26 de dezembro de 2019

SEJA INADEQUADO FRENTE A UMA SOCIEDADE ENFERMA

Se quiser ter um pouco de saúde mental, fuja deste manicômio chamado sociedade. Basta acompanhar os noticiários escritos e televisivos para entender o que estou dizendo. A vida contemporânea é cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc. Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.

Vivemos engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais, sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais. Por exemplo; veja como se dão os encontros familiares no Natal. A conclusão que se chega é absurdamente inadequada para uma data tão especial como deveria ser. O que se vê é que as famílias se encontram eventualmente nesta data e fora dela se traem sistematicamente. E ainda chamam o Natal de encontro familiar. De qual família estão falando? A da família social e enferma ou a da família particular e insana?

Somos enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as mesmas coisas com quem quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o qual nos torna seres adequados à vida em sociedade. Entretanto, para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas vidas mergulham em depressões?

Qual o sentido de adequar-se a uma sociedade formada por famílias que matam sonhos, porque eles simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a permitir que cada um encontre a sua própria felicidade. Uma sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar a essa sociedade?

Os nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas. O pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos, pelo menos uma vez na vida, sem a preocupação de agradar aos outros.

Portanto, somos uma geração com medo de assumir as rédeas da própria vida. E, assim, temos permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos. É preciso sacudir as gaiolas, como diz o escritor suíço Alain de Botton (1969): “As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude. Contudo, estamos procurando a experiência que tenha ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntima, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

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