29 de outubro de 2011

MATAMOS O AMOR E PROMOVEMOS O ÓDIO

Há mais de dois mil anos nascia um homem, chamado Jesus de Nazaré, que iria revolucionar o mundo. Trazia ideias profundamente renovadoras para a Humanidade, que seriam discutidas até hoje com profundidades. Mas ele pouco conseguiu. A não ser aumentar ainda mais o ódio daqueles que comeram do pão e do peixe. Sua mensagem era de amor entre as pessoas e paz na terra as pessoas de boa vontade. Mas esse homem não foi feliz no seu gesto de apaixonado pelo seu semelhante. Na letra da música “Todos Estão Surdos” de Roberto Carlos, diz o seguinte: “Tanta gente se esqueceu que a verdade não mudou. Quando a paz foi ensinada pouca gente escutou”. A letra continua dizendo: “Meu amigo volte logo, venha ensinar o meu povo, o amor é importante vem dizer tudo de novo”. “Que o amor só traz o bem”, não se discute, todos sabem. “Que a covardia é surda e só ouve o que convém”, nós estamos cansados de saber, como muito bem diz a letra.  Agora, voltar a ensinar tudo de novo? Aqui já é um caso para se pensar. Se voltar, na certa vão te crucificar de novo e com requintes de crueldades. Não vão querer saber se sua filosofia fala de amor. Todos querem ser amados. Mas quem quer amar o seu próximo, que sou Eu? Se tivesse Jesus pregado o respeito entre as pessoas, talvez o efeito fosse outro. Respeitar é mais fácil que amar.
Será que um dia as pessoas vão criar juízo e parar de espalhar o ódio e a tirania em torno de um sentimento tão lindo como o estado amoroso, os raros momentos de êxtases que temos na vida. Ou esse ódio é intrínseco na raça humana. Para o historiador Leandro Karnal, nós somos cordiais, que significa dizer: que em primeiro lugar nós agimos com o coração, inclusive quando odiamos. Nosso ódio também é cordial, passional. Historicamente o nosso mundo foi e continua sendo cercado por um ódio espantoso, implacável quando se trata de perseguição contra alguém.
Nosso medo precisa ser reeducado, basta ligar a TV para certificar a violência em qualquer de suas formas, quanto mais brutal, melhor. Será a volta do Circo Romano? Pessoas assistindo, vendo leões famintos comendo gente, como modelo e ideal de lazer. E hoje não é diferente, estão aí para constatar as lutas de Vale Tudo. Depois que se aprisionaram uns aos outros, sentindo-se todos na cadeia invisível, esperando interminavelmente pela execução. Trazendo para o nosso mundo contemporâneo, a cadeia invisível que são os preconceitos, as exigências sociais e as condições de vida intoleráveis em que vivemos. Não é só a miséria e fome, é muito pior. São as relações humanas que precisam passar por um teste deveras crítico. Se não aprendermos algo um pouco melhor, a tratar o nosso próximo com respeito e admiração e assim atenuar um pouco esse ódio, vamos nos destruir efetiva e coletivamente mais rápido do que imaginamos.
A questão crucial da nossa história é que a violência é do outro. Sempre achamos que o desrespeito e a maldade vêm do outro. Todos aqueles que têm a certeza são intolerantes. Se eles estão certos sobre suas ideias, por que vão ouvir as concepções diferentes de outras pessoas? O indivíduo que tem a certeza, não é aberto a novas ideias. São pessoas que vão ficando cada vez mais fechadas dentro de si mesmas. Torna-se insuportável a convivência com esse tipo de gente. Ora, é fácil de entender o porquê se evita de falar do ódio, o porquê as pessoas têm horror de falar das coisas mais primitivas que existem dentro de cada um, que é essa raiva que sente um do outro. Não suportamos a ideia de saber que fazemos parte de uma categoria que é capaz de matar ou destruir, seja lá como for o seu semelhante. Assim fica difícil para entender o porque esse ódio permanece. No dizer do filósofo Thomas Hobbes, vivemos em estado de guerra, a violência de todos contra todos, somos naturalmente violentos. É muito difícil amar em comum, nós tentamos e até nos esforçamos. Mas é difícil. Agora odiar em comum é a coisa mais simples, é uma delícia execrar o outro.
Nossa habilidade infeliz de nunca dizermos o que desejamos com o outro, mas de cobrar do outro o que ele deveria fazer comigo. Somos sobretudo, covardes até para sentir prazer sexual, porque o sexo é o maior dos prazeres corporais e sempre o mais proibido e perigoso. Quando os amantes se desentendem, vem logo a frase chapada: “você só queria fazer sexo comigo”. Por que não gostou? As pessoas falam como se fazer sexo fosse um sacrifício em nome do amor. Como as pessoas sofrem por nada. Que facilidade temos para destruir algo tão rico que são as trocas prazenteiras quando estamos encantados por alguém.
Portanto, encerro essa reflexão com um provérbio chinês que retrata essa reflexão e a minha esperança num mundo melhor e mais humano: “O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso que se chama presente”.     

23 de outubro de 2011

A ARTE DE ENVELHECER COM SABEDORIA

Vivemos uma grande transformação de costumes neste último século. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade.
Segundo a psicóloga e antropóloga Ana Perwin Fraiman, homens e mulheres mais velhos aprenderam muito mais sobre sexo do que sobre erotismo. A sedução fazia parte do cardápio de conquistas nos bailes da vida, no piscar de olhos, nos toques ligeiros e discretos, no tímido sorriso insinuante, no rastro de perfume deixado no ar. Muito diferente do erotismo de hoje, com a exposição explicita do corpo, usando aquele fio dental ou uma minissaia, em muitos casos, até o nu total.
Alguns homens mais velhos dizem apreciar um corpinho lindo desnudo de uma moça jovem, mas a maioria se excita muito mais com um decote insinuante ou uma nuca exposta daquela coroa enxuta para ser levemente roçada por seus lábios quentes. Há uma gama considerável de mulheres acima de cinquenta anos que não conseguem sequer imaginar tendo relações sexuais com outro homem que não os respectivos maridos, além de algumas mulheres que nunca folhearam uma revista pornográfica por questões morais ou porque sentem vergonha e não têm coragem.
Entretanto, há mulheres dessa mesma idade cujo casamento acabou e estão namorando novamente ou tendo um caso, por ser mais atrativo e menos desgastante. São mulheres decididas, buscando um novo parceiro, fazendo sexo e sentindo prazer, coisa que não sentia no casamento. Coisa do gênero, “primeiro a gente faz sexo, se der certo e a gente gostar continua, mas casar de jeito nenhum”. Curiosamente essa era uma proposta tipicamente masculina e chegava a ser ofensiva para a mulher de outra época. Hoje temos uma grande variedade de situações, até as coisas ditas sexuais estão mudando também para as mulheres maduras.
Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativas e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícia e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo de corpo todo, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher quer um homem sensual, de prazer pleno difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só acaba com a própria morte.
Por outro lado, está o homem maduro, que busca uma mulher ativa, segura, provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que goste de ser apreciada, que goste de fazer sexo, que goste de dar prazer, que fique excitada quando está junto do seu parceiro. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude sabendo se abrir para a vida, dar e receber, fazendo do sexo uma contra dança de parceiros que se encontram, se apreciam, se realizem, caso venham a se separar, sentem falta depois e até mesmo saudades.
Quando os amantes conseguirem colocar o sexo num plano maior ligado à espiritualidade, isso ajudara as pessoas a se libertarem de seus medos, culpas e vergonhas, raivas e desesperos de solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós todos de amar para valer, em qualquer idade. Se nós não curarmos primeiro todas essas feridas, não se fará a revolução sexual na maturidade. E não há como curá-las a não ser por meio da informação clara, da palavra cuidadosa, do toque amoroso. Da verdade implícita. E mais que isto, a verdade sobre sexo e alegria, beleza e liberdade em qualquer idade. Diz um provérbio oriental: “se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não penses que elas não existem”.
Portanto, ao nascer o nosso corpo ainda não foi escrito, no dizer do filósofo inglês John Locke, a nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo se incumbiu de imprimir. Com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram e inscreveram. Para Fraiman, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano.

20 de outubro de 2011

SEXO NA MATURIDADE E NO ENVELHECIMENTO

A própria dinâmica social e os referenciais ideológicos sobre o idoso, merecem uma revisão. Tendo em vista que as nossas crianças não brincam e nem estudam direito, na idade adulta enfrentam o terror do desemprego, além da maternidade desamparada e da paternidade irresponsável, e a nossa velhice ainda está por se construir, já que, como povo, nem envelhecer com dignidade estão conseguindo. Nas palavras da pesquisadora do departamento de Psicologia Social da USP, Ecléa Bosi, ser velho em nossa sociedade é lutar para continuar a ser tratado como ser humano.
Como é então a sexualidade daquele que luta para sobreviver, levando em conta que é a mesma energia que nutre a vontade sexual, o trabalho dos músculos, a imaginação e a própria inspiração? Nos mais recentes estudos, nos dizem que não é necessário envelhecer como estamos fazendo, nos maltratando. Levando em consideração algumas doenças naturais que são inevitáveis. Mas os estudos nos chamam a atenção para uma nova visão do homem como uma somatória de déficits. No entanto, se pergunta se o sexo acaba quando começa o envelhecimento. E quando é que começamos a envelhecer? Todavia, novas tendências científicas nos mostram que além de biofísico, o indivíduo é também psíquico e espiritual. Entretanto, pode-se viver muito e praticando sexo com qualidade. Como isso é possível?  
Na abordagem comportamentalista estímulo e resposta, o sexo não acaba enquanto o homem ou a mulher forem bem estimulados. Numa abordagem existencialista, depende do que o sexo significa para cada um dos parceiros. Mas para isso é necessário integrar a experiência humana em três principais níveis: o biológico, o psíquico e o espiritual. Aqui esbarramos numa questão muito séria e polêmica. O mundo ocidental não reconhece o sexo como modo de evolução da própria espiritualidade quando se afirma que é nos braços dos amantes que se encontra no paraíso, que os beijos dos amantes conduzem a esfera celestial e que a perda da pessoa amada nos faz conhecer a condição de alma penada. Essa visão faz parte da filosofia oriental hindu, o Tantra.
É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade que conhecemos a eternidade, a partir da própria temporalidade. A referência a sexo amoroso está na prática tântrica onde o mais importante não é o orgasmo, e sim, prolongar esse prazer, dando-se uma dimensão espiritual, que o idoso sabe muito bem como conduzir esse feliz momento de encontro com a divindade.
Diziam os mais antigos, que se você quer ser feliz, não se case. Mas se você quer fazer o outro feliz, então se case. Entretanto, quando a gente é jovem, não tem o alcance e nem a consciência da grandiosidade desse conselho. É somente com a experiência da idade, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Serenidade, paciência e bom humor, alegria e felicidade a cada encontro dos amantes passam a ser as paragens pelas quais vagueia a nossa inteligência e com ela a nossa sexualidade. Sabedoria milenar.
Portanto, nesse encontro com o outro, dispensam-se as preocupações com a ereção, penetração ou orgasmo. O sexo nesse estágio é a própria vivência da alegria e da beleza, e o encontro todo é uma grande carícia, um tocar prazeroso, o sentir o coração pulsar e acima de tudo o olhar nos olhos um do outro, vendo refletidas as almas em êxtases. Prazer intenso no corpo, na psique e na alma. A certeza de ser divino, como ser humano. Contudo, o homem maduro passa a pensar com o coração, a fazer sexo com o corpo todo e com a mente no aqui e agora, pois na plenitude do prazer de se encontrar experimenta o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Enfim, você é o milagre da vida. Entre milhares de espermas mortos, você está vivo para cumprir esse processo do ciclo da vida. Nascer, viver, envelhecer e morrer.

16 de outubro de 2011

A BUSCA DE AFETO DE CADA UM

Segundo conta a lenda do “Príncipe Encantado”, um belo príncipe em seu cavalo adentraria em sua vida. Esse é o sonho de toda mulher romântica que busca encontrar um príncipe, mas depois de algumas experiências desastrosas, ela tenta não se entusiasmar demais com o suposto príncipe. Na verdade, ela quer ser protegida pelo parceiro que um dia venha a ficar. Alguém com quem pudesse compartilhar a vida e que a compreendesse. Quando ambos descem do palco de suas vidas, entre olhar entrecortado por outras presenças que coincidentemente aparecem no mesmo ambiente, o que era um encontro paradisíaco começa a tormenta, pois surge o ciúme com as exigências de ambas as partes, que aos poucos, vai diluindo a imagem intocável do príncipe encantado.   
A princesa que até então era um anjo de candura mesclada com Afrodite, tornou-se um labirinto incompreensível, enquanto que, para ela o príncipe sensível e afetivo tornou-se um menino rebelde alheio aos sentimentos. Após alguns encontros encantadores, surgem os escândalos, desrespeito total um pelo outro, as baixarias e junto vem o rompimento, que muito a contra gosto é triste. Porque se criou um laço afetivo muito forte entre ambos.
Quando alguém busca uma relação afetiva, com empenho e dedicação, com o espírito aberto, de repente surge a sua frente, como num passe de mágica, certeira com uma flecha de Cupido, inexorável como a morte: O Amor! Acompanhado com esse sentimento também surgem outros, como o susto, a surpresa, a alegria, a excitação, a decepção, a raiva, a saudade e as lembranças! Tanta coisa ao mesmo tempo, que a pessoa se vê perdida, não sabe o que pensar, porque nunca sentiu isso tão forte.
Entretanto, é uma conduta calcada numa espécie de funcionamento emocional desregrado, muito mais voltado para o prazer, porém um prazer que no fundo não satisfaz suas necessidades, tamanha é a euforia desse encanto que deixa todo o seu SER tomado. Está sempre faltando algo. Um coloca o outro na posição de provedor do prazer. Contudo, dessa forma a busca de um afeto, um prazer que o faça sentir-se mais pleno transforma-se em uma busca infantil, o que para o outro é imperceptível.
Considerando que o prazer, os sentimentos, as emoções e as sensações estão diretamente ligadas ao corpo e que o ser humano só se sente pleno através da exaustão, por isso quando a pessoa exige ser amada mesmo depois dessa exaustão, consequentemente, o fato de não ser correspondida, por se tratar de uma imposição do amor, essa pessoa passa a se desinteressar por quem promove esse prazer e afeto. Começando assim uma nova busca direcionada a novos prazeres e novos provedores, isto é, novas paixões.
Toda pessoa centrada no seu egoísmo achando que tem que ser amada, começa a não perceber o outro e vai aos poucos enfraquecendo os laços afetivos. O prazer que estava acostumado a receber não é mais tão intenso. Diferente do prazer e da paixão que provem das necessidades corporais surge uma nova dimensão de sentimento que é a alegria. Não é o prazer que tem de ser procurado, e sim, a alegria. Infelizmente ou felizmente, na paixão, no prazer e seu contra ponto, o sofrimento, são intensos e temporários; já na alegria, a prioridade está no amor que não tem prazo de duração.
Portanto, para podermos sentir a alegria e o amor é preciso não somente a sensibilidade, mas também a paciência de saber esperar, é preciso suportar a responsabilidade, assim, como é preciso estar aberto para enxergar nossos defeitos e virtudes para depois mudá-los, se for necessário; com isso desenvolveremos maturidade e sabedoria. Dessa forma, através da alegria, chegaremos ao prazer do corpo e da alma. Lembrando que uma vida sem amor é como um jardim sem flor, é como esperar o trem que já passou.          

CONSPIRANDO CONTRA A FELICIDADE

As pessoas têm uma tendência a tratar com superficialidade a felicidade quando ela se propõe. Basicamente não valorizam muito as relações amorosas quando as têm. Sempre querendo ter razão em vez de ser feliz. Viram as costas e partem em busca de outros amores achando que vai ser melhor. Na verdade, não muda muito. Aquele período de luto do amor que juntos viveram não se cumpriu. Aqui fica a seguinte observação: “se o indivíduo mal encerrou essa relação e já está com o pé em outra, é porque ele não é digno de você”. Como bem afirmou o cronista Xico Sá na sua palestra no Café Filosófico.
Entre uma relação e outra existe um período de estiagem, de muita reflexão, de avaliação. Sobretudo, para não cometer os mesmos erros. Pois se tratando de seres humanos, acima de tudo temos que nos dar valor para poder valorizar o outro, caso contrário essa pessoa não te merece. É o mesmo que viver uma relação descartável, não consegue aprofundar na essência um do outro. Vive-se uma relação pautada no desrespeito.
As pessoas não sabem e não querem saber, quanto custa todo o prazer que não têm e que está aí ao alcance das mãos e do corpo. Contato, carícia, abraço, prazer, intimidade, quem não quer? Freud tem mostrado todo o penoso e ridículo contorcionismo psicológico que desenvolvemos a fim de conseguir fazer de conta que o outro só nos interessa pela sua aparência e pelas suas palavras bonitas que achamos que precisamos somente disso e mais nada.
É preciso fazer algo pela relação amorosa em vez de continuar procurando quem é que devia ou quem é o culpado. E com isso ficar justificando que tem outros amores melhores, na tentativa de agredir o outro. Essa conspiração contra a felicidade, contra esse amor que poderia ser de boa qualidade, pode acarretar outros problemas futuros. Certamente vai levar para a nova relação às mesmas dificuldades de filtragem e assim, sucessivamente. O mal não está em errar a dose. O mal está em não aprender a dosar os conflitos.
Um observador externo detecta com bastante facilidade distorções no relacionamento e na comunicação nas relações amorosas. Como os costumes de convívio se desenvolvem lentamente, as pessoas, na verdade, não percebem o que está acontecendo, a não ser pelo mal estar ou pelas brigas que não resolvem. Não é um problema de ensinar a viver, ainda que ensinar também tenha cabimento, penso que é uma questão de mostrar, apontar, fazer o outro ver o que está acontecendo. Não perdoamos quem nos vê como somos.
Portanto, tenho para mim que o maior perigo do nosso mundo não está na violência urbana, nem mesmo nos poderosos; está na falta de alegria de viver das pessoas, no seu tédio, na sua frustração e na sua indiferença. Por isso faz-se necessário desejar outros relacionamentos, superficiais tanto quantos já viveram. Contudo, a pessoa que torna superficial as relações amorosas ou que se aliena, pouco a pouco, faz com que vá crescendo nela o desejo de que esse mundo, infeliz, árido e ameaçador, termine de vez com os seus sonhos narcísicos. Enfim, a mais profunda felicidade do normopata é livra-se de sua vida infeliz, matando quem lhe ama na fantasia partindo em busca de um novo amor centrado no seu egoísmo.   

12 de outubro de 2011

SER BOM É SER JUSTO

Não há quem não conheça a história mais lida e mais contada, de geração em geração, que até já virou filme, que é a história de Jesus de Nazaré. Quem não conhece esse homem chamado Jesus? Era um judeu que viveu na Palestina há mais de dois mil anos. Há muitos escritos sobre ele. Cada um conta de um jeito. Saber o que realmente ele queria ou pretendia é muito difícil. São muitas as interpretações.

Mas quero aqui puxar outro lado da história, da mensagem de Jesus. Pois gosto muito da sua filosofia e muito mais agora que pesquisando descobri através de suas mensagens que amor não é resignação, como prega os cristãos. A meu ver Jesus foi um homem que fez o que acreditava, viveu para isso e morreu em função disso.

Ele não foi bonzinho, não foi um individuo ajustado, não foi normal como todos. Ele foi em certos termos um terrorista. Não que largasse bomba ou matasse pessoas, mas a sua mensagem era profundamente revolucionária para a época, por isso mesmo que ele acabou numa cruz. Penso que até o pai e a mãe dele questionavam esse comportamento às vezes: “Nossa! O que o meu filho está fazendo, arrastando esta multidão, falando de amor das pessoas, num mundo em que só há crueldade e opressão”. E que continua até hoje, havendo crueldade e opressão. Esse homem falava da fraternidade entre os homens, do perdão das ofensas e do amor ao inimigo. Certamente foi chamado de maluco por muitos.

Entretanto, é esta figura que nós dizemos adorar, amar, imitar e seguir. Quem é que tem a coragem de ser ele mesmo, vinte quatro horas por dia, fazendo o que é bom para si? Faça um pouco diferente do que é considerado normal, para perceber quantas pessoas vão se incomodar com o seu comportamento.

É bom lembrar que Jesus também é um verdadeiro modelo de inovador. Na verdade, a humanidade invariavelmente sacrificou todos os seus salvadores. Aqueles que traziam bonitas mensagens.

Hoje em dia temos uma imagem desfigurada de Jesus. Homem bom que faz o que os outros querem; homem maravilhoso, glorioso e daí por diante. A própria história de Jesus nos Evangelhos mostra que ele não era lá uma figura boazinha, como se prega.

Conta o Evangelho que um dia ele saiu de chicote no Templo, derrubando tudo o que tinha pela frente e xingando todo mundo que tinham feito do Templo um mercado de negócios. Outra vez mandou o moço que gostava dele, vender tudo e segui-lo. O Evangelho também descreve seu conflito com a família. Certa vez estava Jesus reunido com os seus discípulos, quando vieram avisá-lo que sua mãe o esperava. Respondeu ele: “minha mãe, é aquele que faz a vontade do meu pai que está no céu”.  
    
Jesus era presumivelmente um homem forte e saudável, caminhava muito. Era convicto do que queria. Mas também tinha o seu lado humano, da dúvida, da incerteza. O próprio Evangelho fala. Nós vivemos falando que ele era sempre glorioso, maravilhoso. Não, ele também tinha suas dúvidas. No Horto das Oliveiras, um dia antes de ser prisioneiro, ele viveu uma angústia terrível.

Então vamos “desdivinizar” um pouco essa imagem e guardar sua mensagem que é: “Cumpra com o dom da vida, o projeto que Pai lhe confiou”. Uma coisa, porém é clara, a mensagem não é fazer a vontade de outros e sim ser justo. Pensar muito, sentir muito, meditar sobre suas inclinações e possibilidades. Fazer o mais que posso de mim e para mim. Para realmente aperfeiçoar-me, até que possa devolver para o Criador a imagem que ele estampou em mim no começo da minha vida. A minha obrigação primeira é fazer a minha vida e o meu caminho.

Portanto, quando enxergar o outro diferente, não comece a dizer que ele está errado, que ele é estúpido, que vai para o inferno. Olhe bem para esse semelhante e diga: “não compreendo essa pessoa, mas espero que esteja seguindo o seu caminho. Assim como espero também estar seguindo o meu caminho. Porque ser bom não é fazer toda a vontade alheia, é ser justo”.   

8 de outubro de 2011

O TOM DE UMA PROSA

Uma das coisas que mais gosto na minha vida é conversar e a outra é escrever. Curiosamente nessa reflexão resolvi juntar as duas coisas. Escrever como que conversando com você. Acredito que os meus textos são compostos por duas pessoas. No caso, eu, o autor, e você, o meu co-autor. Quero muito que, apesar das nossas limitações e distância possamos estabelecer um verdadeiro diálogo.
Para que possamos começar o nosso diálogo, gostaria de lhe fazer uma proposta. O assunto sobre o qual conversaremos é amplo e íntimo, porque se trata das minhas reflexões que sempre divido com você, até porque tem participação sua na produção dos textos. Ou você acha que não me importo com o seu comentário?
No livro O Mundo de Sofia também existe uma prosa em forma de bilhetes e cartões postais que foram mandados do Líbano, por um major desconhecido para Sofia. O mistério que envolve os bilhetes e os postais é o ponto de partida deste fascinante romance sobre a história da filosofia. Entretanto, no nosso caso é um pouco diferente. O ponto de partida aqui se da através desse diálogo franco e aberto.
Ao longo da vida, tenho aprendido que para ter uma conversa sobre alguns assuntos a gente precisa de sossego e de tranquilidade, de preferência onde a conversa não tenha de ser interrompida, por isso eu gostaria que você imaginasse que essa nossa conversa se passa em algum lugar de que você goste, pode ser num parque, à beira de um lago, numa praia linda, numa montanha cercada por floresta ou numa sala de uma casa bem aconchegante, você é quem escolhe. A essa altura você deve estar se perguntando, o que o Eduardo pretende? Por que ele propôs essa prosa? Por uma razão muito simples. Para mim é importante que você entenda os meus textos como um referencial a mais para a sua reflexão.
Por conseguinte, com certa frequência tenho trazido assuntos como: A sexualidade humana, amor e matrimônios. Todavia, não escrevo para que você aceite as minhas ideias como dogmas, mas sim para que juntos possamos refletir sobre o que está diante dos nossos olhos. Para fundamentar o que estou dizendo quero aqui apresentar alguns dados já comprovados e publicados cientificamente para a nossa tranquilidade.
Sei que você é um leitor exigente, fino e de percepção apurada, sabe que precisamos aprimorar a cada dia nossa maneira de pensar o mundo, rever as nossas atitudes, para assim cuidar das pessoas que amamos, como também do nosso planeta que anda tão carente de cuidados. Entretanto, um pouco mais de informação é sempre bem vinda para que possamos dar conta dos problemas diários que nos são impostos. Graças às minhas filhas, às minhas amigas e a você, tornei-me cada vez mais sensível aos problemas que tanto afeta mais as mulheres do que os homens. Então, juntamente com você resolvi buscar as respostas para essa causa. Creio que sempre tratei as mulheres como iguais, mas só mais recentemente pude compreender essa diferença, o quanto a mulher ainda hoje é inferiorizada, marginalizada por uma sociedade machista, anacrônica e patriarcal. Parece até que mulher só é vista como objeto de prazer, como as mucamas dos senhores de engenhos do século passado. Ela não é humana? A mulher não tem sentimentos? Você duvida do que estou dizendo? A título de curiosidade entre numa dessas salas de relacionamento virtual, para você conhecer o que os homens falam e fazem com as mulheres. Além de serem diretos, são extremamente monótonos e precários no seu desempenho sexual. Você acha que é isso que a mulher busca?
Para abordar esses assuntos e apresentar a você, tive que pesquisar. Por exemplo, para falar da sexualidade humana, tenho dois grandes mestres. Um amigo, filósofo e educador Cesar Nunes da UNICAMP e a filósofa e educadora Claudia Bonfim, Vice-Presidente, Pesquisadora e Educadora Sexual da Associação Brasileira de Educação Sexual – ABRADES. Ela escreveu um texto maravilhoso sobre a masturbação feminina. Se você quiser interar-se sobre esse assunto, vá ao meu blog e clique em: Visualizar o meu perfil completo, que você encontrará um link da Dra. Claudia Bonfim, Educação e Sexualidade.
Outro assunto que sempre aparece nas minhas reflexões é sobre o casamento. Também para falar sobre o matrimonio, recorri a outro grande mestre e saudoso, José Ângelo Gaiarsa. Foram cinquenta anos pesquisando sobre família e casamento. Segundo ele, as famílias se amam eventualmente e se traem sistematicamente. Caso ainda paire alguma duvida, procure ler o livro: “A Cama na Varanda”, da psiquiatra e educadora Regina Navarro Lins. Para ela o lugar que menos se faz sexo é no casamento.
O nosso papo está tão gostoso que não dá nem vontade de parar. Ainda falta para encerrar a questão do sexo e amor que não vejo como um mesmo fenômeno. O sexo é um fenômeno pessoal, depende só do meu corpo para ser sentido. Já o amor é um fenômeno interpessoal, espiritual, precisando da existência do outro para sentir. Amor: eu sinto, sexo: eu pratico. Praticar sexo é uma escolha, ter prazer é uma possibilidade, ao contrário do amor. Sentir amor não é uma escolha, mas sim, um acontecimento espiritual, é um dom. Não depende do meu querer.
Para discutir esse assunto busquei vários pesquisadores, mas um me chamou mais a atenção, o psiquiatra e educador, Flavio Gikovate. Fui numa de suas palestras no Café Filosófico realizado pela CPFL de Campinas. O tema que ele abordou foi a Fragilidade do Tesão. Depois dessa palestra fui ler um pouco mais sobre o assunto e percebi que realmente não dá para combinar sexo com amor. O beijo na boca é mais íntimo do que o sexo. No entanto, dentro de uma relação a dois quando o amor termina, a primeira coisa que acaba é o beijo na boca. O sexo ainda perdura por um bom período. Triste fim. 
Portanto, como você percebeu a boa prosa passa depressa como a vida quando bem vivida. Enfim, quero deixar este lembrete a você: Não se torture quando eu trouxer um tema contrário aos seus valores. Procure primeiro rever esses valores, para não sofrer em vão. Sexo é a linguagem do corpo, é a linguagem do sentimento, é um brincar com o corpo, é a descoberta de que você também tem excitação. Nesse momento de excitação só o coração deve ditar o que fazer, porque é através dele que essas informações são transformadas em conhecimento e em sabedoria para assim você ser feliz e viver em harmonia com o seu corpo e sua alma. Foi um prazer enorme prosear com você.  

4 de outubro de 2011

UM SEGUNDO CASAMENTO OU UM CASO?

Segundo os estudos mostram que, quanto maior a duração ou o convívio dentro do casamento maior a possibilidade de desilusão. No entanto, quando um casal começa a sentir ódio recíproco, infecta o ar do quarteirão. É uma coisa espantosa. Um clima de muita indiferença entre ambos, além da rotina que envolve o próprio casamento, até o beijinho e abraço quando tem, é tudo meio automático, as falas já são previamente sabidas entre os dois, às vezes tem até certa gentileza entre os dois, mas é uma relação com muito pouca vida e um interesse bem limitado de um pelo outro.
Há uma estimativa que dois terços dos casamentos, depois de alguns anos de convívio geram situações penosas e entediantes, algumas bem feias. A mulher pode se sentir profundamente entediada e deprimida. Pior do que o tédio é a sensação de insignificância. E quanto maior esta sensação de inutilidade, maior o risco e mais vulnerável ela se torna a um relacionamento extraconjugal. Todavia, se uma mulher vem sonhando em ter um caso amoroso com um homem, se ela vem pensando nisso algum tempo, na verdade, está plantando uma semente mental que um dia poderá germinar.
Cada vez mais as pessoas estão tomando consciência e vendo suas chances de serem felizes limitadas, porque vêm nessas relações amorosas uma forma pouco saudável, como se fossem cometer um pecado mortal. É inacreditável que em pleno século XXI tenhamos dificuldades para assumir um caso amoroso por conta da hipocrisia de algumas pessoas. Exaltamos o amor, mas condenamos quando ele acontece fora dos padrões que a sociedade considera ideal.
Precisamos entender que muitas vezes o amor iniciado na juventude já não é o bastante para nos fazer felizes quando atingimos a maturidade. E principalmente quando esse amor se consolidou com o casamento.
O número de divórcios vem aumentando a cada ano no Brasil. Cada vez mais aparecem casais vivendo relações extraconjugais não assumidas. Porque são relações carregadas de culpa, atritos, sofrimentos, que causam muito desequilíbrio no cotidiano familiar. Por outro lado separar também envolve sofrimento e muita culpa no meio familiar. Então, o que fazer nessa circunstância? Buscar um segundo casamento ou ter um caso amoroso?
Esse amor que acontece na idade adulta vem atender aos anseios de uma pessoa amadurecida, que lutou com seus fantasmas internos e agora pode encarar mais plena e serenamente novos afetos. Para muitas pessoas depois de alguns anos de casada, a primeira alternativa para amenizar o desgaste é manter vidas paralelas, ter um caso amoroso. Quem não sabe disso? É bom dizer que essas coisas não são aceitas nem aprovadas publicamente, embora sejam feitas por quase todas as pessoas. O problema não consiste em saber se alguém faz ou não faz, o problema é se descobrem ou se você fala ou não. De cada dez pessoas, oito delas vivem ou vão viver um caso amoroso.
Pessoas que a experiência do casamento as tornou indiferentes, cascudas, entediadas, vivendo uma vida automática, mal percebendo o que acontece ao seu redor, quando encontram alguém e se encantam com essa pessoa, parecem até aqueles bichinhos brincalhões da natureza, que se juntam fazendo festa um para o outro. Trocam qualidades e os dois saem do encontro rejuvenescido ou renascido.
Portanto, diante de tantas evidências, penso que um segundo casamento não vai mudar muita coisa, tendo em vista que o casamento e amor não combinam. Ter um caso extraconjugal, para muitas pessoas é sofrido e marcado por sentimentos de culpa, caso sejam descobertas. Contudo, encerro com um argumento brilhante do nosso mestre e psiquiatra, saudoso José Ângelo Gaiarsa, para aqueles que se incomodam com a sua vida diz ele: “Olhe aqui, eu não estou seguindo um capricho, eu não quero um caso a mais, eu quero sobreviver, se possível. Recomeçar a viver porque eu estou morrendo, você entende? Se você entender, vai ser ótimo, vamos ficar amigos e até fundar um partido a favor do direito de amar. Se você não entender, vá passear. Você é meu inimigo, inimigo da vida e um medroso que quer assustar os outros para que todos continuem a se esforçar para resistir à tentação”.              

O DISPERTAR DA INTELIGÊNCIA NO HOMEM

“ Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará ”. Palavras ditas por Jesus Cristo. Para o filósofo e educador Humberto Rohden, somente at...