30 de novembro de 2019

SOU A ALMA QUE ME ANIMA

A tua alma é uma luz, não a extingas. Tua alma é um santuário, não a profanes. Tua alma é um poema, não lhe roubes a poesia. Tua alma é um mistério, silencia-lhe os segredos. Tua alma é um arco íris, contempla-lhe os primores. Tua alma é um sopro de Deus, defende-lhe a vida divina. De modo que, quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.  Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. O sonho é o que temos como demais sagrado. Não o mate, porque isso é a tua alma.  

Se tudo isto é tua alma, por que não fazes a tua vida à imagem e semelhança de tua alma? Certamente não foi o corpo que produziu a alma, e sim a alma que produz o corpo. É a alma espiritual que arquiteta o edifício material do teu ser. É a alma o principio ativo que domina o elemento passivo. É a alma que pensa e quer, que sente e ama, que imagina e recorda. É a alma que sobrevive imortal ao corpo mortal. É a alma que para uma vida nova ressuscita o corpo desfeito. No entanto, quem quiser vencer na vida deve fazer como os grandes sábios: “mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos lábios”. As decepções existem para quem cria expectativas. Exatamente por não enxergar a vida com a alma.

Portanto, se tudo isto faz a alma, por que das ao corpo as vinte e quatro horas do dia e nenhuma hora à alma? Por que não lhe das, em carinhosa solicitude ao menos uma hora por dia? Por que não a fazes respirar na atmosfera divina, quando desejosa de Amor? Tenha caridade para com tua alma, porque tua alma é tua vida. Você é tua alma. Todavia, o que está procurando é uma forma de experimentar o mundo onde se vive. Que abra para a transcendência que o inspira. E que inspira a nós mesmos dentro do mundo. É isso que quer e é isso que a alma pede. Contudo, procuramos uma harmonia com o mistério que anima as coisas, que nos permita ver e sentir a presença divina. E saudar o Criador que existe dentro de você. Você é tua alma, você é a “divindade.  

28 de novembro de 2019

NÃO SOU FORTE QUANDO ME COMPORTO COMO A MANADA

Como diz o filósofo e educador Mario Sérgio Cortella (1954), num dos seus textos: “eu não sou forte quando me comporto como a manada”. Pensando melhor sobre essa frase, só consigo ser forte quando tenho uma conduta consciente, em tudo que faço, porque decido o que fazer. Não porque as outras pessoas também o estão fazendo. Esse comportamento mimético(que imita), simiesco (parecido com macacos), em relação a algumas práticas é sinal de fraqueza e de pusilanimidade (fraqueza de ânimo).

Aceita-se hoje, com a maior facilidade, o que chamo de ética da conveniência. Bom é tudo aquilo que me favorece. O que não me favorece considero ruim. Em vez de termos valores de conveniência que sejam sólidos, menos superficiais, portanto, menos cínicos, há uma hipocrisia que leva a esquecer que ética não é cosmética. Não é efeito de fachada.

Nessa hora, costumo lembrar um alerta valioso feito pelo Corpo de Bombeiros: nenhum incêndio começa grande, e sim com uma faísca, uma fagulha, um disparo. Isso se aplica ao campo da ética. O apodrecimento dos valores éticos positivos se inicia também com pequenos delitos, infrações, aceitações, conivências. A expressão “o amor aceita tudo” é absolutamente antiética e antipedagógica. A pessoa que seja capaz de amar é aquela que recusa aquilo que faz mal, por isso um pai e uma mãe não pode jamais dizer ao filho “é porque eu te amo, então tudo aceito”.

É exatamente o inverso: porque eu te amo é que eu não quero que você use drogas ilegais; é porque eu te amo que eu quero que você seja decente; é porque te amo que eu não quero que você banalize a sua sexualidade livre e bonita; é porque eu te amo que eu quero que você tenha esforço na sua produção e é porque você me ama que eu quero que você, meu filho, minha filha, me adverte, também me apoia, também me corrija naquilo que eu estiver equivocado.

Portanto, essa relação de cuidado mútuo, só nos faz crescer. Por isso esse exemplo do cotidiano tem que aparecer como sendo a recusa com qualquer situação. A ética do amor não é a ética da conveniência em que, as coisas valem a partir de qualquer momento, mas uma ética que é capaz, também de dizer não ao que tem que ser recusado. Viver com maturidade é aprender com os erros, aceitar todas as diferenças, e não buscar perfeição em ninguém.

26 de novembro de 2019

UMA CRIANÇA QUE LÊ SERÁ UM ADULTO QUE PENSA

Fomentar a leitura em qualquer idade sempre é sinônimo de enriquecimento, mas incentivar esse hábito entre os mais jovens da sociedade é uma garantia total de um futuro melhor. Uma criança que lê irá se convertendo em um adulto com ideias próprias e uma mentalidade firme, capaz de questionar o que a cerca e de compreender mais facilmente seu lugar no mundo.

Uma criança que lê será um adulto que pensa, porque não há um domínio maior do conhecimento do que aquele que nos oferecem os livros. Quando lemos nos nutrimos de imaginação e raciocínio que os outros depositaram em folhas em branco, e somos mais receptores quando nos abrimos: as crianças, sem preconceitos, são capazes de ler com toda a sua gama de emoções depositadas na leitura.

Ler nos ajuda a pensar e pensar nos liberta, assim, se seu filho gosta de passar o tempo lendo histórias, é melhor que continue agindo assim. Na verdade, essa será a forma mais eficaz que ele terá para enxergar uma variedade de situações, opiniões e de condutas que a vida oferece: com certeza isso ajudará a formar a tolerância da criança e ela ganhará em respeito e solidariedade.

Ler é como viajar em todos os seus sentidos e nos ajuda a abrir a mente: uma criança que lê descobrirá outras culturas, outros modos de vida, outros costumes diferentes dos seus e saberá, muito antes do que aquele que não lê, que existem outras coisas além do olhar cotidiano. Ter consciência disso fará com que ela se torne um adulto que escapará de juízos de valor gratuitos e se sentirá menos preso aos interesses de outras pessoas.

Por sorte ou por azar, o mundo administra os que acreditam ser normais, mas dá vida plena a aqueles que acreditam ser loucos. Já dizia Dom Quixote: ele lia e lia até que encontrou a forma de viver baseado em suas crenças e ilusões que o permitia ser feliz, enquanto ao seu redor continuava sujeito a uma realidade convencional que julgava a sua maneira de viver.

Os “loucos” que leem são capazes de encontrar o refúgio das misérias da vida enquanto os que não o fazem, vivem nelas sem sequer estarem conscientes disso. Por isso, é preciso deixar uma criança chorar e rir ao ler um livro, é necessário permitir-lhe se apaixonar por uma história e apoiá-la se ela decidir entrar com tudo nesse campo da imaginação, que está ao alcance de qualquer um.

Portanto, existem várias atividades que ajudam a desenvolver e melhorar a imaginação independentemente de quantos anos nós tenhamos, incluindo uma das mais bonitas que é a leitura. Ela responde pela criatividade dos seres humanos. Uma criança que lê será uma criança que pensa. Ler é brincadeira, é entretenimento, é construir sonhos, é refletir, é um estado de ânimo, é isolamento e companhia, é prazer. Ler brinda lembranças que foram cumpridas e outras que cumpriremos, e move as incertezas mais internas para nos aproximarmos delas.

24 de novembro de 2019

SÓ AQUELE QUE AMA COM A ALMA COMPREENDE

Para compreender o sentido do amor, é importante gravar a fogo e a ferro bem dentro da alma, esta verdade máxima da vida: “Só se compreende integralmente, o que se ama com o coração e com a alma”. É esta a síntese de toda filosofia, se a não compreenderes não compreenderás a alma da vida. Pode uma verdade ser meridianamente clara, se não te for simpática ao coração, irá parecer obscura como as noites frias de inverno.

Pode uma ideia ser absurda e paradoxal como um aborto no hospício, se tiver por aliados o coração e a alma, não faltará quem a proclame como a quintessência da sabedoria. Dizem os filósofos que o "querer" segue ao "entender" com a força da razão, no plano do universo cósmico. A natureza na sua imensa sabedoria, aceita e conhece essas razões.

Mas, na vida prática, a verdade mal entendida só tornará plenamente entendida e de todo compreendida, depois de amada e querida de todo o coração, de toda a alma e com todas as forças do nosso "ser". Todavia, quem ama perdoa, se alguma verdade sobre o amor quiser realmente compreender, importa que ames e viva essa verdade na sua essência. Que abraces com o coração, ao mesmo tempo em que analisas com a inteligência. Só de um grande entusiasmo afetivo nascerá uma grande claridade compreensiva.

Importa que o amor te seja algo querido e íntimo, quase uma parte de si mesmo. Que circule nas artérias de teu espírito. Que lavre nas profundezas de tua alma. Que vibre nas pulsações do teu coração. Que arda na cadência do teu "ser". Só assim, compreenderás cabalmente as grandes verdades da vida. Vivendo, amando, sofrendo essa verdade do amor.

Pode um cego de nascença decorar todas as teorias sobre a luz, pode saber que a luz consiste em vibrações do éter, mas nunca compreenderá bem o que é a luz se não a ver com os seus próprios olhos e viver com a alma. Pode um surdo nato ler a descrição minuciosa de uma sinfonia de Ludwig van Beethoven (1770-1827) ou de uma ópera do maestro Richard Wagner (1813-1883), mas nunca formará ideia do que sejam na realidade essas maravilhas musicais.

Portanto, se queremos viver um bom relacionamento, porém verdadeiro, seja no trabalho, no namoro, ou em poucas horas ao lado de alguém especial, devemos aprender a nos aceitar como somos e olhar para o outro, como um caminho para o crescimento. Estar com alguém plenamente é a possibilidade de vencer o medo da entrega e de se conhecer no íntimo. Conviver com alguém que amamos é o mesmo que comprar um imenso espelho da alma, no qual, nos mostra como somos sem piedade. Ao invés de encarar a verdade e de ver a imagem temida do “eu verdadeiro”, então quebramos o espelho. Fugindo da intimidade, culpando o outro, não assumindo as próprias responsabilidades é desacreditar do "amor". Contudo, conviver com alguém especial, não é apenas uma oportunidade de conhecer o outro, mas é a maior chance de entrar em contato consigo mesmo. De modo que, compreender meu semelhante é mergulhar na "essência da vida". 

22 de novembro de 2019

SÓ TE AMA AQUELE QUE AMA A TUA ALMA

Posso dizer que foi através da poesia e da literatura que conheci o verbo amar. Fui contaminado pelo amor a partir das minhas reflexões. Num encontro com os alunos do “ensino médio” de uma escola estadual materializei o amor. Naquele momento pude perceber o quanto de mistério existia nesse sentimento que nos fere e nos abranda ao mesmo tempo. A aula era sobre “O Banquete de Platão”, onde se discutia o amor platônico. Ficou claro como uma luz, que o amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Porém, esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu “Eu” não é infinito. Compreendi que o amor é capaz de nos ensinar estas duas lições, por isso ele é abençoado. Senti naquele momento que o amor, além do mistério que o cerca, ele se faz presente através do contato físico, do aconchego, das trocas calorosas e principalmente, pelo prazer de conversar com a pessoa amada. Nem que seja por telepatia. A música “Said I Loved You But I Lied”, interpretada por Michael Bolton, vem reiterar o que estou afirmando: “Disse que te amava, mas eu menti. Pois isso é mais do que amor que sinto por dentro”. Como dizia Platão num dos seus diálogos: “Só te ama aquele que ama a tua alma”. Talvez por isso que o amor seja triste e sofrido.

Todavia, o meu encontro com o outro se da pelo olhar. É no olhar que te vejo, pois, no olhar eu te mexo, só de olhar nos excitamos. Logo, é pelo seu olhar que me entrego de corpo e alma. Estas coisas não são verbalizadas com clareza. Só quem ama entende. Fiz os alunos viajar nas ideias inatas de Platão. A beleza do outro está no olhar, porque nele está o passaporte para a sua alma. É na alma que o amor reside com toda sua força e plenitude. O Belo não está no corpo, mas, na essência da alma. Somente o amor o torna capaz de conscientizar o outro daquilo que ele pode vir a ser. Nesse momento sou a vela e o amor é a chama, que arde pelas nossas entranhas e ilumina a nossa alma, até o ultimo suspiro. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Quem tem um porque para viver, pode suportar qualquer coisa”. Um dia vamos deixar esse mundo da matéria.

Leo Buscaglia foi um dos maiores escritores acerca do amor no século XX, que coincidentemente faleceu aos 74 anos no dia dos namorados, 12 de junho de 1998. Ele dizia que: “Viver o amor é o maior desafio da vida. Porque exige mais sutileza, flexibilidade, sensibilidade, compreensão, aceitação, tolerância, conhecimento e força espiritual, muito mais que em qualquer outro esforço ou emoção”. Tanto é verdade, que uma das coisas mais linda da natureza humana é o encontro amoroso. Neste contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez amorosa, somos estimulados pelas afinidades que nutrimos um pelo outro. O fato de vislumbrar alguém que primeiro nos prendeu pelo olhar, o sorriso, pela conversa agradável, é nesse momento mais feliz que chagamos o mais perto possível do amor. Todavia, podemos estar junto de uma pessoa por algum tempo, e não sentir nenhuma vibração. Não acontece nada, não da química, não há comunicação entre os corpos. Ao contrario, quando há afinidades, trocas de olhares e uma boa comunicação entre ambos, começa ocorrer um fenômeno que só pode ser chamado de amor perfeito. É um momento de iluminação a dois, a luz de um reflete o brilho do outro.

Entretanto, quando estamos num bom momento para os dois, vai descendo sobre nós uma espécie de campânula nos aquecendo e, ao mesmo tempo nos isola do mundo. São duas pessoas em estado de graça e mais nada. Poderíamos comparar esta sensação de isolamento a dois como a formação de um casulo. Ocorre o isolamento porque vai acontecer uma coisa muito importante e muito delicada. Nesse momento só existe os dois no universo. A maior prova da existência desse casulo, é que ele é natural e não cultural. Não há nada mais delicioso que a aventura do encontro de duas almas que se amam. A emoção que invade o coração da pessoa que está encantada com a outra, é de importância vital para a prática do relacionamento Tântrico. Quem pratica sente-se renascido, revitalizado, repleto de energia tântrica, de entusiasmo e alegria. Viver o amor Tântrico é ambos estarem tranquilos e se ajudarem mutuamente. O amor se conduzirá por si mesmo e juntos percorrerão as mais belas e paradisíacas paisagens que ficarão marcadas para sempre na memória dos eternos apaixonados.   

Portanto, encerro essa reflexão fazendo uma homenagem à mulher que é consagrada à “Deusa do Amor”, pela sua forma de receber e dizer te amo. A mulher que sorri sofrendo diante da dor. Carrega o mundo diante da vida. A mulher que se arruma todas as manhãs, para o início de mais um dia. Sorri para os filhos não se preocupar. Chora muitas vezes de alegria sem se poupar. A mulher que é pura emoção materna. Perdoa o imperdoável de forma terna. Perdoa infinitamente o filho indiferente. Seus olhos brilham mais que o sol nascente. Carrega o mundo em sua placenta. Será que algo mais acrescenta, por tudo que a mulher nos representa? Contudo, foi pela poesia e a  literatura que o amor se fez verbo em minha vida. Hoje posso dizer o que significa o verbo amar. Porque esse verbo intransitivo é como a muralha romana, nada pode derrubar. Pelo simples fato de que seus aplicativos são para sempre.  

20 de novembro de 2019

A TERNURA É A SEIVA DO AMOR

É comum nós teorizarmos sobre a felicidade que o amor nos traz. A maioria faz da busca pelo amor a meta de sua vida. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nossos dias. Como argumenta o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860): “que não devemos nos culpar tanto pelo estado de desespero e obsessão em que entramos quando o amor fracassa”. Ficar surpreso com a dor da rejeição é ignorar o quanto de entrega a aceitação exigiria. No entanto, misteriosa é a travessia do coração de um homem e respectivamente do coração de uma mulher que se encontram e declaram seus mútuos afetos. Somos carimbados, marcados e flechados pelo cupido. Há um querer demorar e até eternizar no outro, pelo amor, pelo apreço desta companhia e pela valorização de uma vida de luta e esperança neste amor. Quando encontramos uma pessoa, pela qual nos apaixonamos, prontamente dizemos: “eu te amo, mas, não é porque és bela e sim és bela porque te amo”.

Entretanto, é neste vai e vem que nasce o estado mais gostoso da vida a dois. As pessoas se encontram inevitavelmente expostas para este evento imponderável, que é o estado amoroso. Mesmo no coração da atual crise social não podemos esquecer-nos que da ternura nasce o amor. A nossa própria existência não é fixada, vivemos em permanente dialogação com o meio. E nessa troca não deixa ninguém imune. Não raro o êxtase é seguido de decepção. Há voltas, perdões, renovação de promessas e reconciliações. Sempre sobram, no entanto, feridas que mesmo cicatrizadas, nos lembram que um dia sangraram.

O amor é uma chama viva que arde, mas que pode estar prestes a extinguir-se e lentamente se cobrir de cinzas e até se apagar. A indiferença é o maior veneno para o amor. Não é porque as pessoas se odeiam que esta chama se apaga. Quando as pessoas ficam indiferentes umas às outras, é que acontece a morte do amor. No verso 11 do Cântico Espiritual do místico São João da Cruz (1542-1591), que são versos de amor entre a alma e Deus, diz ele com fina observação: “a doença de amor não se cura sem a presença e a figura”. Por conseguinte, não basta o amor platônico ou o amor virtual. O amor exige a existência e a presença do outro. O amor quer a figura concreta que é mais que uma simples imaginação sutil de um poeta trovador. O amor quer sentir o palpitar dos corações dos amantes.

Para o filósofo e teólogo São João da Cruz: “o amor é uma doença que, nas minhas palavras, só se cura com aquilo que chamaria de ternura essencial”. Reiterando as palavras do místico poeta, vou um pouco mais além, citando outro grande filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “a ternura é a seiva do amor”. Penso que se cada um quiser guardar, fortalecer, dar sustentabilidade ao amor, que “seja terno para com quem se ama”. Sem o azeite da ternura não se alimenta a chama sagrada do amor, certamente ela se apagará. Lembrando que ternura não é simplesmente uma emoção, excitação de sentimento face ao outro. Porém, se assim fosse seria sentimentalismo que é um produto da subjetividade mal integrada. O sujeito que se dobra sobre si mesmo e celebra as suas sensações que o outro provocou nele. Nunca sairá de sim mesmo, ao contrário, a ternura irrompe quando a pessoa se descentra de si mesma e sai na direção do outro, sente o outro como sendo parte da sua essência, participa de sua existência, se deixa tocar pela sua história de vida.

A ternura não é efeminação e renúncia de rigor. É um afeto que à sua maneira nos abre ao conhecimento do outro. Segundo o Papa Francisco (1936), falando para os bispos latinos americanos presentes, quando esteve no Rio de Janeiro, cobrou-lhes “a revolução da ternura” como condição para um encontro fraterno e verdadeiro. Só conhecemos bem o outro, quando nutrimos afeto e nos envolvemos com essa pessoa que queremos estabelecer laços de comunhão amorosa. É aqui que a ternura pode e deve conviver com o extremo empenho por essa causa.

Portanto, a relação de ternura não envolve angústia porque é livre de busca de vantagens e de dominação. O nascer do amor se da pela própria força do coração. É o desejo mais profundo de compartilhar carinhos. A angústia do outro é minha angústia, seu sucesso é o meu sucesso e sua salvação é a minha salvação. O amor e a vida são frágeis. Sua força invencível vem da ternura com a qual os cercamos e sempre os alimentamos. Encerro esta reflexão citando um grande bandeirante do amor, o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998). Ele foi idealizador de um curso sobre amor na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos. Publicou um livro com o título “Amor”. Faleceu no dia dos namorados, 12 de junho de 1998 e nos deixou a seguinte mensagem: “O amor tem os braços abertos. Se você fechar os braços ao amor, verá que está apenas abraçando a si mesmo. Quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu. O amor verdadeiro só cria, nunca destrói”. Toque sempre o coração e a alma de quem você ama. “Viva os amantes, que pelo o amor são atraídos”.   

16 de novembro de 2019

O SOCIAL INVARIAVELMENTE IGNORA O AMOR

Ninguém imagina o abalo ontológico provocado pela separação amorosa. Caracteriza-se pela descontinuidade afetiva nas relações amorosas, trazendo a experiência da morte dentro da vida dos apaixonados. No entanto, a sociedade parece já não conceder ao amor e à paixão o lugar de destaque outrora ocupado por esses sentimentos. Nossa sociedade consumista tornou-se indiferente ao amor. Cultivamos uma tendência quase que imperativa para matar o amor na sua essência, colocando todos os tipos de antidoto para neutralizar os efeitos desse sentimento tão nobre, como se ele fosse um veneno para a nossa alma.  Estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte em nossa vida. Se a união de dois amantes é o efeito da paixão, ela invoca a morte, o desejo de matar ou o suicídio. O que caracteriza a paixão é um “halo” de morte (halo é um anel de luz que rodeia um objeto).

Entretanto, o poder do dinheiro, que vem corroendo a liberdade de amar. Contudo, permite-se que a liberdade erótica seja confiscada pelos poderes do capital, do mercado e da publicidade. O corpo vem sofrendo a dessacralização e vem sendo utilizado a serviço da propaganda. Porém, a nossa sociedade capitalista e democrática, aplicou as leis impessoais do mercado e a técnica da produção em massa na vida erótica das pessoas. Assim a degradou, embora como negócio tenha sido um grande sucesso. O corpo como mercadoria, tornou o amor desnecessário. Quando o amor se declara, viramos as costas e mergulhamos na solidão do vazio.

As consequências apontadas em as chamas do amor e do erotismo é a de que o amor, que foi suporte moral e espiritual das sociedades durante milênios, está ferido de morte. De um lado, a promiscuidade traz uma pseudo-liberdade erótica que, subvertendo o afeto, transforma-o em passatempo. Do outro lado, o poder do dinheiro, o apego ao patrimônio e ao desejo de preservá-lo. Nesse contexto, o amor é impossível, não há espaço para ele. Ainda existe pessoa que acredita que estar só é um estado de paz e liberdade. Será? Não fomos feitos para viver a sós e isolados. Nem os animais irracionais suportam a solidão.

Portanto, podemos deduzir que as chamas, “amor” e “erotismo” em seu sentido mais puro e essencial, ligada à profundidade do prazer íntegro, espiritual e pleno, vêm sendo paulatinamente abafado. Contudo, nesse contexto de apagamento do afeto situa-se a experiência da dor amorosa, ainda reservada aos que, deixando-se envolver afetivamente, embarcam na utopia de alcançar o amor do outro. O problema é que na relação amorosa envolve um “Eu” que deseja o “Tu”, e com ele tem um período de encanto, de amor e de posse. Quando o amor está alicerçado e feliz, ambos se destroem por insegurança e fraqueza, querendo provar um ao outro, a importância do social e o que a sociedade pensa do amor. Imagina só! E o que vem depois para quem continua amando é a constatação da perda. Triste fim! Ocorre então, a resignação e a racionalização, tipo “foi melhor assim”. Foi melhor pra quem?   

15 de novembro de 2019

O AMOR É UM CAMINHAR SOBRE ESPINHOS

O que sentimos no fundo da alma por uma pessoa, está no desejo ou no amor? Será que desejo e amor se confundem? Para Platão (427-347), não importa, pois, esse deve ser o ponto de partida para um caminho ascendente de contemplação intelectual ou espiritual por essa pessoa. Argumenta ele que é como ir subindo vários degraus: A função do desejo e do amor na alma humana é impulsionar em direção ao alto, em direção à contemplação da beleza em si mesma, eterna e incorruptível.

No entanto, o que Platão nos mostra é, que o amor é um caminhar sobre espinhos, uma loucura e um arrebatamento, mas não deve servir apenas à satisfação dos desejos inferiores da alma. Ele pode e deve envolver jogos eróticos, como carícias, beijos, toques, mas tudo isso no campo das ideias. Como muito bem ensina o Tantra Hindu. Os rituais desses encontros envolvem a aproximação muito lenta do homem com a mulher, aproveitando cada passo, sentindo cada pequeno gesto, olhar, sorriso e contato físico. Uma forma sábia de prolongar estes momentos prazenteiros é viver em eterna delícia. Esta é a essência da mensagem Tântrica, que Platão afirma no mundo das ideias.

Procurar por esse amor estará sujeito quase sempre a encontrar prazer e dor como diz nos diálogos de Platão sobre o amor. É nas relações afetivas que essa combinação paradoxal surpreende e fere, acima de qualquer sensação física. Nesse envolvimento passional as impressões subjetivas sutilmente superam a racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no coração, mas distinguem-se no cérebro. Pode-se dizer que no porquê e no apesar estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Só as almas conhecem e conversam telepaticamente, ultrapassando a temporalidade.

Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão. Tendo em vista que na paixão, está o princípio da dor e no amor está o princípio do prazer. Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão vem à posse, o ciúme e a cobrança. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a lealdade, formas de amar que poucos reconhecem. Nenhum relacionamento sobrevive sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento – atributo da passionalidade insensata – mas da razão, atributo da maturidade racional.

Entretanto, nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e repelem-se, para negar e consentir no trânsito entre o amor e o não amor à simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não ódio, a insegurança. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais, familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo, mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela mentira, pelo desprezo ou pelo egoísmo.

Portanto, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor. Não existe outra forma de descobrir o amor e, sem ele a vida não tem significado. Contudo, desejo aos jovens que não amadureça depressa demais e sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança e do bem, se algum houve, as saudades. 

10 de novembro de 2019

O DIÁLOGO É UMA FORMA DE RESPEITO MUTUO

O diálogo se constrói de forma ética e solidária. A palavra, substrato do diálogo, é o instrumento mais eficaz para a democratização dos saberes, para a resolução de conflitos, para a interação entre os povos e para consolidação do desenvolvimento cultural, técnico e científico que impulsiona o processo civilizatório. Só ao ser humano foi dada a capacidade de dialogar, o que faz do diálogo uma característica única na comunicação humana. Pressupõe a reciprocidade existencial e ao mesmo tempo as diferenças e as semelhanças, que nos tornam pessoas mais interessantes. O diálogo é a base e o ponto de partida para compreendermos o outro. É que torna viável o entendimento entre duas ou mais pessoas. Denota respeito e capacidade de compreensão dos problemas, sobretudo, porque o dialogo é racional e consciente. Por outro lado, o respeito além de racional está no plano do espiritual e, é até mais importante que o amor.

O diálogo é a ponte que une as pessoas e, em especial os casais. Quando um casal aprende a demonstrar através do diálogo o que espera um do outro, o que gosta e o que não agrada, a relação fica mais verdadeira e tende a durar. Entretanto, o medo de conversar é uma semente que vai crescendo na relação e, com o passar dos anos, vai corroendo os sentimentos e essa união supostamente estável. Muitas vezes, quando um dos dois resolve falar, terminam descobrindo que já estão vivendo em mundos tão distantes e tão diferentes que às vezes é tarde demais para reativar o encanto. Pois a semente do amor foi sufocada pelo veneno das mentiras, da hipocrisia e até da omissão. Tendo em vista, que o diálogo pode acontecer de diversas maneiras, até mesmo através dos olhares, palavras e atitudes, são formas de dialogar.

Entretanto, o diálogo é capaz de unir pessoas de tal forma que elas se sentem valorizadas e aptas para viver o respeito e a solidariedade. Todavia, quando o relacionamento começa a perder esse alicerce do diálogo, as pessoas vão se distanciando e, o mais grave, vão criando uma espécie de alucinação mental. Começa a pensar que o outro não gosta mais dela. Muitas vezes chegam a pensar que a sua relação foi pautada em um amontoado de mentiras. Quando na verdade, o que marcou o fim da relação foi à falta de dialogo e respeito. Quanto menor for à comunicação e a falta de respeito dentro de um relacionamento, maior é a distância entre as pessoas.

Por conseguinte, amar é dialogar, é saber falar ao outro das coisas que não estão indo bem e ter a humildade de se mostrar ferido, quando sua conduta não agrada, no momento em que essas coisas estão acontecendo e antes que elas se transformem em sentimentos amargos. É saber valorizar tanto o outro, a ponto de não deixar que nenhuma desconfiança paire sobre ambos. Sentimentos que no futuro podem vir a prejudicar a relação amorosa. Como argumenta Platão, o pensamento é um dialogo da alma consigo mesmo.

É bom lembrar, que não há razão de ser qualquer situação nessa vida que não esteja baseada na verdade. E a ponte para se chegar a verdade é o dialogo. De nada adianta viver ou tentar qualquer atitude se a verdade não for à chave para essa experiência. Se você realmente quer viver e cultivar um grande amor, comprometa-se com a verdade. Não pense que isso o torna um ser humano proibido de cometer erros. Todos nós tomamos atitudes muitas vezes equivocadas.

Portanto, estamos num processo de crescimento e evolução, cada qual no seu nível, na sua tentativa. No entanto, quando estamos comprometidos com o dialogo e com o respeito, tudo vale à pena, tudo pode ser superado e tudo pode ser perdoado. Contudo, o respeito é o maior segredo, o mais precioso tesouro, o mais nobre das ferramentas humana. Saiba que, por mais difícil e doloroso que possa parecer esta experiência, é somente assim que nós podemos estar certos de ter passado por esse mundo sendo autênticos e preservado o respeito. Enfim, uma relação solida se constrói a custa de muito diálogo e pautado na verdade e no respeito. Vamos pensar nisso!

5 de novembro de 2019

O DESCARTISMO DO AMOR CONTAMINOU OS SENTIMENTOS


Na sociedade atual, com a facilidade ao acesso a comunicação através da internet e do celular, fala-se e escreve-se muito sobre sexo e quase nada sobre o amor. Talvez porque o amor, sendo um enigma, não se deixa decifrar, repelindo toda tentativa de classificação ou definição. Ao contrário, a literatura nunca deixou de falar do amor, principalmente, nas poesias, é nesse campo mítico por excelência que aparece a metáfora como possibilidade de compreender melhor o amor. Todavia, não há como negar que esse vazio conceitual se deva à dificuldade de expressar o amor no mundo contemporâneo. Tendo em vista, o desaparecimento das sociedades tradicionais, cujos costumes envolviam fortes relações entre as pessoas. Entretanto, nossas cidades com o aumento de suas populações, com seus arranha-céus, estão criando espaços para a solidão, o chamado fenômeno da “multidão solitária”. As famílias desintegrando-se e dispersando-se em busca de emprego. Por outro lado, as pessoas caminham lado a lado, mas suas relações são territoriais e não sociais. Seus contatos dificilmente se aprofundam, tornando-se mais raro os encontros verdadeiros e amizades duradouras.

O jovem de hoje tem muito mais possibilidade de contatos prazenteiros, mas totalmente descompromissados de intimidades afetivas. Com essa facilidade de ficarem com vários numa única noite, ao mesmo tempo não estabelecem relações intimas duradouras, porque suas relações são muito inconsistentes. Os ditos apaixonados se juntam e separam com a mesma facilidade. Não há amor, não há envolvimento, porque não criam vínculo. Ficam somente no campo do desejo e do epidérmico. Na verdade, isto não é namoro e sim encontro casual, puramente físico e sem compromisso. Agradável a principio, excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca de troca e carência instintiva. Mas cansativo a longo prazo porque se espera mais do que só a relação física, portanto, torna-se desapontador para ambos.  

Para a jornalista e escritora ítalo-brasileira Marina Colasanti (1937): “pertencemos à geração do descartável, desinventamos o duradouro. À navalha, que durava a vida inteira, hoje preferimos o barbeador que se utiliza só por algumas vezes e se joga fora. Trocamos o bom e sóbrio tecido que usaríamos durante anos, pela alucinante cor da moda que durará apenas uma estação. Resistência e boa qualidade tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é obsolescência planejada. Parece que o amor ficou fora de moda e o sexo tornou-se mais atraente. Esse descartismo do amor contaminou os sentimentos, sem, entretanto, mudá-los por completo”.

Todavia, não é só nas relações entre duas pessoas, que os encontros afetivos estão empobrecidos. A nossa organização social de efeito capitalista tem modos de convívio social baseados na competição e rivalidade. Essa sociedade vê no amor o seu pior inimigo. Fala-se tanto em cristianismo, onde se prega o amor ao próximo. Foi à classe dominante que inventou essa história de igualdade, que espalhou esse veneno pelo mundo afora. E hoje tentam nos mostrar que o amor não é absolutamente a força maior que fomenta a humanidade. Por conseguinte, vivemos dentro de uma sociedade onde tratam as relações como superficiais e descartáveis. Estamos às vésperas do prazo de vencimento das relações afetivas. Os relacionamentos estão cada vez mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais perto de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles mesmos.

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), os avanços tecnológicos influenciaram muito o ser humano em suas relações de um modo geral, que o amor líquido (que mal começa e já termina), representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, a flexibilidade com que são substituídos. É um amor criado pela sociedade atual, a chamada modernidade líquida, para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros, já que nada permanece nesta sociedade, o amor não tem mais o mesmo significado, foi alterado como algo flexível, totalmente diferente do seu verdadeiro significado de durabilidade e perenidade.

Portanto, para muitos o amor romântico está fora de moda. O amor verdadeiro em sua definição romântica foi rebaixado a diversos conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais se referem utilizando a palavra amor. Principalmente no sexo casual, hoje praticado por uma parcela significativa, na tentativa de camuflar os impulsos instintivos e biológicos do ser humano a ser satisfeito, enganando aos seus parceiros, dizendo “vamos fazer amor”. Entre essas pessoas é muito fácil ouvir “eu te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando. A palavra amor foi rotulada de uma forma, em que as pessoas nem sabem direito o que sentem, não conseguem definir a diferença entre amor e paixão e mesmo assim utilizam incorretamente esta palavra, que perdeu sua importância. Contudo, as pessoas preferem o encontro pela internet, no campo do virtual, porque sendo assim, quando quiserem podem apagar o que haviam escrito, ou simplesmente apagar um contato e facilmente dizer adeus. Enfim, ter o sexo é fácil, contudo, tornou-se difícil ter o amor e com isso estamos matamos um sentimento que poderia salvar a humanidade.


2 de novembro de 2019

O AMOR EXIGE CUIDADOS RECÍPROCOS

Invariavelmente, as juras de amor são acompanhadas do desejo e da exigência dos cuidados recíprocos dos amantes. De modo que o amor pressupõe reciprocidade. O amor exige um cuidado recíproco, que muitos não compreende. Claro, há o amor não correspondido, mas, ainda que sobreviva à ausência do ser amado, mesmo que seja chamado de amor, o nome mais propício é sofrimento. Na paixão, de fato, também há sempre um sofrer. Como afirma meu amigo filósofo e educador, Antônio Ozaí da Silva (Universidade Estadual de Maringá): “posso continuar a amar, e neste sentido é incondicional”. Mas a recusa do amor ou a impossibilidade de realizar-se o transforma em sofrer, angústia e dor. Pois o amor exige materializar-se reciprocamente.

Por outro lado, o amor condicional é possessivo. É típico daquele amor que quer sempre mais, aspirar a uma fusão total que lhe escapa. Esse amor caminha mergulhado no egoísmo, impulsionado pelo ciúme, o desejo de exclusividade. Um sentimento exacerbado de posse, desconfia de tudo, fruto da insegurança. Daí a necessidade de controle. Como argumenta Ozaí: “há amores possessivos, amores angustiados, que se reduz quase que exclusivamente ao controle físico e mental do outro. Há amores-ódio, amores-poder em que o amante é o carcereiro do amado, preocupado apenas com que ele possa evadir-se da prisão. O carcereiro teme os amigos porque estes são janelas por onde o prisioneiro vê a liberdade, e por onde pode escapar”.

Todavia, começa aqui uma sutil luta contra a amizade. O amor-paixão é êxtase, mas também pode ser cárcere. O amor condicional requer algum tipo de troca, é finito. O amor é dado apenas com base em determinadas condições satisfeitas pelo parceiro, ao contrário do amor incondicional. Que ama simplesmente sem nada esperar em troca. No relacionamento entre um casal, quem tem amor incondicional ama sem ter razões ou pré-requisitos. Dedica-se totalmente à relação, transformando o amor em uma ação praticada a todo instante, de variadas formas. O conceito é semelhante ao amor verdadeiro. Cuide para que não queiras receber mais do que tens a oferecer, por que há coisas que exigem extrema reciprocidade para que sejam possíveis. Esse sentimento é pautado na confiança e no respeito.

Para que um litro de água preencha um vaso, é preciso que este vaso tenha espaço para aquele um litro de água, pois se ele não tiver espaço suficiente, ele transbordará e a água sofrerá. De modo semelhante, a água precisa estar na medida certa que o vaso comporta, ou deixará espaço vazio, e aí será o vaso que sofrerá. No amor é preciso proceder da mesma forma; se quer viver um imenso amor, é preciso que cultive um espaço imenso em teu coração. E, se mais que isso, deseja um amor incondicional, o teu amor precisa ser incondicional primeiro – sempre, e sobre todas as coisas, ou ele deixará de ser incondicional.

Portanto, o amor verdadeiro, maduro, é livre, é incondicional, sabe ceder e perder com serenidade para o bem da pessoa amada; sabe viver quando tem o bem e também quando não tem; sabe dialogar e chegar a conclusões maduras e sensatas. O amor não nasce pronto, de uma vez, tem que haver vibração tem que ser harmônico. Amar é comprometer-se, como um amigo, companheiro, nas horas felizes e tristes, é ser honesto, sincero, confiante, verdadeiro em palavras e atitudes. O amor é como uma rosa, mas para que essa rosa exista, é preciso que exista também os espinhos. Mas, mesmo assim, o amor ainda é a maior força que existe em nós. O amor nos transforma e nos amadurece. Se não aceitarmos de coração aberto à dinâmica transformadora do amor, estaremos definitivamente negando a crescer e permanecer sempre infantil. Hoje posso dizer: “o que eu sou é o que me faz viver.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...