26 de novembro de 2023

O HUMILDE TEM CIÊNCIA QUE SEU SABER É LIMITADO

Uma pessoa humilde de verdade tem ciência de que seu saber é limitado e que a arrogância e altivez intelectual correspondem a um grave engano. Quem é intelectualmente arrogante se acha portador de um saber inquestionável: ao ser contestado, não ouve o interlocutor com real respeito.

As pessoas que acham que sabem muito se afastam da porosidade psíquica: seus diálogos visam apenas fazer prevalecer somente o seu ponto de vista. A pessoa arrogante não se interessa pelo que o outro diz: ao ouvi-lo, só está se municiando de argumentos para desqualificar seu raciocínio.

A humildade corresponde a um estado de alma em que predomina o respeito pelas outras pessoas: pelo modo como vivem, pensam e se comportam. Uma boa definição de pessoa humilde consiste na real disposição de ouvir e de aprender sempre, inclusive com aqueles que sabem menos que ela.

Quando as pessoas falam e fazem o que querem, sem se preocupar com a repercussão sobre o outro, é porque nelas predomina o egoísmo ou o desejo de magoar. Se elas estão certas sobre suas ideias, por que vai ouvir a outra pessoa? Naturalmente, quem tem certeza em tudo que fala e faz não se pode dizer aberta a novas ideias. Todas as pessoas que tem certeza do que falam e fazem, na verdade, são intolerantes.

19 de novembro de 2023

FELICIDADE É UM INSTANTE DE VIDA QUE VALE POR SI SÓ

O que é felicidade? A felicidade para os gregos é um instante de vida que vale por si só. Se me perguntarem o que eu penso da felicidade? Eu diria que é uma fração de segundo de vida, um pequeno instante de vida que gostaríamos de repetir. Todavia, felicidade é aquele minuto que não queremos que acabe. Mas, como tudo na vida acaba, então, usamos da inteligência para repetir esse momento, e assim revivê-lo.

De modo que, a felicidade pode acontecer em qualquer lugar, pode acontecer até debaixo da sombra de uma mangueira. Quando sentimos vontade de convidar aquela pessoa especial, para repetir aquele piquenique, debaixo da sombra da mangueira. Isto é sintoma de felicidade com aquela pessoa. A mangueira está na nossa memória e traz boas recordações. Como a personificação do amor perfeito. Porque naquele momento fomos felizes ali. Felicidade é isso! Um instante de vida que nos da prazer em reviver.

Assim como também podemos estar numa padaria, tomando um café com alguém que acabamos de conhecer e essa pessoa tem um compromisso e precisa ir embora, prontamente dizemos: “deixa seu número de telefone, que vou te ligar para a gente marcar outro cafezinho”. Isso é sintoma de felicidade na padaria. Ainda tem aquele aluno que, no último dia de aula do curso, diz: “professor, será que no ano que vem, posso assistir suas aulas de filosofia como aluno ouvinte”? Só há uma razão para esse aluno querer repetir as aulas de filosofia: “é que durante as aulas de filosofia ele foi feliz”.

Porém, se alguma dessas coisas aconteceu na sua vida, é um sintoma de que naquele momento você estava feliz. Quando a vida poderia ter durado um pouco mais, quando a vida poderia se repetir novamente. Porque não há nada mais legal do que você, proporcionar a alguém que você nunca viu um mísero segundo que esse alguém gostaria de repetir com você.

Portanto, se todos nós, nos déssemos o trabalho de proporcionar a alguém do lado, um instante de vida, que esse alguém gostaria um dia de repetir conosco. Estaríamos juntos costurando uma sociedade infinitamente mais solidária, mais justa, mais coesa, mais harmoniosa e mais feliz. Se tivermos que melhorar, somos nós a melhorar. Somos todos corresponsáveis. É hora de juntos, virarmos a página e patrocinarmos, com a nossa conduta e a nossa inteligência, uma convivência melhor e mais justa.

12 de novembro de 2023

OSCILAMOS ENTRE A ÂNCIA DE TER E O TÉDIO DE POSSUIR

Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um filósofo alemão do século XIX, considerado pessimista e sombrio. Para ele, a solidão e a capacidade de bastar-se a si mesmo, são uma das qualidades mais valiosas para a felicidade de um indivíduo. Até aí não nenhuma objeção.

A grande obra de Schopenhauer é composta de quatro volumes: o primeiro livro é dedicado à “Teoria do Conhecimento”, o segundo, à “Filosofia da Natureza”, o terceiro à “Metafísica do Belo”, e o quarto à “Ética”. Argumentava ele que: "Grandes homens são como as águias - constroem seus ninhos na solidão elevada".

Segundo Schopenhauer, viver é sofrer, e não ache que exista uma entidade superior, um Deus que ordenou tudo e que dá um sentido para a nossa vida. Para ele o que nos move é a nossa “vontade”. Ela é uma espécie de essência do ser humano, uma energia que está para além da racionalidade. É como se fosse uma energia que nos move a viver e nos impulsiona, lançando-nos no mundo para que possamos fazer o que fazemos e ser o que somos.

Isso nos faz ser únicos. O mundo é a nossa representação. Ninguém vê o mundo como o outro vê, e de certa maneira, estamos presos em nossas representações. Essa vontade que nos faz viver desperta em nós desejos, e quando vamos em busca dos mesmos, e o que pode saciá-los é a satisfação e o prazer do encontro.

Porém, quando olhamos para o mundo, para nossa representação nada pode saciar, e a vida tornar-se uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir. E a vida é isso; um ciclo que se repete uma frustação? Se não tem Deus, não tem sentido, não tem satisfação, e o que nos resta então? É assim que o filósofo alemão em pleno século XIX, via o mundo.

5 de novembro de 2023

SOU UM SER DE AMOR, QUE EU VIVA SOB ESSA DOR

Que passem os minutos, dias e anos. Todas as estações do tempo. Que eu viva, qual tolo, todas as ilusões pueris de sentimento. Sou um ser de amor, em todas as épocas, em todo momento. Que passem as águas por muitas pontes e que debruce a saudade por muitas serras e montes, sou um ser de amor e sempre amarei, como se fosse a primeira vez e única, apesar das tantas aventuras!

Ainda além deste céu, nas alturas. Eternamente. É ter na mente. Ainda que outro alguém o tenha entre lençóis confidentes, mesmo que os beijos sejam molhados e quentes, à parte, nossa alma vaga enamorada, sobre qualquer prazer da carne ou qualquer entrega fugaz. Eternos, apaixonados.

Sou um ser de amor, sob qualquer dor que me pese o orgulho ferido, o despeito revolvido. Sobre qualquer punhalada em meu coração, sobre qualquer distância a nós imputada. Porque sei, amor de mim, que ainda assim. Não é pequeno o nosso comprometimento. Ah! Soubessem todos os tamanhos. Pobre carne, pequeno tempo.

4 de novembro de 2023

HUMILDADE É SABER OUVIR O OUTRO COM O CORAÇÃO

O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos diferentes, que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos. Vemos pouco, vemos torto, vemos errado. E mesmo assim julgamos sem conhecer os fatos.

Bernardo Soares autor do “Livro do Desassossego” foi um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) que diz: “aquilo que vemos é aquilo que somos”. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo.

E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isto é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões. É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. Mas, a Filosofia não tem as opiniões como base, somente os fatos.

Todavia, se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. Isto é uma tolice, querer mudar a maneira pensar do outro. Porém, é norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera. Estou esperando que ele termine de falar, para então eu dizer a minha verdade.

A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que eu penso, depois de terminada a sua fala, eu ficaria em silêncio para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: não preciso ouvi-lo. Basta que ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que ele disse. Aquilo que ele disse não é o que eu diria, portanto, ele está errado.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...