29 de junho de 2013

APRENDEMOS COM OS NOSSOS INSTINTOS

Os seres humanos caracterizam-se por hábitos gregários, geneticamente estamos programados para viver em grupos, por uma necessidade existencial para fins evolutivos. Para muitos, ter uma vida participativa em cooperação é um estágio a ser alcançado. A grande maioria das pessoas ainda apresentam enormes dificuldades de conviver com seu semelhante de forma pacifica. No entanto, a natureza nos da uma série de exemplos de vida em sociedade organizada e harmônica no seio de animais como as baleias, golfinhos, cupins, formigas e abelhas.

Entretanto, aliado a essa harmonia natural está os impulsos instintivos sexuais, responsáveis pelas escolhas amorosas, porém, é o impulso mais vigoroso da natureza humana. Através desse impulso instintivo é que nasce o amor, no mais profundo recôndito do nosso inconsciente onde a razão e a reflexão não têm absolutamente nenhum acesso. Existe uma relação de magnetismo entre as pessoas, uma atração instintiva e pontual, pela qual somos tomados por um desejo enorme de prazer em estar com o outro. Se a família, os filhos e a sociedade em geral negar essa vontade de vida e de viver, no amor instintivo essa vontade é afirmada perante o casal. Porém, o amor é a manifestação viva dessa vontade de viver. Todos concordam e ninguém duvida.   

Todavia, tratamos muito mal as nossas emoções. Damos pouca importância aos sentimentos nobres como o amor. Desde pequeno somos bem adestrados a não sentir emoções e negar os desejos instintivos. Essa é a educação que recebemos, principalmente em nosso ambiente familiar. Quantos problemas de relacionamento poderiam ser evitados se soubéssemos lidar com as emoções? Principalmente quando damos importância às fofocas e conversas externas. Não prestamos atenção aos nossos instintos e emoções, não nos preocupamos com os nossos sentimentos. Estamos preocupados com o que os nossos algozes estão falando ou pensando a nosso respeito. A vida é muito curta para vivermos o que os outros pensam ou falam de nós. E ainda tem gente que perde um tempo enorme em ouvi-los. Deixando de sentir o seu coração e os seus instintos.    

Na verdade, as pessoas estão acordando para o fato de que a inteligência vai muito mais além do que só o racional. E que essas emoções representam um aspecto importantíssimo do potencial humano. Penso que esse assunto deveria estar na pauta das disciplinas denominadas ciências humanas. Nossas emoções sempre foram vistas como algo perigoso, que precisa ser reprimido para não atrapalhar a forma lógica de pensar. A emoção sempre foi considerada o primo pobre da nossa personalidade. O ideal desejado pela sociedade contraria totalmente as leis naturais da natureza física, criando pessoas frias como máquinas e absolutamente racionais. Quando na verdade somos um ser de emoção, de intuição. O filósofo grego Sócrates (469-399), nos deixou uma frase lapidar: “Conheça-te a ti mesmo”, que mostra a importância de nos conhecermos realmente como somos. O conhecimento é tudo na vida.

O conhecimento, a criatividade, a empatia, a sensibilidade, a plenitude de viver estão associados à recuperação da capacidade de sentir e expressar as emoções mais primitivas. É nesta habilidade social que se exige um aprendizado. Aprender em primeiro lugar a nos conhecer e a partir daí, compreender o outro na sua dimensão física e espiritual. Estabelecer com o seu próximo, uma relação de empatia e compaixão.

Aprendemos a ler e a escrever, mas não aprendemos no que diz respeito as nossas emoções. Vivemos entre discussões inúteis entre pais e filhos, falta de comunicação ou má comunicação no ambiente escolar, no trabalho, relacionamentos insatisfatórios, recheados de intrigas e guerrinhas particulares intermináveis. Ainda há quem acredita que isso é amor. No entanto, sabemos que muitas doenças psicossomáticas, são consequências de nossa ignorância emocional, ou seja, do fato de desprezarmos nossos sentimentos ou de não sabermos expressá-los. Estudos confirmam que 80% das pessoas que procuram médicos, sofrem de doenças emocionais e 37%, sofrem de doenças meramente imaginárias, ou seja, acham que realmente estão doentes. Os chamados hipocondríacos. Esta é só uma pequena amostra do quanto tratamos mal nossas emoções instintivas.
   
Portanto, num envolvimento amoroso, o mais importante é assumir o relacionamento como uma oportunidade de construção da felicidade, entre duas pessoas que realmente estão tomadas por esse sentimento. Contudo, é um momento para ser vivido com pujança e discernimento. Quanto mais receptiva estiver a pessoa para sua realidade, mais valor dará a esse impulso amoroso. A maneira mais eficaz de garantir um futuro promissor e a manutenção desse amor é enfrentar com garra, sem prestar atenção às conversas alheias, que só desgasta e contamina o amor. Cabeça cheia, coração vazio e vida sem graça, marcada pela angústia. Triste fim, para quem ama. A boa emoção é aquela que traz o substantivo masculino amor. Enquanto que a má, traz o substantivo feminino a dor. Ou aprendemos com o amor ou vamos aprender com a dor.  

16 de junho de 2013

O ESCRITOR E SUAS CRÔNICAS


O que torna um simples escritor em alguém reconhecido pelos seus escritos? O que faz o leitor ficar admirado com as palavras escritas em uma crônica, um conto ou um livro? Todavia, essas questões parecem fáceis de responder, mas aquele que se dedica constantemente a arte da escrita sabe que não é tão simples assim. Quando entramos no mundo da literatura, um pouco mais subjetiva, como é o caso da escrita, surge uma grande armadilha. Nem sempre os bons escritores que produzem textos de qualidades, serão reconhecidos. Em tempos onde a internet domina as fontes de conteúdos, torna-se cada vez mais raro encontrar conteúdos de qualidade, mas eles existem. Foi assim que compreendi que o escritor é todo aquele que se dedica parte do seu tempo às letras, seja como profissional ou por lazer. Descobri que escrever é uma liberação da mente, pois, escrevendo, damos asas a imaginação e a criatividade, é onde não existem limites, rompemos com as barreiras do tempo e do espaço. Quando escrevemos, nossa imaginação nos leva ao mundo da fantasia e dos sonhos, onde podemos ser o que quisermos.

Entretanto, um escritor não precisa ter a missão de salvar o mundo, mas deve carregar a responsabilidade de ser honesto consigo mesmo e com os seus leitores, pois um dia seus escritos podem ser lidos por pessoas que gostem de suas ideias. Que através do que o escritor escreve, possa promover mudanças em nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos valores. Todavia, o escritor pode nos fazer chorar, rir, sentir medo. Pode nos fazer repensar e até mudar de ideia. A grande virtude do escritor se encontra na sua capacidade de nos levar a viver ou partilhar emoções e experiências, conhecendo lugares e costumes, sem que precisemos sair de casa ou do conforto da cabeceira da cama. Contudo, um bom escritor nos deixa profundamente triste quando a história termina. Principalmente quando deparamos com escritores do arcabouço de um: Luis Fernando Veríssimo, Lya Luft, Fernando Pessoa, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Ariano Suassuna, Inácio de Loyola Brandão, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Rubem Braga, Lygia Fagundes Telles e tantos outros romancistas, cronistas, poetas, historiadores, entre anônimos e conhecidos. Todos eles afinados na inspiração e tomados de muita sensibilidade, com palavras fáceis na hora de descrevê-las.

Escrever, embora seja uma experiência solitária, é também viajar no tempo através do pensamento. No entanto, o escritor é um criador de imagens, personagens, fantasias, que nos leva a navegar pelas histórias de vidas reais ou inventadas, solvendo em palavras. É escrever como que dialogando com o leitor. Levá-lo a imaginar e pensar em uma prosa gostosa em algum lugar pitoresco e cercado de belezas naturais, que pode ser um parque ecológico, a beira de um lago, rodeado de montanhas e florestas nativas. Ou quem sabe, numa sala aconchegante sentado em uma poltrona de balanço confortavelmente relaxado. Afinal, ler um livro é o mesmo que estar conversando com o escritor, ambos estão em sintonia. No livro “O Mundo de Sofia”, também acontece uma prosa em forma de bilhetes e cartões postais, que foram mandados do Líbano por um major desconhecido, para a estudante Sofia. O mistério que envolve os bilhetes e os postais é o ponto de partida deste fascinante romance sobre a história da filosofia.

Com o surgimento da internet, isto é, com o advento desse espaço virtual, jovens e crianças tem perdido o contato com os livros, passando grande parte do tempo na frente do computador. Com isso, o acesso ao mundo letrado tem diminuído consideravelmente, e com ele as vendas dos artigos literários. Ler é importante para o desenvolvimento do raciocínio, para desenvolver o aspecto critico do leitor, criando novas opiniões e estimulando sua criatividade. Quando lemos, nos reportamos para outros lugares, como se estivéssemos viajando no tempo e no espaço. As riquezas literárias são muitas, podendo estar divididas em textos científicos, que comprovam as teorias, e textos literários do tipo romance, crônicas, comédias, poemas, poesias, biografias, novelas, filmes, obras de artes, literatura de cordel, histórias infantis, histórias em quadrinhos, dentre vários outros.

As características necessárias para ser um escritor, o individuo precisa gostar de leitura, de pesquisar e de escrever. É fundamental o raciocínio abstrato, o espírito investigativo, ter capacidade de análise e de interpretação. Se alguém desejar seguir a carreira de escritor, precisa ler bastante, conhecer as correntes literárias e o seu contexto. Não ter preguiça de mexer no texto até que ele fique de acordo com a mensagem proposta e chegue com clareza ao leitor. Por conseguinte, ao comunicar-se com alguém por escrito, o autor poderá ter diferentes intenções. Se o escritor pretender formar na mente do seu leitor a imagem de um objeto, de um lugar ou mesmo de uma pessoa, com suas características de formas, cores, luzes, sons e imagens, ele estará levando o leitor a uma viagem imaginária através da descrição. Um estilo literário muito usado nos romances. Por outro lado, se o escritor só tiver a intenção de contar um ou mais acontecimentos, pode ser reais ou imaginários, envolvendo pessoas, fatos, lugares, ele estará escrevendo um texto narrativo, ou seja, uma crônica. O habito de narrar histórias é tão antiga quanto à humanidade, um fato inseparável da nossa vida diária. Sempre temos alguma coisa para contar ou escrever sobre nossa história particular.

Para sermos capazes de ler e interpretar sentimentos humanos descritos em linguagem humana precisamos ler como seres humanos plenamente compenetrado na história. O hábito da leitura se justifica por uma razão muito simples. Na vida real, não temos condições de conhecer tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de pessoas ou de nós mesmos, mas das coisas da vida. Contudo, o escritor é como uma vela acesa pelo afeto e pelo gosto de toda a humanidade. O povo que é, e não as universidades, o lar do escritor. Como disse o escritor, poeta e filósofo americano, Ralph Waldo Emerson (1803-1882): “os melhores livros levam-nos à convicção de que a natureza que escreveu é a mesma que lê”.

Somos mais do que uma ideologia, sejam quais forem as nossas convicções, ela representa o nosso ideal de vida. Quando a gente chega aos sessenta anos, não se deseja ler mal, assim como não se deseja viver mal, pois o tempo é implacável. Entretanto, o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), considerado o maior escritor do idioma inglês, nos lê mais plenamente do que nós o lemos. Autor algum exerceu controle da narrativa como ele o fez, o que desafia qualquer contextualização imposta às suas peças. Ao ler a sua obra é que percebemos os atributos desse grande poeta e dramaturgo. Podemos dizer que Shakespeare, escrevia sobre os conflitos de gerações com autoridade e conhecimento, muito mais de que qualquer outro escritor de sua época. Falava das diferenças entre homens e mulheres, de conflitos que abalavam as famílias tradicionais. Entre suas obras mais conhecida estão a história de amor de Romeu e Julieta, filhos de famílias diferentes que se odiavam. A ironia desse escritor é a mais abrangente e dialética de toda literatura ocidental. No entanto, essa ironia nem sempre nos promove a meditação das paixões dos personagens, de tão vasta e intensa que é a gama de emoções demonstradas nos seus textos.

Portanto, o escritor é aquele personagem que escreve com o intuito de se dirigir à liberdade dos leitores, e a solicita para fazer existir a sua obra. Mas não se limita a isso e exige também que eles retribuam essa confiança neles depositada, que reconheçam a liberdade criadora do escritor. Porém, existe por trás dos diversos desígnios dos escritores, uma escolha mais profunda e mais imediata, que é comum a todos. Cada uma de suas percepções é acompanhada da consciência de que a realidade humana é desvendável. Sobretudo, ao encontrar com uma paisagem e descrevê-la, em forma de crônica ou conto, o escritor sabe perfeitamente que não é ele que está criando. Mas, também sabe que sem a presença dele, as relações que se estabelecem diante dos seus olhos entre as árvores, os pássaros, os rios, as montanhas, ou mesmo nos grandes centros urbanos, observando pessoas em ritmo alucinante e automatizado. Em absoluto essas coisas não existiriam para nós, sem o olhar atento do escritor. Contudo, o prazer de ler um texto é tentar entender como o autor construiu aquela narrativa que nos fez emocionar. É fascinante a figura do escritor por ser esse sujeito que fica observando as coisas, um pouco fora dos acontecimentos, com uma capacidade de refletir sobre elas e transformá-las em suas crônicas.

1 de junho de 2013

AS DIFERENÇAS SEMÂNTICAS DO AMOR

Começo essa reflexão citando o escritor, semiólogo, crítico literário e filósofo francês, Roland Barthes (1915-1980): “Apesar de que todo amor é vivido como único e que o sujeito rejeite a ideia de repeti-lo mais tarde em outro lugar, às vezes ele surpreende em si mesmo uma espécie de difusão do desejo amoroso, ele compreende então que está condenado a errar até a morte, de amor em amor”. Quero dizer que foi intencional usar o vocábulo semântico por mais paradoxal que seja a palavra paixão e amor, necessita de uma compreensão a luz da linguística e da fisiologia. Tendo em vista, que a semântica é o estudo do significado das palavras individualmente aplicadas a um contexto e com influência de outras palavras. No caso aqui tratado, referimos à paixão e amor. Conhecer o significado das palavras é importante, pois só assim o falante ou escritor será capaz de selecionar a palavra certa para construir a sua mensagem. Vamos entender o que significa um e outro.

Segundo o biólogo, fisiologista e educador Miguel Arcanjo Áreas, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp: A paixão é uma questão sensorial, por isso ela explode e acaba rapidamente. De forma lúdica argumenta Áreas sobre as substâncias mobilizadas no corpo humano, quando as pessoas se apaixonam, amam e se relacionam sexualmente. Está comprovado que a gente se apaixona por uma imagem que formamos ao longo do tempo. Quando uma pessoa parecida com esse padrão que criamos passa por nossa vida, apaixonamo-nos por ela. Ora, então o que leva a gente a se apaixonar? Para o biólogo Áreas são duas substâncias: feniletilamina e serotonina. Estas substâncias são hormônios produzidos pelo corpo no cérebro, cujos níveis variam de acordo com a presença da pessoa que é objeto da paixão. Por conseguinte, o amor por sua vez é conduzido pelos hormônios dopamina, ocitocina e vasopressina. Estas substâncias são liberadas por estímulos dos quais não temos controle. Somos refém do amor. O amor transcende o sensorial. Já o comportamento sexual envolve todos os sentidos, além da expressão corporal e da história de vida dos amantes, por isso o sexo é pessoal, depende unicamente de cada envolvido. 

Como disse Platão (427-347 a.C.), sobre o prazer e a dor: “Procure-se um deles e estaremos sujeitos quase sempre a encontrar também o outro”. É nas relações afetivas que essa combinação paradoxal nos surpreende e fere, acima de qualquer sensação física. No envolvimento passional as impressões subjetivas superam a racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no coração, mas distinguem-se no cérebro. Sabemos exatamente o que sentimos, só não sabemos os porquês. Pode-se dizer que no porque e no apesar estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão.

Na paixão, está o principio da dor; no amor, está o princípio do prazer. Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão vem à posse, o ciúme, a cobrança. Tudo nos leva a pensar e pautar nossa vida na insegurança, uma vida de dor. A autenticidade da paixão está no conflito que ela gera em torno dos envolvidos. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a lealdade, formas de amar que poucas pessoas reconhecem. Viver no amor é ter prazer de estar vivo. Nenhum relacionamento sobrevive sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento, ou seja, atributo da passionalidade insensata. Mas, da razão, da lucidez, atributos esses para a maturidade racional.

Entretanto, a medicina diagnosticou a morbidez passional, atribuindo os estados de depressão e euforia a uma endorfina produzida pelo cérebro. Cientificamente já se provou que o chocolate, além de engordar, engrossar o sangue, ele é um lenitivo dos apaixonados frustrados, afirmam os estudiosos da saúde, que o chocolate ao ser metabolizado no organismo, estimula a química cerebral, provocando uma sensação de prazer semelhante à que produziria a presença da pessoa amada. Na falta do objeto de desejo, no caso aqui exposto, a pessoa amada, buscamos algum outro tipo de prazer que substitua esse objeto de desejo. O chocolate funciona nesses casos, evidentemente, como um atenuante da ansiedade, um tipo de moderador dos desejos mórbidos.

Nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e repelem-se, para negar e consentir, ou seja, no trânsito entre o amor e o não amor está a simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não ódio está a indiferença. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais, familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo, mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela mentira, pelo desprezo, pelo egoísmo.

Segundo o filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677), compreendeu que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: “a que tipo de objeto está preso pelo amor?” Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Esse amor centrado no egoísmo chama-se paixão, que facilmente é confundida com o amor. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas. Está na nossa capacidade de descentrar-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em troca. Ao dar amor colocamos a prova nossa força, a expressão de nossa vitalidade. No amor damos aquilo que temos de vivo em nós que é: a alegria, o interesse pela vida, a compreensão, o bom humor, o conhecimento e até as nossas tristezas e angústias.

Portanto, amar é preservar a identidade e a diferença do outro, sem perder a sua. É estar comprometido com a realização do outro, é querer seu bem. O amor é uma força de aproximação, aconchego, envolvimento e responsabilidade. Essa força dinamiza a vida que existe em cada um de nós. Derruba fronteiras, estabelece contatos verdadeiros e partilha solidariedade. Ser amoroso está na essência, é uma característica da personalidade do ser humano. Pressupõe toda uma vivência desde o seio materno. Só quem recebeu amor é capaz de amar sem medo. Contudo, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...