19 de abril de 2021

CASAMENTO NÃO É PARA TODOS

Muita gente vem afirmando, com maior ou menor sinceridade, que não tem a intenção de se comprometer de forma tão supostamente definitiva como propõe o casamento. Porque acostumou a viver sozinha e por isso preza muito que a sua liberdade e individualidade sejam respeitadas. Muitas pessoas não conseguem se imaginar casadas, mas também não querem se privar da prática divertida e prazerosa da paquera e da sedução.

É bom lembrar que o casamento é uma invenção da sociedade patriarcal. O acasalamento é uma criação da natureza. Ambos promovem a união. Para os seres humanos, o casamento; para os animais, o acasalamento. A sensualidade e a sedução foi uma maneira que a natureza encontrou para aproximar as espécies.

Todavia, os principais apelos utilizados na sedução costumam estar sempre relacionados ao sexo. Mas, por trás dessas intenções, que não são as segundas e sim as primeiras, quase sempre se escondem o desejo de realmente encontrar alguém especial e viver uma relação mais estável e menos superficial. E se engana quem vincula a ideia de sedução apenas à conquista.

A sedução está presente em todas as etapas de um relacionamento amoroso. Uma das frustrações da sedução ocorre justamente porque depois da aproximação, quando se efetiva a conquista, as pessoas passam a agir como se ela não fizesse parte do relacionamento. E para onde vai a sedução quando o sexo acaba? Principalmente no casamento, o lugar onde menos se faz sexo, segundo os estudos vem demonstrando.

Geralmente o relacionamento começa com a sedução e, depois, evolui para alguma coisa a mais. Como no caso do namoro, o relacionamento torna-se sério e, posteriormente, pode vir a se consumar  no matrimônio. Essa parece ser uma forma de prazer e de agir de acordo com a própria consciência moral. Sendo assim, quem se propõe a ser fiel pela vida toda se propõe a frustrar um instinto, norma de troca de algumas compensações no relacionamento.

Se este é gratificante, no que se refere à sedução, afetividade, à cumplicidade, a frustração é pouca, porque está sendo trocada por algo muito bom. É preciso pensar e agir racionalmente. Casamento não é, e nem pode ser, a mesma coisa que acasalamento. Os critérios mais relevantes antes o empenho em seduzir não são os mesmos que contam quando se tem em mente um relacionamento mais sério e duradouro como no matrimônio. O casamento não é para todo mundo.

Cultivar uma relação afetiva dentro do casamento é uma das tarefas mais delicadas e difíceis, pois não temos preparo algum para que essa situação seja melhor estabelecida  em nosso mundo. Quando a pessoa gosta, simpatiza, namora, acha que dará certo, às vezes vive vinte anos ao lado de um estranho com o qual nunca teve uma conversa clara e honesta. Está implícito que a sedução está ligada a arte da criatividade. Nem todos usam dessa arte, e depois, reclamam que a relação está capenga e desinteressante.

Eu diria que a arte de seduzir consiste em surpreender o outro eternamente porque se você não abre o olho, entra na rotina e desaparece. Você vira a poltrona da sala, quase não se enxergam e não se olham na cara, quando um abre a boca, o outro já sabe tudo o que esse um vai responder. Uma monotonia infernal de ruim.

Só acredito em amor que aparece no brilho dos olhos, no gesto e no modo de tratar o outro. Mas é bom reconhecer que a infinita maioria das pessoas não consegue isso. No entanto, a situação de aprisionamento matrimonial quando vai se desfazendo cria, a meu ver, os piores sentimentos humanos que se pode imaginar. A pessoa vai morrendo aos poucos psicologicamente. É um destino quase universal, feliz ou infelizmente.

Portanto, precisamos nos situar no mundo em que estamos, em vez de dizer que somos culpados, vamos dizer que o nosso regime de vida é uma monstruosidade. Somos todos vítimas e, ao mesmo tempo, todos cúmplices e apoiando os que nos vitimam. Na maioria das vezes, a nossa conversa sobre relacionamento é tratada superficialmente, pois uma das graves hipocrisias históricas do casamento é constatar que em quase todas as sociedades, todos são unânimes em dizer que a felicidade no casamento é fundamental, mas é importante que se diga, que em todas elas havia relações extraconjugais em demasia. Então de que felicidade nós estamos falando? Do casamento ou do acasalamento?

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