30 de julho de 2016

TEMPO EM SI E TEMPO HUMANO

Dizemos comumente: “o tempo passa”, quando na verdade, o que é o tempo? Por que ele passa? Como ele passa? Passa para onde? Talvez para fugir da ideia de que nós passamos, envelhecemos e morremos, despistamos nossa consciência para a ideia de que é o tempo que passa. Comemoram-se aniversários, natais e passagens de ano, fazendo-se barulhentas festas como que para exorcizar de nós a ideia da enfermidade da vida; como que para enganar-nos com a ideia de que é o tempo (dias, meses, anos) que está passando. Quando na verdade, somos nós que passamos pelo tempo. A única certeza da existência do tempo são suas marcas que carimbam os nossos corpos, fazendo com que envelheçam até morrer.

Há um momento especialmente comovente no livro “Confissões” do teólogo e filósofo bispo de Hipona Santo Agostinho (354-430), em que ele escreve sobre o que é o tempo e argumenta: “Se ninguém me pergunta o que é o tempo, eu sei o que ele é. Mas, se me fizerem a pergunta e eu quiser explicar o que é o tempo, já não saberei o que dizer. Porque, segundo eu posso pensar que o tempo divino, não é o tempo humano. O tempo divino seria a duração pura, eterna, infinita, portanto, sem passado, presente e futuro. Ao passo que a primeira percepção que o ser humano tem do tempo, é de passado, presente e futuro”. E Santo Agostinho continua sua reflexão dizendo: “Mas é estranho nós pensarmos que o passado passou, não existe mais e que o futuro ainda não existe e que o momento presente é um movimento para o passado. Daqui a um minuto de ter afirmado o que estou dizendo agora, já será passado”.

Mais adiante continua Santo Agostinho: “no palácio da memória o homem fica maravilhado de perceber, o que existe é o presente das coisas passadas, o presente das coisas futuras e o presente das coisas presentes”. Isto ele falou a quatorze século antes de Sigmund Freud (1856-1939), no sentido de que é o passado que permanece na estrutura psíquica, na estrutura de alma, na estrutura de vida do ser humano. Esse é o presente das coisas passadas. No entanto, o futuro é projeto, desejo, planejamento, ou seja, é o presente das coisas futuras. Sendo assim, o presente das coisas presente é quando estou respondendo à paixão de viver em harmonia a vida que me foi confiada.

Prossegue o filósofo cristão os seus pensamentos sobre temporalidade, considerando esta última de um ponto de vista psicológico. Argumenta Santo Agostinho que tempo longo ou breve só o podemos afirmar do futuro ou do passado. Chamamos longo ao tempo passado, se é anterior ao presente. Por exemplo, como era a organização social há cem anos? Do mesmo modo dizemos que o tempo futuro é longo se é posterior ao presente. Por exemplo, como estará o mundo daqui a cem anos? Chamamos breve ao passado, se dizemos já faz dez dias, e ao futuro se dizemos, daqui a dez dias. Mas, como pode ser breve ou longo o que não existe? Com efeito, o passado já não existe mais e o futuro ainda não existe. Por isso que só podemos estudar o tempo do ponto de vista psicológico, isto é, o tempo tal como é dado ao ser humano percebê-lo com suas possibilidades mentais.

Por conseguinte, esta realidade complexa chamada tempo, uma vez considerada na teia das nossas maquinações mentais, é da maior importância para a compreensão da vida e da historicidade da vida humana. Segundo o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), argumenta: “O tempo é o próprio tecido da existência”, pois, o “Ser” ocupa um lugar no espaço e define sua realidade no fluir do tempo. Eis porque o tema da temporalidade se constitui em um dos pilares de sustentação da teoria da historicidade humana. E assim sendo, torna-se de todo indispensável que examinemos  as modalidades que a realidade tempo assume nas construções praxiológicas e metas-reflexivas do ser humano. Para nós seres humanos o tempo não pode ser mais do que aquilo que nos é dado apreender de sua existência.

Portanto, encerro essa reflexão, usando a metáfora “o tempo como senhor da razão”. Havia uma ilha habitada por todos os sentimentos, entre eles estava o Amor. Certo dia foi avisado que a ilha iria se afundar. Todos se apresaram em sair da ilha. Ninguém quis levar o Amor, exceto um velhinho que ofereceu o seu barco para o Amor que já estava desesperado e em prantos. O Amor ficou tão feliz que se esqueceu de perguntar qual o nome daquele senhor. Chegando a terras firmes, o Amor perguntou a Sabedoria: “quem era aquele velhinho tão gentil que me trouxe até a praia”. “Era o tempo”, respondeu a Sabedoria. Indagou o Amor: “o tempo”? “Mas, por que só o tempo me trouxe até aqui”? Com toda a serenidade que lhe é peculiar, respondeu a Sabedoria: “Porque somente o tempo é capaz de entender um grande o Amor”. 

27 de julho de 2016

EDUCAÇÃO SE FAZ ATRAVÉS DO ENCONTRO HUMANO

Está em nossas mãos construir uma educação que tenha o ser humano como referência. Para que ele possa expor o seu ponto de vista, nada melhor que a escola, como ponto de partida na construção de um mundo mais humano. Só a educação pode nos dar esse respaldo, fora dessa realidade vamos ter uma sociedade excludente, sem pensamento lógico, isto é, um pensar que aponte para o futuro numa perspectiva mais humanista, sobretudo, com um olhar de generosidade e condescendência para com as crianças. A criança chega à escola trazendo uma sacolinha cheia de sonhos, porém, ela não aprende porque é bobinha e não da o melhor de si. Sua maior dificuldade está em que ninguém olha para os seus sonhos. Até parece que esquecemos o que é ser criança, o que é sonhar. Vale lembrar, que os sonhos iniciam precisamente a partir do segundo nascimento.

Na verdade, nascemos duas vezes. No primeiro nascimento trazemos uma carga genética hereditária, chamada “cromossomos” e no segundo nascimento trazemos outra carga hereditária e familiar que é o “como somos”. De certo modo, o segundo nascimento está ligado ao simples fato de dar e receber atenção, ou seja, manter o foco nas relações interpessoais. Para ilustrar trago um dado importante, que pode ser resumido numa frese: “quem não tem a atenção de ninguém, não sente o seu existir”. Se um grupo de pessoas resolvessem fazer uma brincadeira no trabalho ou entre amigos. Por exemplo, amanhã vamos ignorar o fulano. Ninguém olha e nem fala com ele. Seria uma tortura mortífera, talvez um dos piores castigos que se pode dar a alguém no mundo. Uma pessoa tratada com indiferença está muito próxima de um morador de rua. Aquele camarada que mora debaixo da ponte onde não tem atenção de ninguém. Nem o cachorro na rua olha para ele. Existirá coisa pior que isto?

Curiosamente, mais da metade do consumo no mundo é feito para as pessoas se exibirem. Não é bem assim! Quem exibe uma roupa bonita e elegante, é para ser notado. “Olha eu aqui”! Se ninguém me olha, não sinto que existo. O que a criança espera do professor no seu primeiro dia de aula? Ser notada pelo mestre com carinho. Se no primeiro contato a professora olha para a criança com cara de mãe, não está olhando nem para criança e muito menos para seus sonhos. Simplesmente ela está repetindo o olhar de coação ou rejeição que a criança recebe diariamente dos adultos. E se o olhar da professora for de autoritária e mandona, a criança se fecha ou se rebela. Certa vez uma professora flagrou uma criança imperativa desenhando e perguntou: “menina você não fez a tarefa que pedi. O que está a desenhar?” Prontamente respondeu a menina: “Deus”. Indagou a professora quase sem paciência: “mas ninguém conhece Deus pessoalmente”. Tranquilamente respondeu a menina: “espera um pouco que a senhora vai conhecer”. Não precisa dizer que se trata de uma criança criativa. Uma menina que com uma folha de papel e um lápis foi capaz de materializar um sonho. Esse é o momento criativo da criança, que está propondo a dança das fantasias. É nesse universo fértil que constrói o saber com prova. Lembrando que fantasia é diferente de sonhos.

As crianças são os melhores filósofos, porque sabem perguntar e interpretar. Alguns anos atrás uma amiga supervisora de ensino, contou-me sobre sua visita numa escola rural, localizada no interior do estado de São Paulo, no meio de um canavial. A professora da classe ficou um pouco constrangida e até assustada, pois fazia uns quatro anos que a escola não recebia a visita de um Supervisor de Ensino. Por conta da surpresa, foi logo mostrando os cadernos dos alunos e o quanto eles já sabiam ler e escrever (ensino fundamental). Para exemplificar a sua afirmação a professora escreveu na lousa: “A asa é da caneca”. Imediatamente, um pequenino (não tinha mais que sente anos), disse que a frase estava errada. A professora disfarçou a conversa e pediu para um segundo aluno ler. Este leu “a asa da caneca”. Foi elogiado pela supervisora, mas ela dirigiu-se ao primeiro aluno e lhe perguntou: “porque a frase está errada?”. Respondeu o menino: “porque a asa é do passarinho”. A supervisora perguntou: “e a caneca, o que é que tem?” Ele respondeu: “a caneca tem cabo”. Evidentemente que o segundo aluno fez uma leitura mecânica, mas o primeiro aluno, interpretou, analisou e concluiu. Isso é alfabetização.

No entanto, se a sua constatação (a frase está errada) não tivesse sido explicitada, tanto a supervisora como a professora perderiam a chance de compreender a sua aprendizagem na leitura e, certamente esse aluno seria avaliado como indisciplinado e burro. Porém, a escola nos oferece propostas simples para um mundo complexo. As crianças na sua maioria pobres, elas só têm sonhos e esperanças de que um dia melhore. Todavia, o ofício de ensinar e despertar nas crianças o encanto pelas letras, não é para aventureiros. Apropriar-se do conhecimento nos faz mais humano, nos faz ver a criança como alguém que sonha. É olhar para criança e pensar: “posso fazer desta pessoinha, melhor que eu. Talvez eu não tivesse um professor tão bom quanto posso ser para esta criança que coleciona sonhos”. Como educador não posso fazer nada que venha a envergonhar a criança que já fui um dia. O papel do professor é formar bons profissionais, mas a nossa maior dificuldade é formar cidadãos conscientes e mais humanos.

Nobres professores não vão deixar morrer a capacidade que a criança tem de sonhar. A lógica da vida não é mecânica e sim orgânica. O papel da escola é ampliar o conhecimento elevando o horizonte de sonhos da criança. Resolver mecanicamente não funciona. Um livro que não toca e nem encanta a criança não serve para nada. Vamos tirar a ideia de ensinar a criança e colocar a ideia de compreender o seu universo simbólico. Porque todo conhecimento começa com um sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas, sonhar é coisa que não se ensina na escola. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra. Com sabedoria, cabe ao professor olhar para os olhos da criança e dizer: Conte-me os seus sonhos, para que sonhemos juntos. Vamos tornar a criança suportável, a fazer amigos, a lapidar sua agressividade e aprender a conviver com os iguais. Para o filósofo e educador francês Olivier Reboul (1925-1992), esta pedagogia chama-se “educação dos sentimentos”. Se a educação não pode tudo, não se pode nada sem ela.

Portanto, através dos pais e educadores as crianças aprendem o que é ser gente grande. Aprendem a brincar, a estudar, a trabalhar, a amar e nunca desistirem de sonhar. A criança forma na infância a imagem do que é ser adulto responsável. De modo que, pais e professores querem exercer sua missão com o máximo de perfeição e nem sempre conseguem. Sendo que na vida nada é absoluto. Sempre há margem para o aperfeiçoamento, uma vez que a perfeição não é um atributo humano. O que a criança espera dos pais e dos professores é que fiquem do seu lado, não acima da criança. Eles querem sentir que não estão sozinhos no mundo. Contudo, filho é um envelope gigante que os pais e professores mandam para o futuro. Sendo que pai e professor são apenas dois selinhos pequenos, que sem esses dois selinhos esse envelope gigante não vai a lugar nenhum. Concluo essa reflexão citando o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014), que dizia: “Senhores educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, sejam especialistas em amor: intérprete de sonhos. O menininho sonhava. Como Deus, que do nada criou tudo, ele tomou o nada em suas mãos, e com o nada fez o seu carrinho. Imagino que, também como Deus, ele deve ter sorrido de felicidade ao contemplar a obra de suas mãos”. 

24 de julho de 2016

O RITUAL DE RENOVAÇÃO DA ÁGUIA

A natureza é sabia e tem muito a nos ensinar. Viver não é sinônimo de esperteza. Quem caminha mais longe na vida não são os espertos e sim os inteligentes e sábios. Esta sabedoria que emana da natureza é que produz a perfeição e vai enriquecer todos os seres vivos. Conhecemos com os sentidos ou com a inteligência, quando refletimos e experimentamos um prazer. Olhar para o amor que nutre a vida daqueles que admiramos. O amor que damos fica no outro e constituem a sua riqueza e para nós a satisfação em dar e receber. Ao contrario dos espertos que fingem amar seu próximo por interesse pejorativo. Estão sempre certos sobre o que fazem e falam, por isso são intolerantes. Por que vão ouvir as ideias diferentes se estão sempre certos? Nunca estão abertos ao diálogo e nem as novas ideias. São incapazes de escutar o próprio coração sobre o que sentem de verdade. Não olham para a vida com sabedoria e compaixão. Como dizia Rubem Alves (1933-2014): “na vida a gente tem que se lançar como se lança no abismo. Ter fé é nunca desistir do seu objetivo”. No entanto, o grande exemplo vem da natureza. 

A águia é uma ave que entre as espécies, é a que possui a maior longevidade, chegando a viver em média setenta anos. Mas para chegar a essa idade, mais ou menos aos quarenta anos ela tem que tomar uma série de cuidados, além de uma difícil decisão. É uma idade que ela está com as unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as suas presas. O bico alongado e pontiagudo se curva, dificultando sua caçada. Apontando contra o peito estão as asas, envelhecidas e pesadas em função da grossura das pernas, e voar se torna difícil. Então a águia só tem duas alternativas: “morrer ou enfrentar um doloroso processo de renovação que irá durar mais ou menos uns cento e cinquenta dias”. Este processo consiste em voar para o alto de uma montanha e se recolher em um ninho próximo a um paredão onde ela não necessite voar. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico contra a pedra até conseguir arrancá-lo. Após esse procedimento, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. Só então, após cinco meses em média, ela sai para o famoso voo de renovação, para viver por mais uns trinta anos. 

Quando digo que a natureza é sábia, são por esses efeitos que ela produz. O ritual de renovação da águia além de uma linda história é um exemplo de motivação e perseverança. Vale lembrar, que a águia é estereotipada, ou seja, movida por instintos de sobrevivência e não por decisões próprias. Quando uma águia é vista bicando pedras estão fazendo isso instintivamente. Os estudos mostram que o bico e as garras da águia com o passar dos anos, torna-se cada vez mais fortes. Além disso, ela não suportaria ficar sem comer por vários dias até que um bico novo cresça, ficaria desnutrida e morreria. Por outro lado, sua longevidade também é questionada, não existe nenhum registro científico que comprove que águia possa chegar a essa idade. A sua duração existencial depende muito das condições ambientais e das espécies de águia, que não vou entrar aqui no mérito da questão. A renovação da águia é apenas uma alegoria, uma metáfora. Pois estou interessado no que podemos extrair com os exemplos da natureza. Tendo em vista, que o homem é um predador nato da natureza. Sua meta é lucro e não a preservação do meio ambiente.

Portanto, muitas vezes na vida temos que parar e refletir por algum tempo, e dar início a um processo de renovação. Devemos nos desprender dos preconceitos, dos maus costumes, de tudo aquilo que não é útil ou importante, para assim continuarmos a voar. Porém, quando livres das barreiras e pesos do passado, poderemos aproveitar o resultado valioso que uma renovação sempre traz. Contudo, se conseguirmos destruir o bico do ressentimento, arrancar as unhas do medo, retirar as velhas penas das asas, permitindo o fluir de novos pensamentos. A vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Que nossa viagem seja tranquila, que tenha valido a pena e que, quando chegar à hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades, assim como boas recordações, para aqueles que vão continuar a viagem. Tenhamos amigos de verdade, que mesmo maus e inconsequentes, sejamos corajosos e fiéis, confiando sem duvidar. O meu embarque no trem da vida, começou em Botucatu SP. Passei pela estação de Marília SP. Foi lá que conheci uma linda menina que brincava a beira da linha e acenava para mim, enquanto o trem passava. Depois que a conheci, minha vida passou por uma profunda renovação e nunca mais viajei sozinho. A lição que fica sobre o voo da águia é a seguinte: “alcance um lindo voo para uma vida de sonhos e realização”.

21 de julho de 2016

O POEMA DE VELUG

Quando daqui algum tempo, espero que muito distante de hoje, chegastes aos confins do azul do céu, guardastes justamente nos teus olhos toda cor deste planeta, que enfeitou este amor. Que alegrou a beleza dos rios e dos verdes campos por onde pisou. E as canções de amor que ouvia no silêncio da noite, venham tecidas no seu jeito de ser mulher. Nutrindo as lembranças de quem prover.

Hoje veio uma música a seguir teus passos e pude ver teu brilho, com cauda de um cometa alado que refulgisse os nossos preocupados corações. No balanço da música, brincava com o nosso espaço, renovando os anos passados. No dizer do cantor Arnaldo Antunes (1960): “não quero morrer, pois quero ver como será que deve ser envelhecer”.

Velug construiu em nossa morada um universo novo, em nosso mundo pobre uma riqueza, que o tempo transformou em sinfonias. Com essa musicalidade do seu corpo, é que renovo a gratidão de haurir tuas levezas, minha razão se incendeia. Teus olhos é uma janela acesa de vida, que tritura as ansiedades e acolhe gente que chora neste simples proseador.

Deixa o rio andar ou empurra um rio abstrato, mantendo as vidas da vida. Rasga-me por dentro uma dor alexandrina, em espessidão de cores, cortes de metal, em vagalhões de mar e luz, misturando o céu e a terra. Vinda de outras vidas sangra-me o espírito que a espera. Sentimos uma dor que não dói, mas pode ser fatal. “O Poema de Velug, uma deusa grega, foi consagrada pelo filósofo que escreveu o Poema”.  

20 de julho de 2016

UM OLHAR DIFERENTE PARA A CIÊNCIA

Vivemos numa era baseada em ciência e tecnologia com formidáveis poderes tecnológicos, são os nossos propulsores que nos levam adiante a velocidades aceleradas. A questão é se não entendemos e não acompanhamos essa nova era, ficamos para traz, ou seja, as pessoas de modo geral, não querem pensar sobre os avanços da ciência usando um discurso comum: “não sou bom nisso, não sei nada sobre”. No entanto, quem está tomando todas as decisões sobre ciência e tecnologia, que determinarão em que tipo de futuro nossos filhos viverão, são apenas alguns membros do Congresso Federativo. Uma minoria de parlamentares que tem realmente, algum conhecimento de ciência e sabe debater sobre o assunto. A maioria não quer saber ou não acha a discussão relevante, para debater com o povo.

Qual é o perigo de tudo isso? Vejo dois tipos de perigos. Um é criarmos uma sociedade baseada em ciência e tecnologia, onde ninguém diz absolutamente nada sobre ciência e nem quer saber sobre quais os rumos que ela vai tomar. Esta mistura combustiva de ignorância e poder, na certa, cedo ou tarde vão explodir nas nossas caras. Quem está comandando a ciência e a tecnologia, numa democracia aonde o povo não sabe nada sobre isto? A segunda razão pela qual nos preocupa, é que a ciência mais do que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar diferente. Uma forma cética de interrogar o universo, com pleno entendimento da limitação humana. Se nós não estamos aptos a fazer perguntas céticas, para interrogar aqueles que nos dizem que algo é verdade e sermos céticos quanto àqueles que são autoridades, vamos ter problemas. Porque, estamos sempre à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer.

Para fundamentar minhas razões cito Thomas Jefferson (1743-1823), ele foi o terceiro presidente dos Estados Unidos de 1801 a 1809, foi também o principal autor da Declaração de Independência em 1776, sendo ele o mais influente neste episódio. Dizia ele: “exaltar certos direitos civis em uma Constituição ou Declaração de Direitos, o povo tem que ser educado e praticar seu ceticismo e sua educação, de outra forma nós não controlamos o governo, pois nesse caso é o governo que nos controla”. O presidente Jefferson era incrível na sua devoção a ciência. Além de um homem culto, era um defensor apaixonado da liberdade. Por que será que os Estados Unidos é hoje um país de ponta em linhas pesquisas? Porque Thomas Jefferson no seu coração era um filósofo e cientista.

Essa noção de que ciência não é do nosso interesse, está implícito que de alguma forma não queremos aprender e muito menos estudar. As pessoas lêem a cotação da bolsa e as páginas financeiras, tão complexas quanto desenvolver pesquisas, mas há uma motivação para isso evidentemente. As pessoas conseguem ler estatísticas sobre o esporte e outros temas, e entender ciência e método de pesquisa, não é mais difícil do que outros assuntos. Não envolve grandes atividades intelectuais. Mas a questão sobre a ciência, primeiro de tudo ela está atrás do que realmente é o universo e não do que nos faz sentir bem. Por outro lado, as doutrinas opositoras estão interessadas no que nos faz sentir bem e não do que é verdade. Muitas pessoas acreditam que a ciência não explica os fenômenos que acontece na religião, porque a religião é baseada na fé e não em ciência.

Vamos olhar mais profundamente nisto. O que é fé? É a crença na ausência de evidências, mas acreditar quando não há evidência persuasiva é um erro. Para o cientista, astrônomo, astrofísico e escritor norte-americano Carl Sagan (1934-1996) se o universo não for de acordo com as nossas predisposições, então temos a obrigação de aceitar o que o universo realmente é. Religião lida com história, com poesia, com ótimas literaturas, com a ética e com a moral. No entanto, ela prega a compaixão aos menos afortunados dentre nós. Onde a religião se mete em encrenca, é quando ela finge saber algo sobre a ciência. Por exemplo, na bíblia a ciência foi adquirida pelos judeus babilônios durante o cativeiro no ano 600 a.C. naquela época para eles era a melhor ciência principalmente para o plantio. Mas, nós aprendemos alguma coisa a mais depois deles. O problema aparece quando se toma a bíblia literalmente.

Quem é mais humilde? O cientista que olha para o universo com a mente aberta e aceita as suas leis que o rege ou alguém que diga que a bíblia tem que ser aceita como verdade absoluta? Pensar assim é não aceitar a falibilidade dos seres humanos envolvidos na escrita deste livro. Pode-se ver essa crendice em todas as partes do mundo. Na Índia existe uma loucura ao redor da astrologia. Na Inglaterra são os fantasmas. Na Alemanha são as coisas saindo da terra que só podem ser detectadas por Radiestesia. No Brasil as pessoas são fascinadas pelos OVNIs, ou seja, disco voador. Algumas até acreditam que já foram abduzidas por um Etê. Na verdade, todos os países têm suas próprias superstições. Ninguém está preocupado em usar corretamente o método científico ao aproximar desses temas.

Há evidências adequadas para certos momentos na vida que nos balança emocionalmente. Perdi minha mãe a cerca de seis anos atrás. Tinha um ótimo relacionamento com ela, realmente sinto muito a sua falta. Adoraria acreditar que ela virou espírito e anda por aí em algum lugar. Daria qualquer coisa para ter pelo menos cinco minutos por ano ao seu lado, só para ouvir a sua voz e abrandar a saudade. Para atenuar essa dor que me consome, costumo visitar ou ligar para uma senhorinha muito especial e querida, que está entre nós. Gosto de ouvir a sua voz e seus conselhos. Ela nem imagina o bem que me faz. É como se fosse uma segunda mãe. A questão é que não sabemos se há vida fora da nossa ou não. Mas antes vamos checar as evidências. Seria uma arrogância para qualquer um acreditar que não há nenhuma vida fora da nossa. Excluir essa possibilidade é uma arrogância do nosso intelecto que não deveríamos cometer. A vida após a morte não é impossível, e sim improvável. Não se pode negar e nem afirmar. Contudo, não queremos dizer que toda afirmação fraudulenta tenha que ser aceita. Se um médium me disser, posso lhe colocar em contato com sua saudosa mãe, porque ele percebeu que quero tanto acredita nisso. É o momento de buscar todas minhas reservas de ceticismo, porque estou disposto a ser enganado e ter meu dinheiro tomado.

Portanto, neste olhar diferente da ciência, coloco mais uma questão em evidência, que nesses últimos quatro anos me fez pensar muito. Descobri que através do amor resgatamos coisas que perdemos pela vida. Acredito que a vida sempre nos da uma nova chance para resolver alguma coisa que deixamos para traz. Podemos reencontrar aquela pessoa que fizemos algum mal no passado e reparar o nosso erro agora. Porque só o amor faz as pessoas evoluírem espiritualmente. A capacidade de sentir amor faz a pessoa melhorar como ser humano. Às vezes surgem certas situações que atravanca a nossa vida. Uma relação mal resolvida seja lá com quem for só vamos superar o desencontro e o mal entendido se houver amor entre ambos. Para um bom relacionamento humano é preciso que cada um se abra para receber o calor da vida que está sendo oferecida no olhar do outro. É a descoberta do potencial um do outro e assim travar uma nova relação de amor. Em outras palavras, é um caso de amor que temos com a vida. O que se constrói com amor, não se perde nunca e viverá para sempre na lembrança de quem fica. Contudo, uma pessoa só morre quando o ultimo que a conheceu morrer. Enquanto isso ela está viva na lembrança de alguém.        

17 de julho de 2016

TANTO NO AMOR COMO NA VIDA

O amor é a nossa imagem e manifestação da vida. Tanto no amor como na vida, estamos sujeitos às mesmas revoluções e mudanças. A nossa existência é resplandecente, permeada de momentos alegres e cheia de esperanças, pelo simples fato de sermos felizes por amar. Este agradabilíssimo estado leva-nos a procurar outros bens muito mais sólidos para continuar a viver. Não nos contentamos por estar vivo, considerando a vida com o fato de subsistirmos, queremos progredir, ocupamo-nos com os meios para nos aperfeiçoarmos e para assegurar a nossa boa sorte. Se houver amor melhora ainda, aumenta a nossa esperança na vida. Amor e vida caminham juntos, nutrindo um ao outro, se por algum motivo não for assim, não há prazer nas conquistas. Tudo está insatisfeito e sem vida, deixando a desejar. Esta incompletude é que nos vai exterminando aos poucos. Como diz a música “Morro de Saudade” do poeta e compositor Gonzaguinha (1945-1991): “ó fantasia da minha vida, meu sonho gostoso, meu gozo. Ó minha estrela, essa saudade me deixa assim tão nervoso”.

Procuramos a proteção divina, mostrando-nos solícitos aos nossos semelhantes e não aguentamos que outros queiram o mesmo que temos em vista. Será porque somos egoístas? Este estímulo de continuar a existir acumula-nos de mil trabalhos e esforços que logo se apagam quando alcançamos o desejado. Todas as nossas paixões ficam então satisfeitas e nem por sombras podemos imaginar que a nossa felicidade tenha fim. No entanto, esta felicidade raramente dura muito e fadiga-se da graça da novidade. Para possuirmos o que desejamos não paramos de desejar mais e mais. Habituamo-nos ao que temos, mas os mesmos haveres não conservam o seu preço, como nem sempre nos tocam do mesmo modo. Mas, há uma energia que nos impulsiona e nos toca profundamente, impedindo de nos acomodar ou desistir. Amor e vida caminham juntos, nutrindo um ao outro. Nossa força poderosa que nos mantêm vivos e atuantes está no amor.

Entretanto, mudamos imperceptivelmente sem nos aperceber. O que por nós foi adquirido torna-se parte da nossa vida. Sofreríamos muito com a sua perda, mas, já não somos sensíveis ao prazer de conservar o adquirido. A alegria já não é viva, procuramos no outro lado que não naquele que tanto desejamos. Essa inconstância involuntária acontece com o tempo que, sem querermos, não perdoa. Mexe no nosso amor e na nossa vida. Apaga sub-repticiamente dia a dia algo da nossa alegria e esperança, destruindo os nossos maiores encantos. Na maturidade sentimo-nos viver, porque sentimos que estamos apaixonados pela vida e pelo o que dela conquistamos. Sentimos a delicia de ser o que somos e o prazer do êxtase que o amor nos oferece. De toda a sabedoria, a descoberta do amor é o mais complexo dos sentimentos que aos poucos vamos desvendando.    

O amor já não subsiste por si mesmo, quando o maltratamos, indo alimentar-se do veneno maléfico do orgulho. Esse estado de amor corresponde àquela idade em que começamos a ver por onde devemos acabar com ele, mas não temos a força para acabar diretamente. Somos fracos diante do amor e covardes perante a vida que nos da à oportunidade de amar. Se caminharmos juntos, no mesmo ritmo, as diferenças serão compensadas pela igualdade de nossos esforços em entender e vencer os obstáculos desse descompasso. Tudo porque a vida é um mistério daquilo que nós dela fazemos. Crucificamos Jesus e soltamos o ladrão Barrabás! Seria o mesmo que crucificar o amor e por em liberdade o explorador. É desistir do que a vida lhe oferece. Parece que viver é lutar contra alguém e amar é ser imolado. Não há como amar sem viver e nem viver sem amor. No declínio, tanto no amor como na vida, ninguém quer resolver-se a evitar a maneira de prevenir os desgostos que ainda estão por vir quando desistimos.       

Por conseguinte, à medida que a idade vai avançando, sentimo-nos viver e ao mesmo tempo sentimos o peso dos anos, mas somos tomados por uma sabedoria que nos faz perceber que estamos apaixonados pela vida, principalmente, quando sentimos essa energia manifestada de forma amorosa. Ainda se vive para aceitar os males futuros, mas não para os prazeres presentes. A desconfiança, o ciúme, o medo de nos tornarmos insistente e o medo que nos abandonem são males que carregamos, tal como as doenças da alma e do coração que se agarra ao longo da vida. Sentimos medo de não haver outra oportunidade. Neste momento nos vem à mente o que é a vida. O que é viver. A vida nos da à oportunidade de conhecer o amor, nos da à oportunidade de conhecer um amigo de verdade, de conhecer o prazer e a alegria do que é estar vivo. No entanto, por orgulho desistimos com certa facilidade de sentimentos tão nobres. Há uma tendência em nós, de desistir do prazer e da alegria com muita facilidade.

Portanto, negamos sentimentos tão evidentes, que a vida nos oferece como prêmio pela nossa existência. Em algum momento a vida vai desistir de nós, não por orgulho, mas por determinações biológicas. Ficará apenas o arrependimento e a saudade para os que continuarem nela. Saudade não é falta, porque a falta implicaria em jamais ter existido algo ou alguém que despertasse o sentimento de amor e prazer ou de sorrir ao recordar daquele momento ímpar. Cenas e sensações da alma que repaginam até mesmo a mais cinza das imagens. Contudo, morro ou vivo de saudade? Se morro é por reconhecer que ela me acompanhará adiante e além. Mas se vivo, talvez seja porque de alguma forma, ela instiga o meu ser a não estar nunca em espécie de adeus. Concluo com uma frase da música “Nada Apaga Essa Paixão” de Mauricio Mattar (1964): “nem sempre a gente tem palavras para falar de coração, e agora meu silêncio me deixou na solidão”. 

13 de julho de 2016

A VIDA É COMPLEXA, INTENSA E RÁPIDA

Viver é bom demais, nós é que somos complicados. Não cultivamos relações afetivas duradouras, tudo parece descartável. Somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. A vida real das pessoas não é flor que se cheira. Todos vigiando a todos, em qualquer lugar que esteja sempre tem alguém nos olhando. O homem é um perfeito chipanzé, está sempre interessado no que está envolta e principalmente, no que o outro está fazendo. No entanto, existe uma multidão nos observando, a toda hora e todos os dias. De modo que, todos controlam a todos. Cada um de dedo em riste apontando para o outro. Todos que se aproximam são uma ameaça, pelo simples fato de todos vigiarem a todos. E qual será a arma mais usada para manter a estrutura social? Está arma chama-se fofoca. Entretanto, ninguém leva a sério a fofoca, por achar esse assunto banal. Pois devia! Deve ser levado a sério pela importância que esse assunto tem e pelo estrago que pode causar na vida familiar e social de muitas pessoas. Se não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em apontar os defeitos nos outros.

No entanto, mais da metade de todas as fofocas no mundo ainda é sobre a vida alheia, a intimidade das pessoas. Em particular, das mulheres que sofrem todo o tipo de perversão e discriminação, em pleno século XXI. Ninguém até hoje levou a sério a fofoca que é o mais poderoso e o mais forte sistema de controle social. Quando a gente faz fofoca? É quando o outro faz diferente do que você acha que ele deveria fazer. Fazemos fofocas para condenar todos os transgressores dos costumes estabelecidos. Vivemos vigiando uns aos outros e ameaçando a todo o momento, com difamação e fofoca. E isto nos paralisa completamente. A grande razão que nós temos para não fazer aquilo que mais desejamos, bem no fundo é uma coisa só. O que vão pensar os outros? O que vou dizer aos meus filhos?

Dizendo de outro modo, tudo começou com essa educação capenga que recebemos dos nossos pais. Esta educação que foi feita para tudo, menos educar. Na tentativa de preservar o bom nome da família e a reputação, o indivíduo não faz nada do que gosta, do que precisa e nem do que devia fazer. Tem coisas que quero, mas não devo. Tem coisas que devo, mas não posso. Tem coisas que posso, mas não quero. De modo que, ficamos sufocados sem poder dizer ao outro o que estamos pensando ou sentindo. O outro nos sufoca sempre que temos vontade de gritar, de rir e de chorar, contudo, nos reprimimos. Também nos sufoca sempre que temos que dar explicações. Na verdade, quanto acho que estou falando comigo mesmo, estou dando satisfação a uma multidão que está internalizada dentro de mim. Estou explicando para os que me governam, sempre justificando o porque fiz ou deixei de fazer. Estou nutrindo um sentimento de culpa.

Entretanto, o outro nos sufoca sempre que temos que disfarçar e aí fico muito vigilante comigo mesmo e fatalmente paro de respirar. É como se colocasse o outro dentro de mim. Seria como usar um colete de ferro, não posso respirar livremente. Tenho que controlar a minha respiração para não chorar, para não gritar e nem extravasar as minhas emoções. Temos que representar o símbolo do todo poderoso, porque esse tem o mundo nas mãos, ele domina tudo e controla tudo. Para controlar os outros precisamos controlar-nos e para isso precisamos conter os nossos próprios sentimentos. É preciso criar uma jaula duríssima de ferro no peito, para manter o controle. Não podemos experimentar nossos sentimentos. Logo, não podemos ter prazer, para não depender dos outros. Contudo, colocamos um enorme cadeado trancando as relações prazenteiras num porão. Na tentativa de se livrar delas e, contudo, nos afundamos na angústia. É o momento em que o peito aperta e o coração dói.

De modo que, pior que os defeitos do corpo, são os defeitos da alma. É comum ver pessoas rindo à custa alheia, zombando dos outros, vejo nestas pessoas uma alma triste, um ego ferido, uma alma cheia de feridas. Numa sociedade enferma como a nossa, é comum ver gente fingindo-se feliz, fazendo-se engraçado, talvez assim consiga esconder o que realmente traz no coração. Tal atitude distrai a atenção dos outros para que não vejam o quanto és triste por dentro. Talvez o seu travesseiro saiba as lágrimas que choras, a solidão que amarga e a rejeição que carregas em seu peito. Penso que pior que ser feio, é ser infeliz. Dizendo de outro modo, todos os pais que olha para um filho, sempre o acha lindo, mas, não enxerga o quanto ele está infeliz. Não há perspectiva de vida nas suas atitudes. Falta um sentido existencial. No entanto, somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), nos apresenta em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida. Segundo ele, viver é necessariamente sofrer, por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera angústia e a dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos frente à infelicidade. A angústia é a sensação psicológica que se caracteriza pelo sufocamento, pelo peito apertado, falta de humor, ansiedade, insegurança e com ressentimentos aliados a alguma dor. A palavra angústia vem do latim “angere” que significa apertar, afogar e estreitar. Daí “angustus” que significa estreito, apertado e de curta duração. Sentir-se afogado, sem ar, apertado, sem saída é muito ruim, contudo, a palavra aponta uma saída: “a angústia dura pouco”. A luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), traduz o mal estar: “o ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”. Quem nunca se sentiu agoniado diante de uma situação ruim ou de uma escolha difícil?

O espírito que nos anima não nos pertence, antes pertencemos a ele. Se ele falhar por um instante que seja, morreremos instantaneamente. A palavra espírito vem do latim “spiritus”, que sopra. Já a palavra alma vem do hebraico “sopro, hálito”. Isto quer dizer que respiração é sopro ou um espírito que nos anima. Dizendo de outro modo, o espírito quando não é respiração, é presença viva, ou seja, é vida. Os ocidentais não dão a devida importância para respiração como ela de fato merece. Ao contrário dos orientais que levam a respiração muito a sério. Dizia o mestre Buda que o caminho mais direto, não necessariamente o mais simples, para encontrar a paz interior ou a iluminação é estar presente a própria respiração. O conselho é tão simples que até se torna difícil de levar a sério.

Porém, a respiração é o nosso automatismo mais antigo. A primeira coisa que a gente faz ao chegar ao mundo é respirar. É sabido que a ansiedade é a doença do momento, para não dizer da humanidade. Sendo que a respiração é o único sistema vegetativo que está sujeito ao controle da vontade. Se nosso corpo está sempre se preparando para responder aos estresses, ameaças perigos e estamos continuamente agitados. Sobretudo, a respiração também fica agitada. Se neste momento de agito, harmonizar a respiração pode atenuar a ansiedade por uma razão muito simples. A respiração é urgentemente necessária o tempo inteiro, caso contrário ela piora a agitação mental, que perturba a respiração e comprime o peito gerando dor. Quando buscamos o equilíbrio através da respiração restituímos a paz mental. Ninguém morre de maus pensamentos, mas, a respiração pode comprometer a vida. Controlar a respiração é o primeiro degrau para a paz.

Portanto, ao estabelecer a consciência vamos descobrir o amor. Vamos aprender que o amor é a única resposta que devemos dar a vida. Aprender que o amor não é apenas um sentimento forte, é mais que isso, é uma decisão, um juízo de valor e ao mesmo tempo uma promessa. Se o amor fosse apenas um sentimento, não haveria base para a promessa de amar uns aos outros. Somos movimentos, criação contínua, instabilidade total e incerteza permanente. Estou vivo que maravilha! De onde vem esta grandeza sem par? Pois cada um é único, não existem exemplares. Somos um construir conjuntos cooperativos cada vez mais complexos, até chegar à espantosa complexidade que somos nós. Contudo, passamos muito rápido pela vida. Aprendi com a experiência, que a vida tem que ser vivida em função de alguma coisa, não contra alguma coisa. Aprendi também, que tudo que se constrói com amor, não se perde nunca. Qual o caminho para a felicidade? Concluo com uma frase do mestre hindu Mahatma Gandhi (1869-1948): “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.

6 de julho de 2016

PROCURAMOS PRAZER E EVITAMOS A DOR

Todos nós criamos cascas protetoras, para nos defender dos outros. Os bichos cascudos têm pouca mobilidade, e machucam os outros. Uma velha tradição diz que o ser humano faz tudo para ter prazer na vida, e evitar a dor. Normalmente não procuramos demonstrar o amor que sentimos, quando amamos. Amar é ruim? Também evitamos o choro, mesmo quando a vontade é grande. Chorar é feio? A mulher e o homem apaixonados se encontram. Tem vontade de abraçar, pegar um na mão do outro, afagar o cabelo, olhar nos olhos, manifestar ternura, contentamento, alegria, felicidade. Mas em geral não fazem nada disso. Tolhem os gestos mais espontâneos e ingênuos, que não são feios e também não doem. Parece que dar prazer não pode!

De fato na hora das coisas boas ficamos cheios de dedos, infelizmente. Não sabemos senti-las, muito menos nos entregamos a elas. E usamos desculpas para esconder nossa incapacidade, dizendo: “seu tempo comigo acabou”; “paramos por aqui nossa história”. Mesmo que seja uma linda história de amor. Se for verdade que procuramos prazer e evitamos a dor, então, por que negamos ao outro nosso carinho? Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando uma casca protetora, verdadeira couraça muscular, para disfarçar o que sentimos. Toda pessoa cascuda vira um especialista em disfarce. Ela sempre responde as incertezas do mesmo jeito. Por isso, torna-se muito capaz numa direção, e incapaz em outra.

Todavia, o desdenhoso sabe desdenhar espetacularmente, mas sua habilidade termina aí. O orgulhoso é especialista em colocar-se acima das coisas, e incapaz de vivê-las. O gozador tem grande capacidade em rir de tudo, porém, não sente nada de importante, já que tudo é risível. O sério julga o mundo sério demais e achata a vida. Não tem humor. O displicente não leva nada a sério, então, não há nada que lhe interessa. A ingênua diz com espanto nos olhos que tudo é novo, mesmo acontecimentos velhos de muitos anos. E não se enriquece com acúmulo das experiências. O cobrador vive exigindo que as pessoas cumpram com suas obrigações, com isso acaba eliminando a possibilidade das respostas espontâneas.

Entretanto, o desconfiado está sempre desconfiando e afasta as coisas boas que interpreta como malévola. A eterna vítima é técnica em queixar-se, portanto, não se arrisca a viver uma situação agradável, porém, é incapaz de amar alguém. O falador interminável teoriza sobre tudo e não vive, a vida é um dicionário. Esses são só alguns exemplos de pessoas cascudas. Dificultam a vida, como se fossem óculos escuros, impossibilitando a visão do arco-íris. O cavaleiro medieval, armado de imponente armadura, investe contra o índio nu. Casca e não casca. Quem sai vitorioso?

Se for preciso passar por uma ponte estreita, ou seja, por um momento difícil é quase impossível manter o equilíbrio com a armadura. O índio ganha se surgir um perigo inesperado; como é que o cavaleiro se defenderá? Ele só sabe fazer as coisas de um jeito, é um especialista. É óbvio que o índio ganha. Se acontecer um empurrão, isto é, se as pressões sociais forem muitas, o cavaleiro não resiste e cai. O índio continua levando vantagem. Além disso, durante todo o tempo da luta, o encouraçado tem a respiração deficiente. Em consequência disso, ele pensa, sente e se mexe mal, pois a casca feita, na verdade, por tensões musculares que prendem como uma roupa apertada inibe todas as expansões.

Portanto, assim como o cavaleiro encouraçado, o desdenhoso, a vítima, o orgulhoso e os outros tipos de pessoas cascudas, especializadas em suas defesas se movem, respiram, se sentem mal, vivem mal. Todo bicho muito cascudo, como a tartaruga, o besouro, morre quando cai de costas. Seria bom aprender esta lição. Contudo, a casca oprime, limita e sufoca. Torna-nos burros em todas as reações que fogem a nossa especialidade, o nosso conhecimento. Deixando-nos tenso e sem reações de forma que deixamos a vida passar sem realmente vivê-la, como se passa o tempo. Esquecemos que o nosso corpo não vai durar para sempre. Por que nos maltratar se podemos amar?   

2 de julho de 2016

COMUNHÃO DE SENTIMENTOS

Ser simpático é ser amistoso, ser agradável, ser educado, é demonstrar gentileza e amabilidade para com as pessoas do nosso convívio, mas, não só. Assim como também, com os demais membros da nossa comunidade e do meio social. Por outro lado, em alguns casos, a origem etimológica de uma palavra já oferece a sua definição precisa. Precisamente é o que acontece com a palavra simpatia, o qual provém do latim “simpathia”. Vale lembrar, que este vocábulo, por sua vez, deriva de um conceito grego = “sympatheia”, tanto do latim como do grego, significa: “comunhão de sentimentos”. De modo que, a simpatia é mútua e nasce de forma espontânea. Contudo, é possível que, com o passar do tempo, o fato de conhecer melhor outras pessoas faça nascer um sentimento de simpatia que, inicialmente, não existia.

Penso que simpatia é um sentimento que nasce num só momento, ele surge instantaneamente, parece vir da alma. Sincero no coração como dois olhares acesos, bem juntos, unidos e presos, como numa mágica atração. O ser simpático implica em empatia e afinidades. É o canto do passarinho ao doce aroma da flor. Simpatia é quase amor, é ao mesmo que ver as nuvens de um céu de agosto, que brilha no rosto daquela pessoa que nos encanta. Simpatia é afinidade moral, similitude no sentir e no pensar que aproxima duas ou mais pessoas. Simpatia é relação entre pessoas que, havendo reciprocidade, se sentem espontaneamente atraídas entre si. Nutrimos simpatia por aquelas pessoas mais próximas. Sobretudo, as que nos comovem por trazer registrado no olhar, as nossas afinidades, principalmente as intelectuais e afetivas. Simpatia é a porta de entrada para o amor e a compaixão.     

Entretanto, o termo simpatia se aplica no caso das relações interpessoais e também permite fazer alusão à inclinação análoga para com os animais ou os objetos. Para a física, a simpatia é a relação entre dois corpos ou sistemas através da qual a ação de um induz ao mesmo comportamento no outro. Sendo que a simpatia faz parte da nossa personalidade. Trata-se de algo próprio da sua maneira de ser e do seu caráter, que torna essa mesma pessoa em alguém agradável para os demais. Todavia, este estado sentimental que a simpatia provoca, assemelha-se ao amor. É a capacidade de dar atenção aos sentimentos de outra pessoa. Traduz-se em afeto que faz com que, duas ou mais pessoas se mantenham unidas. Simpatia é um sentimento de afinidade que atrai e identifica as pessoas, é uma tendência instintiva que leva o indivíduo a estabelecer uma harmonia com o outro, permitindo a criação de laços sedutores de amizade.

Por conseguinte, simpatia é a capacidade que as pessoas têm de participar das emoções alheias, podendo variar entre a mera aceitação e compreensão dos sentimentos do próximo e a completa identificação dos próprios. Estamos emotivos com o sentimento do outro. De certo modo, simpatizar pode ser uma relação de atração ou inclinação que algo ou mesmo uma ideia exerce sobre alguém, ou seja, o ato de gostar de alguma coisa que despertou seu interesse. Contudo, se fui muito maltratado pela vida, a ponto de carregar cicatrizes profundas e, de repente encontro alguém simpático, disposto a aceitar a minha dor. Esta pessoa será sem dúvida a minha cura, que irá ajudar-me a cicatrizar essa ferida que sozinho não iria conseguir. É um encontro interpessoal de amor e de superação, impulsionado pela simpatia. A natureza é sábia. Porém, nós é que não a compreendemos na sua dimensão ontológica.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...