30 de setembro de 2018

OLHAR PARA A VIDA DE FORA

A maior riqueza do ser humano é a sua incompletude, usar palavras que nos aceitam como somos. Olhar para a vida de fora para dentro. Há momentos que precisamos se por no lugar do outro. Tomar cuidado com os pensamentos, porque os pensamentos geram palavras e as palavras geram atitudes, que geram hábitos e os hábitos formam a personalidade e o caráter de uma pessoa. Como podemos nos entender se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentre de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro dela? Diz um provérbio popular: “como o verniz cobre um pote de barro, as palavras fingidas cobrem um coração mau”.

Como diz Padre Fábio de Melo: “palavras erradas costumam machucar para o resto da vida, já o silêncio certo pode ser a resposta de muitas perguntas”. É assim que compreendo a vida. Para ter lábios atraentes, diga palavras doces. Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas. Para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos. Para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho. Pessoas são mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas. Vale lembrar, que se alguma vez precisar de uma mão amiga, encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo. A beleza de uma pessoa não está na expressão facial, à verdadeira beleza está refletida em sua alma. Quem ama olha as qualidades do amado, jamais os defeitos. Por isso, somos imagem e semelhança de Deus. Pense nisso!

Portanto, o objetivo de uma vara de pesca é pescar o peixe; quando ele é fisgado, a vara de pesca é esquecida. O objetivo das palavras é transmitir as ideias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar alguém que se esqueceu das palavras? É com essa pessoa que gostaria de conversar. Perdoai-me Deus, mas preciso ser o outro. Quero renovar pessoas usando as borboletas. Sorrisos e abraços espontâneos me emocionam. Palavras até me conquistam temporariamente, mas atitudes me ganham para sempre. Contudo, as palavras são como os patifes, desde o momento em que as promessas os desonraram. Elas tornaram-se de tal maneira impostoras, que me repugna servir-me delas para provar que tenho razão. Todos têm defeitos e poucos sabem. No amor, resgatamos as qualidades e promovemos o respeito. Olhar para vida e olhar para o amor.

27 de setembro de 2018

QUANDO O AMOR SE VAI

O amor é um sentimento por alguém muito específico que provoca sensação de paz, aconchego e harmonia. Psicologicamente falando, o amor reflete a primeira experiência do ser humano, que seria o prazer absoluto de estar no útero materno. Alguns psicoterapeutas como Flávio Gikovate (1943-2016) defende a tese que o amor é um remédio para o desamparo do nascimento. Para ser amor é preciso que o sentimento seja, necessariamente, interpessoal e, também, seja um prazer negativo, no sentido que ele vem substituir a perda do primeiro prazer. Portanto, não fazemos amor, sentimos amor. No amor a gente se completa e não se fabrica outro. Amor acontece uma vez ou outra na vida, quase sempre por acaso. Como tudo na vida se acaba, o amor também se vai e dele só ficam as lembranças da alegria e o prazer que nos deu.

Para melhor compreender o amor, cito o filósofo grego Platão (427-347 a.C.), que dizia nos seus diálogos, “o amor deriva da admiração”. A escolha desse objeto que vai substituir o amor da infância se da pela admiração. A questão é que o critério de admiração pode se modificar com o passar dos anos. Essa admiração é uma das variáveis que pode levar o fenômeno amoroso ao colapso da relação. Quanto mais baixa for à autoestima, maior a procura pela admiração ao perfil oposto, justificando aquela máxima “os opostos se atraem”. Com o tempo e a aproximação pode provocar a perda e o crescimento da admiração. Em outras palavras, quando se perde admiração, perde-se o amor. Logo, o maior problema é a perda da admiração. De modo que, o sentimento amoroso vai se desencantando pelas mesmas razões que o fez encantar. Vale lembrar, que o fim do amor não pressupõe o fim do relacionamento.

Entretanto, muitas pessoas ainda ficam juntas mesmo depois que a vida amorosa empobreceu. Viver junto não significa viver bem. Há os que continuam com o objetivo de forçar a mudança do outro, em vez de usar essa força para mudar a si mesmo. Em vez de forçar o outro a deixar de ser egoísta e se fazer de vitima, devo trabalhar o meu emocional para deixar de ser tão generoso com o outro. Toda essa energia poderia ser gasta comigo e não tentar reformar o outro. É um esforço inútil, o tempo tem nos mostrado. A parte mais generosa da relação é quem ativa a ruptura. Isto porque a parte mais egoísta, ainda que em um possível sofrimento, não suporta ceder. Assim, espera-se uma hora oportuna para a separação. Muita gente boa lida muito mal com a solidão, principalmente, com a dramática sensação de dor no momento da separação. Não é a dor da solidão e sim a dor aguda da ruptura e da transição.

Portanto, quando a relação chega ao desgaste, que o outro não está preenchendo mais as expectativas, de maneira que já faz presente a sensação de incompletude. É o momento em que a insegurança e a desconfiança gerada pelo egoísta, tornam-se insuportável a convivência. E quando acontecer a ruptura é preciso que ambos façam uma autocritica e entendam onde e como aconteceram as falhas e o que levou as mudanças. Aprender a lidar melhor com os sentimentos e parar de se culpar. Todo egoísta se faz de vitima, só ele ama e acha que outro não tem amor. Sem diálogo não há entendimento e ambos saem da relação machucados. Contudo, uma pessoa emocionalmente madura, atrai relações entre pessoas mais parecidas, criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que da um viés mais sofisticado para a relação. Evoluir afetivamente é o que mais se aproxima da boa amizade. Toda relação é baseada nas afinidades. Há um respeito pela individualidade de cada um, tomando as duas partes como iguais e equilibradas em tudo. Enfim, só o amor nos constrói, nunca destrói.

23 de setembro de 2018

AS ÁRVORES ME ATRAEM

Somos seres constituídos de corpo e alma, a partir do momento em que respiramos pela primeira vez e, aos poucos, nos percebemos humanos. De cada ciclo da vida ficam as marcas, as experiências que colhemos e é isso que nos tornam único. Marcas muitas vezes inconscientes, às vezes conscientes. Todas indeléveis, influenciando o destino de cada um. Agora entendo o meu gostar dos rios, dos passarinhos, das flores, das estrelas, do verde das árvores e do azul do céu, sou um observador apaixonado pela natureza.

Sinto que a beleza da vida se esconde entre as frondes arredondadas das árvores, na variedade do seu verde, de sombras aconchegantes, o cheiro das suas flores, os frutos, a ondulação dos galhos, mais intenso ou menos intenso em função da sua resistência ao vento. As boas vindas que suas sombras sempre nos dão. Os passarinhos de todas as cores e cantadores. Há bichos de todas as espécies que visitam e repousam sobre suas sombras e nos seus galhos. Ó árvore abençoada, fazendo fotossíntese e enfeitando a primavera.

Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel, para registrar o nosso vazio. Como dizia Fernando Pessoa (1888-1935): “Segue teu destino, rega tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é sombra de árvores alheias. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode dizer-te. A resposta está além dos deuses”. Fui marcado por um gosto especial, pelas sombras das árvores de Rubião Junior. Minha terra natal.  

Incorporei os verdes do lugarejo e falo como se tivesse dele nascido. Dar sentido a vida é isso, compreender as razões e os desígnios de Deus. A beleza que vejo está para além da minha compreensão, portanto, enalteço a semana da árvore. Quando criança, no caminho para o grupo escolar, em manhã de céu azul, sol manso e de frio intenso, de lábios ressecados, caminhava através das árvores pelas trilhas procurando, o lado banhado pelo sol. O horizonte amplo parecia me dizer: “menino seja feliz, o futuro vos espera”.

20 de setembro de 2018

VISÃO DISTORCIDA DA POLÍTICA

Por questões éticas, não gosto de abordar assuntos sobre política partidária nas minhas reflexões e muito menos nas redes sociais. Nem por isso deixo de ter minhas convicções políticas, que não interessa a ninguém. Leio e estudo muito sobre o assunto política, por isso sou bem informado. Não vale a pena entrar em polêmica com pessoas queridas, tendo em vista, que cada um tem a sua opinião e deve ser respeitada. “A filosofia antiga não tem as opiniões como base, somente os fatos”. Para entender essa dinâmica da política, é preciso conhecer a história de cada político e mesmo assim é temeroso emitir uma opinião. Somos traídos por eles o tempo todo. Todavia, vou fundamentar minhas razões sobre o assunto política e políticos. Ao ler o livro: “O Nobre Deputado”, cujo autor é o juiz de direito Márlon Reis (1969), idealizador do Projeto de Lei da Ficha Limpa, que vem corroborar com tudo aquilo que penso da política brasileira. Relatos chocantes e verdadeiros, de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política. Corrupção, uma história que conhecemos e assistimos há anos.

Vale lembrar, que a corrupção é todo ato que visa benefícios em prol de prejuízos de outros, mas, também é o uso de poder ou autoridade concebida para levar vantagem em algo. O estudo deste tema é de muita importância para qualquer sociedade, na qual impera um pensamento que, de certa forma, é arcaico, porém, é vigente em nosso país. Diante disso, deparamo-nos com a ideia de política totalmente divergente, daquela idealizada na República de Platão (427-347 a.C.), que discorre seu pensamento sobre “Estado Ideal”, principalmente no caso do Brasil, onde este é visto mergulhado em corrupção. Beneficiando apenas políticos, em seu individualismo, nepotismo, faltando com a ética e com a moral, sem compromisso com a população, fazendo com que o povo se afastem, gerando um círculo vicioso e a perpetuação do poder nas mãos da mesma minoria em detrimento de uma maioria marginalizada.

O juiz Márlon Reis apresenta resultados de uma pesquisa, onde conseguiu ouvir as pessoas que participam de esquemas da política sobre como se dá a eleição de deputados, senadores e presidente. A história foi constituída em um personagem fictício, chamado de Cândido Peçanha, que na verdade são os depoimentos reais colhidos pelo autor. A grande farsa eleitoral brasileira é pautada por interesses. A política é movida a dinheiro e poder. Dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro. É disso que tratam as eleições: “o poder arrecada o dinheiro que vai alçar os candidatos ao poder”. A única coisa que vira o jogo é a avalanche de dinheiro. Vence quem paga mais. Sempre foi assim e penso que vai continuar. Pois, os novatos que ingressam na política, com a ilusão de mudanças, são cooptados ou cuspidos pelo sistema. É um sistema de engenhosidade formidável, complexo e encantador.

Portanto, a corrupção, infelizmente, tornou-se rotina na política brasileira e não é privilégio de um único partido, todos estão mergulhados na corrupção. Muita gente boa quando escuta a palavra política, logo pensam em corrupção, lembram-se do mensalão, lava jato, desvio de dinheiro público, políticos fazendo promessas e não cumprindo com praticamente nada, coisas que não contribuem para a sociedade, e com isso as pessoas acabam ficando desinteressadas em pesquisar e se aprofundar nos assuntos políticos no meio em que estão inseridas. De modo que, nunca encontraremos fórmulas mágicas capazes de solucionar nossos problemas políticos, por isso devemos depositar na “educação” a nossa maior esperança para superar esses desafios e então, buscarmos construir uma sociedade democrática. Além da nossa vida privada, sonhos são roubados a todo instante. Inclusive por aqueles a quem confiamos. Contudo, é um grito de alerta para todos, e uma atitude patriótica em defesa do nosso futuro. Antes de defender esse ou aquele político, pesquise sua história.

16 de setembro de 2018

DEVANEIOS DA MADRUGADA

Quando o teu corpo nasceu naquela noite as véspera da primavera, trouxe a tona os meus desejos. Era uma estrela desesperada de longas caudas e corpo macio. No calor do momento percorri, com as mãos tocando no recesso da consciência a alma eminente. Olhando para a emoção sentia o pulsar do coração que se atirava rijos contra a fome do meu peito. Toda a morte que assusta os meus instantes, se apaga quanto sinto o coração disparar. Sei o que quero e por isso procuro entre passos firmes e seguros.

Nos devaneios da madrugada sigo pelo escuro, caminhos que nunca chegam ao fim. Loucura é a minha ansiedade, entre o tremor das pernas e o calor mais úmido que me recebe em desespero. Prazer se mistura com a sensualidade dos beijos, quando aperto o teu corpo junto ao meu, semeio-te de mim. Depois vem o nada, o medo de uma história mal começada. Feixe de energias levanta com o fogo e névoa o cristal do desejo. O saber que tu existe alivia-me a vida e reconforta a minha alma. Será isso mesmo um devaneio?

Nada em teus olhos que eu não queira olhar para sempre. A madrugada do céu estrelado roda a lua como um brinquedo cósmico, redesenhando o perfeito êxtase que invade o meu ser. Pelos lados vejo a brisa gritando por compaixão, num instante sou tomado pela emoção. Outra brisa chegante e um quinhão de silêncio, isto será um amanhã plantando além do horizonte um lugar só nosso. São muitas flores sobre o teu silêncio. Agora repleto está o meu devaneio.

Um dia voltarás trazendo estrelas deste céu pacífico e sem sofrimentos. Palavras leves, tu virás trazê-las, pincelando o melhor dos nossos tormentos no brilho daquele inesquecível primeiro olhar. No devaneio da madrugada há uma chuva de prata, marcando a alvorada de uma glamorosa chegada. Custei a compreender meu pobre devaneio, mas com humildade andei pelos teus gestos, vindo do brando coração sofrido e de braços abertos, mas feliz ao acordar e sentir que nada está perdido. Devaneios, uma explosão de metáforas.

13 de setembro de 2018

SOMOS MOVIDOS PELA ESPERANÇA

Em um mundo de pouco amor e muita indiferença, ainda somos movidos pela esperança e pela fé. Não é possível conceber a existência humana sem sonhos, sem utopia e sem esperança. Sendo que a esperança é uma dimensão que faz parte do nosso “ser-no-mundo” como dizia o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976). Desde que fomos lançados na aventura da existência, a esperança nos é indispensável na construção do nosso “Ser”, por estar intrinsecamente ligada ao nosso corpo e a nossa mente. Podemos dizer que a esperança é uma necessidade ontológica. O fato é que nós não poderíamos ser sem mover-se na esperança. Ao estudar a história da humanidade, percebe-se que todos os grupos humanos em diferentes épocas, cultivaram a esperança em relação ao futuro, sonhando com a liberdade, com um mundo de justiça, de respeito à vida e de amor ao próximo.

De modo que, é na esperança que encontramos coragem para lutar contra os grandes horrores e barbáries presentes na história humana. A começar pela mitologia grega, quando a personagem Pandora abriu a caixa aonde Zeus havia aprisionado todos os males e as misérias deste mundo, o que restou bem no fundo da caixa foi à esperança. Entretanto, é este tesouro guardado no fundo da caixa que nos motiva a lutar sempre e acreditar, apesar de todos os males que escaparam da caixa de Pandora. Vale lembrar, que a caixa de Pandora é um mito grego, que narra a chegada da primeira mulher a terra e com ela a origem de todas as tragédias humanas. Na mitologia grega, Pandora foi à primeira mulher criada por Hefesto sob as ordens de Zeus o deus soberano.

Vivemos uma escassez de esperança, as pessoas não se entendem mais, coloca-se em duvida tudo, inclusive a existência do amor. Parafraseando Clarice Lispector (1920-1977): “Decifra-me, mas não me conclua, posso te surpreender”. No entanto, assistimos diariamente a intolerância na sociedade e particularmente de pessoas que fizeram e fazem partes da nossa vida. Rotulando-nos de covarde e aventureiro. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Aqueles que foram visto dançando, foram julgados insanos, por aqueles que não podiam escutar a música”. Penso que a ofensa é um fracasso pessoal. Tem pessoas que não adianta ficar pedindo compreensão. São portas fechadas e não estão preparadas para tamanha grandeza. São incapazes de gestos nobres, de generosidade. São pessoas boas para julgar e condenar, sem pensar no amanhã. Não acreditam no futuro e nem nelas mesmas. Há um vazio existencial e um desencanto amoroso. São pessoas extremamente negativas e intolerantes. Usam frase vazias e inócua para massacrar o outro.   

Portanto, o ser humano não é plenamente humano se não cultivar a esperança de um futuro melhor e se não agir para fazer desse mundo um lugar seguro para se viver. Estamos apodrecendo aos poucos e vamos desaparecer mais ou menos depressa. Quando o arrependimento chegar, poderá ser tarde para o seu resgate. O mundo que nos espera não está por ser conquistado pela força e a intolerância. Mas, está por ser construído e só depende de nós. Nesta tarefa de construir outro mundo possível, os sonhos, a esperança que não é espera, mas, um fazer acontecer é imprescindível. Parafraseando o cantor Geraldo Vandré (1935): “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Contudo, a morte causa a ausência e a ausência causa o desejo da presença. “Amei o amor, amei a dor, abandonei a vingança, agora amo a esperança”.

8 de setembro de 2018

POR INSEGURANÇA E MEDO NOS MALTRATAMOS.

Em determinados momento da vida, por insegurança ou medo, inibimos a coragem de ser feliz, de arriscar a viver uma história de amor bem sucedida, pelo simples fato da nossa educação, apontar para a sexualidade como algo pernicioso. Quando se reprime essa energia vital, ela explode gerando uma neurose de angústia. No entanto, a maioria das relações amorosas e sexuais praticada hoje no mundo, é basicamente falsificada ou fingida. Com medo de abraçar, de tocar o corpo do outro e ser tocado na mesma intensidade. Pois, a falta de coragem inibe a intimidade com a pessoa que amamos, aquele momento prazeroso de brincar com o corpo um do outro. O corpo é o nosso “playground”, estimula as fantasias no momento do encontro e da intimidade. Quem não viveu isso?

Pode-se comparar esse momento como uma manifestação divina, da qual não sabemos muito bem o que fazer, e ao mesmo tempo ficamos com medo e perplexo com tamanha felicidade que experimentamos. Aprender a amar e a ser gentil está intimamente relacionado ao sentido do toque, que é muito benéfico para a nossa humanização. Dar mais atenção às necessidades de experiências táteis, sentidas no momento do abraço. Entretanto, a nossa sexualidade é colocada de lado, ignorada como se ela não fosse importante para a manutenção da espécie humana. De modo que, a nossa humanidade começa onde começa o toque, o contato físico, naquele intervalo de poucos minutos que se segue ao nascimento. Ao chegarmos a esse mundo, somos prontamente amparados pelo aconchego do toque epidérmico. A comunicação que nos é transmitida, no momento do nascimento através do toque, constitui o mais poderoso meio de criar relacionamentos sólidos e amorosos. Quem não quer viver uma linda história de amor?

Com o crescimento da indiferença, vem surgindo uma nova raça intocável. Tornamo-nos estranhos uns aos outros, não só evitamos todas as formas de contato físico ou carícias, como ainda vivemos precavidos contra esse amontoado de figuras anônimas, solitárias e temerosas de intimidade. Estamos todos diminuídos na mesma extensão. Devido o fato de algumas pessoas serem intocáveis. Não conseguimos criar uma sociedade em que as pessoas se abracem e se toquem com admiração e respeito. Não é nada fácil começar um relacionamento, mas desfazê-lo é simples demais. Vivemos a metáfora da liquidez. As redes sociais funcionam como um escudo onde fica fácil para agredir o outro. As pessoas calçam uma mascara e posa de boazinha falando de amor e odiando o seu próximo. Ficam desfilando a beleza de sua existência, na espera que alguém a curti e a chame de linda e maravilhosa. Será que não temos mais nada para oferecer, além de um corpo?  

Portanto, estamos cercados daquilo que mais desejamos e ninguém ousa se apropriar. Parece que ninguém tem a coragem de viver esse encontro com a divindade, através daqueles que amamos. Estamos todos doentes por falta de proximidade, de abraço e trocas de carícias, extremamente fundamental para a nossa felicidade cósmica. Caminhamos a passos largos em direção a nossa destruição. Somos na maior parte do tempo negativos e pessimistas aos estímulos positivos. Olhamos para o outro com desprezo e desdenho. Não nos juntamos em ação comum em defesa da vida e de todos. Pois, vivemos ameaçados por perigos eminentes. Por que nos afastamos tanto assim uns dos outros? De que doença sofremos? Por que negamos o amor? Quanto mais educados, mais distantes e separados estamos. Contudo, não é o amor que faz a gente sentir-se feliz. O amor é o que nos faz sentir vivo. Sou feliz por estar vivo e agradeço a Deus pela vida que me concedeu. Portanto, o amor é o símbolo da nossa própria existência.

5 de setembro de 2018

PEDAÇOS DE ENIGMA

Minha metade mais profunda do mistério tenta atirar o arpão desta minha ansiedade. E lá vai meu intento em amenizar o sofrimento. No entanto, vara-se o espirito um soluço estéril. Enfio a mão no fogo do amor, para sentir o seu calor no meu viver, remexendo o braseiro e procurando uns pedaços de enigma que há tempo atocaia este meu ser.

Interrogo as estrelas e minhas noites de insônia, lá vai o peregrino, ó céus, caminhando pelas estradas de minha aflição. Dia de penitência e de pernoites a perguntar a hora, o instante, o quando, desse encontro marcado com o meu não. Afinal, estou debaixo do mesmo céu, entre a multidão e peregrino que sou, respiro o mesmo ar que exala vida e amor.

Escolheste um caminho e o caminhaste levando uma canção que fala de um amor interminável como único guia. Inevitável ardor de gelo e longa flor sem haste foi à sorte que te coube na vida. Foi comendo e bebendo a claridade do espírito do mundo, que escreveste a paz em pentagramas.

Foi através dos sons românticos, com os arcanjos do frio e da saudade, nas muitas solidão em brancas noites de invernos. O nosso coração trilhou para uma única direção. Passam-se os dias e não passa ninguém que estenda a mão. Que esse pedaço de enigma, vira sonho e esperança de viver pelo o amor. 

2 de setembro de 2018

AMOR COMO PRAZER NEGATIVO

O amor é parte de um prazer que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), chamava de prazer negativo. Porque funciona como um remédio para sensação desagradável de desamparo. Isto é, um prazer que deriva com o fim da dor do desamparo. O aconchego é o remédio para o desamparo e solidão. E por isso o amor é interpessoal, é paz e é um prazer negativo. O sexo ao contrário, é pessoal, pura excitação e é um prazer positivo, porque não depende da existência de um desconforto anterior, ou seja, a pessoa não precisa estar com nenhuma sensação ruim, para que tenha o prazer derivado do toque nas zonas erógenas e suas estimulações sexuais. O sexo não precisa do amor para acontecer. Sexo é um fenômeno biológico e o amor é um fenômeno espiritual. Sexo a gente pratica e o amor à gente sente na essência.

Aprendemos que sexo e amor são componentes de um mesmo instinto. Isto não é verdade. O amor corresponde à agradável sensação de aconchego que sentimos quando próximo de uma pessoal muito especial, ou seja, aquela que amamos. É como a criança no colo da mãe, nosso primeiro objeto de amor. A dor derivada da sensação de desamparo e de incompletude que todos sentimos, desde o momento do nascimento se atenua nestes momentos de reencontro. Isto nos traz paz e harmonia ao lado daquela pessoa que para nós é única. O amor adulto é idêntico ao infantil, por isso as cobranças. Não existe amor por si mesmo, dizer eu me amo é pura balela, ninguém ama sozinho. Se somos infelizes e sofremos é porque precisamos do outro. O amor vem de fora e por isso ele é interpessoal, visto por Schopenhauer, como um prazer negativo.

Portanto, amor é paz e é interpessoal, preciso do outro para ter paz. Sexo é excitação e é essencialmente pessoal, não preciso do outro para senti-lo. O mais típico momento de sexo, o que corresponde ao orgasmo, é o mais solitário, ao contrário do que todos pensam. A excitação física é tão forte que ficamos totalmente voltados para ela, do mesmo modo que nos aconteceria se tivéssemos uma forte dor física. Não há lugar, nestas condições fisiológicas, para qualquer tipo de atenção ao outro. Talvez por isso que preferimos o sexo com amor, depois do gozo, podemos nos abraçar e nos aconchegar para atenuar a solidão que acompanha esse prazer máximo. Contudo, o beijo na boca é mais íntimo do que o sexo. No entanto, numa relação amorosa, quando o amor termina, a primeira coisa que acaba é o beijo na boca. O sexo ainda perdura por um bom tempo. Enfim, praticar sexo com amor é estar nos braços da divindade.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...