28 de abril de 2019

EDUCAÇÃO, DIÁLOGO E LIBERDADE

Abro esta reflexão com uma frase do filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997) que dizia: “A opressão, que é um controle esmagador, é necrófila. Nutre-se do amor à morte e não do amor à vida”. Isto quer dizer que para as elites dominadoras, este modelo de educação é uma ameaça a elas, tem o seu remédio em mais dominação, na repressão feita em nome, inclusive, na liberdade e no estabelecimento da ordem e da paz social. No fundo, paz social não é outra senão a paz privada dos dominadores. As duas citações estão no livro “Pedagogia do Oprimido”, um dos mais importantes livro de Paulo Freire, que virou um dos alvos preferidos do governo Bolsonaro, durante a campanha presidencial, o atual mandatário do país chegou a falar em “entrar com um lança-chamas no MEC (Ministério da Educação) para tirar Paulo Freire de lá”.

Seus aliados seguem a mesma linha e, como era de se esperar, exaltados aderiram ao discurso e também passaram a atacar o estudioso. Mas, será que todas essas pessoas conhecem mesmo Paulo Freire? Será que todos eles leram a sua obra? Pois bem! O educador é um dos brasileiros mais respeitados no mundo todo, principalmente, na Europa. Tanto que recebeu mais de 40 títulos de doutor “honoris causa” e, na Academia, é o terceiro pensador mais citado em trabalhos escritos em inglês, um feito excepcional. Só isso já nos dá uma dimensão de sua importância. Primeiro vão estudar Freire, para falar sobre sua obra. Falta leitura para certos políticos. Nem notícia se teve, no Brasil, do Dia Internacional do Livro, na terça-feira (23/04/2019). Só na Catalunha, com a festa centrada na feira de livros de Barcelona, 400 autores autografando, os espanhóis estimularam a venda em sete milhões de exemplares. Entre nós, de janeiro a março deste ano a venda caiu 1,2 milhão de livros. O que a diferença significa no presente é quase nada se comparada ao que diz do futuro por aqui, e ainda querem acabar com a Filosofia e a Sociologia, porque faz pensar.

Pelo que estamos vendo na chamada nova política bolsonaristas, faz todo sentido alguém dizer com todas as letras, que espera que nossas escolas formem pessoas menos politizadas e, contudo, ainda querem privar milhões de jovens que desejam estudar Ciências Humanas. De modo que, para Paulo Freire a palavra liberdade, diálogo, revolução e principalmente o amor pela educação, estão entre as palavras que servem de pilares para a sua obra “Pedagogia do Oprimido”, aonde ele se dedica a estudar os esfarrapados do mundo e depois argumenta que nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a usar a maiêutica socrática do: “Por quê?”, Também mostra que seu olhar não é ingênuo, que não é desses que acredita que os subjugados possuem uma espécie de bondade inata.

Portanto, através da manipulação, essas elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas (rurais ou urbanas), tanto mais facilmente se deixa manipular por eles, que não podem querer que se esgote o seu poder. A manipulação se faz por toda a série de mitos a que nos referimos. O modelo que a burguesia se faz de si mesma às massas com possibilidade de sua ascensão. Para isto, porém, é preciso que as massas aceitem sua palavra. Muitas vezes esta manipulação, dentro de certas condições históricas especiais, se verifica através de pactos entre as classes dominantes e as massas dominadas. Pactos que poderiam dar a impressão, numa apreciação ingênua, de um diálogo entre elas. Na verdade, estes pactos não são diálogos, na profundidade de seu objetivo, está inscrito o interesse inequívoco da elite dominadora. Os pactos, em última análise, são meios de que se servem os dominadores para realizar suas finalidades.

26 de abril de 2019

O GOVERNO TEM MEDO DA FILOSOFIA

Historicamente, vemos desfilar períodos em nossa “Educação” em que alguma perspectiva de seletividade dirigiu as políticas públicas do setor. E isso, ademais, tornou-se objeto de interesse, estudos e de pesquisa no âmbito das disciplinas tomadas por seu caráter de inutilidade pela política atual. É evidente que tais iniciativas não interessam ao poder. Ao contrário, só incomodam! Alias, atende-se para o fato de que a seletividade atravessada pelo viés ideológico, autoritário e doutrinário do atual governo, atingirá igualmente as áreas em destaque: “nem tudo será digno de atenção e de investimento (de tempo, capital, pesquisa, interesse) dentro dessas mesmas áreas selecionadas”. Estamos sofrendo o maior ataque à Filosofia e Sociologia desde a ditadura militar. 

No entanto, nenhum motivo para comemoração! Trata-se do anúncio de uma viagem sobre a roda que insiste nas emoções das turbulências do retorno a um aspecto do passado que já nos deu muitas lições. Portanto, é bom advertir que todos os campos de conhecimento e profissional, carregam muitas vezes sub-repticiamente, a herança “filosófica” como princípios, desvelamento, sentido e orientações (epistemológicas, axiológicas, etc.). E, sem investimento nos cursos específicos de formação dos “filósofos e sociólogos” entre outras áreas afetadas por esta medida, o que vamos assistir, no caso da Filosofia especialmente aqui tratada, mas não exclusivamente, será o improviso, os bate-papos incompreensíveis e as elucubrações vagas travestidas desse saber. Só posso concluir que a Filosofia incomoda a chamada nova política.

Portanto, é sempre bom lembrar àqueles menos avisados, especialmente, ao autor da “novidade” veiculada em seu comunicado no Twitter, que a gente “também” lê e escreve (talvez, demais para alguns) no campo da Filosofia e da Sociologia, e as chamadas Ciências Humanas em geral. Além disso, é importante destacar que muitos chefes de família, homens ou mulheres, ofereceram e oferecem extremo conforto e oportunidades de ricas experiências à sua família com a sua profissão, além de contribuírem significativa e singularmente ao seu entorno social. Sou professor de filosofia com muito orgulho e sei que esse governo quer acabar com a nossa profissão.

(Este texto foi extraído de um ensaio da Docente e Pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina, Profa. Dra. Leoni Maria Padilha Henning, cuja adaptação foi autorizada pela autora para o uso neste Blog).

24 de abril de 2019

A FILOSOFIA E SUA NATUREZA

A tarefa da filosofia é por pensamento no mundo, ou seja, colocar as pessoas para pensar. Evidentemente, sem a pretensão de achar que vamos encontrar a solução para todos os problemas que mais afetam a humanidade. É comum na vida cotidiana, às vezes precisarmos tomar decisões rápidas, sem perder muito tempo com reflexões e questionamentos para alguns. Mas, quando uma pessoa ou uma sociedade entra em crise, prontamente, estimula a reflexão necessária ao momento solicitado. De modo que a filosofia, desde as suas origens na Grécia Antiga, requer uma mudança do olhar e de nossas relações na vida e com o conhecimento. Porém, a natureza real da filosofia é causar certo estranhamento frente à realidade, desde os fatos mais simples ou aparentemente já sabidos. Há aqui, uma atitude em que pensar é desafiado para além de si mesmo.

No entanto, a filosofia é um convite ao diálogo diante de certa perplexidade e admiração que nos envolvem no dia a dia. A consciência humana inventou a linguagem, a arte, a história e a cultura. Além de tudo isso, também criou a escravidão, a queima de bruxas, o Holocausto e bombardeou Hiroshima e Nagasaki. Dentre todas as espécies, o ser humano é o único que mata seus semelhantes em nome da religião, do mercado livre, do patriotismo e de outras tantas ideias absurdas. Gradualmente desenvolvemos a capacidade do pensamento abstrato, a capacidade para criar um número interior de conceitos, de objetos e de imagens de nós mesmos. Na medida em que a modernidade alcançou o mundo atual, tornou-se cada vez mais diversificado e complexo viver.

Entretanto, começamos a perder o contato com a natureza e transformamo-nos em pessoas perversas e gananciosas. Sobretudo, perdemos a capacidade de cooperação, estamos criando uma personalidade cada vez mais fragmentada. Na natureza, todos os membros de um organismo vivo estão interligados numa vasta e intrincados rede de relações, a chamada teia da vida, estudado com profundidade pelo físico e filósofo Fritjof Capra (1939), que tem desafiado as visões convencionais da evolução e organização de sistemas vivos. Capra desenvolveu novas teorias com implicações filosóficas e sociais revolucionárias. Em seu livro: “A Teia da Vida”, ele nos propicia uma síntese brilhante de descobertas científicas recentes. O comportamento de cada ser vivo do ecossistema depende da relação de muitos outros. O sucesso da comunidade está ligado ao sucesso de cada indivíduo, enquanto este resultará da comunidade como um todo. Desta forma a lição em relação às comunidades humanas é obvia. Cada um de nós somos os responsáveis pela a harmonia do todo.

Portanto, para recuperar nossa plena humanidade, temos de restaurar nossa experiência de relação entre a sintonia e reflexão com a natureza. Essa nossa religação ou religião em latim é a própria essência do alicerçamento espiritual do homem com o meio ambiente. De modo que a filosofia nos leva a uma reflexão profunda e uma tomada de consciência sobre nossa passagem pela vida. Esta luta do ser humano consigo mesmo não é uma tragédia nem um fracasso da criação. Ela é da íntima natureza humana. O ser humano é a única criatura terrestre inacabável, jamais plenamente realizado. A natureza o fez o menos possível para que ele possa melhorar-se o máximo possível. Vale lembrar uma frase lapidar da minha saudosa mãe: “O mundo é um lugar muito difícil, de que você não precisa de mais nada, além da sua autoconfiança para sobreviver”.

18 de abril de 2019

COM A NATUREZA APRENDEMOS O QUE É VIVER

Por mais profunda que seja as cicatrizes plasmada em nosso espírito, ainda o tempo, esse grande consolador, sempre nos oferece uma chance para encontrarmos a paz desejada. Quantas vezes nos precipitamos nos julgamentos e, com isso, impedimos que a vida se proponha a nosso favor, porque nossas atitudes a bloqueia. Dispensamos esse aprendizado para com as coisas da natureza. O melhor seria aceitar e acolher esses momentos para realizar missões de paz e amor, para que haja autenticidade e equilíbrio entre os humanos. Apreciar as coisas simples da vida e da natureza, como assistir e admirar ao pôr do sol no horizonte, cujo cenário é cercado de vidas. Admirar o céu iluminado de estrelas, colher e comer uma fruta do pé. Algumas crianças nunca sentiram e nem sabem como é maravilhoso apreciar esse contato com a natureza.

No entanto, todas essas atividades estão cada vez menos presentes no cotidiano de quem vive nos grandes centros. Este contato com a natureza traz a oportunidade para que potencializamos nossas aptidões físicas, mentais e intelectuais. Quando estamos em sintonia com a natureza, a percepção de mundo é ampliada em três aspectos: “especial, o universo da natureza é bem maior do que o nosso habitat; sensorial, porque há diversidade de ruídos, olfatos, texturas, cores e formatos; e finalmente físico, pois caminhar entre árvores, pássaros e rios é caminhar nos braços dos deuses”. A oportunidade de conhecer animais e plantas que só vemos nos livros, é uma experiência muito rica que faz a gente se sentir conectado com esse universo cósmico.

Para viver esta experiência é preciso contar com o apoio dos pais e professores. Tendo em vista, que estes são momentos onde tudo se faz juntos e é de grande valia para o aprendizado de ambas as partes, sobre questões relevante da nossa irmã natureza. O vinculo familiar criado durante as descobertas infantis, marcam para sempre na forma de lembranças em nossa memória. Pois, minha infância e adolescência foram na roça e hoje tenho uma identidade intrínseca com a terra e o mato. Uma vida mais natural, mesmo que seja somente nos finais de semanas para aqueles que moram na cidade, mesmo assim, acrescenta valores diferentes, como: “cuidados com a natureza, com os bichos, o andar descalço na terra, tomar banho nos rios e chupar jabuticaba no pé”.

Portanto, são experiências inesquecíveis. E não é só no acréscimo de conhecimento que ganhamos, mas também, aprendemos a conviver com a natureza que aguça a nossa curiosidade e nos estimula cada vez mais para a vida. O grande aprendizado da vida é saber estar com quem a gente gosta e, se possível ao lado de quem a gente ama. Sentir as vibrações com a natureza e perceber a vida que habita em cada um de nós, que é a mesma que habita os demais seres vivos. Como é lindo poder enxergar com esses olhos e poder sentir a natureza entrando pelos nossos poros, envolvendo-nos e dizendo-nos: “Deus está aqui”, basta olhar e ver a lua cheia ou minguante, o sol forte ou fraco, as árvores com suas folhas embaladas pelo vento. A vida para mim é uma síntese da natureza. De modo que, se Deus é as flores, as árvores, as montanhas, os rios, o sol e a noite de lua cheia. Então, acredito com toda a minha força neste Deus. Acredito com toda a minha energia vital, transformada em oração e pensamento, numa comunhão de fé com esse Deus. A natureza está sempre nos ensinado algo. E a vida sempre nos da à oportunidade de um recomeço.

15 de abril de 2019

PELAS ANDANÇAS DA VIDA

Pelas andanças da vida, são tantas narrativas que muitas vezes sentimos medo de viver e de se entregar. Sentimos medo até de amar e experimentar a delicia que é ser amado. Quem não quer viver uma linda história de amor? É muito difícil achar alguém que não queira, mas às vezes falta coragem para tanto. As pessoas estão sempre à espera deste amor fantasia, com gosto de Walt Disney, de maçã verde e cereja no canto da boca. Ou gosto de lágrimas que serão secadas com os lábios ou com os olhos flanelados de quem está apaixonado. Sempre esperando do outro, embora o medo seja só nosso.

Esta coisa de fotografar quando saímos para um passeio, não deixa de ser um registro histórico, que ocorre num determinado momento de nossa vida. Que também pode implicar numa experiência de amor vivida por alguém e que, ao fotografar aquele instante, eternizamos um momento da nossa história que marcou profundamente e que não volta mais. Pois, a cada novo dia, somos uma nova edição num mesmo corpo, só que não enxergamos dessa maneira. No entanto, nós queremos esse amor estrela, que vai povoar nossos sonhos e encher nossas cabeças com partículas desta atmosfera. Mas que também vai descer a terra para descascar cebola, lavar pratos, fazer compras no supermercado e dar xarope na hora da tosse. Contudo, continuamos fingindo que o amor não é importante para a nossa subsistência.

Entretanto, todos querem esse amor e poucos têm. Todos procuram por ele e poucos acham, e às vezes quando acha, logo, joga no lixo. Tudo por medo de viver e sentir esta emoção real. Receiam ter um elevador na barriga quando descobre a possibilidade de estarem apaixonados. Medo de sentir aquela bateria de escola de samba no coração no momento do encontro. Aquela música que nos faz lembrar a pessoa amada, porque a música nos remete ao tempo e no momento da ocorrência. Comumente, o outro se torna o meu espelho, sobretudo, quando olho para seus olhos e vejo os meus refletidos como se fosse uma pérola de brilhante.

Portanto, de quando em quando o amor pode aparecer e por ventos brandos ou temporais, é possível nos surpreender. E quando chegar esse momento nos sentiremos no cais, onde somos tomados por uma eterna calmaria. Dai em diante vamos entender que não somos mais capazes de viver em paz sem companhia. Vamos querer champanha no momento em que o corpo do outro desejará ser taça. Como não subimos a montanha russa, para sacolejar no espaço vazio, agora estamos nela. A vida pressupõe que experimente o amor, mergulhando na sua essência. Por que não aventurar-se no prazer de amar juntos? Por que não tentar ser feliz agora e não amanhã? Será que é por que dizem que a felicidade dura pouco? Contudo, passamos muito rápido pela vida, mas, ainda bem que registramos tudo, pelo pouco que vivemos.

11 de abril de 2019

POR MEDO OU ORGULHO NOS AFASTAMOS DO AMOR

Dizem os poetas que basta-nos apenas um minuto para encontrar uma pessoa especial. E mais ou menos uma hora para apreciá-la na sua totalidade. De modo que, precisamos somente de um dia para amá-la. E levamos uma vida inteira para esquecê-la. Por medo podemos nos afastar do amor, assim como por orgulho, nos afastamos de boas amizades. De modo que, viver com medo é viver pela metade. Porém, esse não é o nosso maior inimigo. O que realmente nos afeta é esse orgulho crônico que as pessoas fracas e medianas cultivam. Que elimina até a possibilidade de amizades solida e verdadeiras. Como dizia o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1927-2017): “o amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um tempo de secreta angústia”. 

No entanto, nada é feito para durar, não há nada de tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente necessário para os humanos. Tudo é transitório, até o amor. Não paramos para observar aquilo que experimentamos ao lado de pessoas maravilhosas que nos ascende e aquece com o seu calor humano. Sempre vamos ouvir alguém dizer: “eu sou assim mesmo, quem quiser que me ame como eu sou”. São pessoas que sempre vai achar uma justificativa para escapar do seu egoísmo. Está explicito nesta frase toda a sua arrogância e prepotência. Elas estão fechadas para o amor e nem um pouco receptivas com as relações amorosas. Sempre desconfiando de tudo e de todos. São pessoas difícil de convencer, pois, estão tomadas pelo medo e pelo orgulho.  Lembrando que sem diálogo não há entendimento e ambos saem da relação machucados. Evoluir afetivamente é o que mais se aproxima de boas amizades e de bons contatos íntimos. Toda relação é baseada nas afinidades.         

Portanto, o amor deriva da admiração e quando se perde esta admiração, perde-se o amor. Sendo assim, uma pessoa emocionalmente madura atrai relações entre pessoas mais parecidas, criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que da um viés mais sofisticado para a relação. Há um respeito pela individualidade um do outro, tornando as duas partes como iguais e equilibradas. Contudo, podemos estar junto de uma pessoa por algum tempo, e não sentir nenhuma vibração. Não acontece nada, não da química, não há comunicação entre os corpos. Ao contrário, quando há afinidades, trocas de olhares e uma boa comunicação entre ambos, começa ocorrer um fenômeno que só pode ser chamado de amor perfeito. É um momento de iluminação a dois, a luz de um reflete o brilho do outro. Quando encontramos esta pessoa que nos transforme no melhor que podemos ser, temos aqui uma linda história de amor. Sempre desconfiei que: “uma vida sem amor é uma morte lenta”.

9 de abril de 2019

NA SIMPLICIDADE ESTÁ A NOSSA MAIOR VIRTUDE

Com o passar dos anos aprendi a gostar do que é simples como: um abraço, um se cuide e cultivar boas amizades. Considero-me um fiel admirador das pessoas simples, pois para mim são as mais belas porque se deixam guiar pela emoção e pelo senso comum. São pessoas guiadas pela sua intuição e pelo coração que não conhece artifícios. Na verdade, gosto do cheiro de pessoas simples, sua fragrância do respeito, de um bom dia juntamente com um grande sorriso, de um se cuide com imensa sinceridade. Não há falsidade nos belos olhares dessas pessoas, nem tampouco em suas almas. E o que é mais curioso e também inspirador é saber que na atualidade, tanto no aspecto do desenvolvimento pessoal como no campo das grandes organizações, passou a ser moda resgatar o valor do simples. De fato, muitos especialistas em marketing e publicidade têm um lema que quase nunca falha: “faça-o simples e algo acontecerá”.

No entanto, Antônio Machado (1875-1939), um poeta espanhol, pertencente ao Modernismo, dizia: “é próprio dos homens de mentalidade pequena investir contra tudo aquilo que não lhes cabe na cabeça”. É sem dúvida um bom exemplo para descrever as personalidades para as quais as coisas sensíveis não têm sentido. Confundem o simples com o simplista. A simplicidade não tem nada a ver com ser ingênuo, muito menos com ser inocente. Na verdade, este conceito contempla um grande poder do qual quase não temos consciência. Segundo o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014) dizia: “a vida é como uma teia de aranha”. Hoje entendo o sentido desta frase. Nossas linhas se mesclam em ângulos estranhos, tomamos caminhos errados, nossos esforços não se correspondem ao que foi alcançado e ficamos presos a estas realidades terrivelmente complexas e sombrias. Sinto que a falta de simplicidade acaba por estragar tudo.

Por que é tão difícil nos deliciarmos com a simplicidade dos atos do dia a dia? Por que complicar tanto a vida? De certo modo, isso tem muito a ver com a nossa ambição de querer colher os frutos dos quais não plantamos. A alma simples e o olhar humilde são dimensões que não se encaixam muito bem em uma sociedade que associa o complexo ao eficaz, e em consequência, à felicidade. Vendem-nos computadores com muitos programas, celulares com aplicativos infinitos, os salões de beleza nos oferecem inúmeros tipos de tratamentos para o cabelo, e todos os dias nos lembram de que é bom ter muitos diplomas, muitos títulos, muitos amigos. A complexidade está associada à ideia de felicidade dourada, que na realidade nem sempre é verdade.

Por conseguinte, algo que deveríamos levar em conta é que as coisas grandes acontecem quando se faz bem as pequenas, e para isso, nada melhor do que praticar a arte da simplicidade nos nossos atos do dia a dia. Avançar com calma, sendo conscientes do que nos envolve e fazendo uso do senso comum e da intuição são sem dúvida as melhores estratégias para desfazer todos os nós dos nossos problemas mais complexos. Devemos confiar um pouco mais no nosso instinto e sermos receptivos à voz do coração. Às vezes deixamos de lado grande parte da nossa “quota de vida” imersa em esforços infrutíferos, que nos separam por completo daquilo que realmente desejamos. Contudo, lembre-se de que a complexidade não deve ser admirada, deve ser evitada, pois a arte de saber quais coisas devemos deixar de lado, será o único caminho que nos permitirá encontrar aquilo que realmente merecemos. Portanto, vamos melhorar a vida e torná-la mais simples, porque o chique é simples.

3 de abril de 2019

HUMILDADE NÃO TE FAZ MENOR, TE FAZ MELHOR QUE MUITOS

Aprendi com a vida, que sabedoria é reconhecer que humildade não faz ninguém menor, mas pode tornar uma pessoa melhor que muitas. Segundo o filósofo e educador Mario Sergio Cortella (1954), argumenta: “gente grande de verdade sabe que é pequeno e, por isso, cresce. Gente muito pequena acha que já é grande e o único modo dela crescer é rebaixando os outros”. É por certo, um comportamento lamentável de quem acha que já sabe tudo da vida, mas que no fundo ainda tem muito que aprender dela. Como dizia o sábio e líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948): “o dinheiro faz homens ricos, o conhecimento faz homens sábios e a humildade faz grandes homens”. Admitir que não sabe tudo, pedir ajuda para executar uma tarefa, contar com a experiência de outras pessoas, é atitudes para pessoa forte, que têm personalidade bem formada e não têm medo de deixar transparecer suas deficiências, fraquezas ou vulnerabilidades. 

Na verdade, o conceito de humildade fala sobre o reconhecer de fraquezas, limitações e do agir baseado nessas aceitações. De modo que, o ensinamento cristão é claro ao orientar que a humildade dever ser cultivada e mantida intacta, mesmo que a vaidade tente afanar seu lugar. A frase: “quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado” é um dos pontos altos da filosofia cristã, embora esse conceito possa ser aplicado em todas as filosofias de vida. Ela mostra o caminho duvidoso que é optar pela vaidade e pelo orgulho. De modo que, mesmo que isso lhe renda um status de bem-visto e benquisto por alguns, isso nem sempre se mantém. É mais construtivo assumir uma postura de humildade do que assumir-se superior e, em um momento de necessidade, não conseguir manter isso, como argumenta a escritora e ativista Alessandra Piassarollo.

Além disso, é incômodo conviver com alguém que se acha demais, que acha que sabe tudo, que está sempre com a razão, senhor de si e indisposto a abrir mão disso. Porém, o que posso dizer a essas pessoas: “está na hora de rever os seus conceitos”. Vale lembrar, que dentro do conceito de humildade há a consciência de que a vida termina para todas as pessoas, de que todos merecem um lugar sob o sol e de que o sucesso pessoal é relativo e feito apenas de momentos. No entanto, uma pessoa humilde de fato, tem sempre em mente que a vida é uma roda-gigante e prepara-se para todas as subidas e descidas, tratando todos de igual para igual e aproveitando todas as oportunidades para absorver algum aprendizado. De modo que, não se vale de títulos, de prestígio social e nem de privilégios quaisquer que por ventura tenha alcançado.

Portanto, a humildade não sofre com crises de identidade, não lança mão da superioridade nem da arrogância. Mantém-se distante dos aplausos e reconhece todas as suas limitações. Feliz é quem se alia a ela, pois terá a oportunidade de viver uma vida mais feliz e mais liberta, sem se sentir na obrigação de provar nada a ninguém. A pessoa que compreende os benefícios de se viver com humildade, aceita mais facilmente que em algum momento da vida sentirá a necessitar de ajuda. Essa aceitação gera paz e uma vida mais tranquila. Não precisamos sentir-nos super-herói e nem fugir das fragilidades que todos nós sentimos. Ao contrário do que possa parecer, essa aceitação é sinal de força e pode evitar abalos na estrutura emocional de quem se reconhece como um “ser limitado”.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...