31 de março de 2021

O CIÚME IMPEDE A GENERALIZAÇÃO DO AMOR

Nossa cultura latina costuma associar ao sentimento de ciúme uma manifestação clara de amor e cuidado entre parceiros de um relacionamento afetivo. Mas será isto mesmo verdadeiro? Os declarados ou veladamente ciumentos afirmam que sim e ficam até constrangidos e revoltados quando as evidências em contrário demonstram o egoísmo e a possessividade escondidos neste verdadeiro "monstro dos olhos verdes", como o chamou William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo e poeta inglês, autor de tragédias famosas como “Hamlet”, “Othelo”, “Macbeth” e “Romeu e Julieta”. Ele é considerado uma das maiores figuras literárias da língua inglesa.

No entanto, a própria origem da palavra ciúme em português, derivada do grego "zelus", transformada em "zelumen" no latim, faz pensar, como disse Santo Agostinho (354-430), filósofo, escritor, bispo e importante teólogo cristão do norte da África, "Qui non zelat non amat" (Quem não sente ciúme não ama). Mas será o ciúme, e não o zelo, a verdadeira prova de amor? Zelar, cuidar, proteger têm uma conotação bastante diferente de sentir ciúme, pois, no zelo, um sentimento altruísta (voltado para o outro), a pessoa está muito mais preocupada com o bem-estar de seu parceiro do que de si mesma. Aqui não implica ciúme e sim cuidar do outro.

Já o ciumento, prisioneiro de uma dor amarga em seu peito, sofre com as sombrias desconfianças de que possa ser traído ou mesmo abandonado pelo outro, o que caracteriza um sentimento voltado para si, para sua dor, para seu orgulho, portanto, um sentimento egoísta. Será o amor egoísta? Será o amor possessivo? Será o amor marcado pela dor da desconfiança e do medo? A palavra alemã para ciúme é “eifersucht” que significa, literalmente, vício (ou doença) que arde. E parece ser assim que este sentimento se manifesta: uma dor que aperta o coração e causa tanto dissabor em uma relação afetiva.

Portanto, o ciúme é o pior sentimento da humanidade, porque ele impede a generalização do amor. As pessoas mal conseguem perceber que as ditas manifestações de ciúme que revelam uma possessividade, uma tentativa de controle e aprisionamento que só o tempo acaba revelando, e que, no extremo, levam a uma verdadeira falta de liberdade para ser e realizar seus próprios desejos. Contudo, pense em uma pessoa que, devido a componentes biopsicossociais, tenha desenvolvido uma personalidade impulsiva, clinicamente diagnosticada como portadora de transtorno de personalidade, insegura de si do tipo impulsivo, irá reagir agressivamente à ameaça gerada pelo ciúme, chegando até mesmo a atos extremos de violência, agressão e morte.

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