24 de abril de 2024

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem pouca coisa levaria a serio.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver trataria de ter só bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim de outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres, brincaria mais com as crianças, se eu tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Ofereço este lindo poema aos meus leitores e amigos, que me acompanharam, nesse processo de tratamento na Radioterapia - H.C. Unicamp, com suas orações. Vale lembrar, que o autor desse lindo poema – “Instante” - o poeta argentino Jorge Luís Borges (1899-1986), faleceu dois anos depois de escrever essa pérola, aos 87 anos de idade em Genebra, Suíça. Esse poema traduz magnificamente o que disse o escritor francês, François Rabelais (1494-1553): "Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam".

18 de abril de 2024

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga. Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga.

Mas será possível chamar a solidão de amiga? Para o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, acha que sim: "Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim”!

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava.

Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas.

E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não veem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer.

Portanto, o estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia.

7 de abril de 2024

O DISPERTAR DA INTELIGÊNCIA NO HOMEM

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Palavras ditas por Jesus Cristo. Para o filósofo e educador Humberto Rohden, somente através da posse da verdade é que o homem adquire a verdadeira liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro é escravo. De maneira que a verdade em filosofia torna o homem essencialmente livre.

O homem tornou-se o “filósofo atual” quando nele despertou a inteligência adormecida, embrionariamente – fenômeno esse que não se deu ao que sabemos, com nenhum outro ser deste planeta. Os sentidos percebem e a inteligência “concebe” – esse prefixo “com” indica uma ação em conjunto que supõe as coisas, entre as quais existe um vínculo que as une.

Segundo Humberto Rohden, argumenta no livro: ”O Pensamento Filosófico da Antiguidade”, os sentidos, por exemplo, percebem a existência de uma semente e de uma árvore, e nada mais. Estas duas coisas afiguram-se aos sentidos como dois ser inteiramente separados, desconexos, sem nenhuma relação ou nexo um com outro. Por vezes, os sentidos percebem que uma dessas duas coisas vêem depois da outra, como a árvore vem depois da semente, igualmente a ave vem depois do ovo; isto quer dizer que percebem uma sucessão cronológica de fenômenos.

A inteligência, porém, verifica não apenas essas duas coisas interligadas pela percepção sensitiva, mas verifica-se, além disto, uma terceira realidade, um nexo lógico entre os dois primeiros; percebem-se, então, não a existência de ambos independentes entre si, mas também devido à existência do anterior. Em outras palavras, a inteligência possui a faculdade de descobrir que um ser é devido ao outro, de modo que o segundo deve sua existência ao primeiro. A sucessão cronológica é algo pessoalmente externo – o nexo lógico é algo interno.

Verificamos que a sucessão cronológica é baseada na categoria de tempo e espaço, embora o tempo e espaço não se tornem um simples atributo ou modo de agir de nossos sentidos. Essa sucessão cronológica é meramente aparente - ao passo que o nexo lógico é profundamente real. Isto significa dizer que a inteligência descobre algo incomparavelmente mais real e verdadeiro do que os sentidos possam perceber. Desta forma, a percepção sensitiva é meramente evidenciada, de modo que a concepção intelectiva é real. Então, a metafísica é mais real do que a física.

Para o homem simples, sem cultura filosófica, real é sinônimo, ou até homônimo, concreto, individual, material e físico – ao passo que o abstrato, torna-se o imaterial, o metafísico equivalendo para ele, o irreal, o fictício, o quimérico. Existe mesmo uma inteira orientação na filosofia empirista que defende a tese de que real é aquilo que é verificável pelos sentidos, e que tudo que não é sensitivamente verificável não é real. Será isto filosofia – ou apenas jardim de infância da filosofia?

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...