29 de julho de 2018

O PRESSUPOSTO DA AMIZADE É O AMOR

O pressuposto da amizade não é apenas conhecer o amigo e sim saber o que há de puro em sua alma. De modo que cada amigo novo que ganhamos, nos aperfeiçoa e enriquece, não pelo que nos da, mas pelo quanto descobrimos de nós mesmos. Penso no amor como uma amizade constituída, evidentemente, que ser amigo não é coisa de um dia. São gestos, palavras, sentimentos que se solidificam no tempo e não se apagam jamais. O amigo revela, desvenda, conforta. É uma porta sempre aberta em qualquer situação.

O amigo na hora certa é sol ao meio dia, estrela na escuridão. É bússola e rota no oceano, porto seguro da tripulação. Uma amizade honesta é o milagre do calor humano, que a divindade opera no coração. Na amizade sem pensar conquistamos o mundo e construímos o nosso pequeno lugar, deixando brilhar cada estrelinha. Ela pode ser bela, sensível, fria e cheia de ternura. Mas sempre presente em qualquer parte pelos donos da amizade pura, que só querem amar.

Digo aqueles amigos de longas caminhadas. Viajamos juntos por um tempo. Passamos por vilas e cidades, cachoeiras e rios, bosques e florestas. Não faltaram os grandes obstáculos. Frequentes foram as nossas dificuldades, ajudando um ao outro a transpor barreiras. As subidas e decidas foram realidades sempre presentes. Juntos, percorremos retas, nos apoiamos nas curvas, descobrimos cidades que não conhecíamos. De repente, chegou o momento de cada um seguir viagem sozinho. Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui, sejam a alavanca para alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado.

Todavia, a nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro ao que, por vários motivos, nos deixaram, seguindo outros caminhos. Sempre serão lembrados com carinho e guardados no coração. O nosso agradecimento àqueles que, mesmo de fora, mas sempre presentes, nos quiseram bem e nos apoiaram nos bons e nos maus momentos. Dividam conosco os méritos desta conquista, porque ela também pertence a eles. Uma despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez. Vejo na amizade um amor que nunca morre e por isso o reencontro é importante entre pessoas que se amam. Porque o amor mais lindo é aquele que nasce de uma amizade constituída.   

Portanto, que nossas despedidas sejam um eterno reencontro. Pode ser que um dia deixamos de nos falar. Mas, enquanto houver amizade, faremos as pazes novamente. O tempo passará e se a amizade permanecer ficará na lembrança um do outro. Mas se nos afastarmos definitivamente e formos amigos de verdade, a amizade vai nos reaproximar pela sua própria força. Pode ser que um dia não mais existamos, mas, se ainda sobrar amizade, nasceremos de novo na vida um do outro. Pode ser que um dia tudo acabe, mas, com a amizade construiremos tudo novamente. Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento. Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. Sei que muitas pessoas irão entrar e sair da sua vida, mas somente verdadeiros amigos deixarão pegadas no seu coração. Contudo, a amizade é uma das grandes consolações da vida, e uma das consolações da amizade é que ela nos mostra alguém a quem confiar nossa intimidade. O seu pressuposto constitui-se num verdadeiro amor.

26 de julho de 2018

SALA DOS MILAGRES

Todas as vezes que vou a um hospital por algum problema de saúde, desconfio que a morte ronde por esses lugares. A caminho do centro cirúrgico, ainda acordado sentia a maca atravessar por corredores gelados, porém o frio dentro de mim era maior. Levamos uma eternidade até chegar à mesa de cirurgia. Talvez parecesse demorar por conta da ansiedade. Entre uma agulhada e outra, começo a desfalecer. Lembrei-me de fazer um pacto com a morte: “nem eu te procuro e nem você me procura, um dia a gente se encontra, que não seja aqui”. Minha memória recorrente do passado ao sofrer um choque anafilático, veio à tona justo naquele momento. Choque anafilático é uma reação alérgica, de hipersensibilidade imediata, que afeta o corpo todo, com a diminuição da pressão arterial e taquicardia em que há risco de morte. Tinha que se lembrar disso agora? Isto não ajuda, só faz aumentar a minha ansiedade.

Já no centro cirúrgico, um pouco assustado, percebo a movimentação em torno. Tudo acontecendo muito rápido. Nesta hora sentimos que não somos nada e que a morte pode estar por perto nos observando. De que adianta o orgulho se precisamos desses profissionais para continuar vivos? Para eles sou só mais um paciente. O anestesista se aproximou e tomou o meu braço direito e disse: “é só uma picadinha e depois mais algumas agulhadas nas costas e tudo vai ficar bem”. Senti vontade de dar uma gargalhada. Imagina, quem fica bem nessa situação? Mas o pacto com a morte estava selado. Tinha certeza que ela não iria me incomodar, pelo menos, não ali naquele momento.

No entanto, passado alguns segundos, começa a viagem, entro numa dimensão de serenidade e paz. Ouço uma voz dizer: “sou a médica que vai te operar tudo bem”? Pensei comigo, como tudo bem se estou perdendo a consciência? Nesse momento desfaleço. Fui acordar cinco horas depois, numa sala de pós-operatório. Não sentia meu corpo da cintura para baixo. Há um medo eminente, mas logo chegou à médica e descreveu o sintoma do pós-operatório. Posso descrever esta experiência como uma viagem, que nos coloca na fronteira entre a vida e a morte. É aqui que o milagre torna-se eminente e a nossa certeza que Deus está no comando de tudo.

De modo que, quem quiser conhecer a verdadeira sala dos milagres, faça uma visita ao centro cirúrgico. É impressionante como as pessoas chegam e sai do centro cirúrgico. Costuma-se entender por milagre um fato maravilhoso ou extraordinário que suscita admiração. O milagre é o preâmbulo da nossa fé. É a assinatura de Deus. No centro cirúrgico acontecem todos os dias dezenas de milagres. Vidas são salvas a todo instante. Momentos fortes da nossa vida nos chegam nítidos, principalmente, quando distanciamos de pessoas que amamos. Não perguntamos sobre os caminhos pelos quais a vida nos conduz. Nesta hora nos restam às lembranças dos encontros com o que a vida nos apresentou de poético e fugaz. Quando tudo parece desabar, cabe a nós decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar. Descobri no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir. Seja para qual for a direção, temos que escolher.

Portanto, a vida nos toma pelas mãos, nos da à possibilidade de rever os nossos conceitos, nos revela o seu mistério, nos esconde da morte e às vezes nos concede novamente aquela oportunidade de dizer a quem amamos: “preciso de você”. Às vezes sou julgado por coisas que não fiz e não sou. Gente maldosa fazendo a cabeça de gente fraca de caráter. Do gosto pela vida nasce a solidariedade e desta emana uma força muito grande, que nos arranca da acomodação e nos faz reerguer. Sou um novo homem e reconheço a minha fragilidade e impotência, diante dos percalços da vida. Contudo, precisei passar por essa experiência para compreender o que é viver intensamente a vida como presente e o amor como um dom. Aprendi que quem sobreviver a uma grande história de amor, é feliz até à morte e infeliz porque dele se curou. 

21 de julho de 2018

É NO CORPO QUE O AMOR SE REVELA

O que era implícito deixou de ser, através do corpo torna-se evidente tudo o que sentimos e omitimos. Somos um corpo e, é com ele que manifestamos nossos sentimentos e emoções. No corpo o amor se materializa, dando pistas dos nossos sentimentos mais nobres. Mostra com sua linguagem corporal quem de fato amamos. O corpo não consegue esconder sentimentos desta magnitude. Procura ficar diante de quem se ama depois de algum tempo longe. Profundas transformações fisiológicas ocorrem no momento do encontro. A primeira manifestação física é do coração que dispara e em seguida as pernas ficam tremulas, quase não sustenta o corpo. A voz não sai direito, ficamos sem assunto diante um do outro. É no corpo que enxergo o pulsar do amor. De modo que, o nosso cartão de visita é o corpo, que coloca em evidência a nossa relação com o mundo sensível e o mundo das ideias como diz nos seus diálogos, o filósofo grego Platão.

No entanto, essa complexa máquina humana, ainda é um mistério para muitos estudiosos da fisiologia humana. No corpo tudo é manifestação de vida, são nossos anseios de vida por mais vida. Mas que tipo de vida buscamos? Penso primeiro na saúde, porque um corpo doente nos faz sofrer, enquanto o amor nos faz viver. Todavia, se o corpo não falasse as palavras não teriam sentido. Foi o psicanalista austríaco Wilhelm Reich, o primeiro que começou a observar seus pacientes e fez a descoberta do que já era evidente. O corpo expressa sentimentos e emoções contidas, involuntariamente, Reich percebeu que o modo de estar em silêncio da pessoa, podia significar tanto quanto uma declaração de amor. O psicanalista Wilhelm Reich passou a ver e a interpretar a comunicação não verbal mostrada pelo corpo. Sentimos e expressamos através do corpo, sem saber o que mostramos aos outros.

As pessoas não sabem o que exprimem ou manifestam facial e corporalmente, pouco percebem ou sabem de sua “couraça muscular do caráter”, noção central para Reich. A couraça é todo o esforço muscular que a pessoa faz, afim de não mostrar e disfarçar o que deseja ou o que sente. É um paradoxo. Só consegue disfarçar eficazmente para si mesma, porque ela não se vê. Na verdade, a pessoa sabe o que está sentindo, mais não sabe o que está mostrando para os outros, que estão vendo e observando o tempo todo. De modo que, para os que amam viver, o corpo não pode ser aquele talento que o imprudente, enterra como diz nos Evangelhos. Sendo o corpo nossa forma de presença no mundo, no qual nascem todos os nossos conteúdos íntimos como emoção, crença, conhecimento e o amor pleno. O corpo é pré-história da nossa vida interior, esse parece ser para nós o templo de todos os sentimentos, que precisa ser respeitado.

Portanto, movimentar de maneira consciente o corpo é uma forma de meditação que aprofunda o ser humano em si mesmo. Ouvindo o corpo é que encontramos o caminho para a nossa interioridade. Ao ouvir a voz do corpo somos levado ao nosso “eu” profundo. O corpo coloca em evidência o amor pela vida, o gosto pela solidariedade, o cultivo de fortes amizades, o amor pelos pais. Isso tudo é um abraço erótico que damos em nosso mundo, um abraço cheio de energia que vem do melhor de nós. Somos constituídos e constituintes de nossa sexualidade. Somos sujeitos e, igualmente, somos as sujeitados. Entender essa dialética do corpo e da sexualidade é o começo de tudo. Para poder falar e sentir amor. O amor é a construção plena dessa dialética. O maior projeto humano é o amor. Nenhum sucesso, de nenhuma natureza ou proporção, compensa o fracasso amoroso. Contudo, nunca escolha perder aqueles que você ama. Enquanto eles somem de vista, uma parte de você morre com eles. Até que você vê um dia, pedaço por pedaço do seu corpo sumindo com eles. Não restará nada de você para chamar de vivo ou morto. Enfim, a morte quando nos achar, não pedirá um conceito, mas uma história de amor.

18 de julho de 2018

VIVER O AMOR COMO MEIO E NÃO COMO FIM

Está mais que na hora de substituir o ideal romântico do amor, que basta em si, por uma relação que traga crescimento individual. Penso que há algo de errado na forma como temos vivido nossas relações amorosas. Isso é fácil de ser constatado, pois temos sofrido muito por amor. Se o que anda bem tem que nos fazer felizes, o sofrimento só pode significar que estamos numa rota equivocada. Segundo o psiquiatra Flávio Gikovate, desde criança aprendemos que o amor não deve ser objeto de reflexão e de entendimento racional, que deve ser apenas vivenciado, como uma mágica fascinante que nos faz sentir completos e aconchegados quando estamos ao lado daquela pessoa que se tornou única e especial.

No entanto, aprendemos que a mágica do amor não pode ser perturbada pela razão, que devemos evitar esse tipo de “contaminação” para podermos usufruir integralmente as delícias dessa emoção. Mas, na maioria das vezes não tem dado certo. Vamos pensar sobre o tema com sinceridade e coragem. As ideias que governam nossa visão de amor precisa ser revista. Imaginamos sempre que um bom vínculo afetivo significa o fim de todos os nossos problemas. Nosso ideal romântico é assim: “duas pessoas se encontram, compõem um forte elo de grande dependência, sentem-se preenchidas, completas e sonham. Pensam em refugiar de tudo e viver inteiramente uma para a outra, usufruindo o aconchego de ter achado sua cara metade”.

Nada parece nos faltar. Quem não viveu isso? O que antes valorizavam, como dinheiro, aparência física, trabalho, posição social, parece não ter mais a menor importância. Tudo o que não diz respeito ao amor se transforma em banalidade, algo supérfluo que agora pode ser descartado sem o menor problema. Sabemos que quem quis levar essa fantasia do amor como um fim, se deu mal. Com o passar do tempo, percebe-se que uma vida reclusa, sem novos estímulos, somente voltada para a relação amorosa, muito depressa se torna tediosa e desinteressante.

Podemos sonhar com o paraíso perdido ou com a volta ao útero, mas não podemos fugir ao fato de que estamos habituados a viver com certos riscos, certos desafios, que nos fazem muito bem. De certo modo, a realização do ideal romântico corresponde à negação da vida. Visto por esse ângulo, o amor é um aditivo contra a vida, pois em nome dele abandonamos tudo aquilo que até então era a nossa vida. No primeiro momento até podemos achar que estamos fazendo uma boa troca, mas rapidamente nos aborrecemos com o vazio deixado por essa renúncia à vida. A partir daí, começa a irritação com o ser amado, agora entendido como o causador do tédio, como uma pessoa pouco criativa e desinteressante. O casal rompe e cada um volta à sua vida anterior, levando consigo a impressão de ter falido em seu ideal de vida.

Somos todos carentes e achamos que o amor é a mágica que dá significado à vida. O que nos falta aparece sempre idealizado, como o elixir da longa vida e da eterna felicidade. Diariamente a realidade tem nos mostrado que as coisas não são bem assim, e acho importante aprendermos com ela. Nossa concepção de amor deve se basear em fatos, nossos projetos têm que estar de acordo com aquilo que costuma dar certo no mundo real. Fantasia e sonhos, ao contrário, têm origem em processos psíquicos ligados às lembranças e frustrações do passado. O amor tem o seu papel como meio e não como fim.

Portanto, se é verdade que o amor nos enche de alegria, vitalidade e coragem – e isso ninguém contesta – por que não direcionar essa energia para ativar ainda mais os projetos nos quais estamos empenhados? Quando amamos e nos sentimos amados por alguém que admiramos e valorizamos, nossa autoestima cresce e nos sentimos dignos e fortes. O amor tomou conta do nosso ser como meio e não como um fim. Tornamo-nos ousados e capazes de tentar coisas novas, tanto em relação ao mundo exterior como na compreensão da nossa subjetividade. Em vez de ser um fim em si mesmo, o amor poderia funcionar como um meio para o aprimoramento individual, nos curando das frustrações do passado e nos impulsionando para o futuro. Casais que conseguem viver dessa maneira, crescem e evoluem. E sob essa condição, seu amor se renova e se revitaliza. Contudo, são capazes de dizer um ao outro: “sua ternura e amizade são tão preciosas para mim, que ainda posso me sentir feliz e severamente grato, quando olho para você dentro de mim. Só espero que essa ternura e amizade nunca me abandonem”. Como diz a música: "Eu queria ser um anjo".

15 de julho de 2018

NOSSA EXPRESSÃO DE AMOR

Somos muito mais do que aquilo que achamos que somos. Tudo o que temos para oferecer ao outro é o que somos. Torne-se a pessoa mais bela, amorosa, terna e maravilhosa do mundo. Nossa expressão de amor há de sobreviver para sempre na vida de muitos. De modo que, nosso amor pelo próximo é a mais bela das afirmações humanas. Quando a manifestamos livremente, fortalece e da maior finalidade aos relacionamentos. Como é lindo poder dizer a alguém: “preciso de você”. Então, por que não dizer? Pensamos que para ser adultos temos que ser independentes e não precisar de ninguém. Talvez seja por isso que estamos todos morrendo na solidão.

Há tanta coisa que não compreendemos, que não vemos, não tocamos, não sentimos. Supomos que a realidade seja o trilho em que fomos colocados, posso assegurar que não precisamos seguir neste trilho, apenas estamos nele por acomodação. Abra o seu coração e olhe para fora do seu mundo e veja quantas coisas existem querendo dar sentido a sua vida. O sonho de hoje será a realidade do amanhã. No entanto, nós nos esquecemos de como sonhar. A sabedoria é dizer: “minha mente está aberta, onde quer que esteja, estou apenas começando. Há cem vezes mais coisas a perceber do que conheço”. O modo de vida que adotamos é apenas uma possibilidade. Há milhares de outras possibilidades para tudo nesta vida.

A maior parte de nós continua pela vida vendo o que temos vontade de ver, ouvindo o que temos vontade de ouvir, fazendo o que temos vontade de fazer e tudo mais permanece inteiramente invisível. Todas as coisas estão aí para ser apreciadas. Só o que temos a fazer para vê-las é deixar que entre, tocar nelas, experimentá-las, abraça-las que é o melhor e senti-las como elas são e não como nós somos. No entanto, posso enfrentar o ódio, posso enfrentar a raiva, posso enfrentar o desespero, posso enfrentar qualquer pessoa que esteja sentindo alguma coisa contra, mas não posso enfrentar o nada. Porém, se tiver que escolher entre a dor e o nada, escolho a dor. Não se agarre ao sofrimento, nem o deseje. Experimente-o porque pode lhe ensinar uma porção de coisas. Sofrer sem aprender com a dor é uma estupidez total.

Portanto, cada novo momento de amor experimentado e aprendido nos leva a outros momentos iguais. Assim sendo, fazemos o mundo melhor para nós e para todos os que cruzarem o nosso caminho. Tudo tem um lado iluminado, se soubermos procura-lo. Cada dia é um novo começo, uma pequena vida que nasce dentro nós. Todos nós lutamos para viver esse momento. Algumas coisas na vida só aparecem uma vez e depende apenas de nós tirarmos proveito delas ou não. O amor só é amor quando dado a alguém de coração. Nós seremos amados por um tempo e depois esquecidos ou não. Mas o amor terá sido suficiente, porque, todos aqueles impulsos do amor retornam ao amor que os produziu. Nem a memória é necessária para o amor. Pois, ele já habita o nosso coração. Existe uma terra da vida e uma terra da morte e a ponte é o amor, a única sobrevivência, o único significado. Contudo, descobri que o amor é muito parecido com o espelho. Quando amo alguém, essa pessoa torna-se meu espelho e eu me torno o dela; e refletindo-se um no amor do outro, juntos vemos o infinito e sentimos a divindade.

12 de julho de 2018

SOMOS UM SER PELO OUTRO

Em meio às sociopatias atuais vai ficando cada vez mais difícil ver, no nosso próximo, um outro ser humano que se alegra e sofre, tem direitos e deveres, busca respeito e afeto como nós próprios. Vigora um trágico utilitarismo no qual, os outros seres humanos são predominantemente vistos como “objetos” mais ou menos úteis para que sejam manipulados. De modo que, nos últimos tempos têm sido marcados por múltiplas violências sociais que evidenciam assustador desprezo pelo valor intrínseco da vida. Assim, quando mencionamos grande parte das sociedades atuais como enfermas, não há nisto nenhum exagero.

Não cometerei a ingenuidade de pensar e afirmar que encontramos apenas essas tristezas em nosso mundo, pois apesar de tudo, eu mesmo tenho testemunhado atitudes e gestos de uma grandeza quase indescritível. Manifestações de puro amor caridoso a florescerem em elevados corações e mentes. Mas, segundo venho percebendo, essas maravilhas não constituem na maioria, e muito menos se pode dizer que sejam uma “norma social”. Já se disse que o amor continua a crescer teimosamente como o capim. De todo modo, numa espécie de diagnóstico de amplitude, nossa sociedade se mostram doentes e grandemente fragilizadas, marcadamente nas relações interpessoais.

Na sua maioria são pessoas que se constituem como vitimas, quando na verdade, elas próprias são os seus algozes contra o amor. São pessoas infelizes subjetivamente e não conseguem superar seus fracassos afetivos. Estão sempre se aventurando em novos relacionamentos, e sem nenhum sucesso. Não cultivam o diálogo e são imaturas emocionalmente. No entanto, somos um ser pelo outro, isto deixando claro que, sem o convívio com os outros, nenhuma pessoa pode desenvolver a sua “humanidade”, ficando esta, em caso de isolamentos radicais, apenas “potencial”. Na verdade, até mesmo para chegarmos à nossa identidade psicológica, temos a necessidade do espelho social, complexo e composto pelos demais humanos que conosco partilhem o viver.

Portanto, as relações interpessoais são necessariamente dialógicas, isto é, sempre pressupõem um “Eu” e um “Outro” que não podem querer ser a mesma pessoa, e que não devem querê-lo, pois que são as singularidades de ambos que enriquecem o diálogo. Lembrando, que o diálogo só se pode dar entre duas pessoas diferentes, mas que se enxergam reciprocamente e buscam falar uma à outra com densidade humana, para que a dialogia não se degrade em mero palavreado monológico. Como tantas vezes ocorre entre pessoas que falam dias e dias um ante o outro, mas nunca um para o outro como próximo. De modo que somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade brâhmica de sairmos ao encontro do outro na expectativa que ele nos receba. É uma experiência única, dar um pouco da nossa vida ao outro. Contudo, só o amor nos toca profundamente, nos acaricia e se revela na gratificação sensual com o outro.

8 de julho de 2018

AMOR É CARÊNCIA E PLENITUDE

Certa vez ouvi de um poeta a seguinte declaração: “Custei a enxergar o resplendor de humildade que andava por gestos tão nobre vindo da profundeza do coração de quem me tocava. Reconheci o que sou. Um andante distraído, que sofre e não enxerga. Por uma coincidência era o mês das flores, em plena primavera, surge a minha frente o amor. Sim, era o amor acenando para mim. O coração disparou, sinalizando uma felicidade cósmica”. Depois desta declaração, pensei e meditei muito sobre suas palavras e cheguei a seguinte conclusão: “O amor é um gênio intermediário, entre Deus e os humanos”. Não é absoluto como Deus, mas, de outra forma não se reduz a um imanentismo de nossa condição humana. O amor condensa nossas melhores aspirações, mas igualmente expressa nossas mais básicas e simples necessidades e carências. Penso que o amor é pura contradição entre: “riqueza e penúria, seriedade e astúcia, carência e plenitude”. Na verdade, o que amamos na pessoa que amamos? O corpo, expressão plena de nossa vitalidade? Talvez seja isso, mas, não acredito que o amor seja somente isso.

De modo que, os sentidos fenecem, o corpo perece, a beleza se esvai. E como fica o espírito e a alma? Sinto que a alma exige demais, o espírito, posto que seja da mesma natureza de Deus, só se entende com Deus e seus anjos. Então, amamos o que no outro? Amamos o amor, presente na pessoa amada, esse amor é tudo e ao mesmo tempo “carência e plenitude”. Estou certo e por isso reitero que, o amor é o maior encontro na vida dos humanos. Quem teve a sorte de viver uma história de amor, conheceu o que temos de mais sagrado e importante na nossa existência. No entanto, cultivar o amor é a missão mais nobre da natureza humana. Como disse o poeta: “Eu quero a sorte de um amor tranquilo”. Através do amor transitamos do coração ao pensamento, um do outro.

Portanto, hoje posso afirmar que amar e ser amado é muito bom para o espírito e que esse seja a nossa canção e a nossa riqueza eterna. Gosto de refletir sobre o tema amor, porque me traz paz e esperança. Pois, com a descoberta do amor cresci muito espiritualmente. No meu humilde entendimento, o amor é a construção plena dessa dialética que é viver em plenitude. O maior projeto humano é o amor. Nenhum sucesso, de nenhuma outra natureza ou proporção, compensa um fracasso amoroso. Tanto no campo erótico como no campo afetivo. Amar é a nossa distinção humana. Quero esse amor para sempre. Contudo, sabemos o que somos e o que queremos, mas não sabemos o que se passa no coração de quem amamos. Amar é sentir o amor nos transformando. Com amor, até uma caricia bem levada, faz o outro derreter.

4 de julho de 2018

VIDA E SAÚDE, NOSSA MAIOR RIQUEZA

A cada semana que passa aumenta a minha expectativa com os cuidados e preparatórios, para enfrentar mais um desafio. Faço uma agenda de remédios e de exercícios físicos para chegar bem na segunda etapa de mais uma cirurgia. Não faço isso com pesar ou morbidez. Faço com a convicção de que estou lutando para manter minha vida, minha saúde e, com elas, dar conta de meus projetos, de minhas escolhas e de minhas responsabilidades. Sigo um roteiro semanal de exercícios físicos preparatórios. E sempre, religiosamente, escrevo mensagens para mim mesmo, como um lembrete. Apenas hoje decidi socializar esta mensagem da semana com meus amigos leitores.

Meus caríssimos amigos leitores, a vida e a saúde são nossas maiores riquezas. Nada é maior do que a vida, nada é mais cara do que a saúde. Há situações em que a vida e a saúde estão em plena integração e harmonia. Há momento em que não estão assim tão integrados. A vida com saúde e a saúde como base de uma vida cheia de viço, de beleza, de bondade e de alegria é o que podemos chamar de “felicidade”. O reconhecimento dessa integração vem da alma, do espirito, de nossa inalienável transcendência. Quando percebemos que a vida saudável é a base da felicidade, estamos no limiar da sabedoria.

No entanto, preservar a saúde, cultivá-la e garanti-la é o penhor da vida significativa, agradável e serena. Com essas qualidades e virtudes fecundamos nosso espírito, na direção de buscar os melhores propósitos, desde a autoestima equilibrada, até o altruísmo generoso, a busca da simplicidade e o reconhecimento da pluralidade da vida e da enriquecedora diferença de todas as pessoas, da necessidade da sustentabilidade e do desprendimento. A vida com saúde e com sentimentos, com projetos e com amor é a vida feliz, única, plena e verdadeira. De modo que, curiosidade, entusiasmo e paixão pela vida, são aspectos normais de uma saúde perfeita.

Portanto, a caminhada é necessária para que ao menos um pouco que seja, nos distanciemos de nossas tantas imperfeições e não adiemos mais o que é preciso mudar. Tanto as expressões de tristeza e medo, quanto às feições leves daqueles mais próximos da paz. São esses rostos que compõem o meu rosto e enche o meu espírito de luz. São faces voltadas para o amor, mas, ainda em busca de tal pacificação. Dos meus pobres embornais, tirarei o possível para comungar com meus amados leitores. Embora sejamos todos a própria imagem da precariedade, não abandonemos a nossa missão. Partilhando o pouco de cada um, o muito nos esperará ao fim do caminho, e este surpreendente muito, transformará em amor perfeito.

1 de julho de 2018

TANTRA COMO FILOSOFIA DE VIDA

O Tantra é uma filosofia hindu milenar. Seus preceitos se baseiam na ideia que o corpo é um meio para o conhecimento, e a nossa consciência está nele e não só na mente. Por isso o corpo é merecedor de atenção, reconhecimento e respeito. O Tantra percebe o corpo como uma ponte que liga a terra ao transcendental. Este caminho para a auto realização através da prática Tantra é sensorial. Seu desenvolvimento se da pela percepção de si mesmo, de seu corpo, mente, emoções e espírito, de sua energia, através do reconhecimento e expansão da sensibilidade e consciência e não pela compreensão das palavras ou pelo entendimento intelectual.

O Tantra nos possibilita um entendimento experiencial, através do qual alcançamos uma compreensão maior, mais abrangente e mais significativa do que o entendimento usual proveniente das palavras e do raciocínio lógico. Porque lida com o hemisfério direito do cérebro, com a experiência não verbal, com aspectos sensoriais que interferem diretamente na esfera do comportamento humano. A linguagem do Tantra é, portanto, experimental, vivencial e integrativa. O que pude compreender que o Tantra é o prolongamento do prazer no corpo e na alma. O contato intimo não se resume só no prazer carnal e sim na consciência espiritual e prazenteira.

A via de desenvolvimento no Tantra é individual, cada um via percorrer o seu próprio campo de experiências. Compartilhar a sua vivência será uma tarefa muito difícil em muitas vezes impossível. Não da para expressar as coisas que acontecem no seu universo mental. Sentimos amor por alguém, mas não sabemos explicar o porquê. Criam-se práticas austeras com base no intelecto, no entendimento da mente. O mundo está cheio de grandes filosofias, grandes filósofos, mas, por que não compreendemos os nossos sentimentos?  

Na verdade, o Tantra é mal compreendido no Ocidente, mas, na realidade, não há nada de misterioso nele. A sua ferramenta mais poderosa que podemos acessar é a imaginação. O Tantra é um método para se alcançar, de forma rápida e eficiente, o estado que pode ser de máximo benefício para os seres humanos. O que cada um vai viver no Tantra é algo pessoal que pertence apenas a você e a mais ninguém. Cada um irá alcançar aquilo que o seu destemor lhe permitir. A sua coragem de ir fundo dentro de si mesmo é que irá conduzi-lo. Vá, olhe e sinta por si mesmo, seja testemunha dos seus sentimentos.

Portanto, em nossa sociedade e cultura, somos ensinados a racionalizar nosso modo de viver, fazer julgamento sobre o que achamos ser certo ou errado e lutar contra aquilo que não está de acordo com as nossas expectativas. O Tantra em contraste a tudo isso, nos ensina a aceitar tudo o que está acontecendo e deixar fluir sem medo ou stress. Expandindo a nossa consciência e movendo a nossa energia através de tudo que a vida nos oferece. Dar boas vindas a todos os nossos mais loucos pensamentos, sentimentos e desejos. Isto significa amar todas as partes do meu corpo e aprender com elas. Não julgue mal a si mesmo ou qualquer outra coisa, mas aprenda quem você é de fato para se aceitar de verdade. Pois, da vida nada se leva a não ser a vida que se leva.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...