27 de setembro de 2018

QUANDO O AMOR SE VAI

O amor é um sentimento por alguém muito específico que provoca sensação de paz, aconchego e harmonia. Psicologicamente falando, o amor reflete a primeira experiência do ser humano, que seria o prazer absoluto de estar no útero materno. Alguns psicoterapeutas como Flávio Gikovate (1943-2016) defende a tese que o amor é um remédio para o desamparo do nascimento. Para ser amor é preciso que o sentimento seja, necessariamente, interpessoal e, também, seja um prazer negativo, no sentido que ele vem substituir a perda do primeiro prazer. Portanto, não fazemos amor, sentimos amor. No amor a gente se completa e não se fabrica outro. Amor acontece uma vez ou outra na vida, quase sempre por acaso. Como tudo na vida se acaba, o amor também se vai e dele só ficam as lembranças da alegria e o prazer que nos deu.

Para melhor compreender o amor, cito o filósofo grego Platão (427-347 a.C.), que dizia nos seus diálogos, “o amor deriva da admiração”. A escolha desse objeto que vai substituir o amor da infância se da pela admiração. A questão é que o critério de admiração pode se modificar com o passar dos anos. Essa admiração é uma das variáveis que pode levar o fenômeno amoroso ao colapso da relação. Quanto mais baixa for à autoestima, maior a procura pela admiração ao perfil oposto, justificando aquela máxima “os opostos se atraem”. Com o tempo e a aproximação pode provocar a perda e o crescimento da admiração. Em outras palavras, quando se perde admiração, perde-se o amor. Logo, o maior problema é a perda da admiração. De modo que, o sentimento amoroso vai se desencantando pelas mesmas razões que o fez encantar. Vale lembrar, que o fim do amor não pressupõe o fim do relacionamento.

Entretanto, muitas pessoas ainda ficam juntas mesmo depois que a vida amorosa empobreceu. Viver junto não significa viver bem. Há os que continuam com o objetivo de forçar a mudança do outro, em vez de usar essa força para mudar a si mesmo. Em vez de forçar o outro a deixar de ser egoísta e se fazer de vitima, devo trabalhar o meu emocional para deixar de ser tão generoso com o outro. Toda essa energia poderia ser gasta comigo e não tentar reformar o outro. É um esforço inútil, o tempo tem nos mostrado. A parte mais generosa da relação é quem ativa a ruptura. Isto porque a parte mais egoísta, ainda que em um possível sofrimento, não suporta ceder. Assim, espera-se uma hora oportuna para a separação. Muita gente boa lida muito mal com a solidão, principalmente, com a dramática sensação de dor no momento da separação. Não é a dor da solidão e sim a dor aguda da ruptura e da transição.

Portanto, quando a relação chega ao desgaste, que o outro não está preenchendo mais as expectativas, de maneira que já faz presente a sensação de incompletude. É o momento em que a insegurança e a desconfiança gerada pelo egoísta, tornam-se insuportável a convivência. E quando acontecer a ruptura é preciso que ambos façam uma autocritica e entendam onde e como aconteceram as falhas e o que levou as mudanças. Aprender a lidar melhor com os sentimentos e parar de se culpar. Todo egoísta se faz de vitima, só ele ama e acha que outro não tem amor. Sem diálogo não há entendimento e ambos saem da relação machucados. Contudo, uma pessoa emocionalmente madura, atrai relações entre pessoas mais parecidas, criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que da um viés mais sofisticado para a relação. Evoluir afetivamente é o que mais se aproxima da boa amizade. Toda relação é baseada nas afinidades. Há um respeito pela individualidade de cada um, tomando as duas partes como iguais e equilibradas em tudo. Enfim, só o amor nos constrói, nunca destrói.

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