30 de dezembro de 2011

ADEUS 2011 E BEM VINDO 2012

Boa noite PAI já está terminando o ano de 2011 e agradeço pela vida que me confiou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido.
Obrigado PAI por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti juntamente com a minha filha Maria Eduarda, que caminhou ao meu lado o ano todo. Obrigado pela alegria que vi no rosto da minha filha e das demais crianças que com ela conviveram.
Obrigado pelo exemplo que recebi dos outros, pelo que aprendi aos meus sessenta anos vividos, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelas crianças e pelos idosos.
Obrigado PAI pelo dom de AMAR, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver em 2011, pelo meu esforço e desejo de superação.
PAI desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei.
Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de AMOR. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida não para nunca, só a morte pode cessar. Em quanto isso, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a HUMANIDADE. E que a cada novo dia seja um continuo sim numa vida consciente. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Como disse Gandhi: “Tudo o que vive é o teu próximo”.  

24 de dezembro de 2011

PARA ONDE CAMINHA A HUMANIDADE?

Apesar de toda a tecnologia e o avanço científico alcançado pelo homem, dia 25 de dezembro ainda é NATAL.
O Homem que nasceu nesse dia a 2012 anos deve estar preocupado com o mundo em que viveu e apesar de toda a Sua imensa sabedoria não deve estar entendendo.  Ele não deve entender, por exemplo, como é que os mesmos homens, que se cumprimentam de coração aberto, com um sorriso nos lábios agora, podem passar pelo encantamento do NATAL para começar a batalha entre si novamente, completamente desprovido de generosidade, condescendência, afeto e até mesmo bondade.
Ele o Homem que nasceu no dia 25 de dezembro do ano zero de nossa história, não pode entender porque o NATAL funciona apenas como uma trégua, na imensa desigualdade social em que vivemos sem falar das discórdias familiares, a guerra que o homem trava todos os dias contra o seu semelhante e contra si mesmo.
Mas Ele que viveu entre nós e é o símbolo da esperança ainda não perdeu a própria esperança. A esperança de que o homem um dia perceba que a trégua é o certo e o normal é que a guerra é um grande equívoco.
Portanto, a mensagem que Ele nos deixou foi a seguinte: “Cumpra o projeto que Deus determinou que é de amar sempre o seu semelhante, demonstrando gestos de gentileza e respeito. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pensar muito sobre suas ações. Sentir o que realmente sente, pois você é um Ser de AMOR. Meditar muito sobre esse sentimento, meditar sobre suas inclinações e possibilidades de ser feliz nesse AMOR. Procure fazer o mais que puder para esse AMOR permanecer entre os humanos. Para então, aperfeiçoar-se nesse projeto de vida, até que possa devolver para Deus a imagem e o dom desse AMOR que Ele estampou em nós quando aqui chegamos.
Contudo, não compreendo os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar esse AMOR pelo meu próximo que é VOCÊ. Quero um mundo melhor para nós. Talvez, então nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem na casa. E daí possa, finalmente, todos viverem em Paz.  FELIZ NATAL no verdadeiro sentido da palavra.

20 de dezembro de 2011

QUANDO O HOMEM É UMA ILHA

Meus assombros de menina: qual era a verdade de cada pessoa, daquelas que me rodeavam numa casa geralmente alegre? Eu descobrira que nem sempre dizia o que pensava: e os outros?
Perplexidades adultas: por que nos perdemos tanto? Por que tantos encontros amigos ou amorosos, e mesmo profissionais, começam com entusiasmo e de repente - ou lenta insidiosamente – se transformam em objeto de indiferença, irritação ou até mesmo crueldade?
Ninguém se casa, tem filho, assume um trabalho querendo que saia tudo errado, querendo falhar ou ser triturado. Quantas vezes, porém, depois de algum tempo trilhamos uma estrada de desencanto e rancor?
No mais trivial comentário, por que, em lugar de prestar atenção ao outro, a gente prefere rotular, discriminando, marcando a ferro e fogo o flanco alheio com um rótulo invisível e ao mesmo tempo tão evidente? “Burro”, “Arrogante”, “Covarde”, “Falso”, “Mentiroso”, “Canalha”, “Desleal”, “Vulgar”, “Vagabundo” – muitas vezes, humilhamos logo de saída, demonstrando nossos preconceitos sem nos envergonharmos deles, pois nem damos conta.
Parece que não convivemos com pessoas: convivemos com imagens construídas pela nossa falta de generosidade.
Pergunto a uma amiga pelo seu genro; “Aquele? Cada vez mais gordo!” Mas talvez eu quisesse saber se ele estava empregado, se estava contente, se fazia à filha dela feliz.
E nossa amiga comum? “Ah, essa? Irreconhecível. Deve ter feito a milésima plástica na cara, mas os peitos estão um horror de caídos!” Não me disse se a mulher de quem falávamos se recuperara da viuvez, se estava deprimida ou já superara o trauma, se parecia serena ou aflita. Parece que invariavelmente acordamos com raiva de tudo e de todos. “Sujeito metido à besta”, “Professor ultrapassado”, “Alunos medíocres”, “Cantor desafinado”, “Empresário falido”, etc.
Não vemos gente ao nosso redor. Vemos etiquetas. Difícil assim, sentir-se acompanhado: difícil desse jeito, amar e ser estimado. Vivemos como se estivéssemos isolados, com o olhar rápido e superficial, o julgamento à mão, armado: “Um idiota”, “Uma dondoca”, “Um fracassado”. Quem era, como se chamava, que idade tinha, se teve filhos, amigos, sucessos, fracassos, de que morreu, como viveu? É esse tipo de coisa que quero saber quando leio noticias do tipo. “Aposentado morre de infarto na rua”, “Idosa atropelada na avenida”, “Mulher assaltada no caixa eletrônico”.
Não admira que agente sinta medo, solidão, raiva mesmo que imprecisa, nem sabemos do que ou de quem. Atacamos antes que nos ataque, o outro é sempre uma ameaça, não uma possibilidade de afeto ou alegria.
Todo homem será um ilha?

(Esse texto foi extraído da Revista Veja – Escrito em 2004, por uma escritora que muito a admiro, pela sua forma simples de expressar sentimentos tão profundos. Minha homenagem a escritora Lya Luft – 1938.)    

17 de dezembro de 2011

A ESPERANÇA NOS ACOMPANHA

Onde há ser humano, há esperança em relação ao futuro do mundo, da sociedade e da vida. Não é possível conceber a existência humana sem sonho, utopia, sem esperança. A esperança humana é uma dimensão que faz parte do nosso ser-no-mundo.
Desde que fomos lançados na aventura da existência, a esperança nos é indispensável na construção do nosso Ser, por estar intrinsecamente ligada ao nosso corpo e na nossa mente. Podemos dizer que a esperança é uma necessidade ontológica. O fato é que o ser humano não poderia ser sem mover-se na esperança.
Ao estudar a história da humanidade, percebemos que todos os grupos humanos em diferentes épocas cultivaram esperanças em relação ao futuro, sonhando com a liberdade, com um mundo de justiça, de respeito à vida, enfim, esperança de uma vida melhor tanto na esfera pessoal como na coletiva.
Constata-se que é na esperança que encontramos coragem para lutar contra os grandes horrores e barbáries presentes na história humana. Na mitologia grega, quando Pandora abriu a caixa onde Zeus havia aprisionado todos os males e as misérias deste mundo, o que restou bem no fundo da caixa foi a esperança. É este tesouro guardado no fundo da caixa que nos motiva a lutar sempre e acreditar, apesar de todos os males que escaparam da caixa de Pandora, na possibilidade de amenizar, vencer os males, os sofrimentos deste mundo.
Todavia, nosso tempo vive uma escassez de esperança. As pessoas não se entendem mais, fala-se na morte das utopias, no fim do mundo. Assistimos diariamente a intolerância da humanidade da qual fazemos parte. Paira no ar uma apatia, uma angústia constante, uma depressão nos ameaçando a todo o momento, desencanto amoroso, vazio existencial, o tédio da vida sem graça, desertos da alma e na necessidade de fuga do mundo. As pessoas não acreditam mais no futuro e nem nelas mesmas. Até parece que os horizontes de esperança foram deletados. Quem cultiva a esperança é considerado um ingênuo frente à dureza dos fatos apresentados pela realidade cotidiana. Não confiamos mais nas pessoas e nem nas instituições.
A consequência imediata é a indiferença e o esvaziamento dos projetos coletivos, segundo o filósofo e educador Sérgio Trombetta, nossa cidadania é medida pelo poder de consumo, pelo número de cartões de créditos, pelo automóvel que temos. Qual será o nosso futuro?
O imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e espera resignada e fatalista. Essa crise de esperança acaba gerando uma cultura na qual tudo se torna normal e banal. Estamos nos acostumando com tudo. Não somos mais capazes de tremer de raiva frente a uma injustiça, estamos perdendo a capacidade de nos indignar. Até os amantes estão tratando suas relações amorosas com superficialidade total, sem a menor compreensão e tolerância um com o outro. Trocam com facilidade de parceiros como se troca de sapato. Parece não acreditarem mais no amor e são incapazes de cultivar esperança.
 Paulo Freire não se cansou de lembrar o quanto a esperança é importante no processo de libertação dos seres humanos. Precisamos da esperança crítica, militante, solidária, como o peixe necessita da água despoluída. A esperança por si só não transforma o mundo. Mas sem esperança crítica não é possível lutar para transformar o mundo.
Portanto, o ser humano não é plenamente humano se não cultivar a esperança de um futuro melhor e se não agir para fazer deste mundo um lugar seguro para se viver, vamos desaparecer mais ou menos depressa. O mundo que nos espera não está por ser conquistado pela força, mas está por ser construído. Nesta tarefa de construir outro mundo possível, os sonhos, a esperança que não é espera, mas um fazer acontecer, é imprescindível. Como diz o cantor Geraldo Vandré numa de suas músicas: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.      

16 de dezembro de 2011

INSTANTES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem pouca coisa levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da minha vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos: não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um para-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o final do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

(Curiosamente Jorge Luiz Borges, poeta argentino, faleceu dois anos depois de ter escrito essa maravilha de poema, como uma lição de vida para todos nós. Borges faleceu em Genebra na Suíça, no dia 14 de Julho de 1986)

4 de dezembro de 2011

OS MISTÉRIOS DA VIDA

O existir por si só já é algo misterioso. Afinal, quem somos nós? Qual o sentido das nossas vidas? O que significa dizer que somos livres?  E até que ponto nós podemos conhecer essa realidade? Eis aqui está a nossa existência em questão. Pois tais interrogações, dentre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter das nossas vidas, como das nossas relações com os outros e afetam a nossa visão do mundo, se nós pararmos para pensar em desvendar tais mistérios.
Todavia sem nos acomodarmos, só faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não sabemos algo. E isso nos põe em condições de aprender.
Por isso, dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria. E aquele que é amigo, que ama a sabedoria, sabe que a cada encontro de uma ideia surge um novo ponto de partida e, que ela não está acabada. A filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação do olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar um certo estranhamento diante da realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente sabidas. Há aqui uma atitude, onde o pensar é desafiado a ir além de si mesmo. O ponto de partida é a perplexidade e admiração frente a essa realidade, sendo assim, a filosofia torna-se um convite ao diálogo.
Para o filósofo e educador Sérgio A. Sardi, dialogar envolve um aprendizado de escutar o outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. É bom que se diga, em um diálogo não disputamos ideias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as ideias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho a seguir.
Ao filosofar fica patente a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Entretanto, assim surge um convite a pensar naquilo que é, que ainda não pensado, a ir ao encontro dos nossos próprios limites e da nossa condição de superação.
Portanto, esse convite em direção ao alargamento de nossos horizontes de sentido põe em jogo as nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o meio ambiente e com o conhecimento. O caminho, porém, é duplo, e um trabalho interior interage com as relações educativas que matemos com os demais. Pois a jornada de nossas vidas nos faz simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser EU com essa outra pessoa, a de sermos também NÓS na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana. Contudo, se nos dispomos a buscar o sentido da vida, deveremos tocar de algum modo, em seus mistérios. Só assim poderá tornar a vida ainda mais interessante e fantástica.         

20 de novembro de 2011

FANTASIA E DESEJO

A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da outra pessoa.
É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor de amor.
Afinal, quanto maior a expectativa, maior a frustração e cuidamos de segurar estas expectativas. Então, desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista.
No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse vínculo.
No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças.
Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer. O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.
O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, usando uma linguagem yunguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto. A complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.
Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência.  

13 de novembro de 2011

O MITO DO AMOR PERFEITO

Costumo sempre dizer que o bom amor é aquele que transforma as pessoas. Se me envolvo com alguém e se conseguimos cultivar bons sentimentos, nós dois nos desenvolvemos como seres humanos. Por outro lado, se tenho muitos amores, mas sou sempre o mesmo, desconfio que não amo ninguém.
Para Leo Buscaglia, criamos um mito em torno do amor, como se ele fosse a solução para todos os problemas da nossa vida, alimentando-nos de felicidade a cada instante para todo e sempre. Na verdade, não é bem assim. Mas também ninguém nega que o amor é uma troca poderosa de influência, isto é, o único que nos transforma e que realmente nos humaniza pela sua força analgésica.
O mito do amor perfeito seria uma delícia, se fosse verdade, mas igualmente fantasioso para quem cultiva esse mito. Muitas pessoas estão procurando esse amor perfeito. É comum em rodas de mulheres fazerem a seguinte pergunta: “Onde acho um homem que não seja só para motel ou só um marido chato, que seja um intermediário entre os dois, que possa ser agradável, interessante, gostoso de olhar, bom de prosear, que gosta de agradar e que faz sexo gostoso?” Será que existe alguém assim?
Quando você ama alguém, você não ama o tempo todo exatamente da mesma forma, é importante assinalar esse fato. Isto é impossível de existir. Seria até uma mentira fingir que isto acontece.
Se fosse verdade, os casamentos não acabariam depois de algum tempo. Mas mesmo assim, é exatamente isso que a maioria de nós gostaria que fosse.
Para Maria Helena Matarazzo, toda a relação humana tem suas fases, são momentos em que o relacionamento atravessa maior ou menor intensidade. Há um momento em que a gente se sente absolutamente preenchido, em comunhão com o outro, isso quer dizer que estamos em comum-união, quando a comunicação é intensa e plena. Sentimos-nos nutridos e achamos que esse vínculo é para sempre. Mergulhamos na fantasia do amor perfeito, do encontro perfeito. Temos a sensação de completude total. É a fase onde o amor é cego. A gente esconde embaixo do tapete as coisas negativas, as nossas neuras, que podem corroer o desejo e o amor que existe entre ambos. São as nossas frustrações, as angústias e o medo que temos de mostrar esses sentimentos. Mas uma hora ele se apresenta e o encanto se despede.
A fase romântica tem prazo de duração, por mais intenso que seja esse romance, o desencantamento é inevitável. Só não sabemos quanto tempo dura essa fase, em que tudo parece ser lindo e não vemos defeito um no outro.
A expectativa criada em torno do príncipe encantado ou da princesa, logo se desmorona. Esse é o momento de confrontação das expectativas irreais do casamento. Aqui começamos a ver as diferenças daquilo que construímos antes do outro. Nesse momento sentimo-nos traídos, não aceitamos as diferenças. Também é o momento para surgir até uma nova paixão, as pessoas não acreditam que isso possa acontecer com elas. E carregam essa culpa pelo resto da vida.
Na fase da conquista, da sedução, as pessoas só mostram o lado bonito da sua personalidade, mostra uma educação, uma fineza que nunca se viu igual. Aqui as fraquezas e as feridas emocionais não aparecem, os medos ficam escondidos. Quando esse lado obscuro toma corpo, há uma tendência natural de cada um lutar, muitas vezes desesperadamente para mudar a pessoa amada, no intuito de salvar esse suposto amor perfeito. Começa o confronto entre as partes envolvidas na tentativa de um moldar o outro, para que ele corresponda à imagem idealizada lá no começo da sedução. 
Portanto, esse período é marcado de muita ansiedade, de muita angústia diante dos acontecimentos que ameaçam esse vínculo que ambos acreditam que é para sempre. É o momento em que a suposta união perfeita está chegando ao seu final. Descobrem que ninguém pode garantir a felicidade do outro. Cada um pode até criar condições para que o outro seja feliz, mas não pode lhe dar a felicidade. Cada um é único e ama do seu jeito. Os dois podem e devem se amar juntos. Mas esse amor não é perfeito, por ser interpessoal.      

2 de novembro de 2011

CONTATO ÍNTIMO TÂNTRICO

A massagem Tântrica veio da Índia, de uma cultura chamada Tantra. Na verdade, o Tantra aponta para autodescoberta através do corpo. No Tantra tudo é sagrado, desde o corpo até a sexualidade é sagrada. O corpo é visto como um templo. Partindo desse pressuposto a massagem Tântrica é uma ferramenta do Tantra que trabalha energia vital que também é chamada de energia sexual. A finalidade da massagem Tântrica é harmonizar o centro energético, que visa despertar e ampliar a sensibilidade do corpo e, consequentemente, intensificar as sensações de prazer. São toques de carícias suaves e agradáveis pelo corpo todo. Esse alisar o corpo inteiro estimula a bioeletricidade, harmoniza os chacras e libera o fluxo da energia pelos canais energéticos.   
Durante anos de nossas atividades sexuais, criamos hábitos e manias nada satisfatórios para nossa sexualidade. Fazemos sexo sempre na mesma posição, nos mesmos dias da semana, principalmente para os que são casados há muitos anos. O sexo passou a ser uma atividade orientada para somente ter orgasmo. Não há uma troca de contato íntimo e carícias entre os parceiros, que dê um tempero diferente nessa comida. Abusando um pouco do trocadilho. É tudo muito afoito, frenético e precário. Desta forma ficamos totalmente perdidos na pressa de chegar . Para usar uma linguagem poética, o melhor do passeio por esse santuário de prazer acaba por se perder ao longo dessa viagem prazenteira. Penetramos direto na caverna e não apreciamos a beleza que existe em torno dela.
Que intimidade pode existir numa relação sexual quando as luzes estão apagadas, ou quando os olhos estão fechados, com o parceiro perdido em alguma fantasia, pensando em outra ou em outro? Vale para os dois. Nesse momento o que vale é o conjunto todo, mente, corpo e espírito. O contato íntimo Tântrico é uma crescente satisfação sexual no nível físico e emocional, bem como no nível espiritual. A essência deste momento ímpar é que o sexo que já se encontra em estado amoroso, pode ser muito mais do que uma simples experiência física. É um ato muito íntimo que envolve deliciosamente o prazer intenso e prolongado, levando ambos ao êxtase.
O filósofo inglês Bertrand Russel, prêmio Nobel de Literatura em 1950, escreveu um ensaio sobre as três grandes paixões de sua vida. Vou deter-me somente na primeira das suas paixões para fundamentar o significado máximo desse estado amoroso que é o símbolo da nossa própria existência.
Argumenta Russel, “primeiro busquei o amor, que traz o êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o também, porque abranda a solidão, aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observa da margem do mundo, o insondável e frio abismo sem vida. Procurei-o finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bem demais para a vida humana, foi o que finalmente encontrei”. No entanto, para mergulhar nessa viagem ilustrada por Russel, é importante assinalar que na intimidade Tântrica não existe começo, meio e fim, como estamos acostumados na relação sexual rotineira. O que existe é o momento presente a cada etapa dessa viagem pelos corpos um do outro. Não existe tempo de duração é o encontro com o Divino. Só é dado esse direito aos santos e poetas, os seres mais sensíveis e iluminados desse planeta.
Portanto, neste momento de intimidade intensa a mulher é considerada uma Deusa, onde o sexo torna-se sagrado e a união dos amantes atinge um nível espiritual significativo para ambos. Essa troca de contato íntimo e consensual entre duas pessoas é uma expressão primária de amor. Por conseguinte, é aqui que o Tântrico aparece como observador da natureza íntima contida em tudo no universo, procura na união dos pólos opostos a unidade maior, sem se preocupar com abordagem ética e moral. Busca a transcendência do EU através da força máxima do universo que está contida nos mistérios sexuais e esses mistérios estão contidos dentro e fora de cada um de nós. Que são os nossos impulsos e atrações. A nossa metade em busca da outra metade perdida. São as nossas almas em busca de perfeição.             

1 de novembro de 2011

PODE-SE TER AMOR?

Toda a felicidade humana está fundada no amor. As pessoas que não amam não podem ser felizes. A embriaguez dos amantes é consequência do seu êxtase amoroso. Pessoas que durante muito tempo não acreditavam na própria possibilidade de amar, converteram-se em escravos humildes e rendidos a um parceiro que lhe proporcionou o encontro com a divindade, mostrando a riqueza desse sentimento quando experimentado no corpo e na alma. É a valorização plena do SER.
Se pudéssemos ter o amor, certamente ele deveria ser uma coisa, uma substância que pudéssemos tocar e possuir, uma coisa adquirida. Na verdade, não é bem assim, não existe algo tão sublime quanto o amor que se possa ter. O amor é algo para sentir e não para se ter. Amor é abstração, nele existe apenas o ato de amar. Implica cuidado, conhecimento, ajuste, afirmação, gozo. Significa trazer à vida, melhorar os anos vividos. É um processo, autorrenovador e autocrescente.
Quando o amor é vivido no modo ter, ele implica confinamento, aprisionamento ou controle do objeto que se ama. É sufocante, debilitante, mortificante e estéril. O que chamamos de amor é quase sempre um emprego equivocado da palavra, a fim de ocultar a realidade do desamor. As pessoas se tornam coisas que podem ser adquiridas, consumidas e descartadas ao gosto do consumidor, bastando apenas que ela enjoe do parceiro, trocando-o por outro que aparentemente demonstre ser mais interessante para aquele momento. É impressionante a facilidade que as pessoas têm para jogar no lixo o amor quando ele aparece.
Nessa dinâmica existencial, ninguém é considerado insubstituível e toda ideia de singularidade se torna motivo de risos e de zombaria pelo parceiro que não quer enxergar o amor como um dom a ser cultivado. As relações amorosas se tornam apenas um meio de obtenção imediata de prazer sexual e não uma genuína interação interpessoal pautada pelo respeito e afirmação do valor do outro, experiência na qual as duas partes ampliam as suas forças vitais por meio da alegria e do prazer de estarem juntas. Para Erich Fromm, “se amo o outro, sinto-me um só com ele, mas com ele como ele é, e não na medida em que preciso dele como objeto para o meu uso”.
Entretanto, essa disposição do TER desconhece a experiência da alteridade, aquilo que é distinto, a genuína compreensão da prática amorosa, que se sustenta na necessidade mais profunda do ser humano de superar seu estado de isolamento em relação ao outro. A incapacidade de amar das pessoas faz com que o outro vislumbre no consumismo a conquista de um fugaz bem estar por meio do consumo onde as relações permanecem descartáveis. Acredita que a felicidade pode ser adquirida como uma mercadoria, contudo, acaba originando uma sensação de vazio interior, de desespero, de confusão e temor.
As pessoas, na sua maioria, já sentiram isso no corpo e na alma e tornaram-se mais realistas e sóbrias, já perceberam que não é a atração sexual que significa amor, nem que um relacionamento amistoso seja manifestação de amor.
No entanto, o casamento dá a cada sócio a posse exclusiva do corpo do outro, dos sentimentos e do cuidado. Ninguém mais tem que conquistar, porque o amor tornou-se alguma coisa que eu tenho, ou seja, passo a ter o outro como minha propriedade. Ambos deixam de se esforçar em serem amáveis e produzirem amor, daí tornaram-se entediados, e com isto desaparece a beleza que poderia continuar a existir entre os pombinhos. Ficam desapontados e perturbados. Cada qual, em geral, procura a causa da mudança no outro e cada um sente-se enganado. O que não percebem é que não mais são a mesma pessoa daquela época, quando amavam um ao outro, que o erro do que se pode dizer que seja o amor levou-os a deixar de se amarem. Desse modo, em certos casos, o casamento iniciado na base do amor converte-se numa propriedade amigável, numa empresa em que os dois egoístas se juntam no único interesse o da sagrada família. 
Portanto, os defensores das formas modernas de relacionamentos amorosos, tais como de vida conjunta e casamento aberto, como troca de casais e sexo grupal, tentam apenas evitar o problema de suas dificuldades de amar. Este tipo de relacionamento aparece como alternativa, mediante a suposta cura do tédio que abatem os pombinhos. Surge como estímulo sempre novo e pela vontade de ter mais amantes do que ser capaz de amar mesmo que seja uma só pessoa.           

29 de outubro de 2011

MATAMOS O AMOR E PROMOVEMOS O ÓDIO

Há mais de dois mil anos nascia um homem, chamado Jesus de Nazaré, que iria revolucionar o mundo. Trazia ideias profundamente renovadoras para a Humanidade, que seriam discutidas até hoje com profundidades. Mas ele pouco conseguiu. A não ser aumentar ainda mais o ódio daqueles que comeram do pão e do peixe. Sua mensagem era de amor entre as pessoas e paz na terra as pessoas de boa vontade. Mas esse homem não foi feliz no seu gesto de apaixonado pelo seu semelhante. Na letra da música “Todos Estão Surdos” de Roberto Carlos, diz o seguinte: “Tanta gente se esqueceu que a verdade não mudou. Quando a paz foi ensinada pouca gente escutou”. A letra continua dizendo: “Meu amigo volte logo, venha ensinar o meu povo, o amor é importante vem dizer tudo de novo”. “Que o amor só traz o bem”, não se discute, todos sabem. “Que a covardia é surda e só ouve o que convém”, nós estamos cansados de saber, como muito bem diz a letra.  Agora, voltar a ensinar tudo de novo? Aqui já é um caso para se pensar. Se voltar, na certa vão te crucificar de novo e com requintes de crueldades. Não vão querer saber se sua filosofia fala de amor. Todos querem ser amados. Mas quem quer amar o seu próximo, que sou Eu? Se tivesse Jesus pregado o respeito entre as pessoas, talvez o efeito fosse outro. Respeitar é mais fácil que amar.
Será que um dia as pessoas vão criar juízo e parar de espalhar o ódio e a tirania em torno de um sentimento tão lindo como o estado amoroso, os raros momentos de êxtases que temos na vida. Ou esse ódio é intrínseco na raça humana. Para o historiador Leandro Karnal, nós somos cordiais, que significa dizer: que em primeiro lugar nós agimos com o coração, inclusive quando odiamos. Nosso ódio também é cordial, passional. Historicamente o nosso mundo foi e continua sendo cercado por um ódio espantoso, implacável quando se trata de perseguição contra alguém.
Nosso medo precisa ser reeducado, basta ligar a TV para certificar a violência em qualquer de suas formas, quanto mais brutal, melhor. Será a volta do Circo Romano? Pessoas assistindo, vendo leões famintos comendo gente, como modelo e ideal de lazer. E hoje não é diferente, estão aí para constatar as lutas de Vale Tudo. Depois que se aprisionaram uns aos outros, sentindo-se todos na cadeia invisível, esperando interminavelmente pela execução. Trazendo para o nosso mundo contemporâneo, a cadeia invisível que são os preconceitos, as exigências sociais e as condições de vida intoleráveis em que vivemos. Não é só a miséria e fome, é muito pior. São as relações humanas que precisam passar por um teste deveras crítico. Se não aprendermos algo um pouco melhor, a tratar o nosso próximo com respeito e admiração e assim atenuar um pouco esse ódio, vamos nos destruir efetiva e coletivamente mais rápido do que imaginamos.
A questão crucial da nossa história é que a violência é do outro. Sempre achamos que o desrespeito e a maldade vêm do outro. Todos aqueles que têm a certeza são intolerantes. Se eles estão certos sobre suas ideias, por que vão ouvir as concepções diferentes de outras pessoas? O indivíduo que tem a certeza, não é aberto a novas ideias. São pessoas que vão ficando cada vez mais fechadas dentro de si mesmas. Torna-se insuportável a convivência com esse tipo de gente. Ora, é fácil de entender o porquê se evita de falar do ódio, o porquê as pessoas têm horror de falar das coisas mais primitivas que existem dentro de cada um, que é essa raiva que sente um do outro. Não suportamos a ideia de saber que fazemos parte de uma categoria que é capaz de matar ou destruir, seja lá como for o seu semelhante. Assim fica difícil para entender o porque esse ódio permanece. No dizer do filósofo Thomas Hobbes, vivemos em estado de guerra, a violência de todos contra todos, somos naturalmente violentos. É muito difícil amar em comum, nós tentamos e até nos esforçamos. Mas é difícil. Agora odiar em comum é a coisa mais simples, é uma delícia execrar o outro.
Nossa habilidade infeliz de nunca dizermos o que desejamos com o outro, mas de cobrar do outro o que ele deveria fazer comigo. Somos sobretudo, covardes até para sentir prazer sexual, porque o sexo é o maior dos prazeres corporais e sempre o mais proibido e perigoso. Quando os amantes se desentendem, vem logo a frase chapada: “você só queria fazer sexo comigo”. Por que não gostou? As pessoas falam como se fazer sexo fosse um sacrifício em nome do amor. Como as pessoas sofrem por nada. Que facilidade temos para destruir algo tão rico que são as trocas prazenteiras quando estamos encantados por alguém.
Portanto, encerro essa reflexão com um provérbio chinês que retrata essa reflexão e a minha esperança num mundo melhor e mais humano: “O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.     

23 de outubro de 2011

A ARTE DE ENVELHECER COM SABEDORIA

Vivemos uma grande transformação de costumes neste último século. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade.
Segundo a psicóloga e antropóloga Ana Perwin Fraiman, homens e mulheres mais velhos aprenderam muito mais sobre sexo do que sobre erotismo. A sedução fazia parte do cardápio de conquistas nos bailes da vida, no piscar de olhos, nos toques ligeiros e discretos, no tímido sorriso insinuante, no rastro de perfume deixado no ar. Muito diferente do erotismo de hoje, com a exposição explicita do corpo, usando aquele fio dental ou uma minissaia, em muitos casos, até o nu total.
Alguns homens mais velhos dizem apreciar um corpinho lindo desnudo de uma moça jovem, mas a maioria se excita muito mais com um decote insinuante ou uma nuca exposta daquela coroa enxuta para ser levemente roçada por seus lábios quentes. Há uma gama considerável de mulheres acima de cinquenta anos que não conseguem sequer imaginar tendo relações sexuais com outro homem que não os respectivos maridos, além de algumas mulheres que nunca folhearam uma revista pornográfica por questões morais ou porque sentem vergonha e não têm coragem.
Entretanto, há mulheres dessa mesma idade cujo casamento acabou e estão namorando novamente ou tendo um caso, por ser mais atrativo e menos desgastante. São mulheres decididas, buscando um novo parceiro, fazendo sexo e sentindo prazer, coisa que não sentia no casamento. Coisa do gênero, “primeiro a gente faz sexo, se der certo e a gente gostar continua, mas casar de jeito nenhum”. Curiosamente essa era uma proposta tipicamente masculina e chegava a ser ofensiva para a mulher de outra época. Hoje temos uma grande variedade de situações, até as coisas ditas sexuais estão mudando também para as mulheres maduras.
Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativas e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícia e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo de corpo todo, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher quer um homem sensual, de prazer pleno difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só acaba com a própria morte.
Por outro lado, está o homem maduro, que busca uma mulher ativa, segura, provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que goste de ser apreciada, que goste de fazer sexo, que goste de dar prazer, que fique excitada quando está junto do seu parceiro. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude sabendo se abrir para a vida, dar e receber, fazendo do sexo uma contra dança de parceiros que se encontram, se apreciam, se realizem, caso venham a se separar, sentem falta depois e até mesmo saudades.
Quando os amantes conseguirem colocar o sexo num plano maior ligado à espiritualidade, isso ajudara as pessoas a se libertarem de seus medos, culpas e vergonhas, raivas e desesperos de solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós todos de amar para valer, em qualquer idade. Se nós não curarmos primeiro todas essas feridas, não se fará a revolução sexual na maturidade. E não há como curá-las a não ser por meio da informação clara, da palavra cuidadosa, do toque amoroso. Da verdade implícita. E mais que isto, a verdade sobre sexo e alegria, beleza e liberdade em qualquer idade. Diz um provérbio oriental: “se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não penses que elas não existem”.
Portanto, ao nascer o nosso corpo ainda não foi escrito, no dizer do filósofo inglês John Locke, a nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo se incumbiu de imprimir. Com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram e inscreveram. Para Fraiman, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano.

20 de outubro de 2011

SEXO NA MATURIDADE E NO ENVELHECIMENTO

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que, como povo, nem envelhecer com dignidade estão conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi, ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano.
Como é então a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade sexual, o trabalho dos músculos, a imaginação e a própria inspiração? Nos mais recentes estudos, nos dizem que não é necessário envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem como uma somatória de déficits. No entanto, se pergunta se o sexo acaba quando começa o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além de biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito e praticando sexo com qualidade. Como isso é possível?  
Na abordagem comportamentalista estímulo e resposta, o sexo não acaba enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade quando se afirma que é nos braços dos amantes que se encontra no paraíso, que os beijos dos amantes conduzem a esfera celestial e que a perda da pessoa amada nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa visão faz parte da filosofia oriental hindu, o Tantra.
É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência a sexo amoroso está na prática tântrica onde o mais importante não é o orgasmo, e sim, prolongar esse prazer, dando-se uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.
Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então se case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro dos amantes passam a ser as paragens pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.
Portanto, nesse encontro com o outro, dispensam-se as preocupações com a ereção, penetração ou orgasmo. O sexo nesse estágio é a própria vivência da alegria e da beleza, e o encontro todo é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora, pois na plenitude do prazer de se encontrar experimenta o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Enfim, você é o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo do ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

16 de outubro de 2011

A BUSCA DE AFETO DE CADA UM

Segundo conta a lenda do “Príncipe Encantado”, um belo príncipe em seu cavalo adentraria em sua vida. Esse é o sonho de toda mulher romântica que busca encontrar um príncipe, mas depois de algumas experiências desastrosas, ela tenta não se entusiasmar demais com o suposto príncipe. Na verdade, ela quer ser protegida pelo parceiro que um dia venha a ficar. Alguém com quem pudesse compartilhar a vida e que a compreendesse. Quando ambos descem do palco de suas vidas, entre olhar entrecortado por outras presenças que coincidentemente aparecem no mesmo ambiente, o que era um encontro paradisíaco começa a tormenta, pois surge o ciúme com as exigências de ambas as partes, que aos poucos, vai diluindo a imagem intocável do príncipe encantado.   
A princesa que até então era um anjo de candura mesclada com Afrodite, tornou-se um labirinto incompreensível, enquanto que, para ela o príncipe sensível e afetivo tornou-se um menino rebelde alheio aos sentimentos. Após alguns encontros encantadores, surgem os escândalos, desrespeito total um pelo outro, as baixarias e junto vem o rompimento, que muito a contra gosto é triste. Porque se criou um laço afetivo muito forte entre ambos.
Quando alguém busca uma relação afetiva, com empenho e dedicação, com o espírito aberto, de repente surge a sua frente, como num passe de mágica, certeira com uma flecha de Cupido, inexorável como a morte: O Amor! Acompanhado com esse sentimento também surgem outros, como o susto, a surpresa, a alegria, a excitação, a decepção, a raiva, a saudade e as lembranças! Tanta coisa ao mesmo tempo, que a pessoa se vê perdida, não sabe o que pensar, porque nunca sentiu isso tão forte.
Entretanto, é uma conduta calcada numa espécie de funcionamento emocional desregrado, muito mais voltado para o prazer, porém um prazer que no fundo não satisfaz suas necessidades, tamanha é a euforia desse encanto que deixa todo o seu SER tomado. Está sempre faltando algo. Um coloca o outro na posição de provedor do prazer. Contudo, dessa forma a busca de um afeto, um prazer que o faça sentir-se mais pleno transforma-se em uma busca infantil, o que para o outro é imperceptível.
Considerando que o prazer, os sentimentos, as emoções e as sensações estão diretamente ligadas ao corpo e que o ser humano só se sente pleno através da exaustão, por isso quando a pessoa exige ser amada mesmo depois dessa exaustão, consequentemente, o fato de não ser correspondida, por se tratar de uma imposição do amor, essa pessoa passa a se desinteressar por quem promove esse prazer e afeto. Começando assim uma nova busca direcionada a novos prazeres e novos provedores, isto é, novas paixões.
Toda pessoa centrada no seu egoísmo achando que tem que ser amada, começa a não perceber o outro e vai aos poucos enfraquecendo os laços afetivos. O prazer que estava acostumado a receber não é mais tão intenso. Diferente do prazer e da paixão que provem das necessidades corporais surge uma nova dimensão de sentimento que é a alegria. Não é o prazer que tem de ser procurado, e sim, a alegria. Infelizmente ou felizmente, na paixão, no prazer e seu contra ponto, o sofrimento, são intensos e temporários; já na alegria, a prioridade está no amor que não tem prazo de duração.
Portanto, para podermos sentir a alegria e o amor é preciso não somente a sensibilidade, mas também a paciência de saber esperar, é preciso suportar a responsabilidade, assim, como é preciso estar aberto para enxergar nossos defeitos e virtudes para depois mudá-los, se for necessário; com isso desenvolveremos maturidade e sabedoria. Dessa forma, através da alegria, chegaremos ao prazer do corpo e da alma. Lembrando que uma vida sem amor é como um jardim sem flor, é como esperar o trem que já passou.          

CONSPIRANDO CONTRA A FELICIDADE

As pessoas têm uma tendência a tratar com superficialidade a felicidade quando ela se propõe. Basicamente não valorizam muito as relações amorosas quando as têm. Sempre querendo ter razão em vez de ser feliz. Viram as costas e partem em busca de outros amores achando que vai ser melhor. Na verdade, não muda muito. Aquele período de luto do amor que juntos viveram não se cumpriu. Aqui fica a seguinte observação: “se o indivíduo mal encerrou essa relação e já está com o pé em outra, é porque ele não é digno de você”. Como bem afirmou o cronista Xico Sá na sua palestra no Café Filosófico.
Entre uma relação e outra existe um período de estiagem, de muita reflexão, de avaliação. Sobretudo, para não cometer os mesmos erros. Pois se tratando de seres humanos, acima de tudo temos que nos dar valor para poder valorizar o outro, caso contrário essa pessoa não te merece. É o mesmo que viver uma relação descartável, não consegue aprofundar na essência um do outro. Vive-se uma relação pautada no desrespeito.
As pessoas não sabem e não querem saber, quanto custa todo o prazer que não têm e que está aí ao alcance das mãos e do corpo. Contato, carícia, abraço, prazer, intimidade, quem não quer? Freud tem mostrado todo o penoso e ridículo contorcionismo psicológico que desenvolvemos a fim de conseguir fazer de conta que o outro só nos interessa pela sua aparência e pelas suas palavras bonitas que achamos que precisamos somente disso e mais nada.
É preciso fazer algo pela relação amorosa em vez de continuar procurando quem é que devia ou quem é o culpado. E com isso ficar justificando que tem outros amores melhores, na tentativa de agredir o outro. Essa conspiração contra a felicidade, contra esse amor que poderia ser de boa qualidade, pode acarretar outros problemas futuros. Certamente vai levar para a nova relação às mesmas dificuldades de filtragem e assim, sucessivamente. O mal não está em errar a dose. O mal está em não aprender a dosar os conflitos.
Um observador externo detecta com bastante facilidade distorções no relacionamento e na comunicação nas relações amorosas. Como os costumes de convívio se desenvolvem lentamente, as pessoas, na verdade, não percebem o que está acontecendo, a não ser pelo mal estar ou pelas brigas que não resolvem. Não é um problema de ensinar a viver, ainda que ensinar também tenha cabimento, penso que é uma questão de mostrar, apontar, fazer o outro ver o que está acontecendo. Não perdoamos quem nos vê como somos.
Portanto, tenho para mim que o maior perigo do nosso mundo não está na violência urbana, nem mesmo nos poderosos; está na falta de alegria de viver das pessoas, no seu tédio, na sua frustração e na sua indiferença. Por isso faz-se necessário desejar outros relacionamentos, superficiais tanto quantos já viveram. Contudo, a pessoa que torna superficial as relações amorosas ou que se aliena, pouco a pouco, faz com que vá crescendo nela o desejo de que esse mundo, infeliz, árido e ameaçador, termine de vez com os seus sonhos narcísicos. Enfim, a mais profunda felicidade do normopata é livra-se de sua vida infeliz, matando quem lhe ama na fantasia partindo em busca de um novo amor centrado no seu egoísmo.   

12 de outubro de 2011

SER BOM É SER JUSTO

Não há quem não conheça a história mais lida e mais contada, de geração em geração, que até já virou filme, que é a história de Jesus de Nazaré. Quem não conhece esse homem chamado Jesus? Era um judeu que viveu na Palestina há mais de dois mil anos. Há muitos escritos sobre ele. Cada um conta de um jeito. Saber o que realmente ele queria ou pretendia é muito difícil. São muitas as interpretações.

Mas quero aqui puxar outro lado da história, da mensagem de Jesus. Pois gosto muito da sua filosofia e muito mais agora que pesquisando descobri através de suas mensagens que amor não é resignação, como prega os cristãos. A meu ver Jesus foi um homem que fez o que acreditava, viveu para isso e morreu em função disso.

Ele não foi bonzinho, não foi um individuo ajustado, não foi normal como todos. Ele foi em certos termos um terrorista. Não que largasse bomba ou matasse pessoas, mas a sua mensagem era profundamente revolucionária para a época, por isso mesmo que ele acabou numa cruz. Penso que até o pai e a mãe dele questionavam esse comportamento às vezes: “Nossa! O que o meu filho está fazendo, arrastando esta multidão, falando de amor das pessoas, num mundo em que só há crueldade e opressão”. E que continua até hoje, havendo crueldade e opressão. Esse homem falava da fraternidade entre os homens, do perdão das ofensas e do amor ao inimigo. Certamente foi chamado de maluco por muitos.

Entretanto, é esta figura que nós dizemos adorar, amar, imitar e seguir. Quem é que tem a coragem de ser ele mesmo, vinte quatro horas por dia, fazendo o que é bom para si? Faça um pouco diferente do que é considerado normal, para perceber quantas pessoas vão se incomodar com o seu comportamento.

É bom lembrar que Jesus também é um verdadeiro modelo de inovador. Na verdade, a humanidade invariavelmente sacrificou todos os seus salvadores. Aqueles que traziam bonitas mensagens.

Hoje em dia temos uma imagem desfigurada de Jesus. Homem bom que faz o que os outros querem; homem maravilhoso, glorioso e daí por diante. A própria história de Jesus nos Evangelhos mostra que ele não era lá uma figura boazinha, como se prega.

Conta o Evangelho que um dia ele saiu de chicote no Templo, derrubando tudo o que tinha pela frente e xingando todo mundo que tinham feito do Templo um mercado de negócios. Outra vez mandou o moço que gostava dele, vender tudo e segui-lo. O Evangelho também descreve seu conflito com a família. Certa vez estava Jesus reunido com os seus discípulos, quando vieram avisá-lo que sua mãe o esperava. Respondeu ele: “minha mãe, é aquele que faz a vontade do meu pai que está no céu”.  
    
Jesus era presumivelmente um homem forte e saudável, caminhava muito. Era convicto do que queria. Mas também tinha o seu lado humano, da dúvida, da incerteza. O próprio Evangelho fala. Nós vivemos falando que ele era sempre glorioso, maravilhoso. Não, ele também tinha suas dúvidas. No Horto das Oliveiras, um dia antes de ser prisioneiro, ele viveu uma angústia terrível.

Então vamos “desdivinizar” um pouco essa imagem e guardar sua mensagem que é: “Cumpra com o dom da vida, o projeto que Pai lhe confiou”. Uma coisa, porém é clara, a mensagem não é fazer a vontade de outros e sim ser justo. Pensar muito, sentir muito, meditar sobre suas inclinações e possibilidades. Fazer o mais que posso de mim e para mim. Para realmente aperfeiçoar-me, até que possa devolver para o Criador a imagem que ele estampou em mim no começo da minha vida. A minha obrigação primeira é fazer a minha vida e o meu caminho.

Portanto, quando enxergar o outro diferente, não comece a dizer que ele está errado, que ele é estúpido, que vai para o inferno. Olhe bem para esse semelhante e diga: “não compreendo essa pessoa, mas espero que esteja seguindo o seu caminho. Assim como espero também estar seguindo o meu caminho. Porque ser bom não é fazer toda a vontade alheia, é ser justo”.   

8 de outubro de 2011

O TOM DE UMA PROSA

Uma das coisas que mais gosto na minha vida é conversar e a outra é escrever. Curiosamente nessa reflexão resolvi juntar as duas coisas. Escrever como que conversando com você. Acredito que os meus textos são compostos por duas pessoas. No caso, eu, o autor, e você, o meu co-autor. Quero muito que, apesar das nossas limitações e distância possamos estabelecer um verdadeiro diálogo.
Para que possamos começar o nosso diálogo, gostaria de lhe fazer uma proposta. O assunto sobre o qual conversaremos é amplo e íntimo, porque se trata das minhas reflexões que sempre divido com você, até porque tem participação sua na produção dos textos. Ou você acha que não me importo com o seu comentário?
No livro O Mundo de Sofia também existe uma prosa em forma de bilhetes e cartões postais que foram mandados do Líbano, por um major desconhecido para Sofia. O mistério que envolve os bilhetes e os postais é o ponto de partida deste fascinante romance sobre a história da filosofia. Entretanto, no nosso caso é um pouco diferente. O ponto de partida aqui se da através desse diálogo franco e aberto.
Ao longo da vida, tenho aprendido que para ter uma conversa sobre alguns assuntos a gente precisa de sossego e de tranquilidade, de preferência onde a conversa não tenha de ser interrompida, por isso eu gostaria que você imaginasse que essa nossa conversa se passa em algum lugar de que você goste, pode ser num parque, à beira de um lago, numa praia linda, numa montanha cercada por floresta ou numa sala de uma casa bem aconchegante, você é quem escolhe. A essa altura você deve estar se perguntando, o que o Eduardo pretende? Por que ele propôs essa prosa? Por uma razão muito simples. Para mim é importante que você entenda os meus textos como um referencial a mais para a sua reflexão.
Por conseguinte, com certa frequência tenho trazido assuntos como: A sexualidade humana, amor e matrimônios. Todavia, não escrevo para que você aceite as minhas ideias como dogmas, mas sim para que juntos possamos refletir sobre o que está diante dos nossos olhos. Para fundamentar o que estou dizendo quero aqui apresentar alguns dados já comprovados e publicados cientificamente para a nossa tranquilidade.
Sei que você é um leitor exigente, fino e de percepção apurada, sabe que precisamos aprimorar a cada dia nossa maneira de pensar o mundo, rever as nossas atitudes, para assim cuidar das pessoas que amamos, como também do nosso planeta que anda tão carente de cuidados. Entretanto, um pouco mais de informação é sempre bem vinda para que possamos dar conta dos problemas diários que nos são impostos. Graças às minhas filhas, às minhas amigas e a você, tornei-me cada vez mais sensível aos problemas que tanto afeta mais as mulheres do que os homens. Então, juntamente com você resolvi buscar as respostas para essa causa. Creio que sempre tratei as mulheres como iguais, mas só mais recentemente pude compreender essa diferença, o quanto a mulher ainda hoje é inferiorizada, marginalizada por uma sociedade machista, anacrônica e patriarcal. Parece até que mulher só é vista como objeto de prazer, como as mucamas dos senhores de engenhos do século passado. Ela não é humana? A mulher não tem sentimentos? Você duvida do que estou dizendo? A título de curiosidade entre numa dessas salas de relacionamento virtual, para você conhecer o que os homens falam e fazem com as mulheres. Além de serem diretos, são extremamente monótonos e precários no seu desempenho sexual. Você acha que é isso que a mulher busca?
Para abordar esses assuntos e apresentar a você, tive que pesquisar. Por exemplo, para falar da sexualidade humana, tenho dois grandes mestres. Um amigo, filósofo e educador Cesar Nunes da UNICAMP e a filósofa e educadora Claudia Bonfim, Vice-Presidente, Pesquisadora e Educadora Sexual da Associação Brasileira de Educação Sexual – ABRADES. Ela escreveu um texto maravilhoso sobre a masturbação feminina. Se você quiser interar-se sobre esse assunto, vá ao meu blog e clique em: Visualizar o meu perfil completo, que você encontrará um link da Dra. Claudia Bonfim, Educação e Sexualidade.
Outro assunto que sempre aparece nas minhas reflexões é sobre o casamento. Também para falar sobre o matrimonio, recorri a outro grande mestre e saudoso, José Ângelo Gaiarsa. Foram cinquenta anos pesquisando sobre família e casamento. Segundo ele, as famílias se amam eventualmente e se traem sistematicamente. Caso ainda paire alguma duvida, procure ler o livro: “A Cama na Varanda”, da psiquiatra e educadora Regina Navarro Lins. Para ela o lugar que menos se faz sexo é no casamento.
O nosso papo está tão gostoso que não dá nem vontade de parar. Ainda falta para encerrar a questão do sexo e amor que não vejo como um mesmo fenômeno. O sexo é um fenômeno pessoal, depende só do meu corpo para ser sentido. Já o amor é um fenômeno interpessoal, espiritual, precisando da existência do outro para sentir. Amor: eu sinto, sexo: eu pratico. Praticar sexo é uma escolha, ter prazer é uma possibilidade, ao contrário do amor. Sentir amor não é uma escolha, mas sim, um acontecimento espiritual, é um dom. Não depende do meu querer.
Para discutir esse assunto busquei vários pesquisadores, mas um me chamou mais a atenção, o psiquiatra e educador, Flavio Gikovate. Fui numa de suas palestras no Café Filosófico realizado pela CPFL de Campinas. O tema que ele abordou foi a Fragilidade do Tesão. Depois dessa palestra fui ler um pouco mais sobre o assunto e percebi que realmente não dá para combinar sexo com amor. O beijo na boca é mais íntimo do que o sexo. No entanto, dentro de uma relação a dois quando o amor termina, a primeira coisa que acaba é o beijo na boca. O sexo ainda perdura por um bom período. Triste fim. 
Portanto, como você percebeu a boa prosa passa depressa como a vida quando bem vivida. Enfim, quero deixar este lembrete a você: Não se torture quando eu trouxer um tema contrário aos seus valores. Procure primeiro rever esses valores, para não sofrer em vão. Sexo é a linguagem do corpo, é a linguagem do sentimento, é um brincar com o corpo, é a descoberta de que você também tem excitação. Nesse momento de excitação só o coração deve ditar o que fazer, porque é através dele que essas informações são transformadas em conhecimento e em sabedoria para assim você ser feliz e viver em harmonia com o seu corpo e sua alma. Foi um prazer enorme prosear com você.  

4 de outubro de 2011

UM SEGUNDO CASAMENTO OU UM CASO?

Segundo os estudos mostram que, quanto maior a duração ou o convívio dentro do casamento maior a possibilidade de desilusão. No entanto, quando um casal começa a sentir ódio recíproco, infecta o ar do quarteirão. É uma coisa espantosa. Um clima de muita indiferença entre ambos, além da rotina que envolve o próprio casamento, até o beijinho e abraço quando tem, é tudo meio automático, as falas já são previamente sabidas entre os dois, às vezes tem até certa gentileza entre os dois, mas é uma relação com muito pouca vida e um interesse bem limitado de um pelo outro.
Há uma estimativa que dois terços dos casamentos, depois de alguns anos de convívio geram situações penosas e entediantes, algumas bem feias. A mulher pode se sentir profundamente entediada e deprimida. Pior do que o tédio é a sensação de insignificância. E quanto maior esta sensação de inutilidade, maior o risco e mais vulnerável ela se torna a um relacionamento extraconjugal. Todavia, se uma mulher vem sonhando em ter um caso amoroso com um homem, se ela vem pensando nisso algum tempo, na verdade, está plantando uma semente mental que um dia poderá germinar.
Cada vez mais as pessoas estão tomando consciência e vendo suas chances de serem felizes limitadas, porque vêm nessas relações amorosas uma forma pouco saudável, como se fossem cometer um pecado mortal. É inacreditável que em pleno século XXI tenhamos dificuldades para assumir um caso amoroso por conta da hipocrisia de algumas pessoas. Exaltamos o amor, mas condenamos quando ele acontece fora dos padrões que a sociedade considera ideal.
Precisamos entender que muitas vezes o amor iniciado na juventude já não é o bastante para nos fazer felizes quando atingimos a maturidade. E principalmente quando esse amor se consolidou com o casamento.
O número de divórcios vem aumentando a cada ano no Brasil. Cada vez mais aparecem casais vivendo relações extraconjugais não assumidas. Porque são relações carregadas de culpa, atritos, sofrimentos, que causam muito desequilíbrio no cotidiano familiar. Por outro lado separar também envolve sofrimento e muita culpa no meio familiar. Então, o que fazer nessa circunstância? Buscar um segundo casamento ou ter um caso amoroso?
Esse amor que acontece na idade adulta vem atender aos anseios de uma pessoa amadurecida, que lutou com seus fantasmas internos e agora pode encarar mais plena e serenamente novos afetos. Para muitas pessoas depois de alguns anos de casada, a primeira alternativa para amenizar o desgaste é manter vidas paralelas, ter um caso amoroso. Quem não sabe disso? É bom dizer que essas coisas não são aceitas nem aprovadas publicamente, embora sejam feitas por quase todas as pessoas. O problema não consiste em saber se alguém faz ou não faz, o problema é se descobrem ou se você fala ou não. De cada dez pessoas, oito delas vivem ou vão viver um caso amoroso.
Pessoas que a experiência do casamento as tornou indiferentes, cascudas, entediadas, vivendo uma vida automática, mal percebendo o que acontece ao seu redor, quando encontram alguém e se encantam com essa pessoa, parecem até aqueles bichinhos brincalhões da natureza, que se juntam fazendo festa um para o outro. Trocam qualidades e os dois saem do encontro rejuvenescido ou renascido.
Portanto, diante de tantas evidências, penso que um segundo casamento não vai mudar muita coisa, tendo em vista que o casamento e amor não combinam. Ter um caso extraconjugal, para muitas pessoas é sofrido e marcado por sentimentos de culpa, caso sejam descobertas. Contudo, encerro com um argumento brilhante do nosso mestre e psiquiatra, saudoso José Ângelo Gaiarsa, para aqueles que se incomodam com a sua vida diz ele: “Olhe aqui, eu não estou seguindo um capricho, eu não quero um caso a mais, eu quero sobreviver, se possível. Recomeçar a viver porque eu estou morrendo, você entende? Se você entender, vai ser ótimo, vamos ficar amigos e até fundar um partido a favor do direito de amar. Se você não entender, vá passear. Você é meu inimigo, inimigo da vida e um medroso que quer assustar os outros para que todos continuem a se esforçar para resistir à tentação”.              

28 de setembro de 2011

A MULHER NO ESTADO TÂNTRICO

Todos os grandes pensadores da humanidade, sempre se referiram ao sagrado feminino com inferioridade e desdenho, como se a mulher existisse somente para procriar e servir ao seu senhor. O caminho percorrido para que as mulheres chegassem até os nossos dias em iguais condições com os homens e assim ser reconhecida, foi uma luta árdua e penosa. Todavia, para a filosofia Tantra Hindu, a mulher é considerada a sacerdotisa por ensinar aos homens de boa vontade a arte do amor. Porque só a mulher é capaz de sentir prazer em qualquer parte do corpo, com muito mais intensidade do que qualquer homem. Não é a toa que na filosofia tântrica ela é considerada professora do amor romântico por tamanha capacidade de intimidade amorosa com o seu homem.
Dizer que é a mulher quem conduz e dita o ritmo durante o sexo tântrico é uma redundância e uma afronta para os machões de plantão. Desde a paquera até a cama quem dita às regras sempre foi mulher. As mulheres sabem da suscetibilidade sexual dos homens. Talvez seja esse um dos pontos críticos do Tantra Hindu, saber prolongar o prazer sexual. E isso tem despertado muita estranheza nas pessoas e principalmente nos homens que precisam aprender a conter a ejaculação. Para quase todos os homens esse controle parece impossível, antinatural, muito desagradável. Na hora da cama, do sexo, um número significativo de homens vira meio bicho, afoito e o orgasmo é o estímulo final a ser alcançado. Invariavelmente a mulher é obrigada a fingir orgasmo só para agradar o seu parceiro que reclama caso ela não sinta algum prazer.
Com o sexo tântrico não é assim que acontece. Aqui o sexo não é praticado visando o orgasmo e o que interessa é atingir um estado de consciência maior sobre o corpo do outro. A prática não quer apenas potencializar o orgasmo e intensificar o prazer. É muito mais que isso é espantar a afobação ao concentrar e espalhar a energia sexual pelo corpo inteiro. Entretanto, a mulher por natureza é Tantra. Tendo em vista que uma relação sexual comum dura em média quinze minutos e quatro segundo de orgasmo. Tanto barulho pra nada. No sexo tântrico ela dura no mínimo duas horas. Caso dure menos de uma hora é considerado ejaculação precoce. No entanto, o sexo tântrico tem uma duração mínima, mas não tem uma duração máxima. Aqui a ejaculação é considerada um desperdício de energia vital e por isso deve-se aprender a adiá-la.
Se experimentar um ciclo sexual demorado, se o aceito e aproveito, posso dizer que estou me fazendo tântrico. Se acompanhar o desenvolvimento natural da sexualidade, se a deixei amadurecer no sentido de ir aprendendo com ela, em vez de fixá-la em um padrão único e monótono, torna-me tântrico mesmo sem pretender ser, e mesmo sem treinamento.
A sexualidade também amadurece com o tempo e pode ser aprendida, claro que evidentemente se o indivíduo conquistar liberdade e condições para isso. Todavia, o mais difícil é vencer os incríveis preconceitos que existem em torno desse assunto sexualidade. Se o indivíduo se livrar de tudo o que é dito sobre o envelhecimento sexual, então qualquer pessoa, tanto homem quanto a mulher chega quase naturalmente ao Tantra.
Portanto, podemos concluir que a mulher está anos luz na frente do homem na questão da sexualidade. Estando a mulher num clima amoroso de muita excitação, ela é capaz de sentir prazer em qualquer parte do corpo ao contrário de muitos homens que são diretos e precários no momento da relação amorosa. Contudo, não existe mulher fria, existe homem incompetente ou, o que é mais triste ainda, homem desinteressado. Assim como também não existe homem impotente, existe mulher incapaz de despertá-lo ou desinteressada. Lembrando que só o contato amoroso pode nos salvar através do prazer concreto, cutâneo, sensorial e afetivo.   

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...