31 de dezembro de 2014

ENTRE O VELHO E O NOVO ANO

Boa noite Pai, já está terminando o ano de 2014 e agradeço pela vida que me confiou e pelas pessoas que no meu caminho as colocou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido. Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti juntamente ao lado dos meus amigos e da pessoa que amo. Obrigado pela alegria que vi no rosto das crianças e dos idosos. Obrigado pelo exemplo que recebi dos outros, pelo que aprendi aos meus sessenta três anos idade, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelo meu próximo.

Obrigado Pai pelo dom de amar o meu semelhante, mesmo sem ser por ele compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver em 2014, pelo meu esforço e desejo de superação. Pai desculpe o meu rosto carrancudo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto por conta do meu egoísmo.

Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida não para nunca, só a morte pode cessar os meus passos. Em quanto isso, espero que neste novo ano que está nascendo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a espécie humana. E que a cada novo dia seja um contínuo sim numa vida consciente. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Como argumentava o grande sábio hindu Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito “Mahatma” que quer dizer: A Grande Alma), dizia ele: “Tudo o que vive é o teu próximo”. Desejo a todos um feliz e próspero 2015. Que Deus nos abençoe nesta caminhada.  

28 de dezembro de 2014

DÊ DIGNIDADE AO AMOR

Às vezes a gente pensa que gosta de alguém, só porque aquela pessoa entende a gente. Na verdade, o que mais queremos naquele momento é ser compreendido por alguém. Postulamos essa premissa e misturamos tudo, confundindo amor com carência. Somos invadidos por uma sensação de vazio e solidão que ocupa profundamente o nosso coração de tal forma e com tal intensidade que perdemos a referência dos nossos mais obscuros sentimentos. No entanto, chegamos a pensar que, realmente, seja mesmo o cupido que no flechou (da mitologia grega), no momento em que alguém sorri para nós. Por ser a nossa mente seletiva, e para minimizar os nossos conflitos e neuroses, prontamente criamos fantasias e com isso misturamos os sentimentos, que nos confunde completamente. Para não embarcar nesta loucura, precisamos urgentemente criar um antídoto e desfazer o engano, antes de nos envolver, achando que o amor está batendo a nossa porta.

O primeiro passo é resgatar a nossa dignidade. Palavrinha muito falada e pouco experimentada, que tem a ver com honra, respeito e amor próprio. Para descobrir o amor no outro só é possível através da dignidade, que é a nossa maior autoridade para viver o amor. Um amor digno. Importante não confundir “amor próprio” com narcisismo, que é outra coisa completamente diferente. Assim como a palavra “dignidade”, nada mais é do que uma qualidade moral que infunde respeito entre o sujeito e sua relação com o meio.

Todavia, a dignidade é o antídoto para esse engano. Esta palavra tem tudo a ver com valores e princípios morais, respeito pelos seres viventes. Como seria doce viver se a contenção exterior representasse sempre a imagem da disposição do nosso coração. No entanto, vivemos num mundo dividido e marcado pela intolerância e pela violência. O ser humano está perdido na massa de cultura inferior, abandonado na sua solidão e, ao mesmo tempo, tomado por uma esperança. Então, por que usamos as dificuldades de uma relação para rapidamente ocuparmos o papel de vítima? É o que fazemos quase sempre, achar que o outro pode resolver as minhas carências provisoriamente. Que dignidade existe nesta relação casual? Talvez nos falte coragem para admitir nossas limitações, para conseguir reconhecer no outro o quanto podemos aprender e crescer, quando olhamos com admiração e enxergamos nele o espelho de nós mesmos. Porém, esquecemos que da mesma maneira que este espelho nos mostra as nossas feridas e dores, nossas cicatrizes e medos. Escancara nossa insegurança e evidencia muitas de nossas máscaras, como também nos mostra nossas qualidades, sabedoria, dons e principalmente nosso brilho pessoal.

Entretanto, no exercício de amar e compartilhar o que temos de mais íntimos é que podemos conhecer nossa originalidade, isto é, desde que estejamos dispostos a nos olhar e nos reconhecer exatamente como somos. A partir de então, podemos iniciar o processo de transformação e transmutação da matéria para o mundo das ideias inatas que pregava Platão (427-347 a.C.). Sobretudo, por ser esta a grande magia do amor, a alquimia do coração. Mais importante do que ficarmos fazendo certos questionamentos sobre conceitos e regras do amor, esta é a oportunidade que temos de compreender a força e o poder que contem o amor. Todavia, quando nos sentimos apaixonados por alguém especial, experimentamos a sensação de que amar é querer envelhecer e morrer juntos. No entanto, chega de buscarmos motivos, respostas e garantia de felicidade eterna. Quem pode nos dar essa garantia? Esquecemos simplesmente de sugar o que a vida está nos oferecendo neste instante, que podemos nos agarrar à preciosa chance de nos encontrarmos, de finalmente enxergarmos a nossa própria alma através do amor. Reconhecer no outro o significado da nossa existência. Essa intensidade com que vivemos é que faz a nossa vida valer à pena. A nossa decisão de acreditar que cada um traz consigo um potencial em crescimento. Que faz com que o amor se transforme num caminho para a sua evolução e não um jogo onde só ganha quem acha que está certo.

Para melhor compreensão vamos usar o exemplo do filme “Vida de Inseto”. Pense numa semente. Em ato a semente é o que ela é. Um grão mínimo. Mas nessa mesma semente há uma potência, uma parte oculta que está contida na semente, a árvore. Antes mesmo de a semente ser plantada, já está dentro dela, em potência, uma árvore. Mesmo que essa semente nunca venha a ser plantada, ainda assim a potência está lá, aguardando as condições ideais para, nesse caso, germinar. Ato e potencia do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) As pessoas são sementes que aos poucos vão germinando em condições favoráveis e logo se transformam em uma linda árvore. Por isso que o amor transforma as pessoas. O amor é essa potencia que nos modifica e transforma.

Portanto, olhemos bem para o outro e procuramos enxergar nele o amor que temos para dar e a alegria que podemos proporcionar a esta pessoa. O encanto que faz brilhar a sua essência. Inclusive, porque o amor acontece de dentro para fora. Enquanto insistirmos em responsabilizar a nossa vida ao outro ou a relação amorosa, tudo que sentimos de bom ou de ruim, nada terá sentido. De mais dignidade a esse amor, assim como tudo que faz parte de nós. Nossas dores, nossos desesperos, a nossa falta de confiança, o medo de não conseguir. O que importa é o quanto somos dignos no momento em que choramos ou rimos. Enquanto amamos, o que mais importa é sermos honestos com o nosso sentimento. Que possamos ter autoridade sobre o que experimentamos durante todos os dias de nossas vidas, porque depois desses momentos mais difíceis, restará apenas a nossa dignidade. Somos fortes e frágeis porque o amor vive da fragilidade, vive da ternura, da capacidade Brâhmica de você sair ao encontro do outro na expectativa que ele te receba. É uma experiência única. Dar um pouco da tua vida ao outro. Contudo, há de se encontrar o verdadeiro resgate da dignidade humana através desta relação de amor e respeito com a nossa essência. Isto sim é viver com dignidade o amor na sua plenitude. 

21 de dezembro de 2014

A ESSÊNCIA DO NATAL

Apesar de todo avanço científico e tecnológico alcançado pelo homem, dia vinte e cinco de dezembro ainda é Natal. O menino Jesus que nasceu nesse dia há mais de dois mil anos, deve estar preocupado com o mundo em que viveu e, apesar de toda a Sua imensa sabedoria não deve estar entendendo.  Ele não deve entender, por exemplo, como é que os mesmos homens nesse dia do Natal, que se cumprimentam de coração aberto, com um sorriso nos lábios e passam pelo encantamento do Natal, todos prontos para começar a guerra entre si novamente, completamente desprovido de generosidade, condescendência, afeto e até mesmo de bondade. Não podemos pedir a Deus que simplesmente acabe com a inanição. Pois já nos destes recursos suficientes para alimentar o mundo todo se os utilizarmos com sabedoria. Não podemos pedir a Deus que acabe com o preconceito, pois já nos destes olhos para vermos o bem em cada ser humano. Basta sabermos usá-los corretamente. Não podemos pedir a Deus que simplesmente acabe com a doença. Pois já nos destes grandes inteligências para pesquisar e descobrir as curas. Só nos falta usá-la construtivamente. Sendo assim, em vez disso tudo nós te pedimos, ó Deus, fortaleza, determinação e vontade, para fazermos e não apenas orarmos, para sermos e não simplesmente desejarmos.      

Jesus que nasceu no dia vinte e cinco de dezembro do ano zero da nossa história, não pode entender porque o Natal funciona apenas como uma trégua, na imensa desigualdade social em que vivemos sem falar das discórdias afetivas e familiares, da guerra que o homem trava todos os dias contra o seu semelhante e contra si mesmo. Mas Jesus Cristo que viveu entre nós e é o símbolo da esperança ainda não perdeu a própria esperança. A esperança de que o homem um dia perceba que a trégua é o certo e o normal e, que a guerra é um grande equívoco. Todavia, não podemos e nem temos o direito de pedir a Deus que acabe com a guerra e com a maledicência das pessoas. Pois sabemos que Ele fez o mundo de maneira que o ser humano possa encontrar seu próprio caminho para a paz, dentro de si e com o seu semelhante.

Portanto, a mensagem que Jesus nos deixou foi à seguinte: “Cumpra o projeto que Deus determinou, ou seja, de amar sempre o seu próximo, demonstrando gestos de gentileza e respeito. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pensar muito sobre suas ações. Sentir o que realmente sente, pois você é um ser de amor e princípios morais. Meditar muito sobre esse sentimento, meditar sobre suas inclinações e possibilidades de ser feliz. Procure fazer o mais que puder para esse amor permanecer entre os seres humanos. Para então, aperfeiçoar-se nesse projeto de vida, até que possa devolver para Deus a sua imagem e semelhança, que um dia Ele estampou em cada um de nós, quando aqui chegamos”. Diga a si mesmo, não compreendo os mistérios da vida e nem suas razões. Só espero estar certo no que penso e sinto. Que é continuar a cultivar o amor pelo meu semelhante e todos os seres viventes, entre eles está Você. Quero um mundo melhor para todos nós. Talvez, então nesse dia, o ser humano inverta os seus valores atuais e coloque ordem nesta casa chamada Planeta Terra. E daí possa, finalmente, todos viverem em Paz. Um Feliz Natal a todos, no verdadeiro sentido da sua Essência.

17 de dezembro de 2014

DIALOGAR É CONVIVER COM SABEDORIA

Aproveitando esse momento que antecede o Natal, vamos refletir um pouco sobre as relações humanas. Afinal, é uma data tão esperada pelos cristãos, onde comemora o nascimento do menino "Jesus". É uma época do ano em que ficamos mais vulneráveis e sensíveis a sentimentos nostálgicos. Momento ideal para repensarmos sobre nossa postura diante do outro. Muito importante para pessoas que se acham perfeita, julga sem nenhum critério, não enxergam ao seu redor o que estão plantando e o que poderão colher. Como diz a sabedoria cristã, “quem planta colhe”. Ser cristão é julgar o outro, sem antes conhecer a sua história? Será que sabemos compreender a dor e o sofrimento do nosso semelhante? Quantas vezes deixamos de olhar nos olhos de quem nos fala? Por que não criamos laços afetivos duradouros se há amor? Por acaso seria por não saber dialogar? Por que pessoas como nós, dormem na rua? O que é mais fácil, acolher ou abandonar? Somos humanos ou um projeto de humanos que vivem de aparência? As pessoas arrogantes se acham perfeitas e dona da verdade. Todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Se ela está certa sobre suas ideias, por que vai ouvir o outro?

Entretanto, as pessoas não enxergam o outro, porque fazem fofocas e dão muitas respostas para poucas perguntas. Mal sabem que a palavra é ambígua, porque limita o pensamento. Quem fala muito pensa pouco. Diz um ditado popular: “temos dois ouvidos para ouvir mais e, somente uma boca para falar menos”. Quem fala muito, além de ouvir pouco, acha que falando diz exatamente tudo. Às vezes os gestos dizem mais do que qualquer palavra pronunciada. Todavia, palavras foram feitas para dar pedacinhos de diálogos e não o diálogo propriamente dito. Falando somos muito mais que uma simples frase, porque, para todo acontecimento existe um contexto e uma circunstância, segundo o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Isto só vem confirma a tese de que voltamos a viver na "Caverna de Platão", ou seja, temos a ilusão de tudo àquilo que vemos é a realidade dos fatos. No entanto, não avaliamos o contexto, isto é, estamos todos cegos, vivendo num mundo de opinião e aparência. A gente vê mais não enxerga. No livro Ensaio Sobre a Cegueira, o escritor José Saramago (1922-2010), nos da uma reflexão filosófica profunda: “será que é preciso cegar todos para que enxerguemos a essência do outro?”

Todavia, a grande dificuldade das pessoas, ainda é a falta de diálogo. Lamentavelmente, temos uma tendência a julgar o que vemos, sem antes enxergar o que de fato estamos vendo. Nem tudo o que vê é realmente o que se vê. Somos levados por um impulso que chamo de “acorrentados da caverna. São aquelas pessoas que inventam um mundo para si e, feito numa espécie de delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decide o que é aceitável e o que não é o que é certo e o que é errado. O que jamais será bom para ambos, e muito menos será produtivo para um bom relacionamento amoroso. Atirar um erro contra o outro, passar a vida acumulando e gastando munições inúteis, com pessoas infectadas pela serpente do preconceito, é inútil provocar um diálogo desgastante. Porém, o tempo passa muito rápido para os humanos, e nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente dignas de ser vividas. Quem pode avaliar o amor se não vive esse amor no outro? As pessoas falam muito daquilo que elas não são e com isso finge o que não sente. Vivem como acorrentados da caverna.  

A dialética da vida é a arte de raciocinar e dialogar. É discutir as razões das próprias ações, num pensar diferente. O diálogo pressupõe reciprocidade existencial e esta pressupõe a diferença e ao mesmo tempo a semelhança, já que é devido à diferença que podemos enriquecer com o diálogo. Aqui pressupõe que a relação entre duas pessoas é uma construção amorosa, isto é, se ambas estiverem abertas a esse diálogo e dispostas a ouvir um ao outro. Da opinião a verdade, do particular ao universal. O diálogo é o próprio caminho do pensar crítico. Sendo assim, o diálogo torna viável o entendimento entre os humanos. No entanto, o diferencial que marca essa relação são os valores que ambos acreditam e trazem como experiência de vida. Isto é, pautar sua vivência na ética e nos princípios morais. Munido dessas duas proposições o diálogo funciona. Na verdade, o diálogo é racional e os valores estão além da razão. Os valores estão no terreno da consciência cósmica, na totalidade do ser. Conviver é reconhecer no outro a minha identidade humana. O que faz realmente uma pessoa ser boa é a consciência do seu "ser" e a vivência do seu agir no mundo. Fora disso temos um ser humano egoísta e infeliz na sua subjetividade.

Portanto, caros amigos e leitores, quando ver o seu semelhante fazendo coisas diferentes, que você não entende, não o julguem ou comece a dizer que ele está errado, que é um estúpido, um mentiroso, um fracassado ou um velho sem noção. Olhe bem para este ser humano e diga a você mesmo: “não compreendo muito bem essa pessoa, mas espero que ela esteja trilhando pelo caminho do bem, assim como também, espero estar seguindo o meu caminho na direção certa”. Por conseguinte, viver é consumir-se no "amor" e no "respeito", dialogar é perder-se no "outro". Porque, a vida é interpenetração total das "almas" e da nossa "inteligência". Amar não é se anular. Só fala em amor próprio, o egoísta. Contudo, "dialogar é dividir amor e conviver com sabedoria".

13 de dezembro de 2014

O QUE É A VIDA?

Até hoje não foi possível apreender a essência da vida. Por isto a vida é habitualmente definida como automação ou noção de si mesmo, moção espontânea e imanente. Moção espontânea, porque se trata de um movimento que o ser vivo produz por si mesmo, por seus próprios recursos. E moção imanente, porque o termo desse movimento está no próprio ser vivo. Sendo assim, conhecer é algo que procede de um sujeito vivente, e o termo do conhecimento é algo que fica no vivente. Alimentar-se é algo que procede do vivente, e algo cujo termo fica no vivente. Assim o ser vivo se move, ao passo que o não vivente é movido.

Para maior clareza, distinguimos movimento ou ação transitiva e movimento ou ação imanente. Ação transitiva é aquela cujo termo está fora do sujeito que age. Por exemplo: a ação de aquecer supõe um fogareiro (foco de calor) e o termo do aquecimento (a água aquecida). A perfeição que o agente produz, não fica no agente, mas vai enriquecer outro ser. Tanto os seres não viventes quanto os viventes podem produzir ações transitivas. Ação imanente é, como foi dito acima, aquela cujo termo fica no próprio sujeito que age. Por exemplo: conhecer com os sentidos ou com a inteligência, refletir, experimentar um prazer. Aqui me reporto ao amor entre dois amantes. O amor que dou fica no outro e constituem a sua riqueza e para mim a satisfação em dar e receber esse amor. A ação imanente é própria dos seres vivos e serve para defini-los.

Quando dizemos que o ser vivo se move por si mesmo, não queremos afirmar que ele seja o princípio primeiro do seu movimento. Na verdade, o movimento que parte dele, está condicionado por um conjunto de causas, das quais depende a cada momento. Por exemplo: a criança cresce e se desenvolve a partir do seu princípio vital a alma, que lhe é imanente; mas esse seu crescimento depende da alimentação, do clima e do ambiente da criança. Por isto podemos dizer que tudo o que se move é movido por outrem, ao menos no sentido de que depende de outrem para exercer a sua atividade. A diferença entre o vivente e o não vivente está em que o movimento não é comunicado mecanicamente ao ser vivo (como no caso do movimento da pedra), mas resulta, sob a ação das causas que o tornam possível, do próprio princípio vital, isto é, de dentro mesmo do ser vivo.

Entretanto, existe uma frase circulando por aí que diz que uma pessoa quanto mais ela vive, mais velha ela fica. Isto não é verdade, o que envelhece é coisa, objeto, como carro, sapato, roupa e etc. Ser humano não nasce pronto, como o carro, sapato e roupa. Não nasci pronto e vim me gastando, mas, vim me fazendo ao longo da vida. Tanto que hoje sou um novo Eduardo, evidentemente, que não sou inédito. Para ser inédito teria que ser como nunca fui, mas o modo como sou hoje certamente, nunca fui antes. Todavia, uma das coisas que quero ser é uma pessoa íntegra, solidaria e fraterna, ainda não sou por completo, mas, posso sê-lo. Para isso não posso ser arrogante, porque o arrogante acha que já está pronto, se acha o perfeito, o dono da verdade, se acha acima do bem e do mal. São pessoas que vivem cheio de certeza. Toda pessoa que tem certeza são intolerantes. Se ela está sempre certa sobre suas ideias, porque vai ouvir as ideias diferentes de outras pessoas? Ela não é aberta ao diálogo e nem as novas ideias. Contudo, vai ficando cada vez mais fechada dentro de si mesma. Como dizia Rubem Alves (1933-2014), “na vida a gente tem que se lançar como se lança no abismo. Ter fé é nunca desistir do seu objetivo”.
   
Portanto, a vida está em cada ser vivente. Viver é o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a sua fala. Sua fala deve estar de acordo com o que seu coração está sentindo. Sua fala deve estar verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que você reconhece como corretos, justos, igualitários e prazerosos. Sendo assim, você deve armazenar o amor pela vida, a solução ideal dos problemas e carências da humanidade. Sua mesa de trabalho, suas estantes e aquivos, devem conter sempre projetos e planos. Podem ser muitos ou alguns poucos. Eles precisam possuir coerência e estarem bem arquitetados. Esses projetos podem ser pequenos, modestos ou podem também ser grandiosos, gigantescos. O que importa é que sejam coerentes e possuam sentido. Contudo, se os elementos descritos efetivamente performam a sua vida, então sua fala estará sempre deixando o viver expressar-se de modo completo. E expressá-lo são a ocupação e a essência do espírito. E isto é viver, na sua acepção máxima e completa. Cuide-se para que seu viver seja sempre assim. Lembre-se, na essência somos amor compartilhado.  

1 de dezembro de 2014

POR QUE O JUSTO SOFRE?

Certa vez lendo um livro que trazia o seguinte título: “Quando coisas ruins acontecem a Pessoas Boas?” Escrito por um rabino Harold Kushner. No entanto, toda a discussão tratada nesse livro com algum sentido, falava sobre Deus e a religião e começava com essa pergunta ou passou a girar em torno dela logo em seguida. Contrariava toda e qualquer filosofia religiosa. O livro mostra a dor e o sofrimento de pessoas boas. Não mostrava só aquela mãe desesperada que acabará de receber um diagnóstico desanimador no consultório médico sobre um problema congênito no coração de sua filhinha de cinco anos, mas, também daquele estudante que afirmava ter decidido que Deus não existe. O que ficou claro nessa reflexão, que é o meu ponto de partida. As desgraças que atingem as pessoas boas e inocentes, não são um problema apenas para as próprias vítimas e para suas famílias. Passam a ser problema para todos os que desejam acreditar em um mundo justo, razoável e suportável. Estes inevitáveis acontecimentos levantam questões quanto à bondade, à amabilidade e até mesmo à existência de Deus.

Frequentemente ouço história de maridos ou esposas que a morte levou sua única referência de companheirismo. Pessoas idosas para as quais a vida longa é mais uma maldição que uma benção, de pessoas com seus entes amados contorcidos pela dor ou prostrados sob a frustração. Tenho muita dificuldade em dizer-lhes que a vida é bela e que cada um tem o que merece e precisa. Inúmeras vezes deparei-me com famílias e até mesmo comunidades inteiras unidas em oração pela cura de um enfermo. Mais que isso, vi suas esperanças e orações serem desprezadas. Vi pessoas erradas adoecerem, pessoas erradas serem brutalmente golpeadas pelo destino, jovens errados morrerem. Quando pego um jornal, as notícias que leio são renovados desafios à ideia  de um mundo bom. Onde existe esse mundo? Assassinatos sem sentido, brincadeiras fatais, jovens mortos em acidentes automobilísticos em viagens de núpcias ou retornando para casa após a colação de um grau acadêmico. Então, pergunto-me: “Posso, em boa fé, continuar acreditando que o mundo é bom e que um Deus bom e amoroso é responsável pelo que nos acontece na vida?”

Não é necessário ser santo ou alguém excepcionalmente dotado para que se sinta o problema. Se não nos perguntamos com frequência “por que pessoas totalmente dedicadas sofrem pessoas que nunca fazem nada de errado?” Mas frequentemente indagamos por que seres comuns, vizinhos amáveis, nem extraordinariamente bons nem extraordinariamente maus, são de repente envolvidos pela agonia do sofrimento e da tragédia. Se houvesse equidade no mundo, eles certamente não mereceriam aquilo. Não são nem melhores nem piores do que a maioria de nossos conhecidos: por que então suas vidas devem ser mais castigadas? Perguntar por que os Justos sofrem? Ou, por que coisas ruins acontecem a pessoas boas, não significa limitar nosso interesse pelo martírio de santos e sábios, mas tentar entender por que indivíduos comuns – nós mesmos e as pessoas ao redor de nós – devem suportar cargas extraordinárias de aflição e dor. Por que essas coisas ruins acontecem?

Uma das maneiras encontradas a cada geração para dar sentido ao sofrimento humano é supor que somos merecedores do que nos acontece, que de algum modo as desgraças sobrevêm como punição para nossos pecados. A ideia de que Deus da às pessoas o que elas merecem, de que nossos desmandos causam nossas desgraças, de certa forma é uma solução tranquila e atraente para o problema, mas tem numerosas e sérias limitações. Como vimos, o sofrimento ensina as pessoas a se censurarem. Cria culpa mesmo onde não há razão para culpa. Faz as pessoas odiarem Deus, embora odiando-se também a si mesmos. E, o mais perturbador de tudo, é que nem sequer se adapta aos fatos. A religião sempre desempenhou o papel fundamental na história do homem. A filosofia não tem a função de negar ou ridicularizar esse grande fato humano que é a religião. Na verdade, as pessoas põem as suas qualidades, as suas aspirações e os seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se e constrói a sua divindade aleatoriamente. Portanto, a religião está no relacionar-se da pessoa com sua própria essência. Ela é a projeção da essência humana. Mas, por que as pessoas constróem a divindade sem se reconhecer nela?

Segundo o filósofo e antropólogo alemão Ludwing Feuerbach (1804-1872), diz que o homem encontra uma natureza insensível aos seus sofrimentos, porque tem segredos que o sufocam; e, na religião, alivia o seu próprio coração oprimido. Por isso o homem foge da natureza, das coisas visíveis, refugiando-se no seu próprio intimo, para encontrar quem escute o seu próprio sofrimento. É aqui que ele expressa os segredos que o sufocam, é aqui que ele alivia o seu próprio coração oprimido. Isto é Deus. Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana. Parece que a intenção humanista de Feuerbach é de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens. Homens que crêem no pensamento humano e no amor como o único meio de salvação da humanidade. Na verdade, as pessoas de um modo geral desejam acreditar em Deus, conforme-lhes foi ensinado. Desejam acreditar que Deus é bom e que esta no controle das coisas. E quando acontece algum mal, logo vem a pergunta: “Deus, por que fizeste isso comigo?” Ludwig Feuerbach, tem uma explicação para os dogmas cristãos do Deus encarnado: “Não é Deus que cria o homem, mas sim o homem que cria Deus. Portanto, Deus é a mais alta subjetividade do ser humano, abstraída de si mesmo.

Existe muitas sugestões comovedora para justificar o porque sofremos, imagino que muitas pessoas recorrem algumas delas. Sofrimento sem sentido, sofrimento como punição para um pecado não especificado é duro de aceitar. Mas sofrimento como uma contribuição para uma grande obra de arte projetada por Deus não é apenas um fardo intolerável, pode até ser visto como um privilégio. Contudo, um exame mais profundo, essa abordagem deixa muito a desejar. Apesar de toda sua compaixão, também ela se baseia em larga escala naquilo que gostaríamos que fosse verdade. Seria mais fácil acreditar que a gente passa por uma tragédia ou sofrimento para reparar falhas de personalidade se houvesse alguma ligação clara entre a falha e a punição. Por exemplo, o pai que castiga o filho que cometeu um erro, mas não lhe diz por que está punindo, dificilmente pode ser considerado como um modelo de paternidade responsável. No entanto, aqueles que explicam o sofrimento como uma maneira de Deus nos ensinar a mudar ficam deveras embaraçados quando devem mostrar o que é que precisa ser mudado.

A crença em um mundo futuro, onde os inocentes são compensados por seu sofrimento, pode ajudar as pessoas a suportar as injustiças deste mundo sem perder a fé. Mas pode também servir de desculpa para não nos sentirmos perturbados e ultrajados pela injustiça que nos rodeia e, assim, não usarmos a inteligência que Deus nos deu para agir contra essa situação. A sabedoria prática indica que as pessoas em semelhantes condições devem ficar atentas à possibilidade de que nossas vidas continuem de alguma forma depois da morte, talvez de uma forma que a imaginação terrena não pode conceber. Ao mesmo tempo, como não podemos ter certeza, é aconselhável encararmos este mundo com a maior seriedade possível, para o caso de não existir nenhum outro, buscando sentido e justiça aqui mesmo.

Portanto, todas as respostas à tragédia que consideramos acima têm pelo menos uma coisa em comum. Todas elas pressupõem que Deus é a causa de nosso sofrimento e tentam fazer-nos entender por que Deus deseja que soframos. É para o nosso bem ou é uma punição que merecemos, quem sabe Deus pouco se importa com o que nos acontece? Muitas das respostas são inteligentes e imaginativas, porém nenhuma é totalmente satisfatória. Algumas nos levam a criticar-nos para salvar a reputação de Deus. Outras pedem que neguemos a realidade ou reprimamos nossos próprios sentimentos. Acabamos odiando-nos a nós mesmos por merecermos tal destino ou odiamos a Deus por nos enviar quando não o merecemos. Mas, é possível que Deus não seja a causa de nosso sofrimento. Viriam mesmo de Deus as coisas ruins que nos afligem? Será que é Deus quem decide quais as famílias que terão uma criança deficiente ou que haveria de se tornar paralítica por conta de uma bala perdida aos 15 anos. Ou ainda, como algumas pessoas que estão definhando com uma doença degenerativa? Ou quem sabe, Deus não fica ao nosso lado pronto para nos ajudar a enfrentar nossas tragédias, sob a única condição de que consigamos repelir os sentimentos de culpa e de raiva que nos separam de Deus? Contudo, a mais profunda e completa reflexão sobre o sofrimento na Bíblia, e talvez em toda literatura, é o Livro de Jó. Deixo como mensagem para aquelas pessoas rancorosa e que guardam mágoas, aproveitem esse final de ano e leiam a História de Jó. Certamente vão encontrar respostas para esse orgulho bobo. Que Deus proteja a todos. Que os anjos digam Amem.    

28 de novembro de 2014

ERRANDO QUE SE APRENDE

Os tropeços e os fracassos fazem parte da vida. Agora como nós lidamos com os erros é que vai acabar por nos definir. Segundo o zoólogo e compositor brasileiro, numa das suas músicas “Volta por Cima” Paulo Emílio Vanzolini (1924-2013), diz: “reconhece a queda e não desanima, levanta sacode a poeira e da volta por cima”. Por conseguinte, errar é importante e inevitável ao mesmo tempo. É errando que se aprende, sempre digo isso a minha filha caçula de nove anos: “não fique triste, é através dos erros que se aprende”. O erro nos mostra que estamos fazendo coisas novas e procurando acertar. Se não tem erros não há crescimento, não há evolução, tudo muito certinho aí vira mesmice, não tem mais nada que aprender. Estagnou, não crescemos e nem evoluímos. É graças aos erros e acertos que se deu a evolução da humanidade.

Durante a vida estamos em processo de construção. Não existe vivência sem ensaio e, o erro é necessário para orientar nossas decisões. A experiência nos convida a abandonar as visões distorcidas sobre o assunto. Julgar um erro pontual como algo ruim, nos afasta da essência, da aquisição, do conhecimento, que está em constante movimento. E isso vale para quem lida com pesquisa científica, para o bebê que está descobrindo como falar, para os jovens estudantes, para o empresário que quer ver sua empresa crescer, o bailarino que ensaia oito horas por dia. Mas quem de nós é capaz de admitir que erramos, com a mesma tranquilidade?

Para ilustrar lembrei-me da história de um empresário que estava com problemas na sua empresa. O diretor chegou para ele e disse: “vamos precisar demitir 20% dos funcionários, você tem algum critério que queira aplicar para essas demissões?” Prontamente respondeu o empresário: “sim, demita os que não erram esses não fazem falta”. Aqui temos o outro lado da moeda, nunca mostrar o erro como algo negativo, isso pode ser traumático, principalmente, para a criança. O erro da educação é focalizar no erro. Quando o professor avalia o trabalho escolar do aluno ele procura saber quantas questões acertou, segundo os seus critérios de avaliação, como se isso fosse o mais importante. Quando na verdade, o mais importante é o desempenho e o esforço do aluno, para continuar errando sem ser estigmatizado. É assim que se da o processo de ensaio e aprendizagem do conhecimento.

Evidentemente, que tudo tem a ver com a formação e valores que trazemos da infância. Quando a pessoa é punida pelo erro, ela tende a ficar mais retraída. Existem duas maneiras de ensinar alguém. Alias, os adestradores de animais dizem que geralmente o animal aprende melhor quando ele é gratificado pelo acerto do que quando é punido pelo erro. Ao ensinar alguma coisa para criança aplauda quando ela acertar, ao invés de ficar criticando o erro. Esta criança quando chegar à sua fase adulta é muito mais capaz de lidar com os seus erros do que aquele que foi reprimido quando crianças. É dever dos pais e professores evitar passar para a criança a ideia da falta de amor. Sobretudo, por fazer muito mal para a autoestima da criança. E a auto estima é fundamental para a saúde mental de todos nós. A felicidade está na capacidade da gente fazer as coisas, independente de acertar ou errar. O único modo de aprender neste mundo é errando e quanto mais erros cometermos, maior será o sucesso no futuro.

Portanto, a experiência é a soma dos erros e acertos que cometemos durante a vida. Com os erros aprendi mais sobre os acertos. Com as pessoas vivi e revivi o significado de uma bela amizade. Com o trabalho percebi o quanto amo o que faço. Com o amor me senti grande, realizado e descobri o quanto é maravilhoso ter alguém do nosso lado, para dividir nossos momentos prazenteiros. Os caminhos às vezes são confusos, dolorosos e questionáveis, porém, nunca sem saída. Os erros nos tornam mais humildes e com eles aprendemos a acertar e nos desculpar, e por que não, perdoar? Diante dos acertos ou dos erros, diante das alegrias ou tristezas, diante de qualquer coisa que seja sempre vou amar. Não tenho medo de envelhecer, só tenho medo de não ter tempo de viver esse amor. Minha racionalidade justifica que a cada dia envelhecemos mais um pouco. Sinto uma injusta contradição: envelheço quando meu espírito está mais aguçado, minha lucidez parece plena e minha ansiedade dominada. Sinto a dialética da vida, minha alma está serena e calma. Meu corpo já da sinais de sua finitude. Contudo, quanto mais eu sei, mais eu sei que nada sei. Há erros que cometemos. Verdades que não conhecemos. Mas, entre erros e verdades, encontrei o amor. Talvez esse amor fosse entre os erros que já cometi, o maior acerto. Mas hoje com certeza, posso afirmar que esse amor é a minha maior verdade.   

25 de novembro de 2014

ENTRE O BEM E O MAL

Por acaso alguém já viu nos filmes, novelas, livros de contos, ou numa peça teatral, o mal e o bem conviverem numa boa? Muito complicado, não é mesmo? Como diz a sabedoria popular: “a arte imita a vida ou a vida imita a arte?” Bom, o fato é que se torna difícil para as pessoas conviverem com estes dois atributos, suas virtudes e seus defeitos. No entanto, numa das histórias que ouvimos quando criança, sobre a origem do mundo, parece que vamos encontrar essa problemática.

No Jardim do Éden vivia um casal que só fazia e pensava coisas boas, até que uma cobra personificada, ou seja, uma persona não grata representando o mal, o lado pecaminoso (desejo sexual) e imperfeito do homem até então adormecido, que essa peçonhenta conseguiu vencer o seu lado bom, puro, assexuado, segundo alguns preceitos. Esse passo em falso do casal originou a perda da mordomia do paraíso e a expulsão para esse mundo inferior e de aparência, chamado planeta terra.  

O problema é que esse pecado teve desdobramento significativo e até hoje, como bons filhos, parece que assumimos a culpa pela má conduta dos nossos pseudo pais e muitas vezes acreditamos não sermos merecedores dos prazeres existenciais. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), em sua obra “Além do Bem e do Mal”, ressalta que “a vontade de poder do ser humano é o que determina o que é belo, bom e verdadeiro, sendo, portanto, tais atributos, mutáveis”. O exemplo disso mostra que para os judeus, enquanto povo dominador, ao tempo de seus primeiros grandes reis, bom era tudo o que fosse vigoroso, alegre e que transmitisse confiança.

Se pensarmos que os meios de comunicação e aqui também falo das redes sociais, funcionam como veículos de transmissão de modelos sociais, podemos dizer que as nossas dificuldades serão maiores em aceitar o lado sentido como imperfeito. A grande questão do mal é que ele está presente no inconsciente coletivo das pessoas que se diz ser do bem. Como argumenta o escritor, romancista e poeta José Saramago (1922-2010), que “nossas vidas são feitas de pequenas e grandes mentiras”. E para mim o maior mal da humanidade não está somente na mentira ou na traição, mas, na humilhação que infligimos a aquele que supostamente dizemos amar. Nas redes sociais essa humilhação torna-se mais explicita. Temos uma forte tendência a formar juízo de valor sobre pessoas que mal conhecemos. E o mais grave é que continuamos insistindo e acreditando nesse personagem sem rosto que se apresenta como um "fake", no mundo virtual. Na verdade, o propósito é causar dor psicológica naquele que convive de perto conosco e, que nos conhece na intimidade e no coração. Não é elegante e nem racional humilharmos quem a gente ama. Talvez esse seja o maior veneno da humanidade, a falta de respeito pelo seu semelhante.

Nossas dificuldades e os insucessos serão vivenciados no papel da vitima, arranjamos sempre um culpado para tudo de ruim que fazemos ou que acontece conosco, para ser o "bode expiatório" – expressão usada quando alguém acaba pagando pelo que não fez. Que não deixa de ser uma ideia maquiavélica da classe dominante, que é mestre em justificar os fins sem se preocupar com os meios para alcançá-lo. Para citar Nietzsche, será que em algum momento nos questionaremos: O que é bom para nós? Para o bem de quem são proclamados esses valores relativos? Considerar o outro como a soma de suas qualidades e defeitos, como algo pronto e acabado, é enquadrá-lo como objeto e ignorar suas possibilidades. É assim que se pode rotular o outro e vê-lo como: “prostituta, homossexual, pobre, ignorante, negro, vagabundo e velho”.

Por outro lado, as pessoas não juntam ideias. Não aprenderam que a única maneira de se ter um amigo é ser um deles. Se essa moça pudesse naquele momento, enxergar na outra pessoa não aquilo que a vida e a sociedade dela o fez, e sim olhar com o coração, haveria a possibilidade de humanização permanente das relações e da própria sociedade. Isto é, dar ao outro e a si mesmo uma nova chance e apostar sempre na compaixão como um bem maior. Tendo em vista, que o poder que se proclama se perde a verdade, vulgariza o outro, apaga a felicidade que se anuncia e causa dor e sofrimento para ambos. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor.

Portanto, nós humanos não somos um "ser" simples, mas composto de duas substâncias, corpo e alma. E o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano da "consciência cósmica". Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Só a plenitude (a ideia de completo e perfeito) já tem o seu lado ruim, porque ela não leva aos desafios, competições, maledicências e preconceitos absurdos. Com certeza nossos primeiros pais, Adão e Eva sacaram isso quando foram expulsos do paraíso. Contudo, estar entre o bem e o mal é gozar do livre arbítrio. "Eu sou a minha consciência".      

22 de novembro de 2014

UM SONHO QUE SE SONHA SÓ

Sonhar faz a gente inventar um mundo novo. É com essa imaginação que criamos momentos, onde com toda a certeza estaremos felizes, completos e realizados. Usamos das experiências já vividas, das emoções sentidas, dos momentos vividos para nos imaginarmos num tempo futuro. Passamos a buscar representações do já conhecido para imaginarmos o desconhecido e com isso diminuir a ansiedade frente ao novo. A imaginação é um sonho e, como dizia Raul Seixas (1945-1989): “Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só”. Porém, nesse sonho, o lugar não importa, pode ser um castelo, uma casa, uma praia, um parque, uma montanha, uma cabana, uma avenida, um lugar qualquer. Assim como também, o tempo não importa, pode ser amanhã, a próxima semana, o próximo mês, quem sabe o ano que vem. Vai depender do tamanho desse sonho e a fé que nutre esse amor.

Na verdade, o que importa é que aconteça. Nesse sonho o que importa não é o que se faz, é o que se sente a partir daquilo que é feito. E para que nesse sonho possamos nos sentir felizes, é preciso quase sempre que alguém participe dele. É a realização da crença de que não se pode ser feliz se estiver só. Envelhecer sozinho é deixar de sonhar juntos. Todavia, esse personagem imaginário é tão real dentro desse sonho que chega a ter forma, sentimento, pensamento, atitudes, etc. Desse personagem se espera frases ditas nas horas exatas, atitudes corretas, pensamentos românticos, expressões de emoções que demonstrem sentimentos sinceros. Dele se espera que nos olhe no fundo dos olhos e sem dizer palavra alguma, nos de segurança e a certeza de sermos amados, que não existe outro e nem poderá existir, é como se já tivéssemos decidido quem será a pessoa merecedora do amor guardado.

Despertado do sono, mas não do sonho, vamos a busca desse ser, que com certeza existe, só ainda não percebemos a sua importância para o nosso sonho. Mergulhado nesse egoísmo passamos a procurar na multidão o rosto dessa pessoa que já existe em nosso pensamento. Voltamos todos a viver na Caverna de Platão, na caverna da indiferença, do desrespeito, do egoísmo e da injustiça. Abandonamos os sonhos com muita facilidade, como se fossemos ter uma vida toda pela frente. Amassamos como um papel e jogamos no lixo, não damos conta que estamos desistindo de um projeto de vida.

Entretanto, quando encontramos alguém que demonstre, por menor que seja, disposição para compartilhar conosco um projeto de vida. Ser o personagem do nosso sonho, mostrando a possibilidade do sonho se tornar realidade, é tão desejado que passamos a sentir o que sentimos no sonho e julgamos ser esse personagem o responsável pelo nosso sentimento. É aqui que mora o perigo, porque começa a confusão pessoa e personagem. Conhecemos tão bem esse personagem e tão pouco essa pessoa. Não deixamos essa pessoa ser ela mesma. Satisfazemos com o pouco que conhecemos dela e que se assemelha de tal modo com a personagem, que fechamos os olhos, com desculpas, explicações emocionais, insensatas, mas apaixonadas, para nos fazer acreditar que o sonho e realidade são uma coisa só.

Com medo de perder esse sentimento vivemos o sonho. Mas chega o momento em que, mesmo despertos do sono, temos que despertar do sonho, destrancar as portas fechadas e, sem usarmos da imaginação, olharmos para a realidade, correr o risco de perder a paixão e dar lugar a outro sentimento. É preciso conhecer a pessoa, deixar que ela se apresente a nós tal como ela é. A paixão é um fogo imenso que logo se apaga e a afetividade conjugal é uma chama que arte lentamente, que mantém cálido o coração trazendo segurança e conforto. Temos de ser adulto o suficiente para conhecermos o outro por quem algum tempo fomos apaixonados e que, por nutrirmos esse sentimento, não quisemos conhecer, mas apenas reconhecer nele o sonho sonhado. É preciso reconhecer quão egoísta fomos não permitindo que esse personagem desvendasse a pessoa que por dentro dele havia.

Portanto, como adultos, tomamos a decisão de nos iludirmos com uma relação afetiva onde só um dos lados dizia amar, só um dos lados decide escolher como deve ser essa relação. Nem sempre o final da paixão coincide com o final do sonho, da realidade, ou do relacionamento. Há relações em que o amor preenche o espaço antes ocupado pela paixão, mas para isso é preciso que conheçamos a outra pessoa na intimidade. Suas ideias, seus pensamentos, suas formas de expressar emoções e provocar sentimentos até então desconhecidos. Experiências não vividas, frases ainda não ouvidas, conceitos não conhecidos. Contudo, numa relação afetiva, é necessário que duas pessoas reais se encontrem, conversem sobre projeto de vida, seus desejos, objetivos, sonhos comuns. Porque um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas, um sonho que se sonha junto, ambos fazem acontecer.   

20 de novembro de 2014

O AMOR QUE SE FEZ VERBO

Posso dizer que foi através da poesia e da literatura que conheci o verbo amar. Fui contaminado pelo amor a partir das minhas reflexões. Num encontro com os alunos do ensino médio de uma escola estadual materializei o amor. Naquele momento pude percebe o quanto de mistério existia nesse sentimento que nos fere e nos abranda ao mesmo tempo. A aula era sobre “O Banquete de Platão”, onde se discutia o amor platônico. Ficou claro como uma luz, que o amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Porém, esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu eu não é infinito. Compreendi que o amor é capaz de nos ensinar estas duas lições, por isso ele é abençoado. Senti naquele momento que o amor, além do mistério que o cerca, ele se faz presente através do contato físico, do aconchego, das trocas calorosas e principalmente, pelo prazer de conversar com a pessoa amada. Nem que seja por telepatia. A música “Said I Loved You But I Lied”, interpretada por Michael Bolton, vem reiterar o que estou afirmando: “Disse que te amava, mas eu menti. Pois isso é mais do que amor que sinto por dentro”. Como diz Platão num dos seus diálogos: “Só te ama aquele que ama a tua alma”. Talvez por isso que o amor seja triste e sofrido.

Todavia, o meu encontro com o outro se da pelo olhar. É no olhar que te vejo, pois, no olhar eu te mexo, só de olhar nos excitamos. Logo, é pelo seu olhar que me entrego de corpo e alma. Estas coisas não são verbalizadas com clareza. Só quem ama entende. Fiz os alunos viajar nas ideias inatas de Platão. A beleza do outro está no olhar, porque nele está o passaporte para a sua alma. É na alma que o amor reside com toda sua força e plenitude. O Belo não está no corpo, mas, na essência da alma. Somente o amor o torna capaz de conscientizar o outro daquilo que ele pode vir a ser. Nesse momento sou a vela e o amor é a chama, que arde pelas nossas entranhas e ilumina a nossa alma, até o ultimo suspiro. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Quem tem um porque para viver, pode suportar qualquer coisa”. Um dia vamos deixar esse mundo da matéria.

Leo Buscaglia foi um dos maiores escritores acerca do amor no século XX, que coincidentemente faleceu aos 74 anos no dia dos namorados, 12 de junho de 1998. Ele dizia que: “Viver o amor é o maior desafio da vida. Porque exige mais sutileza, flexibilidade, sensibilidade, compreensão, aceitação, tolerância, conhecimento e força espiritual, muito mais que em qualquer outro esforço ou emoção”. Tanto é verdade, que uma das coisas mais linda da natureza humana é o encontro amoroso. Neste contato vivo de intimidade profunda, de total embriaguez amorosa, somos estimulados pelas afinidades que nutrimos um pelo outro. O fato de vislumbrar alguém que primeiro nos prendeu pelo olhar, o sorriso, pela conversa agradável, é nesse momento mais feliz que chagamos o mais perto possível do amor. Todavia, podemos estar junto de uma pessoa por algum tempo, e não sentir nenhuma vibração. Não acontece nada, não da química, não há comunicação entre os corpos. Ao contrario, quando há afinidades, trocas de olhares e uma boa comunicação entre ambos, começa ocorrer um fenômeno que só pode ser chamado de amor perfeito. É um momento de iluminação a dois, a luz de um reflete o brilho do outro.

Entretanto, quando estamos num bom momento para os dois, vai descendo sobre nós uma espécie de campânula nos aquecendo e, ao mesmo tempo nos isola do mundo. São duas pessoas em estado de graça e mais nada. Poderíamos comparar esta sensação de isolamento a dois como a formação de um casulo. Ocorre o isolamento porque vai acontecer uma coisa muito importante e muito delicada. Nesse momento só existe os dois no universo. A maior prova da existência desse casulo, é que ele é natural e não cultural. Não há nada mais delicioso que a aventura do encontro de duas almas que se amam. A emoção que invade o coração da pessoa que está encantada com a outra, é de importância vital para a prática do relacionamento Tântrico. Quem pratica sente-se renascido, revitalizado, repleto de energia tântrica, de entusiasmo e alegria. Viver o amor tântrico é ambos estarem tranquilos e se ajudarem mutuamente. O amor se conduzirá por si mesmo e juntos percorrerão as mais belas e paradisíacas paisagens que ficarão marcadas para sempre na memória dos eternos apaixonados.   

Portanto, encerro essa reflexão fazendo uma homenagem à mulher que é consagrada à Deusa do Amor, pela sua forma de receber e dizer amor. A mulher que sorri sofrendo diante da dor. Carrega o mundo diante da vida. A mulher que se arruma todas as manhãs, para o início de mais um dia. Sorri para os filhos não se preocupar. Chora muitas vezes de alegria sem se poupar. A mulher que é pura emoção materna. Perdoa o imperdoável de forma terna. Perdoa infinitamente o filho indiferente. Seus olhos brilham mais que o sol nascente. Carrega o mundo em sua placenta. Será que algo mais acrescenta, por tudo que a mulher nos representa? Contudo, foi pela poesia e a  literatura que o amor se fez verbo em nossas vidas. Hoje podemos dizer o que significa o verbo amar. Porque esse verbo intransitivo é como a muralha romana, nada pode derrubar. Pelo simples fato de que seus aplicativos são para sempre.  

17 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO ESCOLAR

A avaliação deve orientar a aprendizagem. Todavia, durante muito tempo, a avaliação foi usada como instrumento para classificar e rotular os alunos entre os bons, os que dão trabalho e os que não têm jeito. A prova bimestral, por exemplo, servia como uma ameaça à turma. Felizmente, esse modelo ficou ultrapassado e, atualmente, a avaliação é vista como uma das mais importantes ferramentas à disposição dos professores para alcançar o principal objetivo da escola: fazer todos os estudantes avançarem no seu projeto de vida. O importante hoje é encontrar caminhos para medir a qualidade do aprendizado da garotada e oferecer alternativas para uma evolução mais segura nesse projeto. Avaliar, hoje, é recorrer a diversos instrumentos para fazer os alunos compreender os conteúdos previstos para sua aprendizagem.

Mas como não sofrer com esse aspecto tão importante do dia a dia? Antes de tudo, é preciso ter em mente que não há certo ou errado, porém elementos que melhor se adaptam a cada situação didática. Observar, aplicar provas, solicitar redação e anotar o desempenho dos alunos durante um seminário são apenas alguns dos jeitos de avaliar. E todos podem ser usados em sala de aula, conforme a intenção do trabalho. Os especialistas, aliás, dizem que o ideal é mesclá-los, adaptando-os não apenas aos objetivos do educador, mas, as necessidades do grupo.

A avaliação deve ser encarada como reorientação para uma aprendizagem melhor e para a melhoria do sistema de ensino, resume à educadora Mere Abramowicz, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Daí a importância de pensar e planejar muito antes de propor um debate ou um trabalho em grupo. É por isso que, no limite, você pode adotar, por sua conta, modelos próprios de avaliar os estudantes, como explica Mere: “felizmente, existem educadores que conseguem colocar em prática suas propostas, às vezes até transgredindo uma sistemática tradicional. Em qualquer processo de avaliação da aprendizagem, há um foco no individual e no coletivo, só assim fazemos educação.

Entretanto, os dois protagonistas são o professor e o aluno. O primeiro tem de identificar exatamente o que quer o segundo, a partir daí se colocar como parceiro. É por isso, que a negociação com os alunos adquire importância ainda maior. Em outras palavras, discutir os critérios de avaliação de forma coletiva sempre ajuda a obter resultados melhores para todos. Como argumenta a educadora especialista em Tecnologia Educacional e Psicologia Escolar, Léa Depresbiteris: “cabe ao professor listar os conteúdos realmente importantes, informá-los aos alunos e evitar mudanças sem necessidade por capricho de maus profissionais”. Sem falar daquele professor ou coordenador que sequestra a criatividade e assassina o sonho do aluno, transformando-o em analfabeto funcional.  

No entanto, seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando leva ao desenvolvimento do educando, ou seja, só se deve avaliar aquilo que foi ensinado. Não adianta exigir que um grupo não orientado sobre a apresentação de seminários se saia bem nesse modelo. É inviável exigir que a garotada realize uma pesquisa, seja na biblioteca ou na internet se o professor não mostrar como fazer. Da mesma forma, ao escolher o circo como tema de trabalho extraclasse, é preciso encontrar formas eficazes de abordá-lo. Se a criança nunca viu um espetáculo no circo e nem sabe o que é, como pode entender e descrevê-lo? Vai precisar de orientação do professor, para entender e apropriar-se por escrito de tal conhecimento.

Portanto, a avaliação sempre esteve relacionada com o poder, na medida em que oferece ao professor a possibilidade de controlar a turma. No modelo tecnicista que privilegia a atribuição de notas e a classificação dos estudantes, ela é ameaçadora, como uma arma. Vira instrumento de poder e dominação, capaz de despertar o medo e o pavor nas nossas crianças. Ao mesmo tempo em que matamos o sonho dessas crianças, sequestramos o seu potencial criativo. Contudo, essa marca negativa de avaliação vem sendo modificada à medida que melhora a formação docente e o professor passa ver mais sentido em novos modelos. Só assim o fracasso do jovem estudante deixa de ser encarado como uma deficiência e se torna um desafio para o educador que não aceita deixar ninguém para trás.   

11 de novembro de 2014

A NATUREZA DO AMOR

As pesquisas têm revelado que o amor é um fenômeno biológico e não apenas uma questão cultural como afirmavam até então os cientistas. Mas, o que é o amor? Até pouco tempo, cientistas assumiram que o amor era apenas um conceito presente na cabeça dos homens da cultura ocidental. Hoje, no entanto, a ciência vem revendo a sua posição e, segundo novas descobertas, publicadas na penúltima edição da revista Time, levam a crer que romance é um fato biológico e não apenas uma questão cultural como se dizia. Estaria certo o poeta quando disse: “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.

Perguntas ainda se levantam. A primeira é porque, apenas agora, pesquisadores e filósofos se enveredaram por este caminho antes percorrido apenas por poetas e novelistas. São duas hipóteses: uma é a questão da Aids que está aí em nosso meio e o sexo casual agora carrega riscos mortais. A outra é o número cada vez maior de mulheres fazendo pesquisas nesta área, provavelmente elas levam o amor mais a sério. Independentemente do porque, o mais importante são as conclusões: o romance é real, está em nosso DNA. Em nossa biologia.

Para o psicólogo e pesquisador Lawrence Casler, autor do livro: “O Casamento é Necessário?”, que diz não acreditar no amor como parte da natureza humana, fica a questão; se nós podemos procriar sem necessariamente amar, porque muitas vezes o amor desabrocha no meio do caminho? Se o amor foi plantado nas cabeças por agentes como trovadores, a custa do que persiste até hoje? A esta altura todos já deveriam estar imunes.

Para desbancar a tese da herança cultural, os antropólogos William Jankowiak e Edward Fisher, publicaram um trabalho afirmando que encontraram evidências de amor romântico em 147 das 166 culturas que estudaram. O que as diferenciavam, segundo os pesquisadores, era a forma de expressar o sentimento, não necessariamente através de chocolates e flores, como se faz no mundo ocidental.

Os antropólogos que se propuseram a estudar o amor no passado, segundo os pesquisadores atuais, se enveredaram pelo lugar errado. Buscaram respostas nos rituais de casamento e cortejo. Em muitas culturas, como ficou provado, amor e casamento não anda junto. Em muitas sociedades os casamentos podem ter todo romantismo de um negócio de interesse de família ou território. Mas, mesmo nestas sociedades, onde a união é um acordo comercial, Jankowiak afirma que não se pode dizer que o amor não existe, pois ele se manifesta de forma clandestina, como um fenômeno com o qual temos que lidar.

Se o amor existe, quando surgiu? O ponto de partida do amor acredita os cientistas, foi quando deixamos de andar de quatro e passamos a usar apenas as pernas, colocando em evidência tanto nossos órgãos sexuais, como a cor dos olhos e a própria dimensão do corpo. Foi possível, então, tentar novas maneiras de fazer sexo amoroso, que possibilitaram fazer do sexo um encontro romântico. Os casais começaram a procurar posições que os deixasse face a face e a atração física passou a ter maior importância, principalmente, para despertá-lo o amor romântico. A natureza sabe como conduzir o DNA do amor.

O lado romântico das relações permitiu aos indivíduos estabelecerem relacionamentos de longa duração, fundamentais na criação dos filhos, pois em campos selvagens, tornava-se muito mais difícil zelar pela criança tendo ainda que cuidar da própria sobrevivência. Ficava mais fácil unir-se a um parceiro e, juntos, assumirem a criação dos filhos.

Esta ideia inicial levou a antropóloga e pesquisadora do comportamento humano Helen Fisher (1945), do Museu de História Natural de Nova York a tecer outras teorias, uma delas sobre a duração do amor. Enquanto a cultura ocidental prega que ele é eterno, na natureza, Fisher diz existir provas de que o amor foi feito para durar cerca de quatro anos. Ela cita a crise dos quatros anos, mostrada nas estatísticas de divórcio de pelo menos 62 das culturas que estudou. Se o casal tem outro filho três anos depois do primeiro, como geralmente ocorre, a união tende há durar quatro anos mais.

Por essa tese, o amor não é eterno. Por outra, também defendida por Fisher, o amor não é exclusivo. Segundo a autora dos livros: “Anatomia do Amor” “A História Natural da Monogamia” “Adultério e Divórcio”, menos de 5% dos mamíferos formam pares rigorosamente fiéis e, os seres humanos, desde o começo dos tempos, mantêm o padrão de monogamia com adultério clandestino. O que pode ser rotulado de sem vergonha, cafajeste. Para alguns pesquisadores, os estudos de Fisher provam serem uma maneira de se formar novas combinações de gens para serem passados para as gerações futuras. Além disso, os homens que buscaram novas parceiras tiveram mais filhos; enquanto as mulheres, sempre agindo por debaixo do pano, garantiam melhor a sobrevivência. Até as pré-históricas tendiam a ter relação extraconjugal.

O amor é tudo que precisamos, raramente funciona. Quem realmente quer aceitar seu parceiro pelo que ele é o tempo todo? Parece que o tempo todo não é uma expectativa muito realista. O respeito mútuo e a disposição para a mudança, negociação e acomodação até um ponto são necessários para manter um equilíbrio razoável e cultivar o romance ao longo dos anos. Talvez seja melhor encontrar alguém que vá tratar você bem o tempo todo, que seja honesto e respeitoso, de modo que o amor possa ficar cada vez mais solido. 

Portanto, penso que o amor nunca morre de morte natural. Sendo assim, ele pode morrer um dia porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições que eventualmente venha ocorrer. Morre da doença do ciúme e das feridas que ele nos causa. Morre de exaustão, da devastação que a falta de respeito provoca. Morre muitas vezes por falta de brilho. Nós não somos tomados pelo amor que não recebemos no passado, mas pelo amor que não estamos dando no presente. Contudo, o amor permeia entre o corpo e a alma, ultrapassando a dimensão biológica onde tudo começa, para o plenamente espiritual onde se conclui na sua essência cósmica.    

7 de novembro de 2014

O EMISSOR DA HUMANIDADE

Um dos mais polêmicos críticos literário americano Harold Bloom (1930), argumenta por que ainda se deve ler num mundo dominado pelas imagens. Sem nenhum pudor em atacar seus colegas acadêmicos, ele não se cansa de chamá-los de ressentidos e os acusa de estarem matando a literatura com a mania do politicamente correto. Um ferrenho defensor dos "valores estéticos", Bloom autoproclamou-se guardião solitário da cultura clássica e exalta os grandes nomes da literatura mundial com uma energia admirável.

A informação está cada vez mais ao nosso alcance. Mas a sabedoria, que é o tipo mais precioso de conhecimento, essa só pode ser encontrada nos grandes autores da literatura. Esse é o primeiro motivo talvez porque devemos ler mais. O segundo motivo é que todo bom pensamento, como já diziam os filósofos e os psicólogos, depende da memória. Não é possível pensar sem lembrar. Na verdade, são os livros que ainda preservam a maior parte de nossa herança cultural. Finalmente, e este motivo está relacionado ao anterior, pois, sabemos que uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler. Mas, uma leitura livre, sem considerações políticas, ler sem compromissos ideológicos ou preconceitos.

O escritor português José Saramago (1922-2010) Prêmio Nobel de Literatura em 1998, está entre os melhores romancistas da atualidade, não deixa nada a dever aos grandes nomes da literatura. Mas, sinceramente, acho que num mundo dominado pelas imagens e o audiovisual, livros difícil como os dele poderão deixar de serem lidos daqui alguns anos. As crianças estão crescendo cercadas por telas enormes de multimídia. A longo prazo, não sei qual pode ser o efeito disso sobre a capacidade das pessoas de ler para buscar não apenas informações, mas sabedoria e conhecimento.

Será que realmente as crianças vão ler coisas melhores depois de ler Harry Potter? Penso que não. Stephen King (1947) é um escritor americano, reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de terror e ficção da sua geração. Não consigo ler nem dois parágrafos do que escreve. Verdadeiro lixo de cultura de massa. Segundo ele, as crianças que aos 12 anos estão lendo Potter aos 16 estarão prontas para ler os seus livros. Precisa dizer algo mais? Os Estados Unidos é um país em que a televisão, o cinema, os videogames, os computadores e Stephen King destruíram a boa leitura. A defesa de livros ruins vem de todos os lados – dos pais, das crianças, da mídia – é muito inquietante e nem um pouco saudável essas informações.

Entretanto, aquilo que gostamos de chamar de nossas "emoções" surgiu pela primeira vez como pensamentos em William Shakespeare (1564-1616), nele, mais do que em qualquer outro escritor, parece que os personagens não foram inventados. É como se eles existissem desde sempre. O que era o homem antes de Shakespeare? Personagem de dimensão quase inexistente, na afirmação do crítico literário Harold Bloom, que em Shakespeare: “A Invenção do Humano”, um estudo monumental sobre esse grande gênio da literatura. Saramago, por exemplo, parece para mim, estar sempre envolvido numa complexa competição com Eça de Queiroz (1845-1900) e com Fernando Pessoa (1888-1935), os dois grandes autores portugueses que o precederam. Ainda acho que a literatura caminha por meio de um confronto direto com a produção da geração anterior. Isso não vai mudar. Arte é competição e sempre será.

Portanto, quem quiser escrever para bons leitores é necessário que a tua alma seja uma antena ultrassensível que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que percorrem o universo humano. É necessário saber cristalizar em ideias conscientes a inconsciente atmosfera das almas que te cercam. É necessário dizer ao leitor o que ele já sabia nas penumbras do seu "Eu interior", mas não sabia trazer a luz meridiana da consciência vigilante. Contudo, o escritor faz nascer o que já era concebido e andava em gestação. Enfim, o escritor é o intérprete consciente da "subconsciência universal". Ele é o emissor da humanidade

31 de outubro de 2014

LER É PENSAR COM SABEDORIA

Lendo um artigo do jornalista, cronista e cartunista Ziraldo (1932), dizia: “ler é mais importante que estudar”. Evidentemente, que se aprende muito mais lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para Ziraldo, quando se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso vocabulário. Alguns estudos nessa direção vêm mostrando que o povo brasileiro ainda não descobriu o prazer na leitura e ocupa o tempo livre, vendo televisão, ouvindo música, descansando e raramente se propõe a ler um livro, jornal ou uma revista do seu interesse sobre um determinado assunto que o estimule.

Segundo o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014), disse num dos seus textos o seguinte: “Há um tipo de educação que tem por objetivo produzir conhecimentos para transformar o mundo, interferir no mundo, que é a educação científica e técnica. Mas há uma educação – e é isso o que chamo realmente de educação – cujo objetivo não é fazer nenhuma transformação no mundo, é transformar as pessoas”. Até porque, ler é pensar com sabedoria, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado, isto é, saber com objetividade. Portanto, o exercício da leitura é um mergulho na cultura do conhecimento.

Na dinâmica das informações no mundo globalizado, ler é uma necessidade básica. Quem não tem ou não cria este hábito fica para trás, porque a leitura leva-nos a investigação, a buscarmos cada vez mais, porque a partir dela somos sujeito e passamos a fazer nossas próprias escolhas, através do nosso livre arbítrio. Ler não é matar o tempo, e sim fecundá-lo. Sendo assim, incita-nos à curiosidade e a busca frenética pelo conhecimento. É preciso atenção para peneirar, para digerir cada palavra e todas as informações do conteúdo a assimilar. Aprender não é um instrumento passivo, pois, é uma experiência intelectual, um exercício de nossa faculdade de pensar as coisas, de aprender os seus sentidos, de buscar a significação que elas têm para nós. Mas essa experiência de ler e pensar o mundo, de buscar conhecê-lo, não pode ser uma tarefa solitária. Porque ler é estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe.

Por outro lado, é muito difícil as pessoas comprarem livros. Além de ser um produto caro, e as escolas por sua vez não promovem o habito da leitura para seus alunos. São raras as Instituições de Educação que tem uma boa biblioteca, com vasta literatura para pesquisa e que ao mesmo tempo desperte nos alunos o prazer de ler. Chega ser alarmante o número de analfabetos funcionais em nosso país. Ou seja, aquele aluno que lê, mas, não entende o que leu. Não consegue juntar uma frase com outra, tem dificuldade de formar frases ao juntar as palavras, sem falar dos erros crassos de ortografia. Considerando, que o ambiente moral inicia com a atitude e respeito do professor pelas crianças e seus interesses, sentimentos, valores e ideias. Educação se faz através do encontro humano.  

Entretanto, o professor precisa introduzir seus alunos numa experiência divertida com a leitura e ter o cuidado de não usá-la como castigo ou tarefa por falta de atenção do aluno. Mostrar para o estudante que sem a leitura não aprende a pensar. E quando pensa, não sabe expressar o pensamento de forma lógica e organizada. Faltam vocabulário e clareza de raciocínio. Por conseguinte, as pessoas não conversam mais. Cada um conta o seu problema e não escuta o outro. Nós vivemos dos pensamentos dos outros, a começar pela política, economia, mídia e a educação que não ensina. De certo modo, vivemos presos às ideologias vigentes a certos preconceitos. Estão todos falando sozinhos de suas coisas, meio que informando o outro sobre o que fez ou vai fazer. Parecem tomados por uma cegueira crônica. Essa deficiência de leitura é que alimenta a ignorância planetária e coloca o ser humano de volta a Caverna de Platão. 

Ao ler um texto lidamos com as palavras e com ideias. As palavras são o lado visível e material da linguagem. Já as ideias são os conteúdos mentais que correspondem a cada palavra, por meio dos quais representamos um objeto, pensamos uma coisa ou uma relação entre palavras. Para o filósofo e educador Antônio Joaquim Severino (1937), é pela mediação dos conceitos que pensamos e concebemos as coisas e, consequentemente, as mensagens que, sobre elas, os textos escritos ou falados querem nos passar. O conceito representa e substitui a coisa no âmbito da consciência subjetiva e é graças a ele que podemos pensar. Porém, ler é buscar criar a compreensão do lido. Podemos entender a leitura com o coração da educação.

Todavia, a busca da palavra é uma procura dolorosa. Através da leitura que vamos melhorando e enriquecendo o nosso vocabulário e alargando o horizonte de conhecimento. Fico feliz quanto encontro crianças e adolescentes folhando ou lendo um livro. A leitura de certo modo promove mudanças em nossas vidas, na nossa percepção, no nosso pensamento e principalmente nos nossos valores. A leitura é um exercício de generosidade e crescimento intelectual. É fundamental que a criança seja incentivada a ler com prazer e diversão. Desenvolve-se de forma gradual, como um hábito a ser adquirido e deve ser fonte de prazer e não apresentada de forma obrigatória através de imposição ou cercada de castigos e ameaças. É fundamental entender que essa aprendizagem é gradativa, que devem ser respeitadas diferenças individuais e não se deve punir e criticar a criança por ela não estar lendo ou escrevendo como outras crianças da mesma idade. Isso poderia atrapalhar o seu desenvolvimento, gerando nela sentimentos de insegurança e incapacidade.

Ao contrário, deve-se compreender que, quanto mais à criança associar a leitura e a escrita como atividades úteis e que lhe deem prazer, maior será o seu desejo de aproximar-se dos textos, maior facilidade ela terá de aprendizado, porém, só se aprende a ler e escrever, lendo e escrevendo. Por outro lado, deparamos com uma enorme insegurança à própria capacidade intelectual do professor, mostrando um perfil do quanto vai mal a nossa famigerada educação. Tal insegurança associada principalmente à falta absoluta de originalidade desses profissionais, que normalmente vem junto à falta de conhecimento da maioria dos alunos que não lê.

A educação é uma realidade vital e condicionada por circunstâncias concretas e chamada a superá-la a partir da própria situação em que se encontra o sujeito da educação. Tendo em vista que educação é a apropriação da cultura, e através da história se torna a construtora do sujeito histórico. É através da educação que nos fazemos humanos e históricos, como autores no modo de refletir sobre a realidade, sobre o mundo e sobre nós mesmos. Nessa direção, a realização do indivíduo como sujeito histórico distinguiu sua conexão com a coletividade e seu acordo com a mudança social. A pergunta correta a se fazer é a seguinte: “A escola da resposta às necessidades presentes?” “Nosso sistema educativo continua sendo para o aluno um sistema educativo que o atrai?” Não! Há muito tempo deixou de ser. Hoje temos uma escola do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21.

Entretanto, o que encontramos na educação, com muita frequência é professor fracassado que ganha mal e odeia alunos. Sem falar de professores que normalmente não gostam de ler e muito menos de estudar, mas criticam os alunos por colar da internet o trabalho pronto. Talvez pela própria incompetência do professor que não sabe despertar no aluno o gosto pelo estudo ou até mesmo, por falta de conteúdo do nosso divino mestre. Sem falar da falsa modéstia de alguns professores que fingi o tempo todo que acreditam na importância da educação e no seu papel impecável de educador, que o transformou em omisso e bem adaptado pelo sistema que o acolhe. O exemplo claro que ajuda a entender uma estatística alarmante sobre o conhecimento dos professores no ensino fundamental e médio da rede pública, segundo o Ministério da Educação, apenas dez por cento tem o hábito de ler fora da sala de aula.

Portanto, ler é pensar com sabedoria. O sujeito da educação tem como pressuposto o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. Como dizia Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”. Contudo, estar atento significa estar disponível ao espanto. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor. Paulo Freire (1921-1997) dizia: “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania.

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...