças psicossomáticas, em particular da hipertensão arterial. Até podemos continuar a culpar o outro, exatamente como sempre fizemos, mas o mundo só começará a se fazer humano quando entendermos que também não somos perfeitos e que temos nossa parcela de culpa. Pois, na teia da vida, há uma complexa interligação entre o “eu e tu”, que nos fazem humanos e responsáveis pelos nossos atos.   

9 de abril de 2021

A METÁFORA DO JARRO REVELA NOSSA HUMANIDADE

Cada pessoa é única e especial, só depende de abrirmos nosso coração. Minha saudosa mãezinha Dona Lazinha (1904-2010), adorava contar uma história sobre uma senhora idosa. Esta senhora idosa, moradora antiga de Rubião Junior, distrito de Botucatu - SP, possuía dois grandes jarros, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas. Um dos jarros era rachado e o outro era perfeito. Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada da mina d’água até a casa, enquanto aquele rachado chegava meio vazio. Por longo tempo, a coisa foi em frente assim mesmo, com a senhora que chegava a casa com somente um jarro e meio de água. Naturalmente o jarro perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre jarro rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.

Depois de dois anos, refletindo sobre a própria amarga derrota de ser rachado, o jarro falou com a senhora durante o caminho: “Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho me faz perder metade da água durante o caminho até a sua casa”. A senhorinha sorriu: “Você reparou que lindas flores têm somente do teu lado do caminhoEu sempre soube do teu defeito e, portanto, plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto a gente voltava, tu as regavasPor dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa”.

Portanto, temos que nos tornar mais confiantes com o nosso próprio nível de discernimento e acreditar mais em nós mesmos. Cada um de nós tem o próprio defeito. Mas o defeito que cada um de nós temos, é que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante. É preciso aceitar cada um pelo que é, e descobrir o que tem de bom nele. Assim começamos a viver com mais honra e com mais respeito uns pelos outros. Somos todos humanos e a lógica é dominar o animal dentro de cada um. O animal ainda não aprendeu a se unir com seu aspecto divino. O animal que nos habita, está cheio de medo. Temos que decidir conquistar o animal, para que ele não se expresse mais com seus medos. Mas para que o divino se expresse com amor e atitudes cooperativas. Assim teremos um novo mundo. Contudo, compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Sobretudo, por ser o amor à essência da alma e da vida.

4 de abril de 2021

PÁSCOA É RENASCIMENTO E TRANSFORMAÇÃO

Para nós cristãos, Páscoa é renascimento, é passagem, é mudança de atitude e transformação. “É ser de novo, no mesmo ser”, que recomeça pela própria libertação. Fica para trás uma vida cheia de poeira e começa agora um novo caminhar cheio de luz, de fortalecimento e esperanças renovadas. Gosto de olhar para o “arco-íris” rasgando o céu e balbuciando ao meu pensamento, que Jesus ressurgiu para nos provar que o “amor incondicional” existe, assim como a vida eterna. Isto é, seremos eternos para aqueles que nos amam.

Porém, esta é uma época em que todos devem lembrar de coisas tão importantes como: “a amizade, a bondade e a fraternidade”. Bens como a família, filhos e os amigos, que também merecem ser comemorados em todos os momentos, como algo especial em nossa vida. É fundamental relembrar que a Páscoa é mais do que a fé na palavra de Deus e na ressurreição de Jesus. Celebre a felicidade, o carinho e a humildade em todos os momentos desta linda Páscoa. Momento certo para refletir e fazer renascer sentimentos mais nobres, como o amor e a compaixão.

Portanto, se cada um cultivar sentimentos bons, fraternais e altruístas. Dessa forma poderemos contribuir para um mundo melhor e mais justo. Vale lembrar, que a Páscoa simboliza o triunfo da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio. É a época ideal para refletir sobre o verdadeiro significado da vida e a importância do amor. Queridos amigos, vamos juntos celebrar a vida, o amor e a esperança. Nós somos as maiores benção que alguém pode desejar. É mais um motivo para juntarmos e comemorarmos essa data tão extraordinária que é poder renascer de novo através da Páscoa. Tudo o que puder fazer, para ver o teu próximo feliz, faça. É assim que descobrimos o significado do amor. Olhar para o outro e poder dizer: “Você não serve para nada, mas, não sei viver sem você”. Feliz Páscoa a todos.      

2 de abril de 2021

DO SEXO À SUPRA CONSCIÊNCIA DO AMOR

Em 1968, o mestre e guru indiano Osho (1931-1990), foi convidado para falar sobre amor e sexo dentro de uma Universidade na Índia. Seu discurso incentivou a libertação sexual, causando furor entre audiência e crítica. Ele fez referências ao seu livro “Do Sexo à Supra Consciência”, um dos títulos mais populares do autor. Ao dizer, por exemplo, que “o orgasmo sexual oferece o primeiro vislumbre da meditação, porque nele a mente pára, o tempo pára”. O guru queria apenas dizer que o sexo não fosse renegado, por ser através do orgasmo sexual, que chegamos a plenitude do amor.

O amor é a nutrição em si mesmo. Quanto mais você ama, mais achará espaços não visitados onde o amor vai se espalhando continuamente ao seu redor como uma aura. As culturas enraizaram duas coisas tão profundamente em cada ser humano. Uma é que o amor é algo muito limitado – amigos, família, filhos, marido, esposa. E a segunda coisa que elas têm insistido, é que existem muitos tipos de amor.  Mas a verdade é que o amor não pode ser categorizado do jeito que tem sido durante toda a história da humanidade. 

Ao segurar a mão da sua mulher ou do seu homem, por que não deitar em silêncio? Por que não fechar os olhos e sentir? Sinta a presença do outro, entre na presença do outro, deixe a presença do outro entrar em você; vibrem juntos, balancem juntos; se de repente uma grande energia possuí-los, dancem juntos – e ambos alcançarão tamanhos picos orgásticos de alegria, como nunca conheceram antes. Esses picos orgásticos não têm nada a ver com sexo, na verdade têm muito a ver com silêncio, para assim sentir a presença da divindade.

Portanto, se os amantes conseguirem ficar meditativos na sua vida sexual, se conseguirem estar em silêncio enquanto estiver fazendo amor, numa espécie de dança, ficaram surpresos. Segundo o mestre indiano Osho, quanto mais sexual uma pessoa for, mais inventiva ela pode ser. Quando mais sexual uma pessoa é, mais inteligente é. Com menos energia sexual, menos inteligência existe; com mais energia sexual, mais inteligência, porque o sexo é uma procura profunda para revelar, não apenas corpos, não apenas o corpo do sexo oposto, mas, tudo que esteja escondido na alma de ambos, que vai se materializando no momento do encontro orgástico.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...