20 de janeiro de 2012

DIGNIDADE NAS RELAÇÕES HUMANAS

É do conhecimento de todos, que vivemos num mundo onde existem o bem e o mal. Para o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau, o ser humano é bom por natureza, ele se corrompe ao viver em sociedade. Diz Rousseau: “como seria doce viver entre nós se a contenção exterior representasse sempre a imagem das disposições do coração”. Afinal, o que anda acontecendo de errado com as relações humanas, que na maioria das vezes chegam a ser desumanas?
Diariamente convivemos com pessoas, muitas delas até bem humoradas e cordiais. Mas num dado momento nos defrontamos com alguém que de repente, temos a mais profunda certeza de que precisamos inteiramente dessa pessoa, para estar sempre em nossa companhia. Sem entender muito bem as razões, como se fosse num passo de mágica, descobrimos que estamos encantados por essa pessoa. Por que essas coisas acontecem dessa forma? Subitamente temos a certeza de que nossa vida só terá sentindo vivendo esse sentimento nobre e, o mais curioso de tudo isso é, que não sabemos o porquê.
Martin Buber, filósofo judeu, preocupou-se profundamente com o tema das relações humanas e ele sugeria que os educadores ensinassem os jovens a conviver com o próximo. A base de seu pensamento é o diálogo, como única saída para convivermos bem em sociedade e, particularmente, nas relações interpessoais. Dessas que de repente nos pegam pelo coração e nos arrebatam de maneira inexplicável.
No entanto, vivemos num mundo dividido e marcado pela intolerância e pela violência. O ser humano está perdido na massa, abandonado na sua solidão e, ao mesmo tempo, tomado pela esperança. Sonhando em realizar aquilo que só ele é capaz, que é viver uma sólida relação amorosa. É o sonho de todos nós. E por que é tão difícil cultivar relações assim? Será que falta dignidade para ser humano?
Martim Buber montou duas expressões compostas para explicar o sentido dessas relações humanas. O EU-ISSO e o EU-TU, tendo em vista que o EU-ISSO é para designar toda relação de uma pessoa com o seu mundo exterior, o objeto, as coisas, o descartável. E o EU-TU para dar nome às relações de uma pessoa com outra pessoa, isto é, com alguém que fosse realmente percebido como pessoa. Essas duas expressões compostas são muito importantes, pois é em torno delas que vamos desenvolver toda uma compreensão acerca das relações humanas, em particular, a relação amorosa que é a mais difícil de lidar.
Entretanto, a relação de cada um de nós com o mundo, na maioria das vezes, é praticamente coisificada, lidamos com os nossos semelhantes como se fossem coisas, um objeto. Numa relação EU-ISSO. É evidente que no início das relações é inevitável nos comportarmos assim. É perfeitamente compreensível que qualquer relação nova comece na base do EU-ISSO, porque o outro começa sendo para mim uma interrogação, como que uma coisa que quero conhecer, mas que ainda não conheço. Só depois de alguma aproximação, essa pessoa vai-se tornando para mim, de fato, uma pessoa. Então, a partir de agora, será possível e necessário atingir a relação EU-TU, sem a qual o mundo humano não se realiza. Existem pessoas, que por uma infeliz história de vida ou por viverem num mundo brutalizado e insensível, não conseguem, nem com maior aproximação ultrapassar a relação EU-ISSO. Buber diz: “nenhum ser humano pode viver sem o ISSO, mas aquele que vive com o ISSO, não é ser humano”.
Portanto, é fundamental que tenhamos abertura para sentirmos e acolhermos o nosso semelhante como alguém que, como nós, tem alegria e sofrimentos, direitos e deveres; alguém que mereça aquela mesma dedicação e aquele mesmo carinho que desejamos para nós. É importante lembrar que isso é uma pequena palavra que podemos dizer com uma parte apenas do nosso SER. Mas “TU” é uma palavra ainda menor que, no entanto, só podemos pronunciar com o nosso SER inteiro no momento do encontro amoroso. Onde nos completamos no EU-TU. Nesse momento somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade brâhmica de você sair ao encontro do outro na expectativa que ele te receba. Contudo, essa é uma experiência única. É dar um pouco da tua vida ao outro, portanto há de se encontrar o verdadeiro resgate da dignidade humana através da relação EU-TU.   

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