29 de novembro de 2020

DIDÁTICA E PRATICA ESCOLAR

Todos os pais desejam aos seus filhos uma boa escola. Por escola entende-se uma instituição que lhes dará tudo: informações, saberes, conhecimento, comportamento. Mas, os pais querem saber que a escola impõe a rotina que ela acredita ser importante para adquirir conhecimento. A ordem e os costumes impõem essa rotina, mas, essa ordem vem de fora para dentro e mantém a sociedade tal como ela é.

Todavia, muitas coisas vem de dentro para fora. É aquilo que nós estabelecemos a partir de nós mesmos. É a capacidade de inventar a nossa própria vida e não viver a vida inventada pelos outros, como diz Savater. Quer dizer que algumas coisas somos nós que temos que dar. Não podemos exigir que a escola de uma educação integral. Nossas ações como pais ou como adultos dão mais lições que os livros.

Desse modo, ser capaz de prestar atenção no que os filhos dizem e pensam é pré-requisito para que eles cultivem a capacidade de prestar atenção nos outros, de se relacionar bem com os outros. Querer viver é viver humanamente bem. Essa é a didática para formar bons cidadãos.

Portanto, não podemos apostar na vida sem a ética, sem a ideia de que mesmo as penas da vida valem à pena. Pois viver não é uma ciência exata. Educar também não. Viver e educar tem um que de arte, de invenção e reinvenção. Viver e educar requer inteligência. Requer saber rir. Requer ânimo diante das falhas.

24 de novembro de 2020

O AMOR NÃO É SOMENTE UMA PALAVRA

O amor não é apenas possível, ele é natural. Nós fomos criados para o amor e para amar. O amor não é somente uma palavra. Nada é mais real do que o amor; nada é mais doloroso do que a sua ausência. Para completar, o amor parece estar em todos os lugares a nossa volta. Nós vemos, ouvimos e lemos a respeito do amor, por todas as partes. Essa estimulação sutil ou explicita ajuda a criar em nós um intenso desejo de experimentar o amor. Nós queremos amar, e queremos ser amados, não adianta negar essa evidência inata no ser humano.

Entretanto, tudo isso serve para aumentar nossa frustração por não conseguir amor. Porque não é fácil encontrar um amor de verdade por ai ao gosto do consumidor. Tudo que está sendo dito e escrito sobre o amor e as relações humanas, realmente só vem confirmar sobre a necessidade de amor e as consequências de não alcançá-lo. Sabemos que precisamos amar a nós mesmos e aos outros de forma mais genuína. Qualquer pessoa que não esteja vivendo na caverna de Platão ou numa ilha deserta pode contar-lhe que, como diz na literatura e nas canções, o que o mundo mais precisa é de amor.

Se o amor é difícil de achar, não é por falta de procurar. As pessoas se esforçam, até se expõe sem limite para conseguir um tostãozinho desse amor. Uma maneira comum é tornar-se atraente, permanecer em lugares onde as pessoas se encontram, e esperar que sua cara metade apareça. Uma tática muito usada, mas de pouco efeito. Frequentemente as pessoas fazem isso enquanto se enganam, dizendo que o amor depende de achar a pessoa certa, com uma mistura atraente de boas qualidades e com o mínimo possível de más qualidades. Onde existe essa pessoa?

O amor não é barreira para nada. É um grande nivelador na pirâmide de poder e o grande libertador. Amando, você ama a pessoa que você é e pode dar esse amor aos outros. É possível reaprende a amar a si mesmo e aos outros, não importa o quanto você tenha sido não amoroso ou não amado. Pois a própria essência do seu ser é amor. Para compartilhar esse estado amoroso, primeiro você precisa ter bem claro o que é o amor, e o que ele não é. Muitas pessoas pensam que se dar a alguém é amar. Embora seja verdade que as pessoas amorosas se dão mais, o contrário não é necessariamente verdadeiro. Há uma grande diferença entre dar por dar e dar para receber algo em troca. Amor cobrado, sofrimento redobrado.

Portanto, o amor é um sentimento e um estado de ser, e vem da essência espiritual, dessa luz que há dentro de nós. Aprendemos a senti-lo vivendo-o por todo o nosso ser. Uma vez aprendido sobre o amor, é a experiência máxima do ser humano, e todos tem o direito de reivindicar essa experiência. Só precisamos revelar nossa essência indestrutível, dura como um diamante e delicada como a flor do pessegueiro, porque somos luz e queremos iluminar o outro. Somos na essência o amor compartilhado.


18 de novembro de 2020

HÁ POESIA NO OLHAR DE QUEM SABE ESPERAR

A espera se da na esquina dos nossos dias, como uma espera nutrida de loucura. Coisa que só no amor se configura, um misto de sustos, fome e alegrias perenes. Esperar é mais do que uma simples espera. Inventamos uma chegada ornada de ousadias e olhos acesos de quem esperou. A arte que mora neste olhar, nos põe a esperar. Na espera, tal desprezo é a força desse amor que também sentes, que resultei bobo de amor, sem heroísmo, nada, apenas preso na espera que nos enlaça em suas correntes e alimenta de sonho o sonhador.

São muitas flores sobre o meu silêncio enquanto espero. Melhor apenas poucos girassóis enlouquecidos. E mais rouxinóis cantando sons de sol, de sal, de Hortênsia, para alegrar a espera. Ainda melhor, se os teus despojos fossem plantados num trigal febril de paixão, nuvens e pássaros pelo alegre mês de abril que se despeja sobre os nossos olhos cheios de esperanças. Um dia voltarás trazendo estrelas de um céu pacífico e sem sofrimentos, banhado na brandura dos anjos.

Custou-me a compreender, assim como custou a enxergar o resplendor de humildade que andava por gestos tão nobre vindo da profundidade do coração de quem me tocava. Coração de cortinas delicadas, estatuetas, luzes muito mansas, jarra d’água e compêndios de alquimia. Vi muitos partindo desta vida e sobre mim desabou a confiança na espera. Vi o que sou. Um andante distraído, que sofre e não enxerga seu próprio sofrimento. Deixei escapar o brilho das almas de pessoas importantes que caminhavam ao meu lado.

Portanto, o dia de ontem foi esperança de hoje, como hoje é a esperança do amanhã. Mas esperança mesmo, é a certeza permanente em cada minuto, em cada hora de vida. É ainda o instante final que se extingue na morte. Pois, é triste perder pessoas queridas; porém, mais triste ainda é acreditarmos que a centelha de vida do ser amado se extinguiu para sempre, que o pó retornou ao pó e que nada mais existe, a não ser a lembrança que habita o nosso ser. Contudo, continuo a esperar, por uma razão muito simples, porque sou fruto deste amor cósmico. Contudo, a esperança por esta espera é o que tempera a minha fé.  

13 de novembro de 2020

AMAR, DESEJAR E FANTASIAR É DA ESSÊNCIA HUMANA

A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da outra pessoa.

É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor de amor.

Afinal, quanto maior a expectativa, maior a frustração e cuidamos de segurar estas expectativas. Então, desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista.

No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse vínculo.

No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças.

Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer.

O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.

O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, para usar uma linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto.

De modo que a complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.

Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista, que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência.  

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...