28 de setembro de 2019

AS CONSEQUÊNCIAS SE TRADUZ EM SIGNIFICADOS

A vida tornou-se complicada para o ser humano, pelo simples fato das consequências de suas ações e decisões. Sobretudo, porque fazemos escolhas a todo o momento em nossas vidas. Até mesmo o fato de não escolher, já é uma escolha. Escolhemos sair ou ficar em casa num final de semana, assim como terminar um trabalho hoje ou deixar para amanhã. O fato é que as escolhas tem as suas consequências. Seja qual for a minha decisão ela vai trazer alguma consequência, para o meu futuro.

Entretanto, o que precisamos avaliar é que ao decidirmos seguir um caminho, realizar um sonho ou conquistar uma meta, até mesmo mudar de profissão, certamente iremos pagar um preço por isso. Muitas pessoas agem movidas pelos seus impulsos, sem uma reflexão apurada sobre essas consequências. Só vamos dar conta depois da ação concluída. Não quero aqui fazer nenhum juízo de valor, tampouco julgar a escolha de cada um. Mas apenas mostrar que os fatos da natureza seguem uma ordem lógica natural. Por isso é importante refletir muito antes de agir, para ter menos aborrecimento no resultado final.

Estar consciente das consequências, como nos ensina a filosofia budista, que devemos testar todas as coisas e cada ideia ou pensamento, examinar cuidadosamente o mundo que nos cerca, isto é, conhecer em vez de querer acreditar ou esperar que aconteça. Buda nos ensinou que grande parte do sofrimento tem origem em nosso pensamento e comportamento, somos influenciados pelos desejos: de poder, bens materiais, fama, ciúme e raiva. São fontes de sofrimentos causadas por apego a essas sensações. A obsessão humana com as aparências e com o que as pessoas pensam a seu respeito também são fontes de sofrimento.

Por isso a importância de pensar e refletir muito sobre nossas ações. Quando agimos pela emoção, na certa perdemos a razão. De modo que a consequência da ação do tempo e de nossas escolhas torna-se evidente porque há uma consciência do sofrimento e dos nossos limites, que é percebido e sentido no corpo. Pensando bem a vida para o ser humano é inviável por tudo que ela nos causa de dor e sofrimento. A própria idéia de um ser humano feliz é um contra senso. Não há possibilidade de felicidade sem pensar no sofrimento.

Na verdade, a vida material para o ser humano é inviável, uma hora ela acaba, ou seja, vamos morrendo aos poucos. É o apego a matéria que causa o sofrimento e dor, de que fala o budismo. Todavia, a vida pode ser para nós uma batalha perdida, do ponto de vista biológico. Basta olharmos para o nosso corpo hoje, para que comprove a ação do tempo. Isto para nós mortais tem uma conseqüência dolorosa do ponto de vista estético. Por outro lado, existem pilhas de estudos sobre o comportamento humano, falando das conseqüências graves geradas pela falta de solidariedade e da amizade, do companheirismo e do compromisso com a vida.

A ideia de que o ser humano é o sujeito da história passa por uma corrente de pensamento européia denominada “Humanismo”. Para o Humanismo, o ser humano deve ser valorizado acima de tudo; deve estar no centro das preocupações sociais. No entanto, o ser humano surgiu através de uma genealogia lenta, passando pela filosofia e algum tempos depois pelas ciências humanas. Paralelamente ao seu surgimento apareceram os hospitais públicos, as penitenciárias, as necessidades de leis para a punição de infrações, a desigualdade social, a tirania e a violência. Todos esses elementos, somados ao desenvolvimento da medicina, psicologia, psicanálise e a sociologia.  

Portanto, não compreendo os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar o “amor e a compaixão” que tenho, pelo meu próximo. Penso num mundo melhor para todos nós. Talvez, então nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem nesse planeta que por enquanto é a nossa morada. Que possa olhar para o seu semelhante com respeito e admiração, e finalmente como consequência desse gesto sublime, todos poderão conviver em “paz e harmonia”. Como diz o padre Fábio de Melo: "por isso que a velhice é esse tempo, que a utilidade passa e ficará somente o nosso significado como pessoa. Só te ama de verdade, aquele que ficar do teu lado até o fim, evidentemente, depois de descobrir o teu significado. 

25 de setembro de 2019

O DESPERTAR DO AMOR NA MATURIDADE

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que nem envelhecer com dignidade estamos conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi: “ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano”.

Como é então, a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade de prazer, a imaginação e a própria inspiração? Os mais recentes estudos, nos mostram que não é preciso envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem, como uma somatória de déficits. No entanto, muito se pergunta se o amor e o sexo acaba com o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além do biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito com amor e praticando sexo com qualidade.   

Na abordagem comportamentalista, estímulo e resposta, o amor e o sexo não acabam enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o amor e o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade. Quando afirmamos que é nos braços da pessoa amada que encontramos o paraíso, que o beijo nos conduz a esfera celestial e que a perda desta pessoa nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa é uma visão da filosofia oriental hindu, o Tantra.

É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência ao sexo amoroso está na prática tântrica, onde o mais importante não é o orgasmo, e sim o prolongar desse prazer, dando-lhe uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.

Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro passa a ser a paragem pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.

Portanto, nesse encontro com o outro, a própria vivência da alegria e da beleza, é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora. Pois, na plenitude do prazer do encontro, experimentamos o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Somos o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo que é o ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

22 de setembro de 2019

ENVELHECER COM SABEDORIA É SER GRATO A VIDA

Vivemos uma grande transformação de costumes neste último século. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade.

Segundo a psicóloga, antropóloga e educadora Ana Perwin Fraiman, homens e mulheres mais velhos aprenderam muito mais sobre sexualidade do que erotismo. A sedução fazia parte do cardápio de conquistas nos bailes da vida, no piscar dos olhos, nos toques ligeiros e discretos, no tímido sorriso insinuante, no rastro de perfume deixado no ar. Muito diferente do erotismo de hoje, com a exposição explicita do corpo, usando aquele fio dental ou uma minissaia, em muitos casos, até o nu total. Nada contra, só um comentário.

Alguns homens mais velhos dizem apreciar um corpinho lindo desnudo de uma moça jovem, mas a maioria se excita muito mais com um decote insinuante ou uma nuca exposta daquela coroa enxuta, para ser levemente roçada por seus lábios quentes. Há uma gama considerável de mulheres acima de cinquenta anos, que não conseguem sequer imaginar tendo relações sexuais com outro homem, que não os respectivos maridos ou namorados, além de algumas mulheres que nunca folhearam uma revista pornográfica por questões morais ou porque sentem vergonha e não têm coragem.

Entretanto, há mulheres dessa mesma idade cujo casamento acabou e estão namorando novamente ou tendo um caso, por ser mais atrativo e menos desgastante. São mulheres decididas, buscando um novo parceiro, fazendo sexo e sentindo prazer, coisa que não sentia no casamento. Coisa do gênero, “primeiro a gente faz sexo, se der certo e a gente gostar continua, mas casar de jeito nenhum”. Curiosamente essa era uma proposta tipicamente machista e chegava a ser ofensiva para a mulher de outra época. Hoje temos uma grande variedade de situações, até as coisas ditas sobre o sexo, estão mudando também para as mulheres maduras.

Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativas e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícia e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo no corpo todo, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher, quer um homem sensual, que lhe de prazer pleno e difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só acaba com a própria morte. 

Por outro lado, existe o homem maduro, que busca uma mulher ativa, segura, provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que goste de ser apreciada, que goste do contato intimo, de dar prazer, que fica excitada quando juntos estão. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude, sabendo se abrir para a vida, dar e receber carinho, fazendo da sexualidade uma contra dança com seu parceiro, que se apreciam e se realizem, caso venham a se separar, sentem falta e até mesmo saudades um do outro.

Quando os amantes conseguirem colocar a sexualidade num plano maior, ligado à espiritualidade, isso ajudará as pessoas a se libertarem de seus medos, culpas e vergonhas, raivas e desesperos da solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós todos de amar verdadeiramente em qualquer idade. Se nós não curarmos primeiro de todas as feridas, não se fará a revolução da sexualidade humana. E não há como curá-las a não ser por meio de informações claras, de palavras cuidadosas, de toques amorosos. Ou seja, de verdades implícitas. E mais que isto, a verdade sobre o sexo e o prazer que ele nos da, a beleza, a liberdade e a alegria que ele nos provém em qualquer idade. Diz um provérbio oriental: “se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não pense que elas não existem”.

Portanto, ao nascer o nosso corpo ainda não foi inscrito, no dizer do filósofo inglês John Locke (1632-1704), dizia ele: “a nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo, ele incumbiu-se de imprimir o conhecimento”. Com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram. Para a antropóloga e educadora Fraiman, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano.

VIVEMOS SEGUNDO NOSSOS COSTUMES

Em determinada circunstância o medo pode inibir a nossa coragem de ser feliz, de arriscar a viver um grande amor, pelo simples fato da nossa educação apontar para a sexualidade como algo pernicioso. De certo modo, o fenômeno amoroso está relacionado ao sexo. Segundo nossos costumes, isso não pode porque é indecoroso. Proibimos demais e de repente essa energia vital explode, gerando uma neurose de angústia. De modo que, a maioria das relações amorosas e sexuais praticada hoje no mundo é basicamente falsificada ou fingida, justamente por esse principio moral. Contudo, vivemos uma relação de amor e sexo muito contida. Com medo de tocar o corpo do outro e ser tocado na mesma intensidade. Pois a falta de coragem inibe a minha intimidade com a pessoa que amo, aquele momento prazeroso de um brincar com o corpo do outro. O medo de acariciar esse corpo, como se fosse o playground das minhas fantasias no momento do encontro. Esse brinquedo gostoso e tão prazenteiro que é o nosso corpo, a nossa pele. 

Podemos comparar esse momento como uma revelação divina, da qual não sabemos muito bem o que fazer, e ao mesmo tempo ficamos com medo e perplexo com tamanha felicidade que experimentamos. Parece-me ser o nosso papel como seres humanos buscarmos sempre aprender a amorosa gentileza, principalmente, quando estamos encantados por alguém. Aprender a amar e a ser gentil está intimamente relacionado ao sentido do toque, que seria muito benéfico para a nossa humanização. Dar mais atenção a necessidade de experiências táteis, sentida por todos nós.  No entanto, a nossa sexualidade de certo modo é colocada de lado, ignorada como se ela não fosse importante para a manutenção da nossa existência.

Entretanto, o amor começa onde começa o toque, o contato físico, naquele intervalo de poucos minutos que se seguem ao nascimento. Ao chegarmos a esse plano físico, somos prontamente amparados pelo aconchego do toque epidérmico. A comunicação que nos é transmitida no momento do nascimento através do toque constitui o mais poderoso meio de criar relacionamentos humanos, como fundamento da nossa experiência. Capaz de ampliar nossa valorização do outro e do mundo em que vivemos e acima de tudo, de aprofundar nossa compreensão em ralação a eles.

Todavia, essa experiência do nascimento parece que teve um efeito colateral. Com o crescimento da indiferença ou o medo que sentimos do outro, vem surgindo uma nova raça de intocáveis. Tornamo-nos estranhos uns aos outros, não só evitamos todas as formas de contato físico ou carícias, como ainda vivemos precavidos contra essas pessoas. Somos mais um no meio dessa multidão sem rosto, entre esse amontoado de figuras anônimas, solitárias e temerosas de intimidade. Estamos todos diminuídos na mesma extensão. Devido o fato de sermos todos intocáveis, não conseguimos criar uma sociedade em que as pessoas se abracem e se toquem com admiração e respeito.

Portanto, quanto mais civilizado, mais distante e frio o ser humano permanece. Sobretudo, porque estamos cercados o tempo todo daquilo que mais desejamos e ninguém ousa se apropriar. Parece que ninguém tem a coragem de viver esse encontro com a divindade, através do outro. Estamos todos doentes por falta de proximidade, de abraços e trocas de carícia, extremamente fundamental para a nossa felicidade tântrica. Caminhamos a passos largos em direção destrutiva da espécie humana. Não nos juntamos em ação comum em defesa da vida de todos nós, tão ameaçada por tantos perigos. A pergunta é: por que nos afastamos tanto assim uns dos outros? De que doença sofremos? Por que negamos o prazer da companhia? Parecemos distantes e separados mesmo quando estamos juntos. Contudo, amor não é o que faz a gente feliz. Amor é o que faz a gente se sentir vivo. Por isso o amor é o símbolo da nossa própria existência.  

20 de setembro de 2019

DA FANTASIA NASCE O DESEJO

A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da outra pessoa. Quanto maior a expectativa, maior a frustração. Desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista.

No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não. No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças.

Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer. O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.

O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, usando uma linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto. A complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar, porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.

Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência.  

15 de setembro de 2019

AFETAR É TOCAR NA ALMA E CRIAR LAÇOS AFETIVOS

Afetividade vem de afetar alguém, porém, quem tem o dom do afeto, cativa e cria vínculo duradouro. Guimarães Rosa (1908-1967) diz que as pessoas não morrem, ficam encantadas. Nós humanos somos felizes por termos essa possibilidade de nos maravilharmos pelas pessoas e pelo criador. Muitas vezes, temos medo de uma relação mais profunda, por saber que tudo na vida é efêmero. Segundo o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), somos seres voltados para a morte, e essa certeza torna angustiante, os nossos projetos e relacionamentos. É difícil uma atitude de desapego. Para o outro filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860), viver é sofrer. Embora ele era pessimista frente a vida.

Entretanto, partimos em busca de atitude que eternize os seres ao nosso redor. No filme de Hal Ashby: “Ensina-me a Viver”, o rapaz de vinte anos apaixona-se por uma senhora de setenta e nove anos. Quando o jovem a presenteia com um colar de prata, ela fica vislumbrada com o presente, beija, aperta junto ao peito, beija de novo e depois lança ao rio. Sem entender, o jovem pergunta se ela não tinha gostado do presente. Ela diz que, ao contrário, gostou muito, mas se ficasse com ele guardado, com o tempo perderia. Agora daquele jeito nunca mais ficaria sem ele, pois sempre saberia que estava naquele rio.

Não precisamos explicar o que é uma rosa, ela simplesmente é. Assim acontece com o amor, não se explica, ele é. Alguns filósofos tentam explicar o amor, outros se convenceram de que o amor se intui. Que o amor é a medida de todas as coisas. É bem na verdade, que o plano do sentimento não se contrapõe à realidade, não nos remete, necessariamente, ao mundo da lua. Mostra que, diferente dos outros animais, só a nós o criador deu o poder de amar. Para ilustrar trago a fábula do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), que no Pequeno Príncipe e a Raposa. Ele conta que quando apareceu à raposa, começa um diálogo com o principezinho:

Bom dia, disse a raposa. Bom dia, respondeu palidamente o principezinho que se voltou, mas não viu nada. Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira. Quem és tuPerguntou o principezinho. Tu és bem bonita. Sou uma raposa. Então propôs o principezinho; vem brincar comigo, estou tão triste. Não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda. AhDesculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, perguntou: O que quer dizer cativarÉ uma coisa muito esquecida, que significa criar laços, disse a raposa. Criar laçosExatamente, tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Será para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo.

Disse a raposa: minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olhaVês, lá longe, o campo de trigoEu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram de coisa alguma. E isso é tristeMas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo. Depois deste argumento, a raposa calou-se e considerou por algum momento o príncipe. Dizendo: por favor, cative-meBem quisera disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.

A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. E continua argumentando a raposa: os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-meE então conclui a raposa: os homens esqueceram o valor de um amigo, mas tu não o deves esquecer. E lembre-se: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Portanto, com a minha experiência e a consciência que tenho da vida, hoje entendo que somos instantes e num instante não somos mais nada.

11 de setembro de 2019

CATIVAR PARA CRIAR LAÇOS DURADOURO

Um coração que cativa é aquele que desperta no outro o prazer da presença. Só vamos aprender o gosto pela vida, no encontro com pessoas que nos cative. Tanto homens como mulheres, estão se esquecendo de que as relações humanas precisam ser nutridas e adubadas. A saúde do ser humano e da sociedade está estritamente ligada a uma situação feliz dos casais e dos familiares. Conhecer para melhor amar. Na mulher o homem vai encontrar a sua identidade masculina. A natureza sabe fazer isto muito bem através da sensualidade dos rios, por isso o rio é acolhido, vai serpenteando pelos verdes campos, contornando as montanhas espalhando vida em abundância por onde passa. De modo que o homem age no ímpio e na força, porém, a mulher é mais suave e cativante no coração. É o homem que precisa entrar no mundo da mulher.  Para perceber a docilidade de um coração cativante. Naturalmente é o que faz a natureza com o rio.

O que é cativar? É aquele momento em que meu coração se abre e recolhe o outro, com suas qualidades e seus defeitos, com seu passado e seu presente. Prende o outro dentro do meu coração e o torna livre para amar. Descobrir os nossos valores e os valores do outro é entrar no mundo do outro e sair desse mundinho fechado. Mundo das aparências. Agora compreendo, tenho uma flor e acho que ela me cativou. Você torna-se eternamente responsável por aquilo que cativas. O sacramento do amor é a arte de ensinar os amantes a transformar nó em laços. O amor faz transformar qualquer nó num laço. É preciso criar laços, referenciais de amor. Criar rituais para que o nosso mundo seja único. Na multidão poderás encontrar pessoa até mais bonita, porém, aquela pessoa que me cativa é única para mim, isto sim é criar laços afetivos e duradouros. Porém, só enxergamos bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. De modo que, cativar é preservar e nunca desistir. 

Portanto, não vou desistir de mim e tampouco mudar minha essência. Sei cativar as pessoas porque conheço o meu valor que me custou chegar até aqui. Passei por caminhos escuros, até encontrar a luz. Mostraram-me tantas mentiras, mas continuei verdadeiro na minha missão de cativar corações. Sofri a covardia de quem se achava valente e dizia amar, mas continuei firme no meu propósito de vencer o medo. Abandonaram-me e sozinho consegui me encontrar. Para algumas pessoas fui o fruto da maldade, e mesmo assim, continuei na bondade. Só queria viver e ser feliz. Apresentaram-me a dor e aprendi a ser flor. Tinha uma missão. Apresentaram-me o desamor e aprendi que só o amor vence a solidão. Contudo, quero viver num paraíso onde o mundo é um só sorriso, onde a paz é sem fronteiras, onde o amor é sem barreiras, cavalgar pela relva espalhando o pólen da flor, navegar nas ondas do amor. Há! Se o mundo compreendesse, que o amor cultiva a paz, talvez esse mundo não seria desta maneira e as guerras não existiriam mais. Minha bela flor, o bastante é ser feliz. Como diz a música de Nelson Cavaquinho e Jair Costa, Eu e as Flores: quando eu passo perto das flores quase elas dizem assim: vai que amanhã enfeitarei o seu fim”.

7 de setembro de 2019

SER FIEL É SER INFELIZ NA VIDA A DOIS?

Todos conhecem história da “raposa e as uvas”, da fábula de La Fantoni. Pessoas vivendo uma situação nada favorável e dizendo que está uma maravilha. A história do "limão doce", chupando limão e dizendo que está uma delicia. Isto acontece diariamente na vida de todos nós. Mas aqui vou me deter somente nas relações afetivas, nas relações a dois, que na sua maioria são um desastre, marcada por total falta de respeito um pelo outro. No entanto, quando a gente encontra alguém que nos olha com encantamento, admiração, interesse e gosto, desperta em nós espontaneidade e solicita aproximação.

Esse fenômeno tão natural nos seres humanos e tão presente no nosso dia a dia, seja solteiro ou casado. É só prestar um pouco de atenção para perceber quantos olhares recebemos e correspondemos diariamente. O que importa é o sentimento, a vaidade e o gosto pela vida que cada um tem. Por outro lado, existe uma moral que nos condena. Tudo que sentimos em relação ao sexo, parece que não pode ser falado. Na verdade, a nossa educação recheada de preconceito consiste principalmente em nos proibir de falar dessas necessidades tão vitais. Desta sexualidade que aparece explicitamente em nosso olhar e por todo o nosso corpo. E o que fazemos? Fingimos o tempo todo que essas coisas não acontece conosco. Quanta hipocrisia!

É tão evidente que o amor vai e volta, mesmo quando se gosta muito de uma pessoa. Não são todos os dias que gostamos de ficar juntos. Há outros interesses na vida. Essa situação tem afrouxado os laços matrimoniais. Mas o que se observa é que as pessoas continuam ai sem se mexer. Talvez por força da tradição, da educação ou da pressão familiar, querendo mostrar um casamento ideal que nunca existiu. De modo que, quando a relação a dois começa a esfriar vira uma cadeia fria. Não há mais interesse um pelo outro e curiosamente os dois percebem isso. Mas não podem e não querem fazer nada. Preferem ficar ai chupando o limão meio azedo e meio amargo e fingindo para os amigos que está uma delicia e que agora somos felizes para sempre.

As pessoas esqueceram de uma coisa importante. Quando estão morrendo numa situação que não têm sentido para elas, sua primeira obrigação é reconquistar a sua vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão a sua frente, buscar aquila que lhe interessa. Pode até ser um novo amor, um curso ou um trabalho, como realização profissional. Ela tem que experimentar, para proteger a sua vida e continuá-la. A essência da depressão é uma vida infeliz. Não tem nada do que se gosta, algo que me faça bem, então, arrumo uma doença imaginária. Depressão quer dizer vida infeliz. A vida perdeu a graça, não tem mais sentido, nem motivação. O jeito é continuar a chupar o limão e mostrando para as pessoas uma cara de feliz, quando está infeliz.

Afinal, é isto que a sociedade espera de nós. Não quero dizer aqui que todas os indivíduos tenham relacionamento extraconjugal de fato. Alguns não têm. Mas posso afirmar que a maioria das pessoas são de uma cara de pau incrível. Em público todo mundo condenando, em particular a grande maioria fazendo. Todos fazem, mas ninguém assume. E quem ainda não fez de verdade, faz na fantasia ou na imaginação com toda a certeza. É bom que se diga, tem dias que todos nós gostaríamos às vezes de ser casado ou solteiro. Há momentos na vida que temos outros interesses em jogo. Precisamos de um tempo para refletir sobre, olhar a situação de fora e sentir se estamos no caminho certo. Nós somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos.

Entretanto, um dos enigmas para mim é que a vida real das pessoas não é flor que se cheira. Quando se fala dos seres humanos, é de uma santidade e honestidade que eu nunca vi no mundo. Nega-se a maldade e a infidelidade e elas aparecem por todos os lados. Se for verdade que eu quero ser solteiro ou casado conforme a hora, isto quer dizer que nenhum dos dois estados é satisfatório. Devo dizer que as santas senhoras, maduras, é a própria virtude em pessoa, vão pelo mesmo caminho. Garanto que num cantinho do seu pensamento está lá seu ator de novela preferido, um moço bonitão, o coroa charmoso. Só de pensar já implica em infidelidade, pois ela está sentido desejo por alguém. Tudo começa no pensamento. As pessoas têm toda aprovação social para esmagar o infiel, o que traiu. E o pior é que ele reconhece em vez de perguntar: “Você também nunca pensou em outroSe é que já não fez”. É comum, a pessoa que “pecou” – desconheço neste caso, quem nunca pecou. Ainda mais agora com o advento da internet. Quem não peca?

Portanto, uma vida sem amor é um deserto. Uma vida só de obrigações ninguém aguenta. São as vidas de obrigações que produzem as doenças graves. O que se espera da relação a dois é uma coisa completamente absurda. Promessas de felicidade total, ser fiel a vida inteira. As pessoas aguentam anos após anos esta situação. Verdadeiros camelos atravessando um deserto. O estado mais gostoso da vida é quando a gente se encanta com uma pessoa. E nós vivemos proibindo e negando isso. Até parece que todo mundo tem que ser escravo e viver infeliz, chorando pela vida toda. Se você é infeliz onde está. Com certeza, você está fora de lugar. Vá ao encontro da sua felicidade.

5 de setembro de 2019

A GÊNESE DO AMOR PERFEITO

A palavra amor tem mais sentidos do que qualquer outra palavra do mundo, segundo os especialistas nessa área. Quando estamos diante de alguém que nos desperta emoção ou encantamento, penso estar aí a gênese do amor, somos tomados por uma ternura  que nos convida para uma fusão. Começa brando, suave e macio e aos poucos vai contaminando todo o nosso ser, da cabeça aos pés.

O amor a meu ver tem duas funções que quase se confundem, mas podemos descrevê-las como se realmente fossem duas. A primeira é levar-nos à descoberta de nós mesmos enquanto pessoas que somos e capazes de amar. A segunda é pôr-nos em contato com a divindade, a eternidade, o infinito ou o ilimitado. Isto só se dá entre duas pessoas que se proponham a viver um romance ou um caso amoroso.

Quase sempre ouvimos frases feitas levianamente faladas no nosso dia a dia, que quem ama outra pessoa tem de amá-la por inteira, como ela realmente é com suas qualidades e defeitos. Só que as pessoas não juntam as ideias. Dito de outro modo vai pouco a pouco percebendo o modo de ser do outro, de pensar, de agir que nem sempre nos é conveniente. É aonde o encantamento vai aos poucos acabando. Então, aceitar os defeitos do outro é falso.  

Em nossa sociedade se admite, quase sem crítica, e com muita obscuridade, que as pessoas buscam acima de tudo o próprio interesse, são egoístas, amam muito a si mesmas. Ao percebemos prontamente o quanto é difícil e pesado o sermos nós mesmos, o quanto custa nos arrastarmos pela vida com este lastro de aspectos negativos, os quais, não obstante serem negativos são tão nossos, tão inerentes a nós, como nossas mais caras virtudes e aptidões. Provavelmente o modo mais comum de negação de si mesmo resida justamente no desejo de fazer parte de um grupo ou tribo, de um partido ou de uma ideologia. Todavia, vivemos numa sociedade de renúncia que cada um faz de si mesmo. Quanto menos eu sou eu, mais sou ninguém diante de tantos outros ninguém. Onde se espera muita uniformidade de comportamento, sentimento ou pensamento, por simples descrição fica excluída toda individualidade.

O amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu "eu" não é infinito. O amor capaz de nos ensinar estas duas lições é certamente um amor abençoado. Quando este amor, além de sentimento e compreensão se faz também contato como: aconchego, trocas calorosas, muita carícia e contato físico, podemos dizer que temos aqui um amor perfeito. Talvez por isso o amor seja triste. Ele nos acena, ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e integral.

Portanto, pouco a pouco, ganhamos dignidade e respeito por nós mesmos, ao mesmo tempo vamos reconhecendo essa força interior chamada amor e cientes do quanto o outro é necessário para a manifestação desta força e o quanto ela é poderosa, a ponto de nos transformar. Tendo em vista que onde há amor há transformação. Onde não há transformação e nem crescimento não podemos dizer que exista amor.    

2 de setembro de 2019

CONHECEREIS A VERDADE E ELA NOS LIBERTARÁ

Conhecereis a verdade e a verdade nos libertará. Palavras ditas por Jesus Cristo. Somente através da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade em filosofia torna o homem essencialmente livre. A inteligência, pois, apanha ou percebe algo que existe entre os seres individuais da natureza, e que escapa à percepção meramente sensitiva. Os sentidos percebem e a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto, supõe duas coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Os sentidos não percebem senão a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Estas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois ser inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vêem uma depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica-se, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; verifica, não só que a árvore existe depois da semente, mas também por causa da semente. Então, a inteligência percebe, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior.

Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é a causa de outro ser, de modos que o segundo deve sua existência ao primeiro. Os sentidos percebem a co-existência e, por vezes, a sucessão cronológica de dois fenômenos. Ao passo que a inteligência, descobre além disso, a relação ou o nexo lógico entre eles. A sucessão cronológica é algo puramente externo, sendo assim, o nexo lógico é algo interno.

Portanto, como veremos mais tarde a filosofia, embora comece com a inteligência, culmina na razão, ou seja, no espírito, no logos. Por conseguinte, a filosofia ultrapassa todas as fronteiras da inteligência unilateral, abrangendo a totalidade dos fatos, numa visão holística e universal dos fenômenos individuais radicados em cada ser humano. Contudo, a filosofia nasceu com o despontar da inteligência individual, mas atingirá a maturidade e plena evolução com a vitória final da razão, isto é, da consciência cósmica. 

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...