31 de julho de 2023

O DESEJO É SEMPRE POR AQUILO QUE NOS FALTA

Haverá quem diga que felicidade é ter tudo o que se quer. Eis aí a primeira dificuldade: não é possível. Porque quando você quer é porque não tem ainda. E quando se tem aí você já não quer mais. O desejo é sempre por aquilo que nos falta. E a nossa energia é mobilizada para ir atrás daquilo que queremos. Sempre encontramos na falta a nossa grande motivação para alcançar o desejado.

Mas aí, é claro, um dia, como nem tudo é tão cruel e tão difícil você consegue o que tanto queria. E quando você consegue já não deseja mais, já não ama mais. Os brinquedos recebidos no Natal estão num baú de desejos assassinados pela presença, mortos pelo consumo, e as crianças querem os outros que elas ainda não têm.

A sociedade não pode nos deixar desejar de qualquer jeito. Essa força que temos para ir atrás daquilo que nos faz falta, ela não pode se manifestar no caos. Depois de algum tempo, com o advento da maturidade você não percebeu que foi enganado pela ilusão dos sonhos. Você não percebeu que, talvez, se a vida tinha alguma chance de ser feliz, não é quando acontecer algo desejado, mas é já, aqui e agora.

Ou a felicidade está aqui agora, ou não estará em nenhum outro lugar, porque a vida está aqui nesse momento. Cada instante da vida é uma oportunidade mágica, absolutamente inédita e nunca antes vivida. Porque hoje eu sou melhor do que ontem, hoje sou mais preparado e mais experiente do que ontem. Eu tenho a chance de fazer o melhor da vida.

E quando a felicidade começa antes é melhor para vida. Se precisar esperar sexta-feira às 18 horas no encontro com amigos para um “happy hour”, para a vida ser feliz, desculpa, a tua vida é muito ruim. É bem melhor quando ela começa antes. E ela terá colorido. Cada vez que você usar o instante vivido para buscar fazer o mais perfeito, a busca da excelência, o pleno desabrochar da própria essência, a busca da própria perfeição, que não vai acontecer no final de semana, mas vai acontecer já, porque agora é que a vida está acontecendo.

Porém, tenho a chance mágica de usar as melhores palavras, os melhores exemplos, tocar você no seu espírito com a máxima contundência. E aí sim, estarei fazendo da minha vida uma vida de desafios, colorida e feliz. Não é quando acabar de escrever esta reflexão, mas, é já. E lamentarei demais o momento que acabar. De modo que felicidade é um pequeno segundo da vida, um pequeno instante, que você gostaria de repetir.

Felicidade é aquele segundinho que você não gostaria que acabasse. Mas, como vai ter que acabar, você usa a inteligência para repetir. Pode acontecer em qualquer lugar, pode acontecer no cinema ou debaixo da sombra de uma mangueira. Isso é sintoma de felicidade no cinema ou na sombra da mangueira. E tem até aquele aluno que, no último dia de aula, vira pra você e diz: “professor, será que no ano que vem, eu não poderia assistir suas aulas de novo como aluno ouvinte?” E você olha para o aluno e vê que só há uma razão para ele querer assistir suas aulas outra vez. Ele vai ter que admitir: é que durante suas aulas ele foi feliz.

Quando a vida poderia ter durado um pouco mais é sinal que você estava feliz. Porque não há nada mais legal do que você, proporcionar a alguém que você nunca viu um mísero segundo, que esse alguém gostaria de repetir com você. Isto é maravilhoso! Estaríamos juntos, costurando uma sociedade infinitamente mais solidária, uma sociedade infinitamente mais justa, mais coesa, mais harmoniosa e mais feliz. E se temos que melhorar, somos nós a melhorar. Somos todos corresponsáveis.

Portanto, é hora de juntos, virarmos a página e patrocinarmos com a nossa conduta e a nossa inteligência, uma convivência melhor e mais justa. Que não seja para nós, mas que seja para aqueles que tanto amamos e que não pediram para nascer e que esperam encontrar, quando começarem a viver, um lugar bacana de convivência, porque viver bem é conviver bem. Viver bem é encontrar justiça para si e para os outros. Essa tarefa é exclusivamente nossa, de buscar felicidade através de uma convivência feliz.

24 de julho de 2023

A ATITUDE FILOSÓFICA DE UM PENSADOR

O exercício do pensamento é algo muito prazeroso, e é com essa convicção que convidamos você a viajar conosco pelas reflexões de cada um dos nossos textos Filosóficos: o prazer do pensar. Atualmente, fala-se sempre que os exercícios físicos dão muito prazer. Quando o corpo está bem treinado, ele não apenas se sente bem com os exercícios, mas tem necessidade de continuar a repeti-los sempre.

Nossa experiência é a mesma com o pensamento: uma vez habituados a refletir, nossa mente tem prazer em exercitar-se e quer expandir-se sempre mais. E com a vantagem de que o pensamento não é apenas uma atividade mental, mas envolve também o corpo. É o ser humano inteiro que reflete e tem o prazer do pensamento! Essa é a experiência que desejamos partilhar com nossos leitores.

Qual será então a atitude de quem pensa? Podemos, assim, observar que a primeira característica da atitude filosófica é negativa: é um dizer "não" ao senso comum, as crenças, opiniões e valores recebidos na experiência cotidiana; é recusar o "é assim mesmo" e o "é o que todo mundo diz e pensa”: Numa palavra, distanciar-se dos preconceitos, colocando entre parênteses nossas crenças e opiniões para indagar quais são suas causas e qual é seu sentido.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva: é uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê e o como disso tudo e de nós próprios. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. Se reunirmos essas duas características da atitude filosófica, deparamos com a atitude crítica.

Portanto, a Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do dia a dia para que possam ser avaliados racional e criticamente. Por isso começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber. Esse foi o principal ensinamento do patrono da Filosofia, Sócrates, quando afirmou que começamos a buscar o conhecimento verdadeiro apenas quando somos capazes de dizer: "Só sei que nada sei".  

18 de julho de 2023

COMO SE EXPLICA O RESSENTIMENTO POR UMA PESSOA?

A quem pertence a nossa paz? De quem é a nossa tranquilidade de espírito? Se for nossa, quem pode tirar? Quem pode me ofender? Como se explica o ressentimento pelo qual algumas pessoas são afetadas? Uma verdade fundamental que ilumina a nossa vida e deixar os ressentimentos para trás, é exercitar o poder espiritual sobre nossa vida. Pois, ninguém tem esse poder de ofender o outro sem que o permita. A menos que passe uma procuração para ser ofendido e julgado. O que Jesus perguntou aos seus algozes: “Querem me condenar?” Ele percebeu o clima pesado. Não respondeu nada, passou no meio do povo e foi embora. Jesus não ficou pedindo: “Por favor, me entenda, pelo amor de Deus não façam isso. Sou filho de Deus e vim para salvá-los”. Imagina que ele iria se humilhar a tanto. Tem pessoas que não adianta ficar pedindo compreensão. São portas fechadas e não estão preparadas para tamanha grandeza. São incapazes de gestos nobres, de generosidade. Gestos que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício do outro; magnanimidade. São bons para julgar e condenar, sem pensar no amanhã.

O ensinamento budista tem um argumento muito interessante sobre a ofensa. Diz a filosofia budista que: “a ofensa é uma brasa que você atira na pessoa para queimá-la, como um fogo na mão que você quer queimar a pessoa o máximo possível, e talvez você consiga. Mas, em cem por cento dos casos, você queima a mão primeiro”. Quem ofende, revela insegurança e fraqueza de espírito. A questão é que sempre vamos encontrar alguém que aponte o dedo para nos execrar em nome da honra e da verdade. Que verdade? Quem pode dizer que conhece toda a verdade? Mas, tem pessoas que são convictas porque vivem de opiniões. Não adianta querer explicar, elas estão surdas e cegas. Só escutam a elas mesmas e muito mal. O próprio Jesus disse: “Pai perdoa, eles não sabem o que dizem, são ignorantes”. Geralmente, são pessoas amargas e mal resolvidas na sua subjetividade. Como dizia o saudoso Padre Léo: “Não adianta dar banho em porcos, o lugar deles é na lama”.

Entretanto, temos que pensar comparativamente, quem pode me ofender? Unicamente a quem eu der esse poder. Sendo assim, a ofensa torna-se um fracasso pessoal. Os Estoicos ensinam que não devemos se alterar diante das coisas que sejam desimportantes. Há poucas brigas muito importantes na nossa vida. Sendo a maioria por motivos fúteis e banais. Contudo, existem pessoas rancorosas que nasceram para apontar os erros nos outros, e se esquecem dos próprios, os chamados falsos moralistas ressentidos. Alguns vivem dentro de igrejas e até praticam o ministério eucarístico cristão em suas comunidades. Não passa de uma representação social. Quando assumo o comando da minha vida, estou crescendo em Deus, de modo que a mentira é uma visão distorcida da realidade.

Portanto, todo ponto de vista é visto de um ponto. Somente vemos um pedaço da realidade e não a realidade toda. Se quer ser uma pessoa de coração bom, mergulhe no ágape da vida. Ninguém é bom o suficiente, enquanto não superar o mau que cresce dentro de si. Aquelas pessoas pequena por dentro é que se fazem fortes por fora, quando sabem que nos machucam. Quando começarmos a enxergar o nosso semelhante por outro ângulo, começamos a enxergá-lo de um jeito novo e mais humano. Nesse momento recebemos uma graça linda de Deus, começamos a enxergar o outro com os olhos da esperança. Porque amar o outro é esperar em Deus.  

5 de julho de 2023

OLHAR COM A ALMA E DIZER COM O CORAÇÃO

Gosto deste contato com a natureza, de estar entre meio essa beleza natural, das quais só podemos enxergar com os olhos da alma. Olhar para essas pessoas simples que vivem e plantam seus alimentos. A beleza dos gestos imperceptíveis; das mãos que acolhem, das que nos abraçam, consolam e amparam. A beleza da palavra amiga, consoladora, estende-se a todo instante ao nos ver por perto. É um olhar com a alma e quando diz é com o coração. É na alma que o amor se completa.

Gosto desse silêncio compartilhado, desse olhar que acalanta, do abraço caloroso, do beijo silencioso, do aceno que jura; “ficarei aqui, por ser aqui o meu lugar”. Quando observo, procuro enxergar com os olhos da alma, para não deixar que a luz ofusque a realidade, aquela escondida, por trás de uma bela estampa, ou distorcida pelas lágrimas. Há também, aquela que disfarça numa deformidade afetiva, que nada tem de real. Pois, ambos foram afetados. Tanto a alma como o amor.

O belo mesmo, este, é invisível aos olhos. Prefiro me perder na escuridão dos meus olhos solitários e viver num mundo sem culpa. Do que me encontrar na luz dos olhos traiçoeiros dos espertos desalmados e condenar a minha alma para sempre. De modo que a beleza não está nos olhos de quem vê e sim nos olhares que se trocam, aqueles que tocam a nossa alma. Assim sendo, não sentimos esquecidos e sozinhos. Somos olhados com os olhos da alma. É a alma que avisa o nosso coração sobre a chegada do amor.

No entanto, há flores pelo caminho, assim como há vida e ela chama por nós. Enxergue a vida com as lentes da sabedoria e com a certeza que ela é cíclica, vai e volta. Se puder evitar que um coração se parta, não terei vivido em vão. Se puder evitar a agonia de uma vida e acalentar uma dor, não terei vivido em vão.

Concluo com um verso do cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918): “Não me basta saber que sou amado, nem só desejo o teu amor. Desejo ter nos braços teu corpo delicado, ter na boca a doçura de teu beijo”. Olhar com a alma é dizer no silêncio do teu mais amável e sutil coração. Que está sempre transbordando de amor. Com a alma acalentada e o coração em disparada.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...