27 de janeiro de 2016

VIVEMOS NUM MUNDO MAGNIFICO

Foi um pensamente que surgiu assim. Num dia qualquer da semana, por volta das doze horas, ainda escovando os dentes, olhando para o espelho os olhos, surpreendentemente tristes e espantados olhando os dentes sendo escovados, os lábios repuxados, um sorriso falso de espuma. De repente o olhar saltou na espuma os olhos no espelho. Aí foi impossível escapar do pensamento. Neste momento ao olhar novamente no espelho vejo um olhar feminino de alguém muito intimo e familiar refletida nos meus olhos no espelho, não era mais os meus olhos, era o dela nitidamente plasmado na minha retina. O pano de fundo daquela cena, tudo se apresentava muito tenso e triste. Não pensei duas vezes, prontamente sai ao seu encontro. Para minha surpresa, realmente ela precisava do meu apoio psicológico. O clima estava tenso e triste em sua casa.

Como se explica esse fenômeno? Seria um caso de telepatia ou clarividência? Aprendi com a elegância e a sabedoria da natureza alguns mistérios em torno das manifestações da vida. Por exemplo: “quando a cobra cascavel espera o rato é certeza que o rato vem?” Dizem que sim, que é essa espera que o traz. Da cobra dizem que tem poderes, encantamentos, porque aguenta a fome e a espera pode ser longa. Porém, os pensamentos não esperam, com o tempo submergem, viram caroços de neurose incomodando a alma da gente, sem mesmo a gente saber, porque também, o pensamento nasce do corpo e não da mente. É o que diz a medicina psicossomática. No entanto, é empurrado para ela, que insistimos em chamar de cérebro, mas que na verdade se chama consciência. Quem o empurra é a primeira emoção que o fabricou? O olhar no espelho, a dor da saudade, o desejo de vê-la, a alegria por ela existir ou medo de não vê-la nunca mais?

São essas emoções que encaroçam se, pressionadas por outras emoções quando recusamos seus acessos a essa pequena parte de nós mesmos, que constantemente confundimos com nossa própria identidade que é a consciência que temos nesse momento significativo da vida. Vale lembrar que nós vivemos num mundo magnífico. Tudo que acontece de ruim é para melhorar a nossa vida. Pena que o saber não tem valor neste país, assim como os filósofos não tem serventia para nada, nem para trabalhar na Educação. As pessoas não querem refletir sobre a vida, sobre a condição humana. O importante hoje é ganhar dinheiro e viver no luxo. Ou se ganha dinheiro ou se gasta dinheiro. Não a tempo de fazer as duas coisas.

Portanto, esse é um mundo perfeito, sempre em sintonia com os seres vivos. Mas, nós não entendemos a perfeição. Platão já dizia a mais de vinte três séculos, que vivemos como seres presos, acorrentados numa caverna e o que vemos são sombras deformadas na parede dessa caverna. Hoje chamada globalização econômica do qual somos prisioneiros. Não conseguimos enxergar o mundo real em sua plenitude. Nele tudo é perfeito. Tendo em vista, que a perfeição não é um atributo humano, mas, pelo menos podemos chegar à margem da perfeição. Isto é, sendo quem somos. Seres dotados de inteligência, pensamentos e uma faculdade extraordinária de percepção extrassensorial que se manifesta sempre em circunstâncias especiais. Nós somos mais que especial. Somos gênios.   

24 de janeiro de 2016

FORMAS REFINADAS DE VIOLÊNCIA

A violência está em todos os segmentos sociais e se apresenta das formas mais diversas, não só na agressão física, como também, tornou-se comum falar mal de pessoas que supostamente dizemos querer bem, somos intolerantes com aqueles que nos olham com admiração, negamos o direito de defesa à pessoa que sofre de acusações espúria e maledicente. Na maioria das vezes esse tipo de violência é maior que a mostrada pelos meios de comunicação. Surpreendentemente, ela começa no seio da família, a nossa primeira convivência social, ela vem sorrateiramente de forma velada e devagarzinho vai machucando e anestesiando ao mesmo tempo em que fere. A família que teoricamente seria nosso primeiro objeto de amor, se a gente não cuidar rapidamente dela, mais algumas décadas seguramente será extinta. É perceptível que as famílias se amam eventualmente e se traem sistematicamente. Fala-se de um amor em família que quase nunca se vê na pratica.

Posso assegurar que a história da criança e da família caminha lado a lado na questão da violência. Para muitos ainda hoje, bater é sinônimo de educar. As grandes guerras e as perseguições no mundo foram feitas em nome de Deus e da Pátria. Não são as igrejas e nem os bons costumes que perseguem as pessoas. São pessoas perseguindo pessoas. A qualquer momento alguém poderá ser denunciado ou chantageado, assim como acusar e ser acusado. Conheço pessoas que foram vitimas de abusos físicos e psíquicos na infância e hoje se sente indiferente a tudo e a todos. São incapazes de estabelecer relações de amor sem ferir o outro. São pessoas egoístas e manipuladoras. Diz-se sofrer muito por não saber dar e receber amor e se sente impotente diante da vida. Não confiam em ninguém, no fundo não confiam nelas mesmas.

Vivemos cercados de inimigos, porque as pessoas se vigiam muito, se controlam muito, fazem fofocas umas das outras. Todo mundo vive jogando os maus sentimentos e o próprio veneno encima do outro. Sempre é o outro que não presta que faz corrupção, outro que é o indecente, o mau caráter, o traidor, é o outro que não me ama. As pessoas de modo geral, não percebem o que estão vendo, pois se preocupam demais, com aquilo que não estão vendo. A história da humanidade é um martírio e uma tortura para muitos. Até na arte é mostrado o sofrimento humano. Uma grande porcentagem das músicas românticas refere-se ao amor como sofrência, sobretudo, à infidelidade, e a todas as dificuldades que os costumes sociais impõem ao amor.

Por outro lado, temos uma geração de classes e hierarquias sociais em permanente relação de medo e raiva umas frente às outras. Estou convencido que por trás desse suposto amor há um ódio espantoso dominando o mundo, basta dar uma olhada na história. A começar pelos circos romanos que foram o retrato desse ódio e poder, onde centenas de pessoas se matavam ou eram mortas, para a diversão do público. Pessoas divertindo-se, vendo gente matar gente, de todos os jeitos. Hoje nós dizemos que horror! E esquecemos que os nossos políticos fazem hoje, exatamente a mesma coisa que faziam os circos romanos. Pessoas morrendo de todos os jeitos na arena da vida, onde a plateia são os governantes corruptos que administram este circo chamado Brasil.

Portanto, vivemos procurando sempre um culpado para explicar a nossa crueldade. Isto acontece muito nas relações afetivas e amorosas. No entanto, foi assim que nasceu o bode expiatório, a mais nefasta criação simbólica da violência humana. Jesus Cristo foi o bode expiatório nas mãos da humanidade. Ainda hoje se prega o amor nas comunidades religiosas, mas na prática permeia o egoísmo e a falta desse amor e respeito ao próximo. Contudo, são estas formas refinadas de violência que estiveram e estão presente no nosso mundo. Todos vigiando a todos. Todos ameaçando a todos. Logo, vive cada um caçando a todos. E vivem todos caçando a cada um. Enfim, um dos enigmas da humanidade é que a vida real das pessoas não é flor que se cheira. Basta ler os noticiários para constatar o que estou dizendo. 

17 de janeiro de 2016

SABER VIVER É CONVIVER

Quantas vezes nos precipitamos nos julgamentos e, com isso, impedimos que os outros se revelem, porque na certa, nossas atitudes os bloqueiam. De certo modo, só uma convivência muito íntima e amorosa poderá fornecer elementos para que, verdadeiramente, conheçamos alguém de fato. Ainda assim, é temerário o julgamento, pois nossos padrões podem não ser os mais exatos, os mais adequados ou o mais correto como assim imaginamos. O melhor mesmo é aceitar sem fazer julgamento, acolher para realizar uma missão de paz, amar sempre o meu próximo para que haja autenticidade e equilíbrio entre os humanos.

Num relacionamento autêntico, cada um se interessa pelo outro de maneira genuína. Tendo em vista, que na maioria dos casos deveria se revelar através de uma demonstração constante de admiração e respeito, aparecendo em palavras, atos de gentileza, consideração e educação, que seria o mínimo para se viver em sociedade como pessoas civilizadas.

Todavia, quando a relação pende para o lado amoroso e romântico, parecem viverem melhor ou pelo menos em harmonia enquanto estão encantado um pelo outro. Há aqueles que oferecem conforto na presença silenciosa do outro, através de gestos e poucas palavras e mais o uso da linguagem corporal, porque nosso corpo fala, como um instrumento de comunicação. São gestos e atitudes compartilhadas de confiança mútua, honestidade, admiração, devoção acompanhada daquele estremecer de felicidade, simplesmente por ser e estar juntos. É um dizer para o outro, entre em minha vida, estou aberto e pronto para recebê-lo. É como dizer: “compartilhamos da mesma essência humana”.

Portanto, o grande aprendizado da vida, é saber estar com quem à gente gosta ou ama verdadeiramente. O que podemos dizer é que para estabelecer uma boa relação com outras pessoas, tem que haver reciprocidade. Porém, com maior clareza naquilo que nós realmente esperamos da vida e dos outros, com o quais nos relacionamos. Enfim, isto é saber viver e conviver em sociedade.

14 de janeiro de 2016

O QUE É ADMIRAÇÃO?

O sentido grego da palavra admiração é o “espanto”. Quando estamos diante de uma situação inesperada, onde nos sentimos fragilizados, é nesse momento que precisamos de coragem para modificar a realidade dos fatos. Temos uma atitude de admiração e espanto, sendo esta o ponto de partida para o ato de refletir e filosofar, que vai nos levar a descoberta de nossa própria ignorância e à indagação sobre o que ignoramos. Partindo do pressuposto, que todos nós convivemos com determinados padrões estéticos, morais e políticos. Quando algo nos é apresentados fora do que esperamos, nos perguntamos: “como isso é possível?” Todos nós temos um determinado padrão de beleza, no entanto, vez ou outra surpreendemo-nos com uma obra de arte que pode ser bela ou não possui os critérios de beleza que imaginamos e estamos acostumados.

No entanto, diante desse espanto e admiração, iniciamos um processo de questionamento que leva a nossa compreensão sobre o que é beleza. Neste comportamento adquirimos consciência de nossa ignorância e procuramos ampliar o nosso entendimento, perguntando e questionando sobre os nossos conceitos de valores. Assim como a beleza, o mesmo ocorre com outros temas. Todavia, a atitude da admiração, quando nos desperta para certas interrogações, é a manifestação do desejo de saber do qual falou Aristóteles 384-322 a.C.). Este desejo, por sua vez, não é um comportamento utilitário, pois neste caso, outros interesses, que não a procura do conhecimento poderiam sobrepor às indagações que o homem pode fazer. E esta é uma especialidade do conhecimento filosófico.

Entretanto, se a admiração não servir para ampliar nossos horizontes, através de um questionamento, ela pode servir também para uma atitude alienante e dogmática, o que é oposto do que se busca com a reflexão filosófica. Diante do espanto as pessoas podem se render aos encantos e medos, despertando uma admiração ingênua, que torna o homem um ser passivo, ou ainda, um amedrontado que não questiona, não problematiza, e simplesmente admite que existam coisas desconhecidas, mas não se atreve a indagar sobre elas.

Portanto, a mesma admiração que é o ponto de partida para o exercício da reflexão filosófica, pode ser um comportamento que preserva a ingenuidade e não leva ao questionamento. O que vai diferenciar é o modo como às pessoas reagem diante de questões que surgem a partir de nosso cotidiano. A reflexão filosófica é acessível a todos e em todas as etapas da vida, pois como afirmou Epicuro (341-270 a.C.): “nunca se deve dizer que é cedo demais ou tarde demais para filosofar, pois dizer isso equivaleria dizer que a hora de desejar a felicidade ainda não chegou ou então que ela já passou”. Contudo, se é verdade que a existência precede a essência como afirmava Jean-Paul Sartre (1905-1980). Então, não importa o que a vida fez de você, mas o que você fez com o que a vida fez de você. Isto pode lhe causar um espanto se nada fez.  

9 de janeiro de 2016

QUAL A UTILIDADE DA FILOSOFIA?

Dizem que a filosofia é coisa de quem vive nas nuvens. Será mesmo a filosofia coisa de pessoa desligada? Os italianos dizem que a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual. Um conferencista brasileiro, com ironia ainda mais agressiva, comentou: “eu penso na filosofia como se esta fosse um homem, num quarto escuro, procurando um chapéu preto que não está dentro desse quarto”. Isto é, a filosofia seria uma loucura elegante, algo completamente sem utilidade? Mas, por que tanto interesse em se falar mal de uma coisa supostamente insignificante? O que está por trás dessas ironias?

No meu curso de filosofia, certa vez numa aula de antropologia filosófica o filósofo e educador Régis de Morais (1941), hoje meu orientador. Apresentou-nos um texto seu “A Filosofia é Inútil?”. O ensaio contava que certa vez houve, na praça pública de Atenas, um célebre debate sobre a importância ou não da filosofia. Amigos deste tipo de saber e adversários, reunidos publicamente, realizaram como que um julgamento da “ré filosofia”. Muitos sábios estavam presentes ao debate; dentre estes, o grande filósofo Aristóteles. Pois bem, todos os adversários da filosofia discursaram tentando demonstrar sua inutilidade. De outro lado, todos os amigos da filosofia argumentaram como podiam para conseguir provar a importância desta. Ao final, conta o cronista antigo, que Aristóteles levantou-se para falar.

Fez-se um enorme silêncio na praça, pois se respeitava muito aquele sábio. Talvez se esperasse dele um longo e inflamado discurso. Mas, Aristóteles fez um raciocínio extremamente simples que deixou a todos perplexos. Ponderou o pensador: “Ouvi com máxima atenção a todos. De tudo do que disseram tiro duas alternativas muito simples: ou nós devemos filosofar ou nós não devemos filosofar. Pois bem, se devemos, vamos filosofar. Se, porém não devemos filosofar, isto só em nome de uma filosofia”. Como seria inevitável, o debate acabou aí. Afinal, até para não filosofar era preciso dar razões e fundamentar, o que é a pratica filosófica.

Entretanto, a sociedade industrialista e de consumo tem medo da filosofia. Aliás, todos os movimentos de massificação social têm medo da filosofia, pois aquele que se aproxima do estudo filosófico, de uma forma ou de outra desenvolve o seu “senso crítico”. Ora, no nosso mundo, em que a tônica dos meios de comunicação e de muitos governos, é fazer a cabeça, quem pensa incomoda, quem sabe criticar ideias e situações não se deixa levar, não se deixa manipular. Esta é a razão pela qual todas as ditaduras do mundo, quando se instalam no poder, saem a campo para caçar, prender e exilar os filósofos; eles são caçados e depois cassados. Eis também a razão pela qual o meios de comunicação ou fazem uma caricatura do filósofo ou se calam ostensivamente a seu respeito. Sempre foi muito bom para a filosofia ser marginalizada pelos ditadores políticos e pelos tiranos da economia, pois, só assim ela quase nunca se assentou nos banquetes dos poderosos (como tão frequentemente têm feito as ciências), e pode fortalecer sua têmpera nos calabouços da sociedade.

Segundo o filósofo e educador Régis de Morais, ninguém pode ficar indiferente ante a filosofia. Afinal, se nascemos seres pensantes, é natural que procuremos pensar. Marginalizar a filosofia é uma forma de valorizá-la. Amar a filosofia é outra e mais positiva maneira de valorizá-la. Vai-se sempre amar ou odiar a filosofia, nunca dará para ficar-se indiferente. No dia em que o ser pensante desistir de pensar, tudo estará acabado e o mundo se encherá de figuras idiotizadas passando pela vida como quem passa por um delírio. Uma coisa é certa: nós nascemos para levar a vida, não para sermos levado por ela feito folha seca que cai num riacho e perde o governo de si mesma.

Acontece que, quando a mentalidade consumista nos invade e nos domina, ela o faz de um modo tão esperto que, embora presos e escravizados, sentimo-nos muito sabidos e ousados. Esta mentalidade injeta um tão estranho veneno nas pessoas que estas passam a detestar a única coisa que as distingue dos irracionais: “o desejo de buscar o sentido da sua vida”. Ora, filosofar é não abrir mão de procurar o sentido da vida individual, da vida social e da cultura. Podemos dizer que “a filosofia é a procura da face verdadeira do homem”. E isto não pode ser buscando nas nuvens e nem entre os anjos. É fixando o olhar e a inteligência nas alegrias e sofrimentos dos seres humanos, observando e refletindo sobre os fatos e sentimentos do homem, que se constrói um edifício filosófico. Antigamente pensava-se que havia lá em cima, um céu de ideias de onde desciam luzes sobre a vida; hoje se sabe muito bem que as ideias nascem do calor do viver ao rés do chão, entre pessoas, objetos, casas, cenários e nosso olhar atento aos seres vivos que nos cercam com sua beleza.

Por conseguinte, se a filosofia busca a verdadeira face do homem, ela não pode fugir dos conflitos que marcam a vida humana. Já se disse que o conflito é a morada da vida, portanto, não cabe ao fazer filosófico qualquer tipo de alienação. Quando os filósofos e literatos (como um Dostoiévski, um Sartre ou um Graciliano Ramos) questionam o sentido da vida, fazem-no para que os homens cheguem a conduzir suas existências e não sejam levados pelos empurrões do viver. Fazem-no para que as pessoas realmente participem do viver, não apenas o tolerem. Contudo, acusam o projeto filosófico de ser muito pretensioso. E nisto têm razão, pois a filosofia não pode querer pouco. Sua pretensão não é a de ter status, riqueza ou de patrocinar exibicionismos. Aquele que pensa, não quer ser manipulado por fama, riqueza ou exibicionismo. Aquele ser pensante que não abdicou do pensar, ele deseja é viver com sentido e por um projeto válido de vida. Desde uma modesta filosofia de vida até um sofisticado sistema filosófico, o que se pretende é buscar o sentido de tudo e evitar o embotamento humano. Enfim, ao que tudo indica, a filosofia nada tem de inútil.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...