31 de dezembro de 2018

AGRADEÇO POR MAIS UM ANO QUE SE FINDA

Ser especial é ser sensível e olhar fundo nos olhos daqueles que nos tocam o coração. Só tenho a agradecer por mais um ano que se encerra, pela vida concedida como um dom, um presente de Deus. Digo de coração aberto, as três grandes paixões que me moveram todos esses anos - parafraseando o filósofo, matemático e lógico inglês Bertrand Russell (1872-1970) - foram: “o desejo imenso de amar, a busca do conhecimento e uma insuportável compaixão pelo sofrimento humano”. São 555 textos publicados até agora em mais de sete anos de Blog. Escrever é uma arte, mesmo porque a plataforma é o afeto e, sendo a superfície amorosa, acredito que escrevo por entender que tenho algo a dizer. Só espero ser compreendido e perdoado pelo que digo.

Para justificar o que vou dizer e agradecer nesta reflexão. Até hoje, tudo que escrevi, nasceu do meu cérebro e passaram pelo filtro do meu coração. Em cada reflexão procurei apreciar e enxergar a alma de cada pessoa que conheci e cruzou o meu caminho, principalmente, neste ano que se finda. Foram tantas pessoas que conheci, mas que cada uma trouxe algo de muito especial, que assimilei como ensinamento para vida e levo na lembrança a sua existência. Cada pessoa é a linguagem de Deus falando através delas. Quero agradecê-las com esse belo texto, que para mim tornou-se uma oração. Declaro a essas pessoas ilustres, com todo o meu carinho, de coração para coração:

Pai, já está terminando o ano de 2018 e agradeço pela vida que me confiou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido. Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti juntamente com os meus filhos e os meus amigos, que caminharam ao meu lado e continuam pelo ano vindouro. Obrigado pela alegria que vi no rosto das crianças e dos idosos. Obrigado Pai pelo dom de amar, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver em 2018, pelo meu esforço e desejo de superação. Pai desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei. Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida não para nunca, só com a morte pode cessar. Em quanto isso, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, dessas ilustres pessoas que se divertiram e se alegraram com a nossa presença.”

Portanto, não sou de abandonar ninguém. Só me afasto quando percebo, que não faz mais sentido estar na vida de uma pessoa, se ela não me enxerga. Que culpa eu tenho se ela não me ama? Mesmo assim desejo a todos que: “a cada novo dia seja um continuo sim numa vida consciente. Pois, tudo que vive não vive sozinho, nem para si mesmo. Porque tudo que vive é o nosso próximo”. O mundo precisa conversar, para se entender melhor. Deus me deu o poder de saber e aprender o quanto sou pequeno diante do meu semelhante. Muitas vezes nos achamos filho de Deus, mas não agimos como tal. Porém, o amor é maior que a dor que sinto.

Um Feliz e Prospero 2019 para todos nós.       


28 de dezembro de 2018

CONVIVEMOS COM IMAGENS QUE CONSTRUÍMOS

Na minha terra natal (Distrito Rubião Jr. – Botucatu SP), meus assombros de menino era saber qual a verdade contida em cada pessoa, daquelas que me rodeavam? Convivemos com as imagens que construímos das pessoas. Olhamos para a imagem que fazemos do outro e não para o ser humano que está a nossa frente. Presumivelmente, minha casa na infância era alegre e rodeada de pessoas aparentemente felizes. Com o tempo descobri que nem sempre elas diziam o que pesavam uma das outras. A minha perplexidade hoje é por que nos perdemos tanto em preconceitos bobo? Por que tantos encontros, amigos ou amorosos e mesmo profissionais? Por que começam com entusiasmo e de repente ou insidiosamente se transforma em objeto de indiferença, irritação ou até mesmo crueldade?

Entretanto, ninguém se casa, tem filhos, assume um trabalho querendo que saia tudo errado, querendo falhar ou ser triturado. Quantas vezes, porém, depois de algum tempo trilhamos uma estrada de desencanto e rancor? No mais trivial comentário, por que, em lugar de prestar atenção no outro, a gente prefere rotular, discriminando, marcando a ferro e a fogo o flanco alheio com um rótulo invisível e ao mesmo tempo tão evidente? Por exemplo, como: burro, arrogante, covarde, falso, mentiroso, canalha, desleal, vulgar, vagabundo e etc. Que muitas vezes humilhamos prontamente, demonstrando nossos preconceitos sem nos envergonharmos deles, pois nem damos conta disso.

Parece que não convivemos com pessoas. Convivemos com imagens construídas pela nossa falta de generosidade, aquilo que imaginamos que o outro seja. Não gostamos da pessoa e sim da imagem que fizemos dela. Ao perguntar sobre alguma pessoa do nosso convívio, ouço frases pejorativas, do tipo desabonando o caráter do outro. No entanto, só perguntei como a pessoa estava e nada mais. Não disse se a pessoa havia recuperado de um acidente, se estava deprimida ou já superara o trauma. Parecia que estava com raiva de tudo e de todos. Invariavelmente, não vemos gente ao nosso redor, vemos etiquetas. Vivemos como se estivéssemos isolados, com o olhar rápido e superficial, com um julgamento à mão armada.

Portanto, é esse tipo de coisa que quero saber quando leio noticias do tipo: “aposentado morre de infarto na rua”, “idosa é atropelada na avenida”, “mulher é assaltada no caixa eletrônico”. Quero a notícia completa, quem era aquele ser humano e não mais uma manchete de jornal. Não admira que a gente sinta medo, solidão, raiva mesmo que imprecisa, nem sabemos do que ou de quem. Atacamos antes que nos ataque, o outro é sempre uma ameaça, não uma possibilidade de afeto ou de amor. Sendo que um inimigo pode nos fazer muito mal, mas só um amigo pode nos destruir, porque ele nos conhece. Só ele pode destruir a imagem que temos de nós. Infelizmente vivemos de imagem, por isso os outros tem poder sobre nós.

24 de dezembro de 2018

ASSIM CAMINHAM OS HUMANOS

Apesar de toda a tecnologia e o avanço científico alcançado pelo ser humano, dia 25 de dezembro ainda é Natal. O Homem que nasceu nesse dia, no ano zero da nossa história, hoje deve estar preocupado com o mundo em que viveu e apesar de toda a Sua imensa sabedoria não deve estar entendendo. Por exemplo: Ele não deve estar entendendo, como os mesmos humanos, que se cumprimentam de coração aberto, com um sorriso nos lábios, podem passar pelo encantamento do Natal e prontos para começar a batalha, um contra o outro. Completamente desprovido de generosidade, condescendência, afeto e até mesmo de bondade.

O Homem que nasceu no dia 25 de dezembro do ano zero de nossa história, não pode entender porque o Natal funciona apenas como uma trégua, na imensa desigualdade social em que vivemos sem falar das discórdias familiares, as guerras que o ser humano trava todos os dias contra o seu semelhante e contra si mesmo. Mas Ele que viveu entre nós e é o “símbolo da nossa esperança”, ainda não perdeu a própria esperança. A esperança de que o ser humano um dia perceba que a trégua é o certo e o normal e que as guerras travadas contra teu semelhante é um grande equívoco. Portanto, a mensagem que Jesus Cristo nos deixou foi a seguinte:

Cumpra o projeto que Deus determinou de amar sempre o teu próximo, demonstrando gesto de gentileza e respeito. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pense mais sobre suas ações. Sentir o que realmente está sentindo, pois você é um “ser de amor”. Meditar muito sobre esse sentimento, meditar sobre suas inclinações e possibilidades de ser feliz no amor. Procure fazer o máximo que puder, para o amor continuar entre nós humanos. Para então, aperfeiçoar-se nesse projeto de vida, até que um dia possa devolver para Deus a imagem e o amor que Ele estampou em nós, quando aqui chegamos.

Minha mensagem para esse Natal é a seguinte: “não compreendo muito bem os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar esse Amor pelo meu semelhante, que neste momento está concentrado nessa leitura. Quero um mundo melhor para nós. Talvez então, nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem na casa. E daí possa, finalmente, todos viverem em pazQue nesta noite, nossos corações sejam as grutas e as manjedouras. Que nossa alegria, seja porta de entrada e o nosso acolhimento seja a fiança da permanência. Amor e generosidade entre todos os povos, entre todas as pessoasÉ nesta atmosfera que o Amor surge e se propaga clamando pela Paz entre os humanos”! Um Feliz Natal a todos!

20 de dezembro de 2018

DAS APARÊNCIAS ÀS IDEIAS PERFEITAS

Quando falamos das aparências e do mundo das ideias perfeitas, nos remetemos a Platão (427-347 a.C.). Platão foi um filósofo grego da antiguidade, considerado um dos principais pensadores da história da filosofia. Ele pertencia a uma das mais nobres famílias ateniense. Elaborou a teoria das ideias, pela qual procurou explicar o processo do conhecimento como a passagem do mundo das sombras, das aparências, ou seja, o nosso mundo sensível, dos sentidos, ao mundo das ideias e essências. Esse lado espiritual que temos. No mundo das aparências os objetos sensíveis geram as opiniões. De modo que, o conhecimento é formado no mundo racional das ideias, onde o ser é absoluto, eterno e imutável. Portanto, somos corpo e alma. Há uma centelha divina em cada um de nós.

O Mito da Caverna ilustra bem essa teoria platônica do processo desenvolvido pelo conhecimento humano. Na política, Platão imaginou uma sociedade ideal, governada por Reis e Filósofos. Pessoas libertas da caverna das ilusões e com o mais alto conhecimento do mundo das ideias. Para Platão, essas impressões sensíveis são responsáveis pela “opinião”, em grego = “doxa”, que temos da realidade. Entretanto, o conhecimento para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, isto é, dos sentidos, da opinião e penetrar na esfera racional da sabedoria, ou seja, no mundo das ideias. De modo que a filosofia platônica, não tem as opiniões como base, somente os fatos.

Portanto, para atingir esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia) precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia). Sendo assim, chegamos à conclusão de que as opiniões se formam no mundo apresentado pelos sentidos, enquanto que o conhecimento pertence ao mundo eterno, isto é, ao mundo das ideias inatas. A opinião por exemplo; gera preconceito além de tratar de coisas do mundo das sombras, das aparências. No mundo das ideias, segundo Platão é que mora a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria e a serenidade. Contudo, praticar filosofia significa explorar o seu universo interior. Vale lembrar, que a gênese da filosofia é antes de tudo discutir a vida.

17 de dezembro de 2018

FÉ E CONFIANÇA NA SABEDORIA INFINITA

A fé ou a confiança na “sabedoria infinita” é algo que deve ser aprendido e alimentado por todos nós. Mas, espero já ter plantado algumas sementes de fé e confiança em pessoas que me conhecem de perto e que certamente irão cultivá-las. Para formarmos o triângulo do sucesso, considero de vital importância às três sementes de fé e confiança. Sendo a primeira a fé na nossa riqueza interior com a qual podemos criar qualquer modalidade de sucesso que desejarmos. Segundo, a fé e confiança em nós como mentes conscientes que somos, pois, é essa consciência que nos torna senhor do presente e do futuro. E por ultimo a fé na existência de uma “Inteligência e Sabedoria Infinita”, que da ordem ao universo e que nos proporciona ajuda e orientação em todos os empreendimentos, desde que lutemos tenazmente, com entusiasmo e decisão inabalável, removendo as barreiras que o condicionamento passado, colocou entre nós.

Somos seres conscientes, essa é a nossa identidade. A parte de nós que chamamos de “Eu” é a nossa mente consciente. Embora ela seja espiritual, impossível de ser localizada e vista com olhos físicos, estamos absolutamente cientes de nossa existência e do que ela é capaz de realizar, através da força, do poder e da inteligência que extraímos da “sabedoria infinita”. No entanto, a nossa verdadeira vida é mais do que um corpo físico. A verdadeira vida é o nosso ser espiritual e a nossa mente consciente. Porém, nós temos o poder de atrair ou repelir toda e qualquer coisa. Temos o poder de subir grandes alturas na escada da realização pessoal e prosseguir em ascensão. Porque temos esse poder dentro de nós e está sempre trabalhando a nosso favor. As vezes ignoramos esse poder dentro de nós e damos aos outros, poderes para comandar a nossa vida. É porque estamos equivocados no comando da nossa vida.

Portanto, quando conseguirmos modificar a nossa maneira de pensar, começaremos a experimentar novos sentimentos. Sofro não pelo o que os outros pensam de mim, mas sim por aquilo que imagino que eles estejam pensando ao meu respeito. A fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que a gente não vê, mais confia. Firme na fé e na confiança, como quem vê aquilo que é invisível. É um olhar da alma com o coração. Confiança inabalável e sem o menor vestígio de duvida. Concluo com uma história contada no livro Talmud Taanit: “Um homem estava caminhando pelo deserto, faminto, cansado e sedento. Encontrou uma árvore com frutos doces, sombra agradável e um riacho passando junto dela. O homem comeu os frutos, bebeu a água e sentou-se à sombra da árvore. E quando estava pronto para partir, disseÁrvore, árvore, como posso te abençoarSe eu disser que seus frutos sejam doces – ora, seus frutos já são docesQue sua sombra seja agradável – ora, sua sombra já é agradávelQue a água brote aos seus pés, isso já acontecePortanto, rezarei para que seja Sua vontade, que todas as mudas plantadas a partir de você sejam como você”. 

13 de dezembro de 2018

APRENDENDO COM O CORAÇÃO

Parece que as pessoas estão se esquecendo de que as relações humanas precisam ser nutridas e cultivadas todos os dias para continuar vivas. O que me parece não é uma tarefa impossível, pois há de se praticar os exercícios naturais de constantes carícias como abraços, palavras carinhosas de incentivo e aceitação do outro. Porém, carícia significa toda manifestação humana física, verbal ou gestual que transmita a outra pessoa uma sensação de bem estar, aceitação e reconhecimento. Uma manifestação que demonstre o quanto aquela pessoa é importante para nós. Melhor do que falar sobre carícia é recebê-las ou praticá-las.

Segundo o filósofo e psiquiatra canadense Eric Berne (1910-1970), criador da “Análise Transacional”, ele acredita que exista na nossa estrutura corporal uma cadeia biológica que leva da privação emocional e sensorial a mudanças degenerativas e até a morte por causa da apatia. Neste sentido, a fome de contato físico, de abraço e de aconchego tem a mesma relação com a sobrevivência de um organismo humano quanto à fome de alimento. No livro “O Tocar”, do antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu, nos mostra o fantástico valor psicológico, afetivo e social do contato físico. Ele pouco fala de sexo. Fala de envolvência, carinho e contato como ações que estimulam a idade vital. O melhor estímulo conhecido para a defesa do sistema imunológico são as trocas de carícias bem feitas e bem recebidas.

No entanto, as pessoas estão cada vez mais se tornando apáticas. O diálogo de boa qualidade não existe mais, está escasso. Os nossos gestos de carinhos são estereotipados, tornam-se gestos vazios, feito automaticamente, meio robotizado, sem nenhuma conexão com o outro. É como se eu não tivesse presente. Mesmo o trabalho de uma parcela na educação é gelado, frio, somos indiferentes, mantemos uma relação de blindagem com os alunos. Temos a coragem de chamar essa linha de ensino de aprendizagem de educação, assim como chamamos a restrição da espontaneidade do aluno de educação. Por tudo isso é que acredito no poder do calor humano e na manifestação do coração através do contato físico e nas trocas de carícias. Não ficar apenas na intenção e na vontade de ser gentil.

Portanto, sempre que possível realçar verbalmente as qualidades do outro, pois esse é um comportamento lícito para que se concretizem as diversas manifestações de carícias. De dizer ao outro que está encantado e que é muito bom estar juntos, quando isto for verdadeiro, do coração, faz-se necessário que haja a fala informando a sua intenção, valido para todos os seguimentos sociais. Assim é nas relações, como na vida em geral, muitas coisas se perdem por não expressar ou pedir naquele momento em que há o envolvimento de um pelo outro. Nós humanos somos imperfeitos por natureza, não somos melhores e nem piores que o outro. Olhar o lado bom do outro, antes de perder energia em lamentar ou criticar o que é preciso mudar. Criar e recriar sempre e continuadamente novas sensações, novas emoções, novas manifestações de carícias através de uma expressão simples de afeto, como carinho, ternura, compaixão e companheirismo.

10 de dezembro de 2018

OLHAR COM A ALMA E DIZER COM O CORAÇÃO

Gosto deste contato com a natureza, de estar entre meio essa beleza natural, das quais só podemos enxergar com os olhos da alma. Olhar para essas pessoas simples que vivem e plantam seus alimentos. A beleza dos gestos imperceptíveis; das mãos que acolhem, das que nos abraçam, consolam e amparam. A beleza da palavra amiga, consoladora, estende-se a todo instante ao nos ver por perto. É um olhar com a alma e quando diz é com o coração.

Gosto desse silêncio compartilhado, desse olhar que acalanta, do abraço caloroso, do beijo silencioso, do aceno que jura; “ficarei aqui, por ser aqui o meu lugar”. Quando observo, procuro enxergar com os olhos da alma, para não deixar que a luz ofusque a realidade, aquela escondida, por trás de uma bela estampa, ou distorcida pelas lágrimas. Há também, aquela que disfarça numa deformidade afetiva, que nada tem de real. Pois, ambos foram afetados.

O belo mesmo, este, é invisível aos olhos. Prefiro me perder na escuridão dos meus olhos solitários e viver num mundo sem culpa. Do que me encontrar na luz dos olhos traiçoeiros dos espertos desalmados e condenar a minha alma para sempre. De modo que a beleza não está nos olhos de quem vê e sim nos olhares que se trocam, aqueles que tocam a nossa alma. Assim sendo, não sentimos esquecidos e sozinhos. Somos olhados com os olhos da alma.

Portanto, há flores no caminho, assim como há muito vida e ela chama por nós. Enxergue a vida com as lentes da sabedoria e com a certeza que ela é cíclica, vai e volta. Se puder evitar que um coração se parta, não terei vivido em vão. Se puder evitar a agonia de uma vida e acalentar uma dor, não terei vivido em vão. Concluo com um verso do cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918): “Não me basta saber que sou amado, nem só desejo o teu amor. Desejo ter nos braços teu corpo delicado, ter na boca a doçura de teu beijo”. Olhar com a alma é dizer no silêncio do teu mais amável e sutil coração. Estou aqui.

4 de dezembro de 2018

DESCOBRIMOS NA AMIZADE A ESSÊNCIA DO AMOR

A amizade é algo com uma tremenda importância na vida do ser humano, pois sem esse vínculo nós não teremos harmonia e nem paz. Precisamos de amigos para nos ensinar a partilhar, nos ajudar e a rir. Também para cumprirmos a nossa missão na terra, tal como amar o próximo como a nós mesmos. E para que isso aconteça, é preciso que em primeiro lugar nos aceitemos como somos e depois olhemos para o próximo. É assim que percebemos a nossa reação emocional e por isso compartilhamos dessa sensação prazerosa com quem nos ascende e nos estimula.

De modo que essas pessoas entram na nossa vida por vezes de uma maneira tão estranha, que até ficamos um tanto intrigados. Mas cada uma delas é especial, mesmo que o momento seja breve, com certeza elas nos deixarão alguma coisa. Todos nós cruzamos a vida de alguém para dar ou receber alguma coisa, aprender ou ensinar alguma coisa. A vida nos ensina que a todo o momento estamos à procura da nossa identidade, que é construída aos poucos na vida de cada um e que esse aprendizado, levaremos para o resto da vida. Momentos esses que nos marcam de uma forma surpreendente, que nos transformam, nos comovem, nos ensinam e que muitas vezes também nos magoam profundamente. Assim como nos alegram e nos levam a descobrir o sentido da nossa existência, de uma maneira que não tínhamos experimentado antes.

Portanto, procuramos nas amizades a essência do amor, aquela que nos tornam humanos. É no outro que nos descobrimos como ser de sentimento e de luz. Quando olhamos para a nossa história é que vamos nos dar conta que naquele momento descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é a mais pura bobagem. Com o tempo percebemos que as mulheres tem instinto “caçador”, portanto, somos a sua maior presa. Descobrimos que se apaixonar é inevitável. Percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples. Um belo dia percebemos que a pessoa que não parece se importar é a que mais se preocupa conosco. Um dia descobrimos que somos muito importantes para alguém, mas não damos valor. Um dia percebemos como aquela pessoa nos faz falta. Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos. A nossa amizade sempre será importante, porque foi através dela que descobrimos a essência deste amor, que não nos consome, mas nos mantém vivos. Sou grato a Deus pela nossa existência.

30 de novembro de 2018

NINGUÉM CRUZA NOSSO CAMINHO POR ACASO

Acredito que tudo que acontece em nossa vida, seja de bom ou de ruim, obedece a um propósito divino, que serve para nos purificar e nos melhorar como pessoa humana. É incrível como muitas vezes, em nossa vida, as pessoas boas, cuja virtude é a compaixão, chegam até nós de modo inesperado e, simplesmente, nos momentos em que mais estamos precisando. E o mais incrível é que essas pessoas ao entrar em nossa vida, trazem belos ensinamentos para o nosso presente. Até parecem que estão sabendo de nossas dores. Chegam na hora certa para nos ajudar. Chegam para nos mostrar algo, para nos conduzir por um caminho melhor, para nos curar, nos amparar e nos direcionar para o amor e a paz de espírito. Eu diria que todos, absolutamente todos que cruzam nossos caminhos, o fazem por um motivo maior.

Entretanto, algumas pessoas vêm outras vão. Algumas chegam e outras saem. Algumas são provações e desafios. Outras são como professores que a vida nos manda. Vejo nestas pessoas um anjo com asas, que foram enviadas para nos iluminarem no momento que mais precisávamos. Viver é divino e se não fosse, como poderíamos explicar a perfeição e a sabedoria da natureza? Sob todos os aspectos a vida é uma reflexão. Uma reflexão que nos leva a pensar e analisar os caminhos que temos que percorrer, quando nossas necessidades gritam dentro de nós esperando uma resposta. Somos capazes enxergar muito longe, de sentir tudo o que o coração é capaz de suportar. Tenho como certo que o pensamento leva meu espírito para lugares que jamais o meu corpo percorreu e fará com que entre em estado de devaneio pelas inúmeras ideias e sensações que percorrerão as profundezas da minha alma.

Portanto, todo o caminho parece estar traçado em nós mesmos. Ninguém cruza nosso caminho por acaso e nós não entramos na vida de alguém sem nenhuma razão. O universo conspira para que as pessoas se encontrem e resgate algo umas com as outras. Conhecer a alma significa conhecer o que as pessoas sentem o que elas realmente desejam de nós ou o que elas procuram no mundo, pois só assim é que poderemos tê-las por inteiro na nossa vida. Ao sentir alguém que cruza o nosso caminho e se torna especial para nós e, nesse momento ocorre trocas prazenteira é o estado mais gostoso de sentir a vida. De modo que poderá nos dar um momento de felicidade e nos fazer sentir iluminados. Todas as pessoas podem nos trazer a nossa tão esperada paz e nos fazer sentir nos braços da divindade. Tudo na vida obedece a um propósito. No desejo de cada um e no seu tempo certo, o amor nos toca.

27 de novembro de 2018

PRECISA DA AUSÊNCIA PARA DESEJAR A PRENSENÇA

Não acredito em pessoas que se complementam. Só acredito em pessoas que se somam. Às vezes não conseguimos dar cem por cento do que gostaríamos de dar a nós mesmos. Como posso cobrar cem por cento do outro? Tem gente que precisa da ausência para desejar a presença, o que é lamentável. Quando tem a presença não valoriza. O ser humano não é absoluto. Muitas vezes ficamos indecisos, temos dúvidas e medo, mas se uma pessoa tem amor e respeito pela a outra, ela sempre se faz presente. Pelo fato do que tenho não me pertencer, embora faça parte de mim. Tudo o que tenho foi colocado pela vida a minha disposição, para que possa dividir com aqueles que entram na minha vida. Tendo em vista, que ninguém cruza nosso caminho por acaso e nós não estramos na vida de alguém sem nenhuma razão.

No entanto, há muito que dar e o que receber; há muito que aprender, com as experiências boas ou ruins. Tudo que nos acontece de bom ou de ruim na vida obedece a um propósito, do qual tiramos alguma lição. Quando a gente não consegue tirar da cabeça alguém que nos feriu, estamos somente reavivando a ferida, tornando-a muitas vezes bem maior do que poderia ser. Até porque nem sempre as pessoas te ferem voluntariamente. Muitas vezes somos nós que nos sentimos feridos e a pessoa nem mesmo percebeu o estrago. E nós nos sentimos decepcionados porque aquela pessoa não correspondeu a nossas expectativas. A gente se decepciona e decepciona também. De modo que é bem mais fácil pensar nas coisas que nos atingem.

Portanto, um dia vamos deixar esse mundo, vamos sair dessa vida para sempre. A única coisa que vamos deixar é a lembrança do que fizemos aqui. Seja bom, tente dar sempre o primeiro passo, nunca negue uma ajuda ao seu alcance, perdoe aqueles que fizeram uso do seu convívio e hoje te ignoram. Seja uma benção na vida de quem está ao seu lado. Cada pessoa é a linguagem de Deus, que chega até nós. Ele usa os que estão aqui dispostos a cumprir essa missão. A eternidade está nas mãos de todos nós. Viva de maneira que quando partir, muito de você fique naqueles que tiveram a sorte de te encontrar. Contudo, felicidade não é nenhuma recompensa, é um direito natural de todo ser humano. Se já foi feliz um dia, mesmo que por um momento, isso pode encher seu coração de esperança. Porque o sol volta, a chuva volta mesmo às tempestades voltam, Sendo assim, os bons momentos também voltam.

23 de novembro de 2018

NÃO ACREDITO NO AMOR COMO POSSE

Para o filósofo e teólogo judeus Martin Buber (1878-1965) dividiu as relações humanas em dois tipos: O “eu-você” e “eu-isso”. O primeiro representa as relações amorosas, à troca de reciprocidade. Enquanto no segundo é marcado por relações possessivas e manipuladoras, isto é, pessoas que se relacionam com o outro como se este fosse um objeto. Todavia, uma relação saudável precisa principalmente de interação “eu-você”, mas frequentemente cometemos o erro de tratar as outras pessoas como coisas, criando uma dinâmica “eu-isso”. Uma maneira ante social e desrespeitosa que denota poder e que certamente resultará em rivalidade. Razão pela qual não acredito no amor como posse.

No entanto, amor é para dar e receber, é a doação do outro para conosco, é assim que deve ser visto. Às vezes não recebemos, mas é importante continuar dando. A posse não funciona com o amor, é um dos temas mais recorrente nos meus ensaios filosóficos: “Crônicas do Amor em Verso e Prosa”, que agora também virou livro. Entendo que o amor não muda com o tempo, a única coisa que muda é a maneira como se fala de amor. As histórias de amor são sempre iguais. A forma de falar do amor é que muda. O amor é um projeto sempre renovado que surge de repente. Ele traz em si uma exigência de permanência no tempo. Amar é aceitar o outro tal como ele é e tal como será, imutável com o seu potencial de dinamismo.

Portanto, vejo no amor uma comunhão intensa, que cada qual participa da vida um do outro e qualquer separação representa um dilaceramento. Não conseguimos estar sós, porque fomos programados para dar e receber amor. E estando a sós, não sabemos dar a nós próprios! No fundo, o querer possuir, o ser nosso é uma limitação da felicidade, porque gera ciúme, desconfiança, conflitos e discussões. O amor nunca poderá florescer, se estiver enclausurado. É como uma flor numa jaula, que dificilmente crescerá, porque não há espaço para a criatividade, nem espaço para o próprio crescimento. E, sem crescer, tudo para e morre. Até o amor!

19 de novembro de 2018

TUDO NA VIDA É RITMO

No meu corpo trago registros pelos anos vividos, que veste essa morte bem devagarinho. Bendito o vento noturno que anda no dorso do destino. Não tenho perdões para pedir se acreditei em meus enganos. Tais a velha mangueira do pomar que largaram frutos na vida ainda que fartos. Peço-vos só, Senhor e Pai, que nesta hora em qualquer lugar, haja um menino de coração decidido olhando a exata luz deste esplendor humano da tua cruz.

São gritos de vida pelo mundo, no seu reino efêmero como dos amantes, a primeira dança que urge delícias e erotismo, pólen emigrando e provocando estranhezas nos corpos do homem e da mulher. Junto aos rios as árvores são vestais celebrando um rito de risos, orgia que finca raízes em nossas almas. É o império tecido de cipós e ramas, sustentado por pássaros e paixões.

Tudo na vida é ritmo e nessa toada cheguei até aqui. Sob a geada ou sob neve corre o rio da vida. Coxas no quente da cama, vidas entrando em vidas, aflições gozosas. Rola também a despeito do frio triste a quente consolação dos sexos. Inverno que mata e recria recolhimento meditado de brasas que resistem. Noites de nudez e brancura de versículos bíblicos e carnes rangendo.

Portanto, quando algo é feito com a mesma finalidade, é um fim que recomeça ou uma névoa matutina que vai ao horizonte puxar o sol para as colinas. No ritmo da vida mora debaixo dos cobertores o doce dos corpos e detrás de janelas e portas fechadas, em fogão que se acende, mora a reconstrução das novas estações. Amo esse momento de transição como se fosse o fim da infância. E debaixo desta árvore, há dois corpos anunciando-se ao tato do mundo.

16 de novembro de 2018

A NOVA MULHER QUEBRANDO PARADIGMAS

A transformação do mundo e dos valores recorrente a modernidade, se da numa velocidade gigantesca. Os paradigmas estão aí para ser quebrados. E são as mulheres as primeiras a quebrar, por serem mais perceptivas e sedentas por mudanças. Tudo começa com um olhar atento da nova mulher. Ela olha para a vida com entusiasmo e consegue enxergar mais do que meras futilidades. Com os pés fincados no chão e sem medo de enfrentar os percalços da vida, humildemente segue sua jornada. Ela sabe e de jeito nenhum deve ser arrogante, egocêntrica, desonesta, desanimada e infeliz. Ela tem que ser definitivamente simpática, grata, humilde, verdadeira, animada, amorosa e feliz. São muitos os paradigmas a ser quebrados. Olhando para o seu lado poético, sentimos nela o cheiro da natureza e a beleza de uma flor, que distribui carinho e é cheia de amor. Tem cor de paixão e sempre um abraço para os momentos de solidão. Possui um sorriso de menina e uma força tão grande, que é notada na sua adrenalina. Sonho de criança, mas, jamais na vida perde a esperança.

É uma pena que os valores chegaram distorcidos juntos com a modernidade. Para o amor não tem limite, ou se ama mesmo ou se inventa desculpas para não dizer exatamente que ama. É tão difícil encontrar pessoas bacanas numa sociedade egoísta. E quando se encontra as pessoas se limitam no seu circulo fechado. Que mundo complexo! Há tantos que querem amar e não conseguem, há poucos que têm a chance e a desperdiça. Talvez por ter se machucado no amor, que não consegue ver mais sinceridade nas pessoas, a não ser cobrança. Mesmo assim acreditamos no amor. De alguma forma para alguém nesse mundo ainda existe a mulher ideal ou vice e versa. Embora os homens estejam deixando muito a desejar. Algumas mulheres, ainda continuam cultivando o amor romântico. Mas afinal, como deve ser essa mulher ideal? Esta pergunta entre várias outras perseguem as mulheres de modo geral. Este é um ponto difícil de discutir, pois cada mulher tem seu jeito, cultura e costumes específicos.

Portanto, a mulher ideal é aquela que consegue administrar sua vida, independente de sua forma, sua cultura, sua religião e sua nacionalidade. Esta mulher que é simples por natureza, que sabe como ninguém entender os sinais do amado, antevendo lhe os movimentos estando sempre ao seu lado. Ou aquela que não seja perfeita, mas que busque a perfeição em todos os seus gestos. É aquela mulher que mostra a sua beleza todos os dias, como no primeiro encontro, fazendo dos momentos com o seu amado um eterno reencontro. Para essa mulher mesmo com o passar dos anos, tem sempre o sorriso de menina, pois o enrugar da pele é ínfimo perante a alma feminina. A nova mulher se apresenta perante a sociedade como a mais formosa dama. Contudo, é na intimidade que a nova mulher partilha todos os seus segredos. Descobrimos com ela, que as histórias de amor são sempre iguais. A forma de sentir e de falar do amor é que muda. Mesmo ela não sendo uma “deusa onipotente”, sabe como ninguém trazer um pedacinho do céu para o seu homem.          

11 de novembro de 2018

MATURIDADE É SINÔNIMO DE SABER VIVER

Vivemos neste século uma grande transformação de costumes. A começar pela liberdade de ser e de se exprimir. Novos paradigmas estão surgindo, como a espiritualidade, o autoconhecimento, o afeto e a alegria. Somente nos últimos quarenta anos, a sexualidade deixou de ser negado, o que significa que essa temática também está ganhando terreno na maturidade. Por conseguinte, a mulher madura busca um homem gentil, protetor se solicitado, que tome iniciativa e satisfaça alguns de seus desejos. Que seja responsável, atencioso, carinhoso e aceite carícias e as saboreie. Que saiba receber e se entregar, que viva o erotismo de corpo inteiro, cujo encontro não seja só sexo, mas também celebração. Essa nova mulher quer um homem sensual, de prazer pleno difuso, com o qual nasce para saber aproveitar a vida de várias formas, o que só cessa com a própria morte.

Já o homem maduro busca uma mulher ativa, segura e provocante. Traduzindo melhor, uma mulher gostosa, quente, que gosta de ser apreciada, que goste de fazer sexo, que goste de dar prazer, que fique excitada quando está junto do seu parceiro. Entretanto, são poucas e raras as pessoas que chegam a idade madura na plenitude, sabendo se abrir para a vida, dar e receber, fazendo do sexo uma contra dança de parceiros, que se encontram, se apreciam, se realizam, caso venham a se separar, sentem falta depois e até mesmo saudades. Quando os amantes conseguirem colocar o sexo num plano maior ligado à espiritualidade, isso ajudara as pessoas a se libertarem de seus medos, culpa e vergonha, raiva e desespero de solidão, tudo o que traz infelicidade e impedem a nós  todos de amar para valer, em qualquer idade.

Portanto, se nós não curarmos primeiro, todas as feridas não se fará a revolução sexual na maturidade. E não há como curá-las a não ser por meio da informação clara, da palavra cuidadosa, do toque amoroso. Da verdade implícita. Como diz um provérbio oriental: “Se mergulhas e não encontras pérolas no mar, não pensem que elas não existem”. Ao nascer o nosso corpo ainda não foi escrito, no dizer do filósofo inglês John Locke (1632-1704): "nossa mente é como uma folha de papel em branco, uma tabua rasa, que durante a nossa experiência no mundo se incumbe de imprimir". Com o passar dos anos a nossa própria história, cultura, os desejos e a própria vida se inscrevem, como um carimbo de nossa vivência. Contudo, trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível lá, está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que maturidade também é sinônimo de saber viver. Desfrutar do sexo pleno, amoroso e maduro, parece-nos dominar a nossa própria essência humana. Somo apenas um corpo, nosso cartão de visita que traz registrado a nossa biografia.

8 de novembro de 2018

VELHICE NÃO É SINAL DE ESTUPIDEZ

Assim como a juventude não é sinal de produtividade, a velhice não é sinal de estupidez. O meu medo não é das atividades profissionais que se encerram com o passar dos anos, mas, da vida que continua. Que o medo não seja da indiferença, mas da própria vida em si. Há um equilíbrio e uma contradição em cada idade. Há uma dor em cada idade. Mas é o momento de dar uma resposta dura, que talvez os anos de trabalho tenham impedido que eu dissesse com clareza: “quem sou eu?” Agora sem a fantasia e sem a personagem. A vida é um caminho longo, onde você é mestre e aluno. Algumas vezes você ensina e todos os dias você aprende. Por outro lado, envelhecer é tornar-se invisível, já não sou mais o centro das atenções, logo, sou apenas eu e minha circunstância. A solidão é o lugar onde estou comigo mesmo. A fama e a atenção é o lugar onde estou com os outros. Diz um ditado popular: “conversa de velho ninguém escuta”. Será que não mesmo?

Não sei mais se tenho medo da velhice ou tenho medo de mim mesmo. A diferença entre inferno e purgatório na tradição católica, é que o inferno é para sempre e o purgatório é passageiro. Os budistas tem razão, desejar incessantemente algo, tem um defeito. Impede que eu veja a beleza do lugar onde estou. Na certa vou ser infeliz. Incessantemente vou ver o pior de cada situação. Não quero ser estupido, só quero ser feliz. Envelhecer é para mim, ficar observando as árvores, os rios e os pássaros, voando de galho em galho. Gosto de apreciar o meu contato com a natureza. Afinar a sensibilidade, apreciar com a alma e ver com o coração. É levar os olhos para passear pela natureza, é a estratégia bibliográfica, parar e fixar o olhar em tudo que encanta a alma. Envelhecer é saber desejar o que posso, e aproveitar o que consigo. Dizer a cada época, não existe nada no meu tempo que não seja agora. Como diz Santo Agostinho (354-430) no seu ensaio as Confissões: “Só existe o presente, o passado é uma memória e o futuro é inexistente”. Só existe o hoje, este é o meu tempo. “Nunca fui nada, apenas sou”.

Portanto, quero estar na companhia de pessoas que façam a viagem até o fim, e não daquelas que nos acompanham por conveniência. Quero pessoas que nos acompanham nesta jornada, que tenha objetivos e descubra no prazer de envelhecer uma alegria que nunca teve antes, porque o nosso tempo é agora. Quero ter garantia que minha vida continua sendo minha e gerida por mim, instrumentalizada por mim, tecida com os fios aleatórios do amor. Apesar da minha pouca idade (67 anos), pai de três filhos, sendo a caçula adolescente (13 anos) e a eterna juventude que carrego, por conta desse entusiasmo descobri no exercício físico o prazer da corrida e na música, a leveza da dança. Aqui está o verdadeiro segredo da longevidade. Mente sã em corpo são. Posso dizer que estou em paz com o meu espírito e com aqueles que me estimam e apreciam o que eu escrevo. O que mais posso querer da vida? Como dizia Madre Tereza de Calcutá (1910-1997): “Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las”.

4 de novembro de 2018

NOTÓRIA DECADÊNCIA NA EDUCAÇÃO

É triste ver que a escola publica ainda segue padrões tradicionais referentes ao século XIX, apoiando-se em instrumentos poucos chamativos e eficazes para o desenvolvimento e concentração do aluno contemporâneo. Como esperar que uma instituição tão sólida em sua disposição, com paredes que sufocam a possibilidade de uma criança ver o mundo e carteiras que as isolam de seu convívio social com os demais colegas e até com a figura do próprio professor? Essa instituição educacional pode efetivamente, estar a serviço do desenvolvimento humano e criativo de um indivíduo? Ora negligenciada nos investimentos, ora tratada como objeto de consumo, em que o aluno é cliente, a escola acaba caindo em uma lógica mercantilista e, assim, se desviando de seu propósito básico, que é o de educar.

No entanto, o capitalismo selvagem transforma tudo em mercadoria. A educação não podia ser a exceção. Nesse contexto não há espaço algum para acolher o sofrimento do professor. A esse mestre é reservada a solidão. O que parece é que alguém deve ser culpabilizado pela notória decadência da educação. O professor cumpre um papel muito diferente de sua função de educador. Cumpre a função de ser o responsável direto pelo não desenvolvimento educacional. Mas e aquele professor que consegue atingir o seu aluno e desenvolver um trabalho coletivo com seus alunos? Esse professor cai na cilada de ser usado para culpar os outros professores que não atingem sua meta de trabalho, além, claro, de ser rechaçado pelos seus próprios colegas por ter conseguido fugir do peso de uma lógica tradicional.

Portanto, a decadência da educação é uma realidade vital e condicionada por circunstâncias concretas e chamada a superá-la a partir da própria situação em que se encontra o sujeito da educação. De modo que educação é a apropriação da cultura, e através da história se torna a construtora do sujeito histórico. É através da educação que nos fazemos humanos e históricos, como autores no modo de refletir sobre a realidade, sobre o mundo e sobre nós mesmos. A pergunta correta a se fazer é a seguinte: “A escola da resposta às necessidades presentes?” “Nosso sistema educativo continua sendo para o aluno um sistema educativo que o atrai?” Não! Há muito tempo deixou de ser. Temos hoje uma escola do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI. Basta olhar a queda de inscrições no Enem 2018, que foi de 5,5 milhões de inscritos, menor número desde 2011. Houve uma redução de 18% em relação a 2017. Isto não é notória decadência no ensino público? Só um dado para fundamentar o que digo: na Diretoria de Ensino Região Leste de Campinas, temos um déficit de 560 professores. Onde está o problema?

31 de outubro de 2018

PROFESSOR, UMA CATEGORIA EM EXTINÇÃO

A diferença entre o conhecimento e o saber torna-se fundamental para destacar o valor da profissão. Os aparelhos eletrônicos são capazes de transmitir conhecimentos, mas não saberes. Uma coisa é transmitir informação, outra muito diferente é transmitir experiência. Essa última só é transmissível por outros humanos, geralmente nós professores e os pais. Quando se supervaloriza a informação, desautorizam-se os verdadeiros responsáveis pela educação, no caso pais e professores. A revolução tecnológica e da comunicação, portanto, impõe aos educadores um desafio além dos já existentes. Qual o papel do professor em uma sociedade com acesso ao conhecimento facilitado por tantos recursos?

Cada vez mais, estão desaparecendo os detentores do saber e aparecendo gerenciadores de informações. O papel do professor passará a ser o de ensinar as pessoas a lidar com os dados, extraindo daí informações. Parte do estresse que enfrentamos hoje é justamente por conta de estarmos no meio dessa transição, sem saber o que nos espera. Pensar o papel do professor demonstra a urgência de se refletir sobre o sentido da educação e da escola. A escola é o espaço privilegiado para transformações pessoais, coletivas, sociais e culturais ocorrerem. E os estudantes são os grandes protagonistas de todo o processo, em parceria com os professores e os pais.

Portanto, não da para entender a escola como um lugar para onde se vai, exclusivamente, aprender determinados conteúdos, sem nenhuma relação com a vida, mesmo porque esses conteúdos, por si só, são insuficientes para os desafios que enfrentamos em nossa sociedade e na formação humana. Sinto evidentemente, que a instituição escolar necessita urgentemente de uma reformulação em seus métodos e estruturas. Vale lembrar que o núcleo da educação reside no valor da palavra. Quando ela se transforma em mercadoria, perde seu poder de regular as relações sociais. Em lugar de ser elo de enlace, ela passa a ser ferramenta de controle e opressão. Contudo, ser professor é um lugar solitário. Ser um professor com forças para lutar contra um sistema que quer derrubá-lo, é um lugar mais solitário ainda.

27 de outubro de 2018

DESRESPEITO E DESVALORIZAÇÃO DO PROFESSOR

O professor pode ser uma janela para o mundo que se vê, ou além, para o mundo que se deseja construir. Ainda na infância, intermediados por esse profissional, experimentamos realidades que não conhecíamos e conhecimentos até então inéditos. Podemos até achar que eram apenas matemática, português, história, filosofia ou ciências, mas era vida em pequenos ou maiores fragmentos. E essa vida era tecida por cada saber que íamos conquistando.

Alguns desses saberes davam seu adeus depois da aprovação do vestibular. Outros ficavam em algum canto da memória, para serem utilizados em um quiz numa entrevista de emprego. Outros tantos magicamente se dissolviam no dia a dia e no repertório de vivências. Passageiros ou permanentes, tais saberes ajudavam a constituir a história singular de cada pessoa. O saber da nossa espécie, a humana, não se transmite pela genética, mas sim pela linguagem. Os professores são especialistas nesta transmissão de saberes. De modo que, nossos especialistas, infelizmente, andam matando leões diariamente.

A profissão é cada vez mais desvalorizada; a remuneração dos professores é muito abaixo do básico e impede a reciclagem de experiências, como comprar livros ou fazer um curso; a instabilidade no emprego é uma realidade, assim como a carga horária exaustiva; a infraestrutura é precária ou deixa a desejar. Na sala de aula, os desafios aumentam. A autoridade é questionada por pais e alunos; a indisciplina comparece com uma ofensa verbal ou mesmo uma agressão física; alunos desinteressados tentam ser avivados por professores desestimulados; a cobrança por desempenho dita os caminhos do que deve ser considerada educação.

O reflexo desses desafios são os afastamentos do trabalho por algum “transtorno mental” ou problema de comportamento, responsáveis por mais de vinte por cento dos casos. Só na rede estadual o ensino de São Paulo em 2017 foi dado 327 licenças médicas por dia a docente com problemas de estresse. Os professores estão entre os profissionais que mais se afastam do trabalho por transtornos mentais. O desgaste na relação com alunos e os desafios de manter a atenção em crianças cada vez mais dispersas, sobrecarregam os professores, colocando-os em sofrimento frequente e adoecendo.

Portanto, não é fácil para um professor admitir que sofre ou que não tem paz em sua prática. Parece que paira sobre ele a marca de uma abnegada coragem aliada a uma sabedoria terapêutica que não lhe permite fracassar. Todavia, o que mais tira o sossego do professor é o fato de que os alunos leem pouco e que realmente não se incomodam com isso. O que mais causa sofrimento ao mestre é o desrespeito, a mentira, o pouco caso diante do conhecimento humano. Contudo, o que nos deixa triste é que o professor se tornou objeto de críticas mesquinhas por parte dos alunos e também das famílias. Reitero com muita tristeza a angústia dos meus colegas professores e compactuo com eles da mesma dor.

25 de outubro de 2018

QUEM MAL LÊ, MAL OUVE E MAL VÊ

Abro esta reflexão com uma frase do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), que diz: “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. É com muita tristeza que olho para a falta de respeito entre os políticos e seus eleitores. A falta de ética entre os partidos políticos, que contam com o apoio da mídia na disseminação do ódio. A maior falta de respeito é com a educação. Subestimam a inteligência do povo ao negar seus direitos a educação e cultura. Não há um incentivo a leitura e ao conhecimento. Ler para mim é como respirar. Preciso da leitura para oxigenar meu trabalho, minhas relações, minha vida. Já fiz inúmeras viagens, conheci santos e criminosos, ri e chorei em situações muito diversas, aprendi e reaprendi a viver – tudo isso nas páginas dos livros. Com mais leitura e conhecimento, o cidadão comum terá capacidade de interferir na realidade e exercer plenamente a crítica, cuja ausência nos faz tanto mal. Vivemos num mundo onde tudo passa muito rápido. De modo que, reconciliando com a leitura, as pessoas terão acesso aos instrumentos necessários para o resgate crítico da nossa história e da nossa famigerada democracia.   

Defendo a tese de que a ausência de cultura básica e educação afastam os jovens e crianças da leitura e sem esta, serão incapazes de escrever até a sua própria história. É com preocupação que venho percebendo o distanciamento dos jovens diante desse universo estimulante que é a leitura. Quero acreditar na conciliação dos dois. O encontro entre o jovem e a leitura deve ser promovido pelas mãos precisa e eficaz dos educadores que tem o papel fundamental nessa aproximação. Nesse desafio, o educador conta com uma segura parceria entre leitura e a escrita, estabelecendo um vínculo capaz de desatar o nó que impede a nossa avaliação critica ao momento histórico e político que estamos atravessando. Somos uma nação sem memória.

Portanto, encerro essa reflexão citando o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014) que diz: “há um tipo de educação que tem por objetivo produzir conhecimentos para transformar o mundo, interferir no mundo, que é a educação científica e técnica. Mas há uma educação – e é isso o que chamo realmente de educação – cujo objetivo não é fazer nenhuma transformação no mundo, e sim transformar as pessoas”. Sobretudo, por ser a leitura o alimento da alma. Pois, ela torna o nosso conhecimento mais amplo e diversificado, isto é, saber com objetividade. Hoje vejo o mundo com os olhos daquele menino que cresceu e continua ouvindo o que as coisas dizem. A minha fala é a voz das coisas. Entrei no universo das coisas e as transformei em literatura e poesia. O menino que cresceu em mim, hoje compreende a esperança como uma dependência simples e imprevisível. Enfim, ler é compreender e saber descrever o mundo com clareza.

21 de outubro de 2018

CONTINUAMOS NA CAVERNA DE PLATÃO

Nunca vivemos tanto na Caverna de Platão como estamos vivendo no momento atual. Vendo sombras e achando tudo isso maravilhoso, como se fosse à realidade absoluta e irrefutável. São assimiladas como verdades inquestionáveis! Será? Somos sábios ou estúpidos? Se viver é um ato político, até mesmo um show de rock pode refletir essa afirmação. Um dos maiores espetáculos do planeta, pela grandiosidade que vai da música às estruturas de palco, a turnê “Nós mais Eles”, o vocalista e fundador da banda Pink Floyd, Roger Waters, poderia representar apenas uma noite de entretenimento. Aparentemente era isso que parte do público que foi à apresentação no Allianz Parque Estádio do Palmeiras na terça-feira (9/10) em São Paulo, acreditava. Mas, diante das vaias que o baixista recebeu após exibir no telão mensagens de “# Ele Não” e colocar o candidato à presidência Jair Bolsonaro numa lista de políticos neofascistas, parece que muitos ficaram surpresos.

Penso que vaiar um artista faz parte do jogo. Mas pagar um ingresso caro, como os dos shows de Roger Waters e se dizer surpreendido por sua mensagem política e seu ataque a Bolsonaro, soa de uma ingenuidade imensa. Afinal, essa parcela dos fãs do baixista simplesmente não entendeu a mensagem de oposição que ele passa desde a banda Pink Floyd. Waters foi apenas coerente em sua mensagem, reafirmando pontos que ele defende há décadas, principalmente de oposição ao sistema. A mensagem de Jair Bolsonaro até se encaixa nesse tipo de protesto do cantor, por ele apostar no “contra isso tudo” e no sentimento de indignação. No entanto, Waters sempre o fez em um caminho democrático, de não violência, de defesa das minorias e de oposição ao estabelecido. O discurso pró-armamento, as declarações racistas, homo fóbicas e favoráveis à ditadura do líder do primeiro turno nas eleições presidenciais estão longe dos ideais do inglês.

Entretanto, está no DNA de Waters esta veia combativa. Seu pai, que foi do partido comunista inglês e depois se definia como pacifista, morreu em combate durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando Waters tinha apenas cinco meses de vida. Seu pai achava que tinha de se envolver num necessário combate aos nazistas, mas isto lhe custou à vida, argumentou o músico numa entrevista em 2014. Mas ao se posicionar contra Bolsonaro e ouvir um misto de # Ele Não com vaias, Waters não escondeu a expressão de surpresa, balançando a cabeça negativamente. De modo que um dos setores em que as vaias foram mais estridentes foi perto do músico, na pista VIP, cujos ingressos custavam 810 reais, o que combina com o perfil do eleitor do candidato, formado principalmente de eleitores de classe média alta e de escolaridade elevada, ou seja, a elite segundo as pesquisas do Data Folha. Uma coisa é certa: Waters não chegou a surpreender quem conhecia a sua obra e já viram seus shows. A dúvida era como isso aconteceria. Surpreendente, foram as vaias e os posteriores comentários de que ele estava buscando fama, pois já está velho ou as ironias de que ele aceitou dinheiro da Lei Rouanet.

Portanto, tudo isso só comprova que estudar história, filosofia e interpretação de texto se faz necessário num país onde impera o “analfabetismo funcional”. Ouvir a discografia de Pink Floyd parece ser um bom começo para alguns desenformado. De modo que nunca vivemos tanto na Caverna de Platão como hoje. Estamos mergulhados e aprisionados na caverna das ilusões e da indiferença. As próprias imagens que nos mostram a realidade, de tal maneira que substitui a própria realidade. Vivemos num mundo de imagens, num mundo audiovisual. Efetivamente, estamos a repetir a imagem das pessoas aprisionadas na caverna, olhando em frente e vendo sombras e acreditando que essas sombras são a realidade. Foi preciso que passasse todos esses séculos para que a Caverna de Platão, finalmente voltasse a aparecer neste momento histórico da política brasileira. Somos engolidos e arrastados por um pensamento único. Platão acha que a maioria das pessoas cresce e fica satisfeita com a visão que adquiriram das coisas e não gostam quando as forçam a pensar sobre elas. A única saída jeitosa para a sociedade será através da educação e pela busca constante do conhecimento. Só o pensamento é capaz de provocar mudanças significativas no interior da caverna. Como diz um proverbio latino: “se és feliz com a ignorância é loucura tornar-se sábio”.

18 de outubro de 2018

EDUCAR E HUMANIZAR SÃO SINÔNIMOS

Educar é criar constantemente a identidade humana. Trata-se de reconhecer que, em cada pessoa humana, reconstitui-se a trajetória de toda a espécie humana. A identidade humana não é algo ou uma condição pronta, acabada. Precisa ser constantemente reconstruída, refeita, ressignificado em cada novo ser, em cada criança, em toda nova pessoa ou geração. Uma criança configura toda a possibilidade humana. Quando vejo uma criança enxergo a grandeza de toda a humanidade. Como argumenta o filósofo e educador Cesar Nunes (Unicamp): “em cada novo ser refaz-se a experiência de toda a marcha cultural e civilizatória da humanidade”. Talvez por isso vim a ser professor, amo e admiro a educação. Compreendo o processo e a prática educativa como o mais genuíno processo de humanização, de constituição da identidade humana em cada pessoa. Educar e humanizar são sinônimos.

Não nascemos prontos, acabados, no sentido de nosso ser. Temos que aprender a sermos humanos. A condição humana é a primeira e a permanente prática de aprendizagem. Ser essencialmente humano, ser pessoa humana, é exatamente aprender a ser humano, aprender a ser pessoa. Aprender é, portanto, a primeira e mais radical organicidade de condição humana. O homem é um ser que aprende. Todas as pessoas aprendem a vida inteira. E toda a vida é aprender. “Aprendo” é o verbo mais importante conjugado pela história e pela marcha da humanidade e dos grupos humanos. Tudo o que fomos, tudo o que somos e tudo o que seremos, dependerá dessa radicalidade de nosso ser e de nosso existir: “eu existo, eu aprendo”! Mais ainda, se eu aprendo, eu existo! Parodiando o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650): “Penso, logo existo”. Vou um pouco além: “Penso, logo incomodo”.

Portanto, o ser humano tem como pressuposto básico o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens e com ele aprendemos. Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajuda-lo a viver”. Porém, estar atento significa estar disponível ao espanto. Os gregos diziam que quando a gente se espanta, a inteligência faz a pergunta. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor criar no aluno o hábito da leitura. Para o educador Paulo Freire (1921-1997): “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania. Educar e humanizar é, estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe. Aproveitar esse dinamismo próprio da condição humana de aprender sempre. A criança é o pai do homem. É na infância que se projeta a dialética do adulto para a vida toda.   

14 de outubro de 2018

DIVERGÊNCIAS POLÍTICA SIM, MAS COM ÉTICA

O assunto política é perverso e difícil de ser tratada no momento atual, onde as divergências políticas desrespeitam a ética e a democracia, gerando violência e opressão. Como cidadão e professor de filosofia, sinto-me impulsionado a discorrer algumas considerações sobre os últimos acontecimentos políticos no país. Um assunto espinhoso e delicado, mas que o estado democrático permite-me trazer para a nossa reflexão. Devo dizer que aprecio o posicionamento de pessoas que pensam diferentes, pois, busco compreender as motivações delas. Igualmente, aprimoro ideias a partir dos diálogos na medida em que sou instado a ouvir ou a ler sobre algo distinto do que penso. No entanto, mais recentemente, tenho notado posições mais fervorosas, destituídas de racionalidade, de rigor, de lógica e ancoradas na paixão e fanatismo por um ou outro candidato e, neste caso, justamente por não haver diálogo. De modo que tenho adotado a postura de ser radical com pessoas assim, por meio do meu silêncio. 

Entretanto, citei inúmeras vezes em minhas reflexões o ensaio “Humano, Demasiado Humano” do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) que dizia: “convicções são inimigas da verdade e mais perigosas que as mentiras”. Sendo assim, aos convictos, recomendo a razão, a frieza e o distanciamento do que se diz, para a possibilidade de entendimento do que se fala. Não acredito na violência como forma de resolução de problemas, seja pela formação que recebi ou pelos distintos livros que li ao longo dos anos de vida acadêmica, que me propiciaram a compreensão do que está em risco quando se escolhe um inimigo a ser eliminado. A capacidade de discernimento aqui é importante, dado que muitos não conseguirão ver os méritos, sejam acadêmicos ou como pessoa o quão polido é o candidato professor e doutor em filosofia Fernando Haddad (1963), não se trata de esclarecimento para alguém valorizá-lo e muito menos para votar nele. Trata-se apenas e tão somente de ser ético e justo com alguém que tem uma trajetória na vida pública, que não se mistura com “organização criminosa”.

Como diz o filósofo e educador Samuel Mendonça (PUCCAMP): “demonizar o PT parece fazer sentido, porque foi o Ministério Público Federal, com apoio da grande mídia que têm repetido essa narrativa há anos”. Mas, Haddad nada tem a ver com isto, embora seja do mesmo partido. Vamos pegar o exemplo de uma família com cinco filhos e suponha que três deles estejam envolvidos com o mundo do crime, mas os outros dois não. Ao afirmar que a família é uma organização criminosa, há incorreção na formulação, porque generalização é asneira, isto é, não são todos os membros daquela família envolvidos com o mundo do crime. O erro do MPF em afirmar algo tão grave levou um número significativo de pessoas esclarecidas a acreditar na formulação de que o PT é uma organização criminosa. Não é possível generalizar quando há exceção e, no caso do PT, há inúmeras pessoas íntegras, não envolvidas em casos de corrupção.

No entanto, o mesmo raciocínio pode ser usado para demonizar o PSDB porque Aécio Neves foi denunciado pela PGR ou mesmo para o MDB porque Michel Temer foi denunciado duas vezes pela PGR. Há pessoas caindo nesta armadilha e é fundamental esclarecer que se trata de equívoco, porque não houve qualquer decisão judicial, principalmente, pelos inúmeros quadros éticos também nesses partidos. Sendo assim, nenhum partido político pode ser chamado de organização criminosa ou de partido corrupto. Isto é fake, é errado e, no fundo, o objetivo é demonizar não o partido, mas, a política. Que tenhamos clareza disto. É preciso ter capacidade em compreender a politização do judiciário quando generalizou que a classe política é corrupta. Como dizia o escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980): “toda unanimidade é burra”. Logo, generalizar um partido político sem o devido encaminhamento legal, ampla defesa, contraditório, parece-me um equívoco e desserviço de setores do judiciário e da imprensa contra a política. Querer acabar com a corrupção é uma coisa e penso que todos querem, no entanto, confundir essa ação com o fim da política ou de um partido, daí é preciso ter cuidado com a consequência desse raciocínio tolo.

Portanto, penso que o principal problema que vivemos na sociedade de hoje tem a ver com a demonização da política, de modo que a extrema-direita aparece como “alternativa” em momentos de suposta “ausência de política”. A democracia está em risco porque setores do judiciário, logo o judiciário, que é constituído de quadros técnicos, entraram em guerra política. O judiciário tem o dever de manter a ordem social e, ao abdicar de suas prerrogativas, repressão é alternativa para uma sociedade jovem, machucada e, principalmente, incapaz de identificar o verdadeiro problema social brasileiro: “a demonização da política”. A política não é o problema social, mas, a solução dos problemas sociais. Eliminar a política é, por certo, o maior erro que uma sociedade pode cometer, contradizendo inclusive o filósofo grego Aristóteles em “Ética e Nicômaco” que afirmou: “o homem é um ser político e está em sua natureza o viver em sociedade”. Divergências políticas sempre vão existir, mas com ética e democracia. A vida é assim: “o amor devolve aquilo, que a ele damos”.

11 de outubro de 2018

TRANSFUSÃO DE ÊXTASES

Meu primeiro olhar de espanto ao contemplar uma beleza que desenha a minha frente entre serras e florestas. Num instante vejo em gorjeios o casario e pia na torre alva da igreja situada em cima do morro. Depois o meditar humano, que desce o morro brandamente emocionado, com a volúpia e destinos na câmera escura que são os humanos. Vivi por um instante uma transfusão de êxtase. Emoções perguntam ao tempo sobre os modos de vida e da morte. Sinfonias de voos e ancoragens invadem meu pensamento.

Por onde andas? Senti que o rosto do mundo interrogou o meu ser. Todas as divindades das águas, das florestas, das montanhas, sempre que visito esse lugar estremecem-me a vida, seja no erotismo dos bailados do por do sol ou nas cores das preces do acaso. O espetáculo de maravilhas que penetra a alma e tem a musicalidade do silêncio das coisas espirituais. Minha alma é uma câmera escura abrigando a sensualidade das coisas.

Contudo, filtrando sonhos que se desenham nas paredes irregulares das minhas lembranças. Desespera-me não poder mostrar os brilhos e cores de minhas emoções. Faço, então, fotograficamente uma celebração da vida, que escoa no sangue e a minha alma sai em busca deste passado. Nesta transfusão de êxtase a câmera escura dos meus sentimentos, reinventa a santidade das coisas. Novamente meu ser é interrogado pela serenidade deste rosto, que a gente não vê, mas sabe que ele ficou em algum lugar do passado.

7 de outubro de 2018

POR QUE O AMOR AFASTA?

O amor afasta por vários motivos, pelos quais nem desconfiamos. Um deles é quando se diz a uma pessoa que a ama. Não deixa de ser uma cobrança implícita. Quem ama espera ser correspondido. No entanto, nessa fala há uma expectativa de retorno e caso o outro não esteja disposto amar de volta, pode ser um transtorno para ambos, até a amizade fica estremecida. A gente sabe, por exemplo, que uma pessoa que ama muito ou é louca pela outra, num dado momento ela pode transformar sua vida numa tortura e de quebra se virar contra você. Para o senso comum, amor e ódio estão muito próximos. Existe também outro agravante que quando a pessoa diz que te ama ela fica chata e inconveniente. Como ela fala que te ama, de certa forma entende-se que também hipotecou o seu comportamento e a partir daí você tornou-se um devedor desse amor.

De modo que, já que ela te ama deve atendê-la e estar a sua disposição o tempo todo. Exatamente por conta desse amor e aqui chegamos ao ponto crucial. Afinal, é bom ser amado o tempo todo? Será que o amor pode conviver com rotinas? Para o amor existe cura? É possível confiar nas pessoas que se diz nos amar? Como curar a insegurança de homens e mulheres diante do amor? Será que o amor verdadeiro morre? O amor é uma experiência prática e jamais teórica. Se você nunca entendeu as razões, das literaturas estarem cheias de exemplos de pessoas que “morrem de amor”. É bom que se diga, que nenhuma teoria do amor vai salvá-lo do vazio que é nunca ter sofrido por amor. O que quero dizer com isso? Que a gente tem que tomar cuidado com esse excesso de expectativa, criado em torno do amor.  

Foi a partir do século XVIII e XIX, que o amor romântico passou a ser visto como uma forma de vida pura. No entanto, é absolutamente normal, alguém dizer que está amando e o amado fugir. Talvez por trauma ou por ter sofrido uma decepção profunda no amor. As pessoas tem medo de sofrer por amor. O amor romântico, muitas vezes é antiético, porque nos coloca em situação de tensão entre o desejo e o medo: Primeiro, talvez por não querer o amor daquela pessoa. Segundo, pode ser que não queira aquele tipo de amor, possessivo e manipulador. Terceiro, sabemos que uma pessoa que ama e se por acaso vier a se machucar com esse amor, pode facilmente tornar-se uma inimiga mortal. Quarto e ultimo, a ideia de que ser amado significa uma coisa boa, pode ser a perda de uma excelente amizade, porque certamente um vai chatear e sufocar o outro e vice-versa. O amor fica e a amizade acaba por egoísmo de ambos.  

Portanto, o amor não combina com cobranças. Quem ama não precisa disso. Quando a cobrança se faz necessário é porque já não há crédito. Não se deram conta ou não querem aceitar o óbvio. Acabou a espontaneidade e esse é o primeiro sinal do fim do amor. O que não é espontâneo é induzido, forçado, compulsório. E o que se cobra não é natural. Penso que ninguém devia reivindicar atenção do outro por amor. Isso é mendicância, falta de amor próprio. Dificuldade de viver sua própria vida. Quem passa o tempo todo cobrando amor, consideração, carinho e reciprocidade, afasta o amor. As pessoas não percebem que é o jeito mais direto de atentar contra si mesmo, destruindo sua autoestima e afastando quem supostamente te ama. Até porque o amor romântico era chamado pelos medievais de “doença da alma”. Enfim, o medo que temos de sofrer nos afasta das possibilidades da vida, nos afasta da própria vida.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...