31 de janeiro de 2020

O EPICENTRO DA EDUCAÇÃO É A LEITURA

A leitura é o coração da educação”, essa frase foi dita pelo educador e escritor americano Jim Trelease (1941), que prega a leitura em voz alta para as crianças como uma forma de incutir-lhes o amor pela literatura. Por outro lado, quem não conhece o criador do “Menino Maluquinho”, o escritor, cronista e cartunista Ziraldo Alves Pinto (1932), que afirma: “ler é mais importante que estudar”. Para esses dois ilustres escritores e amantes da literatura infanto-juvenil, a leitura em voz alta representa para a criança uma conversa que a entretém e a tranquiliza ao mesmo tempo em que a informa e explica alguma coisa da educação, assim como desperta nela a curiosidade, o desejo de aprender algo sobre a vida. Aprendemos muito mais lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para Ziraldo, quando se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso vocabulário.

Se for verdade o que escreveu Platão (427-347 a.C.), que tudo que está na alma, toca a alma do outro. Então, como pode um professor que não gosta de ler, passar o gosto da leitura para seus alunos? Como pode um professor que não gosta de escrever, passar o gosto da escrita para seus alunos? Como pode uma geração de professores que não pesquisa, formar alunos pesquisadores? Como pode uma geração de professores que não tem pensamento crítico, formar senso crítico? Como pode um professor que não é sensível, formar sensibilidade? Como dizia Paulo Freire (1921-1997): “Só uma geração de professores leitores, produzem uma geração de alunos leitores. Só uma geração de professores escreventes, produz uma geração de alunos escreventes e no meio deles alguns escritores. E entre esses escritores um ou dois literatos”.

Portanto, ler é pensar com sabedoria. O sujeito consciente tem como pressuposto básico o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”. Porém, estar atento significa estar disponível ao espanto. Os gregos diziam que quando a gente se espanta, a inteligência faz a pergunta. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor criar no aluno o hábito da leitura. Para o educador Paulo Freire (1921-1997): “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania. Porque, ler é estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe.

28 de janeiro de 2020

QUEM MUITO LHE ADMIRA MUITO LHE INVEJA

A inveja é um sentimento pouco estudado. Os profissionais de psicologia não gostam de temas como inveja e vaidade, a não ser que sejam vistos de passagem, pois usam esses termos como se fossem conhecidos e estudados à exaustão. Na verdade, quem mais trata das emoções no nosso meio com conhecimento são os espíritas, de denominação umbandistas e outras pessoas ligadas ao espiritismo, onde o tema fundamental é sempre o da inveja.

Depois de ler muito e consultar vários autores, cheguei à seguinte conclusão; que a inveja é um elemento importantíssimo, pois deriva da admiração como no amor. Ninguém vai invejar alguém que não seja rico em qualidades. Invejamos porque admiramos, do mesmo modo que amamos porque admiramos. Só que na inveja temos uma sensação de humilhação, de depreciação do outro. A pessoa que nutre a inveja pelo outro, sente-se por baixo, incomodada com as qualidades e o brilho daquela pessoa. O outro se torna insuportável aos nossos olhos.

Humilhado, ferido na sua vaidade, e com tendências fortes para a agressividade, desenvolve uma reação de raiva, de revolta contra aquele que provoca a inveja. Portanto começa aqui uma perseguição implacável contra o invejável que está causando esse desconforto todo no invejoso. Agindo com um “requinte” de crueldade incrível para que possa destruir o outro que é o seu objeto de admiração e para alcançar seu objetivo expõe o outro ao ridículo perante amigos e à sociedade, sem nenhum pudor para com a privacidade de ambos. 

Entretanto, quanto maior a diferença entre as pessoas que se unem por amor, maior será o ingrediente de inveja que competirá com esse amor. Seguindo uma “certa lógica”, se o amor deriva da admiração, logo, por uma relação de semelhança, a inveja também é derivada de excesso de admiração. Só que aqui a inveja funciona ao contrário, ou seja, se quem ama quer somente o bem da pessoa amada, o invejoso só pensa em destruir a pessoa que tem o que ela ainda não conseguiu adquirir, portanto, atacará a pessoa que admira e procurará estar sempre presente na relação com força igual ou maior que o amor. Na verdade, as pessoas ficam juntas por conta dessa admiração, mas num clima péssimo, de conflito permanente, com brigas constantes e  apesar de perceberem isso, não se separam. Porque se admiram e se odeiam ao mesmo tempo, a cobiça parece favorecer a união dessas pessoas por não terem o que admiram uma na outra.

Portanto, na relação afetiva, ambos conhecem a verdade e jamais poderão se aceitar do jeito que são. Por isso é preciso muita força de vontade para enxergar os nossos defeitos, que são muitos. A pessoa que tem como meta construir a felicidade ao lado de quem realmente se ama, precisa evoluir muito para aceitar as suas limitações. Conhecer a si mesma e trabalhar seriamente no processo de crescimento individual se quiser chegar a uma boa autoestima. Assim sendo, a tendência será para se encantar com a pessoa parecida e também para que este encantamento seja compatível com as necessidades práticas da relação afetiva e conjugal. Relacionar-se, com qualidade, é também admirar o outro com maturidade.        

25 de janeiro de 2020

PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS

Tornou-se muito comum as pessoas nutrir uma atitude de posicionar-se frente à vida de maneira arrogante e prepotente, que impede de enxergar o que está além de si mesmo. Há uma tendência, principalmente entre os jovens, de acharem que sabe e pode tudo, que está sempre certo e os outros errados. Cuidado, essa postura pode ser uma doença. Todavia, existe uma fase na vida em que despertam estas características: ver-se como o centro do universo, ter um ponto de vista limitado, defendê-lo ferrenhamente e não conseguir colocar-se no lugar do outro, sendo incapaz de modificar a própria conduta. Este é um comportamento egocêntrico, que impede o indivíduo de compreender o que vem de fora. Está sempre certo e os outros errados, ele sabe tudo. Esse é o tipo mais odioso de pessoa, para se conviver.

É comum na infância a criança desenvolver uma típica forma de pensamento mágico: quando ocorrem duas coisas simultaneamente. Se o outro está de mau humor, deve ser por minha causa; se está bem comigo hoje, deve ser porque alguém me elogiou. Deduzo o que me convém, para me tranquilizar, e esqueço-me de ver a realidade como ela é. Se não consigo ter clareza sobre o que está acontecendo, em vez de usar o “dedutômetro”, seria melhor perguntar diretamente. Mas o egoísta não faz isto porque ele acha que o mundo gira em torno dele. Esta fase ocorre naturalmente entre dois e sete anos de idade, na fase do pensamento pré-operacional ou do egocentrismo. Esse é um período no qual a criança acha que sabe tudo, muito mais do que os adultos. As vezes sabe mesmo.

Entretanto, de acordo com a idade pode ser pouco, se comparado à de um adulto, ou ser muito para alguém jovem, mas nem por isto deve-se pensar que sabe tudo. A leitura, o conhecimento e o aprendizado vão mostrando-nos que quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos nada. O astuto acha que sabe tudo e o sábio é aquele que sabe que estará em constante processo de aprendizado. O mundo não gira apenas ao nosso redor, que existem fatores alheios e externos que nos ajudam a perceber que não estamos sozinhos no mundo e que os outros não estão ali somente para nos servir, como pensa as crianças que é servida pelos adultos, devido as suas limitações pela idade.

Aquele que se enquadra nestas características, ao menos em parte, precisa expandir a consciência, ampliar a cultura, ler mais, obter mais informações, permitir-se amadurecer, considerando que o mundo do outro também faz parte do próprio mundo, direto ou indiretamente. A teimosia, o egoísmo, a falta de benevolência, a intransigência, a arrogância e o orgulho são sintomas de egocentrismo, de uma “parada” no tempo do desenvolvimento intelectual, emocional, moral e social. Devemos observar a nós mesmo em momentos de teimosia, de defesa de nossas ideias e questionar a nós mesmos como: “Por que estou teimandoEstou certo na minha insistênciaIsto me leva a algum lugarEstou aberto ao ponto de vista do outro, mesmo que sua opinião seja diferenteQuero impor minha maneira de pensar ao outroSó levo em conta o que quero e quando queroPor que tenho dificuldade de aceitar um não?”

Portanto, quando a pessoa passa essa fase de maneira inadequada, levam para a vida adulta neuroses, psicoses que se transformam em enfermidades mentais, como a esquizofrenia, o transtorno de personalidade narcisista e o transtorno bipolar. Ocorre um desinteresse pelo que é do outro, tornando-se responsável pela perda de contato com a realidade. Carrega em seu inconsciente uma culpa por ser quem é, remetendo-o a um sentimento de inferioridade, incapacidade e inadequação, à vulnerabilidade ao humor do outro. Tudo isso por não estar ao alcance da consciência, devido às resistências e ao sentido de preservação. Acaba tomando o sentido inverso: “ao invés de se sentir inferior, toma o caminho da arrogância, da petulância e do pedantismo”. Talvez como forma de defesa. Dessa maneira, instala-se uma falsa sensação de proteção, convencendo-se de que sua autoestima é muito bem manejada e adaptada. Vivendo uma situação infernal de ruim e dizendo que o outro é a causa do seu desconforto.

23 de janeiro de 2020

QUEM APRENDE COM A DOR, ENSINA COM AMOR

O ser humano não necessita senão de um mínimo de conforto na vida quando a sua vida tem uma finalidade nitidamente consciente, isto é, quando ele sabe por que vive, trabalha e sofre. Uma causa grande e digna, claramente apreendida e entusiasticamente abraçada, torna-se grandiosamente fascinante e bela a mais humilde das existências. Uma pessoa sem ideal rasteja penosamente pelas tediosas baixadas da vida. Assim como um ser humano empolgado por uma grande causa, cria asas e voa jubilosamente por cima de todos os obstáculos. Somos capazes de justificar nossa utilidade no mundo de dor e amor. Quem aprende com a dor, ensina com amor.

Entretanto, é necessário saber sonhar! Não esses sonhos quiméricos, ocos, mas os grandes sonhos do mundo das excelsas, realidades ainda não realizadas, porém, realizáveis pelos audaciosos aventureiros do infinito. O mais duro da vida torna-se suave quando os humanos têm plena certeza por que vive e conhece o caminho que trilha. Vida enfadonha e intolerável é somente uma vida sem ideal e sem finalidade. Convém recordar o ditado popular que é: “o seguro morre de velho e o desconfiado está vivo até hoje”. Mas, o aventureiro vive na perpétua juventude. Como argumenta o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955): “Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que deveria ser já se matou em vida: é um suicida de pé. A sua existência consistirá numa perpétua fuga da única realidade que era possível”.

Portanto, se eu tivesse cem por cento de segurança, mas não tivesse a liberdade de sonhar os sonhos pelas infindas regiões do além. De que me serviria toda essa tediosa segurança? Basta-me um mínimo de segurança, pois tenho necessidade de muita liberdade de sonhar. A excessiva segurança me faz envelhecer em plena juventude. A vasta liberdade me garante a mocidade em plena maturidade. Prefiro ser um idoso com o espírito jovem, a ser um jovem com o espírito cansado. Se compreendermos a razão profunda da nossa existência, entenderemos o verdadeiro significado do que é viver. Só chegamos a ser uma parte mínima do que poderíamos ser. Um dia olharás para trás, e dirá a si mesmo! Contudo, valeu a pena aprender com a dor, porque, hoje tudo que faço sinto a presença do amor.

18 de janeiro de 2020

TUDO É VAIDADE ONDE NÃO HÁ VERDADE

Muita gente vem afirmando, com maior ou menor sinceridade, que não tem a intenção de se comprometer de forma tão supostamente definitiva como propõe o casamento. Porque acostumou a viver sozinha e por isso preza muito que a sua liberdade e individualidade sejam respeitadas. Muitas pessoas não conseguem se imaginar casadas, mas também não querem se privar da prática divertida e prazerosa da paquera e da sedução. É bom lembrar que o casamento é uma invenção da sociedade patriarcal. O acasalamento é uma criação da natureza. Ambos promovem a união. Para os seres humanos, o casamento; para os animais, o acasalamento. A sensualidade e a sedução foi uma maneira que a natureza encontrou para aproximar as espécies.

Todavia, os principais apelos utilizados na sedução costumam estar sempre relacionados ao sexo. Mas por trás dessas intenções, que não são as segundas, mas sim as primeiras, quase sempre se escondem o desejo de realmente encontrar alguém especial e viver uma relação mais estável e menos superficial. E se engana quem vincula a ideia de sedução apenas à conquista. A sedução está presente em todas as etapas do relacionamento amoroso. Uma das frustrações da sedução ocorre justamente porque depois da aproximação, quando se efetiva a conquista, as pessoas passam a agir como se a outra não fizesse parte do relacionamento. E para onde vai a sedução quando o sexo acaba? Principalmente no casamento, que é o lugar onde menos se faz sexo. Há dezenas de estudos mostrando como vive a maioria dos casamentos.

Entretanto, a sedução não tem só conotação sexual, envolve também a amizade, o compromisso, companheirismo, ou seja, o relacionamento na sua totalidade. Por exemplo, na sala de relacionamento do Facebook, tem um link chamado “cutucar”. Sobretudo, porque mexe com o outro carinhosamente, estimulando a sedução. Bom para quem cutuca e bom para quem é cutucado. Temos uma sensação prazerosa de ser lembrado pelo outro. Como diz o poeta: “A lembrança é a memória do coração”. Todos sabem que a sedução está ligada a arte da criatividade. Nem todos usam dessa arte, e depois, reclamam que a relação está capenga e desinteressante.

Cultivar uma relação afetiva dentro do casamento é uma das tarefas mais delicadas e difíceis, pois não temos preparo algum para que essa situação seja melhor estabelecida  em nosso mundo. Quando a pessoa gosta, simpatiza, namora, acha que dará certo, às vezes vive vinte anos ao lado de um estranho com o qual nunca teve uma conversa clara e honesta. Eu diria que a arte de seduzir consiste em surpreender o outro eternamente, porque se você não abrir o olho, entra na rotina e desaparece. Você vira a poltrona da sala, ambos não se enxergam e não se olham na cara, quando um abre a boca, o outro já sabe tudo o que o outro vai responder. Uma monotonia infernal de ruim.

Entretanto, só acredito em amor que aparece no brilho dos olhos, no gesto e no modo de tratar o outro. Mas é bom reconhecer que a infinita maioria das pessoas não consegue isso. A situação de aprisionamento matrimonial quando vai se desfazendo cria, a meu ver, os piores sentimentos humanos, que se pode imaginar. A pessoa vai morrendo aos poucos psicologicamente. É um destino quase universal, feliz ou infelizmente.

Portanto, precisamos nos situar no mundo em que estamos, em vez de dizer que somos culpados, vamos dizer que o nosso regime de vida é uma monstruosidade. Somos todos vítimas e, ao mesmo tempo, todos cúmplices e apoiando os que nos vitimam. Na maioria das vezes, a nossa conversa sobre relacionamento é tratada superficialmente, pois uma das graves hipocrisias históricas do casamento é constatar que em quase todas as sociedades, todos são unânimes em dizer, que a felicidade no casamento é fundamental, mas é importante que se diga, que em todas elas havia relações extraconjugais em demasia. Então de que felicidade nós estamos falando? Do casamento ou das relações extraconjugais?   

15 de janeiro de 2020

AMAR É COMPREENDER A ALMA DA VIDA

Para compreender o sentido do amor, é importante gravar a fogo e a ferro bem dentro da alma, esta verdade máxima da vida: “Só se compreende integralmente, o que se ama com entusiasmo e ardor”. É esta a síntese de toda filosofia, se a não compreenderes não compreenderás a alma da vida. Pode uma verdade ser meridianamente clara, se não te for simpática ao coração, irá parecer obscura como as noites frias de inverno.

Pode uma ideia ser absurda e paradoxal como um aborto no hospício, se tiver por aliados o coração e a alma, não faltará quem a proclame como a quintessência da sabedoria. Dizem os filósofos que o "querer" segue ao "entender" com a força da razão, no plano do universo cósmico. A natureza na sua imensa sabedoria, aceita e conhece essas razões.

Mas, na vida prática, a verdade mal entendida só tornará plenamente entendida e de todo compreendida, depois de amada e querida de todo o coração, de toda a alma e com todas as forças do nosso "ser". Todavia, quem ama perdoa, se alguma verdade sobre o amor quiser realmente compreender, importa que ames e viva essa verdade na sua essência. Que abraces com o coração, ao mesmo tempo em que analisas com a inteligência. Com grande entusiasmo afetivo, nascerá uma grande claridade compreensiva.

Importa que o amor te seja algo querido e íntimo, quase uma parte de si mesmo. Que circule nas artérias de teu espírito. Que lavre nas profundezas de tua alma. Que vibre nas pulsações do teu coração. Que arda na cadência do teu "ser". Só assim, compreenderás cabalmente as grandes verdades da vida. Vivendo, amando, sofrendo essa verdade do amor.

Pode um cego de nascença decorar todas as teorias sobre a luz, pode saber que a luz consiste em vibrações do éter, mas nunca compreenderá bem o que é a luz se a não ver com os seus próprios olhos e viver com a alma. Pode um surdo nato ler a descrição minuciosa de uma sinfonia de Ludwig van Beethoven (1770-1827) ou de uma ópera do maestro Richard Wagner (1813-1883), mas nunca formará ideia do que sejam na realidade essas maravilhas musicais.

Portanto, se queremos viver um relacionamento prazeroso, porém, verdadeiro, seja no trabalho, no namoro, ou em poucas horas ao lado de alguém especial, devemos aprender a nos aceitar como somos e olhar para o outro, como um caminho para o crescimento. Estar com alguém plenamente é a possibilidade de vencer o medo da entrega e de se conhecer no íntimo. Conviver com alguém que amamos é o mesmo que comprar um imenso espelho da alma, no qual, nos mostra como somos sem piedade. Ao invés de encarar a verdade e de ver a imagem temida do eu verdadeiro, então quebramos o espelho. Fugindo da intimidade, culpando o outro, não assumindo as próprias responsabilidades e desacreditando o "amor". Contudo, viver com quem se ama não é apenas uma oportunidade de conhecer o outro, mas é a maior chance de entrar em contato consigo mesmo. Compreender meu semelhante é mergulhar na "essência da vida". 

12 de janeiro de 2020

É NA ALMA QUE O AMOR SE COMPLETA

Gosto deste contato com a natureza, de estar entre meio essa beleza natural, das quais só podemos enxergar com os olhos da alma. Olhar para essas pessoas simples que vivem e plantam seus alimentos. A beleza dos gestos imperceptíveis; das mãos que acolhem, das que nos abraçam, consolam e amparam. A beleza da palavra amiga, consoladora, estende-se a todo instante ao nos ver por perto. É um olhar com a alma e quando diz é com o coração. É na alma que o amor se completa.

Gosto desse silêncio compartilhado, desse olhar que acalanta, do abraço caloroso, do beijo silencioso, do aceno que jura; “ficarei aqui, por ser aqui o meu lugar”. Quando observo, procuro enxergar com os olhos da alma, para não deixar que a luz ofusque a realidade, aquela escondida, por trás de uma bela estampa, ou distorcida pelas lágrimas. Há também, aquela que disfarça numa deformidade afetiva, que nada tem de real. Pois, ambos foram afetados. Tanto a alma como o amor.

O belo mesmo, este, é invisível aos olhos. Prefiro me perder na escuridão dos meus olhos solitários e viver num mundo sem culpa. Do que me encontrar na luz dos olhos traiçoeiros dos espertos desalmados e condenar a minha alma para sempre. De modo que a beleza não está nos olhos de quem vê e sim nos olhares que se trocam, aqueles que tocam a nossa alma. Assim sendo, não sentimos esquecidos e sozinhos. Somos olhados com os olhos da alma. É a alma que avisa o nosso coração sobre a chegada do amor.

Portanto, há flores pelo caminho, assim como há vida e ela chama por nós. Enxergue a vida com as lentes da sabedoria e com a certeza que ela é cíclica, vai e volta. Se puder evitar que um coração se parta, não terei vivido em vão. Se puder evitar a agonia de uma vida e acalentar uma dor, não terei vivido em vão. Concluo com um verso do cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918): “Não me basta saber que sou amado, nem só desejo o teu amor. Desejo ter nos braços teu corpo delicado, ter na boca a doçura de teu beijo”. Olhar com a alma é dizer no silêncio do teu mais amável e sutil coração. Que está sempre transbordando de amor. Com a alma acalentada e o coração em disparada.

8 de janeiro de 2020

A LEITURA É UM UNIVERSO ESTIMULANTE

Defendo a tese de que a ausência de cultura básica afasta os jovens da leitura e sem esta, as crianças e jovens serão incapazes de escrever até a sua própria história. É com preocupação que venho percebendo o distanciamento dos jovens diante desse universo estimulante que é a leitura. Quero acreditar na conciliação dos dois. O encontro entre o jovem e a leitura deve ser promovido pelas mãos precisa e eficaz dos educadores que tem o papel fundamental nessa aproximação. Nesse desafio, o educador conta com uma segura parceria entre leitura e a escrita, estabelecendo um vínculo capaz de desatar o nó que impede a aprendizagem da nossa língua.

De modo que, além de preparar para a vida, os temas podem ser aproveitados nas redações escolares ou nas dissertações para mestrados. Como escrever um texto sobre a miséria, por exemplo, sem dialogar com “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos (1892-1953), ou sem conhecer “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999)? O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.

Portanto, ampliando o repertório, o jovem estudante terá capacidade de interferir na realidade e exercer plenamente a crítica, cuja ausência nos faz tanto mal. Vivemos num mundo onde tudo passa muito rápido. De modo que, reconciliados com a leitura, os nossos jovens terão acesso aos instrumentos necessários para o resgate crítico da nossa história. Contudo, hoje vejo o mundo com os olhos daquele menino que cresceu e continua ouvindo o que as coisas dizem. A minha fala é a voz das coisas. Entrei no universo das coisas e as transformei em literatura e poesia. Todos têm um pouco desse menino. O menino que cresceu em mim, hoje compreende a esperança como uma dependência simples e imprevisível, de um “Deus” que adora nos surpreender. Enfim, ler é compreender e saber descrever o mundo com clareza.

5 de janeiro de 2020

TODO PROJETO DE VIDA NASCE DE UM SONHO

Toda pessoa abalizada e que tem um sonho, pressupõe que ela tenha um projeto de vida. E esse projeto nasce dos sonhos. Não há projeto de vida se não houver um sonho. É o sonho que detona o processo de se estabelecer um projeto de vida, que é para a vida toda, de longo prazo, que pede empenho, que pede determinação, que pede foco, uma construção que se faz apoiado pela família, pelos amigos e principalmente pela escola, o passaporte para a cidadania e a socialização. 

De modo que o projeto de vida é algo pessoal, é único e exclusivo daquela pessoa, mas que precisa de apoio de outros para acontecer. Por isso a escola tem um papel preponderante do ponto de vista, do que é um projeto de vida para o estudante. Aqui estou dizendo no sentido da construção que esse estudante vai percorrer entre "quem ele é e quem ele quer ser". O projeto de vida não é "o que eu quero ser", mas, "quem eu quero ser".

Portanto, o projeto de vida é constituído como a ideia de quem eu sou e quem eu quero ser, solicita a união de todos os educadores. Então, é importante que professores de diversas áreas do saber crie dinâmicas e, de ao estudante condições de criar ferramentas e contudo, desenvolver propostas de como construir e articular projetos. A ideia tem que estar focada e movimentar valores, competência socioemocional, responsabilidade e empatia, porque elas caminham mais ou menos juntas. Contudo, são essas razões inconscientes e biológicas, que ativam a pulsão de vida e do amor, que nos move na direção de um projeto de vida e assim nos da um sentido existencial.      

4 de janeiro de 2020

O AMOR É UMA TROCA PODEROSA DE INFLUÊNCIA

Costumo dizer sempre que, o bom amor é aquele que transforma as pessoas. Se me envolvo com alguém e se conseguimos cultivar bons sentimentos, nós dois nos desenvolvemos como seres humanos. Por outro lado, se tenho muitos amores, mas sou sempre o mesmo, desconfio que não amo ninguém. Para o educador e escritor Leo Buscaglia, criamos um mito em torno do amor, como se ele fosse a solução para todos os problemas da nossa vida, alimentando-nos de felicidade a cada instante para todo e sempre. Na verdade, não é bem assim. Mas também ninguém nega que o amor é uma troca poderosa de influência, isto é, o único que nos transforma e que realmente nos humaniza pela sua força analgésica.

O mito do amor perfeito seria uma delícia, se fosse verdade, mas igualmente fantasioso para quem cultiva esse mito. Muitas pessoas estão procurando esse amor perfeito. É comum em rodas de mulheres fazerem a seguinte pergunta: “Onde acho um homem que não seja só para motel ou só um marido chato, que seja um intermediário entre os dois, que possa ser agradável, interessante, gostoso de olhar, bom de prosear, que gosta de agradar e que faz sexo gostoso?” Será que existe alguém perfeito assim? Quando você ama alguém, você não ama o tempo todo exatamente da mesma forma, é importante assinalar esse fato. Isto é impossível de existir. Seria até uma mentira fingir que isto acontece. Se fosse verdade, os casamentos não acabariam depois de algum tempo. Mas mesmo assim, é exatamente isto que a maioria de nós gostaria que fosse.

Para os especialistas, toda a relação humana tem suas fases, são momentos em que o relacionamento atravessa maior ou menor intensidade. Há um momento em que a gente se sente absolutamente preenchido, em comunhão com o outro, isso quer dizer que estamos em “comum-união, quando a comunicação é intensa e plena. Sentimos-nos nutridos e achamos que esse vínculo é para sempre. Mergulhamos na fantasia do amor perfeito, do encontro perfeito. Temos a sensação de completude total. É a fase onde o amor é cego. A gente esconde embaixo do tapete as coisas negativas, as nossas neuras, que podem corroer o desejo e o amor que existe entre ambos. São as nossas frustrações, as angústias e o medo que temos de mostrar esses sentimentos. Mas uma hora ele se apresenta e o encanto se despede.

A fase romântica tem prazo de duração, por mais intenso que seja esse romance, o desencantamento é inevitável. Só não sabemos quanto tempo dura essa fase, em que tudo parece ser lindo e não vemos defeito um no outro. A expectativa criada em torno do príncipe encantado ou da princesa, logo se desmorona. Esse é o momento de confrontação das expectativas irreais do casamento. Aqui começamos a ver as diferenças daquilo que construímos antes do outro. Nesse momento sentimo-nos traídos, não aceitamos as diferenças. Também é o momento para surgir até uma nova paixão, as pessoas não acreditam que isso possa acontecer com elas. E carregam essa culpa pelo resto da vida.

Na fase da conquista, da sedução, as pessoas só mostram o lado bonito da sua personalidade, mostra uma educação, uma fineza que nunca se viu igual. Aqui as fraquezas e as feridas emocionais não aparecem, os medos ficam escondidos. Quando esse lado obscuro toma corpo, há uma tendência natural de cada um lutar, muitas vezes desesperadamente para mudar a pessoa amada, no intuito de salvar esse suposto amor perfeito. Começa o confronto entre as partes envolvidas na tentativa de um moldar o outro, para que ele corresponda à imagem idealizada lá no começo da sedução. 

Portanto, esse período de tentar moldar o outro é marcado de muita ansiedade, de muita angústia diante dos acontecimentos que ameaçam esse vínculo que ambos acreditam que é para sempre. É o momento em que a suposta união perfeita está chegando ao seu final. Descobrem que ninguém pode garantir a felicidade do outro. Cada um pode até criar condições para que o outro seja feliz, mas não pode lhe dar a felicidade. Cada um é único e ama do seu jeito. Os dois podem e devem se amar juntos. Sabendo que não há amor perfeito, pelo simples fato de ser uma relação interpessoal. Precisamos um do outro para conhecer o verdadeiro amor e sem falsa modéstia.      

3 de janeiro de 2020

FILOSOFAR JUNTOS É TÃO RARO QUANTO LINDO

Lendo um ensaio da psicopedagoga e mestre em linguagem escrita, Profa. Ana Macarini onde ela diz: “as palavras que escrevo não me pertencem. Elas são resultado da minha interação com o mundo. São células de mim, que morrem no papel e renascem nos olhos de quem as lê”. Achei isso fantástico de uma percepção poética incrível. Ela também acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas através de quem as lê. De fato há momentos em que as palavras são desnecessárias, descabidas, intrometidas. Entretanto, quando estamos ao lado de uma pessoa muito especial, como é bonito ver nos olhos dela um interesse vivo e autêntico pelo que temos a dizer.

Gosto de fazer amizades fecundas e duradouras com pessoas que comungam comigo os mesmos desejos. Como é lindo encontrar alguém que veja naquilo que dizemos do fundo da alma, como algo que ilumine, inquiete, provoque, derrube certezas e o desperte. É preciso que haja amor nos silêncios e no olhar de quem vos fala. Até porque, o pensamento é ainda mais fugaz que as palavras, podem nos abandonar sem aviso, caso não recebam de nós alguma genuína atenção. O pensamento voa, como voa o tempo quando estamos nos braços de alguém que nos ame e a quem amamos de volta.

Quando temos algo a dizer, sonhamos com a companhia de alguém que nos ouça, de alguém que nos ajude a pensar em voz alta, de alguém que nos ajude a traduzir as inúmeras línguas que habitam a nossa “Torre de Babel” particular. Encontrar nesse vasto e confuso mundo, alguém que se apaixone por filosofar com a gente, é tão raro quanto lindo. Dar ao pensamento as merecidas asas e deixar que essas asas toquem de leve as asas alheias, a fim de dar vida aos devaneios e interpretações das coisas profundas e tolas, é uma magia tão poderosa, que uma vez experimentada não nos permite voltar a algo menos intenso ou mais óbvio.

Portanto, compartilhar desejos e fantasias, tanto físicas como emocionais, é tão forte quanto sagaz. Oferece ao corpo a possibilidade de partilhar o afeto que aqueceu e o prazer que arrepia, a fim de dar vida a sensações esquecidas, é da esfera das coisas místicas, loucas, belas, que tendo feito parte uma única vez de nossa existência, faz acordar na gente a alegria que nos desperta de um sono com muitos sonhos. Contudo, conversar, filosofar e fazer amor, com a mesma pessoa, pode considerar uma trilogia perfeita. É daqueles presentes embrulhados em caixas inesperadas, envoltas em papel colorido e brilhante. Todos nós temos esse direito. É preciso acreditar na possibilidade desse sonho bonito se converter em realidade. É preciso estar desperto para reconhecer de olhos fechados que, isso sim, é uma relação afetiva de verdade.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...