30 de outubro de 2020

O MUNDO INTERROGA O MEU SER

O rosto do mundo interroga o meu ser. Todas as divindades das águas, das florestas, das montanhas, estremecem-me a vida, seja no erotismo dos bailados do alvorecer ou nas cores das preces do acaso. O espetáculo de maravilhas que me penetra a alma tem a musicalidade do silêncio das coisas espirituais. As fotos registradas e eternizadas no tempo, reinventam a santidade das coisas. Muitas vidas, hoje moram dentro de mim. A prova de que fizeram minha carne é que sinto saudade desse amor que revivo nestas fotos.

Minha alma é uma câmara escura abrigando a sensualidade das coisas, filtrando sonhos que se desenham nas paredes alvas do meu ser. Desespera-me não poder mostrar os brilhos e cores de minhas emoções. Faço, então, uma celebração de vidas que fotograficamente eternizamos e que hoje ecoa o sangue do meu espírito. Uma transfusão de êxtases.

Portanto, enquanto os Ipês não florescem, permanecem as fotos que desse amor um dia registramos.  Contudo, a vida não consiste em fazer anos, mas viver através de todos os anos a vocação que Deus deu a cada um de nós. Pois da vida nada se leva a não ser a vida que se leva. O tempo não existe quando a gente sabe o que quer da vida. É o mundo que nos interroga.

29 de outubro de 2020

O REAL SENTIDO DA PALAVRA AMOR É AMAR

A palavra amor tem mais sentidos do que qualquer outra palavra do mundo, segundo os especialistas nessa área. Quando estamos diante de alguém que nos desperta emoção ou encantamento, penso estar aí a “gênese do amor”, somos tomados por uma ternura  que nos convida para uma fusão. Começa brando, suave e macio e aos poucos vai contaminando todo o nosso ser, da cabeça aos pés.

O amor a meu ver tem duas funções que quase se confundem, mas podemos descrevê-las como se realmente fossem duas. A primeira é levar-nos à descoberta de nós mesmos enquanto pessoas que somos e capazes de amar. A segunda é pôr-nos em contato com a divindade, a eternidade, o infinito ou o ilimitado. Isto só se dá entre duas pessoas que se proponham a viver um romance ou uma história de amor.

O problema são os nossos defeitos que funcionam como uma barreira existente entre ambos,  como se fosse algo isolante, muitas vezes repulsivo. Justamente esse modo egoísta de perceber o outro e julgá-lo vai um desejo implícito, coisa do gênero, se ele se modificasse, deixasse de ser assim, certamente o amaria mais. Os defeitos meus e da outra pessoa nos separam, nos isolam, nos distanciam. É quando começamos a esbarrar nestas coisas que nos é dada a oportunidade de exercer ao máximo a arte de amar.

Quase sempre ouvimos frases feitas levianamente faladas no nosso dia a dia, que quem ama outra pessoa tem de amá-la por inteira, como ela realmente é com suas qualidades e defeitos. Só que as pessoas não juntam as ideias. Dito de outro modo, vai pouco a pouco percebendo o modo de ser do outro, de pensar, de agir que nem sempre nos é conveniente. É aonde o encantamento vai aos poucos acabando. Então, aceitar os defeitos do outro é falso.  

Em nossa sociedade se admite, quase sem crítica, e com muita obscuridade, que as pessoas buscam acima de tudo o próprio interesse, são egoístas, amam muito a si mesmas. Ao percebemos prontamente o quanto é difícil e pesado o sermos nós mesmos, o quanto custa nos arrastarmos pela vida com este lastro de aspectos negativos, os quais, não obstante serem negativos são tão nossos, tão inerentes a nós, como nossas mais caras virtudes e aptidões.

Provavelmente o modo mais comum de negação de si mesmo resida justamente no desejo de fazer parte de um grupo ou tribo, de um partido ou de uma ideologia. Todavia, vivemos numa sociedade de renúncia que cada um faz de si mesmo. Quanto menos eu sou eu, mais sou ninguém diante de tantos outros ninguém. Onde se espera muita uniformidade de comportamento, sentimento ou pensamento, por simples descrição fica excluída toda individualidade.

O amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu “Eu” não é infinito. O amor capaz de nos ensinar estas duas lições é certamente um amor abençoado. Quando este amor, além de sentimento e compreensão se faz também contato como: aconchego, trocas calorosas, muita carícia e contato físico, podemos dizer que temos aqui um amor perfeito. Talvez por isso o amor seja triste. Ele nos acena, ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e integral.

Portanto, pouco a pouco, ganhamos dignidade e respeito por nós mesmos, ao mesmo tempo vamos reconhecendo essa força interior chamada amor e cientes do quanto o outro é necessário para a manifestação desta força e o quanto ela é poderosa, a ponto de nos transformar. Tendo em vista que onde há amor há transformação. Onde não há transformação e nem crescimento não podemos dizer que exista amor. 

17 de outubro de 2020

O MENINO QUE VIROU CONTADOR DE HISTÓRIA

Morava numa aldeia um menino pobre que gostava de contar história. Para ele a vida era uma poesia e por isso, assimilou a sua infância e escreveu uma grande história de amor e fé. O contador de história se apresentava exatamente como era a sua vida. Lembro com saudade do menino solitário que vivia na roça e se alimentava de frutas. Ele gostava de comer “jatobá”, uma fruta seca com um caroço no meio, que grudava nos dentes e ficava amarelado. Aquele menino cheio de esperança que escreveu a sua história, contada em verso e prosa. Dos frutos transformados em semente, fertilizou sua imaginação. Hoje a minha filha caçula quer ser apresentada ao menino solitário. Aquele menino não existe mais, só na imaginação das minhas crônicas. Queria muito escrever essa história, para outras crianças também conhecer o menino que contava história.

Penso que as histórias para criança deve ser escritas com palavras muito simples. Poderia contar com pormenores, algumas histórias que o menino inventou. Uma história contada por um menino solitário, sem dúvida, seria a mais linda de todas as que já se escreveram, desde os contos de fadas e princesas encantadas. Ele levava a vida entregando-se a algo que dava muito prazer, que era escrever as histórias contadas em prosa. São poucas as pessoas que podem fazê-las. O escritor é o intérprete consciente da “subconsciência universal”.  O seu estilo era mostrar a fisionomia da alma. Dizia o menino que a alma é menos enganosa do que o corpo que mostramos.

De modo que, quem quiser escrever para bons leitores como as crianças, é preciso muita sensibilidade e percepção. É preciso que a tua alma seja uma antena ultrassensível, que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que povoava a mente daquele menino solitário e que percorria por todo o seu universo humano. Porém, esse menino tinha um sonho e saia todas as manhãs da sua casa, para estudar no grupo escolar do distrito que ficava algumas léguas de distância da aldeia. Quando passava pelas ruas do lugarejo as pessoas diziam que ele saia da aldeia, para fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho. Maior do que todos os tamanhos e sonhos imaginários.

O menino quando voltava para casa, levava livros para ler em voz alta para todos da aldeia, que gostavam de ouvir as suas histórias. E agora na minha memória, ele escreve para aqueles que gostam de ler bons textos e, que nos coloca para pensar. Em dias de um sol apagado, quantas vezes o menino cansado dormia com a solidão entre uma leitura e a lição da escola. Ele continuava amando a chuva que escondia o sol. Antes mesmo do começo já sabia o seu fim, não deveria acreditar no que se prometia, mas no que estava escrito nas estrelas. Nascia ali uma história real de uma pessoa extremante humana e religiosa, que o menino a conheceu e aprendeu admirá-la.

Portanto, o menino cresceu, virou homem e tornou-se escritor. Cristalizou-se em ideias conscientes a inconsciente atmosfera das almas boas que nos cercam. Dizia o que as pessoas já sabiam nas penumbras do seu “eu interior”, mas não sabiam trazer a luz da consciência vigilante. O menino nos mostrou que o escritor é aquele que faz nascer o que já era concebido e andava em gestação. O menino que virou contador de história, alegrou a beleza dos rios e dos verdes campos por onde passou. A canção de amor que ele ouvia no silêncio da noite, entre uma melodia e outra, o ensinou a ler nas estrelas as suas inspirações. O menino cresceu e continua ouvindo o que as coisas dizem. Sua fala é a voz das coisas. Ele entrou no universo das coisas e as transformou em literatura e poesia. Ora, esse menino somos nós. Contudo, compreendo a esperança como uma dependência simplória e imprevisível, de um “Deus” que adora surpreender. Somos medo, desejo e esperança. 

15 de outubro de 2020

A FILOSOFIA É A CHAVE PARA COMPREENDER O MUNDO

Sempre que tenho oportunidade de conversar com pessoas receptivas e simpáticas, pergunto se gostam de ler, caso a resposta seja afirmativa, ofereço um cartão meu, dando a eles a oportunidade de conhecer o meu “Espaço Filosófico” que na verdade, é um espaço de leitura de crônicas filosóficas. Ao ver o cartão, logo vem à pergunta: “você é filósofo?”. “O que é filosofia?” O leitor ocupado perguntará para que serve a filosofia. Pergunta vergonhosa, que não fazemos ao poeta, para que serve a poesia, essa outra construção imaginativa de um mundo que mal o conhecemos.

De modo que, se a poesia nos revela a beleza que os nossos olhos não educados não consegue ver, e se a filosofia nos da a chave para compreender o mundo e perdoar o seu próximo, sendo assim não perguntamos mais. Penso que isso vale todas as riquezas da terra. A grande questão é que a filosofia não enche a nossa carteira e nem aumenta nossa conta bancária. Não nos ergue às dignidades dos governos, é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a conta bancária e a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingênua, desprovido de espírito e humanismo, brutal na conduta, instável no caráter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?

A maturidade é tudo. Talvez oque a filosofia nos de, se lhe formos fiéis, uma sadia unidade de alma. Somos negligentes e contraditórios no nosso pensar; talvez ela possa classificar-nos, dar-nos coerência, libertar-nos da fé e dos desejos contraditórios. Da unidade de espírito pode vir a unidade de caráter e propósitos que faz a personalidade e da ordem e dignidade à vida. A filosofia é conhecimento harmônico, criador da vida harmônica; é disciplina que nos leva a serenidade e à sabedoria.

Portanto, saber é poder, mas só a sabedoria é libertadora. O sinal de que vamos atingir uma sabedoria plena é a consciência que temos que um dia seremos idosos. Essa é a melhor saída para a nossa vida, prêmio por termos alcançado o topo da hierarquia da existência. É a mais pura filosofia de vida que um ser humano pode alcançar. Contudo, o idoso é um mapa de conhecimento, tem dentro dele muitas estradas principais, muitas vias secundárias e muitos atalhos, muitos becos sem saída, muitas praias, muitos desfiladeiros, muito amor e severas tempestades emocionais.

10 de outubro de 2020

O POETA LEU NAS ESTRELAS O QUE AQUI ESCREVEU

O amor é como o sol. Uma nuvem pode escondê-lo, mas nunca apagá-lo. Quando daqui algum tempo, espero que muito distante, chegaras aos confins do azul do céu e guardaras justamente no olhar da princesa toda cor deste planeta, que com rosas vermelhas enfeitou o amor que o poeta fotografou. Que alegrou a beleza dos rios e dos verdes campos por onde pisou. E as canções de amor que ouvia no silêncio da noite, entre uma melodia e outra o poeta lia nas estrelas as inspirações que escrevia.

Vem mais um dia semear esperança num coração solitário. Uma semente caída de uma árvore pode produzir outra árvore, porque a natureza é feita dessa energia descrita no amor. Só um sonho vagarosamente pela noite adentra e não amanhece se a realidade não vier contemplar o despertar desse amor. Por esse passado o poeta e a princesa, viveram a eternidade de um coração inspirado. Como uma força cósmica, todas as tardes vêm semear esperança neste coração solitário.

O silêncio para o poeta é marca de sua inspiração. Falar da princesa é como pintar a natureza. Uma música veio seguindo os passos da princesa e o poeta pode ver o brilho em teus olhos, como a cauda de um cometa riscando o céu estrelado em noite fria de inverno. O balanço da música brincava com o espaço solitário do poeta, renovando os anos passados em cada nota musical. Ambos não querem morrer, pois querem ver como será envelhecer.

A princesa construiu na cabeça do poeta uma nova moradia. Embriagados pelo amor da fonte universal, olham o vento brincando no quintal, embalando as flores do jardim e transformando tudo em sinfonias. Com essa musicalidade do corpo, é que renova a gratidão de haurir a leveza, que a razão incendeia. Os olhos é uma janela acesa de vida, que tritura as ansiedades e acolhe gente que chora como este simples poeta.

Já dizia o poeta: “deixa o rio andar ou empurra um rio abstrato, mantendo as vidas da vida”. Rasga por dentro uma dor que machuca em cores, a vida passa como cortes de metal, em vagalhões de mar e luz, misturando o céu e a terra. Vinda de outras vidas sangra o espírito que o amor espera. O poeta ouve o que as coisas dizem. Sua fala é a voz das coisas. E as coisas se transformam em poesia. O poeta entra no universo das coisas e faz amor com as palavras. Eis que surge a princesa e penetra no corpo do poeta e o novo evangelho se anuncia: “o amor se fez carne”. Agora, ambos estão vivos e a prova de que permanecem no amor é a saudade que eterniza a memória de seus corações. Nesses versos mostra que a vida anterior que retorna em forma de dor que não dói, mas pode ser fatal.


3 de outubro de 2020

SONHAR É CAMINHAR JUNTOS

Quem nunca sonhou e apostou na esperança do mesmo? Quem nunca teve um sonho arrancado ou interrompido? São frutos do acaso ou tem uma causalidade? Para compor essa reflexão, recorro à metáfora poética das palavras. No “poema à boca fechada” do escritor português Prêmio Nobel de Literatura José Saramago (1922-2010), descreve como ficamos quando um sonho nos é tirado: “Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. Recria-me, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas, não caber em lugar algum”. É como se fossemos um oceano e de repente uma de suas ilhas começa a afundar. Como ficarão seus habitantes? Sendo que na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. Sabemos o que é viver, mas, ainda falta compreender o porquê não vivemos plenamente.

Nós temos sempre necessidade de pertencer a alguma coisa; e a liberdade plena seria a de não pertencer à coisa nenhuma. Mas como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, ou à língua com que se comunica, e neste caso, a língua com que se escreve? No fundo queremos pertencer a esse sonho. Todos têm um sonho secreto. Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia as pessoas percebam que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imaginem o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado. Olhe para o lado, alguém precisa de você. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Mergulhe de cabeça nos seus sonhos e satisfaça-os.  

Portanto, há na memória um rio onde navegam os barcos com todos os sentimentos vindo de lugar obscuro. Que venha a paz desejada, a harmonia, e o resgate do fruto, e a flor das almas, que assistiram este sonho nascer. Que venha o amor, porque esses dias são de angústia, de raiva e agonia, pelo meu sonho que se perdeu no horizonte. Mesmo assim lhes digo: procure os seus caminhos, mas, não magoe ninguém nessa procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o que não o faz feliz, revoltem-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Persiga seus sonhos, mas, não os deixem viver sozinho. Descubram-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas. Sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for. Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso. Haverá um grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos. Sonhar é caminhar juntos, de mãos dadas para além do horizonte.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...