5 de setembro de 2012

O MITO DA PERFEIÇÃO HUMANA

Estamos sempre buscando a perfeição em tudo que fazemos. Achamos que sempre há margem para o aperfeiçoamento, tendo em vista que a perfeição não é um atributo humano. Mas ela está na natureza das coisas. A perfeição caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais em hipótese alguma.

A perfeição seria o vazio, se a perfeição for realmente à ausência de erros e defeitos, ela é sinceramente algo desprezível, sobretudo, porque vamos fazer os nossos erros parecerem certos e, não há como julgar, pois, tudo é extremamente relativo, existem pessoas que dizem se empenhar na busca da perfeição, todavia, é um caminho no qual você se machuca a troco de nada, porque onde não há erros e nem possui defeitos, é algo pelo qual não vale à pena. As pessoas são feitas de suas escolhas e, o certo e o errado são apenas uma questão de ponto de vista, se não fossem os defeitos, não existiriam as qualidades e, consequentemente, não existiria a perfeição. No entanto, nessa linha de raciocínio, a perfeição é o vazio, o que mais o ser humano teme.

Platão foi discípulo de Sócrates, e um grande venerador da perfeição. Criou o “mundo das idéias”, que ele afirmava já ter sido habitado pelas almas, antes de caírem neste mundo material, só não explicou por qual motivo. Assim, o corpo passou a ser “cárcere” da alma, algo como um estorvo, cuja única função seria a de nos purificar das imperfeições. No “mundo das idéias”, está à essência da perfeição, que manifesta sob diversos conceitos. Nessas idéias, o mundo material é visto como que réplicas imperfeitas, um mundo de aparências. Cada ser tem por modelo uma idéia, que o supera de muitos, que o torna diferente e único. Assim, a busca do melhor seria à volta aquela única realidade verdadeira e inatingível, desligar deste mundo de imperfeições e fraquezas. Todo ser humano sente saudades do que já foi um dia e não é mais. De certa forma, essa teoria vai coincidir com a história da humanidade, colocada pela religião quando faz referência ao paraíso de Adão e Eva.
  
Vivemos criando regras e normas para tudo aquilo que fazemos a título de nos aproximarmos o mais que puder da perfeição. Seria um atrevimento sem precedente tentar estabelecer normas ou regras de comportamento nos relacionamentos afetivos. É interessante perguntar as pessoas, principalmente às casadas o quanto de energia psicológica está sendo consumida por homens e mulheres que tentam viver em seus casamentos atrás de uma máscara, quase sempre recheada de intrigas, crueldades e ciúmes.

Quantos casais se unem levados pela chama ardente do amor que nasce do fundo da alma, se adoram e até acreditam que nada e ninguém podem separá-los. Quando menos esperam são traídos pelo inimigo secreto, o ego, essa legião de agregados psicológicos que destrói a beleza do amor puro e inocente. Essa é a conseqüência da saída do Jardim do Éden espiritual, terrível seqüela deixada para nós humanos por conta do mito da perfeição, tornando-se explicito a nossa imperfeição.

Nós estamos acostumados a ver o mundo de forma desordenada, de forma restrita e selecionada. Depois de certa idade não ficamos muito mais exposto ao sol para não queimar o rosto e envelhecer a nossa pele. Procuramos esconder as feições e as marcas da pele. Tudo que é desordem, esteticamente falando, causa revolução interior, seja ela tardia ou prematura.

Temos uma tendência ao perfeccionismo, que pode se arrastar por tudo que fazemos. Substituímos o relaxamento pela ansiedade e a satisfação pelo descontentamento quando algo não sai perfeito como desejamos ou queremos. Todavia, deveríamos saber que a perfeição verdadeira não é algo que atingimos. Pois ela é um estado que floresce espontaneamente. Eu diria um senso de plenitude e de unidade que vem do coração.

Entretanto, os textos yóguicos nos falam que tudo no mundo surge a partir da energia que está contida dentro do shakti, que é uma energia plena, completa e perfeita que está presente em todas as formas de pensamentos e estados do Ser. Contudo, contrasta com a nossa idéia ordinária de perfeição. Nos nossos discursos diários procuramos o perfeito, que significa sem defeito. Tendo em vista, que a perfeição é um objetivo humano e não um presente genético. Vivemos em uma sociedade em que a mídia escrita e televisava, insiste que podemos e devemos pagar o preço para atingir a perfeição. Quando não conseguimos fazer as coisas perfeitamente como cobramos de nós mesmos, logo pensamos que deve haver algo errado conosco ou com o mundo em que vivemos. A ironia é que o nosso ideal de perfeição surge da necessidade do nosso ego de explicar e controlar tudo a nossa volta. Contudo, inevitavelmente nos mantém distante da experiência da perfeição e com isso sentimos medo de falhar e não ser aceito. Somos o tempo todo, julgados e controlados por todos, não porque acham que estão certos, mas por medo de não estarem certos. A perfeição está dentro de cada ser humano, naquilo que ele está buscando. Mas o medo da imperfeição e de falhar nas suas circunstâncias particulares é o que faz ser rigoroso consigo mesmo.

Portanto, a perfeição é algo que nunca vamos alcançar e que também, naturalmente nunca vamos desistir de buscá-la. Talvez porque não aceitamos nossa condição de ser humano, com todos os defeitos e falhas, que nos é peculiar. Nossa maior imperfeição é o de criticar o outro, porque é nele que projetamos nossas fraquezas. Esquecemos das nossas qualidades, que aos olhos de muita gente boa, torna-se um modelo diferente de perfeição, baseado no que cada um tem de melhor para oferecer.     

3 comentários:

  1. Marina Lantieri00:54

    Perfeito, só DEUS. Todo ser humano tem defeitos. Quem acha que é perfeito não passa de um lunático.

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    1. Anônimo16:39

      Existem humanos com muito menos defeitos, o que coloca como quase perfeito, único "quase" que significa alguma coisa.

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  2. O Ser Humano é perfeito na sua Imperfeição.

    O conceito dialético de perfeição é utópico posto que o seu alcance se consubstancia a partir de uma argumentação do presente, postergada para um futuro desconhecido.

    Aperfeiçoar talvez se o verbo que mais se aproxime do conceito de Pefeição, posto que a sua essência está no fato de buscar e lapidar um estado, uma situação, uma forma material ou espiritual a partir de tentativas de melhorar, prover qualidades cada vez mais superiores a tudo o que existe.

    A busca de uma explicação efetiva para a Perfeição, é parte da própria cultura humana que independente de Fé, Religião, Credo, e ou Condição intelectual sempre se constituirá na corrida do Homem atrás de si mesmo seja olhando para o seu passado ou vislumbrando um Futuro que se faz infinito.


    Fraternalmente
    NEWTON AGRELLA



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