28 de janeiro de 2012

VALORES BASEADOS NO PODER

Infelizmente só tem direito ou valor na nossa sociedade quem tem poder. Não gosto dessa palavra “poder”, acho-a muito confusa. Poder de quem? Frente a quê? Prefiro dizer vontade mórbida, gosto ou necessidade de controlar o outro, de fazer com que ele faça da maneira que eu quero, como gosto ou do jeito que preciso. Exercer poder é essencialmente comprar, coagir, prometer, castigar, levar o outro a fazer o que eu quero. O outro só me é importante se comungar comigo os mesmo valores. Que valores são esses se o que vale são as minhas necessidades?
É bom lembrar que existe um elemento paranoico em todo ser humano, no sentido de que todos nós adoraríamos viver num mundo determinado aonde aqueles que por aventura venham fazer parte da nossa vida afetiva se comportem da maneira que queremos. Somos pretensiosos e temos inclinação à exigência de que essa pessoa tenha valores que se agregam às minhas necessidades. Não estamos preocupados se o outro tem valores, mas, sim se ajustam aos meus desejos. Aqui nesse caso já implica uma relação de poder.
Se tivermos inclinações paralelas, isso é ótimo para os dois, pois vou conseguir persuadir essa pessoa, assim como ela também vai me persuadir. Podemos dizer que temos aqui uma relação pautada no acordo e não na expectativa de que ela seja o que eu quero e espero dela. Contudo, na maioria das vezes, o que se vive não é acordo, mas imposição. “Porque devia, porque precisa, mas é sua obrigação, você não é uma boa pessoa, a culpa é tua”. Enfim, uma infinidade de frases inócuas, porque a essência de qualquer família é a repetição inócua de frases inúteis. Falam como papagaios sem perceberem a existência do outro, e o pior, levam isso para as relações amorosas.
No amor, não existe hierarquia de poder. Nada é mais democrático do que o amor e talvez nada seja mais individualizante. Por que certas pessoas nos chamam a atenção e outras tantas não? A minha tese é de que entre mim e essa pessoa, que me chama a atenção, há uma rica possibilidade de desenvolvimento. Quando me impressiono com alguém, é que eu percebo alguém e alguém me percebe. Parece bobagem isso, mas o fato é que as pessoas pouco ou quase nada percebem o que está a sua volta. Ignorar o outro é a regra no nosso mundo.
Quando duas pessoas estão supostamente conversando, raramente estão falando uma com a outra, estão as duas falando sozinhas, cada uma esperando a sua vez de falar sozinha. Penso que as pessoas hoje em dia esqueceram o que é dialogar. O diálogo é uma suprema arte, extremamente difícil. É o olhar no olho, é o “conversar”. Quando ouço o outro, o meu pensamento se faz o dele e vice e versa. Isso é um diálogo. Se enquanto o outro está falando, eu estou aqui parafusando a resposta, me defendendo, me justificando, me explicando, nós não estamos dialogando. Vejam quanto de poder, de agressão se opõe ao mundo amoroso. Ao contrário do que se diz e do que se imagina, nenhuma escravidão é pior do que a escravidão amorosa, porque não se percebe os valores um do outro. Todo mundo se posa de verdadeiro, que fala o que pensa e sente, isto não é sinceridade e, sim, grosseria. É um individuo egoísta e centralizador, não enxerga o outro como ser humano.
Portanto, o poder só serve para exigir e oprimir as pessoas. Quando se consegue olhar para o outro, com ternura e admiração, da mesma forma estamos querendo reciprocidade. Qualquer pessoa normal sente falta imperiosa de amar. O primeiro passo a dar é tomar consciência dos valores que o outro tem e que amar é algo que eu sinto a partir dessa pessoa. Indivíduo esse que não tenho nenhum poder sobre ele. Contudo, preciso exteriorizar esse sentimento, através do contato, da carícia e só posso aprender amar experimentando, descobrindo a divindade no outro. É um momento ímpar, onde nivelamos sentimentos e agregamos valores. Viver e Amar é para a espécie humana um mistério, que muitos transformam num problema.   

25 de janeiro de 2012

EM BUSCA DA HONESTIDADE

A literatura, de um modo geral vista sob os aspectos da filosofia, psicologia e da religião, nos mostra que relacionamentos saudáveis e duradouros devem ser baseados na honestidade e na verdade. Há um desejo muito forte em todos nós, de acreditarmos que ao menos aqueles a quem amamos e aqueles que nos amam também serão sempre honestos e verdadeiros conosco. E não dá para nos relacionarmos de outra maneira quando implica amizade e amor. Será que existe alguém completamente honesto?
A maioria das relações falidas tem como base a ausência da honestidade, a principal responsável pelo desgaste e falência dos casais. A desonestidade levou milhares de famílias à separação, amantes a se agredirem e até mesmo cometerem os chamados crimes passionais. Grandes negócios foram desfeitos, assim como derrubou governos ditadores e a falta dessa honestidade gerou guerras consideradas sangrentas na história da humanidade. Contudo, as pessoas continuam achando mais prático dizer uma mentira, embora a maioria das crises possa ser contornada pelo uso da verdade. A prática da verdade, principalmente nessa hora, é indispensável.
Concordamos que a honestidade é a melhor política, mas jamais sonharíamos em dizer à maioria das pessoas, quando nos perguntam, o que pensamos delas. Os gregos eram escolados em disfarçar a verdade. Eram ensinadas técnicas de como proferir através de uma boa oratória de maneira que pudessem impressionar o público. Essa estratégia é usada até hoje em dia, de maneira insolente pelos políticos e publicitários para vender o seu produto.Tudo isso começou na Grécia Antiga com os Sofistas, mais conhecidos como professores da sabedoria, mas num sentido pejorativo, ou seja, alguém que usa de raciocínio capcioso, de má fé, com intenção de enganar. Entretanto, o grande filósofo grego Sócrates, foi em essência, condenado à morte por dizer a verdade, pois seus juízes acreditavam que a sua verdade corromperia a juventude da época.
A história da humanidade é marcada pela desonestidade. Nós somos muito mais caprichosos, irregulares e desonestos do que dizemos. Um dos enigmas para mim é que a vida real das pessoas não é flor que se cheire. Quando se fala dos seres humanos, é de uma santidade e de uma honestidade que eu nunca vi no mundo. Nega-se a maldade e a crueldade e elas aparecem por todos os lados. Para o escritor Leo Buscaglia, se as pessoas não estão, na realidade, empenhadas em mentir, elas criam imaginosas meias mentiras criativas ou fogem à questão completamente. Alguns filósofos e sociólogos duvidam que uma pessoa ou uma sociedade possa sobreviver só com a verdade absoluta. Uma sociedade em que todas as verdades fossem cegamente expostas seria mais um inferno do que um paraíso, pois seria um escândalo total e os exemplos estão aí para comprovarem.
Nossa segurança está baseada no fato de que as informações que nos são dadas, principalmente por aqueles a quem amamos, são honestas. Todavia, quando ela é afetada, ou desaparece, não é surpreendente que nossas vidas fiquem temporariamente desequilibradas. Quando o nosso amor é forte o suficiente, podemos ser capazes de aceitar a situação ou concluirmos que aquilo não foi feito com más intenções ou com o desejo de machucar. Podemos até lidar com a mentira e aceitá-la com tolerância humana. Reconhecemos que todos nós cometemos erros e omitimos fatos. Sempre perdoamos, principalmente quando é um filho que se desviou da verdade e cometeu um ato desonesto.
Portanto, temos uma grande necessidade de acreditar, de confiar uns nos outros. Penso que ficaríamos loucos se percebêssemos um dia que não haveria ninguém em quem pudéssemos confiar. É através da confiança que nosso sistema de valores cresce e se transforma. Com a segurança e a reafirmação resultantes da confiança, tornamo-nos mais abertos ao risco que implica viver. Contudo, como poderemos esperar total honestidade dos outros, se nós mesmos mentimos a nós próprios? Devemos encarar esses lapsos como pequenas falhas humanas e usá-los como experiências de aprendizado para futuros relacionamentos de maior confiança já que sempre desejamos que nossos relacionamentos durem e cresçam. Por isso mesmo é que tanto a honestidade e quanto a confiança devem ser nossos objetivos primordiais e inevitáveis.   

20 de janeiro de 2012

DIGNIDADE NAS RELAÇÕES HUMANAS

É do conhecimento de todos, que vivemos num mundo onde existem o bem e o mal. Para o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau, o ser humano é bom por natureza, ele se corrompe ao viver em sociedade. Diz Rousseau: “como seria doce viver entre nós se a contenção exterior representasse sempre a imagem das disposições do coração”. Afinal, o que anda acontecendo de errado com as relações humanas, que na maioria das vezes chegam a ser desumanas?
Diariamente convivemos com pessoas, muitas delas até bem humoradas e cordiais. Mas num dado momento nos defrontamos com alguém que de repente, temos a mais profunda certeza de que precisamos inteiramente dessa pessoa, para estar sempre em nossa companhia. Sem entender muito bem as razões, como se fosse num passo de mágica, descobrimos que estamos encantados por essa pessoa. Por que essas coisas acontecem dessa forma? Subitamente temos a certeza de que nossa vida só terá sentindo vivendo esse sentimento nobre e, o mais curioso de tudo isso é, que não sabemos o porquê.
Martin Buber, filósofo judeu, preocupou-se profundamente com o tema das relações humanas e ele sugeria que os educadores ensinassem os jovens a conviver com o próximo. A base de seu pensamento é o diálogo, como única saída para convivermos bem em sociedade e, particularmente, nas relações interpessoais. Dessas que de repente nos pegam pelo coração e nos arrebatam de maneira inexplicável.
No entanto, vivemos num mundo dividido e marcado pela intolerância e pela violência. O ser humano está perdido na massa, abandonado na sua solidão e, ao mesmo tempo, tomado pela esperança. Sonhando em realizar aquilo que só ele é capaz, que é viver uma sólida relação amorosa. É o sonho de todos nós. E por que é tão difícil cultivar relações assim? Será que falta dignidade para ser humano?
Martim Buber montou duas expressões compostas para explicar o sentido dessas relações humanas. O EU-ISSO e o EU-TU, tendo em vista que o EU-ISSO é para designar toda relação de uma pessoa com o seu mundo exterior, o objeto, as coisas, o descartável. E o EU-TU para dar nome às relações de uma pessoa com outra pessoa, isto é, com alguém que fosse realmente percebido como pessoa. Essas duas expressões compostas são muito importantes, pois é em torno delas que vamos desenvolver toda uma compreensão acerca das relações humanas, em particular, a relação amorosa que é a mais difícil de lidar.
Entretanto, a relação de cada um de nós com o mundo, na maioria das vezes, é praticamente coisificada, lidamos com os nossos semelhantes como se fossem coisas, um objeto. Numa relação EU-ISSO. É evidente que no início das relações é inevitável nos comportarmos assim. É perfeitamente compreensível que qualquer relação nova comece na base do EU-ISSO, porque o outro começa sendo para mim uma interrogação, como que uma coisa que quero conhecer, mas que ainda não conheço. Só depois de alguma aproximação, essa pessoa vai-se tornando para mim, de fato, uma pessoa. Então, a partir de agora, será possível e necessário atingir a relação EU-TU, sem a qual o mundo humano não se realiza. Existem pessoas, que por uma infeliz história de vida ou por viverem num mundo brutalizado e insensível, não conseguem, nem com maior aproximação ultrapassar a relação EU-ISSO. Buber diz: “nenhum ser humano pode viver sem o ISSO, mas aquele que vive com o ISSO, não é ser humano”.
Portanto, é fundamental que tenhamos abertura para sentirmos e acolhermos o nosso semelhante como alguém que, como nós, tem alegria e sofrimentos, direitos e deveres; alguém que mereça aquela mesma dedicação e aquele mesmo carinho que desejamos para nós. É importante lembrar que isso é uma pequena palavra que podemos dizer com uma parte apenas do nosso SER. Mas “TU” é uma palavra ainda menor que, no entanto, só podemos pronunciar com o nosso SER inteiro no momento do encontro amoroso. Onde nos completamos no EU-TU. Nesse momento somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade brâhmica de você sair ao encontro do outro na expectativa que ele te receba. Contudo, essa é uma experiência única. É dar um pouco da tua vida ao outro, portanto há de se encontrar o verdadeiro resgate da dignidade humana através da relação EU-TU.   

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...