28 de abril de 2019

EDUCAÇÃO, DIÁLOGO E LIBERDADE

Abro esta reflexão com uma frase do filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997) que dizia: “A opressão, que é um controle esmagador, é necrófila. Nutre-se do amor à morte e não do amor à vida”. Isto quer dizer que para as elites dominadoras, este modelo de educação é uma ameaça a elas, tem o seu remédio em mais dominação, na repressão feita em nome, inclusive, na liberdade e no estabelecimento da ordem e da paz social. No fundo, paz social não é outra senão a paz privada dos dominadores. As duas citações estão no livro “Pedagogia do Oprimido”, um dos mais importantes livro de Paulo Freire, que virou um dos alvos preferidos do governo Bolsonaro, durante a campanha presidencial, o atual mandatário do país chegou a falar em “entrar com um lança-chamas no MEC (Ministério da Educação) para tirar Paulo Freire de lá”.

Seus aliados seguem a mesma linha e, como era de se esperar, exaltados aderiram ao discurso e também passaram a atacar o estudioso. Mas, será que todas essas pessoas conhecem mesmo Paulo Freire? Será que todos eles leram a sua obra? Pois bem! O educador é um dos brasileiros mais respeitados no mundo todo, principalmente, na Europa. Tanto que recebeu mais de 40 títulos de doutor “honoris causa” e, na Academia, é o terceiro pensador mais citado em trabalhos escritos em inglês, um feito excepcional. Só isso já nos dá uma dimensão de sua importância. Primeiro vão estudar Freire, para falar sobre sua obra. Falta leitura para certos políticos. Nem notícia se teve, no Brasil, do Dia Internacional do Livro, na terça-feira (23/04/2019). Só na Catalunha, com a festa centrada na feira de livros de Barcelona, 400 autores autografando, os espanhóis estimularam a venda em sete milhões de exemplares. Entre nós, de janeiro a março deste ano a venda caiu 1,2 milhão de livros. O que a diferença significa no presente é quase nada se comparada ao que diz do futuro por aqui, e ainda querem acabar com a Filosofia e a Sociologia, porque faz pensar.

Pelo que estamos vendo na chamada nova política bolsonaristas, faz todo sentido alguém dizer com todas as letras, que espera que nossas escolas formem pessoas menos politizadas e, contudo, ainda querem privar milhões de jovens que desejam estudar Ciências Humanas. De modo que, para Paulo Freire a palavra liberdade, diálogo, revolução e principalmente o amor pela educação, estão entre as palavras que servem de pilares para a sua obra “Pedagogia do Oprimido”, aonde ele se dedica a estudar os esfarrapados do mundo e depois argumenta que nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a usar a maiêutica socrática do: “Por quê?”, Também mostra que seu olhar não é ingênuo, que não é desses que acredita que os subjugados possuem uma espécie de bondade inata.

Portanto, através da manipulação, essas elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas (rurais ou urbanas), tanto mais facilmente se deixa manipular por eles, que não podem querer que se esgote o seu poder. A manipulação se faz por toda a série de mitos a que nos referimos. O modelo que a burguesia se faz de si mesma às massas com possibilidade de sua ascensão. Para isto, porém, é preciso que as massas aceitem sua palavra. Muitas vezes esta manipulação, dentro de certas condições históricas especiais, se verifica através de pactos entre as classes dominantes e as massas dominadas. Pactos que poderiam dar a impressão, numa apreciação ingênua, de um diálogo entre elas. Na verdade, estes pactos não são diálogos, na profundidade de seu objetivo, está inscrito o interesse inequívoco da elite dominadora. Os pactos, em última análise, são meios de que se servem os dominadores para realizar suas finalidades.

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