24 de agosto de 2015

A ORIGEM, EDUCAÇÃO E TRABALHO

Um dia o homem por acaso descobriu que poderia colher do que plantasse. Iniciou-se a era da agricultura, que foi a atividade principal por mais ou menos sete mil anos. Foi um período que prevalecia o modo de produção comum a todos, que o filósofo e educador Dermeval Saviani (1943), chama de “comunismo primitivo”. Não havia divisão de classes. Tudo era feito em comum: os homens produziam sua existência em comum e se educavam neste processo. Lidando com a terra, lidando com a natureza, se relacionando uns com os outros, os homens se educavam e educavam as novas gerações. Na medida em que ele se fixa na terra, que era considerado o principal meio de produção, de repente surge à propriedade privada. A apropriação privada da terra divide os homens em classes.  

Temos então a classe dos proprietários e a classe dos não proprietários. O fato de uma parte dos homens se apropriarem privativamente da terra, da a eles a condição de poder sobreviver sem trabalhar. Com efeito, os não proprietários que trabalhavam a terra assumem o encargo de manter a si próprios e aos senhores. Nesse sentido, surge uma classe ociosa, ou seja, uma classe que não precisa trabalhar para viver: ela vive do trabalho alheio. No comunismo primitivo, a educação coincidia inteiramente com o próprio processo de trabalho, a partir do advento da sociedade de classes, com o aparecimento de uma classe que não precisava trabalhar para viver, surge à educação diferenciada. É aqui que está localizada a origem da escola. A palavra escola em grego significa o lugar do “ócio”. Portanto, a escola era o lugar a que tinham acesso as classes ociosas. A classe dominante, a classe dos proprietários, tinha uma educação diferenciada que era a educação escolar.

Por contraposição, a educação geral, isto é, a educação da maioria era o próprio trabalho. O povo se educava no próprio processo de trabalho. Era o aprender fazendo. Aprendia lidando com a realidade, aprendia agindo sobre a matéria, transformando-a. Já a forma como a classe proprietária ocupava o seu ócio é que constituía seu tipo especifico de educação. Não só a palavra escola tem origem grega, como também a palavra ginásio, que era o local dos jogos que eram praticados pelos que dispunham de ócio. A origem da palavra ginástica é a mesma da palavra ginásio: exercícios físicos como lazer. A ginástica dos que tinham que trabalhar era o próprio trabalho, isto é, o trabalho manual, o manuseio físico da matéria, dos objetos, da realidade, e da natureza.

Entretanto, essa situação tendeu a se alterar a partir da década de 60 com o surgimento da “teoria do capital humano”, segundo Dermeval Saviani. A educação passa a ser entendida como algo não meramente ornamental, mas decisivo para o desenvolvimento econômico. Postula-se, assim, uma estreita ligação entre educação e trabalho; isto é, considera-se que a educação potencializa trabalho. Essa perspectiva está presente também nos críticos da “teoria do capital humano”, uma vez que consideram que a educação é funcional ao sistema capitalista, não apenas ideologicamente, mas também economicamente, enquanto qualificadora da mão de obra, ou seja, força de trabalho. Na Idade Média as escolas eram destinadas à educação da classe dominante. Ocupar o ócio com os estudos significava não precisar trabalhar. Ocupar o ócio com dignidade, segundo os princípios da época, é ocupá-lo com atividades consideradas nobres e não com atividades consideradas indignas. Essa expressão deriva da influência da igreja.

Em termos gerais, a concepção difusa parece ser aquela que contrapõe de modo excludente a ideia de educação e trabalho. Considerando a relação entre educação e escola. No entanto, a tendência dominante é a de situar a educação no âmbito do não ter que trabalhar. Como argumenta Dermeval Saviani, “daí o caráter improdutivo da educação, isto é, o seu entendimento como um bem de consumo, objeto de fruição”. No entanto, ao mesmo tempo em que a escola é desvalorizada, ela é hipertrofiada. Essa contradição atravessa o próprio interior da escola; pode-se dizer que existe essa tendência de se dar com uma mão e tirar com a outra. Ela amplia e se esvazia ao mesmo tempo. Estende-se, mas perde em substância. Coloca-se dentro da escola toda uma série de atividades que acabam descaracterizando-a.

Portanto, já que a forma escolar é a forma dominante e a escola vive este paradoxo, como situar o papel que a educação deve assumir na nossa época, na história presente, na história que, de algum modo, estamos fazendo? Por que há uma grande dificuldade da gestão escolar na hora de propor um projeto pedagógico junto ao seu corpo docente? Por que o professor não consegue assimilar a sua importância na formação do aluno e na pratica do seu trabalho, sem sair do efêmero? Por conseguinte, esse profissional da educação fala e reproduz o modelo vigente do momento. No entanto, para uma classe política, o trabalho intelectual do professor não tem valor. Hoje se coloca dentro da escola toda uma série de atividades que acabam minimizando o seu trabalho. Parece que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, instruir. É tanta burocracia que envolve o professor, que acaba esvaziando o conteúdo específico que ele deveria trabalhar. Contudo, descaracteriza o seu real papel de mestre. É triste constatar que na sociedade o trabalho intelectual não é valorizado, somente o trabalho escravo.    

17 de agosto de 2015

PAULO FREIRE, EDUCADOR POR EXCELÊNCIA

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife em 1921, e durante sua infância vivenciou a fome e a pobreza. Lembrando que ele revelou-se um dos maiores educadores do mundo, com significativo reconhecimento internacional, mais do que consolidar uma metodologia, mais do que um jeito de ensinar, concretizou um jeito de aprender. Comprometido com os mais pobres, caminhou na busca permanente de justiça e igualdade para crianças, jovens e adultos de nosso país. No nordeste do Brasil iniciou sua atuação primeiramente junto ao Serviço Social de Indústria. Esta experiência, reconhecida por ele como um tempo fundante, foi especial para que, junto com os outros importantes educadores, trilhassem os rumos que consolidariam no Brasil os princípios que até hoje norteiam a educação popular.

No estado do Rio Grande do Norte, durante os processos de implantação de turmas de alfabetização de jovens e adultos, fez nascer os Círculos de Cultura, que eram mais do que espaço para a leitura das palavras. Eram o lugar de ler o mundo, onde a conscientização do sujeito e a busca pela igualdade eram o principal conteúdo aprendido. As palavras geradoras lidas no cotidiano compunham o repertório cultural daqueles grupos que em casas, igrejas e ruas conquistavam o direito de ler e escrever.

A plena atuação no nordeste resultou em um convite feito pelo então Presidente da República, João Goulart em 1963, para que Freire fosse secretário nacional de alfabetização, com o intuito de pensar e implantar um Plano Nacional de Alfabetização para o Brasil. Porém, impedido pelo Golpe Militar de 1964, a grande experiência de educação popular, que ganharia repercussão em todo o Brasil, não saiu do papel. Acredita-se que, se Freire não fosse interrompido, hoje em nosso país não teríamos 14 milhões de analfabetos absolutos e um pouco mais de 35 milhões de brasileiros em situação de analfabetismo funcional. Dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

Paulo Freire foi preso e posteriormente exilado. Percorreu o mundo com sua amorosidade e sua plena capacidade de aprender com as pessoas e suas culturas. Neste período dedicou-se a estudos, palestras, consultorias, produção de livros, que, ao longo de sua trajetória e até hoje, continuam sendo fonte de inspiração e estudo para educadores e professores de diferentes lugares do mundo. Entretanto, em 1980 Freire retornou ao Brasil e, em 1986, tornou-se secretário de educação na cidade de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. A experiência na gestão municipal possibilitou a Freire a concretização de várias ações como a Implantação do Movimento de Alfabetização de Adultos (MOVA), posteriormente adotado como ação educacional por outras prefeituras.

Como princípios de sua atuação, Freire destacou a importância do diálogo, caracterizando-o como uma atitude de amor, humildade e capacidade de ter fé nas pessoas, no poder de criação e recriação do ser humano. Para ele não havia educação neutra, pois este é um ato político que visa à superação da consciência ingênua, substituindo-a pela consciência crítica, reforçando a ideia de que as pessoas são responsáveis pela construção e reconstrução da realidade em que estão inseridas.

No entanto, seus escritos, assim como suas ações, foram dedicados a pensar o ato pedagógico e contribuir para a formação de educadores e professores, para os quais despendeu muita atenção. Traçava o educador como um animador cultural que, ao reconhecer a realidade de seus alunos e de sua comunidade, promove a ação cultural e a educação como um grande encontro de saberes.

Portanto, até hoje o reconhecimento e a influência das ideias deste educador e filósofo perpassam as teorias educacionais e as práticas diárias em salas de aula de todos os cantos. Ele continua sendo um educador que está ao lado daqueles comprometidos com uma educação plena de princípios que promovam a igualdade no respeito à diversidade. Contudo, Paulo Freire levou consigo, em 1997, aos 75 anos, o gosto de viver, deixando conosco a utopia e a esperança generosa de uma educação libertadora que se faz e se renova cotidianamente por todos nós.  

15 de agosto de 2015

NOS PRIMÓRDIOS DA FILOSOFIA

Há algo de estranho e admirável no mundo. Pensar, por exemplo, que tudo poderia simplesmente não existir, ou que sequer sabemos o que somos, para onde vamos e qual o sentido de tudo isto. Para o filósofo e educador Sérgio Augusto Sardi (PUCRS), “pode até causar vertigens, pois são decisivas as muitas perguntas que surgem quando indagamos o sentido último de tudo o que nos cerca”. Parece que começa aqui uma singular experiência do pensamento, a filosofia, caminho trilhado desde a Grécia Antiga, ou ainda antes. Mas, além de um começo na história, esse despertar está em cada um que vivencia a mudança de percepção da realidade que as questões filosóficas evocam. Assim como os gregos, um dia começamos a refletir sobre os mitos que narram às origens, os porquês e a finalidade de tudo. Como eles, passamos a estranhar aquilo que pensávamos ser trivial, a duvidar do óbvio e a buscar as razões das nossas perguntas e respostas.

Na verdade, qual o problema que moveu os primeiros filósofos? Eles se deram conta de algo surpreendente: tudo muda, tudo está constantemente deixando de ser o que era para vir a ser outra coisa. Nada permanece igual, sequer eu, ou você! Eis que surge o outro lado da questão: se tudo está em transformação, como é possível que o mundo, ou cada um de nós, continue a ser, de certo modo, o mesmo? Deve haver algo, pensaram os gregos, que permanece idêntico, no fundo de tudo o que se transforma. Um princípio de estabilidade e unidade, apesar da multiplicidade e da mutação incessante de todas as coisas.

Tales de Mileto (624-558 a. C.) e Anaxímenes (585-524 a.C.) buscaram esse princípio no âmbito do visível. Julgaram ser algum tipo de matéria, como a água, ou o ar, que se transformaria naquilo que observamos na natureza, podendo voltar a ser o que era. Porém, outro pensador, Heráclito (535-475 a.C.), seguiu um caminho diverso, propondo que a ordem do mundo estava no próprio vir a ser contínuo de todas as coisas. Seria preciso ir além, e filósofos como Pitágoras (570-497 a.C.) e Parmênides (530-460 a.C.), dentre outros, pensaram a estabilidade e a unidade do mundo a partir do invisível, chegando aos números e ao "Ser" como princípios. Inauguraram, com isso, outro problema: o das relações entre conhecimento e realidade. A busca prosseguiu com Demócrito (460-370 a.C.) e Leucipo (séc V a.C.), que conceberam partículas indivisíveis, os átomos, a sustentar a existência do mundo, uma ideia bastante familiar aos dias atuais.

Entretanto, algo começou a mudar quando Sócrates (469-399 a.C.), nas ruas de Atenas, passou a interrogar aqueles que diziam conhecer a verdade, até que se dessem conta de que, no fundo, não a conheciam. Ele mesmo dizia saber apenas que nada sabia. Livre de preconceito, cada um poderia fazer nascer, em sua interioridade, novas ideias. Pois só começamos a filosofar quando percebemos que somos aprendizes do aprender, e passamos a pensar sobre como pensamos. Com Sócrates, foi o próprio homem o motivo de admiração e reflexão filosófica.

Platão (427-347 a.C.) retratou, em diálogos, este método de educação de Sócrates, “a maiêutica”, assim como sua vida. Em “O Banquete”, disse que a sabedoria não pertence ao ser humano, pois é algo divino, mas é preciso continuar a buscá-la, ser “amigo da sabedoria”, ou seja, filósofo. Sócrates se voltou contra os sofistas, que para tanto, buscavam iludir, distorcendo argumentos. Assim, Platão passou a sua vida buscando distinguir as aparências da realidade. Mas, para isso, precisou refletir sobre a totalidade do mundo e do conhecimento humano.

Portanto, Platão e seu discípulo Aristóteles (384-322 a.C.), conceberam o mundo como um “sistema”, algo como uma pirâmide de ideias ou conceitos, onde no topo ou princípio, deveriam estar aqueles que abrangessem a realidade como um todo, conferindo unidade e estabilidade ao real. Na base, as coisas múltiplas e mutáveis que nos cercam. Discordam, porém, sobre a relação entre essas ideias e o mundo. Aristóteles vai além, desenvolvendo a lógica e os fundamentos das ciências, como, por exemplo, a “física”. De fato, o mundo atual seria impensável sem o legado destes pensadores.

9 de agosto de 2015

O QUE É SER PAI

Os filhos são diferentes, cada um assimila de um jeito. Uns aceitam todos os ensinamentos, as exigências impostas pela sociedade. Outros se rebelam e não aceitam padrões impostos. Adotam comportamento totalmente contrário. Há filhos que dependem em tudo dos outros, não resolvem nada sozinho. Há outros que fazem o que vem à mente, sem medir as consequências, sem ligar para ninguém, pisando na sensibilidade alheia, se isso for necessário para conseguir alguma vantagem.

Aos pais compete orientar os filhos, mas sem dominá-los, permitir que dêem suas cabeçadas, mais sem perder a cabeça. Há um ditado popular que diz que é errando que se aprende. Não o erro pelo erro, mas pelo algo de melhor que se pode tirar dele, ensinando que é preciso também ter a coragem de se levantar após uma queda, de tentar quantas vezes forem necessárias até acertar. Porque é melhor errar uma, duas, três vezes até acertar, do que acertar sempre pela opinião dos outros. É melhor ser criticado por estar fazendo alguma coisa, do que por não fazer nada. Não há limite para que nós, pais, falarmos e orientarmos os filhos. Deve ser sempre, isto é, enquanto estivermos vivos e conscientes dos deveres de pais.

Os pais tornam-se colaboradores da obra do criador, são os seus primeiros e fundamentais catequistas. Devemos pedir sempre a Deus que nos de força e ajuda para que cumpramos bem a missão de sermos pais, porque não é fácil sozinho. Tem que assumir as responsabilidades, compartilhar com os filhos os cuidados, para que se sintam amados. Participar do seu crescimento. Vibrar com seu primeiro sorriso, com seu primeiro passo. Ajudar os filhos nas lições da escola, ensinando a pensar, estudar, pesquisar e gostar dos estudos. Feliz com o primeiro sucesso, pela primeira namorada e, com ela, pelo namorado.

Estimular para não desistir quando surgirem os primeiros obstáculos. Acreditar nos filhos e dar condições para que eles desenvolvam a sua independência, sua autonomia e segurança. Ajudá-los a superar as frustrações sendo seu melhor amigo. Colocar no coração de seus filhos a semente de quem é Deus e seus ensinamentos, ajudando-o para que essa semente possa encontrar um terreno fértil para nascer, crescer e frutificar, gerar uma vida feliz com amor. Que todos os pais tenham isso em mente para que o mundo possa ser melhor.

Penso que uma família que se ama, que vivem como cristãos, numa convivência sadia, com serenidade, vendo os filhos crescerem com uma mente tranquila, com boa orientação no que diz respeito ao próximo, que só se faz dentro do lar onde haja amor, harmonia e união, que são valores sagrados. Nossos filhos não irão aprender a amar na escola, junto aos colegas, nem na televisão e muito menos nas redes sociais. Aprenderão em casa, se os pais se amarem verdadeiramente, porque amor se ensina amando, e eles então, conhecerão o amor de verdade.

Os filhos que não conhecerem o amor no próprio lar, também não encontrão amor no futuro lar. Serão incapazes de vencer as crises, porque sem amor nunca estarão preparados para fazer um lar feliz. Eles podem ter sucessos profissionais, sociais, políticos, mas em casa, com os seus futuros filhos ou familiares, não terão união, afinidade, respeito, nem carinho; não vivem a paternidade de fato.

Ser pai é um dom de Deus, é seu maior presente dado ao homem. É a maior realização, a mais perfeita, a mais total, a única, eterna e magnífica que pode haver em sua vida. É uma benção que não tem comparação. É ser cooperador com Deus, porque também está criando, é o que existe de mais dignificante no homem, o maior de todo o tesouro do mundo, que é perecível, enquanto que para ele os filhos são eternos.

Portanto, segundo a mitologia grega, encontrar o pai tem a ver com o encontro do seu próprio caráter e do seu próprio destino. Acredita-se que o caráter seja herdado do pai, assim como para a psicanalise, a lei ou a censura é representada pela figura paterna. E da mãe herdamos a mente, o sofrimento, a resignação, talvez a culpa. Simbolicamente falando, o filho é um grande envelope que o pai manda para o futuro, e o pai é somente um selinho, que sem esse o grande envelope não vai à parte alguma. Contudo, a figura do pai serve como modelo de comportamento para o menino e também permite que a menina conheça e compreenda o universo masculino.    

7 de agosto de 2015

EDUCAÇÃO, UM OLHAR CONSTRUTIVISTA

Pode haver uma educação construtivista? E a resposta é a princípio: não e sim. Não, porque o construtivismo não é uma teoria pedagógica. Não é um conjunto de normas e princípios a serem seguidos pelos educadores e pelos dirigentes de educação nem uma metodologia a mais ou menos, igualmente eficaz em relação às outras. O construtivismo é antes de tudo uma teoria epistemológica. Bom, mais aí é preciso explicar estes dois termos. O que é uma teoria e o que é epistemologia?

Teoria é uma tentativa de explicação da realidade. Não é absoluta. É sempre uma tentativa. Mas também não é uma receita de como atuar na prática. A teoria é sempre prática e não prática. Ela é feita na prática e a partir da prática e se constitui numa reflexão sobre esta prática, assim como qualquer prática que se preze, também é feita na teoria e a partir da teoria. Portanto, o adágio “a teoria é uma e na prática é outra”, é falso.

E o que é epistemologia? Etimologicamente falando, significa o estudo da verdade. A tradução disso para nós é o estudo do conhecimento científico – que é o que nós ocidentais consideramos como conhecimento verdadeiro. Por conseguinte, tendo presente, o que é teoria e o que é epistemologia, podemos voltar a falar do construtivismo.

O construtivismo nasce dos estudos e descobertas a respeito da produção dos conhecimentos científicos de um suíço chamado Jean Piaget (1896-1980). É bom lembrar que Piaget não era educador e nem psicólogo. Era biólogo que, como cientista, interessava-se pelas questões gerais da ciência. Ele chegou à conclusão de que para se entender como o ser humano produz o conhecimento científico, era preciso pesquisar como é possível o cientista conhecer. E falar-se do cientista enquanto conhecedor é falar-se da pessoa humana, que se desenvolve e que, portanto, começa a conhecer muito antes de começar a fazer pesquisas científicas. Começa a conhecer ainda quando criança.

Por isso Piaget passou a buscar compreender os mecanismos de aquisição de conhecimentos, que ocorrem durante toda a vida. Foi a partir de suas reflexões e de suas experiências com crianças que chegou à conclusão de que o ser humano constrói seu conhecimento. Ou seja, o conhecimento não se da devido a uma capacidade inata, determinada pela carga genética das pessoas, nem é um resultado direto da ação do meio exterior sobre o sujeito. O ser humano constrói o conhecimento a partir de sua interação com seu meio. Meio este entendido como físico e social.

Como se pode dizer isso de um modo mais claro? O conhecimento é fruto de uma relação. E relação nunca tem um sentido só. Tome-se, por exemplo, uma relação de amizade. João não é amigo de Pedro; sem Pedro ser amigo de João. A amizade só existe quando os dois têm amizade recíproca um para com o outro. Portanto, a amizade não está nem no Pedro, nem no João, mas na relação que existe entre os dois.

Assim é o conhecimento. Ele só acontece na medida em que o sujeito age sobre o objeto de conhecimento (que pode ser uma coisa, uma ideia ou uma pessoa) e sofre uma ação deste objeto, ação esta que pode ser na forma de uma resistência do objeto à ação do sujeito. Esta ação é, no caso da criança pequena, a ação prática de mexer nos objetos. Já em crianças maiores, adolescentes e adultos, esta ação passa a ser também o fato de raciocinar, duvidar, comparar. Trata-se, neste caso, de ações mentais. E tem mais. O conhecimento objetivo só acontece quando o sujeito enfrenta varias situações diferenciadas de interação com o seu meio – não somente com o objeto que ele quer conhecer.

Quando o professor passa a ter esta compreensão do ato de conhecer do aluno, sua postura diante do fato educativo passa a ser completamente diferente. Falo aqui da postura frente ao aluno, ao currículo, à avaliação, às metodologias, aos erros cometidos pelos alunos. Por conseguinte, é por aí que se pode ver a relação entre o construtivismo e a educação, pois uma prática pedagógica feita a partir desta compreensão da realidade do conhecimento fica redimensionada em todos os sentidos.

Portanto, é por isso que a resposta a pergunta colocada no inicio desta reflexão também pode ser sim, pois os reflexos de uma postura construtivista por parte do professor na sua prática educativa são muito grandes, ainda que não esteja no construtivismo a solução de todos os problemas da nossa educação brasileira. Contudo, viver é não ter vergonha de construir a felicidade e semear educação para assim, colher cidadania.  

1 de agosto de 2015

A EXISTÊNCIA HUMANA EM QUESTÃO

Biologicamente a gente compreende a vida em nascer e morrer. Mas, se quiser pensar filosoficamente, nós aparecemos e desaparecemos. Nós aparecemos nesse mundo e não sabemos muito bem como, por mais que se estude do ponto de vista mecanicista. Mas, no fundo não deixa de ser uma aparição. Uma hora vamos desaparecer e não temos a certeza para onde vamos. Existir por si só é algo misterioso. Afinal, quem somos nós? Qual o sentido da nossa vida? O que significa dizer que somos livres? Até que ponto podemos conhecer a realidade? Eis aqui a nossa própria existência em questão.

Pois tais interrogações, dentre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter das nossas vidas, como das nossas relações com os outros, e afetam a nossa visão do mundo, se paramos para pensar. Só faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não sabemos algo. E isso nos põe em condições de aprender. Pois o “óbvio” não será apenas aquilo em que paramos de pensar, ou repetimos sem pensar?

Por isso, dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria. E aquele que é amigo, que ama a sabedoria, sabe que a cada encontro de uma ideia surge um novo ponto de partida, e que ela não está nunca acabada. A filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação no olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar um certo “estranhamento” frente a realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente já sabidas. Há, aqui, uma atitude, onde o pensar é desafiado a ir além de si mesmo. Ante essa atitude, que assume a própria “perplexidade” e “admiração” como ponto de partida, a filosofia é um convite ao diálogo.

Dialogar envolve um aprendizado de escuta do outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. Em um diálogo não disputamos ideias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de ver e abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as ideias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho.

O filosofar tece, assim, a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Surge assim um convite a pensar naquilo que é, ainda, não pensado, a ir ao encontro dos nossos próprios limites, condição de sua superação. Esse convite em direção ao alargamento de nossos horizontes de sentido põe em jogo, as nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o meio ambiente e com o conhecimento. O caminho, porém, é duplo, e um trabalho interior interage com as relações educativas que matemos com os demais. Pois a jornada de nossas vidas o faz simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser “Eu” com essa outra, a de sermos também “Nós”, na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana.

Portanto, se nos dispomos a buscar o sentido de nossas vidas, não deveremos tocar de algum modo, em seus mistérios? E isso não poderá tornar a vida ainda mais interessante? Contudo, para tanto enigma, só mesmo recorrendo ao poeta, filósofo e escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), o poema “Tabacaria”: “Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos. Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?  

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...