31 de dezembro de 2019

PAI JÁ ESTÁ TERMINANDO O ANO E AGRADEÇO PELA VIDA

O tempo permanece intocável, somos nós que passamos pelo tempo, envelhecemos e morremos dentro dele. Mais um ano que se vai como uma vela que está se apagando. Mais um novo ano está surgindo como a vela que acabamos de ascender. A vela simboliza a chama da nossa esperança e realizações para com o ano que está se iniciando. Aprendi muito com esse mestre chamado tempo. Só ele nos da à experiência e sentido para a nossa existência. Porém, quem nos concede o dom da vida é nosso “Pai do Céu. Foi assim que nasceu a muitos anos essa oração, escrita por mim e que todas as noites, a zero hora, encerra a programação da Radio Laser em Campinas SP.  

Boa noite Pai, já está terminando mais um ano e agradeço pela vida que me confiou até hoje. Nesse momento recolho para o meu descanso merecido, e aproveitar para pensar sobre tudo o que vivi nesse ano de 2019. Após essa noite despontará a alvorada de um novo dia que iluminará os nossos caminhos em 2020. Por conseguinte, quero dar um sentido ainda maior para a minha existência nesse ano que começa.

Obrigado Pai por tudo, obrigado pela esperança que nesse ano animou os meus passos, pela alegria que senti ao lado de pessoas queridas que conheci e hoje fazem parte do meu circulo de amizade. Obrigado pela alegria que vi no rosto das crianças, apesar de toda a dor que senti e as vezes sinto, por não ter os meus filhos por perto, ali do meu lado para saber se eles estão bem. Mesmo assim obrigado Pai, pela esperança que tenho de saber e encontrá-los bem.

Obrigado pelo exemplo que recebi dos outros, pelo que aprendi aos meus sessenta e oito anos de vida, embora tenha muito que aprender ainda, obrigado também por tudo que sofri e ainda sofro por ter compaixão pelos mais necessitados e pelas crianças e idosos. Pois, sonho com dias melhores para todos nós.

Obrigado Pai pelo dom de amar, mesmo sem ser compreendido. Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa que sopra o meu rosto, pela comida em minha mesa, obrigado por permitir-me viver com saúde em 2019, como também pelo meu esforço e desejo de superação, pois quero ser a cada dia mais humano nesse projeto de vida que o Senhor me confiou.

Pai desculpe o meu rosto carrancudo e às vezes agressivo. Desculpe ter esquecido que não sou o filho único, mas irmão de muitos. Perdoa a minha falta de colaboração, a ausência do espírito de servir. Perdoa-me também por não ter evitado aquela lágrima, aquele desgosto que lhe dei quando ignorei aquela pessoa. Perdoa-me por ter ofendido e magoado justamente aquela mulher que me criou e me educou e na sua simplicidade me ensinou a “essência do amor. Foi a partir dela que descobri e conheci o valor do respeito e da compaixão. Saudosa mãe; devo a senhora toda a minha gratidão.

Desculpa ter aprisionado em mim aquela mensagem de amor. Contudo, estou pedindo força, energia para os meus propósitos, no ano que está nascendo, a nossa vida continua e só a morte pode cessar. Em quanto isto, espero que neste novo ano que está surgindo, domine um novo sentimento em cada coração, desses seres que compõem a humanidade. E que a cada novo dia seja um continuo sim numa vida consciente.

Portanto, peço a Deus que me conceda serenidade e sabedoria para que eu possa viver na plenitude do amor, pois para quem não sabe o amor só sobrevive sustentado por esses dois grandes pilares. Serenidade para aceitar o outro com seus defeitos, medos e duvidas, procurando sempre compreendê-lo e ajudá-lo. Sabedoria para perceber essas diferenças e saber minimizar os conflitos que existe entre ambos e assim abrandar a ansiedade e viverem plenamente no amor, que é o desejo de todos eternos apaixonados. Porque tudo que vive, não vive sozinho, nem para si mesmo. Como disse Mahatma Gandhi (1869-1948), pensador indiano: “Tudo o que vive é o teu próximo”. Ao contrário do que todos dizem, o que o amor une, nem o tempo separa. Um Feliz 2020 a todos. 

30 de dezembro de 2019

A CONSCIÊNCIA DO MEU EXISTIR TORNA-ME DIGNO

Descobri que leva-se um certo tempo para construir a confiança e apenas segundos para destruí-las, e que posso fazer coisas em um instante, das quais me arrependo pelo resto da vida. Aprendi que a verdadeira amizade continua a crescer mesmo a longa distância. E o que importa não é o que se tem na vida, mas o que tenho da vida. E que os bons amigos são como a família que posso escolher. Aprendi que não tenho que mudar de amigos se compreender que os amigos mudam. Perceber que meu melhor amigo quando juntos posso fazer qualquer coisa, ou nada, mas, sobretudo terei bons momentos juntos. Descobri que essas pessoas queridas, são iluminadas e que prontamente sou tomado pelo seu brilho. Elas entram na vida da gente e deixam sinais, são como músicas. Como a sonoridade do vento no final de uma tarde. Amigos são como música, que foram compostas para serem ouvidas, sentidas, compreendidas e interpretadas, como uma melodia.

Descobri algumas vezes que a pessoa que você espera que o chute quando cai, é uma das pessoas que vai ajudá-lo a levantar-se. Aprendi que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tive e o que aprendi com esse conhecimento empírico, do que os aniversários celebrados. Aprendi que nunca  se deve dizer à uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes quanto essa  fala, já que ela poderia tornar-se uma tragédia, caso ela venha acreditar nisso.

Depois de muitos fracassos na vida, mudei minha perspectiva e maneira de pensar sobre o que é viver. Deixei para trás a esfera das realizações frustradas e entrei para o mundo fantástico e promissor da escrita, com sabedoria e dedicação vim a descobrir com a literatura a importância do conhecimento e da consciência do meu existir. Senti o corpo atingir o auge da minha força, que agora começa a perdê-la. É nesse momento que se identifica, não com o corpo que está começando um novo ciclo, mas, com a consciência da qual ele é um veículo. Contemplo esse corpo como a extensão do meu pensamento e sentimento. O corpo é como a lâmpada que leva a luz à minha alma. Sou a luz da qual o meu corpo é a lâmpada. Com ele transporto minha consciência para o infinito aonde só a alma acalça.   

Portanto, a metáfora do corpo como um veículo da consciência, quando identifico-me com essa consciência posso observar o meu corpo decair, como uma maquina depois de muito uso. Contudo, é algo que todos nós esperamos, e aos poucos vamos nos desintegrando. É nesse momento que a consciência reencontra a consciência cósmica. Por conseguinte, devemos sempre tratar com atenção e gentileza, as pessoas queridas que realmente amamos, proferindo palavras amorosas, pois pode ser que seja a última vez que a veremos. Ser humano não se descarta. Quem não consegue compreender um gesto, o valor de um silêncio, aquilo que nos faz falta para o nosso corpo e nossa alma. Assim como aquele bilhetinho carinhoso que postamos para alguém especial. Tampouco compreenderá o que é ser feliz. Deixe simplesmente se levar como um barco a vela em alto mar. O espírito que sopra esse barco lhe conduzirá ao encontro do outro, a chamada química ou lei da atração. É nesse encontro humano que carimbamos e selamos a nossa passagem pelo mundo. A natureza é sábia e por isso tem a sua lógica natural.

28 de dezembro de 2019

HÁ EVIDÊNCIAS QUE AMOR E CASAMENTO NÃO COMBINAM

Será mesmo verdade que amor e casamento não combinam? Existem estudos que demonstrem essa teoria? O que sabemos em tese, é que o casamento não foi feito para a felicidade humana e sim para a organização social. O casamento na sua maioria era um arranjo das famílias, portanto, nesse caso nada a ver com o amor. Segundo os estudos mostram que, quanto maior a duração ou o convívio dentro do casamento maior a possibilidade de desilusão. No entanto, quando um casal começa a sentir ódio recíproco, infecta o ar do quarteirão. É uma coisa espantosa. Um clima de muita indiferença entre ambos, além da rotina que envolve o próprio casamento, até o beijinho e abraço quando tem, é tudo meio automático, as falas já são previamente sabidas entre os dois, às vezes tem até certa gentileza entre os dois, mas é uma relação com muito pouca vida e um interesse bem limitado de um pelo outro.

Há uma estimativa que dois terços dos casamentos, depois de alguns anos de convívio geram situações penosas e entediantes, algumas bem feias. A mulher pode se sentir profundamente entediada e deprimida. Pior do que o tédio é a sensação de insignificância. E quanto maior esta sensação de inutilidade, maior o risco e mais vulnerável ela se torna a um relacionamento extraconjugal. Todavia, se uma mulher vem sonhando em ter um caso amoroso com alguém do seu convívio , se ela vem pensando nisso algum tempo, na verdade, está plantando uma semente mental que um dia poderá germinar.

Cada vez mais as pessoas estão tomando consciência e vendo suas chances de serem felizes limitadas, porque vêm nessas relações amorosas uma forma pouco saudável, como se fossem cometer um pecado mortal. É inacreditável que em pleno século XXI tenhamos dificuldades para assumir um caso amoroso por conta da hipocrisia de algumas pessoas. Exaltamos o amor, mas condenamos quando ele acontece fora dos padrões que a sociedade considera ideal. Precisamos entender que muitas vezes o amor iniciado na juventude já não é o bastante para nos fazer felizes quando atingimos a maturidade. E principalmente quando esse amor se consolidou com o casamento. O número de divórcios vem aumentando a cada ano no Brasil.

No entanto, cada vez mais aparecem casais vivendo relações extraconjugais não assumidas. Porque são relações carregadas de culpa, atritos, sofrimentos, que causam muito desequilíbrio no cotidiano familiar. Por outro lado separar também envolve sofrimento e muita culpa no meio familiar. Então, o que fazer nessa circunstância? Buscar um segundo casamento ou ter um caso? De modo que esse amor que acontece na idade adulta, vem atender aos anseios de uma pessoa amadurecida, que lutou com seus fantasmas internos e agora pode encarar mais plena e serenamente novos afetos. Para muitas pessoas depois de alguns anos de casada, a primeira alternativa para amenizar o desgaste é manter vidas paralelas, ter um caso. Quem não conhece essa história?

Todavia, é bom dizer que essas coisas não são aceitas nem aprovadas publicamente, embora sejam feitas por quase todas as pessoas. O problema não consiste em saber se alguém faz ou não faz, o problema é se descobrem ou se você fala ou não. De cada dez pessoas, oito delas vivem ou vão viver um caso de amor. Pessoas para as quais, a experiência do casamento as tornou indiferentes, cascudas, entediadas, vivendo uma vida automática, mal percebendo o que acontece ao seu redor, quando encontram alguém e se encantam com essa pessoa, parecem até aqueles bichinhos brincalhões da natureza, que se juntam fazendo festa um para o outro. Trocam qualidades e os dois saem do encontro rejuvenescidos e renascidos para vida. É como se dissesse um ao outro: "estamos vivos, que bom".  

Portanto, diante de tantas evidências, penso que um segundo casamento não vai mudar muita coisa, tendo em vista que o casamento e amor não combinam. Ter um caso extraconjugal, para muitas pessoas é sofrido e marcado por sentimentos de culpa, caso sejam descobertas. Contudo, encerro com um argumento brilhante do nosso mestre e psiquiatra, saudoso José Ângelo Gaiarsa, para aqueles que se incomodam com a sua vida diz ele: “Olhe aqui, eu não estou seguindo um capricho, eu não quero um caso a mais, eu quero sobreviver, se possível. Recomeçar a viver porque eu estou morrendo, você entende? Se você entender, vai ser ótimo, vamos ficar amigos e até fundar um partido a favor do direito de amar. Se você não entender, vá passear. Você é meu inimigo, inimigo da vida e um medroso que quer assustar os outros para que todos continuem a se esforçar para resistir à tentação”.              

26 de dezembro de 2019

SEJA INADEQUADO FRENTE A UMA SOCIEDADE ENFERMA

Se quiser ter um pouco de saúde mental, fuja deste manicômio chamado sociedade. Basta acompanhar os noticiários escritos e televisivos para entender o que estou dizendo. A vida contemporânea é cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc. Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.

Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais. Por exemplo; veja como se dão os encontros familiares no Natal. A conclusão que se chega é absurdamente inadequada para uma data tão especial como deveria ser. O que se vê é que as famílias se encontram eventualmente nesta data e fora dela se traem sistematicamente. E ainda chamam o Natal de encontro familiar. De qual família estão falando? A da família social e enferma ou a da família particular e insana?

Somos enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as mesmas coisas com quem quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em sociedade. Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?

Qual o sentido de adequar-se a uma sociedade formada por famílias que matam sonhos, porque eles simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre a sua própria felicidade. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar a essa sociedade?

Os nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas. O pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos, pelo menos uma vez na vida, sem a preocupação de agradar aos outros.

Portanto, somos uma geração com medo de assumir as rédeas da própria vida. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos. É preciso sacudir as gaiolas, como diz o escritor suíço Alain de Botton (1969): “As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude. Contudo, estamos procurando a experiência que tenha ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntima, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

24 de dezembro de 2019

QUERO A DELICIA DE PODER SENTIR AS COISAS MAIS SIMPLES

Começo essa reflexão com esse título delicioso do poema "Belo belo" do poeta brasileiro Manuel Bandeira (1886-1968): “quero a delicia de poder sentir as coisas mais simples”. Tendo em vista, que a felicidade é saber apreciar as coisas simples da vida. As coisas simples da vida são como aquelas estrelas que brilham em noites claras. Elas estão sempre lá, nos cercando, nos oferecendo sua magia sutil. De modo que, nem todos os dias paramos para olhar para elas ou lembramos que elas existem. É preciso saber apreciar a natureza e gostar de olhar para o céu. O céu sempre tem algo a nos dizer e isso nos traz uma paz e uma serenidade incomensurável. A noite por si só já carrega uma magia e um romantismo que muito nos comovem.

Somente quando estamos perdendo, somente quando a vida nos da um revés pequeno ou grande, subitamente apreciamos o que realmente constrói nosso coração, o que constitui cada uma daquelas cordas internas que dão música e significado à nossa existência. As coisas simples, amáveis e discretas formam o dia a dia a borda da nossa vida, aonde repousar em dias tempestuosos e onde todas as nossas alegrias fazem sentido. De modo que algumas pessoas dizem que, quanto mais simples o nosso modo de vida, menos preocupações teremos e menos erros cometeremos. Agora, todos estão livres para complicar suas vidas o quanto quiserem, todos nós temos o direito de assumir riscos, projetar sonhos e ter um círculo social tão amplo e variado quanto quisermos.

De modo que, ser simples em pensamentos e saber o que é importante, o que realmente faz nosso coração feliz e nos identifica. Subjetivamente, todos nós somos muito livres para construir nossos microuniversos individuais. Vamos usar a lógica, vamos refletir um pouco sobre o que é ser simples. Vamos descobrir que nas coisas simples é que estão as nossas maiores riqueza existencial. Ser feliz é fechar os olhos e não querer mais nada e, para isso, basta deixar de medir a felicidade pelo dinheiro e bens materiais: mas, medir por aquelas coisas simples que não mudaríamos nem por todo o dinheiro do mundo. O simples é chique.

Portanto, levar uma vida plena e consciente é saber entender em que momento da vida estamos e sentir o presente precioso que é viver. Devemos ser conscientes do que nosso coração nos diz e das necessidades que temos. Se não houver equilíbrio consigo mesmo e com os que nos rodeiam, será difícil desfrutar dessa felicidade. Vamos aproveitar as coisas simples que a vida nos oferece. Muitos são incapazes desse momento, porque estão mais inclinados ao apego material, à satisfação imediata e passageira. Respire, ame, contemple o simples e preze pela paz. Este é o único e urgente, o resto é secundário. Só é capaz de cultivar o simples aqueles que possuem a paz interior. Não hesitem em praticar essa simplicidade de pensamento e emoções no seu dia a dia, porque quando finalmente encontrarmos essa felicidade interior, ela durará para sempre, pelo simples fato de estar conectada ao nosso verdadeiro “Eu”.

21 de dezembro de 2019

SÓ SEI QUE O AMOR É UMA LONGA CONVERSA A DOIS

No diálogo de Platão (427-347 a.C.) “O Banquete”, os convidados discursam sobre o amor. Sócrates (469-399 a.C.) o último dos oradores do referido diálogo do amor, começa dizendo que Eros representa um anelo de qualquer coisa que não se tem e se deseja ter. Para Sócrates o amor é o desejo, em primeiro lugar, de alguma coisa; em segundo, só de coisas que estejam faltando. O amor é capaz de desabrochar e de viver, morrer e ressuscitar no mesmo dia. Come e bebe, dá e se derrama, sem nunca estar rico ou pobre. A partir desta discussão pela boca de Sócrates, Platão explica a relação entre Eros e a filosofia. Assim como os deuses não filosofam nem aprendem, por já possuírem a sabedoria, os tolos e os ignorantes não aspiram adquirir conhecimento, porque, embora nada saibam, julgam saber. Só o filósofo deseja conhecer, pois sabe que não sabe e sente necessidade de conhecer.

Dessa forma, Platão não reduz a busca apenas à procura de outra metade do nosso ser que nos completa como explica no mito da origem do amor. Pare ele, Eros é ânsia de ajudar o eu autêntico a se realizar, na medida em que a vontade humana tende para o Bem e para o Belo, quando subordina a beleza física à beleza espiritual e desliga-se da paixão por determinado indivíduo ou atividade, ocupando-se com a pura contemplação da beleza. É uma concepção que deve ser compreendida de acordo com a relação corpo e alma, segundo a qual Platão subordina Eros a Logos, ou seja, subjuga as paixões à razão. Sendo assim, tudo que está no mundo sensível diz respeito às paixões e o que está no mundo das ideias é contemplado pela razão.

Nas relações afetivas, o desejo não nos impulsiona apenas para alcançar o outro como objeto. Mais que isso, o desejo exige a relação em que se busca, sobretudo, o reconhecimento do outro. O amante não deseja se apropriar de uma coisa e sim, deseja capturar a consciência do outro. A relação amorosa se funda na reciprocidade, ou seja, desejamos o outro como ser consciente que também nos deseje. O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1881), compreende a consciência de si como desejo de reconhecimento. Isso significa que no amor, quando um corpo se estende em direção a outro corpo, exige que esse corpo, que ele deseja também se estenda; porque amar é desejar o desejo do outro. Todavia, o amor é o convite para sair de si. Se a pessoa estiver muito centrada nela mesma, não será capaz de ouvir o apelo do outro. No entanto, se uma criança procura com naturalidade quem melhor preencha suas necessidades, se esse procedimento persistir na vida adulta, torna-se impedimento para encontros verdadeiros. Esta pessoa ira viver um amor idealizado, em parte fruto do medo de lançar-se nas contradições do exercício efetivo do amor.

O temido risco de amar para muitos é a separação. Mergulhar na relação amorosa supõe a possibilidade da perda. Para o psicanalista austríaco Igor Caruso (1914-1981), a separação é a vivência da morte numa situação vital. A morte do outro em minha consciência e a vivência de minha morte na consciência do outro. Quando deixamos de amar ou não somos mais amados; ou, ainda se as circunstâncias nos obrigam à separação, mesmo assim o amor recíproco permanece. Se a perda é sentida de forma intensa, a pessoa precisará de um tempo para se reestruturar, porque, mesmo quando conseguiu manter a individualidade, o tecido do seu ser passa inevitavelmente pelo ser do outro. Há um período de luto a ser superado após a separação, quando ambos estão buscando novo equilíbrio. Uma das características mais evidente do individuo maduro é saber integrar a possibilidade da morte no cotidiano da sua vida. Porém, ao falarmos em morte, não nos referimos no sentido literal da palavra, mas, nas diversas mortes ou perdas que permeiam nossas vidas. Mesmo nas relações duradouras, as pessoas mudam, e a modificação do tipo de relação significa consequentemente a perda da forma antiga de dialogar com esse sentimento chamado amor. A moda antiga de expressar o amor também está se despedindo do nosso meio romântico. O chamado amor cortês está fora de moda.

Portanto, com o afrouxamento dos laços familiares e aqui não estamos analisando as causas e muito menos procurando uma justificativa. O chamado clássico encontro amoroso está ficando de fora, não é mais prioridade nas relações afetivas. Com o advento da comunicação, que em tese deveria melhorar as relações afetivas, lançou as pessoas em um mundo onde elas contam apenas consigo mesmas. Hoje vivemos um mundo da satisfação imediata, do prazer aqui e agora, o desejo de emoções fortes substitui os amores ternos cuja intensidade passional certamente se atenua com o tempo, pois a paixão é fugaz por natureza. Contudo, é bem verdade que se o amor se funda no compromisso e se as pessoas cada vez mais tem medo da dor, do sofrimento, do risco de perda, o que resulta são as relações superficiais, os amores breves. Relações sem diálogo, sem colorido e sem vida. Na era da comunicação e da informação rápida, existe um contingente enorme de pessoas alimentando-se do amor descartável. Um amontoado de seres robóticos. E junto as relações humanas estão indo para o abismo.      

18 de dezembro de 2019

DO PAI HERDAMOS O CARÁTER E DA MÃE A RESIGNAÇÃO

Em que momento da vida é formado o caráter de uma pessoa? Caráter é um termo usado na psicologia como sinônimo de personalidade. Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em índole ou firmeza de vontade. É um tema básico na mitologia, o filho que sai a procura do pai através dos séculos, este por sua vez simboliza a lei, a censura, o responsável pela formação do nosso caráter. A ideia da “deusa se relaciona ao fato de que você nasceu de uma mãe e que, na verdade, o seu pai pode ser desconhecido para você ou até mesmo já possa ter morrido.

Segundo o filósofo Joseph Campbell (1904-1987), a maior autoridade no campo da mitologia, argumenta que nas epopeias, frequentemente, quando o herói nasce, o pai já morreu ou está em algum outro lugar, então o herói tem que partir à procura do pai. Precisamos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos, para podermos viver a vida que nos espera, que pode ser no encontro com nossa real identidade, o pai. A pele velha tem que cair para que uma nova possa nascer. Sempre recomendo aos meus alunos: “vão aonde o seu corpo e a sua alma desejam ir. Quando você sentir que é por aí, mantenha-se firme no caminho, e não deixe ninguém desviá-lo dele”. De modo que, procurar o pai numa linguagem mítica, simboliza ir ao encontro de seu caráter. Tendo em vista, que o pai simboliza a lei.

Na história de Jesus, o seu pai era o “Pai do Céu”, que é um termo simbólico aceito pelos cristãos. Quando é colocado na cruz, Jesus está a caminho do pai, deixando a mãe para trás. Para Campbell, a cruz que simboliza a terra é, na verdade, o símbolo da mãe. Assim, na cruz Jesus deixa o seu corpo sobre a mãe, de quem ele o havia herdado e, vai para o pai, a suprema fonte transcendente do mistério. É no pai que ele vai encontrar a sua verdadeira identidade. Na linguagem psicanalítica, o pai simboliza a lei, e quem faz valer ou não essa lei é a mãe.

Há pessoas que nunca tiveram contato com os seus pais. Eu também não conheci o meu pai e gostaria muito de ter conhecido. Não importamos muito com a mãe, porque ela está aí mesmo. Nascemos dela, fomos amamentados e educados por ela. Acompanhou o nosso crescimento, até a idade adulta, pelo menos essa é a regra. A partir daí é chegado o momento de sair à procura do pai. Para a mitologia, encontrar o pai tem a ver com o encontro do seu próprio caráter e do seu próprio destino. Acredita-se que o caráter seja herdado do pai, assim como a lei ou a censura representada na figura paterna. E da mãe herdamos a mente, o sofrimento, a resignação, talvez a culpa. Mas o mistério reside no seu caráter, e o seu caráter é o seu destino.

Por conseguinte, a procura do pai simboliza a descoberta do seu destino. Entretanto, quando encontra o pai, você encontra a si mesmo. Na história de Jesus que estava perdido em Jerusalém, quando tinha doze anos de idade, seus pais o procuram e o encontram no templo, conversando com os doutores da lei, e perguntam-lhe: “Por que você nos abandonou desse modoPor que você nos causou tanto medo e ansiedade?” E ele diz: “Vocês não sabiam que eu devia estar às voltas com a ocupação do meu pai?” Ele estava com doze anos, a idade da iniciação da adolescência, em que o menino parte à procura do pai simbolicamente.

Portanto, a figura do pai serve como modelo de comportamento para o menino e também permite que a menina conheça e compreenda o universo masculino. Práticos, objetivos e racionais, os homens também podem mostrar às crianças uma nova forma de encarar a vida, diferente do ponto de vista feminino. Sobretudo, porque a mãe tem uma tendência natural de proteger demais a prole, ao contrário do pai que estimula a independência e corta o excesso de proteção da mãe. Não é preciso nem falar sobre o suporte emocional que a maior proximidade afetiva do pai representa para os filhos. No entanto, para a formação do “Super Ego”, da censura, do social, da lei, como citei acima, é fundamental para a existência desse referencial masculino.

14 de dezembro de 2019

EXAMINANDO A VIDA À LUZ DA FILOSOFIA

Só escrevo por uma razão muito simples. Escrevo para compreender alguma coisa do mundo e da vida. Escrevo como se tivesse uma necessidade de explicar porque as relações humanas se encontram tão enferma. Como educador, não posso fazer nada que venha a envergonhar a criança que já fui um dia. As palavras contidas nos meus textos estão sempre ali à espera de uma voz que as ressuscitem, que as despertem. As palavras estão nos textos para ser acordadas e melhor utilizadas. De modo que, a gênese da filosofia é antes de tudo discutir a vida. Uma vida que não é examinada não merece ser vivida, como já dizia o grande filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.).

No entanto, sinto que sou movido por uma força sobrenatural do pensamento, que me arrasta para um abismo de compaixão por aqueles, que assim como eu, também carrega uma centelha de humanismo. Existem pessoas andando por aí sem rumo, falando de morte, desespero, dor e sofrimento. Portanto, somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos. Sem responsabilidade talvez não mereçamos existir. Porém, dentro de cada um de nós há uma coisa que não tem nome e essa coisa é o que somos.

Acredito que só o amor faz as pessoas evoluírem espiritualmente. A capacidade de sentir amor faz a pessoa melhorar como ser humano. De modo que a minha relação com os meus leitores são de estima literária. Mas, também tenho razão de sobra para pensar, que pode ser uma relação de estima pessoal. Gosto de gente e gosto de olhar nos olhos das pessoas. Isto implica de certa forma, uma enorme responsabilidade de nunca decepcioná-las. Quando encontro alguém que leu alguns dos meus livros ou lê o meu Blog, ao olhar para essa pessoa, sinto uma emoção que não pode ser traduzida em palavras. Neste momento digo a mim mesmo. Faça alguma coisa que sirva para alguma coisa, que seja útil para alguém. É por isso que escrevo, para ajudar as pessoas sair de dentro da caverna.

Para o filósofo grego Platão (427-347), considerado um dos pilares do pensamento ocidental. A sua maior contribuição na filosofia nos foi apresentado no texto “O Mito da Caverna”. Ele argumentava que uma grande parcela da humanidade se encontrava prisioneira da caverna. Isto foi dito a mais de 23 séculos. Platão criou essa alegoria da caverna, para explicar a evolução do processo do conhecimento, que mostra pessoas presas, acorrentadas olhando em frente para uma parede e vendo sombras e acreditando que isto seja a realidade. Agora entendo o que Platão queria nos ensinar com o Mito da Caverna. Nunca vivemos tanto na caverna como estamos vivendo hoje. As próprias imagens que nos mostram a realidade são apresentadas de tal maneira, que substituem a própria realidade. Vivemos num mundo de imagem, audiovisual, com as pessoas aprisionadas e alienadas como na caverna. Temos a nítida ilusão que isto seja à realidade.

Falta-nos consciência do existir e significado de uma vivência digna. Como argumenta a escritora e educadora Adélia Prado (1935): “não quero faca e nem queijo, quero é fome”. Este silogismo é de um princípio pedagógico fantástico, porque põe em evidência a nossa educação. O leitor pode estar se perguntando o que a educação tem a ver com essa frase. Tem tudo a ver! Se tiver faca e queijo, e não tiver fome, ninguém come. Agora, se quiser comer queijo e não tiver faca e nem queijo, damos um jeito e arrumamos o queijo e faca. Contudo, conclui-se que a educação é faca e o queijo que está sendo oferecido. Aproveitando a metáfora, cabe ao professor despertar no aluno o apetite. Gosto muito desse escritor francês renascentista do século XVI François Rabelais (1494-1553), que escreveu esta frase lapidar: “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”. Tem coisas na vida que é melhor começar cedo, antes que seja tarde.

Portanto, encerro esta reflexão com uma mensagem de otimismo e esperança, que foi proferida por um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes mundial do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, com a campanha da não violência e de amor ao próximo. Por esse seu trabalho em prol da paz, no dia 14 de outubro de 1964, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz, pelo combate à desigualdade racial através da não violência. Por capricho do destino, ele morreu assassinado faltando alguns meses para completar dois anos do prêmio máximo pela paz, exatamente, no dia 04 de abril de 1968 nos Estados Unidos. Estou falando de Martin Luther King, que deixou essa frase lapidar gravada a fogo e a ferro, no coração de todos os brancos e negros estadunidense: “Não somos o que deveríamos ser; não somos o que queríamos ser; não somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus; não somos o que éramos”.     

11 de dezembro de 2019

AQUILO QUE A MEMÓRIA AMA FICA ETERNO

No livro: “Do Universo à Jabuticaba”, do filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014). Ele traz uma frase chapada e profunda, logo na abertura do livro ao dizer: “Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que a memória amou fica eterno. Portanto, parto do pressuposto que uma pessoa jamais se sentirá plena se amar só para dizer que ama. Amar pela metade, se não se entregar completamente não é amor. Repare que é completamente, não insanamente. Há quem confunda e ache que amor é feito de qualquer jeito, entre xingamentos e beijos, às vezes mais desrespeito que amor. Sinceramente, isso não tem cara de amor, é falta de serenidade. E se não tem paz, não dá para amar. Brigar desgasta, dá desgosto e nos deixa triste. Fujamos de afetos assim, de parceiros (as) desorientados (as).

Amor tem que ter constância. E consistência. Ama-se todos os dias, mesmo que o dia não seja o melhor. O amor fica impresso no silêncio, no respeito ao espaço e tempo do outro, na companhia para o descanso e na esperança de que o outro dia seja melhor. O amor não precisa ser falado, embora seja gostoso ouvir um “eu te amo” da pessoa amada. Isso não tem preço e é um prazer absoluto. Mas ele está muito mais no toque, na forma de falar e no jeito de olhar. Amor é mais sensação que palavras ditas. É quando um sente e o outro percebe e fala o que aquele está sentindo. Quantas vezes você pensou naquela pessoa especial e de repente ela te liga ou aparece na sua frente. Isto é uma linguagem das almas.

Não pode afirmar que ama, alguém que não demostre alegria em falar dos seus sentimentos. Mesmo que o tempo de convivência seja longo, um mínimo de afeto precisa ser demonstrado. É bonito quando alguém inclui o nome do outro em uma conversa qualquer. Inconscientemente, deseja que a pessoa amada se faça presente, ainda que o assunto seja corriqueiro. São coisinhas como: “ele também é assim e ela gosta muito disso”. Dá gosto de ouvir, soa como uma prova dos nove do amor, que aquela pessoa está vivendo.

Amor é lembrar dos produtos preferidos ao cumprir a lista do supermercado; é andar de mãos dadas na rua; é trocar metade de um filme por beijos e abraços; dividir um lanche e um copo de suco e saber que o verdadeiro banquete está na companhia. É saudade boa na ausência e tranquilidade na presença. Se os sentimentos acontecem ao inverso, há algo de errado. Se há mais cabeça baixa que brilho nos olhos, também é sinal de alerta. Se o abraço trocado não tem mais calor, a chama se apagou e talvez já faça algum tempo. Esse é um sinal de alerta que algo não vai bem. É hora de sentar e discutir a relação.

Portanto, o amor precisa ser forjado, não vem de mão beijada e nem é feito apenas de rosas. Não é perfeito, nem feito apenas de momentos felizes ou incríveis. Amor também é abrir mão, é uma conversa difícil e divergente. É desacordo que precisa terminar em acordo, em pedido de desculpas e em promessas de fazer melhor da próxima vez. Só experimenta o verdadeiro amor quem pode fazer dele o seu significado de reciprocidade. Só o amor devolvido na mesma moeda, traz felicidade completa. Bem lá no fundo, se há intimidade a ponto de um abraço dispensar qualquer palavra, seguramente é o amor que está se manifestando silenciosamente. Em resumo, “amar talvez seja isso: descobrir o que o outro fala mesmo quando ele não diz nada”.  

8 de dezembro de 2019

A DESCOBERTA DO CORPO PELA MASSAGEM TÂNTRICA

A massagem Tântrica veio da Índia, de uma cultura chamada Tantra. Na verdade, o Tantra aponta para autodescoberta através do corpo. No Tantra tudo é sagrado, desde o corpo até a sexualidade é sagrada. O corpo é visto como um templo. Partindo desse pressuposto a massagem Tântrica é uma ferramenta do Tantra que trabalha energia vital que também é chamada de energia sexual. A finalidade da massagem Tântrica é harmonizar o centro energético, que visa despertar e ampliar a sensibilidade do corpo e, consequentemente, intensificar as sensações de prazer. São toques de carícias suaves e agradáveis pelo corpo todo. Esse alisar o corpo inteiro estimula a bioeletricidade, harmoniza os chacras e libera o fluxo da energia pelos canais energéticos.   

Durante anos de nossas atividades sexuais, criamos hábitos e manias nada satisfatórios para nossa sexualidade. Fazemos sexo sempre na mesma posição, nos mesmos dias da semana, principalmente para os que são casados há muitos anos. O sexo passou a ser uma atividade orientada para somente ter orgasmo. Não há uma troca de contato íntimo e carícias entre os parceiros, que dê um tempero diferente nessa comida - abusando um pouco do trocadilho. É tudo muito afoito, frenético e precário. Desta forma ficamos totalmente perdidos na pressa de chegar . Para usar uma linguagem poética, o melhor do passeio por esse santuário de prazer acaba por se perder ao longo dessa viagem prazenteira. Penetramos direto na caverna e não apreciamos a beleza que existe em torno dela.

Que intimidade pode existir numa relação sexual quando as luzes estão apagadas, ou quando os olhos estão fechados, com o parceiro perdido em alguma fantasia, pensando em outra ou em outro? Vale para os dois. Nesse momento o que vale é o conjunto todo, mente, corpo e espírito. O contato íntimo Tântrico é uma crescente satisfação sexual no nível físico e emocional, bem como no nível espiritual. A essência deste momento ímpar é que o sexo que já se encontra em estado amoroso, pode ser muito mais do que uma simples experiência física. É um ato muito íntimo que envolve deliciosamente o prazer intenso e prolongado, levando ambos ao êxtase.

O filósofo inglês Bertrand Russel (1872-1970), prêmio Nobel de Literatura em 1950, escreveu um ensaio sobre as três grandes paixões de sua vida. Vou deter-me somente na primeira das suas paixões para fundamentar o significado máximo desse estado amoroso que é o símbolo da nossa própria existência.

Argumenta Russel, “primeiro busquei o amor, que traz o êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o também, porque abranda a solidão, aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observa da margem do mundo, o insondável e frio abismo sem vida. Procurei-o finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que procurei e, embora pudesse parecer bem demais para a vida humana, foi o que finalmente encontrei”. No entanto, para mergulhar nessa viagem ilustrada por Russel, é importante assinalar que na intimidade Tântrica não existe começo, meio e fim, como estamos acostumados na relação sexual rotineira. O que existe é o momento presente a cada etapa dessa viagem pelos corpos um do outro. Não existe tempo de duração é o encontro com o “Divino. Só é dado esse direito aos santos e poetas, os seres mais sensíveis e iluminados desse planeta.

Portanto, neste momento de intimidade intensa a mulher é considerada uma “Deusa, onde o sexo torna-se sagrado e a união dos amantes atinge um nível espiritual significativo para ambos. Essa troca de contato íntimo e consensual entre duas pessoas é uma expressão primária de amor. Por conseguinte, é aqui que o Tântrico aparece como observador da natureza íntima contida em tudo no universo, procurando na união dos pólos opostos a unidade maior, sem se preocupar com abordagem ética e moral. Busca a transcendência do “Eu através da força máxima do universo que está contida nos mistérios sexuais e esses mistérios estão contidos dentro e fora de cada um de nós. Que são os nossos impulsos e atrações. A nossa metade em busca da outra metade perdida. São as nossas almas em busca de perfeição.             

6 de dezembro de 2019

DAMOS A CADA UM O VALOR QUE LHE É DIGNO

Todos os dias cada um de nós tomamos decisões e agimos de acordo com os nossos valores. Os valores não estão nas coisas em si, eles dependem de quem avalia por isso os valores podem variar de pessoa para pessoa. Os valores podem mudar com o tempo. Quando os nossos valores mudam, muda o nosso olhar sobre as coisas do mundo. Os valores valem e as pessoas são. O que isso quer dizer? Isto quer dizer que, os valores não são propriedade das coisas ou das pessoas. Os valores só existem na medida em que alguém avalia e valoriza, portanto, há muitas diferenças nos valores. Valor implica sempre uma relação de sujeito com um objeto. Quanto vale uma árvore contada, por exemplo? Ela tem valor diferente para cada pessoa. Para um ambientalista ela tem um valor estético, que justifica sua preservação. Para o biólogo a árvore abriga várias espécie de pássaros, que ficariam prejudicados se ela fosse derrubada. A preocupação como a sobrevivência com outras formas de vida é um valor ético. Para uma pessoa gananciosa e materialista isso não significa nada a não ser o lucro que vai ter com a derrubada da árvore.

Nós decidimos e agimos em função de valores que temos. Porém, o mais certo seria dizer, que as nossas decisões de ação mostram quais valores na verdade, nós temos. Porque muitas vezes nós dizemos que acreditamos em tais valores e agimos de outra forma. O valor de verdade é aquele valor que se manifesta na nossa ação. Se digo que sou contra mentira, contra a traição, contra a falsidade e contra o roubo e na pratica eu minto, traio, falsifico e roubo, esse é o meu valor. As pessoas que têm valor nas nossas vidas são escolhidas por nós, assim como a prioridade que lhes damos. As etapas pelas quais passamos determinam de forma perigosa as máscaras que vestimos e as máscaras que os outros usam. Por isso, para desmascarar egoísmos e falsas companhias, primeiro é preciso limpar as próprias lentes e perceber o suicídio que significa ter a pretensão de ser como os outros esperam e anseiam que sejamos.

Quem inventou os valores? Foram os homens que inventaram os valores e estão continuamente avaliando e reavaliando seus valores. E nesse processo de revisão permanente, os homens buscam valores que proporcionem uma vida melhor, mais justa, digna e solidária, que convive o pacífico entre todos. Na perseguição desses valores, o homem vai se modificando e aprimorando como se estivesse numa olimpíada. Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), a ação mais alta da vida livre, é o nosso poder para avaliar valores. Para ele o bem o mal não são valores existentes em sim mesmo. Tem uma identidade e uma significação independente dos grupos humanos ou dos indivíduos em confronto que define o que é o bem e o que é o mal. Esses valores nunca são questões eternas, mas elas dizem respeito sempre a aquilo que é mais forte para afirmar o seu ponto de vista e aquele que tem que sofrer esse ponto de vista. Portanto, há sempre uma relação de força, é sempre o mais forte que age pela a afirmação dizendo, algo é bom e imediatamente o mais fraco na vontade diz isto é um mal.

Portanto, os valores são entidades virtuais, eles não existem na realidade, não são propriedades dos objetos, são atribuídos as coisas pelo sujeito. Os valores só existem na medida em que uma pessoa avalia e valoriza. Por isso existem muitas diferenças nos valores. Eles variam conforme a época e os critérios das pessoas. Todas as nossas decisões são baseadas em valores e quando nossos valores mudam, muda a nossa maneira de ver o mundo. O ideal é que cada pessoa busque os seus valores internamente, e saiba como trabalhar com eles para alcançar seus objetivos. Pare por um momento da correria do dia a dia, relaxe tranquilamente, seja num banco de praça, em um café, logo após o almoço, escolha um momento para ser somente seu, e faça a seguinte pergunta a si mesmo: “O que é importante para mim?” Na grande maioria das vezes, as respostas que você obter desta pergunta, irá indicar seus valores. Contudo, falamos de vínculos saudáveis e insanos, de pessoas que nos enriquecem e pessoas que nos prejudicam com seus costumes e com expectativas que criamos. Somos obcecados por agradar o mundo todo, o que acaba gerando a sensação de que estamos rodeados por quantidade mais do que por qualidade. Naturalmente, isto muda com o passar do tempo e “seja pelos anos ou pelos danos”, começamos a dar prioridade a aqueles que realmente, consideramos importantes para nossas vidas.     

4 de dezembro de 2019

AS RELAÇÕES HUMANAS ESTÃO DESFIGURADAS

O individualismo é a mais cerrada solidão; enquanto que o coletivismo de cunho burocrático é outra dura modalidade de solidão. Só mesmo o movimento de entra-se em relação autêntica com o outro é que permite a redescoberta do sentido profundo de existir convivendo. De modo que o ser humano, no mundo e em comunhão com o mundo, foi sempre tema nuclear de si mesmo. Para o filósofo austríaco-judeu Martin Buber (1878-1965), que examinaremos nesta reflexão levantou varias indagações sobre a relação do homem com a sociedade de consumo. Assim por exemplo: qual o lugar que corresponde ao homem no cosmo? Quais as suas relações com o destino e com o mundo das coisas? Como o homem se relaciona com o seu semelhante na sociedade de consumo?

Na obra central de Buber, “Eu e Tu”, colhemos suas próprias palavras: “São três as esferas nas quais o mundo da relação se constrói. A primeira é a vida com a natureza onde a relação permanece no limiar da linguagem. A segunda esfera é a vida com os homens, onde a relação toma forma de linguagem. A terceira é a vida com os seres espirituais, onde a relação embora sem linguagem gera a linguagem”. Contudo, é claro que as relações humanas estão desfiguradas por conta da modernidade líquida. As pessoas se relacionam como se o outro fosse objeto. A relação eu-isso entre pessoas tem aspectos patológicos, oriundos de fixações emocionais no desenvolvimento de traumas sofridos nos intercâmbios afetivos e deformações da personalidade produzidas pelo descaso humano da sociedade de consumo.

Há seres humanos infelizes que se tornaram incapazes de amar, só querem ser amados. São aquelas pessoas impotentes para se afeiçoar, vivendo o que poderia ser chamado de déficit de alteridade que só lhes permite ver os outros como objetos úteis e convenientes. Não é necessário acrescentar que, para essas pessoas desventuradas, o seu próprio eu decai para a condição objetal. Cito Santo Agostinho (354-430), que construiu belos pensamentos em torno dos vocábulos latinos frui e uti: “Fruir é inteiramente diverso de utilizar; a fruição implica comunhão prazerosa, enquanto que a utilização só diz de manifestações frias”. Lembro aqui estas ideias de Agostinho porque uma das coisas que mais têm degenerado as relações interpessoais é esse pragmatismo com o qual pergunto apenas se o outro – meu semelhante – pode ou não ser-me útil.

eu da relação eu-isso difere do eu da relação eu-tu. O primeiro eu apenas observa e estabelece juízos de valores, enquanto o segundo, diferentemente de ser uma coisa em si mesma, é algo que acontece na comunhão relacional do “encontro humano”, E há nisto uma dinâmica especial, pois o tu é evanescente por não ser estaticamente objetivado; de modo que há a exigência de uma busca constante do relacionamento eu-tu. Ora, entre pessoas cujo encontro humano foi de tal modo legítimo que lhe estreitou a convivência em verdadeiro amor, seguem acontecendo momentos de eu-isso como acidentes neuróticos da relação. De qualquer forma, nessa relação ocorre necessariamente que o tu seja o outro polo do nosso eu, pois este só pode ser confirmado na plenitude de sua humanidade por um tu. Tal confirmação está, no fato da “exigência de reciprocidade”.

Portanto, no livro “Eu e Tu”, trata-se de uma obra profundamente filosófica. Para compreender a filosofia do diálogo em sua totalidade seria necessário ter conversado com o próprio Martin Buber, devido ao tamanho da complexidade presente na sua obra. Entretanto, a despeito de toda complexidade (que demonstra a riqueza e validade da obra) é possível inferir que compete nos priorizar a relação eu-tu, principalmente, em se tratando do Tu eterno, o encontro com Deus. Sem esquecer, porém, que a experiência através da palavra-princípio eu-isso é necessária para o nosso conhecimento de mundo. Devemos também, enxergar a natureza como um tu e não como um isso, pois, na relação eu-isso visualizamos a natureza como um tu e não como um isso, pois, na relação eu-isso visualizamos a natureza como um fim útil, assim como o mundo capitalista à enxergar, implicando por sua vez, nos desastres ambientais visto atualmente e na situação pré-apocalíptica em que colocamos nossa casa mãe no eu-isso

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...