31 de março de 2021

O CIÚME IMPEDE A GENERALIZAÇÃO DO AMOR

Nossa cultura latina costuma associar ao sentimento de ciúme uma manifestação clara de amor e cuidado entre parceiros de um relacionamento afetivo. Mas será isto mesmo verdadeiro? Os declarados ou veladamente ciumentos afirmam que sim e ficam até constrangidos e revoltados quando as evidências em contrário demonstram o egoísmo e a possessividade escondidos neste verdadeiro "monstro dos olhos verdes", como o chamou William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo e poeta inglês, autor de tragédias famosas como “Hamlet”, “Othelo”, “Macbeth” e “Romeu e Julieta”. Ele é considerado uma das maiores figuras literárias da língua inglesa.

No entanto, a própria origem da palavra ciúme em português, derivada do grego "zelus", transformada em "zelumen" no latim, faz pensar, como disse Santo Agostinho (354-430), filósofo, escritor, bispo e importante teólogo cristão do norte da África, "Qui non zelat non amat" (Quem não sente ciúme não ama). Mas será o ciúme, e não o zelo, a verdadeira prova de amor? Zelar, cuidar, proteger têm uma conotação bastante diferente de sentir ciúme, pois, no zelo, um sentimento altruísta (voltado para o outro), a pessoa está muito mais preocupada com o bem-estar de seu parceiro do que de si mesma. Aqui não implica ciúme e sim cuidar do outro.

Já o ciumento, prisioneiro de uma dor amarga em seu peito, sofre com as sombrias desconfianças de que possa ser traído ou mesmo abandonado pelo outro, o que caracteriza um sentimento voltado para si, para sua dor, para seu orgulho, portanto, um sentimento egoísta. Será o amor egoísta? Será o amor possessivo? Será o amor marcado pela dor da desconfiança e do medo? A palavra alemã para ciúme é “eifersucht” que significa, literalmente, vício (ou doença) que arde. E parece ser assim que este sentimento se manifesta: uma dor que aperta o coração e causa tanto dissabor em uma relação afetiva.

Portanto, o ciúme é o pior sentimento da humanidade, porque ele impede a generalização do amor. As pessoas mal conseguem perceber que as ditas manifestações de ciúme que revelam uma possessividade, uma tentativa de controle e aprisionamento que só o tempo acaba revelando, e que, no extremo, levam a uma verdadeira falta de liberdade para ser e realizar seus próprios desejos. Contudo, pense em uma pessoa que, devido a componentes biopsicossociais, tenha desenvolvido uma personalidade impulsiva, clinicamente diagnosticada como portadora de transtorno de personalidade, insegura de si do tipo impulsivo, irá reagir agressivamente à ameaça gerada pelo ciúme, chegando até mesmo a atos extremos de violência, agressão e morte.

29 de março de 2021

O SIGNIFICANTE AMOR NOS DA UM SIGNIFICADO

Ter utilidade para alguém é uma coisa muito cansativa. Humanamente falando a pessoa se realiza sentindo-se útil na vida de alguém. Mas, acredito que a utilidade é um território muito perigoso. Confesso que demorei algum tempo para entender essa fala do Padre Fábio de Melo, sobre o perigo da gente ser somente útil na vida de alguém, seja ele filho, amigo ou a pessoa com quem relacionamos afetivamente. Não queremos só ser útil na vida das pessoas. Queremos ser o significante e o significado ao mesmo tempo. Por que será que a utilidade é um território muito perigoso?

A resposta parece simples, mais não é. Muitas vezes achamos que o outro gosta de nós pela nossa utilidade ou talvez porque nos ama de verdade. Mais não é bem assim! Na sua maioria ele está interessado naquilo que fazemos por ele. Com o passar dos anos a velhice chega e o idoso torna-se um fardo muito pesado para quem ele foi útil. Passado a utilidade, ficou somente o seu significado como pessoa. Este é o momento de purificação da vida. É o momento de saber quem nos ama de verdade.

Desse modo, só vai ficar do nosso lado até o fim, aquele que depois da nossa utilidade, descobriu o nosso significado. O que mais desejo para a minha vida hoje, é poder envelhecer ao lado das pessoas que tenham amor por mim. Falo daquelas pessoas que podem proporcionar a tranquilidade de ser inútil, mais sem perder o valor para elas. Peço a Deus a graça, de sempre ter alguém que me coloca no sol, mais sobretudo, que venha me tirar depois. De modo que todo idoso deseja ser acolhido, deseja alguém que saiba da sua inutilidade e mesmo assim lhe acolhe.

Portanto, quero alguém que saiba que já não sirvo para muita coisa, mas, que continuo tendo o meu valor. Porém, se quer saber se o outro te ama de verdade é só identificar se ele é capaz de tolerar a sua inutilidade. Quer saber se ama alguém, pergunte a si mesmo: “Quem nesta vida já pode ficar inútil, sem que eu sinta o desejo de jogá-lo fora?” É assim que descobrimos o significante amor. Contudo, só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim. Feliz daquele que tem no final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a seguinte frase: “Você não serve para nada, mas, não sei viver sem você”. Aqui está o paradoxo da essência do amor.

27 de março de 2021

COMO VIVENCIAR UM RELACIONAMENTO A DOIS

Para manter um grande amor ou vivenciar um relacionamento a dois. de maneira mais profunda, é preciso compreender,  sem tabus, como as trocas afetivas funcionam. De modo geral, as pessoas buscam um parceiro por um motivo oculto, seja para preencher a falta de amor na infância, seja para fazer do outro o tutor de sua felicidade. No entanto, uma relação amorosa não depende apenas da vontade do casal para durar a vida inteira, como via de regra. Existem questões emocionais, ligadas à história íntima e familiar de cada um, que devem ser levada em conta para que o romance amadureça.

No curta de animação “Why Our Partners Drives Us Mad (Por Que Nossos Parceiros Nos Tiram do Sério), disponível no YouTube, o filósofo suíço Alain de Botton explica que cada pessoa ama com uma parte muito vulnerável de si. A visão romântica do amor sugere que as pessoas ingressam em relacionamentos problemáticos por engano, enquanto uma leitura psicológica do assunto entende que essas escolhas expressam necessidades inconscientes – o modo precário com que se aprende a amar e a ser amado na infância. Por isso, tem cônjuge que depende o tempo todo da aprovação do outro, como um filho inseguro, e parceiros que se provocam até que um deles sucumba em uma explosão de raiva, como uma criança birrenta.

Terminar um relacionamento construído nessas condições talvez não seja a melhor resposta, porque o problema seguiria mal resolvido, disponível para reprise com o próximo parceiro. Em vez disso, o filósofo sugere uma pausa para a reflexão, uma pergunta crucial: “o que uma pessoa madura faria agora?” Às vezes, é o que basta para recobrar o cuidado com o outro e o respeito consigo mesmo, cada um invocar a melhor versão de si. Os dois não são mais crianças indefesas, vitimadas pelas falhas dos pais. Podem agora pensar e agir como adultos, desde que se lembrem disso.

Em geral, esses pequenos desencontros dizem respeito a desentendimentos maiores que ainda não são verbalizados, como pondera a psicanalista e terapeuta de casais Anna Hirsch Burg. É por isso que terapia ajuda tanto, individualmente, assim como o casal. Cônjuges que têm acesso a esse recurso tendem a tomar mais consciência de suas reais motivações e podem, dessa maneira, tratar delas diretamente em vez de se aterem aos pretextos que as mascaram. Se não cuidada, a falta de comunicação gera frustração, raiva e culpa num ciclo que se retroalimenta. Contudo, conversas abertas e sinceras ajudam nesse processo. Dizer o que você realmente quer pode ser mais complexo do que se imagina. Em geral, preferimos as indiretas, que podem caminhar por terrenos agreste e gerar brigas e desentendimentos por motivos banais.

26 de março de 2021

ADULTOS INFANTILIZADOS E CRIANÇAS ADULTIZADAS

Estamos vivenciando um tempo estranho e pouco confiável onde duas gerações entram num paradoxo da fenomenologia social, onde os adultos estão infantilizados e as crianças adultizadas. Adultos que não querem amadurecer e crianças que, por “imposições” da cultura da moda, da competição e do hedonismo, são ‘obrigadas’ a amadurecem cedo demais. Adultizar uma criança é uma maneira bem eficiente de destruí-la. Infantilizar o adulto é a maneira mais eficiente de aliena-lo para que este não perceba o mundo tal qual ele é.

A educação do passado preparava o indivíduo para assumir responsabilidades e estas já eram exigidas na infância, principalmente a dos mais pobres que deveriam cuidar dos irmãos menores, ajudar no trabalho do campo, etc. Quantas meninas não começaram como domésticas aos 8 anos de idade? Entretanto estas exigências não adultizavam as crianças, apenas lhes ensinavam que existir é um processo onde há responsabilidades de uns para os outros. Assim, o século passado formou jovens que lutaram contra  terríveis ditaduras políticas e psicossociais.

Uma das coisas que marca o adulto é a capacidade de conviver com a solidão, de assumir-se na existência e de se colocar como membro produtivo de uma sociedade.  Mas, o que o ocorre é, em temos empíricos, uma grande geração ultra dependente, não só financeira, mas afetivamente, que é incapaz de sair da casa dos pais, por não dar conta de assumir a responsabilidade sobre si. Uma geração que lida com a realidade como se tudo fosse uma disputa ou um jogo onde sempre se pode redefinir e começar tudo de novo sem arcar com quaisquer consequências.

Uma geração que se fantasia de Batman e Power Rangers para protestar contra ou a favor dos governos. Sem querer aqui questionar posição política, apenas a fantasia que as coisas se tornaram, ou seja, uma dificuldade em lidar com a realidade enfeitada com ícones infanto-juvenis. Nada contra gostar de super-heróis, mas é preciso urgentemente, compreender que os jovens têm um papel importante nas transformações do mundo.

Portanto, precisam – no momento da tomada de decisões – guardarem seus videos-games e miniaturas de super-heróis e assumirem a postura de membros efetivos da sociedade. Porque todos os avanços alcançados – em termos gerais – que temos hoje, foram conquistados por meio da luta daqueles que assumiram a responsabilidade de fazerem com que suas vidas tivessem um sentido real e humanitário à Terra.

24 de março de 2021

AS RELAÇÕES AFETIVAS ESTÃO EM CRISE

Para o filósofo e teólogo judeus Martin Buber (1878-1965) dividiu as relações humanas em dois tipos: O eu-você e eu-isso. O primeiro representa as relações amorosas, à troca e a reciprocidade. Enquanto no segundo é marcado por relações possessivas e manipuladoras, isto é, pessoas que se relacionam com o outro como se este fosse um objeto. Todavia, uma relação saudável precisa principalmente de interação eu-você, mas frequentemente cometemos o erro de tratar as outras pessoas como coisas, criando uma dinâmica eu-isso. Uma maneira ante social e desrespeitosa que denota poder e que certamente resultará em rivalidade. Como dizia Platão: “só te ama aquele que ama a tua alma”. Na nossa definição o amor é completamente diferente do sexo. Amor é paz e aconchego. Na verdade, amor é o sentimento que tenho pela pessoa, cuja presença provoca em mim sensações agradáveis. Não sei explicar, mas, sei sentir.  

No entanto, o nosso primeiro objeto de amor seria a mãe que provoca desde o nascimento essa sensação de paz e aconchego. Quando nos pegava no colo. Este aconchego não tem nada a ver com a estimulação erótica. Talvez por isso mesmo que Sigmund Freud (1856-1939), tenha tão insistentemente falado na ideia de sexo como impulso vital por excelência. Para o psiquiatra Flávio Gikovate (1943-2016), o amor é um impulso que surge desde os primórdios da vida, ou seja, com o nascimento. É responsável pela paz e harmonia que a criança sentiu de alguma maneira durante o período uterino, isto é, o amor como busca de harmonia através da aproximação física e espiritual com o outro. As manifestações da sexualidade surgem pela primeira vez no fim do primeiro ano de vida, quando a criança começa a se reconhecer como entidade autônoma, como independente da mãe e começa pesquisar o próprio corpo. Com o passar dos anos, nos desligamos dela e buscamos outra pessoa para ser o nosso par na aventura romântica. Uma vez escolhido, só serve aquele parceiro. Sua substituição é possível, mas, lenta e dolorosa. 

Entretanto, o sexo é um fenômeno de desequilíbrio, ao contrário do que acontece com o amor, que é um fenômeno de equilíbrio e aconchego. O sexo é um impulso que se manifesta pela primeira vez no fim do primeiro ano de vida. É o momento em que a criança começa a perceber com mais clareza que não está grudada na sua mãe, que não é uma parte dela. Começa a perceber a sua individualidade, e passa a pesquisar-se. É o período em que a criança, ao se tocar inteira, percebe que as sensações variam conforme a parte do corpo que é tocada. Percebe bem claramente que a região correspondente aos órgãos genitais provoca uma sensação muito especial, uma inquietação agradável, à qual chamamos de excitação sexual. É muito importante perceber que as primeiras sensações de natureza sexual se dão quando a criança, sozinha está pesquisando o seu corpo. Trata-se de um fenômeno pessoal, individual e que foi denominado autoerótico por essa razão. Porém, diferentemente do amor, que sempre envolve outra pessoa, o sexo é, nas primeiras descobertas infantis, uma manifestação individual.

A diferença é que a paz derivada do amor depende sempre da existência de outra pessoa, o objeto específico do nosso sentimento; por sua vez, o sexo é um processo pessoal, autoerótico e, ao menos na infância, totalmente independente de um objeto específico. Sigmund Freud acreditava que o amor era uma manifestação sofisticada, mais intelectualizada, do impulso sexual. Ele chamava esse processo de sublimação, ou seja, a transformação de um impulso mais grosseiro em algo mais sublime, mais especial. Essa transformação é o efeito da nossa razão sobre o fenômeno mais físico, mais animal, da sexualidade. Transformamo-nos em produtos sublimados. A verdadeira história da evolução da nossa espécie e a passagem de um modo de vida primitivo, nômade, para as organizações sociais complexas em que vivemos hoje, ainda estão longe de ser conhecidas. A verdade é que foi uma história difícil, cheia de sofrimentos internos e externos. Os sofrimentos externos derivaram do fato de que a terra não era um local tão apropriado para a nossa espécie. Tivemos de aprender a nos defender dos outros animais, do frio rigoroso, da escassez de alimentos.

Se hoje temos casas confortáveis, alimentos preservados para consumo durante o inverno e condições objetivas de combate às doenças e às dores, essas são as conquistas da quais podemos nos orgulhar. O planeta está muito mais adequado às necessidades humanas do que a selva original que aqui encontramos. Para conseguirmos avançar na conquista do meio externo, tivemos de nos agrupar em núcleos sociais cada vez mais complexos e organizados. Esses grupos impuseram severas limitações à expressão da nossa natureza instintiva, ou seja, nossa natureza mais animal. Muitos dos desejos que surgiram e ainda surgem espontaneamente, graças à nossa biologia, tiveram de ser proibidos. A palavra que se usa em psicologia para isso é repressão. A repressão, quando muito forte, tira o desejo até da nossa consciência e cria assim outra parte da nossa subjetividade, que é chamada de inconsciente. Este por sua vez contém os desejos que a nossa razão consciente não aceita. E não aceita por causa da repressão, que inicialmente é externa, isto é, social e depois se transforma em interna, pessoal.

Portanto, a fantasia do amor romântico, exaustivamente declamado por trovadores e poetas, baseava-se na dependência dos amantes. Por essa razão a fantasia não consegue satisfazer os anseios daqueles que pretendem se relacionar com seus parceiros de maneira autêntica e viver de forma mais independente. A tendência hoje é o desejo de viver um amor baseado na amizade. Para isso, são necessárias novas estratégias, novas táticas por meio de experiências nunca antes tentadas. Para conhecer o outro, é preciso um encontro sem idealização, reproduzir o passado não é mais suficiente. Muitos gostariam de inventar uma nova arte de amar, e pela história fica claro que existem precedentes, portanto, é possível fazê-lo. Como diz a psiquiatra e educadora Regina Navarro Lins (1948), o amor romântico começa a sair de cena, levando com ele a idealização do par romântico, com aquela ideia de que os dois se transformem num só e, consequentemente, a ideia de exclusividade. Contudo, abre-se a possibilidade de se amar e de se relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Essa nova forma de amar, diferente da expectativa do amor romântico, de sermos a única pessoa importante para o outro, que terá como ingrediente principal o companheirismo e a solidariedade. Aquele amor que nascia de um simples olhar está com os dias contados. O amor romântico está morrendo na sua origem e deixando como seu precursor o sexo, tendo em vista, que o amor romântico é uma invenção social e cultural. 

19 de março de 2021

QUEM NADA CONHECE NADA AMA

Segundo o médico, alquimista e astrólogo suíço-alemão Paracelso (1493-1541), dizia: “Quem nada conhece nada ama. Quem nada pode fazer nada compreende. Quem nada compreende nada vale. Mas quem compreende também ama, observa e vê. Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor. Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas”. Amar é simples, difícil é encontrar a pessoa certa para amar ou pelo qual ser amado. Tendo em vista, que a maior necessidade do homem é evitar a angustia da separação, abandonar o sentimento de solidão e isolamento. No entanto, a falência absoluta em alcançar esse alvo significa loucura, porque o pânico do isolamento completo, só pode ser ultrapassado por um afastamento do mundo exterior, de tal modo radical que o sentimento da separação desapareça. Porque o mundo exterior, de que se está separado, também desapareceu. Então, como sentir-se livre para experimentar o amor?

Analisando o amor sob a ótica do psicanalista, sociólogo e filósofo alemão  Erich Fromm (1900-1980), fica claro para nós mortais, que o amor é a única resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana. É o amor uma arte ou só uma sensação agradável? Se o amor é uma arte, exige conhecimento e esforço. Porque toda arte demanda interpretação e conhecimento. Sendo o amor só uma sensação agradável, como aquela experimentada ao acaso nos encontros casuais nas noites de happy hour (em português = hora feliz). Isto é, uma sensação de prazer facilmente confundida com a paixão, que passa rápido. Sendo assim, como posso ser livre para sentir o que sinto? É comum entre homens e mulheres, procurar desenvolver maneiras agradáveis e gentis, conversas interessantes, serem prestativos, modestos e inofensivos. Ou seja, os mesmos modos usados para conseguir sucesso, fazer amigos ou influenciar pessoas. Enfim, o que se considera comumente ser amável é uma mistura de ser popular e possuir certos dotes de sedução para impressionar o outro.

Entretanto, a partir do momento em que não se sente livre para sentir o que se sente, fica-se à mercê de doenças psicossomáticas. Significa a negação das emoções. É não se aceitar na sua totalidade. Só que o fato de negarmos o que sentimos não resolve, pois há em nós energia emocional continua procurando uma forma de ser liberada. Se formos proibidos de expressar o amor que sentimos, podemos acumular raiva, mágoas, ressentimentos ou desenvolver sintomas físicos. Veja o absurdo disso, posso sentir, porém não posso expressar. Por medo da felicidade que bate em nossa porta. Pois, viver com medo é viver pela metade. Isto contém um grau muito limitado de liberdade. A pessoa tem permissão para sentir, mas não para deixar claro esse sentimento. O que vão pensar de mim se mostrar isto? Ou então, ela se permite sentir, falar, mas não agir em função do que sente. Seu sentimento fica dissociado da conduta, muitas vezes por não ter aprendido a tomar decisões baseadas em suas emoções.

Agir no impulso da emoção, sem controle é típico de quem coleciona determinadas emoções segundo a psicóloga e educadora Ana Maria Cohen, que acrescenta. “Pode-se trocá-las por explosões, brigas, vingança ou mesmo homicídio e suicídio”. No caso do amor essas emoções reprimidas, quando explode desencadeia nos chamados crimes passionais. A ação baseada no impulso, embora caracterize uma liberdade maior, não é isenta de problemas. Se tiver raiva contida, explode, não importando onde ou com quem. Se tiver medo, paralisa ou foge, agindo impulsivamente. Isso já é um indicador que a pessoa tem um problema de fato.

Portanto, sentir, verbalizar e agir quando conveniente, respeitando a si e ao outro, é o próximo passo na direção da liberdade emocional. E acontece quando, ao sentir e poder verbalizar, a pessoa resolve se é conveniente ou não manifestar a emoção e qual a melhor forma de fazê-lo. Contudo, existe uma relação de magnetismo entre as pessoas, uma atração instintiva e pontual, pela qual somos tomados por um desejo enorme de prazer em estar com os outros. É através desse impulso instintivo que nasce o amor, no mais profundo recôndito do nosso inconsciente onde a razão e a reflexão não têm absolutamente nenhum acesso. Por conseguinte, se as famílias e a sociedade em geral negar essa vontade de vida e de viver, no amor instintivo essa vontade é afirmada perante os humanos. Sendo o amor à manifestação viva dessa vontade de viver.

16 de março de 2021

EDUCAR FILHOS É PREPARÁ-LOS PARA A VIDA

Um dos filmes mais bonitos e comoventes dos últimos anos, Cinema Paradiso. É um drama italiano de 1988 escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. Ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Foi um grande sucesso de bilheteria em muitos países e também no nosso. Quase todas as pessoas que conheço choraram em algumas partes do filme. A cena que provocou lágrimas no maior número de espectadores é aquela na qual o velho, que é o pai espiritual e sentimental do rapaz, que lhe ensinou quase tudo o que sabia da vida até então, diz a ele que se prepare para partir do vilarejo rumo à cidade grande: “Vá e não olhe para trás; não volte nem mesmo se eu te chamar”.

O pai manda embora o filho adorado e “ordena” a ele que vá em busca do seu caminho, do seu destino, dos seus ideais. Lembrei da minha história pessoal e lamentei, com enorme tristeza, que eu jamais tivesse ouvido coisa parecida. Parece que eu havia nascido essencialmente para realizar tarefas que fossem da conveniência da minha mãe, tendo em vista, que não conheci o meu pai. Ela jamais me estimulou a sair de perto dela, ainda que pudesse achar que partir seria bom para mim. Ela entendia que eu tinha que voar; mas, como isso era inconveniente e doloroso para ela, optava por me impor o que fosse melhor para ela. Lamentavelmente para a sua decepção, consegui romper o cordão umbilical que nos unia.

Agora, a forma mais sórdida e maldosa que existe de dominação é aquela que se mascara, que se traveste de grande amor e superproteção. A criança — e depois o jovem é tão paparicado, que não desenvolve os meios necessários para se manter sobre as próprias pernas. É evidente que, dessa forma, jamais poderá partir para longe dos pais. Foi carregado no colo o tempo todo e suas pernas ficaram, por isso mesmo, atrofiadas. Não pode andar por seus próprios meios e é dependente da família para a vida toda. Além da falta de respeito e maus tratos que eles submetem aos pais.

Portanto, pais fracos e inseguros fazem isso porque, na realidade, querem os filhos perto de si, exatamente como se fazia no passado. Querem os filhos por perto para darem sabor e sentido às suas vidas pobres e vazias. Querem seus filhos sem asas e incapazes de voar por conta própria. Não prepararam seus descendentes para voarem seus próprios voos e buscarem seu lugar na terra. Em nome do amor — o que é mentira — geram parasitas, uma criatura dependente e egoísta que só pensa nele, e ainda por cima exigem seus direitos de filhos. A coisa é mais grave do que era no passado: antes o filho era proibido de partir. Hoje, é permitido que parta, mas ele não tem pernas para isso! Pois, foi transformado pelos pais num incompetente crônico.

11 de março de 2021

NOSSA POLÍTICA CHEGOU AO FUNDO DO POÇO

O ex-presidente Lula fez nesta quarta 10/03/2021, um dos melhores pronunciamentos de sua carreira política. A sua síntese para a gente sair do atoleiro econômico pode não ser a melhor porque o Estado não tem como investir. Não estava ali, no entanto, expondo um programa de governo. A fala de Lula conferiu dignidade à política. Isto é tudo que precisamos para ressuscitar a democracia, que a muito se perdeu.   

O cadáver adiado da velha democracia até pode indagar: "Que país é este em que recebemos lições de um ex-presidiário?" É aquele que assistiu calado, quando não estava aplaudindo, à escalada de ações ilegais de Sergio Moro, alçado à condição de herói nacional e saudado com frequência por sua habilidade em ignorar as garantias legais. Afinal, seu propósito seria nobre: “caçar corruptos”. É o país que viu o doutor confessar em embargos de declaração que nem mesmo era o juiz natural do caso do tríplex.

Vivemos anos de insanidade judicial, de loucura mesmo! E caímos no atoleiro que aí está. Lula passou 580 dias preso. Edson Fachin, o mesmo ministro do Supremo que anulou todos os processos que corriam na 13ª Vara Federal de Curitiba por reconhecer, finalmente, que Moro não era o juiz natural das causas, liderou os seis votos que mantiveram o ex-presidente na cadeia em abril de 2018 — nesse caso, ao arrepio do que dispõem a Constituição e o Código de Processo Penal. Assim, se você quiser saber que país é este que recebe lições de um ex-presidiário, convenham: “a pergunta deve ser dirigida àqueles que contribuíram para coonestar a farsa”.

Portanto, vivemos a fase do delírio punitivista, pouco importando o que fizessem os procuradores da Lava Jato e o juiz. Afinal, havia um objetivo maior, que se sobrepunha ao devido processo legal: “combater a corrupção”. Como argumenta o jornalista e colunista da Folha de São Paulo e da Rádio Band News FM  Reinaldo Azevedo: “E muitos se desinteressaram de saber quais meios eram empregados para supostamente atingir esse fim. Sim, é preciso que a imprensa se pergunte que papel desempenhou nesse desastre”.

8 de março de 2021

O MILAGRE DA VIDA SE DÁ ATRAVÉS DA MULHER

O milagre da vida só é possível através da mulher. Foi pelo fruto do vosso amor que chegamos a esse mundo. A nossa existência só se consolidou nove meses após a sua gestação. Somos gratos a mulher, por ter nos apresentado a esse mundo. Por nos colocar diante dessa maravilha que é a vida. Com todas as injustiças e tiranias existentes, esse direito de trazer vidas ao mundo, nunca será tirado da mulher.

Entretanto, é mulher que traz na palavra a delicada forma de dizer amor. Sempre sorrindo mesmo diante da dor. Carregando o mundo em sua placenta. Será que algo mais acrescenta nessa mulher e mãe guerreira? Que domina seu homem de forma sorrateira e ainda é capaz de ser namorada e amante carente. Ela denota a gata que arranha sua presa indefesa, como uma fera ferida e insaciável do amor que sente. O que seria de tudo sem a mulher? Ela foi tirada da costela de Adão, para um dia nos tirar da solidão.

Mas, infelizmente ainda em pleno século XXI a mulher é tratada com inferioridade e desprezo, até parece que ela só existe para procriar e servir ao senhor machão. No entanto, para que a mulher chegasse até aqui em igual condição com os homens e ser reconhecida, foi uma luta árdua e penosa. O pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), referia-se ao sexo feminino como um “continente negro”.

Ele afirmava que a mulher tinha inveja do pênis e por isso a sua libido era masoquista. Libido é uma palavra que tem origem no latim e significa desejo ou anseio, é um impulso vital, uma energia que denota instinto de vida. Masoquismo é uma forma de sentir prazer através da dor física ou de humilhação verbal. Parece que Freud tinha razão. Quantas mulheres ainda hoje em pleno século XXI, submete ao marido como seu dono, na condição de subalterna?

Para justificar essas razões, argumenta Freud, que uma paciente sua sonha com um arranjo de flores, misturando violeta com lírios e cravos. Na linguagem psicanalítica, os lírios representam a “pureza”, os “cravos” o desejo carnal e por ultimo, não menos importante, as “violetas” como a necessidade inconsciente da mulher de ser violentada pelo o homem. Por outro lado, também há homens que humilha e explora a mulher. É bom que se diga.

Portanto, a você mulher que povoa e enfeita este planeta terra, possa atuar constantemente em favor do que realmente é a sua vida, buscando o prazer e a harmonia, contudo, nos ensinando o que é viver intensamente, seguindo o curso natural da natureza física, encaixando os seus desejos no momento certo do seu tempo. Sobretudo, depois de tantos anos de repressão, agora chegou a sua vez de declarar independência ao machismo sádico. Por você mulher, agradeço a todos os dias dizendo: “que maravilha estar aqui neste mundo, como é bom viver, como é bom ser Eu mesmo”. Parabéns pelo seu dia, “Excelentíssima Mulher”. 

(Homenagem ao dia Internacional da Mulher)

5 de março de 2021

O MAL-ESTAR EXISTENCIAL GERA DEPRESSÃO

Na minha observação, há lugar para considerações filosóficas mesmo nos casos em que a depressão tem origem biológica, e não apenas existencial. O mal-estar existencial, ou a morte do espírito, pode estar fazendo parte da sua situação, e nesse caso, o trabalho filosófico ajudará, pelo menos em parte. A falta de propósito, de ânimo e de excitação em relação à vida, que caracteriza a depressão, pode ser tratada com a filosofia, além da psicanálise e da medicina.

Se você está deprimido, haja ou não um componente biológico, sente que lhe foram tirados o sentido e o propósito da vida. Considere o seguinte: talvez o seu propósito seja superar a depressão. O mesmo vale para a ansiedade, o pesar ou a sensação geral de infelicidade. A sua aflição não somente deprecia a sua qualidade de vida; como também lhe oferece um desafio a ser vencido.

De modo que, mesmo em condições consideradas puramente biológicas, como o câncer, foi demonstrado que o tratamento eficaz baseia-se não somente na medicina , mas também na atitude do indivíduo. Levando em consideração que uma das raízes do câncer, está ligado ao fator psicossomático, ou seja, de fundo emocional, que culmina em cem por cento fisiológico. Sendo assim, a sua atitude em relação à vida e a sua disposição, atrelado a uma filosofia de vida, pode influenciar na cura do câncer, sendo ele de fundo emocional.

Portanto, a nossa experiência com a natureza ajuda a reanimar a própria vida, uma das melhores maneiras de encontrar sentido e propósito. Compreender que a vida é uma grande dádiva e desfrutar de todas as coisas que você faz, como parte da sua vida diária, também são grandes antídotos para a falta de propósito. Finalizo com essa frase de Dalai Lama: “Se você contribui para a felicidade de outras pessoas, encontrará o verdadeiro bem, o verdadeiro sentido da vida”. Tendo em vista que depressão quer dizer: vida sem graça e sem sentido. Não encontro um motivo para continuar vivendo, entro em depressão.    

2 de março de 2021

EM NOME DO PROGRESSO NOS PERDEMOS

Como seres humanos, nossas raízes estão mergulhadas na natureza, não apenas pelo fato de que a química do nosso corpo ser constituída, essencialmente, dos mesmos elementos que o ar, o pó ou a grama. Participamos da natureza de outras tantas maneiras, como: através da mudança de estação, do dia ou da noite, que refletem no ritmo de nossos corpos, como; na fome, na satisfação de trabalhar, no sono e no despertar, assim como também, no prazer sexual e na sua gratificação.

Embora de forma metafórica, a Bíblia apresenta a harmonia inicial da criação da natureza e do homem. Após criar os animais, Deus disse: “Façamos emergir um novo tipo de criatura, o ser humano, à nossa imagem e semelhançaMoldemos uma criatura que, em certos aspectos, seja igual ao animal, precisando comer, dormir e acasalar-se. E igual a mim em outros pontos, elevando-se acima do nível animal. Os animais contribuirão com sua dimensão física e a essa outra criatura lhe soprarei uma alma racional”.

E assim, coroando a criação, são feitos os seres humanos, em parte animais, em parte divinos. Todos os seres em harmonia, tudo em perfeito equilíbrio com a natureza. Acontece que o homem acabou por afastar-se do plano harmonioso e sereno do mundo natural. Segundo os relatos em Gêneses; não foi Deus que criou o homem deste jeito, mas foi ele que abusou da sua liberdade e matou o seu próprio irmão. Em nome do progresso envenenou-se os rios e mataram os peixes; poluíram-se o céu, o ar, e morreram os pássaros que havia sido criado para o homem conviver em harmonia.

De modo que, com a guerra, o ódio, a inveja, a ganância, o homem seguiu perturbando o mundo e a natureza, foi desequilibrando tudo: o ar, as águas, as plantas, a própria consciência envenenada por pensamentos de egoísmo, de injustiça e destruição. Por conseguinte, o desequilíbrio emocional é fruto desse manicômio que ousamos chamar de sociedade, um ambiente frustrante criado pelo próprio homem.

Porém, o homem profundamente frustrado perdeu seu referencial e mergulhou numa busca desenfreada de algo sobrenatural, nas crenças religiosas e no ocultismo. Os “egípcios” investigaram os mistérios dos astros. Os “gregos” e os romanos procuraram tutela em deuses criados por eles mesmos; e os “maias”, no seu calendário, com um deus tutelar para cada dia do mês.

Portanto, ao longo dos tempos, todos os povos experimentaram a atração do mistério, com suas lendas, feitiços, casas mal-assombradas, lobisomem, saci-pererê, demônios, alastrando-se até nossos dias com surtos das seitas mais diversas. Apesar do imenso progresso científico alcançado através dos séculos, o homem constitui ainda hoje, para si mesmo, um mistério. Os erros se multiplicam, pois os caminhos apontados são tantos que acabam levando o homem desprevenido a uma nova “Torre de Babel”. 

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...