29 de junho de 2019

SIMPATIA É UM SENTIMENTO DE AFINIDADE

Ser simpático é ser amistoso, ser agradável, ser educado, é demonstrar gentileza e amabilidade para com as pessoas do nosso convívio, mas, não só. Assim como também, com os demais membros da nossa comunidade e do meio social. Por outro lado, em alguns casos, a origem etimológica de uma palavra já oferece a sua definição precisa. Precisamente é o que acontece com a palavra simpatia, o qual provém do latim “simpathia”. Vale lembrar, que este vocábulo, por sua vez, deriva de um conceito grego = “sympatheia”, tanto do latim como do grego, significa: “comunhão de sentimentos”. De modo geral, a simpatia é mútua e nasce de forma espontânea. Contudo, é possível que, com o passar do tempo, o fato de conhecer melhor outras pessoas faça nascer um sentimento de simpatia que, inicialmente, não existia.

Penso que simpatia é um sentimento que nasce num só momento, ele surge instantaneamente, parece vir da alma. Sincero no coração como dois olhares acesos, bem juntos, unidos e presos, como numa mágica atração. O ser simpático implica em empatia e afinidades. É o canto do passarinho ao doce aroma da flor. Simpatia é quase amor, é ao mesmo que ver as nuvens de um céu de agosto, que brilha no rosto daquela pessoa que nos encanta. Simpatia é afinidade moral, similitude no sentir e no pensar que aproxima duas ou mais pessoas. Simpatia é relação entre pessoas que, tendo afinidades, se sentem espontaneamente atraídas entre si. Nutrimos simpatia por aquelas pessoas mais próximas. Sobretudo, as que nos comovem por trazer registrado no seu olhar, as nossas afinidades, principalmente as intelectuais e afetivas. 

Entretanto, o termo simpatia se aplica no caso das relações interpessoais e também permite fazer alusão à inclinação análoga para com os animais ou os objetos. Para a física, a simpatia é a relação entre dois corpos ou sistemas através da qual a ação de um induz ao mesmo comportamento no outro. Sendo que a simpatia faz parte da nossa personalidade. Trata-se de algo próprio da sua maneira de ser e do seu caráter, que torna essa mesma pessoa em alguém agradável para os demais. Todavia, este estado sentimental que a simpatia provoca, assemelha-se ao amor. É a capacidade de dar atenção aos sentimentos de outra pessoa. Traduz-se em afeto que faz com que, duas ou mais pessoas se mantenham unidas.

Portanto, simpatia é um sentimento de afinidade que atrai e identifica as pessoas, é uma tendência instintiva que leva o indivíduo a estabelecer uma harmonia com o outro, permitindo a criação de laços sedutores de amizade. Simpatia é a capacidade que as pessoas têm de participar das emoções alheias, podendo variar entre a mera aceitação e compreensão dos sentimentos do próximo e a completa identificação dos próprios, estamos emotivos com o do outro. De certo modo, simpatizar pode ser uma relação de atração ou inclinação que algo ou mesmo uma ideia exerce sobre alguém, ou seja, o ato de gostar de alguma coisa que despertou seu interesse. Contudo, se fui muito maltratado pela vida, a ponto de carregar cicatrizes profundas e, de repente encontro alguém simpático, disposto a aceitar a minha dor. Essa pessoa será sem dúvida a minha cura, que irá ajudar-me a cicatrizar essa ferida que sozinho não iria conseguir. É um encontro interpessoal de amor e superação, impulsionado pela simpatia. A natureza é sábia. Porém, nós é que não a compreendemos na sua dimensão ontológica.

28 de junho de 2019

SOMOS AFETADOS PELA IMPOSIÇÃO DO AMOR

Segundo conta a lenda do “Príncipe Encantado”, um belo príncipe em seu cavalo adentraria em sua vida. Esse é o sonho de toda mulher romântica que busca encontrar um príncipe, mas depois de algumas experiências desastrosas, ela tenta não se entusiasmar demais com o suposto príncipe. Na verdade, ela quer ser protegida pelo parceiro que um dia venha a ficar. Alguém com quem pudesse compartilhar a vida e que a compreendesse. Quando ambos descem do palco de suas vidas, entre olhar entrecortado por outras presenças que coincidentemente aparecem no mesmo ambiente. O que era um encontro paradisíaco começa a tormenta, pois surge o ciúme com as exigências de ambas as partes, que aos poucos, vai diluindo a imagem intocável do príncipe encantado.

Após alguns encontros encantadores, surgem os escândalos, desrespeito total um pelo outro, as baixarias e junto vem o rompimento, que muito a contra gosto é triste. Porque se criou um laço afetivo muito forte entre ambos. Lembrando que quando alguém busca uma relação afetiva, com empenho e dedicação, com o espírito aberto, de repente surge a sua frente, como num passe de mágica, certeira com uma flecha de “cupido”, inexorável como a morte: O Amor! Acompanhado com esse sentimento também surgem outros, como o susto, a surpresa, a alegria, a excitação, a decepção, a raiva, a saudade e as lembranças! Tanta coisa ao mesmo tempo, que a pessoa se vê perdida, não sabe o que pensar, porque nunca sentiu isso tão forte.

De modo que, dessa forma a busca de afeto, ou de prazer que o faça sentir-se mais pleno transforma-se em uma busca infantil, o que para o outro é imperceptível. Considerando que o prazer, os sentimentos, as emoções e as sensações estão diretamente ligados ao corpo e que o ser humano só se sente pleno através da exaustão, por isso quando a pessoa exige ser amada mesmo depois dessa exaustão, consequentemente, o fato de não ser correspondida, por se tratar de uma imposição do amor, essa pessoa passa a se desinteressar por quem promove esse prazer e afeto. Começando assim uma nova busca direcionada a novos prazeres e novos provedores, isto é, novas paixões.

Toda pessoa centrada no seu egoísmo achando que tem que ser amada, começa a não perceber o outro e vai aos poucos enfraquecendo os laços afetivos. O prazer que estava acostumado a receber não é mais tão intenso. Diferente do prazer e da paixão que provem das necessidades corporais surge uma nova dimensão de sentimento que é a alegria. Não é o prazer que tem de ser procurado, e sim, a alegria. Infelizmente ou felizmente, na paixão, no prazer e seu contra ponto, o sofrimento, são intensos e temporários; já na alegria, a prioridade está no amor que não tem prazo de duração.

Portanto, para podermos sentir a alegria e o amor é preciso não somente a sensibilidade, mas também a paciência de saber esperar, é preciso suportar a responsabilidade, assim, como é preciso estar aberto para enxergar nossos defeitos e virtudes para depois mudá-los, se for necessário; com isso desenvolveremos maturidade e sabedoria. Dessa forma, através da alegria, chegaremos ao prazer do corpo e da alma. Lembrando que uma vida sem amor é como um jardim sem flor, é como esperar o trem que já passou.

23 de junho de 2019

SOMOS ESSENCIALMENTE SOLITÁRIOS

Acredito que só podem estabelecer relações efetivamente interpessoais aquelas pessoas que estiverem em condições de se reconhecerem como únicas e acima de tudo se aceitarem como criaturas essencialmente solitárias, cujo modo de ser e de pensar não serve para avaliar as outras pessoas. Aqueles que não se aceitam como indivíduos solitários veem o outro como remédio para seu desamparo, ao passo que os que se aceitam sozinhos já sabem que o outro não pode atender a todos os seus desejos. Por exemplo, às vezes pensamos que gostamos de uma determinada pessoa, só porque ela entende a gente e faz coisas gostosas que nos enchem de prazer naquele momento. No entanto, o que mais queremos naquele momento é esse aconchego e ser compreendido por alguém. É ver o outro como remédio para seus males interagindo com ele sempre levando em conta suas enormes necessidades pessoais.

Uma mulher que foi abandonada pelo seu marido, por exemplo: para que ela fique bem com a ausência do seu homem é preciso que tenha capacidade de existir como pessoa solitária. Ao contrário, poderá sofrer o resto da vida a perda do seu parceiro e, por dentro, estará pensando: “e agora o que será de mim sem ele?” Se reconhecermos que somos de fato solitários, uma vez que nosso cérebro é único, pensamos somente por nós e por mais ninguém e que nossa comunicação é precária. Eu diria que esse ser humano é forte e tem tudo para superar essa perda. Todo o individuo que se basta é justamente aquele que pode relacionar-se verdadeiramente com o outro sem medo da perda, justamente por se reconhecer como um ser solitário e único. É evidente que numa relação a dois, o outro existe para nos completar e vice e versa, já que qualquer movimento dele ou nosso que venha estar em desacordo com a nossa expectativa ou a dele, fará surgir uma dolorosa sensação de decepção.

O fato é que quase ninguém consegue reconhecer essa sensação de incompletude, já que sempre estamos sentindo falta de alguma coisa. Todavia, buscamos encontrar a parte que nos falta, ou seja, a nossa outra metade, como diz Platão no Banquete, o tal fenômeno do amor romântico. É aqui que mora o perigo. A busca dessa fusão com a outra parte, que também é solitária, nos provoca uma sensação de completude. As afinidades são à base dessas relações, pois as semelhanças no modo de pensar nos fazem sentir menos solitários. Essa é uma característica que nem sempre está presente nesse encontro romântico e que rapidamente irá fazer muita falta. Essa afinidade no modo de pensar é talvez o que há de mais essencial nas amizades. Se o amor estabelece um aconchego físico, as amizades determinam um aconchego intelectual. Se o primeiro é infantil, regressivo, este último é a mais sofisticada expressão de nosso desenvolvimento intelectual. Por isso que o verdadeiro amor nasce a partir de uma sólida amizade constituída. Pautado na confiança e no respeito.

Entretanto, ao considerarmos como metade, como parte que reclama a sua outra metade e não como inteiro e solitário que somos, enxergando o outro como peça necessária para minha estabilidade emocional, certamente vamos desenvolver mecanismo de dominação sobre o outro. Indubitavelmente, estaremos transformando o outro num objeto de uso pessoal, ao passo que ele também é um ser solitário e singular. A minha dependência em relação a essa pessoa crescerá, ao mesmo tempo em que a minha autoestima decrescerá. Todavia, os que não forem capazes de manterem um relacionamento sem achar que o outro tem que estar a serviço, tenderá a ficar sozinhos.

Portanto, o número de corações destroçados por decepções inesperadas só tem crescido nos últimos anos. Enquanto tratarmos o outro como metade, como uma parte que reclama e não como inteiro, um ser único e insubstituível, as relações interpessoais serão marcadas por angústia e a dor do fracasso, pois o outro, declaradamente, está sendo usado, ainda que seus anseios verdadeiros estejam sendo satisfeitos. A verdade é que agradar o amado é, em muitos casos, a parte menos relevante nessas relações. Aqui o amor é apenas um remédio para nosso maior mal, que é de nos sentirmos incompletos quando somos de fato, um ser completo. Enfim, reconhecer-se como metade, constitui-se na necessidade do outro, ou seja, uma relação neurótica. E ao reconhecer-se como um ser solitário e único, constitui-se num desejo primordial de querer o outro para amar” com absoluta negação de todo o tipo de dependência ou necessidade.      

20 de junho de 2019

DIALOGANDO COM AS IDEIAS ATRAVÉS DA ESCRITA

Começamos essa reflexão citando o escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924): “escrever significa abrir-se em demasia. Por isso, não há nunca suficiente solidão ao redor de quem escreve; jamais o silêncio em torno de quem escreve será excessivo, e a própria noite não tem bastante duração”. Sendo assim, escrever é um trabalho dos mais difíceis, não são todas as pessoas que têm coragem suficiente para enfrentar esse tipo de empreitada prazerosa, o gosto pela escrita. No entanto, a escrita reflete a personalidade de quem escreve. Pessoas que escrevem bem têm algo de diferente no brilho pessoal. Abusando um pouco das metáforas, elas são charmosas e possuem um dom que quase da para ouvir o que escrevem. Somos parte de tudo o que existe no mundo. Quando conseguimos compreender esse fato, veremos que não estamos escrevendo, e sim deixando que todas as coisas escrevam através de nós.

Escrever é uma ocupação bastante absorvente e, não raro, exaustiva. Mas sempre me considerei muito feliz por poder levar a vida entregando-me a algo que da prazer. Pouquíssimas pessoas podem fazê-lo. O meu estilo é mostrar a fisionomia da alma. Ela é menos enganosa do que o corpo que mostramos. Imitar o estilo alheio significa usar uma máscara. Por mais bela que esta seja, torna-se logo insípida e insuportável porque não tem vida, de modo que mesmo o rosto vivo mais feio é melhor do que a máscara. Sou o que escrevo e do jeito que escrevo. Só tenho certeza de uma coisa, o que escrevo é melhor do que eu. O que escrevo quero que toque de alguma forma na vida de quem lê. Tranquilizar-me talvez seja a principal razão porque escrevo. É quase inacreditável o quanto a frase escrita pode acalmar e domar o ser humano. Um texto sem alma não se sustenta, não sobrevive. Não pode comover e, portanto, não pode criar nenhum laço minimamente catártico com o leitor. Um bom diálogo através da linguagem escrita é como fazer sexo; tem que ter ritmo, sedução e ser envolvente.

Entretanto, o trabalho do escritor é oferecer uma história que envolve, fascina, provoque e, acima de tudo registra-se como única e absoluta. Tendo em vista, que escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível. Nesse sentido, a história e o romance, a ideia e a forma, são como a agulha e o fio, e não existe alfaiate que recomende o uso do fio sem a agulha, ou da agulha sem o fio. Um bom texto parte como uma onda, movendo-se pela superfície do mar. As ideias irradiam da mente do autor e colidem com outras mentes, desencadeando novas ondas que retornam ao autor. Estas geram outras reflexões e emanações e assim por diante. O talento é algo maravilhoso, mas não é capaz de carregar quem dele desistir. Por acaso, não seremos nós aquela folha de papel em branco de que fala o filósofo e empirista inglês John Locke (1632-1704), que um dia alguém vai nos ler?

Portanto, a literatura é para mim uma mimese da vida, com contornos de todos os valores e temas que rodeiam a nossa realidade. É uma forma de tentar entender o processo de formação do ser humano, único capaz de empreender raciocínios imaginativos. Foi através da literatura que brotou em mim o amor e transformou a minha vida numa poesia. Hoje posso dizer que, realmente, vivo uma história de amor com as palavras. Olhando para trás sinto que algumas fontes começam a jorrar apenas quando estou só. O artista precisa ficar só para criar; o escritor para elaborar os seus pensamentos; o músico para compor; o cristão para rezar e o poeta para escrever nossa história de amor. Só escrevo porque me sinto compelido a botar para fora o que penso e sinto. Durante muitos anos a solidão foi minha mola propulsora. Concluo essa reflexão citando o escritor português José Saramago (1922-2010) que diz: “ser escritor não é apenas escrever textos ou livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção”. A minha exigência é o amor que trago no meu coração e a intervenção, é essa paixão louca que me leva feito vento sem direção.

15 de junho de 2019

A REVOLUÇÃO DA TERNURA

Como argumentava o filósofo e teólogo São João da Cruz: “o amor é uma doença que, nas minhas palavras, só se cura com aquilo que chamaria de ternura essencial”. Reiterando as palavras do místico poeta, vou um pouco mais além, citando outro grande filósofo e teólogo Leonardo Boff (1938): “a ternura é a seiva do amor”. Penso que se cada um quiser guardar, fortalecer e der sustentabilidade ao amor, que seja terno para com quem se ama. Sem o azeite da ternura não se alimenta a chama sagrada do amor, certamente ela se apagará. Lembrando que ternura não é simplesmente uma emoção, excitação de sentimento face ao outro. Porém, se assim fosse seria sentimentalismo que é um produto da subjetividade mal integrada. O sujeito que se dobra sobre si mesmo e celebra as suas sensações que o outro provocou nele. Nunca sairá de sim mesmo, ao contrário, a ternura irrompe quando a pessoa se descentra de si mesma e sai na direção do outro, sente o outro como sendo parte da sua essência, participa de sua existência, se deixa tocar pela sua história de vida.

A ternura não é efeminação e renúncia de rigor. É um afeto que à sua maneira nos abre ao conhecimento do outro. Segundo o Papa Francisco (1936), quando esteve no Brasil, falou na sua homilia para os bispos latinos americanos presentes no Rio de Janeiro, cobrando-lhes “a revolução da ternura” como condição para um encontro fraterno e verdadeiro entre os humanos. Só conhecemos bem o outro quando nutrimos afeto e nos envolvemos com essa pessoa que queremos estabelecer laços de comunhão amorosos. É aqui que a ternura pode e deve conviver com o extremo empenho por essa causa.

Portanto, a relação de ternura não envolve angústia porque é livre de busca de vantagens e de dominação. O nascer do amor se da pela própria força do coração. É o desejo mais profundo de compartilhar carinhos. A angústia do outro é minha angústia, seu sucesso é o meu sucesso e sua salvação é a minha salvação. O amor e a vida são frágeis. Sua força invencível vem da ternura com a qual os cercamos e sempre os alimentamos. Encerro esta reflexão citando um grande bandeirante do amor, o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998). Ele foi idealizador de um curso sobre amor na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos. Publicou um livro com o título “Amor”. Por coincidência, faleceu no dia dos namorados, 12 de junho de 1998 e nos deixou a seguinte mensagem: “O amor tem os braços abertos. Se você fechar os braços ao amor, verá que está apenas abraçando a si mesmo. Quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu. O amor verdadeiro só cria, nunca destrói”. Toque sempre o coração e a alma de quem você ama. Como dizia Platão: “tudo que está na nossa alma, toca a alma do outro”.   

11 de junho de 2019

O ESTADO MAIS GOSTOSO DA VIDA A DOIS

É comum nós teorizarmos sobre a felicidade que o amor nos trará. A maioria faz da busca pelo amor a meta de sua vida. Não é por acaso que se trata de um sentimento tão avassalador, capaz de tomar conta de nossa vida e de todos os momentos de nosso dia. No entanto, misteriosa é a travessia do coração de um homem e respectivamente do coração de uma mulher que se encontram e declaram seus mútuos afetos. Somos carimbados, marcados e flechados pelo cupido. Há um querer demorar e até eternizar no outro, pelo amor, pelo apreço desta companhia e pela valorização de uma vida de luta e esperança neste amor. Quando encontramos uma pessoa, pela qual nos apaixonamos, prontamente dizemos: “eu te amo, mas, não é porque és bela e sim és bela porque te amo”.

De modo que, neste vai e vem dos encontros e desencontros, nasce o estado mais gostoso da vida a dois. As pessoas se encontram inevitavelmente expostas para este evento imponderável, que é o estado amoroso. Mesmo no coração da atual crise social, não podemos esquecer-nos que da ternura nasce o amor. A nossa própria existência não é fixada, vivemos em permanente dialogação com o meio. E nessa troca não deixa ninguém imune. Não raro o êxtase é seguido de decepção. Há voltas, perdões, renovação de promessas e reconciliações. Sempre sobram, no entanto, feridas que mesmo cicatrizadas, nos lembram de que um dia sangraram.

Portanto, o amor é uma chama viva que arde, mas que pode estar prestes a extinguir-se e lentamente se cobrir de cinzas e até se apagar. A indiferença é o maior veneno para o amor. Não é porque as pessoas se odeiam que esta chama se apaga. Quando as pessoas ficam indiferentes umas às outras, é que acontece a morte do amor. No verso 11 do Cântico Espiritual do místico São João da Cruz (1542-1591), que são versos de amor entre a alma e Deus, diz ele com fina observação: “a doença de amor não se cura sem a presença e a figura”. Por conseguinte, não basta o amor platônico ou o amor virtual. O amor exige a existência e a presença do outro. O amor quer a figura concreta que é mais que uma simples imaginação sutil de um poeta trovador. O amor quer sentir o palpitar dos corações dos amantes. Feliz dia dos namorados

5 de junho de 2019

A CARA DO MUNDO NOS MOSTRA ALGO

Quem melhor representa a cara do mundo são as crianças. Porque nelas encontramos a alegria de viver. A esperança é renovada a cada momento como uma linda flor que acabou de desabrochar. Nelas não existem maldades, só vontade de brincar. A maldade está no coração insano dos adultos que se esqueceu do que é ser criança. O rosto do mundo interroga o meu ser. Como diz o filósofo e educador Régis de Morais, em seu poema: “Todas as divindades das águas, das florestas, das montanhas, estremecem-me a vida, seja no erotismo dos bailados do alvorecer ou nas cores das preces do acaso”.

O espetáculo de maravilhas que penetra a alma de uma criança tem a musicalidade do silêncio das coisas espirituais. Minha alma é como de uma criança, que abriga a sensualidade das coisas, filtrando os sonhos que desenham nas paredes alvas do mundo. Imagine se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo, tentam ensinar para as crianças? Desespera-me não poder mostrar os brilhos e cores da emoção de uma criança quando a gente conta uma historinha a ela. Essa experiência eu vivi.

Através da fantasia e do olhar que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente. Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para ler e interpretar o mundo. A sabedoria nos da razão para viver dignamente. Para compreender as varias faces do mundo, precisamos aprender com as crianças, elas ainda têm olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos era o início do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do banal.

Entretanto, para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o voo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, um peixinho pulando no rio, uma casa de João de barro. Coisas que os eruditos não veem. Nunca vi um professor chamar a atenção da criança para observar a beleza das árvores e dos pássaros voando. A palavra “encanto” está no olhar da criança. Como diz o Evangelho (Lucas 6: 45): “Vossa boca fala do que está cheio o vosso coração”. Pois ao aplicarmos esta sabedoria para avaliar o mundo, deparamo-nos com problemas e dilemas nada fáceis.

A vida é uma jornada através de vales e montanhas. Não seria nenhum exagero, afirmar que a vida é uma intensa luta contra o sofrimento. Então, o que da ao ser humano a verdadeira magnitude e dignidade? Não é a fama, nem poder e muito menos fortuna. Acredito que o valor de uma pessoa é determinado pelo fato dela viver ou não em completa satisfação como ser humano. Isto representa uma mudança completa na concepção convencional de nascimento, envelhecimento, doença e morte. Espero que cada um de nós, que persistimos corajosamente na fé pela vida inteira, possa continuar a viver sem nenhum arrependimento.

Portanto, o mundo é feito de muitas caras e a vida põe delicadezas e elegâncias nesta cara, põe suspiros de felicidade no rosto da criança. As flores são suaves pensamentos da divindade, que seguem pintando nos campos o passeio do espírito que ilumina e sopra onde quer. Põem na manhã o perfume e a beleza que antes dormiram no ventre da terra. Todas essas almas coloridas do campo, nenhum rei atinge sua emocionada elegância. Elegância do nada, como as miudezas que envolvem o mundo. Todos os dias o mundo recomeça do nada. Eternizar esse nada é tudo que nos resta.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...