26 de agosto de 2017

A ARTE DE PENSAR DIFERENTE

Somos muito criticados por pessoas próximas, que deveriam nos conhecer como ser humano que somos e tratar com amor e respeito tudo que fazemos e produzimos, em qualquer esfera profissional, inclusive no mundo literário, que é o meu caso. No entanto, por pensar e ser diferente, não somos aceitos nem nosso próprio convívio. Lamentavelmente, o ser humano é mesquinho e egoísta, pronto para apontar o dedo sobre os erros dos outros. Fazem uso da razão para difamar e destruir o outro, só porque pensa e faz diferente dele. E com isso as relações humanas vão apodrecendo aos poucos. Na verdade, o ser humano não é flor que se cheire. Somos um misto de maldade e bondade, muito pouco aproveitamos da boa convivência. Estamos mais predispostos a destruir que construiu. Não respeitamos a arte de pensar diferente daquele que convive de perto conosco. Em dez mil anos de história, nunca tivemos um ano de paz na terra. Há uma desconfiança e ódio espantoso da espécie humana. Fazemos pouco da humildade e da compaixão em relação aqueles menos favorecidos.

A título de ilustrar, certa vez um homem caminhava pela praia, quando viu um menino brincando na areia. O homem ficou um tempo observando a brincadeira do menino e notou que ela se repetia. A criança pegava no mar um pouco de água num copinho e trazia até a areia e jogava num buraco. Fazia isso diversas vezes. Aproximando-se do menino, o homem perguntou o que ele pretendia com aquela brincadeira. O menino contou que sua intenção era tirar toda a água do mar e colocar naquele buraquinho. Ao ouvir a explicação do menino, o homem não se conteve e começou a rir. Disse sem muito pensar que seria impossível ele pegar a imensidão do mar e colocar naquele tão minúsculo buraquinho. Ao que o menino respondeu que acontecia a mesma coisa com as pessoas que insistem em colocar Deus, uma verdade tão imensa, em uma cabecinha tão pequena.

Quando ouvi, na faculdade de filosofia essa estória, contada num texto de Santo Agostinho, percebi que, para entrar no mundo do pensar diferente, deveria me desarmar e colocar em cima da mesa o meu orgulho e a minha arrogância. De que adianta ganhar o mundo inteiro se você está desprovido de amor. O orgulho e minha arrogância é uma visão distorcida do mundo, são apenas armas de minhas defesas, armas de conceitos e preconceitos, são valores e convicções já cravadas dentro de mim. Talvez o correto fosse nos desarmar e despir para enfrentar o choque que o novo nos proporciona.

Portanto, a nossa proposta é um convite a discutir a vida, que na verdade é um convite a importância do saber viver. É dar a cada um, diversos caminhos e ter a certeza de que aquele que escolher será o que lhe levará mais próximo da felicidade, pois como dizia um velho amigo e mestre: uma má decisão é melhor que a indecisão, e pior que seguir um caminho errado é ficar na janela e ver o tempo passar. Encerro esta reflexão com uma história de Rabi, contada pelo filósofo judeus Martin Buber (1878-1965), “A Árvore Genealógica”. Quando o Rabi Ber tinha cinco anos, a casa de seu pai pegou fogo. Ao ouvir sua mãe lamentar-se, perguntou: - Mãe, precisamos ficar tristes por termos perdido uma casa? – Não é pela casa que choro – disse a mãe – mas pela nossa árvore genealógica, que se queimou. Começava com Rabi Iohanã, o sapateiro, mestre do Talmud. – Bem e o que tem isso? Exclamou o menino. – Eu te arranjo outra árvore genealógica, que começa comigo. Não queira ter razão, seja feliz com o que a vida lhe oferece, que é o seu presente precioso!    

23 de agosto de 2017

O AMOR É CEGO E A LOUCURA O ACOMPANHA

Certa vez reuniram-se todos os sentimentos e as qualidades dos homens em um lugar da terra. Quando o Aborrecimento havia reclamando pela terceira vez, a Loucura, como sempre tão louca, propôs-lhe: Vamos brincar de esconde-esconde? A Intriga levantou a sobrancelha, intrigada, e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou: Esconde-Esconde? O que é isso? É um jogo, explicou a Loucura, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem e, quando estiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.

O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia. A Alegria deu saltos que acabou por convencer a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar. A Verdade preferiu não se esconder. Por que, se no final todos a encontrariam? A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tinha sido dela) e a Covardia preferiu não arriscar. Então, a Loucura começou a contar. A primeira a esconder-se foi a Pressa que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho. A Fé subiu ao céu, e a Inveja se escondeu atrás da sombra do Triunfo que, com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A Generosidade quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava parecia-lhe maravilhoso para alguns de seus amigos: se era cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o voo e uma borboleta, o melhor era para a Volúpia. Se era uma rajada de vento, magnifico para a Liberdade. E assim acabou escondendo-se em um raio de sol.

O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início: ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira! Na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris). A Paixão e o Desejo esconderam-se no centro dos Vulcões. O Esquecimento, não recordou onde se escondeu, mas isso não era o mais importante. Quando a Loucura estava lá pelo 999.999, o Amor ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores. Um Milhão! Contou a Loucura e começou a busca.

A primeira a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois se escutou a Fé discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia. Vibraram a Paixão e o Desejo nos Vulcões. Num descuido, encontrou a Inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo. O Egoísmo não precisou ser procurado. Ele saiu sozinho disparado de seu esconderijo que, na verdade, era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e, ao aproximar-se do lago, descobriu a Beleza. A Dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se esconder. E assim foi encontrando todos. O Talento entre a erva fresca, a Angústia em uma cova escura, A Mentira atrás do arco-íris (mentira! Ela estava no fundo do oceano) e até o Esquecimento, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o Amor não aparecia em lugar algum. A Loucura o procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas.

Por conseguinte, quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos havia ferido o Amor nos olhos. A Loucura não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia. Contudo, desde então, desde que se brincou de esconde-esconde na terra. O Amor tornou-se cego e a Loucura sempre lhe acompanha. Portanto, nunca devemos julgar as pessoas que amamos. O amor que não é cego, não é amor. 

19 de agosto de 2017

UM MUNDO MAL CONHECIDO

Sempre que tenho oportunidade de conversar com pessoas receptivas e simpáticas, pergunto se gostam de ler bons textos, caso a resposta seja afirmativa, ofereço um cartão meu, dando a eles a oportunidade de conhecer o meu “espaço filosófico” que na verdade, é um espaço de leitura. Ao ver o cartão, logo vem à pergunta: “você é filósofo?”. “O que é filosofia?” O leitor ocupado perguntará para que serve a filosofia. Pergunta vergonhosa, que não fazemos ao poeta, para que serve a poesia, essa outra construção imaginativa de um mundo que mal o conhecemos.

De modo que, se a poesia nos revela a beleza que os nossos olhos não educados não consegue ver, e se a filosofia nos da a chave para compreender e perdoar, sendo assim não perguntamos mais. Penso que isso vale todas as riquezas da Terra. A grande questão é que a filosofia não enche a nossa carteira e nem aumenta nossa conta bancária. Não nos ergue às dignidades dos governos, é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a conta bancária e a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingênua, desprovido de espírito e humanismo, brutal na conduta, instável no caráter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?

A maturidade é tudo. Talvez que a filosofia nos de, se lhe formos fiéis, uma sadia unidade de alma. Somos negligentes e contraditórios no nosso pensar; talvez ela possa classificar-nos, dar-nos coerência, libertar-nos da fé e dos desejos contraditórios. Da unidade de espírito pode vir a unidade de caráter e propósitos que faz a personalidade e da ordem e dignidade à vida. A filosofia é conhecimento harmônico, criador da vida harmônica; é disciplina que nos leva a serenidade e à liberdade.

Portanto, saber é poder, mas só a sabedoria é liberdade. O sinal de que vamos atingir uma sabedoria maior é a consciência que temos que um dia serenos idosos. Essa é a melhor saída para a nossa vida, prêmio por termos alcançado o topo da hierarquia da existência. É a mais pura filosofia de vida que um ser humano pode alcançar. Contudo, o idoso é um mapa de conhecimento, tem dentro dele muitas estradas principais, muitas vias secundárias e muitos atalhos, muitos becos sem saída, muitas praias, muitos desfiladeiros, muito amor e severas tempestades emocionais.

12 de agosto de 2017

UM PAI QUE AMA O FILHO EDUCA

Um pai que ama seu filho põe limite e educa. Trata-se de um pai amoroso que educa filhos para o mundo, preocupado com o seu futuro, os rumos que vão tomar na vida. Todavia, os filhos são diferentes, cada um assimila de um jeito a vida. Uns aceitam todos os ensinamentos, as exigências impostas pela sociedade. Outros se rebelam e não aceitam padrões impostos. Adotam comportamento totalmente contrário. Há filhos que dependem em tudo dos outros, não resolvem nada sozinho. Há outros que fazem o que vem à mente, sem medir as consequências, sem ligar para ninguém, pisando na sensibilidade alheia, se isso for necessário para conseguir alguma vantagem.

Aos pais compete orientar os filhos, mas sem dominá-los, permitir que deem suas cabeçadas, mais sem perder a cabeça. Há um ditado popular que diz que é errando que se aprende. Não o erro pelo erro, mas por algo de melhor que se pode tirar dele, ensinando que é preciso também ter a coragem de se levantar após uma queda, de tentar quantas vezes forem necessárias até acertar. Porque é melhor errar uma, duas, três vezes até acertar, do que acertar sempre pela opinião dos outros. É melhor ser criticado por estar fazendo alguma coisa, do que por não fazer nada. Não há limite para que nós, pais, falarmos e orientarmos os filhos. Devemos falar sempre, isto é, enquanto estivermos vivos e conscientes dos deveres de pais. 

Os pais tornam-se colaboradores da obra do criador, são os seus primeiros e fundamentais catequistas. Devemos pedir sempre a Deus que nos de força e ajuda para que cumpramos bem a missão de sermos pais, porque não é fácil sozinho educar uma filha adolescente. Tem que assumir as responsabilidades, compartilhar com os filhos os cuidados, para que se sintam amados. Participar do seu crescimento. Vibrar com seu primeiro sorriso, com seu primeiro passo. Ajudar os filhos nas lições da escola, ensinando a pensar, estudar, pesquisar e gostar dos estudos. Feliz com o primeiro sucesso, pelo primeiro namorado e, no caso do filho, pela namorada.

Estimular para não desistir quando surgirem os primeiros obstáculos. Acreditar nos filhos e dar condições para que eles desenvolvam a sua independência, sua autonomia e segurança. Ajudá-los a superar as frustrações sendo seu melhor amigo. Colocar no coração de seus filhos a semente de quem é Deus e seus ensinamentos, ajudando-o para que essa semente possa encontrar um terreno fértil para nascer, crescer e frutificar, gerar uma vida feliz com amor. Que todos os pais tenham isso em mente para que o mundo possa ser melhor.

Penso que uma família que se ama, que vivem como cristãos, numa convivência sadia, com serenidade, vendo os filhos crescerem com uma mente tranquila, com boa orientação no que diz respeito ao próximo, que só se faz dentro do lar onde haja amor, harmonia e união, que são valores sagrados. Nossos filhos não irão aprender a amar na escola, junto aos colegas, nem na televisão e muito menos nas redes sociais. Aprenderão em casa, se os pais se amarem verdadeiramente, porque amor se ensina amando, e eles então, conhecerão o amor de verdade.

Os filhos que não conhecerem o amor no próprio lar, também não encontrão amor no futuro lar. Serão incapazes de vencer as crises, porque sem amor nunca estarão preparados para fazer um lar feliz. Eles podem ter sucessos profissionais, sociais, políticos, mas em casa, com os seus futuros filhos ou familiares, não terão união, afinidade, respeito, nem carinho; não vivem a paternidade de fato.

Ser pai é um dom de Deus, é seu maior presente dado ao homem. É a maior realização, a mais perfeita, a mais total, a única, eterna e magnífica que pode haver em sua vida. É uma benção que não tem comparação. É ser cooperador com Deus, porque também está criando, é o que existe de mais dignificante no homem, o maior de todo o tesouro do mundo, que é perecível, enquanto que para ele os filhos são eternos.

Portanto, segundo a mitologia grega, encontrar o pai tem a ver com o encontro do seu próprio caráter e do seu próprio destino. Acredita-se que o caráter seja herdado do pai, assim como para a psicanalise, a lei ou a censura é representada pela figura paterna. E da mãe herdamos a mente, o sofrimento, a resignação, talvez a culpa. Simbolicamente falando, o filho é um grande envelope que o pai manda para o futuro, e o pai é apenas um selinho, que sem esse o grande envelope não vai à parte alguma. Contudo, a figura do pai serve como modelo de comportamento para o menino e também permite que a menina conheça e compreenda o universo masculino.    

5 de agosto de 2017

O MITO DO AMOR ROMÂNTICO

No ocidente, a noção moderna de amor romântico conceitua uma sensação mágica, incomparável. Geralmente, ele é descrito como um encontro de almas que acontece por pura sorte, talvez por predestinação, que responde às angústias e aos desejos mais básicos da vida. Mas, foi em 1997, o psicólogo social Arthur Aron (1945), da Universidade Estadual de Nova York, desenvolveu e publicou um estudo em que afirmou ser possível fazer com que duas pessoas desconhecidas se apaixonassem uma pela outra em poucas horas. Ele mesmo teria atingido resultados positivos em laboratório. A técnica era relativamente simples.

Aron desenvolveu 36 perguntas que o casal deveriam responder um para o outro. No fim do questionário, os dois deveriam se encarar em silêncio por quatro minutos contados no relógio. Até ambos colocar para fora o que sente ou dizer: “aqui está o amor da minha vida”. Segundo ele isto é paixão enlatada. Sendo que as 36 perguntas são simples, mas obrigam o casal a se exporem emocionalmente e pessoalmente. Vão desde: “se você pudesse jantar com qualquer pessoa do mundo, quem seria?” Até: “qual o papel do amor e do afeto na sua vida?” O casal é induzido a sentir algo pelo outro. Pois, ambos estão vulneráveis.

Entretanto, o estudo conduzido por Aron é baseado na ideia de que demonstrar vulnerabilidades mútuas é capaz de cultivar proximidade e intimidade. O pesquisador identificou um padrão na construção de relacionamentos amorosos estáveis como: “transparência, entrega e sinceridade constantes, crescentes, recíprocas e pessoais”. A lista de perguntas desenvolvida por ele tem como objetivo conduzir essa troca.

No entanto, todos nós temos uma narrativa sobre nós mesmos que apresentamos para os outros, mas as perguntas do psicólogo Aron fazem com que seja impossível usar essa narrativa. A proposta ganhou manchetes em 2015, quando o jornal “The New York Times” publicou o texto de uma colunista, Mandy Len Catron, que disse ter se apaixonado por alguém usando a lista de perguntas em um encontro.

Portanto, com o depoimento desta colunista, voltaram ao debate os questionamentos em torno da ideia de amor romântico. Se vulnerabilidade mútua pode levar à paixão, onde fica a ideia de uma alma gêmea? Na desconstrução do conceito de amor ideal ao qual os agarramos culturalmente todos os dias, há a possibilidade de entender as frustrações com a vida amorosa (ou a falta dela) e o número cada vez mais alto de divórcios e separações nas sociedades ocidentais. Contudo, o amor romântico idealizado se apresenta como a resposta à dúvida principal sobre o sentido da existência. Há, fundamentalmente, a ideia de completude: “sem o outro, seremos eternamente incompletos”.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...