31 de dezembro de 2016

OS ANOS PASSAM E A ESPERANÇA FICA

Naturalmente quando se fala de um amor, tem que levar em conta esse sentimento, afinal, não somos mais aquele garoto, agora somos senhores de respeito onde predomina a razão e a maturidade. Temos que reconhecer a beleza de um “amor maduro”, sem esquecer-se do possível ridículo do que há de visível nisto. E ao expor este amor muitos acham graça dos seus sentimentos juvenis e até duvidam deste. Parece que não tem mais cabimento amar na velhice, mais tem. Esta possibilidade de chegarmos a essa altura da nossa existência, de assumir e brincar com esse prazer que o amor nos propicia é um dom. Mais que isso, assumir o seu tempo, assumir a sua idade, sem medo e vergonha. Na verdade, sempre desconfiei desde garoto que iria ficar velho, que é a melhor coisa da vida, ficar idoso. Com o passar dos anos perde-se em alguns aspectos estéticos e se ganha muito em sabedoria. Portanto, mais um ano de transição só tenho a agradecer o dom da vida, por sentir o amor tocar a minha alma, pela saúde que ainda tenho e pela inteligência que guia os meus passos para além do horizonte.  

Os anos passam e a esperança fica e só tenho a agradecer a Deus e dizer: “Boa noite Pai, já está terminando mais um ano e agradeço pela vida que me confiou. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido, e aproveito para pensar sobre tudo o que vivi neste ano de 2016. Após essa noite despontará o alvorecer de um novo dia, que iluminará os nossos caminhos em 2017. De modo que, quero dar um sentido ainda maior para a minha vida neste ano que se inicia. Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que neste ano animou os meus passos, pela alegria que senti ao lado de pessoas tão queridas e que hoje fazem parte da minha história. Obrigado pela alegria que vi no rosto das crianças, do fogo da esperança que nelas se acende.

Pai, obrigado pelo exemplo que recebi do meu próximo, pelo que aprendi aos meus sessenta e cinco anos de vida, porque, se não aprende com o amor vai aprender com a dor. Obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelas crianças abandonadas e pelos idosos vitimas de todo tipo de violência. Pois ainda tenho esperança em dias melhores para todos. Obrigado Pai pelo dom de amar, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver com saúde todos esses anos, como também pelo meu esforço e desejo de superação, pois quero ser a cada dia mais humano neste projeto de vida. Desculpe Pai o meu rosto carrancudo e agressivo, desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração e a ausência do espírito de servir.

Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei quando ignorei os meus irmãos. Perdoa-me por ter ofendido e magoado justamente aquela pessoa que mudou a minha vida e que na sua simplicidade me ensinou que amar é se atirar nos braços da divindade. A partir dos seus ensinamentos experimentei o paraíso, destinado aos deuses e aos iluminados. Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está se iniciando, a nossa vida continua e só a morte pode cessar. Em quanto isto, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a humanidade. E que a cada novo dia seja um continuo sim numa vida consciente.

Portanto, peço a Deus que concedei a serenidade e sabedoria para que possamos viver na plenitude do amor e da paz, pois para quem não sabe o amor e a paz se sustenta sobre esses dois grandes pilares. “Serenidade para aceitar o outro com as suas diferenças, medos e duvidas, procurando compreendê-lo e assim ajudá-lo. Sabedoria para perceber estas diferenças e ansiedades e se possível modificá-las semeando amor e compaixão”. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Sozinho é como uma ilha prestes a afundar no abismo do oceano Como sabiamente argumentou o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948): “tudo o que vive é o teu próximo”. Enfim, “ao contrário do destino, o que o amor une nem o tempo separa”. Somente o tempo entende o amor. Um Feliz 2017 a todos.  

30 de dezembro de 2016

A ILHA E SEUS HABITANTES

Gosto de registrar boas histórias, assim como também sou um contador de história. Trago para a nossa reflexão deste final de ano, duas grandes histórias de amor. Porém, são diferentes na perspectiva de cada narrativa, mas, ambas convergem para o mesmo protagonista: “o Amor”. O amor é à base das duas histórias que fundamenta a nossa vida no sentido existencial. Uma conta a história da “Arca do Noé” e a outra conta a história de uma “Ilha e seus habitantes” que estava preste a afundar.

A história sobre a Arca de Noé, as pessoas não entende muito bem essa história, pensa que fala da ira e da fúria de Deus. Como argumenta no documentário o ator americano Morgan Freeman (1937): “as pessoas adoram quando Deus fica zangado. Não imaginam que a história da Arca é uma história de amor, de acreditarem uns nos outros. Sabe por que os animais apareceram em paz? Porque ficaram juntos lado a lado enquanto construía a Arca, assim como Noé e sua família. Todos entraram na Arca lado a lado. Se Deus ordenou que assim fosse como lidamos com isso? Parece uma oportunidade. Deixa lhe fazer uma pergunta: se alguém rezar pedindo paciência achará que Deus dará paciência, ou dará a oportunidade de ser paciente? Se pedirmos coragem Deus nos da coragem ou nos da a oportunidade de sermos corajosos? Se alguém pede que a família seja mais unida, acha que Deus unirá a família com amor e alegria ou da a eles a oportunidade de se amarem?

Nesse sentido, vou dividir com meus leitores a segunda história de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até acho que continuo vivendo, embora não quero acreditar na dor que sinto nesse momento aqui escrevendo. Um dia a nossa Ilha também irá naufragar, e vamos ter que sair para não afundarmos, assim como o fizeram esses habitantes tão ilustres. 

Conta-se uma linda história sobre uma Ilha, que por lá moravam todos os sentimentos: “a alegria, a tristeza, a sabedoria, a serenidade, a coragem e tantos outros. E por fim o Amor”. Mas um dia foi avisado aos moradores que aquela Ilha iria afundar. Todos os sentimentos se apressaram para sair da Ilha. Pegaram seus barcos e partiram, porém o Amor ficou, pois queria permanecer mais um pouco com a Ilha, antes que ela afundasse. O amor tinha um compromisso de fidelidade com a Ilha, por isso permaneceu até o seu ultimo suspiro.

Quando por fim estava quase se afogando, o Amor começou a pedir ajuda. Nesse momento passava a riqueza, em um lindo barco. O Amor disse: Riqueza leva-me com você!  - Não posso, respondeu a riqueza. Há muito ouro no meu barco. Não há lugar para você. Então, ele pediu ajuda a vaidade que também vinha passando: - Vaidade, por favor, me ajude! Não posso te ajudar Amor, disse a vaidade. Você está todo molhado e vai estragar meu barco novo. Então o Amor pediu ajuda à tristeza: Tristeza leve-me com você! Ah! Amor estou tão triste que prefiro ir sozinha!

Também passava por ali alegria, mas ela estava tão alegre que nem viu o Amor chamá-la. Já desesperado, o Amor começou a chorar. Foi quando uma voz o chamou: - Vem Amor eu levo você! Era um velhinho. O Amor ficou tão feliz que se esqueceu de perguntar o nome dele.

Chegando do outro lado da praia, ele perguntou a sabedoria: Sabedoria, quem era aquele velhinho que me trouxe aqui? A sabedoria respondeu: - Era o tempo. O tempo? Mas, por que só o tempo me trouxe aqui? – Porque somente o “Tempo” é capaz de entender o Amor”.    

28 de dezembro de 2016

A EXPERIÊNCIA DA DOR

É com muita tristeza que notamos que a sociedade perece não conceder ao amor e à paixão o lugar de destaque, em que ocupou por muitos anos esse sentimento. Cito um texto maravilhoso do poeta mexicano Octávio Paz (1914-1998): “Paulatino Crepúsculo da Imagem do Amor nas Sociedades” que fala com clareza e lucidez sobre esse tema, esclarecendo sobre o poder do dinheiro que vem corroendo a liberdade de amar. Permite-se que a liberdade afetiva seja confiscada pelos poderes do capital, do mercado e da publicidade. De modo que, se for verdade que o dinheiro é um elemento importante, ele não tem sido suficiênte para explicar o amor à vida. Como argumenta meu amigo religioso, educador e conêgo Álvaro Augusto Ambiel: “o corpo vem sofrendo a dessacralização e vem sendo utilizado como objeto de consumo”.

O homem vive em sociedade acreditando que o bem é natural, quando na realidade o nosso maior medo é a maldade e a dor que nos causam. De modo que a vida vai sempre de encontro com a tristeza, e quando se possui um momento de felicidade, ele logo acaba o que prova que a felicidade vem a ser apenas um breve remédio para a dor intensa e real, até parece que nada tem sentido se o fim não for à dor. A sociedade é para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), uma convenção controladora incrível, pois o homem naturalmente é o caos e causador dessa desordem. Já para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), há três formas do medo afligir as pessoas em nossa sociedade líquida: primeiro; o medo de não conseguir garantir o futuro, de não conseguir trabalhar ou ter qualquer tipo de sustento. Segundo: o medo de não conseguir se fixar na estrutura social, que significa, basicamente, o medo de perder a posição que se ocupa, de cair para posições vulneráveis e por ultimo: o medo em torno da integridade física, como uma doença grave ou sofrer algum tipo de agressão.

Entretanto, a cidade é o lugar do encontro, da mistura, da efervescência, do novo, é o lugar onde tudo e todos se encontram, mesmo sem querer encontrar, é o lugar onde estar com quem não se conhece é um pressuposto, é um termo aceito tacitamente e, por isso, ela é um espaço mixofílico (que tem a virtude de aproximar as pessoas, que faz da mistura um gosto aceitável e aprovável). No entanto, a sujeira precisa ser limpa. É na cidade onde se podem encontrar os resultados da exclusão, da forma mais perversa e covarde.

Todavia, nos grandes centros que encontramos os mendigos, as favelas e seus moradores, todos estes estranhos são seres que provocam o desprezo e a repulsa dos cidadãos ditos “normais”. A mixofobia (a repulsa pelo estranho) é vista materialmente de forma peculiar. Passando pela avenida paulista o maior centro financeiro da cidade de São Paulo e, como é de se esperar, é um antro da exclusão, do comportamento “blasé” e da normatização hegemônica. Em frente aos grandes prédios, além dos vários seguranças que efetivamente estão lá para espantar os excluídos, há a presença de longas barras de ferro cheias de pontas que ficam acopladas em frente às vitrines. Qual o motivo? Para os mendigos não dormir? Isto é uma expressão clara de mixofobia.  

Portanto, o medo do outro não desaparece apenas ao se adquirir distância dele. O mais angustiante e doloroso é perceber que esse outro de quem se tem medo é um concidadão, que convive conosco dentro da mesma gaiola. E o maior problema da mixofobia urbana é que ela institui o não diálogo entre quem se sente atemorizado e quem causa tal temor. Felizmente, a mixofilia, o amor à mistura, é cidadã a priori da cidade. Afinal, não foi por segurança que o homem se aglomerou em cidades? Contudo, para minimizar esta dor, precisamos criar espaços afetivos, através de boas amizades e cultivar o respeito pelo próximo. Consolidar na perspectiva de viver mais o amor à mistura, que à separação. Somos mais cidadãos agrupados no passeio público do que segregado num Alphaville. Um exemplo claro dessa dor é a separação de quem amamos, que inscreve-se entre as mais difíceis de suportar, porque se trata de uma situação em que o prazer perdido é muito grande.

26 de dezembro de 2016

O UNIVERSO VIRARA PÓ

Vivemos todos como se estivéssemos diante de um porta retrato, olhando para a fotografia de um ente querido e ali experimentando uma felicidade vivida e ao mesmo tempo a dor da saudade, que ficou entre a presença e ausência. No triunfo da morte ou de como as razões e desrazões arbitrárias do nosso desejo, fazem com que seja difícil aceitarmos, que não temos mais a presença daquela pessoa que tanto amamos. Como diz a música de Chico Buarque de Holanda (1944): “Ó pedaço de mim! Ó metade adorada de mim! Leva os olhos meus, que a saudade é o pior castigo e eu não quero levar comigo a martalha do amor, adeus”. É comum para muitas pessoas, viver esta experiência da saudade, principalmente, nas comemorações de final de ano, quando as famílias se reúnem. Pois a cada ano que se passa, sempre vai faltar alguém naquela mesa e a saudade deste faz doer na alma.   

Entretanto, na mitologia hindu, a “mãe-terra” queixa-se a Bhama da sobre carga que tem que suportar com o aumento crescente da população no mundo. Bhama então diminui a sua energia criadora e como resultado surge uma mulher de vermelho a que chamou de “morte”. Bhama ordena a morte que retire há seu tempo, todas as pessoas do mundo. A morte se retrai e sofre solitária porque não será compreendida quando tiver que separar os seres que se amam. Bhama transforma as lágrimas da morte em doenças e determina que através delas os seres sejam eliminados. Voltando a parafrasear Chico Buarque sobre o sofrimento com a presença da morte, ele nos mostra que: “a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.

Na “Parábola do Grão de Mostarda” da doutrina budista conta que uma mulher, tendo aos braços o filho morto, recorre a Buda e suplica que o faça reviver. Buda na sua imensa sabedoria pede para essa mãe, que consiga em qualquer casa de família, alguns grãos de mostarda que esse devolverá a vida ao seu filho. No entanto, esses grãos terão que ser obtidos numa casa onde nunca morreu ninguém da família. Esta casa não é encontrada pela mãe e ela compreende uma das lições fundamental do budismo: “a de ter que contar sempre com a morte”.

Portanto. é entre o símbolo e o mito, a negação da morte e sua compreensão e aceitação que o homem se equilibra. Mas, vale lembrar, que o homem se equilibra na corda do tempo. E se é da análise deste tempo que se delineia a morte, determinada que está irremovível entre permanência e transitoriedade, o próprio momento contém esta grande tensão humana, pois se existe morte e se existe momento não é natural pensar também na morte do momento? Logo, todo o milagre da vida, todo deslumbrante drama humano em que naturalmente a morte se inclui, seria recriado sempre em todo, em qualquer momento. Um dia vamos virar pó e seremos apenas uma lembrança na memória de alguém.      

25 de dezembro de 2016

REPENSAR O SENTIDO DO NATAL

Qual a reação das pessoas diante de uma das datas mais importante do calendário cristão? Esta resposta que parece simples, mas não é. Se levarmos em conta o contexto social e histórico da humanidade, teremos a resposta. Segundo o sociólogo e padre Francisco Lima Soares, explica que existem aproximadamente sete bilhões de pessoas no mundo, mas apenas 2,9 bilhões celebram o Natal como a festa do nascimento de Jesus Cristo. Para ele o ritual cristão tem dois sentidos: “espiritual e comercial”. Qual o nosso sentido existencial neste mundo coisificado pelos valores materiais. O cristianismo vai nos mostrar que temos sentido quando saímos do mundo sensível para o mundo espiritual ou metafísico. Entender que o nosso ser é mais importante que o ter.

Esta mudança de comportamento no mundo moderno se deve ao alcance científico e tecnológico provocado pelo homem, cujo resultado foi à inversão dos valores de um povo. Esqueceram que dia 25 de dezembro ainda é Natal. O menino Jesus que nasceu nesse dia, a mais de vinte séculos, deve estar preocupado com o mundo em que viveu e, apesar de toda a sua imensa sabedoria não deve entender as razões de tamanhas mudanças. Não deve estar entendendo como podem, as mesmas pessoas no dia do Natal se cumprimentarem de coração aberto, com um sorriso nos lábios e passado os encantos do Natal, estão todos amardos e prontos para destruir o outro. Completamente desprovidos de generosidades, condescendência, bondade e compaixão. Parece que essa história de amor vivida no Natal está acabando e as relações humanas estão se deteriorando. Há uma descrença generalizada.

Construa a sua Arca”, é uma linda “história de amor” contada pelo ator, produtor e diretor de cinema Morgan Freeman (1937), parece uma oportunidade e ele faz a seguinte indagação: “Se alguém rezar pedindo paciência, acha que Deus dará paciência? Ou Deus dará a oportunidade de ser paciente? Se pedirmos coragem, Deus nos da coragem ou nos da à oportunidade de sermos corajosos? Se alguém pede que a família seja mais unida, acha que Deus vai unir a família com amor e alegria? Ou da a eles a oportunidade se amarem?” Nesse sentido, o Natal é uma oportunidade para consolidarmos no amor com o próximo. Com fé e determinação é que vamos continuar neste projeto que começou com Jesus Cristo a mais de dois mil anos.

Jesus Cristo não pode entender porque o Natal funciona apenas como uma trégua, diante de uma imensa desigualdade social, discórdias afetivas e familiares, da guerra que as pessoas travam diariamente contra seu próximo e a si mesmo. Ele que viveu entre nós e é o símbolo da nossa existência, ainda não perdeu a esperança em nós. Ele acredita que a qualquer momento nós iremos perceber que a guerra e o ódio é um grande equívoco. Não podemos pedir a Deus que acabe com as guerras e com a maledicência humana. Para isso Deus mandou o seu filho para nos mostrar que o mundo foi feito de uma maneira que o ser humano possa encontrar seu próprio caminho para o amor e para paz, ao lado do seu semelhante.

Portanto, a mensagem que Jesus nos deixou foi à seguinte: “cumpra o projeto que Deus determinou que é amar sempre, demonstrando gestos de gentileza e respeito pelo outro”. Ser justo e não julgar o outro pelas suas fraquezas. Pensar muito sobre suas ações. Sentir o que realmente sente pela vida, pois somos um ser de luz e de amor. Como dizia Paulo de Tarso: “a inteligência da letra mata o espírito se além dessa letra mortífera não vier o espírito vivificante e o despertar desse espírito não vem pela letra”. Nesse sentido, meditar é mergulhar nesse espírito iluminado. Contudo, o nosso desejo é fazer o possível para que este amor permaneça e assim aperfeiçoamos neste projeto de vida e devolvemos para Deus o dom que nos confiou e estampou em cada um de nós, como a sua imagem e semelhança. Não compreendemos os mistérios do criador e nem suas razões. De modo que vou levar adiante minha missão que é falar de amor e paz. Ainda quero ver um mundo melhor, pautado no respeito e na compaixão. Um Feliz Natal a todos, no verdadeiro sentido da palavra.    

20 de dezembro de 2016

SAUDADE É AMAR UM PASSADO QUE NOS MACHUCA

Há momentos na vida em que sentimos tanta a falta de alguém, que desejamos do fundo da alma tirar esta pessoa do nosso pensamento e colocá-la de pé a nossa frente, só para abraçá-la e dizer: como estou feliz agora. Como é bom viver e sentir saudades de quem compartilhou da nossa história. De modo que possuímos apenas uma única vida e nela temos a chance de fazer aquilo que nos da prazer, principalmente, quando se ama. Muitas vezes as pessoas mais felizes não têm as melhores coisas de que têm direito. Mas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seu caminho. A felicidade aparece para aquele que chora, que se machuca, que busca e tenta sempre, trilhar o caminho do bem. É importante reconhecer as pessoas que passam pelas nossas vidas e deixam lembranças. O maior reconhecimento está no respeito que temos pelo outro e no amor que sentimos por alguém especial. Porém, o futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido, que só trará sucesso quando aprendermos a perdoar os erros e as decepções que guardamos do passado.

A nossa passagem pela vida é rápida demais, mas as lições que podemos deixar nos corações daqueles que amamos é o que vai ficar para sempre como um grande legado da nossa existência. A vida não é para ser vivida como algo descartável, porque um belo dia vamos deixar este mundo e desaparecer. Sabemos que vamos morrer, mas, morremos sem saber. No entanto, pode ser que algumas pessoas, por algum motivo, um dia deixaram de se falar. Mas, enquanto habitarem este mundo há uma grande possibilidade de fazerem as pazes novamente. Aprendi com a experiência que a distância serve para unir as pessoas que se amam verdadeiramente, sendo que a saudade serve para dar a absoluta certeza de que irão ficar unidas para sempre no coração. Alguém sempre vai estar no coração de alguém. Segundo o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), considerado o maior escritor de todos os tempos, certa vez escreveu: “as viagens terminam com o encontro dos apaixonados. Quando tudo está machucando o meu coração e acho que não tenho mais forças para continuar; eis que surge tua doce presença, como o esplendor de um anjo; e me envolvendo como uma suave brisa aconchegante. Tudo isso acontece porque amo e penso em você”.

Portanto, saudade é amar um passado que nos machuca no presente. É deitar na cama e lembrar-se das ardentes reconciliações depois de brigas homéricas por motivos fúteis. Depois que passa a raiva, nem lembram porque brigaram. Quando se separam, fica a saudade do dia chuvoso, do café da manhã na cama, daquela viagem inesquecível. A saudade só não mata porque tem o prazer da tortura. Saudade é o amor que não foi embora. É imaginar onde a pessoa amada possa estar ou se ainda gosta daquele vinho. Sentir saudade é a ausência daquela companhia. A saudade é a inconfortável expectativa de um reencontro. Contudo, às vezes a saudade é tão grande que nem é mais um sentimento. Já nos transformamos em saudades. Ansiosos para encontrar o olhar da pessoa amada em cada improvável esquina. Sorrimos com os lábios de felicidade, enquanto o nosso coração está sufocado. Mesmo a saudade sendo feita para doer, às vezes percebemos que ela é o meio mais eficaz de enxergar o quanto amamos alguém, no passado ou no presente. Se hoje sentimos saudades é porque tivemos na vida, momentos de alegria na companhia de pessoas especiais. Enfim, a saudade que agora nos machuca, nada mais é do que uma dívida sendo paga, pelo amor que um dia usufruímos ao lado de quem amamos.  

17 de dezembro de 2016

FRAGILIDADE HUMANA NOS LAÇOS AFETIVOS

O mundo não é humano só por ser feito de seres humanos, nem se torna assim somente porque a voz humana nele ressoa, mas apenas quando nós humanizamos o que se passa no mundo e em nós mesmos. Todavia, é falando dos nossos sentimentos que aprendemos a ser humanos. Por outro lado, essa insegurança afetiva é alimentada pela instabilidade do mercado de trabalho, pelas mudanças constantes do valor atribuído às posições sociais e às competências do passado, pela inconsistência dos compromissos e das parcerias. Porém, é neste contexto, que produz as grandes dificuldades de relacionamento entre os casais, os familiares e as pessoas em geral. Na “modernidade líquida”, descrita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), as pessoas se sentem desligadas umas das outras e, assim, desejam conectar-se através do virtual. O que está em jogo é a fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança resultante disso e o dilema entre estreitar os laços afetivos e, ao mesmo tempo, manter uma distância considerada conveniente. O chamado relacionamento de bolso, que podem ser usado de acordo com os interesses de cada um.

No entanto, as pessoas preferem usar o termo conectar-se, em vez de relacionar-se; no lugar de compromisso real preferem falar em redes sociais. Nossa cultura consumista da preferência ao produto pronto para uso imediato, ao prazer intenso e passageiro, à satisfação instantânea. É as chamadas relações líquidas, que vai pelo o ralo. O amor, ao contrário, exige equilíbrio, doação e esforços prolongados. Amor e desejo são irmãos gêmeos, mas não idênticos. O desejo consome, devora e aniquila. O amor preserva, aprisiona e possui, mostrando que um está para o outro. Nos relacionamentos afetivos, o lucro pretendido configura-se em segurança, proximidade, companhia, consolo, ajuda mutua e apoio. Na verdade, o que amamos no outro é a possibilidade de sermos dignos de amor. Considerando que isto seja impraticável, como será possível desenvolver a solidariedade, a justiça e o convívio pacífico que consideramos a única saída para a humanidade?

Entretanto, os programas de TV como o Big Brother é um péssimo exemplo, por trazer a mensagem de que ninguém é indispensável. Os outros devem ser superados e descartados. São antes de qualquer coisa competidores a serem derrotados a qualquer custo. As forças da globalização dissolvem o mundo pessoal e os sujeitos procuram agarrar-se a si mesmo. Tudo isso produz uma luta por sentido e identidade. A produção e reprodução da ordem social e o progresso econômico são as principais causas da seleção, do descarte e da exclusão das pessoas que não se adaptam à nova ordem social. A nudez social e a imaginada comunidade global são fatores com os quais as pessoas se defrontam diariamente e o único consolo diante da realidade sombria da modernidade líquida é a constatação de que a história ainda não terminou e que escolhas ainda podem ser feitas. Precisamos estimular o diálogo e a abertura ao outro, no sentido de aproximar a história do ideal de comunidade humana. Lembrando que nossa vida está apoiada em coisas que não passam como: o amor e a esperança.

Portanto, quando encontrar alguém fazendo coisas diferentes, que você não entende, não o julgue ou comece a dizer que ele está errado, que é um estúpido, um mentiroso, um velho fracassado e vazio. Olhe bem para esse ser humano e diga a você mesmo: “não compreendo muito bem essa pessoa, mas espero que ela esteja trilhando pelo caminho do bem, assim como também, espero estar seguindo o meu caminho na direção certa”. De modo que, viver é consumir-se no “amor” e no “respeito”, dialogar é perder-se no “outro”. Porque, a vida é interpenetração total das “almas” e da nossa “inteligência”. Amar é mergulhar na divindade cósmica. Só os egoístas não dialogam por medo de expor sua fragilidade afetiva. Mal sabem que dialogar é estar um do lado do outro no amor pleno e conviver na sabedoria. Contudo, se quer conquistar um coração tem que ter garra e esperteza, não à esperteza que todos conhecem e sim a esperteza de sentimentos, aquele que temos guardado na alma. Todo coração solitário, dividido ao meio, reclama pela sua outra metade, que por vontade própria, sem que precisemos impor nossa vontade, ela retornará para completar o que nos falta. Agora somos dois numa só carne. Quando isso acontece, valtamos a viver no paraíso até que a morte nos separe.  

14 de dezembro de 2016

AMAR AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO

Embora saibamos que tudo que vive é o nosso próximo, esta máxima de amar ao próximo como a ti mesmo é a coisa mais difícil de acontecer no mundo moderno. Pois andamos tão esquecidos e ultrajados de nós mesmos que nem damos conta da existência de outros em nossas vidas. Somos completamente alienados pelas novas plataformas digitais, compartilhando, escrevendo e falando feito papagaio. E ninguém enxerga ninguém, mas estão todos conectados para receber algumas curtidas e se realizar. Fala-se tanto em superar os pragmatismos da política parasitária, da educação falida, da saúde carente, mas, e o seu papel de cidadão, tem cumprido? Têm aberto os olhos para o que de fato importa? Tem analisado seus comportamentos e condutas diárias? Será que pode mudar alguma coisa na vida de alguém? Será que consegue tornar-se mais humano para os que estão ao seu lado? São muitas questões para pensar. São muitas pessoas que depreciam o valor do pensamento, na realidade, estão perdendo o contato consigo e com o viver plenamente. Estão perdendo a capacidade para experiências emocionais profundas e verdadeiras. Ao invés de ficar alfinetando aqueles pensam.

Com efeito, é possível amar o próximo? É uma das preocupações máxima e fundamentais da vida civilizada. É também o que mais contraria o tipo de razão que a civilização promove: a razão do interesse próprio e da busca da felicidade. O preceito fundador da civilização só pode ser aceito como algo que faz sentido, que seja praticado se nos rendermos a uma teologia cristã de amor ao próximo. É suficiente perguntar por que devo fazer isso? Que benefício me trará? Para sentir o absurdo da exigência de amar o próximo. Se amar alguém, essa pessoa deve ter merecido de alguma forma. Eles o merecem se são tão parecidos comigo de tantas maneiras importantes que neles posso amar a mim mesmo. E se são tão mais perfeito do que eu, logo posso amar neles o ideal daquilo que sou quando amo. Quero amar mesmo sem ser amado. Aprendi que se quiser ser amado, ame primeiro.    

Entretanto, se ele é um estranho para mim e se não pode me atrair por qualquer valor próprio, ou significação que possa ter adquirido para a minha vida emocional, será difícil amá-lo. Amar o próximo como a ti mesmo coloca o amor-próprio como um dado indiscutível, como algo que sempre esteve ali. O amor-próprio é uma questão de sobrevivência, e a sobrevivência não precisa de mandamentos, já que outras criaturas vivem muito bem sem eles. Amar o próximo como se ama a ti mesmo torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva. O preceito do amor ao próximo desafia e interpela os instintos estabelecidos pela natureza, mas também o significado da sobrevivência por ela instituído, assim como o do amor-próprio que o protege. O que significa amor-próprio? O que eu amo em mim mesmo? O que eu amo quando amo a mim mesmo? Nós, humanos, compartilhamos os instintos de sobrevivência com nossos primos animais mais próximos. Quando se trata de amor-próprio, nossos caminhos se separam e seguimos por conta própria.

É verdade que o amor-próprio estimula a gente a se agarrar à vida, a tentar a todo custo permanecer vivo, a resistir e enfrentar o que quer que ameace pôr fim à nossa vida de modo prematuro ou abrupto, ou, melhor ainda, a melhorar nosso vigor e aptidão física para tornar efetiva essa resistência. Pois o que amamos em nosso amor-próprio são os eus apropriados para serem amados. O que amamos é o estado, ou a esperança, de sermos amados. De sermos objetos dignos do amor, sermos reconhecidos como tais e recebermos a prova desse reconhecimento. Em suma para termos amor-próprio, precisamos ser amados. A recusa do amor, a negação do status de objeto digno do amor, alimenta a autoaversão. O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros. Se na sua construção forem usados substitutos, eles devem parecer cópias, embora fraudulentas, desse amor. Outros devem nos amar primeiro para que comecemos a amar a nós mesmos.

De modo que o amor-próprio é resultado de sermos amados. Quando a pessoa percebe que sua voz é ouvida, que sua opinião é importante ou que sua presença será sentida, ela entende que é única, especial e digna de amor. Só o outro pode dizer que somos dignos de amor, o que fazemos é reconhecer a existência do amor-próprio, pelo simples fato do outro existir em nossas vidas. Num processo de identificação com aquele que nos ama, também entendemos que nele existe a necessidade de ser amado. Compreendemos a sua singularidade. Amamos quando nosso ego se identifica com o outro e, desta forma, amamos a nós, merecedores de amor, e amamos o outro identificado. Amar ao próximo como a ti mesmo a máxima que funda a moralidade, porque só o instinto de preservação não é suficiente para a sobrevivência das relações humanas. Em uma sociedade de pura incerteza em relação ao outro, o amor nos é negado, assim como é negado à dignidade de ser amado. Não há amor-próprio e não há injunções sociais que prescrevem o amor ao próximo, fazemos dele algo fundamental na vida em sociedade. Amar o próximo não é natural, na verdade é algo contra nossos instintos mais básicos: por isso é o ato fundador da moralidade. Contudo, se para amar ao próximo precisamos cada vez mais de normas pré-estabelecidas pelos códigos penais, então o caminho da sociedade é para autodestruição.

Portanto, um dos primeiros mandamentos de Jesus Cristo é amar o teu próximo como a ti mesmo. As pessoas precisam sentir que são amadas, ouvidas e amparadas. Precisam saber que fazem falta, que são dignas de amor. Isto é algo que só o outro pode nos classificar. Com tantas incertezas, nas quais o amor nos é negado, como teremos amor-próprio? Os amores e as relações humanas de hoje são todos instáveis, e assim não temos certeza do que esperar. Há uma lógica de segregação espacial e social, decorrente da sensibilidade alérgica e febril aos estranhos e ao desconhecido e da incapacidade de aceitar e cuidar do humano, em função da ausência de compromisso com o próximo. O medo instaura-se. Amar o outro como a ti mesmo significa comprometimento, vinculo, querer para o outro aquilo que se tem. Mas boa parte dos indivíduos encarcerados em seus condomínios, preocupados em salvaguardar uma moral decadente, apontando para o outro a falha que é sua. Contudo, existe uma necessidade urgente de se buscar uma humanidade comum para que seja novamente possível unir projetos individuais e ações coletivas, para que se possa ter a consciência da angústia do eterno recomeçar. Enfim, relacionar-se é caminhar na neblina sem a certeza de nada, talvez seja uma descrição poética dessa relação de amor. 

10 de dezembro de 2016

IGNORÂNCIA SE COMBATE COM EDUCAÇÃO

A violência vem do medo. E o medo vem da incompreensão e esta vem da ignorância de muitos. No entanto, a ignorância se combate com educação. De modo que, educação é preparar a pessoa para o futuro. Pena que os governantes pensam que isso é instrumentalizar mão de obra para uma indústria que está se desenvolvendo, instruir para a cidadania de modo que o individuo seja cumpridor de leis. Mas, se só pensarem desse jeito, nós não teremos muito futuro. Corremos o risco de formar uma geração, para viver como nós, sendo este um mundo inviável. Um bom engenheiro, um bom agricultor, o que eles vão fazer? Desmatar mais terrenos ou plantar mais? Sabemos que isto tem impacto no meio ambiente. Temos que produzir mais alimentos, mas, não devemos sacrificar uma fonte vital, como a água e as árvores. O que cabe a nós, educadores, engenheiros e pesquisadores? Encontrar alternativas, para melhor conviver com a natureza.

A começar pelo aspecto sensível e espiritual. Na hora em que o homem constrói uma usina hidrelétrica e cobre um lugar onde estavam as raízes de muitas pessoas, não percebe a angústia que gerou. A tão falada transposição do rio São Francisco, se passasse por outra região, beneficiaria mais gente. Há méritos nisso. Por outro lado, as pessoas que hoje estão perto dele sentirão um vazio quando ele mudar de lugar. Não estamos pensando no impacto desse vazio quando ele mudar a médio e longo prazo, como vai ser a vida desse povo que dele depende. É mais ou menos o que acontece com uma árvore sem raiz. Se bater um vento forte, ela tomba. Assim se da com o individuo que imigrou para fugir da seca, para fugir da violência, para buscar novas oportunidades. O que acontece com ele? Como fica seu passado e sua tradição?

Portanto, a escola básica tem como responsabilidade valorizar a cultura dos pais desses alunos. Estimular a curiosidade da criança, pedindo para ela perguntar aos pais, por exemplo, como era a vida deles quando tinha a idade dela. Como eram as brincadeiras. Dificilmente uma criança vai para casa perguntar uma coisa que só os pais sabem. De modo que os filhos dos engenheiros, dos agricultores, dos educadores e outros profissionais, enfrentam o seguinte problema: a falta de tempo dos pais. Os pais pagam professor particular, compra notebook de ultima geração, mas não estuda com o filho. A comunicação continua interrompida entre as gerações. Ao trabalhar com isso, a escola devolve a dignidade desse futuro cidadão. Quando os pais se tornam detentores de um conhecimento que interessa ao filho, ambos se beneficiam. Isso valoriza a geração mais velha e da às crianças legitimidade para admirar os pais. Vale lembrar, que essa geração mais velha tem algo a nos oferecer e ensinar. E é nisso que se inserem as tradições. E neste contexto o papel da escola é fundamental. Tirar-nos da ignorância, mostrando que o verdadeiro sábio é aquele que sabe que nada sabe. 

3 de dezembro de 2016

EDUCAR PARA PAZ É O CAMINHO

Todo o conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. O conhecimento é uma forma de compreender a verdade, é um apanhado de elementos limitados pela nossa possibilidade de apreender e assimilar. A aprendizagem é uma relação entre o indivíduo e seu meio. É construído a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento, interagindo com ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do pensamento. Buscar-se aprender conteúdos, aprofundar julgamentos, metodologias que ajudam o sujeito a desenvolver a habilidade de continuar aprendendo, num procedimento contínuo e simultâneo de questionar-se. A chamada maiêutica socrática. A arte de perguntar.

Devemos procurar desenvolver a consciência de que o ser humano é ao mesmo tempo indivíduo, parte da sociedade e parte da espécie (ética do gênero humano). A condição de “ser humano” relaciona-se ao desenvolvimento das autonomias individuais, das participações em sociedade e do sentimento de pertencer à condição humana. Além do mais, devemos como educadores assumir o compromisso de propiciar momentos para a construção da cidadania planetária, baseada na responsabilidade universal, frente à complexidade do mundo contemporâneo, como exigência de articular a heterogeneidade dos contextos, as subjetividades, as identidades e os saberes. A educação deve ser questionadora, indagando sempre as incertezas ligadas ao conhecimento.

Na sociedade onde a competitividade é o ponto forte, temos que buscar a paz entre os cidadãos. A educação para a paz deve ser basicamente uma meta a ser atingida. A paz converte-se num processo contínuo e acessível em que a cooperação, o recíproco entendimento e a confiança em todos os níveis ajustam as bases das relações interpessoais e intergrupais. Na educação para a paz devemos buscar mudar o modo de sentir, que muda o modo de pensar, que muda o modo de falar, que muda o modo de agir. A cultura da paz baseia-se no diálogo, que visa abrir questões, estabelece relações, compartilha ideias, questiona e aprende, compreende, faz emergir ideias, busca a pluralidade de conceitos.

Por conseguinte, ao incorporarmos a cultura da paz em nosso cotidiano, nos disponibilizamos ao diálogo, a escuta, a tolerância, a generosidade, ao comprometimento, mas, também à consciência do inacabamento, ao reconhecimento de ser condicionado e da dupla existência da verdade. Tendo consciência do processo de inacabamento, constatamos que a educação é uma formação continuada. Contudo, a paz é um processo contínuo e permanente em nossas vidas. Concluo com uma frase do monge budista e líder espiritual tibetano Dalai Lama (1935): “Descobri que o mais alto grau de paz interior decorre da prática do amor e da compaixão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes, maior o nosso próprio bem-estar. Ao cultivarmos um sentimento profundo e carinhoso pelos outros, passamos automaticamente para um estado de serenidade. Esta é a principal fonte da felicidade”. 

26 de novembro de 2016

PODE SER QUE UM DIA O TEMPO PASSE

Pode ser que um dia deixemos de nos falar, mas, enquanto houver amizade sempre há a possibilidade de fazermos as pazes novamente. Certamente um dia o tempo vai passar, mas, se a amizade permanecer, um ou outro há de se lembrar. Pode ser que um dia nos afastaremos, mas, se formos amigos de verdade a amizade nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos, mas, se ainda sobrar amizade, nasceremos de novo um para o outro. Pode ser que um dia tudo se acabe, mas, com a amizade construiremos tudo novamente. Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Seria maravilhoso conviver se as pessoas tivessem mais respeito em um mundo cheio de dor e injustiça. Quantas pessoas são infelizes na sua subjetividade. Algumas dizem que amam e tem fé em Deus e são incapazes de cultivarem amizades solidas e duradouras. Presume-se também que a amizade é um gesto de amor fraternal. Às vezes me pergunto! Depois de anos de convivência, por que tem que odiar ou perseguir o outro? Agora que aprendemos um pouco um do outro, que tal uma amizade alicerçada na confiança? Ninguém é culpado porque ama ou deixou de amar. Se cuidar bem do amor, às vezes ele dura um bom tempo, muitas vezes até o fim da vida. Se não cuidar ele acaba mais ou menos depressa. As pessoas realmente precisam conhecer o verdadeiro significado do que é amar e ter fé em Deus. Por que não resolver as coisas naturalmente, com serenidade e sabedoria? Ninguém pode garantir que amará a vida inteira. Quem pode fazer esta promessa? Acabou-se o interesse entre duas pessoas, nem por isso precisam se maltratar ou ficar inimigas. Seria uma infantilidade dispensar a amizade depois de anos de convivência. Quantas intimidades não trocaram.

O nosso amor é uma miséria. Amamos na proporção do “quociente de inteligência” (Q.I.) de uma ostra (com todo o respeito às ostras) e achamos que isto é um grande amor. Um amor que só serve para provocar brigas e aborrecimentos. Somos egoístas até no momento de amar. Esquecemos que amar é doação, um entregar-se constante ao outro. Há duas formas para viver a vida: uma é acreditar que não existe milagre e a outra é acreditar que todas as coisas boas da vida são milagres. No livro: “A Identidade” do escritor tcheco Milan Kundera (1929), afirma que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. E vai além dizendo: “que toda a amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos”.

Portanto, amigo é aquele individuo que o tempo não apaga, que a distância não esquece e que a maldade não destrói. É um sentimento que vem de longe, que ganha lugar no seu coração e você não substitui por nada. É alguém que você sente presente, mesmo quando está longe, que vem para seu lado quando você está sozinho e nunca nega um sentimento sincero. Amigo não é coisa de um dia, são atos, palavras e atitudes que se solidificam com o tempo e não se apagam mais. O que fica para sempre, como tudo o que é feito com o coração aberto. Contudo, precisamos de um amigo para conversar com o coração. Se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco de nós para o outro, senta ao lado dele assim mesmo. Deixa os olhos se encontrarem vez ou outra, até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao lado dele e deixa o silêncio de ambos conversarem espiritualmente. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras. Um olhar é capaz de traduzir o que sente e diz um coração.  

23 de novembro de 2016

O HOMEM SONHA COM A PAZ

Já dizia o poeta: “desde o começo do mundo que o homem sonha com a paz, ela está dentro dele mesmo. Ele tem a paz e não sabe, é só fechar os olhos e olhar para dentro de si mesmo”. E o poeta vai além: “tanta gente se esqueceu que o amor só traz o bem, que a covardia é surda e só ouve o que convém”. Na verdade, quando a paz foi ensinada, pouca gente escutou. Baseado no texto dessa música de Roberto Carlos (1941): “todos estão surdos”, reitero esta afirmativa citando uma experiência minha, que só o amor nos transforma. Há cinco anos atras numa bela noite de setembro, as véspera da primavera o ar se encheu de amor em todo o seu esplendor e os anjos cantaram. O seu canto ecoou pelos campos, subiu as montanhas e chegou ao universo dos nossos corações. Naquela noite uma estrela brilhou no céu mostrando qual seria o caminho a seguir. Através desse caminho descobrimos o amor e a paz de espírito que hoje nos preenche. Se vamos ou não seguir adiante, só depende de nós.  

Mas, temos que lidar com as barreiras do orgulho. Talvez isso explique muita coisa. Por exemplo, por que nos machucamos tanto, a ponto de magoar um ao outro? Certa vez um sábio indiano, fez a seguinte pergunta a seus discípulos: - Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas com o outro? – Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles. – Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? Questionou novamente o mestre. – Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo. E o mestre insiste na pergunta: - Então não é possível falar-lhe em voz baixa? Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o sábio hindu. Então ele esclareceu: - vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido com ela? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.

Por outro lado, continua o mestre, o que sucede quando duas pessoas que se amam estão em harmonia? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto e suas almas interligadas. Não há distância entre elas. Muitas vezes estão tão próximos os seus corações, que nem falam, somente sussurram, estão entorpecidas de amor. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam, estão próximas. Por fim, o sábio conclui, dizendo: “Quando vocês discutirem, não deixe que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta”.

Portanto, foi graças a uma amarga experiência, a única suprema lição que tive que aprender: “é saber controlar a ira”. E do mesmo modo que o calor conservado se transforma em energia, assim a nossa ira controlada pode transformar-se em uma função capaz de mover o mundo. Não é que não fico irritado ou perco o controle. O que não posso é dar espaço para a ira. Cultivo a paciência e a mansidão, de modo que, pelo menos tento. Mas quando a ira me assalta, limito-me a controlá-la. Será que consigo? É um hábito que cada um deve adquirir e cultivar com uma prática assídua. Concluo esta reflexão citanto o sábio e idealizador indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que dizia: “tenha sempre bons pensamentos, porque os seus pensamentos se transformam em suas palavras. Tenha boas palavras, porque as suas palavras se transformam em suas ações. Tenha boas ações, porque as suas ações se transformam em seus hábitos. Tenha bons hábitos, porque os seus hábitos se transformam em seus valores. Tenha bons valores, porque os seus valores se transformam no seu próprio destino”. É por esse caminho que procuro trilhar, na paz e no amor de Cristo.

21 de novembro de 2016

O SEGREDO É TREINAR O CORAÇÃO

Sabe qual o grande problema quando nós não estamos nessa luta pessoal para resolver os problemas da nossa vida intima, o mais grave é que não resolvemos. Não resolvemos porque nós não explicitamos a Deus nas nossas orações, aquilo que verdadeiramente precisamos. A nossa realidade, a nossa vida em geral, seja lá o que for, ela nunca é aquilo que a gente vê ou mostra. Perdemos com facilidade a admiração pelos humanos e, contudo, o amor cai junto. Quando olhamos para o outro, sempre olhamos com os olhos que fomos treinados para ver. O segredo é treinar o coração para ver e enxergar. No livro “O Pequeno Príncipe” diz a raposa: “só se  bem com o coração”. E sabe por quê? Porque o essencial é invisível aos olhos.

O que significa que a raposa ao dizer para o pequeno príncipe, que só se vem bem com o coração ela estava dizendo que os olhos vêem a realidade do mundo das aparências e não dos fatos. Nunca olhamos para as pessoas, e quando olhamos não as enxergamos e sim projetamos nela as nossas fraquezas e frustrações. E quando a vemos projetamos as coisas negativas do nosso passado, da nossa história de vida. De modo que a luta pessoal para resolver os problemas da vida intima, exige muita paciência, perseverança, persistência, é um cair e levantar constante, sem desistir. Só os covardes desistem, para tudo sempre tem uma saída jeitosa. Neste caso o amor é mais falado do que vivido e por isso vivemos um momento de secreta angústia.

Enquanto não enxergarmos aquilo que é, somos um cego diante da vida. Um texto fora do contexto, vira pretexto. Somos treinados a olhar para as pessoas e isolamos o momento, fechamos a lente e não concentramos na visão do nosso coração. Contudo, estamos todos numa solidão e ao mesmo tempo cercados por uma multidão. A pessoa não é aquilo que gostamos, então levamos essa imagem para os outros (fulano não vale nada, é um canalha mentiroso, um insensível desalmado). Se quiser enxergar uma pessoa como realmente ela é se afaste um pouco e a visualiza de fora, procurando ver e analisar o contexto dela. Pessoas pessimistas só deturpam a realidade dos fatos. De modo que vivemos uma sociedade desfigurada, fragmentada com grande necessidade de fé em Deus. Só um milagre pode provocar uma grande mudança coletiva dos humanos.

Portanto, o milagre precisa acontecer dentro do coração de cada um de nós. Só para usar uma linguagem platônica, tudo que existe de concreto na vida, começou primeiro no mundo das ideias. Porém, antes de existir na nossa cabeça, já era gestado no nosso coração. No entanto, não experimentamos milagres fora, porque não pensamos em milagres dentro, no coração. Pior, pensamos em desgraça, pensamos mal do outro, pensamos que nada vai dar certo, que tudo vai dar errado e ficamos jogando a culpa nos outros, no governo, no mundo, etc. Ninguém é culpado pelo mal que você está vivendo. Pare de culpar pessoas, pare de culpar seu passado. Comece a pensar num milagre, mas para pensar num milagre gesta primeiro o milagre no seu coração. O grande milagre foi quando aqui chegamos, geramos e transformamos vidas. Isto é milagre, pois aprendemos a enxergar com o coração o amor que ainda não conhecíamos. Aprendi com a vida, que para amar é necessário reconhecer que temos necessidade do outro.  

16 de novembro de 2016

UM CASAMENTO ROMÂNTICO E PRAZENTEIRO

O tema casamento teve uma atenção especial pelo saudoso psiquiatra e educador Flávio Gikovate (1943-2016), que nas suas analise sobre as relações afetivas entendia o quanto as pessoas se machucam quando estão envolvidas e tomadas de amor pelo outro. Quando na verdade, poderia ser ao contrário. Do ponto de vista teórico, os casamentos com altos e duradouros lances de romantismo deveriam ser muito mais frequentes que aqueles baeados em uma sexualidade rica e exuberante. Mas, na prática, isso não ocorre. Não que seja tão comum às uniões sexualmente satisfatórias, mas que são raríssimos os casais que conseguem viver, ao longo de vários anos, uma experiência sentimental iluminada e prazenteiro, daquelas de encher o coração de alegria e os olhos de lágrimas, de tanta emoção.

Por outro lado, as coisas costumam ser mal colocadas desde o começo. A grande maioria dos casamentos ocorre entre uma pessoa apaixonada e outra que prefere ser objeto da paixão. Enquanto a primeira, talvez mais generosa, oferece a segunda que é mais egoísta, o seu amor, sendo que a mais generosa tem a coragem de amar. A egoísta tem medo de sofrer e se protege da dor do amor ao não se abrir demais para a relação.

Os casamentos desse tipo apresentam momentos iluminados e muito prazenteiros, é claro. Possibilitam até mesmo uma vida sexual de permanete conquista. Sim, porque o egoísta nunca se entrega totalmente ao outro, de modo que o generoso estará sempre tentando conquistá-lo. Esse fenômeno costuma gerar alguns instantes de profundo encontro, mas são momentos, que logo se desfazem. E o corre-corre das brigas e da luta pela conquista volta. No entanto, esse é apenas um dos aspectos da questão em pauta.

Outro fator de peso está nas diferenças de temperamento, de gosto de interesses. Na vida prática, no dia a dia, as divergências de opinião e a falta de um projeto comum provocam irritação permanente. E isso não vale só para as grandes diferenças. O cotidiano se faz realmente nas pequenas coisas: “Onde vamos jantar? Que amigos vamos convidar? Onde vamos passar as férias? A que filme vamos assistir?” E assim por diante. São justamente estas pequenas contradições que provocam a irritação, a raiva e, portanto, a maioria das brigas. As afinidades aproximam as pessoas, enquanto as diferenças as afastam. Além do mais, a oposição é a raiz da inveja: “o baixo inveja o alto; o gordo, o magro; o preguiçoso, o determinado; o introvertido, o sociável”. Em outras palavras, a inveja é inimiga do diálogo. Nesse tipo de união, as brigas serão o normal e os momentos de encontro e harmonia serão exceções cada vez mais raras.

Argumenta Gikovate que do ponto de vista teórico, a felicidade romântica no casamento poderia ser bastante comum porque o amor não padece do desejo de novidade que tanto agrada ao sexo. Ao contrário, o amor é apego, é vontade de aconchego, de tranquila intimidade. Trata-se de um sentimento que floresce e frutifica melhor quando tudo é exatamente igual e antigo. Gostamos da nossa casa, daquela velha roupa que nos agasalha tão bem. Gostamos de voltar aos mesmos lugares do passado, da nossa cidade, terra querida como Botucatu-SP e Marília-SP, isto é um casamento perfeito. Queremos também sentir essa solidez e estabilidade com o nosso parceiro amoroso. Amor é paz e descanso e deriva justamente do fato de uma pessoa conhecer e entender bem a outra. Por isso, é importante que as afinidades, as semelhanças, predominem sobre as diferenças de temperamento, caráter e projetos de vida.

Portanto, seres humanos que se afinam na relação amorosa, poderão viver uma história de amor rica e de duração ilimitada. Não terão motivos para divergências. Não sentirão inveja. Dos raros casais que vivem em harmonia, só podem tirar lições das experiências, na perspectiva de que cada um deve procurar se unir para o bem comum do casal. Só assim o amor não será um momento fugaz. Para que a intimidade não se transforme em tédio e continue a ser rica e estimulante, é necessário que o casal faça planos em comum e que depois se empenhe em executá-los. Contudo, a vida é um veículo de duas rodas: só se equilibra em movimento. Para que duas pessoas se tornem uma unidade é preciso criar um objetivo: ter um ideal de vida. Seja qual for, é a cumplicidade que transforma o amor em algo fundamental. Fazer planos é sempre uma aventura excitante. É sobre eles que mais adoramos sonhar juntos. 

13 de novembro de 2016

AMAR É UMA VIRTUDE E UM ATO DE FÉ

Vivemos em um mundo de incerteza, extrema insegurança em relação à duração e à estabilidade de cada individuo dentro da sociedade. São tempos de relações sociais frágeis, que cada vez mais se tornam relações mercantilizadas e individualizadas. Não há mais um referencial moral, um lado a seguir, parece estar todos jogados à responsabilidade e risco de seguirem e construírem suas vidas sem porto seguro nenhum.

Para o pensador e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), nesse contexto a relação social, pautada em uma responsabilidade mútua entre as partes que se relacionam, é trocada por outro tipo de relação que Bauman chama de conexão. Ele tira esta palavra das análises de relacionamentos em sites de encontros. Em suas pesquisas ele percebe que o grande agrado dos sites de encontros está na facilidade de esquecer o outro, de se desconectar. Com esta facilidade as relações afetivas que poderiam ser de boa qualidade, estão se perdendo, aumentando cada vez mais o distanciamento entre os humanos.

Sem pressão para estabelecer responsabilidade mútua entre os envolvidos, o relacionamento se torna frágil, uma mera conexão, nova forma vigente de se relacionar na modernidade líquida. Todos podem, sem o menor remorso, trocar seus parceiros por outros melhores. Desta forma, a maior utilidade do termo “conexão” é evidenciar a facilidade de se desconectar. Para Bauman, quando a qualidade das relações diminui vertiginosamente, a tendência é tentar recompensá-la com uma quantidade absurda de parceiros. Talvez um bom exemplo seja a quantidade de amigos que as pessoas costumam ter em redes sociais. São números que ultrapassam a casa dos 300 a 500 amigos, algo que seria irreal para uma convivência cotidiana de boa qualidade.

Bauman em seu livro “Amor Líquido”, afirma que até mesmo a afinidade está se tornando algo pouco comum em uma sociedade de extrema descartabilidade. Não há razão para buscar na afinidade, sendo que não há o menor objetivo em firmar laços que sejam próximos do familiar. Não há objetivo de fixidez. As relações se desenvolvem com aquilo que “já se tem”, não com aquilo que ambos estão “a fim de ter”. Não se arrisca, por exemplo, a amar sinceramente a ponto de se entregar um ao outro. É na falta do verdadeiro amor que as pessoas se perdem. Não há amor pela causa, não há tentativa de manter um relacionamento com o programa de um coletivo.

No entanto, essa fixidez é renegada a favor da livre escolha, da decisão individual, que obriga o indivíduo a estar sempre disponível para voltar atrás. Com facilidade para descartar qualquer um que se atreva a contrariar. Sendo assim, será mais um descartável nesta relação líquida. A dificuldade em lidar com o outro está na falta das ferramentas necessárias para se iniciar um relacionamento verdadeiramente genuíno. O contato via rede social tomou o lugar de boa parte dos solteiros que iriam para bares em busca de parceiros, no entanto, os poucos que ainda os frequentam, não sabem mais como se relacionar em tal ambiente.

A situação de extrema insegurança e incerteza também se relaciona com a incapacidade de amar o próximo. O que quero dizer? Se o outro é sempre um possível inimigo, alguém que nos tira a possibilidade de aproveitar a vida de maneira plena, então não há sentido em amá-lo – no sentido pleno da palavra amor – em confiar na sua presença, em ter certeza que ele vale nosso amor. Bauman diz que o amor-próprio é resultado de ser amado. Esta é uma relação infinita e incessante: “quando a pessoa percebe que sua voz é ouvida, que sua opinião é importante ou que sua presença será sentida, ela entende que é única especial e digna de amor”. Só o outro pode dizer que somos dignos de amor. Que maravilha viver se todos soubessem conversar, mesmo depois de romperem um relacionamento de anos de intimidade e cumplicidade. Que é o mínimo que deveriam fazer um pelo outro. Atitudes adulta impera o respeito.

Vale dizer que num processo de identificação com aquela pessoa que nos amou, também entendemos que a necessidade de amor existe nela. Nós nos amamos quando nosso ego se identifica com o outro e, desta forma, amamos a nós, merecedores de amor, e amamos o outro identificado. O que compromete as relações são as fofocas, vindo de fora, que muitas vezes destrói um relacionamento que poderia ser de boa qualidade. O casal alvo da fofoca se parte ao meio, acreditando na possível conversa maledicente. De modo que, ficam remoendo uma dor que não deveria existir. Espalhando ressentimento um contra o outro, que toma conta do corpo e da alma de ambos. Passa a ver todos como inimigos. Este é o caminho mais direto para uma sociedade líquida.

Quando o veneno da fofoca alcança o espírito do casal o relacionamento desmorona, comprometendo uma relação de anos de caminhada juntos. O problema é que o casal têm uma forte tendência a embriagar-se neste veneno, porque são incapazes de confiar um no outro depois de anos de convivência. Estamos contribuindo para a difusão do amor líquido. O instinto de preservação não é suficiente para a sobrevivência de ambos. Contudo, estamos encurtando as relações afetivas ao descartar a pessoa que tem a chave do nosso coração. É necessário haver uma instância moral atuando nas definições do meu “Eu” e do “Outro”, para que haja uma relação humana que seja algo mais que uma relação puramente animal. Somos humanos na essência e na atitude.

Por conseguinte, viver em uma sociedade de pura incerteza em relação ao outro, o amor nos é negado. Sendo assim, é negado a dignidade de ser amado. Não há amor-próprio e não há injunções sociais que prescrevem o amor ao próximo, fazendo dele algo fundamental na vida em sociedade. Amar o próximo não é natural, é na verdade, algo contra nossos instintos mais básicos: “por isso é o ato fundador da moralidade”. Contudo, se nossas ferramentas de relacionamento estão engajadas com nossa época fluida e se as prescrições para amar ao próximo estão cada vez mais formais e estabelecidas por códigos penais, então o caminho da sociedade é a autodestruição após um longo definhamento. Se você não quer cair na vida, aprenda a ajoelhar. Mostre que seu coração está tomado de amor.       

6 de novembro de 2016

EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL

Para o filósofo e educador húngaro Istvám Mészáros (1930), nos da uma rica lição sobre o papel da educação. Ele discorre sobre a educação e o quanto ela pode contribuir na mudança social, bem como na manutenção da sociedade. Com a sabedoria de seus longos anos de estudo, citando de Paracelso a Fidel Castro, entre outros, mas principalmente recorrendo aos argumentos de Karl Marx (1818-1883) e o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), que defende a ideia de que para resgatar o sentido estruturante da educação e de sua relação com o trabalho, as suas possibilidades criativas e emancipatórias, é preciso colocar fim à separação entre “Homo faber” e “Homo sapiens”. De modo que, Mészáros, propõe dois eixos principais: o primeiro relaciona-se ao que alcançam as reformas educacionais e o segundo diz respeito ao imperativo de romper com a sociedade presidida pela lógica do capital e de estabelecer estratégias de transição para outra sociedade onde a educação para além do capital adquire significativa importância. Contudo, relativiza o papel que a educação tem no processo de mudança social. Procura demonstrar que a educação, por si só, não é capaz de transformar a sociedade rumo à emancipação social.

Mészáros considera que a escola reforça a internalização do modo de sistema social capitalista, contribuindo para impedir a transformação do entendimento dominante. O filósofo húngaro demonstra desprezo pela educação formal, cuja finalidade é a reprodução do capital. Neste sentido, a educação das escolas somente pode se tornar significativa na constituição de outra sociedade, caso seja associada à educação em sentido amplo, isto é, educar para a vida. Dessa maneira, a educação em “lato” sentido é enfatizada para o alcance de outra sociedade onde a lógica do capital tenha sido superada. A educação formal, contudo, não é dispensável, desde que se associe à educação para a vida toda, pois sem um progressivo e consciente intercâmbio com os processos de educação abrangentes como a nossa própria vida, a educação formal não pode realizar as suas muito necessárias aspirações emancipadoras. Mészáros chama a atenção para a necessidade de que sejam elaborados planos estratégicos para uma educação que vá além do capital, pois essa sociedade qualitativamente diferente e a educação livre dos propósitos do capital caminham juntas: “uma não é possível sem a outra”. A educação no sentido amplo é considerada imprescindível ao propósito de superação da sociedade.

Portanto, para esse fim, a universalização da educação e a universalização do trabalho são peças fundamentais, sem as quais não pode haver solução para a autoalienação do trabalho. Tal realização pressupõe necessariamente a igualdade verdadeira, substancial e não apenas formal de todos os seres humanos. Apenas na perspectivas de ir além do capital essa universalização e igualdade podem ser vistas, porque a educação para além do capital almeja uma ordem social qualitativamente diferente. O nosso dilema histórico definido pela crise estrutural do capital global, época onde se evidencia uma condição histórica de transição, define-se também um espaço histórico e social aberto à ruptura com a lógica do capital e à elaboração de planos estratégicos na direção de uma educação para além do capital. Nesse ambiente, a tarefa educacional é uma tarefa de transformação social, ampla e emancipadora. A educação deve ser articulada e redefinida no seu inter-relacionamento com as condições cambiantes e as necessidades da transformação social emancipadora e progressiva em curso. Contudo, para Mészáros a universalização da educação só poderá ocorrer com a universalização do trabalho, pois tais dimensões têm caráter indissociável. 

2 de novembro de 2016

A FÉ É UMA GRAÇA

A fé faz com que enxergamos com o coração. A fé é a ligação de tudo. Liga-nos a Deus, liga-nos a Jesus Cristo, liga-nos com o Santo de nossa devoção. É preciso ter fé para ver as coisas acontecerem. Quem tem fé, pode-se dizer que tem Deus no coração e a alegria de viver. É preciso ter fé para mais tarde não sofrer. A fé é um sentimento capaz de reunir gerações e povos diferentes, mas com o mesmo objetivo e assim são os devotos que tem fé em seu santo do coração. Em novembro de 2015, visitamos a Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, para agradecer uma graça alcançada. Faz exatamente um ano. Ainda na rodovia Presidente Dutra ao ver o Santuário de Aparecida, a emoção tomou conta dos nossos corpos. Chegando à Basílica, vimos pessoas e romeiro de todos os cantos do país, pobres, ricos, jovens e velhos, todos envolvidos num único sentimento, a “”. Naquele momento tive a certeza de que a Fé toma conta de nós, nos tornando mais fortes e confiantes.

Olhando para aquela imagem simples e aparentemente frágil, parecia que ela usava de alguma força para concretizar o impossível aos nossos olhos, “A Fé”. Ali naquele momento de oração, ficava evidente que não importa o que aconteça, nada pode espedaçar e destruir aquilo que acreditamos. Foi nessa atmosfera, que senti que nós seres humanos não estamos sozinhos neste mundo, a mercê de forças ocultas. A fé é a ligação de tudo. Vale lembrar, que aquela imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, exposta na Basílica de Aparecida, tem 36 cm de altura e pesa 2 kg e 550 gramas. Ela ficou por muitos anos na capela do porto de Itaguaçu. Construída em 1745, a Basílica velha foi a primeira a abrigar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, sendo considerada símbolo de fé e devoção. Mas, um jovem de 19 anos, que passa diante da imagem em 1978, quebrou o vidro de proteção e retirou a mãe Aparecida e saiu correndo com ela nos braços. Aconteceu o que não poderia, ele caiu e no momento da queda soltou a imagem que se partiu em 200 pedaços. O coração dos fies e de muitos brasileiros ficaram espedaçados, quando em nota os padres comunicaram a população.

A tristeza tomava conta de todos aqueles que presenciaram a cena. O episódio se deu em 1978, quando os fragmentos foram levados ao “Museu de Artes de São Paulo” (MASP), para a escultora e restauradora “Maria Helena Chartuni” (1942), uma mulher que se considerava não religiosa e cética. Ao todo foram 33 dias e noites em contato muito próximo a imagem. Segundo a ilustradora brasileira Maria Helena, em depoimento afirmou, que ao contrário do que pensavam seus colegas e religiosos, foi Nosso Senhora Aparecida que restaurou sua vida. Que lhe deu uma volta de satisfação. O entendimento da sua vida após esse contato com a Santa lhe trouxe mais tranquilidade e hoje se sente mais amparada. Isto é, o entendimento da vida mudou completamente. Revelou em uma de suas entrevistas para a TV Aparecida, que hoje a Nossa Senhora toma conta da sua vida.   

Depois de se passar 41 dias do atentado, exatamente no dia 31 de julho de 1978, foram concluídos a restauração, devolvendo a imagem da mãe na suas características originais, fortalecendo ainda mais a nossa fé. No entanto, poucos sabem que a imagem foi encontrada em 1717 nas águas escuras do rio Paraíba, por três pescadores: “João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia”. Eles entraram para história da Igreja Católica, por ter pescado na rede as duas partes da imagem. Primeiro veio o corpo e em seguida rio abaixo veio à cabeça da Santa. Os três pescadores foram os primeiros agraciados pela ação divina em Nossa Senhora Aparecida. Com a imagem já no barco, eles que até então não tinham conseguido pescar nenhum peixe, de repente puxaram a rede pela terceira vez e notaram que agora estava pesada e cheia de peixes. Não souberam explicar o fenômeno que desafiou as leis físicas da natureza. São inúmeros os milagres registrados até hoje em Aparecida.

Concluo essa reflexão sobre a Fé, com um versinho do jornalista e escritor brasileiro Caio Fernando de Abreu (1948-1996): “Porque a vida segue, mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais, mas da saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar para trás”. Contudo, faz um ano que visitamos o Santuário de Aparecida. Querida Nossa Senhora Aparecida, que nunca nos falte sonhos. Que nunca nos falte sobriedade. Que nunca nos falte a fé e esperança. O restante que nos seja dado por acréscimo.

29 de outubro de 2016

O AMOR E A MORTE

Poucas coisas se parecem tanto com a morte quanto o amor realizado. Cada chegada de um dos dois é sempre única, mas também definitiva: não suporta a repetição, não permite recurso nem promete prorrogação. Deve sustentar-se por si mesmo e às vezes consegue. Cada um deles nasce, ou renasce, no próprio momento em que surge, sempre a partir do nada, da escuridão do não ser sem passado nem futuro, começa sempre do começo, desnudando o caráter supérfluo das tramas passada e a futilidade dos enredos futuros. Nem no amor nem na morte pode-se penetrar duas vezes. Muito menos do que no rio de Heráclito, que só banha uma vez. Eles são, na verdade, suas próprias cabeças e seus próprios rabos, dispensando e descartando todos os outros.

O amor e a morte não têm história própria. São eventos que ocorrem no tempo humano, isto é, eventos distintos, não conectados, muito menos de modo causal. Não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. Sendo assim, não se pode aprender a arte ilusória, inexistente, embora ardentemente desejada de evitar suas garras e ficar fora de seu caminho. Chegado o momento, tanto o amor quanto a morte atacarão, mas não se tem a mínima ideia de quando isso acontecerá. Quando acontecer, vai pegar você desprevenido. Todos nós tendemos a nos esforçar muito para extrair alguma experiência desse fato.

Por outro lado, os relacionamentos em geral, estão sendo tratados como mercadorias. Se existe algum defeito, podem ser trocadas por outras, mas não há garantia de que gostem do novo produto ou que possa receber seu dinheiro de volta. Hoje em dia os automóveis, computadores ou telefones celulares em bom estado e em bom funcionamento são trocados como um monte de lixo no momento em que aparecem versões mais atualizadas. E assim acontece com os relacionamentos, não gostou, vamos trocar. Para muitos é melhor virar as costas e execrar o outro do que dialogar. Na música “Evidência” de José Augusto (1953), está explícito essa contradição. Negamos o que é evidente. Contudo, estamos criando espaços para a solidão e vivendo uma vida descartável sem pensar no amanhã, sem perspectiva alguma. Os relacionamentos estão cada vez mais fragilizados e desumanos.

No entanto, o que as pessoas não percebem é que o amor não se dirige ao belo, como muitos acham. Ele dirige-se à geração e ao nascimento no belo. Amar é querer gerar e procriar, e assim os amantes buscam e se ocupam em encontrar a coisa bela na qual possa gerar. Ou seja, dar um sentido existencial e criar um projeto de vida em comum, motivados pela união estável dos sentimentos. Em outras palavras, não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência; não é senão outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo.

Portanto, em todo amor há pelo menos dois seres envolvidos, cada qual é a grande incógnita na equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino, isto é, aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última instância, admitir a liberdade no ser. Aquela liberdade que se incorpora no outro, o companheiro no amor. A satisfação no amor individual não pode ser atingida, sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeira. Contudo, uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista. 

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...