31 de maio de 2021

AS ESCOLHAS AMOROSAS NO MUNDO VIRTUAL E REAL

Para encontrar um bom parceiro ou parceira, o melhor é começar usando a razão. Nesse sentido, os sites e aplicativos de relacionamento podem ser um caminho interessante. Os brasileiros estão entre os que mais usam o mundo virtual para se relacionar. Nos orgulhamos disso e, paradoxalmente, quando se fala em sites e aplicativos de relacionamento amoroso (não estou falando de sites eróticos), a maioria ainda reage de forma extremamente preconceituosa.

Encontrar parceiros pela via tecnológica é visto como vergonhoso e indício de incompetência para os encontros que deveriam acontecer na vida real. A explicação para essa rejeição específica deriva, creio, da visão que a maioria tem do amor. Acham que o amor, para ser verdadeiro, tem que acontecer por acaso, como se fosse uma mágica, fruto da “flechada do Cupido”.

Até hoje as pessoas o veem como uma emoção que tem que ser livre de qualquer fundamento lógico e consideram humilhante a interferência da razão; ela rebaixa a qualidade do encontro, que passa a ser um evento de segunda categoria. O problema dos encontros que começam na rua, nos bares, baladas ou por indicação de amigos é que muitas vezes o encantamento se dá em função de traços um tanto superficiais e que não têm nada a ver com o caráter ou com a essência do outro. Isso sem falar que muitas vezes o encontro ocorre de madrugada, regado a enormes doses de álcool.

Se num primeiro momento as moças parecem mais interessadas em envolvimentos sérios, a experiência mostra que, uma vez havendo a continuidade da relação, os homens são, ao contrário da crença geral, os mais românticos e se apaixonam mais facilmente, sem levar muito em conta os elementos racionais que permeiam a mente feminina (elas avaliam melhor as características da pessoa antes de se enamorarem).

Não por acaso, são os homens, e não as mulheres, que foram os responsáveis por quase toda a literatura romântica disponível. Segundo o psiquiatra e psicanalista Flávio Gikovate (1943-2016); dizia ele que com o tempo o homem, quando conhece melhor a parceira, muitos acabam se decepcionando. Percebem que se envolveram sem levar em conta os aspectos essenciais, como o caráter e a personalidade do outro. Quando a idealização inicial se desfaz e vem o choque com a realidade, muitos relacionamentos terminam.

É bom que tudo seja bem conversado; isso evitará discussões futuras e contribuirá de uma forma decisiva para um relacionamento duradouro e de qualidade. Os bons relacionamentos são aqueles em que ambos crescem, têm sua autoestima aumentada, que se tratam de forma carinhosa; e, acima de tudo, que respeitem as inevitáveis diferenças.

Tudo isso é racional! O curioso é observar que quanto maior as afinidades, maior a tendência para que o encantamento cresça. É nesse ponto que marcam os encontros no mundo real, condição em que entram em jogo os outros fatores, especialmente os de natureza erótica. Isso irá acontecer depois que a razão já avalizou a aproximação deles. De modo que falar em racionalidade no amor continua sendo uma blasfêmia.

Segundo pai da psicanálise o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), refletiu sobre as escolhas sentimentais na sua “Introdução ao Narcisismo” (1914). Para ele as escolhas amorosas podiam acontecer de duas formas: “por oposição ou segundo o critério narcisista”. É quando estamos encantado por alguém. Caso essa relação venha a consolidar, sendo ela respeitosa não há lugar para as brigas ditas normais de um casal. Amor é paz, aconchego e companheirismo. Do contrário, é melhor ficar sozinho.

Portanto, os sites de relacionamento invertem as prioridades nas escolhas sentimentais. Se elas eram, principalmente para os homens, de baixo para cima (erotismo, aspectos sentimentais inespecíficos do tipo: “timbre de voz, jeito de andar, sorriso, etc”.) para depois pensarem na questão do caráter e das afinidades. Hoje eles contribuem para que os critérios sejam de cima para baixo: “aval da razão, depois o sentimental e finalmente o erótico”. Os três são indispensáveis, mas a margem de erro quando se começa a avaliação pela razão é bem menor. É claro que tudo isso também pode acontecer nos encontros no mundo real e que deveriam seguir o exemplo do virtual. Aliás, acho que falta muito pouco para que deixemos de pensar nas diferenças entre esses dois mundos.

30 de maio de 2021

O AMOR É O QUE NOS FAZ PENSAR

O amor está presente no nascimento da filosofia. No período clássico da Grécia Antiga, o amor é uma das questões mais importantes. Podemos dizer que a filosofia começa com a descoberta do amor. O amor é o que nos faz pensar. Na base do amor está o espanto, o encantamento. Quando estamos encantados por uma pessoa ela torna-se o nosso Guru. Quando juntos sentimo-nos iluminado. Sua presença nos acende, produzindo um brilho intenso. No entanto, para os filósofos antigos, o amor não era uma palavra complexa, mas três palavras que determinava a complexidade deste sentimento: “Eros, Philia e Ágape”. Cada uma delas tenta designar um sentimento que é bem maior que a própria palavra contida no verbo amar. O sentimento nunca é simples, a palavra que o batiza também não o é.

Todavia, o amor pode ser pensado como a capacidade humana do enlace, da união, da relação com a vida, a natureza, a espécie humana, com uma causa privada ou pública; como no famoso texto de “Coríntios 13”, o amor pode ser a capacidade de tudo aceitar, esperar e suportar, ou o que, no “Evangelho de João”, deveríamos oferecer uns aos outros junto com nossas vidas, se fôssemos verdadeiramente amigos, se aceitássemos a ideia de que o amor é um mandamento. Como para o existencialista, filósofo e teólogo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), que no século XIX, escreveu “As Obras do Amor”, para quem o amor poderia ser um pleno cumprimento da lei, uma questão de consciência.

Portanto, o amor é amor pelos outros (a caridade cristã, Ágape em grego): amor sem interesses. Quase nem nos parece amor. Não sabemos pressentir ou desfrutar do amor no silêncio do outro. Há um diálogo espiritual que não percebemos. Não aprendemos a viver com essa definição. Contudo, encerro essa reflexão com um provérbio chinês que preconiza o amor para além da filosofia: “O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.

24 de maio de 2021

DEDIQUE-SE A VIVER SUA VIDA

Quando os filhos atingem a idade adulta e saem de casa, seja por causa de estudos, porque se casam ou porque decidiram se tornar independentes, caímos na real de que nossos filhotes alçaram voo e abandonaram o ninho. É o momento em que um imenso vazio nos invade. Eles se foram, você não prepara suas roupas, nem está ciente da hora em que eles chegarão para preparar o jantar. Eles partiram e o vazio deixa uma grande tristeza. Isso é o que conhecemos como a “síndrome do ninho vazio”.

Embora a síndrome seja reconhecida, a verdade é que falta uma entidade de diagnóstico. No entanto, estudos mostram sua existência e, embora ocorra em homens e mulheres, são as mulheres que sofrem mais intensamente. Você cumpriu um estágio importante na vida de seus filhos. Agora que eles saíram, reorganize-se, transforme essa tristeza na confiança de que seus filhos não precisam de você para organizar suas vidas independentes e suas casas. Talvez eles precisarão consultá-la neste novo estágio, não para que você invada seu novo espaço, mas para uma orientação de vida.

Empreenda seu novo papel e assim entenderá que a tristeza não tem significado. Às vezes a condição dos seres humanos nos leva a concentrar nossas energias nas perdas pelas quais passamos, sem dar origem ao que realmente conseguimos. Quando o filho deixa a casa é porque ele está pronto para assumir e cuidar de sua vida, o que trará benefícios e novas oportunidades para ele e também para você. É o momento de concentrar-se em novos projetos pessoais que você pode ter deixado de lado. Comece a trabalhar na ideia desses novos horizontes.

Se você já fechou uma parte importante da sua vida, dê a si mesma a oportunidade de começar uma nova etapa. De poder ocupar sua mente e seu tempo em atividades que lhe agradam e trazem outros benefícios. Por exemplo, comece o voluntariado, instituições de caridade, trabalho comunitário ou um projeto que você decidiu adiar devido à maternidade. Estas são geralmente opções em que seria bom redirecionar suas habilidades e sua energia. Faça aquele curso que deixou quando os filhos eram pequenos.

Pense, em primeiro lugar, que você é o exemplo de seus filhos. Se até agora foi capaz de acompanhá-los e pegá-los pela mão, não será difícil demonstrar mais uma vez que é capaz de implementar mudanças em sua vida para o seu bem e que a capacidade de se reinventar deixa uma marca com a qual você poderá enfrentar seus próprios desafios. Houve simplesmente uma mudança de papéis e lugares. Começa agora a viver sua vida e deixe os filhos viver em paz a vida deles.

Portanto, de aos filhos a oportunidade de se defender na vida que escolheram com as ferramentas que você deu a eles durante o tempo em que conviveram com você. Essa será a sua maior satisfação. Viva esta nova etapa e deixe seus filhos crescerem em seus próprios espaços. É negando essa dependência que os filhos vão crescer e assumir responsabilidade. Muitos pais não percebem que o filho é uma pessoa singular, que precisa seguir um caminho único, o dele próprio.  Acreditar nos filhos é dar condições para que eles desenvolvam a sua independência, sua autonomia e segurança. É assim que formamos filhos sádios emocionalmente.

20 de maio de 2021

ESQUECER É MAIS COMPLICADO DO QUE LEMBRAR

Todos nós já tentamos apagar da nossa mente uma memória desagradável, uma experiência traumática, uma palavra infeliz. No entanto, esquecer é mais complicado para o cérebro do que lembrar. É como se esse órgão fascinante estivesse determinado a sussurrar na nossa consciência: “Lembre-se, lembre-se, porque as suas lembranças são a essência da sua experiência”. Embora seja verdade que essa realidade possa parecer desesperadora, deve-se notar que tudo tem uma finalidade no universo da neurociência.

De modo que a memória constrói quem somos. Se pudéssemos apagar um capítulo da nossa história, deixaríamos de ser quem somos. Porque, afinal, nós somos nossas luzes e sombras, nossos sucessos e também nossos erros e fracassos. No entanto, isso não significa que os filósofos e psicanalistas não se perguntem por que isso acontece. Por que o cérebro não pode apagar um fato específico? Podemos não lembrar tudo, mas com certeza não esquecemos daquelas pessoas, que nos marcaram com seus gestos de carinho e amor.

Todavia, por que esquecemos algumas coisas e outras persistem, como a luz de um farol, levando-nos repetidamente às mesmas margens de memória e sofrimento? Como diz o professor de psicologia Jarrod Lewis-Peacock, autor desse estudo sobre a mente humana, no Departamento de Neurociências da Universidade do Texas em Austin: “Não há problema em dizer que o tempo vai curar tudo, que isso também passará. As pessoas esquecem. Agora, isso funciona quando você não é o protagonista desse fato, porque quando você é, não há passagem de tempo que o faça esquecer; você está no meio de algo que não muda”.  

17 de maio de 2021

UMA PESSOA SÓ É BOA SE ELA FOR JUSTA

Quando se diz que uma pessoa só é boa se ela for justa, em outras palavras, responde ao conceito de bondade, que implica em não fazer toda a vontade alheia e sim ser justo. Pior do que não amar é amar errado. Por achar que esse tipo de amor, traduz o verdadeiro sentido do amor. Consequentemente, optamos por proteger e apoiar o outro no erro. Mesmo sendo um filho! Se alguém acredita que o propósito da vida é servir o outro sem impor limites, essa pessoa não tem propósito nenhum.  

A estrada da vida está sempre em construção. A jornada é difícil, mas, quando alcançamos o topo, a vista é maravilhosa. Só que precisamos ao longo desta caminhada dar um tempo para refletir, como diz o poeta: “estive no paraíso, mas, nunca estive comigo”. Talvez porque a minha vida nunca foi prioridade. Preferimos ouvir o que os outros tem a dizer, quando na verdade, a vida é muito curta para viver o que eles querem. Faça um pouco diferente do que é considerado normal, para perceber quantas pessoas vão se incomodar com o seu comportamento.

Vale lembrar, que Jesus também é um verdadeiro modelo de inovador. Na verdade, a humanidade invariavelmente sacrificou todos os seus salvadores. Aqueles que traziam bonitas mensagens, foram eliminados de forma mais covarde possível. Hoje em dia temos uma imagem desfigurada de Jesus. Homem bom que faz o que os outros querem; homem maravilhoso, glorioso e daí por diante. A própria história de Jesus nos evangelhos, mostra que ele não era lá uma figura boazinha, como se prega.

Portanto, quando enxergar o outro diferente, não comece a dizer que ele está errado, que ele é estúpido, que vai para o inferno. Olhe bem para esta pessoa e diga: “não compreendo essa pessoa, mas espero que ela esteja seguindo o seu caminho. Assim como espero também, estar seguindo o meu caminho. Uma coisa, porém é clara nos evangelhos, não é fazer a vontade de outros e sim ser justo. Pensar muito, sentir muito, meditar sobre suas inclinações e possibilidades. Fazer o mais que posso de mim e para mim. Para realmente aperfeiçoar-me, até que possa devolver para o Criador a imagem que ele estampou em mim quando cheguei a esse mundo. A minha obrigação primeira é fazer a minha vida e o meu caminho. Ser bom não é fazer toda a vontade alheia, é ser justo.   

15 de maio de 2021

OS SENTIDOS PERCEBEM E A INTELIGÊNCIA CONCEBE

A Filosofia nasceu no dia em que o homem tornou-se um ser consciente. O homem é verdade, foi sempre um ser intelectual, mas, em tempos remotíssimos, a sua inteligência se achava ainda em estado potencial, dormente, assim como a futura planta existe, em estado embrionário, ainda como semente.

O homem tornou-se o “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência adormecida, embrionariamente, fenômeno esse que não se deu ao que sabemos, com nenhum outro ser deste planeta. A inteligência, como a própria palavra diz, é uma faculdade tipicamente humana. Por meio dela nós percebemos um secreto nexo ou vínculo existente entre as coisas individuais do mundo, aparentemente desconexas.

O ser dotado apenas de sentido orgânico, não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente classificadas como físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objeto em seus sentidos, concebe por meio da pluralidade periférica e da unidade central do cosmos. No entanto, só conseguimos perceber a unidade dos fenômenos por meio da multiplicidade. Por conseguinte, sendo que a multiplicidade é periférica e aparente, e a unidade é central e real, só um ser que percebe a unidade pode entender a realidade do mundo. Pois o homem enxerga a realidade do mundo através das suas aparências, dos fenômenos naturais.

Perceber essa unidade do universo por meio da sua pluralidade é que é ser filósofo, isto é, philos = amigo, amante – da sophia = sabedoria. Quem experimenta essa realidade por meio das aparências, no centro do mundo por meio das suas camadas periféricas, é um filósofo, um amigo da sabedoria, portanto, um bandeirante da realidade, um pesquisador, ou mesmo um perseguidor da verdade. “Conhecereis a verdade – e a verdade nos libertará”. Palavras ditas por Jesus Cristo.

Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), somente por meio da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade, em Filosofia, torna o homem essencialmente livre. Os sentidos percebem a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto, supõe as coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Humberto Rohden argumenta no livro: “O Pensamento Filosófico da Antiguidade” que os sentidos, por exemplo, percebem a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Essas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois seres inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vem depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; percebem, então, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior. Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é devido ao outro, de modo que o segundo deve sua existência ao primeiro. A sucessão cronológica é algo pessoalmente externo – o nexo lógico é algo interno.

Mais tarde, verificaremos que a sucessão cronológica é baseada na categoria de tempo e espaço, embora o tempo e espaço não se tornem um simples atributo ou modo de agir de nossos sentidos. Essa sucessão cronológica é meramente aparente, ao passo que o nexo lógico é profundamente real. Isto significa dizer que a inteligência descobre algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber. Desta forma, a percepção sensitiva é meramente evidenciada, de modo que a concepção intelectiva é real. Então, a metafísica é mais real que a física.

12 de maio de 2021

DENTRO DA PRÓPRIA MORTE O ENCANTO DE MORRER

Um sábio me disse: “Esta nossa existência não vale a angústia de viver. Se fossemos eternos, a ciência, num transporte de desespero, inventaria a morte. Uma célula orgânica aparece no infinito do tempo e vibra, cresce e se desdobra e estala num segundo. Homem, eis o que somos neste mundo”! Falou-me assim o sábio e eu comecei a ver, dentro da própria morte o encanto de morrer.

Um monge me disse: “Ó mocidade, és relâmpago, ao pé da eternidade! Pensa, o tempo anda sempre, o rio anda e não repousa. Esta vida da gente não vale grande coisa. Uma mulher que chora o homem, que implora o seu amor. Momento em que ambos sofrem da mesma dor. O riso às vezes, quase sempre o pranto. Depois, o mundo, a luta que intimida quatro círios acesos, irmão eis a vida”! Isto me disse o monge e eu continuei a ver, dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Um mendigo me disse: “Para o mendigo, a vida é o pão e o andrajo é a proteção que o cobre nas noites mal dormidas. Não creio muito nessa fantasia de que somos a imagem e semelhança de Deus. Até porque, Deus me dá fome e sede a cada dia, mas nunca me deu pão e nem me deu água. Nunca! Deu-me a vergonha, o medo, a mágoa de andar, de porta em porta, todo esfarrapado. Deu-me esta vida, somente a calçada para descansar e um pão seco para matar a minha fome”! Foi o que me disse o mendigo e eu continuei a ver, dentro da própria morte, o encanto do morrer.

Uma mulher me disse: “Vem comigo! Fecha teus olhos e sonha, pois, será o meu único e grande amor. Sonha com um lar, uma doce companheira, que a queira muito e que ela também te queira. Um telhado, um penacho de fumaça e uma rede para juntos balançar. Uma cortina na janela e passarinhos cantando em volta da casa. Que maravilha viver e com você aprender. Pois, dentro da nossa casinha a vida acontece de verdade, como ela é de fato”! Pela primeira vez comecei a olhar de dentro da própria vida, o encanto de viver. Viver significa aprender com os erros, nascer todos os dias, para dar um sentido novo à vida.

Passamos muito rápido pela vida. Aprendi que a vida tem que ser vivida em função de alguma coisa e não contra alguma coisa. Tudo que se constrói com amor e respeito não se perde nunca. Escolha a vida por respeito à vida. Se não for por respeito, escolha bolsas, sapatos, roupas de grife e seda caxemira para achar que é feliz. Escolha Facebook, Twitter, Instagram e milhares de outras formas de cuspir o seu ódio em pessoas que você nunca viu na vida. Escolha atualizar o seu perfil e diga para o mundo que está tomando café e espere que em algum lugar alguém se importe. Escolha procurar antigas paqueras, para acreditar que não está tão velho quanto eles. Escolha perder aquele que você ama, enquanto ele some de vista, uma parte de você morre com ele, até ver um dia que pedaço por pedaço terão sumido e não restará nada de você para chamar de vivo ou morto. Lembre-se o que disse o mestre e ativista hindu Mahatma Gandhi (1869 – 1948): “não existe um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho”. Escolha a vida e respeite o teu próximo, porque ele carrega o sopro da vida. O ar que respiramos é o espírito da vida. 

(extraido do livro: “Para Ler e Pensar com Sabedoria”, pag.81)

10 de maio de 2021

COM A MATURIDADE VEM A SERENIDADE E A SABEDORIA

Lentamente vamos aprendendo que a energia que gastamos para reagir a cada coisa ruim que acontece, nos esgota e nos impede de ver o lado bom da vida. Estamos aprendendo que não precisamos machucar de volta quem nos machucou. Às vezes, o sinal máximo de maturidade é virar as costas ao invés de pagar na mesma moeda. Aprendemos com as relações diárias, que não podemos agradar todo mundo. Estamos aprendendo que tentar ganhar a afeição de todos é uma perda de tempo e de energia, e que nos enche apenas de vazio.

Aprendemos com a maturidade que o não reagir, não significa que estamos bem com as pessoas, e sim que apenas estamos lidando com elas. Estamos escolhendo tirar isso como lição e aprender com a situação. Então escolhemos ser melhor. Escolhemos a nossa paz de espírito, porque é o que realmente mais precisamos neste momento conturbado. Não queremos mais drama. Não precisamos de ninguém nos fazendo sentir que não somos bom o suficiente. Não precisamos de brigas e discussões. Aprendemos que, de vez em quando, não dizer nada é dizer tudo.

Aprendemos que reagir ao que nos faz mal, dá poder para o outro, sobre as nossas emoções. Não podemos controlar o que os outros fazem, mas podemos controlar como responder, como lidar, como interpretar e quanto disso nos levam para o lado pessoal. Aprendemos com a maturidade, que na maior parte do tempo, essas situações não dizem nada a respeito de quem somos, mas sim a respeito do outro. Talvez todas essas decepções são simplesmente para nos ensinar a nos amar, porque esse amor é a armadura e o escudo que precisamos contra quem tenta nos derrubar. É o que nos salva quando alguém tenta diminuir a nossa confiança ou questionar o nosso valor.

Portanto, estamos aprendendo com a serenidade e a sabedoria, que mesmo que reagimos a tudo isso, nada vai mudar, não vai fazer ninguém nos amar ou nos respeitar e não vai magicamente mudar a mente das pessoas. Às vezes é melhor simplesmente, deixar as pessoas irem, não pedir explicações, não procurar respostas e não esperar que elas entendam a nossa história. Porém, quando focamos no que está acontecendo ao nosso redor, esquecemos de focar em nós mesmos. Esquecemos de trabalhar a nossa paz interior e não percebemos, que o não reagir à aquilo que nos incomoda é o primeiro ingrediente para viver uma vida feliz e saudável.

9 de maio de 2021

SIMPLIFIQUE E ALGO ACONTECERÁ EM SUA VIDA

Eu gosto do simples, como por exemplo: um abraço apertado, um muito obrigado, aquela pessoa que gosta de você e lhe diz: “cuide-se”. Considero-me um fiel admirador de pessoas simples, porque para mim são as mais belas, aquelas que se deixam guiar pelo bom senso, pela sua intuição e por aquele coração que não conhece artifícios.

É curioso e inspirador saber que, atualmente, tanto nas abordagens de desenvolvimento pessoal quanto no campo das grandes organizações, tornou-se moda “resgatar” o valor do simples. De fato, muitos especialistas em marketing e publicidade, têm um lema que quase nunca falha “simplifique e algo acontecerá”.

Gosto do cheiro das pessoas comuns, é a fragrância de respeito, um “bom dia” com um grande sorriso, um “ter cuidado” com grande sinceridade. Sem falsidade, são essas pessoas que falam com a alma cheia de compaixão. Como argumentava o poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939): “é típico de homens com cabeças pequenas atacar tudo o que não cabe em suas cabeças”.

É sem dúvida um bom exemplo para descrever este tipo de personalidades para quem as coisas simples não têm significado. Eles confundem o simples com “o simplista”. Agora, a simplicidade não tem nada a ver com os ingênuos e muito menos com os tolos. Na verdade, esse conceito contém um grande poder do qual quase não estamos cientes.

Muitas vezes se diz que a vida é como uma teia de aranha. Nossas linhas são misturadas em ângulos estranhos, tomamos caminhos errados, nossos esforços não correspondem ao que foi alcançado e, em última análise, foram anexadas a estas realidades assustadoramente complexos e assustadores. Por que nos custa muito nos deleitar com a simplicidade dos atos cotidianos? Por que a vida é tão complicada?

De certa forma, tem muito a ver com o que indicamos há pouco. A alma simples e o olhar humilde são dimensões que não se encaixam muito bem em uma sociedade que associa o complexo ao efetivo e, consequentemente, a felicidade. A complexidade associada a esta ideia de felicidade dourada que, na realidade, nem sempre é cumprida.

Algo que devemos ter em mente é que as coisas grandes acontecem quando os pequenos se saem bem e, para isso, nada melhor do que praticar a arte da simplicidade em nossos atos diários. Movendo-se com calma, estar ciente do que nos rodeia e fazendo uso do senso comum e da intuição são, sem dúvida, as melhores estratégias para desfazer cada nó de nossas complexidades vitais.

Todavia, devemos confiar um pouco mais em nosso instinto e sermos receptivos à voz do coração. Às vezes, deixamos passar boa parte de nossa “cota de vida” imersa em esforços frustrados que nos separam completamente do que realmente queremos. Portanto, lembre-se que a complexidade não deve ser admirada, deve ser evitada, porque a arte de saber quais coisas devemos ignorar será a única maneira que nos permitirá encontrar o que realmente merecemos. A saber: “amor, liberdade, integridade e realização pessoal”.

1 de maio de 2021

AMOR MADURO SIGNIFICA PRESERVAR

Segundo o psicanalista, filósofo e sociólogo alemão Erich Fromm (1900-1980) argumenta em seus ensaios, que o amor maduro significa união com a condição de preservar a integridade, a própria individualidade. Não é fácil amadurecer no amor, mas quando você o alcança, nasce um grande amor por si mesmo, baseado na dignidade e no respeito. Esses valores, de certa idade e certas experiências, geralmente articulam o resto das afeições daqueles que se aproximam e nutrem nossos corações.

Um indivíduo maduro vai mais longe em sua capacidade de amar quando entende que a verdadeira transcendência dos sentimentos do outro é resumido em como ele contempla a si mesmo e as suas mudanças. Com o tempo, o mundo afetivo irradia uma pureza que é ameaçada por uma sociedade corrupta que faz os humanos correrem em busca de refúgio em si mesmo, não para fugir quando algo é difícil, mas para enfrentá-lo no momento certo.

Então eles descobrem que sua verdadeira casa não está em nenhum lugar do mundo, mas dentro de si mesmo. De certa forma , o amor maduro é o resultado de um processo de individualização que pode ser muito doloroso. Isso pode acontecer mais cedo ou mais tarde, mas, para todos é precedido de alguns anos de distração e descarrilamento de nossa identidade emocional. Isto é, esse “não saber onde você está e qual é o seu lugar no mundo” pelo qual todos nós passamos.

Seja por ingenuidade, por falta de atenção ou ignorância, o processo de maturação nos faz sofrer o roubo de uma pele que nos envolvia, a qual pensamos que era nossa e que agarramos com força. Esse sofrimento devido à perda de sua pele faz com que o indivíduo viva com uma parte dela incompleta por um tempo, o que o ajuda a fortalecer sua verdadeira identidade emocional.

Ou seja, esse roubo surge, em cada caso, como a oportunidade de recuperar tesouros tão únicos e próprios quanto os dois pilares da libertação emocional: a determinação e o amor-próprio. Como resultado, o indivíduo alcança uma grande sabedoria que o faz viver e amar de forma diferente, única e transcendente. De alguma forma, ele é capaz de se hidratar e se reconstruir, sentindo-se completamente engolfado em seu interior.

Como se costuma dizer, todo ser humano encoraja uma vida secreta e uma força poderosa, cheia de bons instintos, criatividade e sabedoria, que detém o grande poder de um território ainda inexplorado: o fantástico mundo do inconsciente coletivo das relações humanas, descrita pelos psicanalistas.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...