31 de dezembro de 2014

ENTRE O VELHO E O NOVO ANO

Boa noite Pai, já está terminando o ano de 2014 e agradeço pela vida que me confiou e pelas pessoas que no meu caminho as colocou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido. Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti juntamente ao lado dos meus amigos e da pessoa que amo. Obrigado pela alegria que vi no rosto das crianças e dos idosos. Obrigado pelo exemplo que recebi dos outros, pelo que aprendi aos meus sessenta três anos idade, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelo meu próximo.

Obrigado Pai pelo dom de amar o meu semelhante, mesmo sem ser por ele compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver em 2014, pelo meu esforço e desejo de superação. Pai desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto por conta do meu egoísmo.

Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida não para nunca, só a morte pode cessar os meus passos. Em quanto isso, espero que neste novo ano que está nascendo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a espécie humana. E que a cada novo dia seja um contínuo sim numa vida consciente. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Como argumentava o grande sábio hindu Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito “Mahatma” que quer dizer: A Grande Alma), dizia ele: “Tudo o que vive é o teu próximo”. Desejo a todos um feliz e próspero 2015. Que Deus nos abençoe nesta caminhada.  

28 de dezembro de 2014

DÊ DIGNIDADE AO AMOR

Às vezes a gente pensa que gosta de alguém, só porque aquela pessoa entende a gente. Na verdade, o que mais queremos naquele momento é ser compreendido por alguém. Postulamos essa premissa e misturamos tudo, confundindo amor com carência. Somos invadidos por uma sensação de vazio e solidão que ocupa profundamente o nosso coração de tal forma e com tal intensidade que perdemos a referência dos nossos mais obscuros sentimentos. No entanto, chegamos a pensar que, realmente, seja mesmo o cupido que no flechou (da mitologia grega), no momento em que alguém sorri para nós. Por ser a nossa mente seletiva, e para minimizar os nossos conflitos e neuroses, prontamente criamos fantasias e com isso misturamos os sentimentos, que nos confunde completamente. Para não embarcar nesta loucura, precisamos urgentemente criar um antídoto e desfazer o engano, antes de nos envolver, achando que o amor está batendo a nossa porta.

O primeiro passo é resgatar a nossa dignidade. Palavrinha muito falada e pouco experimentada, que tem a ver com honra, respeito e amor próprio. Para descobrir o amor no outro só é possível através da dignidade, que é a nossa maior autoridade para viver o amor. Um amor digno. Importante não confundir “amor próprio” com narcisismo, que é outra coisa completamente diferente. Assim como a palavra “dignidade”, nada mais é do que uma qualidade moral que infunde respeito entre o sujeito e sua relação com o meio.

Todavia, a dignidade é o antídoto para esse engano. Esta palavra tem tudo a ver com valores e princípios morais, respeito pelos seres viventes. Como seria doce viver se a contenção exterior representasse sempre a imagem da disposição do nosso coração. No entanto, vivemos num mundo dividido e marcado pela intolerância e pela violência. O ser humano está perdido na massa de cultura inferior, abandonado na sua solidão e, ao mesmo tempo, tomado por uma esperança. Então, por que usamos as dificuldades de uma relação para rapidamente ocuparmos o papel de vítima? É o que fazemos quase sempre, achar que o outro pode resolver as minhas carências provisoriamente. Que dignidade existe nesta relação casual? Talvez nos falte coragem para admitir nossas limitações, para conseguir reconhecer no outro o quanto podemos aprender e crescer, quando olhamos com admiração e enxergamos nele o espelho de nós mesmos. Porém, esquecemos que da mesma maneira que este espelho nos mostra as nossas feridas e dores, nossas cicatrizes e medos. Escancara nossa insegurança e evidencia muitas de nossas máscaras, como também nos mostra nossas qualidades, sabedoria, dons e principalmente nosso brilho pessoal.

Entretanto, no exercício de amar e compartilhar o que temos de mais íntimos é que podemos conhecer nossa originalidade, isto é, desde que estejamos dispostos a nos olhar e nos reconhecer exatamente como somos. A partir de então, podemos iniciar o processo de transformação e transmutação da matéria para o mundo das ideias inatas que pregava Platão (427-347 a.C.). Sobretudo, por ser esta a grande magia do amor, a alquimia do coração. Mais importante do que ficarmos fazendo certos questionamentos sobre conceitos e regras do amor, esta é a oportunidade que temos de compreender a força e o poder que contem o amor. Todavia, quando nos sentimos apaixonados por alguém especial, experimentamos a sensação de que amar é querer envelhecer e morrer juntos. No entanto, chega de buscarmos motivos, respostas e garantia de felicidade eterna. Quem pode nos dar essa garantia? Esquecemos simplesmente de sugar o que a vida está nos oferecendo neste instante, que podemos nos agarrar à preciosa chance de nos encontrarmos, de finalmente enxergarmos a nossa própria alma através do amor. Reconhecer no outro o significado da nossa existência. Essa intensidade com que vivemos é que faz a nossa vida valer à pena. A nossa decisão de acreditar que cada um traz consigo um potencial em crescimento. Que faz com que o amor se transforme num caminho para a sua evolução e não um jogo onde só ganha quem acha que está certo.

Para melhor compreensão vamos usar o exemplo do filme “Vida de Inseto”. Pense numa semente. Em ato a semente é o que ela é. Um grão mínimo. Mas nessa mesma semente há uma potência, uma parte oculta que está contida na semente, a árvore. Antes mesmo de a semente ser plantada, já está dentro dela, em potência, uma árvore. Mesmo que essa semente nunca venha a ser plantada, ainda assim a potência está lá, aguardando as condições ideais para, nesse caso, germinar. Ato e potencia do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) As pessoas são sementes que aos poucos vão germinando em condições favoráveis e logo se transformam em uma linda árvore. Por isso que o amor transforma as pessoas. O amor é essa potencia que nos modifica e transforma.

Portanto, olhemos bem para o outro e procuramos enxergar nele o amor que temos para dar e a alegria que podemos proporcionar a esta pessoa. O encanto que faz brilhar a sua essência. Inclusive, porque o amor acontece de dentro para fora. Enquanto insistirmos em responsabilizar a nossa vida ao outro ou a relação amorosa, tudo que sentimos de bom ou de ruim, nada terá sentido. De mais dignidade a esse amor, assim como tudo que faz parte de nós. Nossas dores, nossos desesperos, a nossa falta de confiança, o medo de não conseguir. O que importa é o quanto somos dignos no momento em que choramos ou rimos. Enquanto amamos, o que mais importa é sermos honestos com o nosso sentimento. Que possamos ter autoridade sobre o que experimentamos durante todos os dias de nossas vidas, porque depois desses momentos mais difíceis, restará apenas a nossa dignidade. Somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade Brâhmica de você sair ao encontro do outro na expectativa que ele te receba. É uma experiência única. Dar um pouco da tua vida ao outro. Contudo, há de se encontrar o verdadeiro resgate da dignidade humana através desta relação de amor e respeito com a nossa essência. Isto sim é viver com dignidade o amor na sua plenitude. 

21 de dezembro de 2014

A ESSÊNCIA DO NATAL

Apesar de todo avanço científico e tecnológico alcançado pelo homem, dia vinte e cinco de dezembro ainda é Natal. O menino Jesus que nasceu nesse dia há mais de dois mil anos, deve estar preocupado com o mundo em que viveu e, apesar de toda a Sua imensa sabedoria não deve estar entendendo.  Ele não deve entender, por exemplo, como é que os mesmos homens nesse dia do Natal, que se cumprimentam de coração aberto, com um sorriso nos lábios e passam pelo encantamento do Natal, todos prontos para começar a guerra entre si novamente, completamente desprovido de generosidade, condescendência, afeto e até mesmo de bondade. Não podemos pedir a Deus que simplesmente acabe com a inanição. Pois já nos destes recursos suficientes para alimentar o mundo todo se os utilizarmos com sabedoria. Não podemos pedir a Deus que acabe com o preconceito, pois já nos destes olhos para vermos o bem em cada ser humano. Basta sabermos usá-los corretamente. Não podemos pedir a Deus que simplesmente acabe com a doença. Pois já nos destes grandes inteligências para pesquisar e descobrir as curas. Só nos falta usá-la construtivamente. Sendo assim, em vez disso tudo nós te pedimos, ó Deus, fortaleza, determinação e vontade, para fazermos e não apenas orarmos, para sermos e não simplesmente desejarmos.      

Jesus que nasceu no dia vinte e cinco de dezembro do ano zero da nossa história, não pode entender porque o Natal funciona apenas como uma trégua, na imensa desigualdade social em que vivemos sem falar das discórdias afetivas e familiares, da guerra que o homem trava todos os dias contra o seu semelhante e contra si mesmo. Mas Jesus Cristo que viveu entre nós e é o símbolo da esperança ainda não perdeu a própria esperança. A esperança de que o homem um dia perceba que a trégua é o certo e o normal e, que a guerra é um grande equívoco. Todavia, não podemos e nem temos o direito de pedir a Deus que acabe com a guerra e com a maledicência das pessoas. Pois sabemos que Ele fez o mundo de maneira que o ser humano possa encontrar seu próprio caminho para a paz, dentro de si e com o seu semelhante.

Portanto, a mensagem que Jesus nos deixou foi à seguinte: “Cumpra o projeto que Deus determinou, ou seja, de amar sempre o seu próximo, demonstrando gestos de gentileza e respeito. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pensar muito sobre suas ações. Sentir o que realmente sente, pois você é um ser de amor e princípios morais. Meditar muito sobre esse sentimento, meditar sobre suas inclinações e possibilidades de ser feliz. Procure fazer o mais que puder para esse amor permanecer entre os seres humanos. Para então, aperfeiçoar-se nesse projeto de vida, até que possa devolver para Deus a sua imagem e semelhança, que um dia Ele estampou em cada um de nós, quando aqui chegamos”. Diga a si mesmo, não compreendo os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar o amor pelo meu semelhante e todos os seres viventes, entre eles está Você. Quero um mundo melhor para todos nós. Talvez, então nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem nesta casa chamada Planeta Terra. E daí possa, finalmente, todos viverem em Paz. Um Feliz Natal a todos, no verdadeiro sentido da sua Essência.

17 de dezembro de 2014

DIALOGAR É CONVIVER COM SABEDORIA

Aproveitando esse momento que antecede o Natal, vamos refletir um pouco sobre as relações humanas. Afinal, é uma data tão esperada pelos cristãos, onde comemora o nascimento do menino "Jesus". É uma época do ano em que ficamos mais vulneráveis e sensíveis a sentimentos nostálgicos. Momento ideal para repensarmos sobre nossa postura diante do outro. Muito importante para pessoas que se acham perfeita, julga sem nenhum critério, não enxergam ao seu redor o que estão plantando e o que poderão colher. Como diz a sabedoria cristã, “quem planta colhe”. Ser cristão é julgar o outro, sem antes conhecer a sua história? Será que sabemos compreender a dor e o sofrimento do nosso semelhante? Quantas vezes deixamos de olhar nos olhos de quem nos fala? Por que não criamos laços afetivos duradouros se há amor? Por acaso seria por não saber dialogar? Por que pessoas como nós, dormem na rua? O que é mais fácil, acolher ou abandonar? Somos humanos ou um projeto de humanos que vivem de aparência? As pessoas arrogantes se acham perfeitas e dona da verdade. Todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Se ela está certa sobre suas ideias, por que vai ouvir o outro?

Entretanto, as pessoas não enxergam o outro, porque fazem fofocas e dão muitas respostas para poucas perguntas. Mal sabem que a palavra é ambígua, porque limita o pensamento. Quem fala muito pensa pouco. Diz um ditado popular: “temos dois ouvidos para ouvir mais e, somente uma boca para falar menos”. Quem fala muito, além de ouvir pouco, acha que falando diz exatamente tudo. Às vezes os gestos dizem mais do que qualquer palavra pronunciada. Todavia, palavras foram feitas para dar pedacinhos de diálogos e não o diálogo propriamente dito. Falando somos muito mais que uma simples frase, porque, para todo acontecimento existe um contexto e uma circunstância, segundo o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Isto só vem confirma a tese de que voltamos a viver na "Caverna de Platão", ou seja, temos a ilusão de tudo àquilo que vemos é a realidade dos fatos. No entanto, não avaliamos o contexto, isto é, estamos todos cegos, vivendo num mundo de opinião e aparência. A gente vê mais não enxerga. No livro Ensaio Sobre a Cegueira, o escritor José Saramago (1922-2010), nos da uma reflexão filosófica profunda: “será que é preciso cegar todos para que enxerguemos a essência do outro?”

Todavia, a grande dificuldade das pessoas, ainda é a falta de diálogo. Lamentavelmente, temos uma tendência a julgar o que vemos, sem antes enxergar o que de fato estamos vendo. Nem tudo o que vê é realmente o que se vê. Somos levados por um impulso que chamo de “acorrentados da caverna. São aquelas pessoas que inventam um mundo para si e, feito numa espécie de delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decide o que é aceitável e o que não é o que é certo e o que é errado. O que jamais será bom para ambos, e muito menos será produtivo para um bom relacionamento amoroso. Atirar um erro contra o outro, passar a vida acumulando e gastando munições inúteis, com pessoas infectadas pela serpente do preconceito, é inútil provocar um diálogo desgastante. Porém, o tempo passa muito rápido para os humanos, e nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente dignas de ser vividas. Quem pode avaliar o amor se não vive esse amor no outro? As pessoas falam muito daquilo que elas não são e com isso finge o que não sente. Vivem como acorrentados da caverna.  

A dialética da vida é a arte de raciocinar e dialogar. É discutir as razões das próprias ações, num pensar diferente. O diálogo pressupõe reciprocidade existencial e esta pressupõe a diferença e ao mesmo tempo a semelhança, já que é devido à diferença que podemos enriquecer com o diálogo. Aqui pressupõe que a relação entre duas pessoas é uma construção amorosa, isto é, se ambas estiverem abertas a esse diálogo e dispostas a ouvir um ao outro. Da opinião a verdade, do particular ao universal. O diálogo é o próprio caminho do pensar crítico. Sendo assim, o diálogo torna viável o entendimento entre os humanos. No entanto, o diferencial que marca essa relação são os valores que ambos acreditam e trazem como experiência de vida. Isto é, pautar sua vivência na ética e nos princípios morais. Munido dessas duas proposições o diálogo funciona. Na verdade, o diálogo é racional e os valores estão além da razão. Os valores estão no terreno da consciência cósmica, na totalidade do ser. Conviver é reconhecer no outro a minha identidade humana. O que faz realmente uma pessoa ser boa é a consciência do seu "ser" e a vivência do seu agir no mundo. Fora disso temos um ser humano egoísta e infeliz na sua subjetividade.

Portanto, caros amigos e leitores, quando ver o seu semelhante fazendo coisas diferentes, que você não entende, não o julguem ou comece a dizer que ele está errado, que é um estúpido, um mentiroso, um fracassado ou um velho sem noção. Olhe bem para este ser humano e diga a você mesmo: “não compreendo muito bem essa pessoa, mas espero que ela esteja trilhando pelo caminho do bem, assim como também, espero estar seguindo o meu caminho na direção certa”. Por conseguinte, viver é consumir-se no "amor" e no "respeito", dialogar é perder-se no "outro". Porque, a vida é interpenetração total das "almas" e da nossa "inteligência". Amar não é se anular. Só fala em amor próprio, o egoísta. Contudo, "dialogar é dividir amor e conviver com sabedoria".

13 de dezembro de 2014

O QUE É A VIDA?

Até hoje não foi possível apreender a essência da vida. Por isto a vida é habitualmente definida como automação ou noção de si mesmo, moção espontânea e imanente. Moção espontânea, porque se trata de um movimento que o ser vivo produz por si mesmo, por seus próprios recursos. E moção imanente, porque o termo desse movimento está no próprio ser vivo. Sendo assim, conhecer é algo que procede de um sujeito vivente, e o termo do conhecimento é algo que fica no vivente. Alimentar-se é algo que procede do vivente, e algo cujo termo fica no vivente. Assim o ser vivo se move, ao passo que o não vivente é movido.

Para maior clareza, distinguimos movimento ou ação transitiva e movimento ou ação imanente. Ação transitiva é aquela cujo termo está fora do sujeito que age. Por exemplo: a ação de aquecer supõe um fogareiro (foco de calor) e o termo do aquecimento (a água aquecida). A perfeição que o agente produz, não fica no agente, mas vai enriquecer outro ser. Tanto os seres não viventes quanto os viventes podem produzir ações transitivas. Ação imanente é, como foi dito acima, aquela cujo termo fica no próprio sujeito que age. Por exemplo: conhecer com os sentidos ou com a inteligência, refletir, experimentar um prazer. Aqui me reporto ao amor entre dois amantes. O amor que dou fica no outro e constituem a sua riqueza e para mim a satisfação em dar e receber esse amor. A ação imanente é própria dos seres vivos e serve para defini-los.

Quando dizemos que o ser vivo se move por si mesmo, não queremos afirmar que ele seja o princípio primeiro do seu movimento. Na verdade, o movimento que parte dele, está condicionado por um conjunto de causas, das quais depende a cada momento. Por exemplo: a criança cresce e se desenvolve a partir do seu princípio vital a alma, que lhe é imanente; mas esse seu crescimento depende da alimentação, do clima e do ambiente da criança. Por isto podemos dizer que tudo o que se move é movido por outrem, ao menos no sentido de que depende de outrem para exercer a sua atividade. A diferença entre o vivente e o não vivente está em que o movimento não é comunicado mecanicamente ao ser vivo (como no caso do movimento da pedra), mas resulta, sob a ação das causas que o tornam possível, do próprio princípio vital, isto é, de dentro mesmo do ser vivo.

Entretanto, existe uma frase circulando por aí que diz que uma pessoa quanto mais ela vive, mais velha ela fica. Isto não é verdade, o que envelhece é coisa, objeto, como carro, sapato, roupa e etc. Ser humano não nasce pronto, como o carro, sapato e roupa. Não nasci pronto e vim me gastando, mas, vim me fazendo ao longo da vida. Tanto que hoje sou um novo Eduardo, evidentemente, que não sou inédito. Para ser inédito teria que ser como nunca fui, mas o modo como sou hoje certamente, nunca fui antes. Todavia, uma das coisas que quero ser é uma pessoa íntegra, solidaria e fraterna, ainda não sou por completo, mas, posso sê-lo. Para isso não posso ser arrogante, porque o arrogante acha que já está pronto, se acha o perfeito, o dono da verdade, se acha acima do bem e do mal. São pessoas que vivem cheio de certeza. Toda pessoa que tem certeza são intolerantes. Se ela está sempre certa sobre suas ideias, porque vai ouvir as ideias diferentes de outras pessoas? Ela não é aberta ao diálogo e nem as novas ideias. Contudo, vai ficando cada vez mais fechada dentro de si mesma. Como dizia Rubem Alves (1933-2014), “na vida a gente tem que se lançar como se lança no abismo. Ter fé é nunca desistir do seu objetivo”.
   
Portanto, a vida está em cada ser vivente. Viver é o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a sua fala. Sua fala deve estar de acordo com o que seu coração está sentindo. Sua fala deve estar verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que você reconhece como corretos, justos, igualitários e prazerosos. Sendo assim, você deve armazenar o amor pela vida, a solução ideal dos problemas e carências da humanidade. Sua mesa de trabalho, suas estantes e aquivos, devem conter sempre projetos e planos. Podem ser muitos ou alguns poucos. Eles precisam possuir coerência e estarem bem arquitetados. Esses projetos podem ser pequenos, modestos ou podem também ser grandiosos, gigantescos. O que importa é que sejam coerentes e possuam sentido. Contudo, se os elementos descritos efetivamente performam a sua vida, então sua fala estará sempre deixando o viver expressar-se de modo completo. E expressá-lo são a ocupação e a essência do espírito. E isto é viver, na sua acepção máxima e completa. Cuide-se para que seu viver seja sempre assim. Lembre-se, na essência somos amor compartilhado.  

1 de dezembro de 2014

POR QUE O JUSTO SOFRE?

Certa vez lendo um livro que trazia o seguinte título: “Quando coisas ruins acontecem a Pessoas Boas?” Escrito por um rabino Harold Kushner. No entanto, toda a discussão tratada nesse livro com algum sentido, falava sobre Deus e a religião e começava com essa pergunta ou passou a girar em torno dela logo em seguida. Contrariava toda e qualquer filosofia religiosa. O livro mostra a dor e o sofrimento de pessoas boas. Não mostrava só aquela mãe desesperada que acabará de receber um diagnóstico desanimador no consultório médico sobre um problema congênito no coração de sua filhinha de cinco anos, mas, também daquele estudante que afirmava ter decidido que Deus não existe. O que ficou claro nessa reflexão, que é o meu ponto de partida. As desgraças que atingem as pessoas boas e inocentes, não são um problema apenas para as próprias vítimas e para suas famílias. Passam a ser problema para todos os que desejam acreditar em um mundo justo, razoável e suportável. Estes inevitáveis acontecimentos levantam questões quanto à bondade, à amabilidade e até mesmo à existência de Deus.

Frequentemente ouço história de maridos ou esposas que a morte levou sua única referência de companheirismo. Pessoas idosas para as quais a vida longa é mais uma maldição que uma benção, de pessoas com seus entes amados contorcidos pela dor ou prostrados sob a frustração. Tenho muita dificuldade em dizer-lhes que a vida é bela e que cada um tem o que merece e precisa. Inúmeras vezes deparei-me com famílias e até mesmo comunidades inteiras unidas em oração pela cura de um enfermo. Mais que isso, vi suas esperanças e orações serem desprezadas. Vi pessoas erradas adoecerem, pessoas erradas serem brutalmente golpeadas pelo destino, jovens errados morrerem. Quando pego um jornal, as notícias que leio são renovados desafios à ideia  de um mundo bom. Onde existe esse mundo? Assassinatos sem sentido, brincadeiras fatais, jovens mortos em acidentes automobilísticos em viagens de núpcias ou retornando para casa após a colação de um grau acadêmico. Então, pergunto-me: “Posso, em boa fé, continuar acreditando que o mundo é bom e que um Deus bom e amoroso é responsável pelo que nos acontece na vida?”

Não é necessário ser santo ou alguém excepcionalmente dotado para que se sinta o problema. Se não nos perguntamos com frequência “por que pessoas totalmente dedicadas sofrem pessoas que nunca fazem nada de errado?” Mas frequentemente indagamos por que seres comuns, vizinhos amáveis, nem extraordinariamente bons nem extraordinariamente maus, são de repente envolvidos pela agonia do sofrimento e da tragédia. Se houvesse equidade no mundo, eles certamente não mereceriam aquilo. Não são nem melhores nem piores do que a maioria de nossos conhecidos: por que então suas vidas devem ser mais castigadas? Perguntar por que os Justos sofrem? Ou, por que coisas ruins acontecem a pessoas boas, não significa limitar nosso interesse pelo martírio de santos e sábios, mas tentar entender por que indivíduos comuns – nós mesmos e as pessoas ao redor de nós – devem suportar cargas extraordinárias de aflição e dor. Por que essas coisas ruins acontecem?

Uma das maneiras encontradas a cada geração para dar sentido ao sofrimento humano é supor que somos merecedores do que nos acontece, que de algum modo as desgraças sobrevêm como punição para nossos pecados. A ideia de que Deus da às pessoas o que elas merecem, de que nossos desmandos causam nossas desgraças, de certa forma é uma solução tranquila e atraente para o problema, mas tem numerosas e sérias limitações. Como vimos, o sofrimento ensina as pessoas a se censurarem. Cria culpa mesmo onde não há razão para culpa. Faz as pessoas odiarem Deus, embora odiando-se também a si mesmos. E, o mais perturbador de tudo, é que nem sequer se adapta aos fatos. A religião sempre desempenhou o papel fundamental na história do homem. A filosofia não tem a função de negar ou ridicularizar esse grande fato humano que é a religião. Na verdade, as pessoas põem as suas qualidades, as suas aspirações e os seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se e constrói a sua divindade aleatoriamente. Portanto, a religião está no relacionar-se da pessoa com sua própria essência. Ela é a projeção da essência humana. Mas, por que as pessoas constróem a divindade sem se reconhecer nela?

Segundo o filósofo e antropólogo alemão Ludwing Feuerbach (1804-1872), diz que o homem encontra uma natureza insensível aos seus sofrimentos, porque tem segredos que o sufocam; e, na religião, alivia o seu próprio coração oprimido. Por isso o homem foge da natureza, das coisas visíveis, refugiando-se no seu próprio intimo, para encontrar quem escute o seu próprio sofrimento. É aqui que ele expressa os segredos que o sufocam, é aqui que ele alivia o seu próprio coração oprimido. Isto é Deus. Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana. Parece que a intenção humanista de Feuerbach é de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens. Homens que crêem no pensamento humano e no amor como o único meio de salvação da humanidade. Na verdade, as pessoas de um modo geral desejam acreditar em Deus, conforme-lhes foi ensinado. Desejam acreditar que Deus é bom e que esta no controle das coisas. E quando acontece algum mal, logo vem a pergunta: “Deus, por que fizeste isso comigo?” Ludwig Feuerbach, tem uma explicação para os dogmas cristãos do Deus encarnado: “Não é Deus que cria o homem, mas sim o homem que cria Deus. Portanto, Deus é a mais alta subjetividade do ser humano, abstraída de si mesmo.

Existe muitas sugestões comovedora para justificar o porque sofremos, imagino que muitas pessoas recorrem algumas delas. Sofrimento sem sentido, sofrimento como punição para um pecado não especificado é duro de aceitar. Mas sofrimento como uma contribuição para uma grande obra de arte projetada por Deus não é apenas um fardo intolerável, pode até ser visto como um privilégio. Contudo, um exame mais profundo, essa abordagem deixa muito a desejar. Apesar de toda sua compaixão, também ela se baseia em larga escala naquilo que gostaríamos que fosse verdade. Seria mais fácil acreditar que a gente passa por uma tragédia ou sofrimento para reparar falhas de personalidade se houvesse alguma ligação clara entre a falha e a punição. Por exemplo, o pai que castiga o filho que cometeu um erro, mas não lhe diz por que está punindo, dificilmente pode ser considerado como um modelo de paternidade responsável. No entanto, aqueles que explicam o sofrimento como uma maneira de Deus nos ensinar a mudar ficam deveras embaraçados quando devem mostrar o que é que precisa ser mudado.

A crença em um mundo futuro, onde os inocentes são compensados por seu sofrimento, pode ajudar as pessoas a suportar as injustiças deste mundo sem perder a fé. Mas pode também servir de desculpa para não nos sentirmos perturbados e ultrajados pela injustiça que nos rodeia e, assim, não usarmos a inteligência que Deus nos deu para agir contra essa situação. A sabedoria prática indica que as pessoas em semelhantes condições devem ficar atentas à possibilidade de que nossas vidas continuem de alguma forma depois da morte, talvez de uma forma que a imaginação terrena não pode conceber. Ao mesmo tempo, como não podemos ter certeza, é aconselhável encararmos este mundo com a maior seriedade possível, para o caso de não existir nenhum outro, buscando sentido e justiça aqui mesmo.

Portanto, todas as respostas à tragédia que consideramos acima têm pelo menos uma coisa em comum. Todas elas pressupõem que Deus é a causa de nosso sofrimento e tentam fazer-nos entender por que Deus deseja que soframos. É para o nosso bem ou é uma punição que merecemos, quem sabe Deus pouco se importa com o que nos acontece? Muitas das respostas são inteligentes e imaginativas, porém nenhuma é totalmente satisfatória. Algumas nos levam a criticar-nos para salvar a reputação de Deus. Outras pedem que neguemos a realidade ou reprimamos nossos próprios sentimentos. Acabamos odiando-nos a nós mesmos por merecermos tal destino ou odiamos a Deus por nos enviar quando não o merecemos. Mas, é possível que Deus não seja a causa de nosso sofrimento. Viriam mesmo de Deus as coisas ruins que nos afligem? Será que é Deus quem decide quais as famílias que terão uma criança deficiente ou que haveria de se tornar paralítica por conta de uma bala perdida aos 15 anos. Ou ainda, como algumas pessoas que estão definhando com uma doença degenerativa? Ou quem sabe, Deus não fica ao nosso lado pronto para nos ajudar a enfrentar nossas tragédias, sob a única condição de que consigamos repelir os sentimentos de culpa e de raiva que nos separam de Deus? Contudo, a mais profunda e completa reflexão sobre o sofrimento na Bíblia, e talvez em toda literatura, é o Livro de Jó. Deixo como mensagem para aquelas pessoas rancorosa e que guardam mágoas, aproveitem esse final de ano e leiam a História de Jó. Certamente vão encontrar respostas para esse orgulho bobo. Que Deus proteja a todos. Que os anjos digam Amem.    

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...