30 de outubro de 2019

AS RELAÇÕES AMOROSAS PARALELA AO CASAMENTO

A transparência total no casamento aliada à liberdade de ter amores paralelos, não são aceitas por muitas pessoas e parecem difíceis demais de serem vividas, para aqueles que decidem ser livres, mesmo depois de casados, como no caso dos  filósofos Jean-Paul Sartre (1905-1980)  e Simone de Beauvoir (1908-1986). Não é fácil enfrentar, com distanciamento, uma relação amorosa paralela ao parceiro. Quantas pessoas são capazes de saber que o companheiro ou a companheira está envolvido em outro relacionamento afetivo, sem que isso leve à separação? Na realidade, é mais fácil permanecer num casamento quando a fidelidade não é posta em jogo.

No caso dos dois filósofos franceses, não se pode nem mesmo falar de infidelidade na relação, uma vez que as relações chamadas por eles de “contingentes”, relações casuais, que pode ou não ocorrer entre ambos. Chamado por muitos de “relacionamento aberto”, previstas no pacto não escrito e, sim, combinado pelo casal. Na relação de Sartre e Simone de Beauvoir só existia uma moral, de ambos viverem em total transparência, fidelidade dos espíritos e liberdade dos corpos. Juntos, porém, cada um vivendo a sua vida da forma como melhor lhe aprouver.

Segundo a jornalista e pesquisadora Leneide Duarte-Plon que relata em seu livro: “Por que elas são infiéis?” o caso de uma de suas pesquisadas, que tentou viver no casamento uma relação livre e transparente, durante muitos anos. O chamado casamento aberto. Diz ela: “No início, o marido pedia a ela para que contasse sobre os seus casos, falar sobre os encontros, descrevendo se possível em detalhes, como se isso o estimulasse em seu próprio desejo em relação à esposa e a outras mulheres. Depois de terem dito tudo um ao outro com franqueza total, essa mulher e o marido se separaram”.

A teoria da liberdade do casamento aberto ou da transparência é tentadora. Mas na prática mostra que poucos casais conseguem ser transparentes. Essa liberdade no casamento é combatida pela moral vigente em quase todas as sociedades. Mas algumas aceitam, com certa indulgência, a infidelidade masculina. Ao passo que a mulher é mais controlada pela sociedade. É como se fosse um direito só do homem de ter uma amante ou um caso extraconjugal. Gosto mais da palavra “extraconjugal” por ser menos preconceituosa.

O filósofo inglês Bertrand Russell, prêmio Nobel de Literatura em 1950, defensor de ideais pacifistas, humanitário e da liberdade de pensamento, autor do livro “O Casamento e a Moral”, argumenta que o fator primordial da moral sexual na civilização ocidental desde os primórdios do cristianismo, consistiu na garantia da virtude feminina, indispensável à família patriarcal. Analisava os fundamentos sociais, econômicos, religiosos e culturais da instituição do casamento. Russell não via razão, por exemplo, para condenar duas pessoas que se amam apenas porque tiveram relação sexual fora do casamento. Além disso, afirmava para o horror dos moralistas de sua época, que uma aventura extraconjugal não deveria ser motivo de escândalo e ruptura.

Para Russell quanto mais civilizado é um povo, menos o indivíduo é capaz de obter felicidade durável com o mesmo parceiro a vida inteira. Quem vê nos laços do casamento um valor definitivo e irrevogável não permite que a imaginação se deixe estimular, passear e procurar a possibilidade de uma felicidade idealizada. Entretanto, a chave da compreensão das relações extraconjugais passa primeiro pela imaginação do objeto desejado que é transformado pelos amantes na idealização da felicidade.

O nosso sonho, tanto do homem como da mulher, é a poligamia. Os chamados civilizados em geral são polígamos. Contudo, é possível apaixonar-se e ficar durante anos com esse parceiro. Mas, cedo ou tarde, a rotina e os maus hábitos do casamento apagam essa paixão e é preciso procurar novas emoções, se quiserem continuar vivos nessa relação. Naturalmente, é possível dominar esse instinto, os desejos de viverem novas emoções, mas é difícil impedir sua existência, negar que eles existem. Vira e mexe ele aparece, mesmo dentro de um casamento estável. Pessoas dizendo o tempo todo que são felizes e vivendo uma relação infeliz. A história do limão doce!

Portanto, com o progresso da emancipação da mulher, as oportunidades de casos extraconjugais multiplicaram-se. A ocasião faz nascer a ideia, que faz nascer o desejo, que finalmente propicia o encontro que todos desejam, principalmente quando as amarras da religião estiverem ausentes. Penso que a fantasia masculina básica é possuir todas as mulheres. Ao passo que a fantasia feminina básica, é manter o homem ideal só para ela devorá-lo num sublime amor canibal. Assim como na crença do homem pela fidelidade de sua mulher, seja uma ilusão puramente masculina. Enfim, onde está o modelo de casal ideal?  

26 de outubro de 2019

UMA HISTÓRIA DE AMOR CONTADA EM PROSA

Quando daqui algum tempo, espero que muito distante de hoje, chegastes aos confins do azul do céu, guardastes justamente nos teus olhos toda cor deste planeta, que enfeitou este amor. Que alegrou a beleza dos rios e dos verdes campos por onde pisou. E as canções de amor que ouvia no silêncio da noite, vinham tecidas no seu jeito de ser mulher. Nutrindo as lembranças de quem a prover. Apesar de delicada e bela, esta flor transformada em amor perfeito, levo em meu coração o seu perfume.

Hoje uma música me veio à memória ao seguir teus passos e pude ver teu brilho, com cauda de um cometa alado que refulgissem os nossos preocupados corações. No balanço da música, brincava com o nosso espaço, renovando os anos passados. No dizer do cantor Arnaldo Antunes: “não quero morrer, pois quero ver como será que deve ser envelhecer”. Por algum momento achei que envelheceria juntos ao descobrir esse amor. Quando o amor nos toca, vira história.

O amor tentou construir em nossa morada um universo novo, em nosso mundo pobre uma riqueza, que o tempo se incumbiu de transformar em sinfonia. Com a musicalidade própria do seu corpo, que nos renovava a gratidão de haurir tuas levezas, minha razão se incendiava, sempre que te via. Teus olhos fintavam como uma janela acesa de vida, que triturava as ansiedades e acolhia gente que chorava neste simples proseador.

Deixa o rio andar ou empurra um rio abstrato, mantendo as vidas da vida. Rasgam-me por dentro uma dor alexandrina, em espessidão de cores, cortes de metal, em vagalhões de mar e luz, misturando o céu e a terra. Vinda de outras vidas sangra-me o espírito que a espera. Sentimos uma dor que não dói, mas pode ser fatal. O que restou foi à lembrança de um grande amor, que um dia foi a nossa esperança.  

25 de outubro de 2019

VAMOS DIMINUIR A DOR E PROMOVER O AMOR

Ao assumir uma relação de cumplicidade com outra pessoa, seja no casamento ou entre namorados, ou seja, qualquer tipo de vida a dois em comum, a pessoa esta abrindo para si mesma e para o seu parceiro a possibilidade ou a chance de serem felizes juntos. Mas por trás dessa esperança de harmonia existe uma dura realidade. No entanto, quanto mais os dois desejam permanecerem juntos, mais eles brigam para mostrar um para o outro, quem tem mais razão. A troco de quê? Para o psicoterapeuta e educador Harville Hendrix, que trabalha com psicoterapia para casais, argumenta que as frustrações do casal originam-se de necessidades não satisfeitas na infância e como à pessoa tenta inconscientemente removê-las usando táticas infantis, provocando na relação um desgaste de sentimentos.

Todavia, se a pessoa não está recebendo o amor que esperava do outro, o mais indicado para salvar a relação amorosa neste caso é a busca no diálogo aberto e franco. Comunicar-se com clareza e respeito pelo outro. Recorrer com maior precisão e sensibilidade. Abandonar atitudes chantagistas do tipo: “é sua obrigação”, “você devia”. Sinceramente não gostos dessas duas palavrinhas, elas só servem para machucar a quem a gente ama de fato. Atitude como essa não ajuda, só aumenta a dor um do outro e depois são palavras derrotistas e pejorativas. Leva a pessoa a tratar o outro como objeto descartável, que usa e joga fora quando achar que o outro não serve mais.

A pessoa focaliza a energia no sentido de suprir as suas necessidades e responsabilizando o seu amado pelas suas frustrações criadas por expectativas não satisfeitas. Por outro lado, quando ambos promovem o diálogo aberto e franco, com serenidade e confiança um no outro, percebem que aos poucos a espiral decrescente da luta para mostrar quem tem razão, vai se transformando num saudável processo de crescimento emocional e espiritual. Entretanto, nenhuma pessoa é uma ilha. Ela carrega multidões, são crenças introjetadas que colecionou ao longo de sua vida. Todas muito bem guardadas no seu inconsciente.

Portanto, a vida a dois é uma viagem psicológica e emocional que começa com o encantamento, vai pelo êxtase da atração, nesse emaranhado de conflitos que trilhamos por caminho pedregoso da autodescoberta e que vai culminar na criação de uma união íntima. Com o propósito de ser feliz e terminar a vida se possível ao lado da pessoa amada. O fato de aproveitar ou não todo o potencial que cada um tem, em busca dessa felicidade não depende da habilidade, da pessoa em atrair o parceiro perfeito. Depende da vontade de cada pessoa em adquirir conhecimento sobre as áreas ocultas e obscuras de si mesma, para melhor compreender o outro. E assim transformar essa relação amorosa num saudável processo de crescimento emocional e espiritual. “Diminuindo a dor e promovendo o amor”.                 

23 de outubro de 2019

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO COMO UM IDEAL DE VIDA

Estamos sempre buscando a perfeição em tudo que fazemos. Achamos que sempre há margem para o aperfeiçoamento, tendo em vista que a perfeição não é um atributo humano. Mas ela está na natureza das coisas. A perfeição caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais em hipótese alguma. A perfeição seria o vazio, se a perfeição for realmente à ausência de erros e defeitos, ela é sinceramente algo desprezível, sobretudo, porque vamos fazer os nossos erros parecerem certos e, não há como julgar.

Pois, tudo é extremamente relativo, existem pessoas que dizem se empenhar na busca da perfeição, todavia, é um caminho no qual você se machuca a troco de nada, porque onde não há erros e nem possui defeitos, é algo pelo qual não vale à pena. No entanto, as pessoas são feitas de suas escolhas e, o certo e o errado são apenas uma questão de ponto de vista, se não fossem os defeitos, não existiriam as qualidades e, consequentemente, não existiria a perfeição. No entanto, nessa linha de raciocínio, a perfeição é o vazio, o que mais o ser humano teme.

Platão foi discípulo de Sócrates, e um grande venerador da perfeição. Criou o “mundo das idéias”, que ele afirmava já ter sido habitado pelas almas, antes de caírem neste mundo material, só não explicou por qual motivo. Assim, o corpo passou a ser “cárcere” da alma, algo como um estorvo, cuja única função seria a de nos purificar das imperfeições. No “mundo das idéias”, está à essência da perfeição, que manifesta sob diversos conceitos. Nessas idéias, o mundo material é visto como que réplicas imperfeitas, um mundo de aparências. Cada ser tem por modelo uma ideia, que o supera de muitos, que o torna diferente e único. Assim, a busca do melhor seria à volta aquela única realidade verdadeira e inatingível, desligar deste mundo de imperfeições e fraquezas. Todo ser humano sente saudades do que já foi um dia e não é mais. De certa forma, essa teoria vai coincidir com a história da humanidade, colocada pela religião quando faz referência ao paraíso de “Adão e Eva”. 

Vivemos criando regras e normas para tudo aquilo que fazemos a título de nos aproximarmos o mais que puder da perfeição. Seria um atrevimento sem precedente tentar estabelecer normas ou regras de comportamento nos relacionamentos afetivos. É interessante perguntar as pessoas, principalmente às casadas o quanto de energia psicológica está sendo consumida por homens e mulheres que tentam viver em seus casamentos atrás de uma máscara, quase sempre recheada de intrigas, crueldades e ciúmes.

Quantos casais se unem levados pela chama ardente do amor que nasce do fundo da alma, se adoram e até acreditam que nada e ninguém podem separá-los. Quando menos esperam são traídos pelo inimigo secreto, o ego, essa legião de agregados psicológicos que destrói a beleza do amor puro e inocente. Essa é a consequência da saída do “Jardim do Éden” espiritual, terrível sequela deixada para nós humanos por conta do mito da perfeição, tornando-se explicito a nossa imperfeição.

Temos uma tendência ao perfeccionismo, que pode se arrastar por tudo que fazemos. Substituímos o relaxamento pela ansiedade e a satisfação pelo descontentamento quando algo não sai perfeito como desejamos ou queremos. Todavia, deveríamos saber que a perfeição verdadeira não é algo que atingimos. Pois ela é um estado que floresce espontaneamente. Eu diria um senso de plenitude e de unidade que vem do coração.

No entanto, quando não conseguimos fazer as coisas perfeitamente como cobramos de nós mesmos, logo pensamos que deve haver algo errado conosco ou com o mundo em que vivemos. A ironia é que o nosso ideal de perfeição surge da necessidade do nosso ego de explicar e controlar tudo a nossa volta. Contudo, inevitavelmente nos mantém distante da experiência da perfeição e com isso sentimos medo de falhar e não ser aceito. Somos o tempo todo, julgados e controlados por todos, não porque acham que estão certos, mas por medo de não estarem certos. A perfeição está dentro de cada ser humano, naquilo que ele está buscando. Mas o medo da imperfeição e de falhar nas suas circunstâncias particulares é o que faz ser rigoroso consigo mesmo.

Portanto, a perfeição é algo que nunca vamos alcançar e que também, naturalmente, nunca vamos desistir de buscá-la. Talvez porque não aceitamos nossa condição de ser humano, com todos os defeitos e falhas, que nos é peculiar. Nossa maior imperfeição é o de criticar o outro, porque é nele que projetamos nossas fraquezas. Esquecemos das nossas qualidades, que aos olhos de muita gente boa, torna-se um modelo diferente de perfeição, baseado no que cada um tem de melhor para oferecer.     

20 de outubro de 2019

VIVEMOS DENTRO DE UMA MOLDURA

Vivemos dentro de uma moldura na vida, clara e simples. Na verdade, sou aquilo que todos sabem e conhecem de mim. Sou um degustador do amor pela vida. Já dizia o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “o poeta quando escreve, faz amor com as palavras”. As metáforas me encantam, por isso escrevo. Uns vivem e outros desvivem. Dá-se em casamento em sonoras bodas e gozosos gemidos na reinvenção da vida. A vida é sempre a mesma para todos, mas a moldura da vida que é diferente para cada um. No entanto, a vida põe delicadeza e elegância. Põe suspiros de candura pelos caminhos. Eternizar esse nada é tudo que nos resta no jardim da esperança.

As luzes encantam o mundo, numa anarquia de raios atirados ao mais escondido da manhã adâmica. Rochedos rasgando águas, chamando o ajuste das árvores. Na sombra o espírito do tempo chora a sinfonia de águas e luzes. O bom é saber que todo dia, o mundo recomeça em lugares perdidos. É nas flores que brota o suave pensamento da divindade. Cores pintando nos campos o passeio do espírito que sopra onde quer. Põem na manhã o perfume e a beleza que antes dormiram no ventre da terra. Esse amor que é dado de graça é semeado no vento, nas cachoeiras e no eclipse da lua. Amor não se troca. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.

Portanto, o personagem bíblico Salomão que significa “o pacifico”, que tem origem no hebraico “Shalom” que significa “paz”, era filho de Davi, foi o terceiro rei dos judeus e levou Israel ao seu poder máximo. Foi um amante e apreciador da natureza. Com ele aprendemos a olhar os lírios do campo. Assim como, olhamos para todas as almas coloridas do campo, pois nenhum rei atingiu sua emocionada elegância. Elegâncias das miudezas que envolvem o mundo com pensamentos divinos. Muitos verdes, muitas luzes, rios e pássaros. Contudo, foram com essas flores aladas que entoamos a beleza e a magia dos cânticos, que rabiscam no céu e na terra o rosto do infinito. É aonde mora o Amor. No infinito de cada um.

19 de outubro de 2019

UMA ONTOLOGIA DO PRESENTE E DE NÓS MESMOS

Ontologia é o ramo da filosofia que estuda a natureza do “ser”, da existência e da própria realidade. De modo que, durante muito tempo acreditou-se que ser crítico significava ver o que estava errado a partir de uma visão ocidental, moderna, cristã e marxista. Considerando certo, como verdade já definida. Significava apropriar-se de uma teoria “crítica” sem, necessariamente, uma atitude prática, uma mudança interior. Entre nós, geralmente, esta “teoria crítica” era sinônimo de teoria marxista. Sendo esta teoria responsável por uma critica severa e uma alternativa ao capitalismo, tanto na formação dos estados socialistas, como inspiração para uma infinidade de movimentos e lutas sociais por direitos dos trabalhadores que são excluídos nos países capitalistas.

No entanto, ser crítico no contexto atual, numa sociedade de massa, onde os indivíduos correm o risco de viver a vida toda sem ter sido “ninguém”, torna-se bem mais exigente. Mais ainda, ser crítico numa “sociedade do espetáculo”, que segundo a filósofa e psicanalista Maria Rita Kehl (1951), é a própria sociedade de consumo, onde: “a televisão representa a esperança de visibilidade para onde os sujeitos dirigem suas escolhas de vida”, torna-se um desafio que perece quase intransponível. Portanto, a situação atual exige que perguntemos o que significa “ser crítico neste contexto”. Antes não se faria esta pergunta por que a resposta estava evidente. Ser crítico significava, inclusive, um grande otimismo histórico coletivo e individual, pois já sabíamos muito antes como o mundo deveria ser. Neste contexto, ser crítico se confundia com ver o mal, a contradição fora de mim mesmo e fora da classe que julgava ser ou representar.

Entretanto, para o filósofo e educador Selvino Assmann, da Universidade Federal de Santa Catarina, sugere a crítica como virtude intelectual e moral, referindo-se: “à urgente necessidade do individuo incluir a si próprio naquilo que se critica, à urgente necessidade de trabalharmos com maior otimismo no campo teórico e técnico, para podermos ser de novo um pouco mais otimista na prática”. Para o filósofo e educador Michel Foucault (1926-1984), intelectual francês, analisando o pensamento do filósofo alemão Imannuel Kant (1724-1804), destaca a necessidade de uma atitude crítica, isto é, uma “ontologia do presente e de nós mesmos”, onde nos perguntamos: o que está acontecendo hoje conosco? Foucault conclui que: “ser crítico significa ser mais rigoroso possível, o mais exigente possível em qualquer estudo, não temendo por em xeque as próprias certezas previamente admitidas. Significa pôr-se em jogo constantemente”.  

A crítica, portanto, se põe entre saber e o agir, entre a teoria e a prática, como uma forma de viver, intensamente, sob tensão consigo mesmo e com os outros. Tensão por renunciar à posse da verdade, sem nunca renunciar ao desejo de possuí-la, como descreve o filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.) no diálogo platônico com o título de: “O Banquete”, onde o amor é desejar o que nos falta sem nunca podermos realizar. Porque a perfeição está no mundo das ideias platônica e não no mundo das aparências. Para o filósofo alemão Kant, a crítica aparece como virtude. Mais ainda, é uma questão de atitude que se justifica, por uma vontade decisória de não ser governado, atitude tanto individual quanto coletiva, sobretudo, para sair do senso comum. Todavia, significa ter coragem de pensar por conta própria e risco, deixando de lado o comodismo e não depender de ninguém para pensar por você. Como diz o filósofo e educador Mario Sérgio Cortella (1954): “a vida é muito curta para ser pequena”. Vou um pouco mais além: “a vida é muito curta para viver o que os outros querem”.   

Portanto, o contexto atual em que vivemos uma espécie de mal-estar, de solidão, de insegurança, de vida menos sólida, com menor grau de convicção, onde desconfiamos de que as mudanças sejam possíveis, de que possamos unir forças com outras pessoas para enfrentar as adversidades, talvez seja o ambiente propício para algo novo. Para o filósofo e educador francês Edgar Morin (1921): “o que morreu foi a ideia de um mundo perfeito, sem classes sociais”. Então, há que se inventar uma sociedade um pouco melhor do que essa que existe, e não abandonar-nos ao conformismo, tornando-nos conservadores do que já somos e temos. Contudo, neste sentido, ser crítico é procurar entender a realidade sem termos uma verdade já definida, a partir da qual analisamos o que está acontecendo. Para o filósofo e sociólogo alemão Teodor Adorno (1903-1969), um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, afirmava: “elevar o sofrimento humano ao plano teórico, para nos darmos de cara com o perigo e a dramaticidade do que é viver”. Acreditar sempre, porque quando desistimos de algo é porque estamos começando a deixar de amar e perdendo a esperança na vida.

15 de outubro de 2019

CERTA VEZ UM PROFESSOR DE FILOSOFIA

Este texto é tão bom que poderia ser meu, pena o autor ser desconhecido. Vou adaptar alguns trechos sem comprometer a essência do texto. Parto do pressuposto, que quando temos bons professores em sala de aula o resultado só pode ser esse, cuja história vou contar. É uma lição para toda a vida. Desde estudante até tornar-me professor sempre vi na leitura e na escrita, grandes possibilidades de comunicação com o mundo e com o universo humano. Por sua vez o estudante do ensino médio tem por obrigação dominar mecanismos de leitura e expressão escrita. Quando o professor pede esse tipo de tarefa para seus alunos, o objetivo deve ser aprofundar e dominar determinados assuntos e conhecimentos que o aluno ainda não tem. Propor ao aluno que crie uma espécie de diálogo com o texto estudado e não mera opinião isolada, sem relação alguma com a leitura. Sendo assim, cada um terá consciência de que o saber é para ser partilhado, ele não está fechado e acabado em cada texto que se produz. Todo ensaio literário sempre tem algo a acrescentar.

Pois bem, tenho grande apreço para com os bons professores de filosofia. Tendo em vista, que a gênese da filosofia é antes de tudo discutir a vida. Certa vez um professor de filosofia pediu aos seus alunos para escrever os nomes de cada colega da sala em dois pedaços de papel, deixando um espaço entre cada nome. Então, ele propôs para que eles pensassem na melhor coisa que eles poderiam dizer sobre cada um de seus colegas de sala e escrevessem nos papéis. Esta atividade levou quase a aula toda para ser terminada e, quando os estudantes saíram, cada um entregou seu papel ao professor filósofo.

Na semana seguinte o professor escreveu o nome de cada estudante em pedaços de papel separados e, abaixo de cada um deles, escreveu o que todos os colegas pensavam sobre ele. Quando chegou no dia da aula de filosofia, o professor deu para cada aluno sua lista. Depois de alguns minutos a classe toda estava sorrindo, com uma pergunta implícita: “Mesmo?” Ele escutou alguém sussurrar: “Eu nunca soube que significava alguma coisa para alguém!” Outro aluno comentou: “Eu não sabia que os outros gostavam tanto de mim!” Era um comentário só na sala de aula. Parecia a Praça de Ágora de Atenas, um local na Grécia Antiga, por excelência um lugar de manifestações das opiniões públicas. Esta era a ideia do professor de filosofia, cria espaço de espanto e admiração no grupo de alunos. 

O tempo passou, e ninguém nunca mais falou sobre o papel escrito na sala de aula. O professor nunca soube se discutiam sobre o papel escrito depois da aula ou com seus pais, mas não era nenhum problema para se preocupar. No exercício da sua profissão como educador tinha cumprido com seu objetivo. Os alunos gostavam da sua aula e estavam felizes com eles mesmos e uns com os outros. Depois de algum tempo, aquele grupo de alunos se dispersou. Muitos anos depois, um dos alunos foi morto na guerra do Vietnã e o professor ficou sabendo e foi ao funeral. Esse aluno ainda era lembrado pelo mestre. Pois o professor nunca tinha visto um patriota num esquife militar antes. No caixão parecia tão sereno e tão maduro, pensou o professor.

A igreja estava lotada de amigos. Um por um que o amava deu sua última caminhada até o esquife. O professor foi o último a abençoar o esquife. Enquanto o professor ainda estava por ali, um dos soldados que levava o esquife veio até ele e perguntou: “Você era o professor de filosofia do Mario?”. Ele balançou a cabeça e murmurou: “Sim! Ele era um dos meus alunos”. Então, disse o soldado: “Mario falava muito sobre você!” Naquele clima de tristeza, era preciso descontrair um pouco. Para atenuar aquela tensão e atualizar a conversa, muitos dos ex-colegas de Mario, após o funeral foram todos para uma lanchonete ali próxima. A mãe e o pai de Mario também foram a tal lanchonete, na expectativa de falar com ex-professor de Mario. Não aguentaram e foram direto ao ponto, disse o pai: “Nós queremos lhe mostrar uma coisa”. Tirou uma carteira do bolso e disse ao professor: “Eles acharam isso com o Mario quando ele foi morto. Nós achamos que você poderia reconhecer isso”.

Abrindo a parte do dinheiro, o professor cuidadosamente removeu dois pedaços de folha de caderno que foram dobrados varias vezes. O professor sabia, sem olhar, que aquele papel era o que ele tinha anotado todas as coisas boas que os colegas de Mario falaram sobre ele. Foi aí que a mãe de Mario disse: “Muito obrigado por ter feito isso!” O professor continuo firme ouvindo a mãe de Mario dizer: “Mario tinha isso como um tesouro!”. Naquele momento todos os colegas de Mario se reuniram em torno da mesa. Carlos sorriu e disse: “Eu ainda tenho a minha lista, está na primeira gaveta da minha escrivaninha em casa”. A mulher de Silvio disse: “Silvio pediu-me para colocar a lista dele no nosso álbum de casamento”. A ex-aluna Miriam disse: “Também tenho a minha, está no meu diário”. Outro colega de Mario, o Vitor, colocou a mão na sua bolsa e tirou sua carteira mostrando a lista para o grupo. Disse ele: “Carrego isto comigo o tempo todo”. E sem olhar em volta, ele continuou: “Acho que todos nós guardamos nossas listas”.

Entretanto, foi nesta hora que o professor emocionado, sentou-se e com os olhos cheios de lagrimas e a voz embargada. Ele estava triste por Mario e por todos os seus amigos que nunca mais poderão vê-lo. Apesar da tristeza, o professor soube naquele momento, a diferença que fez na vida de todas aquelas pessoas ao seu redor. Lembre-se: “você só colhe o que planta”. Todavia, o professor estava colhendo o que plantou na vida daqueles jovens: “Amor e Amizade”. Tudo que colocar na vida de alguém, volta para a sua, através da lei da atração. Então, espalhe bondade, seja generoso com as pessoas, propague sorrisos e faça alguém muito feliz.

Portanto, a vida é feita de oportunidades que nos é dado a todos os momentos. Aproveito desta lição de vida, por ser oportuno, formulo aqui algumas perguntas ao leitor: “Se alguém rezar pedindo paciência acha que Deus dará paciênciaOu Deus dará a oportunidade de ser pacienteSe pedirmos coragem, Deus nos dará coragem ou nos dará oportunidades de sermos corajososSe alguém pede que a família seja mais unida, acha que Deus une a família com amor e alegria? Ou da a eles a oportunidade de se amarem?”. 

12 de outubro de 2019

QUANDO O HOMEM PERDE SEU REFERENCIAL

O ser humano é o único dotado de razão, por isso é chamado de racional. Ser racional é raciocinar com sabedoria, é saber discernir, é pensar, utilizando o bom senso e a lógica antes de qualquer atitude. Todavia, boa parte de nós não agimos com sabedoria necessária para evitar problemas e dissabores perfeitamente evitáveis. Como de costume, agimos antes e pensamos depois, tardiamente, quando percebemos que os resultados da nossa ação deram errado. O Apostolo Paulo que tinha a lucidez da razão em sua carta, nos adverte com sabedoria: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Ele quis dizer com isso que tudo nos é permitido, mas que a razão nos deve orientar de que nem tudo nos convém. De modo que, quando uma pessoa perde seu referencial abre um buraco ao seu redor. Seus pés ficam sem chão. Nada faz sentido mais.  

Olhando pelo aspecto físico, por exemplo, quando comemos e bebemos algo que nos faz mal, naquele momento não pensamos nas consequências, mas sabemos do mal que vai fazer depois. Se nosso organismo é frágil a certo tipo de alimentação, devemos pensar antes de ingeri-lo, mesmo que nossa vontade diga ao contrário. Se tivermos vontade de fazer uso de drogas, seja elas aceita socialmente ou não, pensemos antes no depois. Será que suportarei os riscos da enfermidade decorrente dos meus vícios? Seja na bebida ou no tabagismo. Ou será um preço muito alto por alguns momentos de satisfação. O mesmo acontece com o cartão de crédito que usamos, costumamos pensar no depois? Pensar em como vamos pagar a conta? Sempre pensamos no agora e nunca no depois. Não avaliamos as consequências do depois.

No campo da moral não é diferente. Quando surgir a vontade de gozar alguns momentos de prazer, será que pensamos: “e depois?” Quais serão as consequências desse ato que desejo realizar? Será que as suportarei corajosamente, sem reclamar de Deus e nem jogar a responsabilidade sobre os outros? Certo dia, conversando com um amigo funcionário público aposentado, ele falou a respeito do vazio que sentia na intimidade, com a consciência marcada pelos atos inconsequentes que praticara durante a vida pública. Buscou, na atividade profissional, tirar proveito de todas as situações. Arranjava tudo com algum “jeitinho” e com muita propina, mas nunca havia pensado no depois. E agora sua consciência cobra pelo bem que deixou de fazer. A velhice o alcançou como alcança as pessoas honestas, mas a sua consciência traz um peso descomunal e uma sensação desconfortável que lhe invade a alma. Quantos pais se arrependem da falta que fizeram no acompanhamento da educação dos seus filhos. Hoje sofrem por ver os filhos perdidos sem um referencial de vida. É triste assistir o sofrimento dos filhos.

Portanto, como vimos no exemplo do nosso amigo, a dor que ele carrega está longe de reparar o estrago que causou no seu espírito há anos atrás. Hoje não consegue olhar nos olhos dos filhos e nem dos netos, sem pensar no quanto foi inescrupuloso. Ele não pensou na época que tipo de família ou sociedade que estava construindo para legar aos seus afetos. Dessa forma, antes de tomar qualquer atitude, questionemos a nós mesmos: e depois como vai ser? Melhor que resistamos por um momento e tenhamos paz interior, do que gozar um minuto e ter o resto da vida para se arrepender. Triste fim desse homem que perdeu o seu referencial humano. Ele chora a dor do remorso, daquilo que deixou de fazer para a felicidade da sua alma e da paz interior que hoje lhe cobra. Contudo, não “respeitar” o nosso semelhante e colocar em “duvida” aquela pessoa que nos olha com ternura e amor, nos pedindo apoio, no fundo nós estamos semeando dor e tristeza para colher depois. Um dia a consciência vai nos cobrar, portanto, nada perdemos em ser bons e generosos.

(Parabéns as Crianças pelo seu dia e que Nossa Senhora Aparecida nos abençoe

10 de outubro de 2019

AMAR É ESTAR EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO

Aprender a amar é estar em constante transformação. Esse processo é sem fim, até que a morte nos encontre. Porém, nesta vida tudo passa muito rápido, principalmente, para aquele que um dia se expôs na tentativa de tocar o coração de alguém, para juntos amar. No entanto, o amor tem braços aberto, se você fechar os braços ao amor, está apenas abraçando a si mesmo. Se você sente alguma coisa de verdade, deixa que o outro conheça o seu sentimento, porque o amor é interpessoal, não depende só de nós. O amor é como um espelho, quando você ama uma pessoa, se transforma no espelho dela e ela no seu, juntos refletem o amor que sentem e nesta experiência ambos enxergam e experimentam a “Divindade Cósmica”.

O amor é um encontro íntimo e maravilhoso, é a maior experiência que um ser humano pode ter na vida. Conhecemos muito pouco do amor, por isso estamos constantemente desafiando esse sentimento tão nobre. Se desejares amar é claro que deves mover-se para o amor. É muito triste ver nascer um amor tão sublime e verdadeiro, com tamanha expectativa e esperança que traz. Contudo, fracasse com tanta regularidade. Todavia, se isso acontecesse com qualquer outra atividade, todos estariam ansiosos por saber das razões do fracasso, por aprender como poderia fazer para melhorar e não deixar morrer o sonho. Para o amor, viramos as costas, como se ele fosse uma coisa banal, que aparece todos os dias num estalar de dedos. Jogamos o amor no lixo como algo descartável. Na verdade, estamos cavando a nossa própria destruição e caminhando para o abismo da solidão, quando negamos o amor.

Entretanto, o amor é à força de maior intensidade que move o nosso coração. Todas as lutas e dores humanas tiveram por origem o amor. O grande sábio hindu e libertador da Índia Mahatma Gandhi (1869-1948), fala-nos da grandeza deste sentimento, como fator de remédio para terminar com as divergências entre as pessoas: “Quando o homem chega à plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões de pessoas”. No mesmo texto mais adiante, continua o mestre indiano: “A minha fé mais profunda é que podemos mudar o mundo pela verdade e pelo amor”. Tendo em vista, que a cultura humana somente realiza no plano material, conduzida com o espírito de orgulho e apoiada exclusivamente na forma sórdida de exploração do outro, sem piedade e amor, contudo, constituímos o maior flagelo dos tempos modernos.

Deve, portanto, toda pessoa de cultura e de nobres sentimentos irradiar fortes pensamentos de bondades, já que o pensamento é uma coisa viva e pode cair sobre uma pessoa inspirando-a no bem quando ela só pensava no mal, e assim podemos atenuar o flagelo de incompreensões que avassala a humanidade. O estado mais gostoso de experimentar na vida é o do encantamento que sentimos quando estamos amando. O primeiro efeito do amor é inspirar um grande respeito, ter veneração pela pessoa que se ama. A felicidade que sentimos do amor emana mais de nós próprios do que do ser a quem amamos. Quando machucamos o outro, somos nós que sentimos a dor, no peito e na consciência. Quando se ama verdadeiramente, irradia para a pessoa amada o que chamamos de sentimento do outro e o que mais nos agrada nesse amor é quando ele vem do que quando ele vai, porque não notamos que procede de nós mesmos. São dois corpos unidos num só sentimento pela Divindade.

O mais lindo no amor é a perfeição dessas duas almas e desses dois corações que se copulam, numa só alma e num só coração através do amor que sentem. Quando se amam são dois corações magnéticos: o que se move em um faz mover o outro, pois é um só impulso que age em ambos. O amor se configura na plenitude de todos os mortais, assim como a luz é o primeiro amor da vida. Por acaso não será o amor a luz da vida? Entendo o amor como poesia dos nossos sentidos. Ou é sublime, ou ele não existe. Quando o amor existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais, porque ele nos irradia vida. Todavia, é o amor que ilumina as nossas vidas, que torna grande tudo o que vislumbramos, é no calor desse amor que nos engrandecemos. Por isso o amor é a chama da vida.

O amor que dedicamos a alguém, mesmo que não seja correspondido, é para nós um benefício, mesmo sem ser amado, viver esse amor é uma grande felicidade. O amor é como uma planta florida que perfuma tudo com a sua esperança, até as ruínas e turbulências eventuais que nos abate. Vejo o amor como um ninho, onde a felicidade de duas pessoas atraídas pelo amor se constrói pedacinho por pedacinho, através de esforços mútuos e de muita compreensão um com o outro. É preciso que o amor seja tão íntimo que se torne eterno, para que perdure, é necessário penetrar na essência um do outro.

Portanto, não há nada no céu nem na terra, mais doce, forte, sublime, delicioso, completo e nem melhor que o amor. O amor nasce de Deus e não descansa se não na “Divindade”, elevando-se acima de todas as criaturas porque nos foi dado como um dom. Quem ama corre, voa, vive alegre, é livre e nada o perturba. O amor muitas vezes não sabe limitar-se, mas vai além de todos os limites. Só quem ama pode compreender as vozes do amor. Grande clamor faz nos ouvidos da pessoa amada, aquele ardente afeto de que se acha penetrada a alma, quando um diz ao outro: “Estamos tomados profundamente por esse amor, porque só enxergo através dos seus olhos, minha amada querida”. Alcançamos aquele estágio do sublime amor, onde termina o “Tu” e o “Eu” para começar o nosso amor. Contudo, o amor só constrói e nos transforma em seres felizes e abençoados por Deus.                   

5 de outubro de 2019

O CONCEITO DE BONDADE É SER JUSTO

Não há quem não conheça a história mais lida e mais contada, de geração em geração, e que até virou filme. Estamos falando da história de Jesus de Nazaré. Quem não conhece esse homem chamado Jesus? Era um judeu que viveu na Palestina há mais de dois mil anos. Há muitos escritos sobre ele. Cada um conta de um jeito. Saber o que realmente ele queria ou pretendia é muito difícil. São muitas as interpretações.

Mas quero aqui puxar outro lado da história, da mensagem de Jesus. Pois, gosto muito da sua filosofia e muito mais agora que pesquisando descobri através de suas mensagens, que amor não é resignação, como prega os cristãos. A meu ver, Jesus foi um homem que fez o que acreditava, viveu para isso e morreu em função disso. Ele não foi bonzinho, não foi um individuo ajustado, não foi normal como todos. Ele foi em certos termos um terrorista. Não que largasse bomba ou matasse pessoas, mas a sua mensagem era profundamente revolucionária para a época, por isso mesmo que ele acabou numa cruz.

Estudando melhor sua história, penso que até o pai e a mãe dele questionavam esse comportamento às vezes: “NossaO que o meu filho está fazendo, arrastando esta multidão, falando de amor das pessoas, num mundo em que só há crueldade e opressão”. E que continua até hoje, havendo crueldade e opressão. Esse homem falava da fraternidade entre os homens, do perdão das ofensas e do amor ao inimigo. Certamente foi chamado de maluco por muitos. No entanto, é esta figura que nós dizemos adorar, amar, imitar e seguir. Quem é que tem a coragem de ser ele mesmo, vinte quatro horas por dia, fazendo o que é bom para si?

Faça você um pouco diferente do que é considerado normal, para perceber quantas pessoas vão se incomodar com o seu comportamento. É bom lembrar, que Jesus também é um verdadeiro modelo de inovador. Na verdade, a humanidade invariavelmente sacrificou todos os seus salvadores. Aqueles que traziam bonitas mensagens, foram eliminados de forma mais covarde possível. Hoje em dia temos uma imagem desfigurada de Jesus. Homem bom que faz o que os outros querem; homem maravilhoso, glorioso e daí por diante. A própria história de Jesus nos Evangelhos mostra que ele não era lá uma figura boazinha, como se prega.

Conta o Evangelho que certo dia ele saiu de chicote no Templo, derrubando tudo o que tinha pela frente e xingando todo mundo que tinham feito do Templo um mercado de negócios. Outra vez mandou o moço que gostava dele, vender tudo e segui-lo. O Evangelho também descreve seu conflito com a família. Certa vez estava Jesus reunido com os seus discípulos, quando vieram avisá-lo que sua mãe o esperava. Respondeu ele: “minha mãe, é aquele que faz a vontade do meu pai que está no céu”.   

Jesus era presumivelmente um homem forte e saudável, caminhava muito. Era convicto do que queria. Mas também tinha o seu lado humano, da dúvida, da incerteza. O próprio Evangelho fala. Nós vivemos falando que ele era sempre glorioso, maravilhoso. Não, ele também tinha suas dúvidas. No Horto das Oliveiras, um dia antes de ser prisioneiro, ele viveu uma angústia terrível.

Então vamos “desdivinizar” um pouco essa imagem e guardar sua mensagem que é: “Cumpra com o dom da vida, o projeto que Pai lhe confiou”. Uma coisa, porém é clara, a mensagem não é fazer a vontade de outros e sim ser justo. Pensar muito, sentir muito, meditar sobre suas inclinações e possibilidades. Fazer o mais que posso de mim e para mim. Para realmente aperfeiçoar-me, até que possa devolver para o Criador a imagem que ele estampou em mim quando cheguei a esse mundo. A minha obrigação primeira é fazer a minha vida e o meu caminho.

Portanto, quando enxergar o outro diferente, não comece a dizer que ele está errado, que ele é estúpido, que vai para o inferno. Olhe bem para esta pessoa e diga: “não compreendo essa pessoa, mas espero que ela esteja seguindo o seu caminho. Assim como espero também, estar seguindo o meu caminho. Porque ser bom não é fazer toda a vontade alheia, é ser justo”.   

2 de outubro de 2019

SOMOS CONTRA A FELICIDADE QUANDO ELA SE PROPÕE

As pessoas têm uma tendência a tratar com superficialidade a felicidade quando ela se propõe. Basicamente não valorizam muito as relações amorosas quando as têm. Sempre querendo ter razão em vez de ser feliz. Viram as costas e partem em busca de outros amores, achando que vai ser melhor um novo amor. Na verdade, não muda muito. Aquele período de luto do amor que juntos viveram, não se cumpriu. Aqui fica a seguinte observação: “se a pessoa mal encerrou a relação e já está com o pé em outra, é porque ela não se valoriza”. Como bem afirmou o jornalista e cronista do jornal Folha de São Paulo Xico Sá, na sua palestra no Café Filosófico na CPFL de Campinas.

Entre uma relação e outra existe um período de estiagem, de muita reflexão, de avaliação. Sobretudo, para não cometer os mesmos erros. Pois se tratando de seres humanos, acima de tudo temos que nos dar valor para poder valorizar o outro e ser valorizado, caso contrário essa pessoa não te merece. É o mesmo que viver uma relação descartável, usa e joga fora, não consegue aprofundar na essência um do outro. Vive-se uma relação pautada no desrespeito e na exploração. As pessoas não sabem e não querem saber, o quanto custa o prazer que não têm e que está aí ao alcance das mãos e do corpo. Contato, carícia, abraço, intimidade, amor, quem não quer? Freud tem mostrado todo o penoso e ridículo contorcionismo psicológico, que desenvolvemos a fim de conseguir fazer de conta que o outro só nos interessa pela sua aparência e pelas suas palavras bonitas que achamos que precisamos e de mais nada.

É preciso fazer algo pela relação amorosa em vez de continuar procurando quem é que devia ou quem é o culpado. E com isso ficamos justificando que tem outros amores melhores, na tentativa de agredir o outro. Essa conspiração contra a felicidade, contra o amor, que poderia ser de boa qualidade, pode acarretar outros problemas futuros. Certamente, vai levar para a nova relação às mesmas dificuldades de filtragem e assim, sucessivamente. O mal não está em errar a dose. O mal está em não aprender a dosar os conflitos.

Um observador externo detecta com bastante facilidade distorções no relacionamento e na comunicação das relações amorosas. Como os costumes de convivência se desenvolvem lentamente, as pessoas, na verdade, não percebem o que está acontecendo, a não ser pelo mal estar ou pelas brigas que não resolvem. Não é um problema de ensinar a viver, ainda que ensinar também tenha cabimento, penso que é uma questão de mostrar, apontar, fazer o outro ver o que está acontecendo. Como seria bom se as pessoas fossem vazias como o “céu”, e não tão cheias de palavras, de ordens e de certezas. Só amamos as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias, como se fossem pipas.

Portanto, tenho para mim que o maior perigo do nosso mundo não está na violência urbana, nem mesmo nos poderosos; está na falta de alegria de viver das pessoas, no seu tédio, na sua frustração e na sua indiferença. Por isso faz-se necessário desejar outros relacionamentos, superficiais tanto quantos já viveram. Contudo, a pessoa que torna superficial as relações amorosas ou que se aliena, pouco a pouco, faz com que vá crescendo nela o desejo de que esse mundo, infeliz, árido e ameaçador, termine de vez com os seus sonhos narcísicos. Enfim, a mais profunda felicidade do “normopata” é livra-se de sua vida infeliz, matando quem lhe ama na fantasia, partindo em busca de um novo amor centrado no seu egoísmo. Aqui vai um conselho: “não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz, com o que a vida fez de você”.  

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...