30 de março de 2011

O QUE É A VERDADE?

      Quando perguntamos o que é a verdade, está implícito que seja tudo aquilo que posso comprovar ou verificar. Isto é, a verdade é a representação fiel de alguma coisa existente na natureza. É a qualidade pela qual as coisas se apresentam como são. Para o filósofo grego Aristóteles, a verdade é a harmonia total ou parcial, entre o meu pensamento subjetivo e a realidade objetiva, existe uma completa identificação do sujeito com o objeto.

      Segundo a filósofa Marilena Chauí, a idéia de verdade foi construída ao logo dos séculos, com base em três concepções diferentes, vindas da língua grega, do latim e do hebraico. A palavra verdade do grego alétheia, quer dizer: “o não esquecido, não escondido, não dissimulado”. Todavia, a verdade é o que vemos numa contemplação ou o que se mostra aos nossos olhos. Verdade em latim, veritas quer dizer: “precisão ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes pormenores e fidelidade o que realmente aconteceu”. Em hebraico, verdade quer dizer emunah, que significa: “confiança” está ligado à pessoa que cumpre o que promete e que é fiel a palavra dada ao pacto feito, que não traem a confiança. Por conseguinte, palavras como averiguar e verificar indicam buscar a verdade; veredicto é pronunciar um julgamento verdadeiro.

      Por outro lado, pergunta-se se a verdade tem valor objetivo e autônomo, ou se não passa de uma opinião subjetiva e heterônoma. A verdade, dizem os relativistas, não é uma norma fixa, espécie de monopólio, pelo qual eu deva orientar o meu espírito e a minha ética, mas é, antes de tudo, como um boneco ou fantoche que eu mesmo fabrico e manipulo como bem entendo, segundo as conveniências do momento. Se minha verdade for desfavorável aos meus interesses individuais, modifico-a até que se amolde aos meus gostos pessoais, aos interesses do meu grupo, da minha pátria ou da minha igreja.

      Neste último caso, a verdade deixa de ser livre e soberana, para se tornar escrava e servidora dos meus interesses. Deixa de ser uma verdade libertadora, pois ela mesma não é livre.

      A aceitação de uma verdade absoluta, por um lado, como acontece na religião, tem conseqüências graves. Por outro lado, existe uma adesão a uma verdade relativa, mais complexa ainda. Esse conflito em torno da verdade cavou um abismo invisível entre esses dois grupos em que se divide a humanidade em todos os tempos. Portanto, todos os bens e todos os males, no plano da moral e da ética, derivam da aceitação prática desta ou daquela filosofia sobre o caráter e a função da verdade. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Nesta frase lapidar contem uma profunda filosofia de vida, que pode amenizar esse conflito entre os povos. Ninguém tem a verdade, mas, todos buscam a verdade.         

29 de março de 2011

A IMPORTÂNCIA DO ABRAÇO

O fenômeno do abraço é muito desejado e pouco experimentado. Temos uma tendência a não dar importância ao contato físico como de fato ele é necessário. Dizem os especialistas que precisamos de seis abraços por dia para não nos sentirmos carentes. É através da estimulação da pele que tanto o homem quanto a mulher chegam ao relaxamento e o alivio do estresse. O contato físico fortalece o sistema imunológico. Esta harmonia entre duas almas e o contanto de duas epidermes, enfatiza com elegância uma verdade essencial que sempre negamos.

Algo especial acontece quando duas pessoas se tocam, porque a linguagem do tato é a linguagem inicial da vida. Por isso, devemos confiar nos impulsos e deixar os dedos estabelecerem uma gostosa conversa sobre a pele.

Uma química delicada se produz entre duas pessoas que se sentem atraídas uma pela outra. O encontro se faz quase sempre pelo olhar. Segue-se a participação da boca, primeiro em sorrisos, depois em palavras. Aí vai surgindo o desejo de tocar, de abraçar.

Nossos braços servem para abraçar, enlaçar. Só que cada abraço tem de ser sentido, vivido. Segundo o psiquiatra e escritor José Ângelo Gaiarsa, temos que tocar o outro sentindo de verdade esse contato, e não tocar como mera formalidade. Senão você está coisificando o outro. O outro é um ser humano de carne e osso, por isso o gesto não pode ser impensado, mecânico, automático. As pessoas estão cansadas dos gestos automáticos que não reflete nada.

Quando eu toco o outro, que está além das fronteiras do meu próprio corpo, o sinto tocando a minha consciência. Ao ser tocado, imediatamente desperta a consciência que tenho que essa pessoa está em mim. Nesse sentido, podemos ficar horas, nos tocando e nos sentindo. Mergulhando na sensação, percebendo o outro e nos percebendo nesse aconchego. Aqui não implica relação genital, é bom que se diga.

A primeira impressão de amor, que fica gravada indelevelmente no córtex cerebral da criança, vem do prazer de sugar. Associado à sucção vem o contato corporal, o calor que emana do corpo da mãe. A sensação de estar sendo abraçada.

A criança registra essa impressão na mente e vai pelo resto da vida tentando reconstituir, reencontrar essa sensação. Por isso o ser humano tem necessidade de contato físico, tem fome de abraço. Ele está tentando repetir o prazer que está associado a essa primeira experiência.

Assim como aprendemos a falar porque algumas pessoas falam conosco (vamos falar da forma como elas falaram), também aprendemos a tocar em grande parte dependendo da forma como fomos tocados. O aprendizado do amor começa aí. As sensações de mamar e amar ficam profundamente interligados e até inseparáveis na nossa mente.

O comer exageradamente torna-se uma forma de compensar a falta de amor. É quase certo que, quando estamos carentes, atacamos a geladeira, bebemos mais cerveja, tomamos mais sorvete, comemos mais chocolate que o habitual. Tudo aqui é exagerado. Entretanto, enquanto a fome de alimento podemos matar sozinhos com comida, cigarro ou álcool, a fome de contato dificilmente pode ser satisfeita sem outra pessoa. O que se quer é tocar o outro e se deixar tocar, mas não com um gesto vazio, automático.

Os gestos traduzem nossos sentimentos, nossas emoções, nossas intenções. Por isso, cada um tem uma função, um significado diferente, dependendo de onde se toca e da forma como se toca. Nesse caso pode distinguir carinho de carícia. Carinho é agrado, gesto de ternura, gesto que protege. Carícia é o gesto que excita, estimula e erotiza. São esses gestos que nos aproximam, nos vinculam ao outro. Entretanto, pode-se alisar abraçar, tocar de forma apressada, impensada, dissociada. Ou pode-se tocar sensualizando, erotizando cada movimento. Cada gesto traduz um sentimento, uma emoção, que provoca uma reação. Se o gesto é indiferente, não manifesta nada, não tem energia nem intenção, você congela o outro e se congela. Se ele for macio, terno, doce, você derrete o outro e se derrete. Se ele for erótico, excitante, estimulante, apaixonado, você incandesce o outro e se incandesce também.

Portanto, os dedos são antenas do corpo. É bom sondar, pesquisar, mergulhar, indo do superficial ao profundo, da periferia ao centro, do habitual ao diferente. Para a sexóloga e escritora Maria Helena Matarazzo, ninguém pode dizer que faz amor, pois o amor nunca se acaba, nunca se apresenta como coisa feita. Sempre há o que fazer e refazer.   

28 de março de 2011

AMOR E SEXUALIDADE

Para falar das dimensões psicológicas da sexualidade, é importante em primeiro lugar compreender o que quer dizer a palavra sexo. A palavra “sexo” vem do latim, “sectum” que traduzida etimologicamente para nossa língua quer dizer “dividido”, “parte”. O ser humano é sexo, isto é, um ser dividido, parte. Portanto, homem e mulher são metades. Uma metade mais outra metade fazem um inteiro. Daí o sentido do texto bíblico: Deixará o homem (pai e mãe) unir-se a sua esposa e serão dois numa só carne.
No entanto, toda parte tem uma função e um desejo. A função é completar a outra parte; e o desejo é ser completado pelo outro. Somente satisfaz o desejo quem cumprir primeiro a função. O sentido do amor no casal é o de amor doação. Decorre disso que a felicidade da mulher não é a preocupação dela, mas sim ocupação do homem e vice-versa. Estarão os dois cumprindo a função, conseguindo com isso satisfazer o desejo. Devido ao sentido amplo da palavra sexo, todas as relações entre um e outro sexo são obviamente, relações sexuais. Uma dessas é a relação genital. Por essa razão, se encaixará a relação genital. Entretanto, se todas as outras relações sexuais não forem satisfeitas (afeto, carinho, ternura) também não se encaixará a relação genital-sexo no sentido estrito da palavra.
O sexo, então, é complemento e consequência do afeto, entendido aqui como qualquer demonstração de amor sem contato de pele. Como disse a psicóloga Jereny Nasser: “A sexualidade é uma força vital que invade todo ser; é como um rio cujas águas poderosas energizam a personalidade. Mas, se esse rio for barrado, tiver seu curso impedido, fatalmente haverá alagamentos e surgirão desvios e bloqueios”.

A sexualidade é o coração da vida. Se seu desenvolvimento for lesado, todo desabrochar da personalidade será atingindo, e prejuízos nas diversas áreas se registrarão. Se admitirmos como premissa maior que a educação sexual é dada basicamente em casa, pelo exemplo dos pais, podemos concluir tranquilamente que sua adequação depende essencialmente do entendimento entre marido e mulher. Mas acontece que o homem brasileiro geralmente desconhece os aspectos mais elementares da psicologia feminina. E vice-versa; a maioria das mulheres não sabe como é importante que o homem se realize plenamente no campo sexual. Ele ignora, por exemplo, que deve ser também o namorado dela; e ela desconhece que deve ser também a amante do marido.
Na prática, quando ele começa a beijar a mulher é porque vai haver uma relação genital, depois, apagará a luz e dormirá roncando, enquanto ela fica esperando inutilmente uma manifestação de carinho, um gesto que traduza afeto. Dizer simplesmente que está cansado pelo o trabalho estafante daquele dia e que trabalha por causa dela é uma farsa. As pessoas trabalham porque gostam de trabalhar ou porque precisam disso para sobreviver.
Cabe perguntar agora: quantos jovens vêem em casa manifestações frequentes de amor? Pais que se beijam, se abraçam, andam de mãos dadas e demonstram fisicamente seu carinho um pelo outro? Que ideia pode ter se pai e mãe não se toca e aparece um irmão menor? Será que o sexo é algo vergonhoso, que os gestos de amor só devem ser feitos às escondidas?
Outra manifestação de ansiedade dos pais, no que diz respeito ao sexo, ocorre frequentemente diante da nudez. Há certa fase, na vida da criança, em que sua curiosidade para conhecer o corpo dos pais é incontrolável. Se os pais conseguem permitir que ela os veja com tranquilidade e naturalidade, a criança esquece que estão pelados. Mas se reagirem de maneira agressiva, dando broncas, ai sim se cria um problema: “Não devem esquecer, porém, que já estão educando sexualmente o filho". E o que estarão transmitindo à criança? Uma visão de que o corpo é algo vergonhoso, sujo e que não deve ser exposto.
Portanto, se tivermos uma vida sexual tranquila e sem ansiedade e fomos capazes de resolvê-las com naturalidade, estaremos educando sexualmente nossos filhos. O método dialético parte da compreensão de que as coisas e os seres existem em permanente transformação, entrosados uns com os outros. Só poderemos compreendê-los de modo correto se levar em conta, desde o inicio, as suas relações recíprocas.

27 de março de 2011

LIBERDADE DE SENTIR

      A partir do momento em que não se sente livre para sentir o que se sente, fica-se à mercê de doenças psicossomáticas. Significa a negação das emoções. É não aceitar na sua totalidade. Só que o fato de negarmos o que sentimos não resolve, pois a energia emocional continua procurando uma forma de ser liberada. Se formos proibidos de expressar a raiva, podemos acumular mágoas, ressentimentos ou desenvolver sintomas físicos.

      Sentir, porém não poder expressar, contém um grau um pouco maior de liberdade. A pessoa tem permissão para sentir, mas não para deixar claro esse sentimento. O que vão pensar se eu mostrar isso? Ou então, ela se permite sentir, falar, mas não agir em função do que sente. Seu sentimento fica dissociado da conduta, muitas vezes por não ter aprendido a tomar decisões baseadas em suas emoções.

      Agir no impulso da emoção, sem controle é típico de quem coleciona determinadas emoções segundo a psicóloga e educadora Ana Maria Cohen, que acrescenta. “Pode-se trocá-las por explosões, brigas, vingança ou mesmo homicídio e suicídio”.

      A ação baseada no impulso, embora caracterize uma liberdade maior, não é isenta de problemas. Se tiver raiva contida, explode, não importando onde ou com quem. Se tiver medo, paralisa ou foge, agindo impulsivamente. Isso já é um indicador que a pessoa tem um problema de fato.

      Sentir, verbalizar e agir quando conveniente, respeitando a si e ao outro, é o próximo passo na direção da liberdade emocional. E acontece quando, ao sentir e poder verbalizar, a pessoa resolve se é conveniente ou não manifestar a emoção e qual a melhor forma de fazê-lo.  

FALTA ÉTICA E SOBRA PRECONCEITO

Aprendi na literatura, que quando se quer conhecer um fenômeno, faça a historicidade dele, isto é, um levantamento histórico. Quando se tem o conhecimento, temos um sujeito ético. A ética nasce com o conhecimento e o preconceito cresce com a ignorância.  

Qual a diferença entre o sujeito ético e o mais comum dos mortais? Nós os mortais, vamos seguindo o nosso caminho olhando as coisas como nos ensinaram a ver. Enxergamos os fatos com a ótica do outro.  Observamos o que as palavras nos fazem ver. Empregamos mal a palavra, falamos o tempo todo sem pensar no que estamos falando. A palavra é ambígua, porque limita o pensamento.  Segundo Paul Ricoeur, através da palavra, torna-se presente o que está ausente.  

Entretanto, falta sobriedade, clareza e espírito crítico para muitos dos mortais. Temos uma tendência a dar muitas respostas para poucas perguntas. E com isso estamos a todo o momento destilando os nossos preconceitos contra o outro.

Para ilustrar vamos usar a palavra prostituta. Já que prostituta é somente uma palavra, um conceito e tem uma função social abominável, só podemos olhar para a prostituta com desprezo e horror, talvez encontre alguém que tenha compaixão, como no caso de Jesus e Maria Madalena, com raras exceções. Jamais admitiremos que ela possa se sentir bem fazendo o que faz. Jamais descobriremos que a prostituta é uma pessoa, isto é, que ela tem muitos outros aspectos além de ser prostituta.

Se um belo dia a prostituta viesse a nos olhar com muita ternura, certamente ficaríamos perturbadíssimos com seu olhar, e mais ainda com o que ela despertaria em nós homens.

O sujeito ético, quando vê a prostituta, sabe que, fora da sua atividade profissional, ela é como qualquer outra mulher. Pode ser alegre ou triste, inteligente ou burra, sensível ou tosca, ignorante ou bem informada. A pessoa livre de preconceito vê tudo o que há para ver e não apenas o que é certo ver. Pauta sua vivência no conhecimento. Quanto mais eu sei, mais eu sei que menos eu sei.

Em sentido oposto teríamos o Papa e a dificuldade de qualquer cristão em imaginá-lo hesitante, com medo, sem saber o que fazer com seus fiéis seguidores. Um Papa ambicioso e disposto a acumular riqueza, ou vaidoso, querendo parecer bem e sonhando com uma mulher sensual. No entanto, é claro que o Papa pode ser isso tudo e muito mais.         

Mas quem se atreve a imaginar isso do Papa? Portanto, toda a nossa vida, desde a infância foi e continua sendo modelada pelo que os outros dizem ser certo ou errado, pelas fórmulas tradicionais dos preconceitos. Sempre tem alguém dizendo o que você devia fazer. A vida é muito curta para viver o que os outros querem. Quem sabe o que é certo e errado? Contudo, estamos matando o sujeito ético que existe em cada um de nós e promovendo o preconceito.   


25 de março de 2011

CIÚME E INVEJA: UMA VIOLÊNCIA VELADA

      Vivemos cercados de inimigos, raras vezes encontramos amigos fiéis, porque as pessoas se vigiam muito, vivem controlando o tempo todo faz fofocas umas das outras. E com isso todo mundo vive jogando os próprios e mau sentimento encima do outro. É o outro que não presta que pratica corrupção, outro que é o indecente, o mau caráter. Sempre são os outros que não prestam.

      As pessoas de um modo geral, não percebem o que estão vendo, pois se preocupam demais, com o que não estão vendo.

      A história da humanidade é um martírio e uma tortura. Eu diria que oitenta por cento da nossa literatura e das músicas se referem ao amor, à mágoa e, sobretudo, ao ciúme e à infidelidade, isto é, a todas as dificuldades que os costumes sociais impõem ao amor.

      O primeiro indício da violência aparece em alguns casais que se diz amar um ao outro. Paz na terra aos homens casados cada um com a sua, porém, quase todos cobiçando a do próximo e todos se vigiando e controlando para impedir o encontro que todos desejam.

      Quem está amando e sofre do mal de ciúme, sabiamente trata bem os outros e tortura e sufoca a amada com sua perseguição implacável e jurando que isso é um grande amor. Ao contrário de quem está mal amado e sofre de inveja, esse envenena todos os ambientes para onde vai. Não suporta ver o outro feliz. 

      O que quer dizer ciúme e inveja? O ciúme é o desejo de posse, fazer do outro minha propriedade. É um querer ter doentio. Ao contrario da inveja que é não querer que o outro tenha ou progrida. Não aceita ver o outro crescer. Aqui entra outro elemento tão perigoso e mortífero para a vitima. A fofoca. A fofoca é a expressão do tédio ansioso dos que fazem sempre a mesma coisa e estão morrendo de inveja, daqueles que fazem diferentes, que buscam através do conhecimento a sua realização pessoal. O invejoso é infeliz na sua subjetividade. Portanto, mais da metade de toda a violência e o drama humano, está relacionado com o ciúme e a inveja.       

21 de março de 2011

PAIXÃO NÃO É AMOR

      Nas minhas aulas de filosofia, depois que apresentei aos meus alunos o filósofo grego Platão, na sua obra o Banquete, agucei a curiosidade deles sobre o amor platônico, que acabou por levantar outra questão pertinente. A paixão. Existe algo mais apaixonante, de si para consigo, do que a paixão? Ao julgar se a paixão vale ou não vale a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia.

      Muitas pessoas confundem o amor com paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com as outras pessoas, isto é, através de uma amizade constituída. É a capacidade de descentra-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito que nada quer em troca. Amar demanda cuidado com o outro, preservar a identidade e as diferenças do outro, sem perder a sua evidentemente. É o mesmo que estar comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo.

      A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar, na questão da poluição, segundo afirma a filósofa e educadora Neusa Vendramin Volpe.

      Ao contrário do amor está a paixão. O filósofo holandês Baruch Spinoza compreendeu que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: a que tipo de objeto estamos presos pelo amor? Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto. Segundo Platão, o amor perfeito só existe no mundo das idéias, ou seja, idealizamos esse amor e projetamos no outro. É um gostar de mim mesmo no outro. A partir do momento que esse não corresponder mais as minhas expectativas, deixo de amá-lo. Esse amor centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.

      Às vezes pensamos que gostamos de uma determinada pessoa, só porque ela nos entende. O que mais precisamos naquele momento é ser entendido por alguém, ou seja, compreendido por alguém.

      Portanto, ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe toda vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de amar. Ninguém da o que não tem. Se nunca fomos amados de verdade é pouco provável, entregarmos totalmente a um grande amor. Vamos estar sempre com um pé atrás. Vamos buscar no outro aquilo que não temos, aquilo que nos faltam e acreditamos encontrar na nossa  outra cara metade, parodiando Platão.

    

20 de março de 2011

ANALFABETISMO EMOCIONAL

      Temos uma tendência a tratar muito mal as nossas emoções. Damos pouca importância aos sentimentos nobres como as emoções. Desde pequeno somos bem adestrados a não sentir emoções. Essa é a  educação que recebemos, principalmente em nosso ambiente familiar. Quantos problemas de relacionamento poderiam ser evitados se soubéssemos lidar com as emoções?

      Finalmente as pessoas estão acordando para o fato de que a inteligência vai muito mais além do que só o racional. E que essas emoções representam um aspecto importantíssimo do potencial humano. Penso que esse assunto deveria estar na pauta das disciplinas denominadas humanas. Nossas emoções sempre foram vistas como algo perigoso, que precisa ser reprimido para não atrapalhar a forma lógica de pensar, o primo pobre da nossa personalidade. O ideal desejado pela sociedade, até há bem pouco tempo, eram pessoas frias, absolutamente racionais. O filósofo grego Sócrates, deixou uma frase lapidar: “Conheça-te a ti mesmo”, que mostra a importância de nos conhecermos realmente como somos.

      A criatividade, a empatia, a sensibilidade, a plenitude de viver estão associados à recuperação da capacidade de sentir e expressar as emoções. É nessa habilidade social que exige um aprendizado. Aprender em primeiro lugar a nos conhecer e a partir daí, compreender o outro. Estabelecer com o meu próximo, uma relação de empatia e compaixão.

      Aprendemos a ler e a escrever, mas não aprendemos no que diz respeito as nossas emoções. Vivemos entre discussões inúteis entre pais e filhos, falta de comunicação ou má comunicação no ambiente escolar, no trabalho, relacionamentos insatisfatórios. No entanto, sabemos que  muitas doenças psicossomáticas, são conseqüências de nossa ignorância emocional, ou seja, do foto de desprezarmos nossos sentimentos ou de não sabermos expressá-los. Estudos confirmam que oitenta por cento das pessoas que procuram médicos, sofrem de doenças emocionais e trinta e sete por cento, sofrem de doenças meramente imaginárias, isto é, acham que estão doentes. Os chamados hipocondríacos. Este é só um pequeno dado do quanto tratamos mal nossas emoções.   

19 de março de 2011

LER É MAIS IMPORTANTE QUE ESTUDAR

Quem disse essa frase: “ler é mais importante que estudar”, foi o cartunista e cronista Ziraldo (1932). Que na verdade é um hábito pouco comum em nosso meio diário. Para Ziraldo, quando se cria o hábito da leitura ganha em conhecimento e enriquece o vocabulário. Alguns estudos nessa direção nos mostram que os brasileiros ainda não descobriram o prazer na leitura e que ocupam o tempo livre, vendo televisão, ouvindo música, descansando e raramente se propõe a ler um livro, jornal ou um texto do seu interesse sobre determinado assunto.

Entretanto, quero aqui dedicar esse ensaio aos meus seguidores que de certo modo apreciam o que penso e escrevo. Conheço quase todos os meus seguidores no blogger e assim como eu, sei o quanto estão preocupados com o mundo em que vivemos. São todos meus amigos, que juntos debatemos, questionamos e procuramos entender as questões emblemáticas da nossa sociedade e do mundo globalizado. Somos um grupo pequeno, mas temos objetivos claros e pontuais. Alguns não conheço pessoalmente. Outros são meus alunos, colegas de trabalhos e outros tantos, amigos que foram aos poucos se juntando e consolidando com as nossas reflexões e com a mesma proposta de vida.

Estamos em uma época da história da humanidade na qual, mais do que nunca, uma das coisas mais importantes para nós seres humanos é aprender a aprender. Essa busca da palavra é uma procura dolorosa. Por conseguinte é através de muita leitura que vamos melhorando e enriquecendo o nosso vocabulário e alargando o horizonte de conhecimento. Fico feliz quanto encontro adolescentes como a Kaira Andrade, uma garota de 15 anos que adora ler e escrever. Ela fica fascinada ao entrar numa livraria, seus olhos até brilham de alegria e felicidade. Posso descrever os sentimentos dessa jovem ao vê-la manusear um livro. É o mesmo que dizer: "a leitura é um exercício de generosidade e crescimento intelectual, porque alarga o horizonte do nosso conhecimento e enriquece o nosso vocabulário". Que maravilha se todos os jovens fossem assim, seria uma delicia ser professor nos dias de hoje.   

Sinto e percebo que esse grupo do blog aqui presente, está tornando-se um gigante em conhecimento e consciência crítica do seu papel na sociedade. São pessoas dispostas e abertas a mudanças. O desejo de conhecimento não é um instrumento passivo. Meus amigos leitores é preciso aprimorar a cada dia nossa maneira de cuidar de nós mesmos, das pessoas que amamos, dos outros seres humanos nossos semelhantes, de nosso planeta que anda tão carente de cuidados básicos.

Portanto, quero muito que, apesar dessas limitações inerentes ao que escrevo, possamos estabelecer um verdadeiro diálogo. Pois, são vocês o grande exemplo e a esperança de que um número ainda maior de pessoas venha descobrir esse mesmo prazer e gosto pela leitura. Quero agradecê-los pela companhia nessa aventura do filosofar.          

17 de março de 2011

O AMOR É NECESSÁRIO

          Estou convencido assim como muita gente boa está, de que a resposta que o homem precisa dar à vida é o sair de si, ter atitudes não egocêntricas e exercitar a capacidade de amar, de auto - transcendência, ter realmente gosto pela vida.
          No filme “Tempo de Despertar”, com Robert De Niro, após passar quase trinta anos de sua vida em estado de inconsciência, ao despertar, nos dá um exemplo do amor que sente pela vida, dizendo: “Que as pessoas esqueceram o que é viver, estar vivo. É preciso que lembrem o que tem e o que podem perder. Sinto a alegria de estar vivo. O dom da vida. A liberdade de viver. A maravilha que é viver. As pessoas não apreciam as coisas simples... trabalho, lazer, amizade, família, etc.”
          Comenta Leo Buscaglia, no livro “Amando Uns aos Outros”, que certa vez soube de um homem de vinte e poucos anos que foi encontrado morto em seu apartamento no campus da universidade de Miami, onde estudava. Os jornais disseram que ele havia sido visto pela última vez no dia de Ação de Graças. Quando o encontraram, ele já estava morto há dois meses. Sua ausência não foi percebida por ninguém, sequer no Natal, continua ele. “Cada vez mais somos privados das oportunidades de contatos pessoais, e a possibilidade de formar relacionamentos duradouros se torna cada vez mais difícil”. Buscaglia lembra o escritor e o filósofo Allan Fromme que dizia: “Nossas cidades, com o aumento de suas populações, seus aranhas-céu, estão criando espaços para solidão. Vizinhança desintegra-se sob escavadoras dos construtores, e famílias se dispersam na busca de empregos e profissões em todo lugar”. Eu vou um pouco além, num mundo de rodas de amigos e de altos papos estão se acabando. Ninguém tem mais paciência para ouvir o outro. As pessoas não conversam mais, falam como papagaios, cada um com seus problemas. Os velhos e familiares vizinhos estão sumindo.
          Eric Berne, eminente psiquiatra, que estudou vários aspectos das relações entre indivíduos, estava preocupado em aproximar novamente as pessoas na intimidade. Ele nos mostrou como muitos papéis e jogos que desenvolvíamos estavam impedindo a comunicação, distanciando-nos uns dos outros e destruindo qualquer possibilidade de nos tornarmos íntimos de amigos e amantes preciosos.
          Uma das maiores reclamações entre os jovens de hoje é a de que, apesar de receberem atenção material, sentem-se privados de um relacionamento íntimo com seus pais.
          Nada melhor que nossa experiência para ilustrar. Sou pai de três filhos: Eduardo Junior, Danielle e depois de vinte e três anos veio a Maria Eduarda, que hoje está com seis anos de idade. Quando eles nasceram saudáveis não perguntei por que. Por que tive tanta sorte? O que fiz para merecer essas crianças perfeitas? Mas quando eles adoecem, eu pergunto por que. Quero saber o por que. O que está acontecendo? Eu me sinto bem quando os vejo, principalmente sabendo que estão bem. Talvez seja porque no amor há uma alegria. Eu diria um gozo, como se aquilo que se deseja, dele já se disponha. É por isso que nada podemos fazer sem amar, nem mesmo aprender com nossos jovens. Começar uma pesquisa, reformar um país, cultivar um jardim, salvar uma civilização, educar uma criança, estudar musica. Para fazer é preciso desde o início encontrar-se no amor, possuir o futuro que ainda não existe. Se cultivar um jardim, é preciso desde já gozar desse jardim como se ele já estivesse cultivado. Se educarmos uma criança, é preciso que nos transportemos para o fim e nela já vislumbremos o novo homem ou a nova mulher. Aprender a tirar melodias de um instrumento como se já estivesse fazendo um grande concerto, para uma calorosa platéia.  Se é a reforma ou a salvação de um país, é preciso ver estas coisas como possíveis, praticáveis, apesar das dúvidas que nos causam, das nossas inseguranças nos políticos. A isto se chama amar. Muitos dirão como disse certa vez uma amiga estudante de psicologia: “isto não é amor, mas sim esperança, fé, entusiasmo, qualquer outro sentimento, menos amor”.
          Sem dúvida, posso até concordar, mas o amor contém todas essas coisas. O amor é um sentimento de prazer e felicidade. O amor aplica-se à afeição do homem e da mulher, imagino que é aí que ele se acha mais encarnado, mais sensível e figurado pelos movimentos do sangue nos dois corpos.
          Sinto que as pessoas estão brincando cada vez mais com coisas tão séria como é o amor. O filósofo Regis de Morais numa linguagem poética demonstra: “O amor é um rico encontro humano cuja, a duração não deve ser discutida. O amor está na arte em que duas pessoas precisam conquistar de um relacionamento feito de compreensão e generosidade. Tudo dependerá da convivência”.
          Acredito que o amor é fruto de uma amizade constituída, pautada na confiança. Primeiro construo o alicerce e depois levanto as paredes deste imenso complexo chamado amor.
          É muito bom encontrar pessoas que realmente amem a vida. Certa vez ouvi da minha amiga Aparecida Helena, educadora em Londrina, Estado do Paraná, a seguinte frase: “Prefiro ser uma pessoa menos jovem, mas com espírito de adolescente, do que um adolescente com espírito cansado”.
          O mistério escondido, a bondade e o sentido de cada coisa não se alcançam só pelo conhecimento. É preciso ainda uma aposta razoável de que, atrás do mal tudo é bom, de que atrás das nuvens o sol brilha. Esta certeza é a fé que tenho de que o amor é necessário, é o alimento da alma, fundamental para a nossa sobrevivência.
          A minha saudosa mãe Lazara Alexandrina de Jesus, mais conhecida como dona Lazinha, que faleceu aos cento e oito anos de idade. Ela disse certa vez uma frase para um conhecido nosso, que nunca mais saiu da minha memória: ”Não sou ninguém, mas sou muita coisa. O senhor tem razão, mas eu tenho muito mais”. Penso até hoje na força dessa expressão. O quanto de fé e amor próprio está contido nesta frase. É como se ela dissesse: “o primeiro amor da minha vida sou eu mesma. Primeiro me amo, para depois amar meu próximo”. 
          O amor é a única resposta ao problema da existência humana. Mas temos a tendência de considerar o amor uma coisa superficial e basicamente dispensável. A maioria das pessoas renuncia o amor desde muito cedo na vida. Como se ele não fosse vital. No entanto, crucificaram Jesus Cristo, deram um tiro em Mahatma Gandhi, assim como assassinaram Martin Luther King, decapitaram Thomas More e envenenaram Sócrates. A sociedade tem pouco espaço para a honestidade, a ternura, a bondade ou o interesse pelo seu próximo. Como disse Gandhi: ”Tudo o que vive é o teu próximo”.

16 de março de 2011

VISÃO PLATÔNICA DA ALMA

Platão foi referência significativa para a religião, principalmente para aquelas de denominação cristã. Sua filosofia foi mostrar que o mundo perfeito está fora dessa realidade de aparência em que vivemos. Temos a ilusão de que tudo aqui é real. São essas impressões sensíveis as responsáveis pelas as nossas opiniões. Para Platão, só vamos atingir esse mundo da perfeição, isto é, o mundo das ideias, se nos livrarmos da sombra, das amarras.  Caso contrário, seremos eternamente prisioneiros de um mundo de ilusão.

Platão afirmava que o corpo representa um obstáculo para o verdadeiro conhecimento. A nossa vida material, isto é, sensível, proporciona apenas a oportunidade para que a alma se recorde das regiões celestiais. Na alegoria o mito da carruagem, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos alados, isto é, com asas. Um dos cavalos é branco e o outro é preto.

O cavalo branco, mais delicado, suave e dócil, representa a inteligência. O cavalo preto, impaciente e inquieto, representa as paixões. A carruagem é dirigida por um cocheiro que representa a razão. Esta carruagem transita pelo mundo das ideias, lugar supra celeste que somente a alma é capaz de atingir. A dificuldade para se guiar os dois cavalos fazem com que eles percam as asas e a carruagem caia. Desta maneira, a alma desce da região celeste e se encarna em um corpo. Se a alma chegou a vislumbrar algumas ideias, isto é, a luz, o corpo encarnado será o de um ser humano, caso contrário o corpo será o de um animal.

Segundo Platão, a alma depois de encarnada em um corpo passa a não se lembrar do mundo celestial, mas a visão das coisas materiais lhe causa uma vaga recordação das ideias contempladas em tempos anteriores. Portanto, para Platão, conhecer não é ver, mas recordar as ideias contempladas na região celeste. Que na verdade é o mundo das ideias. Tudo o que observamos nesse mundo dos sentidos, são meramente cópias, aparências de um mundo real. A alma experimenta um anseio amoroso, um desejo de retornar à sua verdadeira morada. A partir de então, a alma passa a perceber o corpo como cárceres, assim como tudo que é sensorial, imperfeito e supérfluo. Ela quer se libertar do cárcere do corpo. Enfim, é por isso que Platão considera todos os fenômenos da natureza meros reflexos das formas eternas ou ideias.

Portanto, a maioria das pessoas do chamado mundo contemporâneo estão satisfeitas com suas vidas em meio esse reflexo recheado de ilusão e aparência. Como diz o texto o Mito da Caverna. Elas acreditam que as sombras são tudo o que existe, e por isso não veem como sombras. Ou seja, vivem a ilusão de que tudo isto é verdadeiro. Até o amor que sentem é imaginário. O chamado amor platônico. Projeta no outro à ideia do amor perfeito. E não conseguem realizar isto, porque vivem em um mundo de desejo. Enquanto o desejo está no corpo, o amor está na alma.         

14 de março de 2011

OLHAR PLATÔNICO DO AMOR

A paixão está no ar, no olhar. Na tentativa de explicar a razão contida em gestos basicamente instintivo das seduções, agracia o trabalho ingrato que filósofos e psicanalistas, há anos arrastam através de uma lógica sentimental poética.

Por que será que o olhar da sedução é tão fascinante a ponto de despertar inesperadamente o desabrochar da paixão? Aqui está um enigma para a humanidade pensar. Todavia, os poetas já diziam que os olhos são a janela da alma. E de alma Platão entende. Como diz poeticamente o psicólogo Roger Rosa Ribeiro: "é no olhar que te vejo, no olhar eu te mexo, no olhar te desejo".

Apesar de todo o temor que sentimos diante do encontro amoroso, embora não reconheçamos, ainda assim o amor permanece como o enigma que norteia a nossa existência. Até porque temos uma tendência a maltratar o amor quando ele surge. Agregamos tudo de ruim, a começar pelo ciúme. Justificamos como se isto fizesse parte do amor.

As pessoas sempre buscaram preencher o sentido da sua existência com o amor. O amor que sempre se apresentou como um mistério para a condição humana, mistério este que, ao longo dos séculos, filósofos, poetas e atualmente os psicólogos sempre procuraram desvendar.

Platão narra em um de seus diálogos, o Banquete, que até virou peça de teatro. Para explicar a origem do amor, ele usa da mitologia. Num passado remoto existiam criaturas monstruosas. Metade homem e metade mulher, Seres humanos completos, com duas faces, quatro braços, quatro pernas, continha em sim mesmo os dois sexos. Essas criaturas andrógenas, num dado momento, resolveram invadir o Olimpo, a morada dos deuses. Zeus como o representante maior dos deuses e responsável pelo Olimpo, para punir essas criaturas andrógenas ele as partiu ao meio, tornando-se metade, separando em dois sexos. Entretanto, foi a partir daí, que essas criaturas, saíram pelo mundo e passaram a buscar incessantemente a outra metade, que só assim restituiriam a plenitude perdida. É bom que se diga isso é mitologia. Cada um tem a sua essência, é um ser único, não existe outro exemplar idêntico. Portanto, insubstituível. 

Segundo Platão, essas criaturas somos nós mesmos, em busca da nossa parte perdida, ou seja, a nossa cara metade. Por conseguinte, buscamos através do amor a unidade perdida, a totalidade que se rompeu com a separação. O que fazemos no momento da sedução? Senão buscar no outro a nossa identidade. Desta forma, viver o verdadeiro encontro amoroso seria reviver o encontro com a nossa própria essência, que desperta no amor. Eu desejo o outro para crescer nesse amor.

Portanto, aqui entra o jogo de sedução, que significa inconscientemente a saudade deste encontro. Seduzindo ou sendo seduzidos, buscamos reencontrar o que em nós foi perdido. É no olhar da sedução que nasce a promessa que este encontro está prestes a acontecer. A própria palavra sexo, que tem sua origem no latim, sectum, que ao traduzir quer dizer: metade, parte. É o que somos, quando estamos sós. Seres humanos incompletos, reclamando a sua outra cara metade, segundo Platão. Contudo, o outro torna-se o meu objeto de desejo. Cada um com a sua essência juntos se completam nesse AMOR.      

13 de março de 2011

O SENTIDO DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

          Estamos todos mais que conscientes que a nossa Aldeia Global é uma soma espantosa de injustiças, opressões, explorações, violência e ameaças monstruosas de destruição do planeta. No entanto, os terremotos, tempestades e furacões ratificam a vergonha e o horror em que vive a humanidade.

          Uma matéria publicada pela revista Veja em agosto de 2002 intitulada “O Planeta Pede Socorro”, alertando-nos para um futuro catastrófico, caso não se faça nada para alterar o aquecimento da atmosfera, florestas destruídas, escassez de água limpa, derretimento das geleiras, extinção dos animais. Os pesquisadores apontam para um desastre ainda maior. Uma nuvem de poluentes equivalente a três Estados brasileiros com 3 km de espessura que atingiu uma parte da Ásia, onde vive um quinto da humanidade.
          Estima-se que trinta por cento das maiores bacias hidrográficas perderam mais da metade de sua cobertura vegetal, reduzindo a qualidade da água e aumentando os riscos de enchentes. Cerca de quarenta por cento da população no mundo vive em regiões com escassez de água potável. O que está faltando para responder e agir aos problemas que estamos criando para nós mesmos? Quem na verdade é o responsável por esse caos? Qual é a nossa proposta diante de fatos tão evidentes? Ou será que vamos apenas assistir passivamente essa falência múltipla, como se não fôssemos os culpados? Contudo, o tempo transcorre. O que podemos fazer para melhorar a nossa relação com o meio ambiente? Afinal, só possuímos essa casa chamada Planeta. É o que deixaremos para nossos filhos e netos.

          Para o filósofo Antonio Gramsci, a indiferença é a ausência de vontade, é parasitismo e covardia, não é vida. A indiferença afoga os entusiasmos mais esplendorosos, atua poderosamente na história. Essa indiferença que confunde os programas sociais, e destrói os planos mais bem construídos de uma educação integral, que se rebela contra a inteligência e a sufoca.

          Participar não é simplesmente influenciar em ações políticas, mas criar uma nova atitude, transformar as pessoas, demonstrar as novas idéias, como aparecem. Entusiasmar outras pessoas de maneira eficaz é possível, através de conceitos políticos. Inventar novos movimentos culturais, visando à transformação de pessoas e da cultura. Movimentos interessados em assuntos sócio-econômicos, políticos e também em relações interpessoais, na arte, na música, constituem estilo de vida e valores.

          A grande luz, e a esperança é o somar um trabalho dos milhares de indivíduos que anseiam a mesma ideia. É preciso sentir que não estamos sozinhos. Portanto, o primeiro passo e o mais importante, é participar. É compartilharmos das descobertas pelos cidadãos, é um importante direito e o dever de construir a história. Debater seriamente as questões políticas, mostrando os problemas reais a que tem enfrentado em desmascarar a retórica ilusória de encorajar em um novo espírito na política.

          As eleições são momentos privilegiados que temos para mostrar nossa participação. É a chance que tem de substituir políticos que só defenderam seus interesses. É o momento adequado para se escolher melhor o partido, trocá-lo se for necessário, não vender o voto a preço algum. As escolas também possuem uma tarefa fundamental nestes movimentos, a de promover e incentivar a formação política e a participação nas organizações.

          É bom lembrar, historicamente, que alguns movimentos importantes começaram em pequenos grupos. Os primeiros cristãos são um grande exemplo. Era um pequeno grupo que representava uma idéia, que mantém viva até hoje, por que estava incorporada na essência de cada um, na carne e no espírito. Não corria o perigo de a idéia morrer. Demonstravam força, disciplina, alegria e uma profunda convicção sem serem fanáticos. Está claro que o importante é a pratica da vida, atitude total, a meta e não uma conceituação.

          Enfim, todo esse esboço do movimento pretende ser uma proposta experimental de como se deve começá-lo. É concebido como um elemento importante na transformação da sociedade permitindo ao individuo descobrir maneiras para a participação e ação imediata e dar respostas a questões sociais não respondidas pelos políticos. Estamos bem no meio da crise. Não nos resta muito tempo. Se não começarmos agora, amanha talvez seja tarde demais. Há esperança, porque existe uma possibilidade real de que o homem possa reafirmar e tornar humana a sociedade que ai está. Como argumenta Erich Fromm no livro: A Revolução da Esperança; “não nos cabe completar a tarefa, mas não temos o direito de nos obster dela”. Portanto, o desafio maior está em mudar a nossa maneira de pensar. Não é uma tarefa fácil. Não será algo rápido para muitos de nós. Acredito que não exista desafio maior do que entender como funcionamos e principalmente, como funciona a nossa sociedade, tendo em vista que somos um projeto de humanidade dentro desse contexto social globalizado.

11 de março de 2011

EVOLUIR PARA AUTO ESTIMA

O homem da pré-história vivia nos bosques, provavelmente nas árvores, a maior parte do tempo, devido à presença de animais selvagens. A alimentação básica consistia apenas em algumas caças, raízes e frutos. Com a descoberta do fogo o homem tornou-se independente do lugar e do clima.   Já cozinhavam, afugentavam animais, iluminavam as suas cavernas, pois davam-se ao luxo de ter um lugar fixo.

Um belo dia, o homem por acaso plantou e descobriu que obteria resultados na colheita do que plantasse.  Essa descoberta facilitou ainda mais sua vida. Porém, aumentou a chance de sobrevivência. Deu-se início a uma Era pioneira para a humanidade. A agricultura foi introduzida neste período. O homem gostou tanto de plantar e colher que fez disso sua atividade principal, durante oito mil anos, aproximadamente.
Na segunda metade do século XVIII, iniciou-se na Inglaterra um conjunto de transformações econômicas, sociais e tecnológicas. Surgia a era industrial. Através das máquinas para o transporte e produção em larga escala o homem sofreu uma profunda transformação interior. Houve uma grande mudança no conceito de tempo e espaço. Principalmente na revolução do cérebro humano este, não veio para enaltecê-lo, mas mostrar que a existência é um processo difícil, amargo e angustiante. Segundo Sartre “o homem está condenado a viver, a ser livre. Porque o homem nunca é algo já constituído essencialmente, mas a cada momento ele vem a ser aquilo que ele se torna. Por ser livre que o homem se sente só e desamparado”. Este e a solidão agregam uma responsabilidade total, porque não podemos dividir com ninguém a tarefa de nos tornarmos nós mesmos.              
Uma nova e profunda reestruturação no processo da sobrevivência e evolução em relação ao homem aconteceu, há mais ou menos quarenta anos ao surgir à informação. A dinâmica do tempo e espaço tornou a vida ainda mais agitada. O homem perdeu a conexão com o seu Eu interior. Segundo o filósofo, Regis de Morais num texto intitulado: “Ciência e Perspectivas Antropológicas Hoje”, da obra Construindo o Saber. “O que vemos hoje se parece a um homem imaginário como se houvesse crescido muito de uma perna, sem que a outra perna o acompanhasse também. Imagina-se este homem em equilíbrio? Impossível. A humanidade ocidental cresceu muito científica e tecnologicamente, mas em termos espirituais ela continua atrofiada. Chegaram a grandes aperfeiçoamentos os expedientes científicos e técnicos e a qualidade interior do homem não sofreu quase que aperfeiçoamento nenhum”.

É impossível entender a humanidade sem conhecer os problemas que ela enfrentou em conjunto, na história evolutiva da espécie humana, como também é impossível entender cada ser humano sem conhecer a sua história, seus problemas que enfrentou durante a vida. Uma coisa, todavia, deve ser lembrado: as características humanas são muito parecidas em essência entre todos os seres humanos, variando apenas o seu resultado prático na vida de cada um.                                                     
Conforme afirma Jean Jacques Rousseau, o ser humano é por natureza, bom, mas a sociedade o corrompe gerando desigualdade social, escravidão, violência e tirania. Ele questionava a crença no progresso contínuo da humanidade. Contudo, essas duas premissas colocam uma questão muito séria.   Somos um projeto de humanidade, isto é, em formação e não saberemos se alcançaremos algum dia, o adiantamento e totalidade nestes termos. Como disse o filósofo francês, Michel Foucault: “O homem é uma invenção recente e já fadado a desaparecer”.

Argumenta o médico e escritor, Lair Ribeiro “muitas vezes pensamos que o mundo não nos trata do modo como merecemos e culpamos a sociedade, o governo, os amigos, os pais, os parentes, o sócio, o patrão, pelas nossas falhas e desilusões. No entanto, a verdade é que o modo pelo qual o mundo nos trata é um reflexo de como nos tratamos a nós mesmos. No momento em que você passar a gostar mais de você, o mundo reagirá e lhe recompensará pela sua existência”.
O rabino Harold Kushner, conta na obra: ”Quando Coisas Ruins Acontecem Às Pessoas Boas”, a história de um sobrevivente do Gueto de Varsóvia e do Holocausto, Martin Gray que escreveu sobre sua vida em um livro intitulado: “Por Aqueles que Eu Amo”. Ele relata como, após o Holocausto, reconstruiu sua vida, teve sucesso, casou-se e criou uma família. A vida parecia boa depois dos horrores do campo de concentração. Mas certo dia, contudo, sua esposa e seus filhos foram mortos por um incêndio na floresta que destruiu sua casa no sul da França. Gray ficou arrasado, levado até os limites de sua sanidade por esta tragédia suplementar. Os conhecidos insistiam em que abrisse um inquérito para apurar as causas do fogo. Em vez disso, preferiu aplicar todos os seus recursos em um movimento para proteger a natureza de incêndios futuros. Explicou que um inquérito, uma investigação focalizaria apenas o passado, resultando em dor, aflição e censura. Ele desejava concentrar-se no futuro. Um inquérito o colocaria contra outras pessoas. “Alguém foi negligente? De quem foi à culpa?” E, ficaria contra as outras pessoas, dedicando-se apenas em encontrar um vilão, acusando outros de serem responsáveis pela sua miséria, solitário que era, acabaria mais solitário. A vida, concluiu ele, “tem que ser vivida em função de alguma coisa, não contra alguma coisa". Agora que isto me aconteceu, o que vou fazer?
O que lhe aconteceu, serve apenas para que você reaja a esse acontecimento. Esta indagação abre as portas para o futuro e melhora a auto-estima. Cada pessoa pode se lamentar por algo que lhe tenha acontecido pelo resto da sua vida, fará dele um verdadeiro aprendizado, um trampolim para vôos mais altos na sua existência ou estará fadado à infelicidade crônica. Como dizia Sócrates: “A vida que não é examinada não vale a pena ser vivida”.
Na Europa realizou-se uma entrevista com milhares de pessoas com 65 anos em média e só 25% dessas pessoas disseram que estavam “felizes”. As outras se consideravam “vítimas”. É esse o sentido da vida? Continuar a viver até o ponto em que acabaremos vítima?
Há muita gente que anda por aí falando de morte, desespero e sofrimento. Se quiserem isso, pode encontrá-lo em qualquer lugar. Leiam os jornais. Liguem os aparelhos de TV. Ou podem preferir dizer que a vida é boa, a vida é bela, vamos festejá-la. “A vida é a qualidade que distingue um ser vital de um ser morto”. Há uma porção de gente morta por aí, verdadeiros cadáveres ambulantes.
O que é viver? É o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a sua fala. Sua fala deve estar se verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que você reconhece como corretos, justos igualitários e prazerosos.
O problema é que, enquanto vocês deixarem suas vidas nas mãos de outras pessoas, nunca hão de viver. Você tem que assumir a responsabilidade de escolher e definir a sua própria vida. Temos sentimentos maravilhosos e loucos, e não agimos de acordo.
Temos medo de viver a vida e, portanto não experimentamos. Não vemos. Não sentimos. Não arriscamos. Não nos importamos. Portanto, não vivemos, pois a vida significa estar envolvido ativamente. A vida significa sujar as mãos. A vida significa saltar no meio de tudo. A vida significa saltar de cara no chão. A vida significa ir além de si mesmo, até as estrelas.
As pessoas podem estar se perguntando, se a vida é assim tão formidável como é que temos a morte, a dor, o sofrimento, todas essas coisas negativas? Por que as crianças sofrem? Por que há assassinatos, estupros e guerras? Por que?
Eu não sei por que a morte. Eu queria que não existisse, mas não sei por que a dor. Se eu passasse a vida querendo respostas a essas coisas, eu nunca viveria. Mas digo que de fato conheço um pouco da vida. Há uma coisa chamada alegria, pois a senti. E há uma coisa chamada loucura maravilhosa, por que a vivi. E sei que há uma coisa chamada amor, pois já amei.
Uma das coisas que sei é que você pode se dar a essas coisas. Pode criar essas coisas. Durante toda sua vida você recebeu. Você se tornou você. Você aprendeu a ser você. E tudo o que se pode aprender, pode ser desaprendido e reaprendido de modo novo.
Assim, se você quiser ser qualquer coisa que desejar, poderá sê-lo, desde que esteja disposto há sofrer um pouco, há lutar um pouco e trabalhar um pouco por isso, pois não vem naturalmente. É preciso trabalhar por isso. Está tudo aí.
Gosto de pensar no dia em que nascemos e recebemos o mundo como presente. Uma caixa maravilhosa amarrada com fitas incríveis. E algumas pessoas nem se dão ao trabalho de desatar a fita, quanto mais abrir a caixa. E, quando abrem a caixa, só esperam ver a beleza, o assombro, o êxtase. Ficam surpreendidas ao verem que a vida também é dor e desespero. É solidão e confusão. Tudo faz parte da vida.
Somos uma parte importante do processo dinâmico, mas, como todas as outras coisas, estamos apenas de passagem. Nascemos provincianos, egocêntricos, limitados. Quanto mais nos tornamos, mais universal é a pessoa que somos. Afinal, compreendemos que a maioria dos conflitos humanos nasce através do nosso provincianismo, preocupação com os problemas pessoais, interesses egoístas, e nossos próprios conflitos.
A maioria de nós define um bom dia como aquele que todas as coisas aconteceram como queríamos. Consideramos a verdadeira vida como uma em que nossos sonhos pessoais se realizaram. Não nos preocupamos se milhares de pessoas vão para cama, todas as noites famintas e desesperadas, contanto que elas se mantenham longe de nossos olhos e nos deixem em paz. Não nos importa se as crianças do mundo estão sendo espancadas ou não são instruídas adequadamente. Nossos filhos estão plenamente desenvolvidos e vão indo bem e não temos responsabilidade pelos outros. É somente quando crianças famintas nos agridem para roubar, ou somos maltratados ou aterrorizados em nosso lar, que compreendemos a vinculação de todas as coisas. Não há lugar para se esconder. Ninguém é culpado, todos somos inocentes em um curso sempre mutável, pelo qual cada um de nós é responsável.

Portanto, é uma ilusão acreditar que a paz existirá sem todos se moverem juntos com a corrente, em união, alegria, admiração e amor. Cada um respeitando o seu semelhante e todos cuidando da boa convivência em sociedade. Só assim vamos melhorar Auto-Estima e crescer nesse Projeto que chamamos de Humanidade.

9 de março de 2011

OS COSTUMES SOCIAIS

      São os costumes sociais que determinam as relações familiares e as influenciam, a ponto de torná-las em muitos casos, insuficientes para manter uma estrutura firme e íntegra. É comum o casamento religioso ser desejado pela família por simples condicionamento social. O cerimonial costumeiro, as flores, a música, o vestido de noiva, presentes, etc. A religião por sua vez nos obriga a preservar esses costumes e padrões morais.
      Na presença do padre ou do pastor, momentos em que são feitos juramentos sérios, e atingirem o tão almejado “serão felizes para sempre”. Como posso afirmar esta ligação para sempre, se nunca convivi antes de perto com essa pessoa? Como diz o poeta Caetano Veloso, numa de suas melodias, ”que de perto ninguém é normal”. Na verdade, o mal não está no casamento e, sim nesta ligação obrigatória, que é falsa. As pessoas com o passar do tempo não sentem mais a mesma união, acostumam-se, ficam indiferentes, não percebem mais o outro, passam a viver uma vida sem graça, desagradável para ambos. Quando chega a este estágio, os indivíduos começam a procurar o que os tornam felizes. Talvez, quem sebe preencher esse vazio permanente.
      Nesses casos, ao termino do amor, a relação conjugal torna-se uma cadeia fria, uma convivência marcada de obrigações, um não percebe mais o outro. Estudos sobre o comportamento humano têm demonstrado, que uma vida sem graça, sem amor, onde não existe um sentido, produz doenças. Por que se deixar de amar, observa-se que começa a odiar? Por que tenho que persegui-lo se não ama mais? Ou então, sentir-se culpado? Ninguém poderá culpá-lo porque ama ou deixou de amar. Se tiver cuidado com o amor, talvez ele dure um tempo. Se houver descuido, certamente acabará bem depressa.
      As pessoas realmente se divertem com pouco sentimento, pois não resolvem as situações com maturidade, e de forma sentimental. Ninguém pode garantir que amará o outro a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Ao acabar o interesse entre duas pessoas, nem por isso, precisam se maltratar. É o que ocorre com inúmeros casais. Quando chega a presente situação, pensam existir outra pessoa. Há casos muitas vezes em que não existe outra pessoa. Não precisa interessar-se por outra pessoa, para deixar de amar. O amor pode acabar simplesmente. Na verdade, o nosso amor é uma miséria e achamos que é um grande amor. Este sentimento serve para provocar brigas, ciúmes e magoar o outro.
      Nossos costumes sociais é uma catástrofe, um horror! Basta ligar a televisão em qualquer canal aberto ou abrir os jornais, para perceber que mundo louco é esse em que vivemos. A incapacidade humana de viver em harmonia com o seu semelhante.
      As pessoas não associam ideias. Elas vêm com opinião formada e transmitem o que aprenderam sem pensar duas vezes em seus atos. O que chamamos de homem normal é um sonâmbulo, que atua automaticamente. Inicia seu funcionamento pela manhã e assim permanece até a noite, sem se dar conta do que fez durante o dia. Parece não querer acordar para o que está acontecendo ao seu redor. Precisamos pensar ao contrário. O ser humano parece viver fora da realidade, refletir não sabe em que, agindo automaticamente, falando não sei com quem, conversando consigo mesmas.  Basta olhar para as pessoas transitando pelas ruas das metrópoles, principalmente se estiverem sozinhas. Estão muito próximas de cadáveres ambulantes, não têm nenhuma consciência de si e nem da sua circunstância.
      Os nossos costumes sociais são indivíduos bem adaptados, feitos para andarem no trilho como formigas (com todo respeito às formigas), até a morte. Se alguém descobre um atalho e sai do trajeto, todos o condenam. – Para ilustrar cito à alegoria do Mito da Caverna, descrita por Platão para explicar a evolução do conhecimento. Segundo ele, a maioria dos seres humanos se encontra como prisioneiro de uma caverna. Se escapasse e alcançasse o mundo luminoso da realidade, ficaria livre da ilusão - que é um bom exemplo para esses prisioneiros que acham que conhecem a realidade. E principalmente, para aqueles que se incomodam com quem pensa, questiona e tem a coragem de seguir seus ideais. Já imaginou se Alexander Fleming tivesse deixado de seguir seu ideal? Pessoas continuariam a morrerem infectadas por falta de antibióticos. Estariam pagando com a vida e o sofrimento pela omissão de uma pessoa que faria uma grande descoberta para a humanidade.  
      O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, falecido em junho de 2010, argumenta no seu livro “A Caverna”, o quanto deixamos para traz uma coisa que levou centenas de milhares de anos para formar, que chama- se “pensamento”. Segundo Saramago, antigamente a mentalidade das pessoas era formada numa grande superfície chamada catedral, assim como também nas igrejas, seminários. Mas, sobretudo, nas catedrais. E hoje a mentalidade é formada em outra grande superfície chamado Shopping Center. Entretanto, é o único espaço público que podemos encontrar ainda um pouco de segurança, divertimento, restaurantes, bancos e algo para comprar. Um verdadeiro espetáculo de sombras e ilusões. Para Saramago, curiosamente estamos a voltar a viver por onde começamos a centenas de milhares anos, nas cavernas. É como ele descreve os Shoppings de hoje, semelhante a uma grande caverna. E o mais grave é que esse centro comercial chamado de Caverna por Saramago representa o capitalismo destruindo as relações humanas, tornando as pessoas prisioneiras do que consomem. O mundo no exterior tornou-se inseguro e a única saída que restou é o Shopping Center. Estamos novamente presos na caverna da globalização econômica.  
      Contudo, parecem ser os costumes sociais a ditarem as regras em nossa sociedade. As pessoas não deveriam pensar desta forma, mas são frutos e vítimas dos próprios costumes, que é interpretado erradamente como cultura.  

8 de março de 2011

O QUE AS MULHERES DESEJAM? (homenagem ao dia da mulher)

Sigmund Freud, sempre referiu-se ao sexo feminino como o "continente negro". Ele dizia que a mulher tem inveja do pênis e por isto ele declara que a libido feminina é masoquista. Uma paciente sua, sonha com um arranjo de flores, misturando violeta com lírios e cravos. Na linguagem psicanalítica, os lírios representam a pureza, os cravos o desejo carnal e por último, não menos importante, as violetas como a necessidade inconsciente da mulher de ser violentada pelo o homem.

Contrapondo Freud, vem surgindo um fato novo no começo desse século. Os homens andam fugindo da raia das mulheres porque elas estão muito melhores do que eles. São mais decidida, querem saber mais, estudam mais, fazem cursos. E os homens estão cada vez mais encolhidos no seu mundinho, achando que sabem tudo. Uma mulher moderna, razoavelmente bem sucedida na vida, independente, bonita e inteligente, de certo modo assusta os homens, principalmente os machões. Porque a grande maioria deles não tem tanta competência assim e nem maturidade para tanto.

O machão latino, não tem coragem de se propor ou de casar com mulher que ele sente que é superior a ele. Ainda hoje, já em pleno século XXI, conheço mulher com grande potencial intelectual que se casou, não digo com homem incompetente, mas, homem mais comum com pouca formação escolar e muito autoritário. Ela submete inteiramente, para que ele não se sinta ferido no seu amor próprio. Talvez está aqui, o começo de todas as loucuras humanas. Deixar de ser eu mesmo, para ser o que o outro quer. Lembre-se, viver com medo é viver pela metade.
     
Todos nós aprendemos que o tempo nunca volta atrás e o futuro inventa novas emoções. É melhor fazer alguma coisa ao invés de não fazer nada. A primeira obrigação é reconquistar a minha vida, isto é, seguir os interesses vivos que estão na minha frente. Ter maior clareza naquilo que você realmente espera da vida, do outro, com o qual você se relaciona. Uma abertura maior, mais segura e confiante, com menores possibilidades de engano a si mesma e ao outro. A decorrência disso é a sua capacidade de encontro consigo mesma e com o seu companheiro, que aumenta e melhora muito. 

Você mulher, passa atuar constantemente em favor do que realmente é a sua vida, buscando o que lhe da prazer. Sobretudo, depois de tantos anos de repressão, agora chegou a sua vez de declarar independência ao machismo sádico. E mostrar para o Dr. Sigmund Freud, quem é de fato o masoquista e tem medo de ser violentado no seu orgulho próprio. 

Portanto, agradeça a todos os dias dizendo: “que maravilha estar aqui, como é bom viver, como é bom ser eu mesma”. Parabéns a todas as mulheres do planeta terra.                             (Minha homenagem ao universo feminino).      

O SENTIDO DA VIDA

O ser humano é um composto de corpo material e alma espiritual. Estes dois princípios, distintos um do outro, se unem para formar um todo substancial, de modo que tudo o que o homem realiza é psicossomático. E qual o sentido que o ser humano busca para sua vida, já que ele é um Todo e um ser que pensa numa peça só, “corpo e alma?" Quantas pessoas já se perguntaram sobre qual o sentido de sua vida? Se por acaso tem alguma tarefa para ser concluída, ou uma missão cobrando continuidade? Quantos já experimentaram a estranha sensação de não ter nenhum propósito, um objetivo ao qual se dedicar? Ou uma tarefa que só pode ser levada à frente por você e por ninguém mais? Quem já pensou como seria sua vida daqui a quinze anos?
É necessário dar uma pausa em nossa vida para sentir o  contato com a natureza e perceber o quanto somos importantes diante da criação do universo. Passeávamos certa vez pelos verdes campos eu e o meu filho Eduardo M. Junior, que contava com oito anos de idade. Quando subitamente ele deparou-se com uma casa de João de Barro. Uma espécie de pássaro que faz a sua casa de barro no topo da árvore. Só que aquela árvore era especial, pois, ela representa o símbolo do Estado do Paraná. Expliquei ao meu filho que a araucária ou o pinheiro daquele Estado, cujo nome científico é: “Araucária Angustifólia”. Essa árvore símbolo, das matas do Paraná, está se acabando por uma simples razão. Porque infelizmente, a gralha-azul está em extinção e ela responde por mais da metade do plantio da araucária no Estado do Paraná. Por obra da natureza a gralha-azul recolhe o fruto da pinha, come o que lhe basta e armazena a sobra para o verão. Ou seja, guarda os frutos enterrando-os em terreno favorável, após fazer com o bico, inconscientemente, um trabalho de escarificação da semente, favorecendo ainda mais o germinar. Como a gralha-azul geralmente armazena mais do que pode comer ou como acreditam os pesquisadores, ela esquece onde enterrou os pinhões que acabam germinando e nascendo outra árvore gigante. São novos pinheiros saindo para a vida, para compensar e enfeitar à natureza. Dar sentido a vida é isso. É compreender as razões lógicas da natureza. Entretanto, a beleza que vemos está além da nossa compreensão. E quando a compreendemos enaltecemos o que é belo.       
O filósofo e teólogo dinamarquês, Soren Kierkegaard, pode ser considerado o grande precursor do movimento existencialista. Segundo ele, o importante é o individual, não o universal. Contudo, desvendou o sentido da subjetividade humana, apresentando a vida como um risco e a necessidade de sermos livres para correr esse risco.
A descrença de Kierkegaard na razão ganhou aliados interessantes no final do século XIX e começo do século XX. Um deles foi Sigmund Freud, o criador da psicanálise que com a descoberta do inconsciente demonstrou que o ser humano não era dono de si, isto é, tão racional assim como pensava os Iluministas. Tornava-se evidente assim, a existência de outra parte sonâmbula e irracional que dirige a criatura humana durante a maior parte de sua trajetória existencial.
Antes do advento da psicanálise, somente era considerado como objeto da psicologia clássica as três faculdades da alma: o entendimento, a memória e a vontade. O entendimento para captar a realidade, a memória para guardar, isto é, reter essa realidade e a vontade para agir, operar como conseqüência diante da realidade. Portanto, não havia espaço para os sentimentos, afetividades e desejos. Esses aspectos da personalidade eram considerados como paixões, isto é, elementos perturbadores do psiquismo humano que não eram fundamentais na estruturação da personalidade. O ser humano era visto como um ser racional, dotado de inteligência e vontade. Segundo o psicanalista Juan Guillermo Droguett, no seu livro: “Desejo de Deus – Diálogo entre psicanálise e fé”, nos mostra como a afetividade era tratada, assim como, o "primo pobre” que havia de se conhecer para dominar melhor. Ele descreve a psicologia clássica como reducionista do psiquismo humano, que não dava conta da totalidade do ser humano. A psicologia clássica ignorava o homem na sua totalidade porque desconhecia o inconsciente.
O homem só se deu conta da sua irracionalidade, somente depois de duas grandes guerras. Um retrato da falência humana. A sua racionalidade estava desfigurada e já não era tão humana assim como parecia. Em um nível mais elevado, a comunicação é uma eterna luta para o ser humano sair de si, superar o seu egoísmo de ir ao encontro do outro, completando-se buscando evadir-se de um abismo sem fim, que é o vazio e o isolamento existencial.
Procedemos como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade em relação aos sentimentos e pensamentos dos outros, insistindo em que encontrem felicidade nas coisas materiais que lhe fornecemos. Justificamo-nos dizendo: “Trabalho duro, pago as contas, dou-lhes tudo e o que deseja mais. O que mais posso fazer?” O que mais podemos fazer é sermos receptivos ao que estão pensando, conversar com as pessoas sobre suas aspirações, tocá-las naquele espaço sagrado por trás de suas formas e encorajá-las a vivenciar suas vidas de maneira justa e autentica.
Por conseguinte, certa vez ouvi no curso de graduação em filosofia, o professor Regis de Morais argumentar: “Se você não descobrir qual é sua missão no mundo, ela certamente ficará incompleta, porque ninguém poderá concluí-la, cada pessoa é como uma peça de um quebra cabeça. Só ela pode ocupar o espaço vazio e, se não ocupá-lo, ficará deslocada, e o Todo, incompleto”. Contudo, Albert Einstein disse numa frase inteligente: “Grandes espíritos sempre encontraram violenta oposição das mentes medíocres. Sou grato a essas pessoas que disseram não. Foi por causa delas que fiz sozinho o que precisava ser feito”. Enfim, baseado no meu conhecimento empírico ao longo da minha vivência, posso afirmar que: “A vida é muito curta para vivermos o que os outros querem”. Seja você mesmo hoje e sempre.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...