29 de setembro de 2021

DA TERNURA VEM A SEIVA DO AMOR

Como argumentava o filósofo e teólogo São João da Cruz: “o amor é uma doença que, nas minhas palavras, só se cura com aquilo que chamaria de ternura essencial”. Reiterando as palavras do místico poeta, vou um pouco mais além, citando outro grande filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “a ternura é a seiva do amor”. Penso que se cada um quiser guardar, fortalecer e der sustentabilidade ao amor, que seja terno para com quem se ama. Sem o azeite da ternura não se alimenta a chama sagrada do amor, certamente ela se apagará.

Lembrando que ternura não é simplesmente uma emoção, excitação de sentimento face ao outro. Porém, se assim fosse seria sentimentalismo que é um produto da subjetividade mal integrada. O sujeito que se dobra sobre si mesmo e celebra as suas sensações que o outro provocou nele. Nunca sairá de sim mesmo, ao contrário, a ternura irrompe quando a pessoa se descentra de si mesma e sai na direção do outro, sente o outro como sendo parte da sua essência, participa de sua existência, se deixa tocar pela sua história de vida.

A ternura não é efeminação e renúncia de rigor. É um afeto que à sua maneira nos abre ao conhecimento do outro. Segundo o Papa Francisco (1936), quando esteve no Brasil, falou na sua homilia para os bispos latinos americanos presentes no Rio de Janeiro, cobrando-lhes “a revolução da ternura” como condição para um encontro fraterno e verdadeiro entre os humanos. Só conhecemos bem o outro quando nutrimos afeto e nos envolvemos com essa pessoa que queremos estabelecer laços de comunhão amorosos. É aqui que a ternura pode e deve conviver com o extremo empenho por essa causa.

No entanto, a relação de ternura não envolve angústia porque é livre de busca de vantagens e de dominação. O nascer do amor se da pela própria força do coração. É o desejo mais profundo de compartilhar carinhos. A angústia do outro é minha angústia, seu sucesso é o meu sucesso e sua salvação é a minha salvação. O amor e a vida são frágeis. Sua força invencível vem da ternura com a qual os cercamos e sempre os alimentamos.

Portanto, concluo esta reflexão citando um grande bandeirante do amor, o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998). Ele foi idealizador de um curso sobre amor na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos. Publicou um livro com o título “Amor”. Por coincidência, faleceu no dia dos namorados, 12 de junho de 1998 e nos deixou a seguinte mensagem: “O amor tem os braços abertos. Se você fechar os braços ao amor, verá que está apenas abraçando a si mesmo. Quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu. O amor verdadeiro só cria, nunca destrói”. Toque sempre o coração e a alma de quem você ama. Como dizia Platão: “tudo que está na minha alma, toca a alma do outro”.

28 de setembro de 2021

COM A MATURIDADE VEM O DESPERTAR DO AMOR

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que nem envelhecer com dignidade estamos conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi: “ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano”.

Como é então, a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade de prazer, a imaginação e a própria inspiração? Os mais recentes estudos, nos mostram que não é preciso envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem, como uma somatória de déficits. No entanto, muito se pergunta se o amor e o sexo acaba com o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além do biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito com amor e praticando sexo com qualidade.   

Na abordagem comportamentalista, estímulo e resposta, o amor e o sexo não acabam enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o amor e o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade. Quando afirmamos que é nos braços da pessoa amada que encontramos o paraíso, que o beijo nos conduz a esfera celestial e que a perda desta pessoa nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa é uma visão da filosofia oriental hindu, “o Tantra”.

É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência ao sexo amoroso está na prática tântrica, onde o mais importante não é o orgasmo, e sim o prolongar desse prazer, dando-lhe uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.

Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro passa a ser a paragem pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.

Portanto, nesse encontro com o outro, a própria vivência da alegria e da beleza, é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora. Pois, na plenitude do prazer do encontro, experimentamos o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Somos o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo que é o ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

25 de setembro de 2021

A VIDA É FEITA DE VERBOS COMO: AMAR, DANÇAR, ETC.

Qualquer coisa pode nos afetar de alguma forma; a notícia de um amigo ou filho doente, uma música que traz recordações de alguém querido que foi embora, uma declaração negativa ou uma ligação surpresa daquela pessoa especial, terminando o relacionamento, que parecia ser de boa qualidade. Temos um péssimo hábito de falar mal e achar defeito naquelas pessoas que nos quer bem e admira. Nunca estamos preparados totalmente para os imprevistos e pelo o que está por vir. Todos estão sujeitos às adversidades da vida. Por natureza somos seres sensíveis, ou seja, nos emocionamos com muita facilidade. Por isso sentimos tanto quando alguém nos machuca. Às vezes a pessoa que você vem dedicando amor e carinho, uma hora ela vai te machucar, talvez por medo ou covardia. Está na essência dela.

Naturalmente, vai desistir da relação que, aos seus olhos parecia estar indo muito bem, mas, por paranoia ou por egoísmo dela, não vai pensar duas vezes e vai lhe abandonar, mesmo sabendo da falta que você poderá vir a fazer. Pessoas assim fica se auto sabotando, criando obstáculos e empecilhos de forma consciente ou inconsciente o tempo todo, para não gostar de ninguém. O pior é que isso não é algo que se possa controlar. Quantas pessoas nós conhecemos, que estava num relacionamento que parecia estar indo bem e, de repente acabou? Já conversou com alguma pessoa que parecia ser a sua alma gêmea e, depois de um tempo se afastaram e nunca mais conversaram? Já dormiu pensando em namorar uma pessoa e, no dia seguinte a procurou e sentiu uma frieza inabalável por parte dela?

Às vezes as pessoas vão te machucar com a própria indiferença. No entanto, achamos que elas são assim mesmas, secas e indiferentes ao sentimento de amor. Na sua maioria foram privadas de amor quando criança, na idade adulta vai ter dificuldade de dar e receber amor. Ninguém da o que nunca teve. Mas, ao contrário do que parece, elas sentem e sofrem muito por serem assim. Pode até ser que desista da relação por achar que não é merecedora da sua companhia, por ter uma baixa auto estima. Ela acha que em algum momento você vai desistir dela. São pessoas que ficam subestimando o companheiro o tempo todo, para que não criem expectativas em relação a um possível romance. O medo é tão grande que elas chegam a acreditar que não conseguem gostar de ninguém, quando, na verdade, elas mesmas tentam o tempo todo afastar-se dos seus sentimentos, seja colocando defeitos no outro ou proporcionando condições para criar distância.

Portanto, ela vai usar o velho e arcaico discurso: “sou feliz sozinha”. Quem é capaz de ser feliz sozinho? Sem amor e sem alguém para chamar de seu? A vida é feita de verbos como: “relacionar, amar, cantar, dançar, etc”. Nada machuca mais do que quando um sonho é esmagado, uma esperança morre, o futuro torna-se obscuro. Contudo, pessoas assim não conseguem lidar com as relações, seja porque já se decepcionaram demais ou porque nunca encontraram alguém que lhes demonstrasse o valor de um grande amor. Elas não querem te fazer sofrer, não querem te magoar e nem te decepcionar, mas o farão da forma mais egoísta possível. Por isso sentimos tanto quando alguém nos machuca. Como dizia o ativista norte-americano Martin Luther King (1929-1968): “Devemos aceitar a decepção finita, mas nunca perder a esperança infinita”.

23 de setembro de 2021

A LÓGICA DO AMOR É QUE NÃO EXISTE IDADE

Ainda existem pessoas que pensam que o idoso é incapaz de amar. Desde quando amor tem idade? Amamos a vida toda, cada descoberta do amor é uma energia nova que irradia todo o nosso “ser. Chegamos a pensar que finalmente encontramos o paraíso, pois tudo é carinho, tudo é paz, e tudo é feito para nós, todas as atenções são nossas. Todas as partes de mim que me são importantes, pertence a pessoa amada.

Estou certo que encontrarei tudo o que é meu nesta vida, terei todo o amor que mereço e que posso dar. Mas, o tempo passa, aprendemos a ler, a escrever, a conversar, a entender a crueldade humana e assistir pessoas contagiadas por esta fome de poder idiota e aqui cometemos nosso primeiro crime. Condenamos a quem amamos. Maltratamos aquele que esteve do nosso lado nos momentos difíceis. Negociamos nossos sentimentos, vendemos nossa alma ao diabo por um pouco de poder, e assim satisfazer o nosso ego.

Como perdemos tempo com coisas fúteis, como nos desgastamos com bobagens que não valem nada, só quando estamos ficando maduros é que percebemos como fomos tolos, como jogamos nosso tempo fora, tentando através do sexo doentio e casual, curar nossas almas desesperadas por amor. Será o sexo que vai nos trazer a felicidade que tanto procuramos? O sexo pelo sexo, não traz absolutamente nada.

Na verdade, o que o sexo traz é o êxtase, e isso se for bem feito, com a pessoa certa, senão, só nos deixa mais infeliz ainda. Encontramos a felicidade quando alguém nos ama e quando podemos amar alguém sem medo, desta troca surgirá infalivelmente o sexo e, um sexo especial, onde nossas almas tremem, nossos corpos se esvaem síncronos perplexos com tanta beleza.

Entretanto, os mais jovens não sabem disso, pois nunca ouviram falar e muito menos praticam “sexo tântrico”. Vivemos numa sociedade de consumo, dando entender a mulher que jamais terá orgasmo se o parceiro não tiver o perfil de homem sarado e poderoso. Como somos fúteis, fracos de espírito e de mente, a essa altura de nossas vidas; justamente quando somos mais belos e parecemos mais tolos. Ainda tem mulher procurando por homens com dinheiro e poder, transformando o amor em mercadoria.

Para o idoso, o valor da vida e do amor, não começa aos cinquenta ou aos sessenta anos, mas, quando percebemos que tudo isso aí acima é inútil para nossa felicidade, é o momento em que podemos e devemos amar, simplesmente porque merecemos, porque já pagamos o nosso tributo.

O amor para o idoso torna-se explícito quando dividimos o almoço, com aquela pessoa que amamos ou quando estamos enrolados debaixo do lençol, fazendo cafuné um no outro. Quando percebemos que nem a idade, nem coisa alguma tem força suficiente para estragar aquele momento, nem mesmo a morte, pois quando ela chegar, aquele momento já terá sido vivido e, portanto, será nosso e nem a morte pode nos tirar a felicidade de ter amado.

Todavia, a morte, algoz de todas as idades, só vem quando descobrimos que somos, na verdade, feitos de amor e, para que não sejamos contaminados com a mediocridade de tantos, nos leva em seus braços para outro lugar feito para amar, para ser amado, junto ou mais perto daquele que, como nosso melhor amor, é só amor. É na maturidade que descobrimos o valor do carinho, do sorriso, de um gesto limpo de caráter, que descobrimos como é fácil ser feliz, como precisamos de tão pouco.

Desse modo o que conta é: “amor, respeito e compreensão”. Não é por solidão, não é por abandono, não é por carência, é pelo gesto, é pela atitude simples de alguém que nos ama, que ganhamos o dia, é por um beijo de amor. É na maturidade que sabemos o que é amar e como amar, só não sabemos o quanto amar, pois isso não tem medida e nem limite.

Portanto, olhe para trás e pergunte; qual jovem cujo espírito seja limpo, qual deles sabe o que é amar. Qual jovem hoje não ficaria com os olhos cheios de lágrima de felicidade e desejo por, um dia, ser alguém maduro que, como nós idosos ainda ama e é amado e não tem vergonha de sentir essa felicidade. Não seja egoísta, ame, seja amado e ensine a amar. Contudo, amar só os sábios da terceira idade sabe realmente o que significa esse verbo intransitivo, que é “Amar.

21 de setembro de 2021

O AMOR POTENCIALIZA O DESABROCHAR PARA A VIDA

A flor simboliza a vida, que traz esperança e potencializa o amor que em nós desabrocha para o milagre da vida. Por outro lado, considerando que toda a mulher pode ser comparada a uma flor e que desta flor brota o amor que transforma em frutos e que ao amadurecer ele cai e após passar por um período, vem à semente da qual vai brotar outra árvore com novas flores e frutos.

No entanto, o ciclo se perpetua e a vida segue seu curso naturalmente. A natureza detesta a igualdade, cada flor no campo é diferente e única, não existem duas rosas iguais, mesmo entre as de uma mesma variedade. No amor também funciona assim, ele surge como único. Quando descobrimos o amor, aceitamos esse desafio de caminhar de mãos dadas, absolutamente tomados por esse impulso de vida. Agora somos “Eu e Tu”, juntos sofremos e juntos existimos, pela força dessa atração vital, recriaremos um ao outro. Até que a morte nos encontre e desfaça tudo.      

Amar não consiste em sentir que se ama, mas em querer amar. Sobretudo, porque fazemos parte da mesma natureza humana, por isso alimentamo-nos do mesmo sentimento chamado amor. É o prazer de um espírito que penetra na natureza, nela adivinhando o espírito que a anima. A natureza é sábia e nela encontra-se o espírito do amor encarnado.

Porém, neste universo natural surge esse sentimento como uma proposta de comunhão. É o amor brotando como a força de uma flor, tão intenso que cada qual participa da vida um do outro, como o espírito que anima a própria natureza. Qualquer separação dessa força que brota no interior de cada pessoa, representa um dilaceramento de vidas.

Entretanto, esse amor que potencializa vem da força do espírito que move a natureza. Por ser o amor autêntico, criador e inventivo, ele vivifica além de libertar das indiferenças que nos extermina sem piedade. O amor é um projeto que se abre ao infinito do outro, que nos faz sentir-se renovados, a ponto de causar prazer íntimo ao outro e a nós mesmo no cumprimento de nossas possibilidades mutuas, na serenidade e na luta por um “viver juntos”.

Como a flor que enfeita e embeleza a natureza, cabe a nós a preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos. É muito difícil respeitar uma pessoa que sempre enganamos e amar alguém que não respeitamos. O amor não convive com falta de respeito e nem acusações que o desabone. Todavia, se uma pessoa nos diz que ama as flores e vemos que ela se esqueceu de regá-las, não acreditamos em seu amor pelas flores.

Segundo o pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939), argumenta que uma paciente sua sonha com um arranjo de flores, misturando violeta com lírios e cravos. Na linguagem da psicanálise, os lírios representam a “pureza”, os cravos o “desejo carnal” e por ultimo, não menos importante, as violetas como a necessidade inconsciente da mulher de ser “violentada” pelo seu homem.

Seria isso mesmo? Sabemos que numa relação sexual envolve certo sadomasoquismo. Pois a propósito, aqui trocaremos a mulher violentada, por estimulada pelo seu homem na busca do amor romântico. Tendo em vista, que o homem se prende aos estímulos físicos e a mulher aos estímulos românticos. Estabelecida essa junção a potencia amor se encarna. Agora existem duas almas em pleno êxtase.

Portanto, a coisa mais humana e sincera que temos que fazer em vida é aprender a dizer nossas convicções e sentimentos honestos e a viver com as consequências. Essa é a primeira exigência do amor e nos torna vulneráveis as outras pessoas que podem nos ridicularizar. Mas nossa vulnerabilidade é a única coisa que podemos dar ao outro. Contudo, nós mesmos seremos amados por pouco tempo e depois esquecidos. Mas o amor terá sido suficiente. Existe uma terra da “vida e uma terra da “morte e a ponte é o “amor, a nossa única sobrevivência, o nosso único significado existencial.   


20 de setembro de 2021

NÃO ESTOU FICANDO VELHO, ESTOU FICANDO SELETIVO

Um dia desses uma pessoa que era da minha confiança, disse-me: “você está ficando velho, tornando-se uma pessoa amarga e teimosa”. Responder a essa pessoa, seria curvar-se diante da ignorância. Gente nasce não pronta e vai se fazendo ao longo da vida. O que fica velho são coisas. Gente não envelhece, gente se renova a cada ano que passa. Não estou ficando velho, estou me tornando sábio. Deixei de ser alguém que apenas agrada os outros, para transformar-se em alguém que me agrado em ser quem sou. Parei de procurar aceitação dos outros para me aceitar.

Não estou ficando velho como disse equivocadamente essa pessoa. Estou me tornando assertivo, seletivo com lugares, pessoas, costumes e ideologias. Já deixei ir apegos, dores desnecessárias, pessoas tóxicas, almas doentes e corações podres, não é por amargura, é simplesmente por saúde. Não adianta querer ter saúde mental se você se envolve com pessoas que te adoecem.

De modo que, parei de viver histórias e comecei a escrevê-las, deixei de lado os estereótipos impostos, parei de levar bagagens inúteis na minha bolsa, agora levo livros que embelezam a minha mente e daqueles que leem o que escrevo. Troquei os drinks alcoólicos por xícaras de café, esqueci-me de idealizar a vida e comecei a vivê-la.

Não estou ficando velho, engano de quem assim me vê. Levo na alma o frescor da vida e no coração a inocência de quem diariamente se descobre. Carrego nas mãos a ternura de um casulo, que ao abrir-se expandirá as suas asas a outros lugares inatingíveis, para aqueles, que só procuram a frivolidade do material. Do status e do sexo casual. Desconhecem os mandamentos do amor.

Portanto, levo no meu rosto o sorriso, que se escapa travesso ao observar a simplicidade da natureza. Levo nos meus ouvidos o canto das aves alegrando o meu caminhar. Não estou ficando velho. Estou ficando seletivo, apostando no meu tempo para o intangível, me dando a mim mesmo. Tem gente que se desgasta o tempo todo querendo ter razão, ao invés de querer ser feliz. 

18 de setembro de 2021

O QUE É QUE EU AMO QUANDO AMO?

Os místicos e apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius (1624-1677), místico medieval, disse que ele é como a rosa: “A rosa não tem ‘porquês. Ela floresce porque floresce”. O poeta e cronista brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), repetiu a mesma coisa no seu poema “as cem-razões do amor”. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento. “Eu te amo porque te amo, cem razões”. “Não precisas ser amante, e nem sempre saber sê-lo”.

Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fossem assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. “Amor é estado de graça e com amor não se paga”. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que “amor com amor se paga”. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa floresce, eu te amo porque te amo. “Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Amor não se troca. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo”.

Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas, talvez por não estarmos apaixonados, suspeitamos que o coração tenha regulamentos e dicionários. E o matemático, físico e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662) nos apoiaria, pois foi ele quem disse que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos. Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento e se perguntava: “Como decifrar pictogramas de há dez mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.” O amor será isto: “um soco que o desconhecido me dá”?

Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul, um personagem de um famoso conto infantil: “se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida”. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor – frágil bolha de sabão, não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Foi o filósofo dinamarquês Soren Kierkergaard (1813-1855) que comentou o absurdo de se pedir dos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor – sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar. Mas, olho o amor com olhos de suspeita, curioso. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário de Drummond, as cem razões do amor.

Vamos a Santo Agostinho (354-430), em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um teólogo que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escritas. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: “Que é que eu amo quando amo o meu Deus?” Imaginem se um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: “Que é que eu amo quando te amo?” Seria, talvez, o fim de uma história de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras do escritor e pintor alemão Hermann Karl Hesse (1877-1962), “o que amamos é sempre um símbolo”. Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.  

Variações sobre a impossível pergunta: Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no teu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes habituados a fugir. Como Narciso, fico diante dele. “No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura.” (Cecília Meireles 1901-1964): “Por isto te amo, pelos peixes encantados”.

Mas, os peixes são escorregadios. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, como o vento desceu sobre a Virgem Bendita. Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo.

Portanto, esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. “O amor começa por uma metáfora”, diz o escritor tcheco Milan Kundera (1929): o amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética”. Temos agora a chave para compreender as razões do amor, segundo o psicanalista, filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “o amor nasce, vive e morre pelo poder – delicado – da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada”.

14 de setembro de 2021

O AMOR NOS ENSINA QUE HÁ INFINITO EM NÓS

Na concepção dos gregos antigos, o amor não devia tornar-se prisioneiro do corpo, mas elevar-se gradativamente, até o cimo, onde ficam as essências absolutas: a verdade, o belo e o bem. Essa passagem do corpo ao espírito é a expressão da dialética ascendente de Platão. Na parte inferior havia o mundo das sombras, produtor de ilusões, e os objetos sensíveis.

No outro extremo, o mundo inteligível. Todo processo de conhecimento dá-se em uma ascensão do mundo obscuro, das sombras, ao luminoso mundo das ideias. Para Platão, o amor é a busca da beleza, da elevação em todos os níveis, o que não exclui a dimensão do corpo. Amor é o nível ou grau de responsabilidade, utilidade e prazer com que lidamos com as pessoas que amamos.

Quando percebemos que o outro é um ser humano e não a personificação de nossas fantasias, nos ressentimos e reagimos como se tivesse ocorrido uma desgraça. Geralmente culpamos o outro. O que ninguém pensa é que somos nós que precisamos modificar nossas próprias atitudes. Mas sempre que encontramos alguém disposto, capaz de por fim ao nosso desamparo, viramos as costas, muitas vezes por medo, dúvidas ou por desconfiança. Criamos um escudo invisível, uma espécie de blindagem.

No entanto, sempre que alguém se propõe, nos acovardamos, esperando que um dia o grande amor venha ao nosso encontro. Estamos todos mais ou menos envenenados. Temos medo da solidão, assim, como também temos medo da entrega. Afinal, o que buscamos nas relações afetivas? Parece que passamos a maior parte da vida adulta tentando recuperar algo que perdemos com o nascimento, em vez de irmos atrás da construção de nossa história que nem sequer começou.

O amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu “eu não é infinito. O amor capaz de nos ensinar estas duas lições é certamente um amor abençoado. Quando este amor, além de sentimento e compreensão se faz também contato como: aconchego, trocas calorosas, muita carícia e contato físico, podemos dizer que temos aqui um amor perfeito. Talvez por isso o amor seja triste. Ele nos acena, ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e integral.

Portanto, quero acordar ao lado da amada, com o lençol bagunçado, tomar o café na cama, as cortinas bem abertas. Quero abraço apertado, mordidinha na bochecha, beijo de língua demorado. Quero banco do passageiro ocupado, cinema à tarde, tempo para nós dois. Quero seu riso estampado, seu cheiro espalhado, nossa música na rádio. Quero pintar nossa casa da mesma cor do nosso laço, colar você no meu abraço e fazer amor. Quero sussurrar no teu ouvido, ouvir seu pior ruído, que você seja meu livro mais lido. Quero acima disso tudo, você numa sexta-feira à tarde sem preocupação, nós a sós, dividindo nossas vidas em uma só cama. Só quero amar, não sei se quero acordar.

11 de setembro de 2021

NO AMOR ENCONTRAMOS O NOSSO OXIGÊNIO

Dizer que no coração repousa o amor é uma metáfora, pois, quando encontro o outro, posso estar encontrando o meu oxigênio, se ambos estão encantados pode-se dizer que vai haver um banquete de amor. Naturalmente, vai acontecer um mergulho na essência da vida. Significa que encontramos nossa parte perdida. Para o dramaturgo grego, considerado o maior representante da comédia antiga, Aristófanes (447-386 a. C.), cada um de nós é um ser pela metade. De um passaram a ser dois, disso resulta à procura de todos pela sua metade complementar.

Um dos sentidos da vida, para Aristófanes é unir-se ao objeto amado e com ele fundir-se, para formarem um único ser, o todo. A razão disso é que, primitivamente, nossa natureza era assim, nós formávamos um todo homogêneo. A saudade desse “todo e o empenho de restabelecê-lo é o que Aristófanes chama de “amor. De modo que a saudade é o amor que fica de quem não pôde ficar. É a metade que falta para formar o todo.

Para ele, a nossa espécie só poderá ser feliz quando realizarmos plenamente a finalidade do amor e cada um de nós encontrarmos o seu verdadeiro amor, retornando, assim à sua verdadeira natureza. Repousar é descansar na cama do deus Eros. O deus do amor. Afinal, qual o nosso conceito de amor? Para ilustrar, conto uma história de uma criança que não sabia o que era o amor.

Portanto, num dado momento da vida, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava para cada um de nós mortais.

8 de setembro de 2021

QUERER AMAR E SER AMADO É DA ESSÊNCIA HUMANA

O amor não é apenas possível, ele é natural. Nós fomos criados para o amor e para amar. O amor não é somente uma palavra. Nada é mais real do que o amor; nada é mais doloroso do que a sua ausência. Para completar, o amor parece estar em todos os lugares a nossa volta. Nós vemos, ouvimos e lemos a respeito do amor, por todas as partes. Essa estimulação sutil ou explicita ajuda a criar em nós um intenso desejo de experimentar o amor. Nós queremos amar, e queremos ser amados, não adianta negar essa evidência inata no ser humano.

Entretanto, tudo isso serve para aumentar nossa frustração por não conseguir amor. Porque não é fácil encontrar um amor de verdade por ai ao gosto do consumidor. Tudo que está sendo dito e escrito sobre o amor e as relações humanas, realmente só vem confirmar sobre a necessidade de amor e as consequências de não alcançá-lo. Sabemos que precisamos amar a nós mesmos e aos outros de forma mais genuína. Qualquer pessoa que não esteja vivendo na “Caverna de Platão” ou numa ilha deserta pode contar-lhe que, como diz na literatura e nas canções, o que o mundo mais precisa é de amor.

Se o amor é difícil de achar, não é por falta de procurar. As pessoas se esforçam, até se expõe sem limite para conseguir um tostãozinho desse amor. Uma maneira comum é tornar-se atraente, permanecer em lugares onde as pessoas se encontram, e esperar que sua cara metade apareça. Uma tática muito usada, mas de pouco efeito. Frequentemente as pessoas fazem isso enquanto se enganam, dizendo que o amor depende de achar a pessoa certa, com uma mistura atraente de boas qualidades e com o mínimo possível de más qualidades. Será que existe essa pessoa?

O amor não é barreira para nada. É um grande nivelador na pirâmide de poder e o grande libertador. Amando, você ama a pessoa que você é e pode dar esse amor ao outro. É possível reaprender à amar a si mesmo e aos outros, não importa o quanto você tenha sido não amoroso ou não amado. Pois a própria essência do seu ser é amor. Para compartilhar esse estado amoroso, primeiro você precisa ter bem claro o que é o amor, e o que ele não é. Muitas pessoas pensam que se dar a alguém é amar. Embora seja verdade que as pessoas amorosas se dão mais, o contrário não é necessariamente verdadeiro. Há uma grande diferença entre dar por dar e dar para receber algo em troca. Amor cobrado, sofrimento redobrado.

Portanto, o amor é um sentimento e um estado de ser, e vem da essência espiritual, dessa luz que há dentro de nós. Aprendemos a senti-lo vivendo-o por todo o nosso ser. Uma vez aprendido sobre o amor, é a experiência máxima do ser humano, e todos tem o direito de reivindicar essa experiência. Só precisamos revelar nossa essência indestrutível, dura como um diamante e delicada como a flor do pessegueiro, porque somos luz e queremos iluminar o outro. Somos na essência o amor compartilhado.

7 de setembro de 2021

POR QUE NÃO FALAR DA MORTE?

O período é o de refletir sobre a inexistência. Se falamos do que inexiste é porque antes existiu. E, se falamos do que existiu é porque se trata de algo com história, pois, havia uma “presença” em processo de existir e que finalizou sua marcha tornando-se, portanto, uma ausência. Trata-se de um fantástico movimento que acontece num percurso: nele se avolumam criação, invenção, pensamento, ensinamento e aprendizagem, transformação, sabedoria, fé e crenças, ações de bondade e de maldade, construções, conquistas e perdas, influências múltiplas, enfim, uma extensão de vibrações vitais ocorridas em todas as direções, manifestas através de incalculáveis significados.

Mas, quando tudo isso fenece?! Quando a ausência responde pelo o que antes fora existência, através de um imensurável vazio de indecifráveis sinais?! É quando a ausência se constitui num apagamento gradativo da existência, de tempos em tempos, lentamente, tal um fenômeno que se esvai, deslocando-se em direção à profundidade do espaço invisível, dissipando-se num adeus inaudível, desbotando o que possuía de mais intenso ... até o pleno fenecer. Diante de tal força ou impossibilidade de apreensão do que antes era nítido, compreensível, cristalino e indubitável, o único caminho constitui-se no debruçar conformado ao mistério da existência.

Por que a existência não se alia à ausência, garantindo a sua sobrevivência, mesmo que de outra forma?! Por que o existente não apreende o ausente; o que há de misterioso nessa passagem? O que existe nessa passagem?! Por que o ausente abandona irreversivelmente a existência, antes iniludível? Quando, de fato, o ausente se ausenta completamente, desligando-se de vez do mundo da existência e dos existentes? Que mundo é o da ausência? Por que, então, a existência torna-se parceira semântica da ausência e vice-versa? Por que a ausência mantém a essência da existência, permitindo que o perfil que antes existira ali permaneça com o cheiro, os trejeitos, as gesticulações e os sons emanados de um eterno buraco que seduz a nossa compreensão, tentando apreendermos esses restos? Qual é o significado desse mistério que envolve, invariavelmente, todos nós?

O fantástico desse fenômeno é que TODOS nos igualamos na ausência, embora na existência insistimos em nos agrupar segundo critérios inventados por nós, até mesmo perversos de exclusão. Ah, mas quando cada um de nós entrarmos no "buraco vazio da ausência", talvez sejamos brindados com um inimaginável abraço universal a despeito da vontade que cultivamos, dos infortúnios que nos distinguiram ou das honrarias devotadas a poucos. Quem sabe, simplesmente, encontraremos a paz infinita no nada.

(Texto de autoria da Filosofa e Educadora Profa. Dra. Leoni Maria Padilha Henning da Universidade Estadual de Londrina PR – Grato minha amiga por essa pérola)

6 de setembro de 2021

AMOR GERA BONDADE E GENEROSIDADE

Inicio essa reflexão com uma frase do meu mestre, filósofo e educador Régis de Morais (1940): “o amor é um rico encontro humano cuja duração não se deve ser discutida”. Esse sentimento rico que se traz para uma união é posto sob o teste do convívio cotidiano e, aquelas pessoas que não puderam aprender a respeitar a plenitude do ser humano, podem provocar a implosão da substância do amor. No entanto, o amor pensado numa relação eu-tu, não está só no eu nem só no tu; está em sua maior parte no entre, está na arte que duas pessoas precisam conquistar de um relacionamento feito de compreensão e generosidade.

Entretanto, se alguém perguntar a quem está amando, por que ama aquela determinada pessoa a qual dedica seu sentimento, e a pessoa que estiver amando souber explicar o por quê, essa pessoa pode ter certeza de que está vivendo uma ilusão. Não conhece o amor. Não se ama alguém por razões lógicas, por ser moreno ou claro, gordo ou magro, jovem ou idoso. Simplesmente, essas coisas do coração acontecem de uma forma espantosa, olha-se para uma pessoa e se tem certeza de que vai precisar da companhia dela.

De modo que a sua presença mexe com a mente, com o coração e com a sexualidade de quem a olhou. Entra em ação uma energia misteriosa que vem de regiões profundas do nosso “eu cósmico”, que nós mesmos não conhecemos. Quando se começa um relacionamento amoroso, experimenta-se uma certa sensação de medo e terror, como se forças desconhecidas e que escapam nosso controle nos ameaçassem.

Todavia, há perfeita razão para esse medo, pois, se o amor encontra condições favoráveis de enriquecimento, ele se cumpre de uma forma boa e que gradativamente nos conduz à autorrealização; mas, se ele encontra obstáculos e condições agressivas, pode encapelar-se em paixão doentia, levar a desesperos que apresentam até risco de conduzirem à autodestruição. É uma relação marcada pela insegurança.

Embora muito já se dissesse que é preciso saber aceitar as pessoas tal como elas são. Mas é preciso estar-se atento para que aceitar alguém como é não significa torna-se cúmplice dos seus vícios e fraquezas. Trata-se de compreender as razões pelas quais a fazem ser como é (possessiva, autoritária, insegura, etc.), nunca, porém deixando de convidá-la a examinar a possibilidade de corrigir seus defeitos. Isto exige muito equilíbrio, pois, pode-se cair no oposto de pensar que uma pessoa só é boa e está certa quando seu pensar e o seu agir batem cem por cento com o nosso. Quem garante que estamos certo?

Portanto, o amor é um sentimento singular e maravilhoso, que acontece entre os humanos, não entre anjos. O que é preciso é uma enorme vigilância para não se confundir liberação amorosa sexual, com aceitação vulgar da condição de produto descartável. O amor transcende a todo entendimento racional, transcendendo, portanto tudo que dissemos. É o sentimento mais alto do ser humano e, como disse o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980): “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.

3 de setembro de 2021

SERÁ ÉTICA A NOSSA PAIXÃO PELO MEIO AMBIENTE

A palavra “ecologia” é derivada do grego “oikos”, que significa ”casa“ e, ”logos“ que significa estudo. Entretanto, juntando as duas palavras gregas e fazendo a tradução etimológica para o português que quer dizer: ”estudo da casa“. No sentido mais amplo, pode-se considerar o termo casa como todo o ambiente terrestre; a palavra ecologia, então passa, a se referir ao estudo do ambiente. Vamos então refletir sobre essa casa ambiental.

Todavia, nunca em nenhum momento da história, a questão ambiental esteve tão em evidência aos olhos da civilização humana, como está atualmente. O que justifica essa mudança tão repentina? Para uma espécie que, na sua relação com a terra, acostumou-se a retirar dela o que precisava para sua existência material, cultural e porque não dizer simbólica.

Será ética e verdadeira a nossa paixão pelo meio ambiente, pelos outros seres vivos, incluindo nossos semelhantes? Na verdade, estamos falando de solidariedade universal, do respeito ilimitado a todo o organismo vivo que anima esse planeta. Existe de fato responsabilidade frente às consequências dos nossos atos e do cuidado que se caracteriza como uma relação amorosa, carinhosa, de ternura, bondade e amabilidade perante as coisas e as pessoas da nossa casa comum, que é esse planeta terra?

Na verdade, somos seres que vivem na pele dessa pérola chamada terra. Então, me intriga pensar nessa forma de amar a natureza. Seria, pois uma paixão e não um amor a terra, no qual o que está em questão é se estamos sendo prejudicados ou não nessa relação? Nosso eco paixão é um estado de satisfação individual?

Entretanto, somente os apaixonados saberão a intensidade da analogia que me proponho a fazer. No estado de paixão nos apossamos do outro como objeto que, em alguma medida, nos pertence e usamos ou somos usados por ele. É um jeito de gostar intenso e de adoecedor o outro. Quando amamos verdadeiramente, queremos ver o outro bem e feliz. Ocorre-me pensar que num estágio patológico, de gostar do outro, sua destruição também nos satisfaz.

No entanto, isso é gozo e não desejo, ou seja, o outro lado do mal. Quantos relacionamentos sofrem dessa inversão afetiva, isto é, do amor ao ódio e a descoberta do não amor, da indiferença. Nas nossas almas, onde moraria esse amor à oikos, nossa casa terra? Vivemos humanamente na casa comum a todos? Parece que nosso discurso teórico está desconectado da pratica. Falamos mais do que fazemos.

Portanto, compaixão seria entender e dividir o sofrimento do outro. Estaríamos dispostos a ter compaixão pela terra que hoje está adoecida, pelos pobres, pelos miseráveis e famintos do mundo? Contudo, encerro essa reflexão, deixando o seguinte pensamento. Será que a forma de como nos relacionamos com a nossa casa, com nossa maneira de morar nela e de nos relacionarmos com os nossos semelhantes e seres de outras espécies, realmente está correta? Vamos juntos pensar nisso?

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...