18 de dezembro de 2019

DO PAI HERDAMOS O CARÁTER E DA MÃE A RESIGNAÇÃO

Em que momento da vida é formado o caráter de uma pessoa? Caráter é um termo usado na psicologia como sinônimo de personalidade. Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em índole ou firmeza de vontade. É um tema básico na mitologia, o filho que sai a procura do pai através dos séculos, este por sua vez simboliza a lei, a censura, o responsável pela formação do nosso caráter. A ideia da “deusa se relaciona ao fato de que você nasceu de uma mãe e que, na verdade, o seu pai pode ser desconhecido para você ou até mesmo já possa ter morrido.

Segundo o filósofo Joseph Campbell (1904-1987), a maior autoridade no campo da mitologia, argumenta que nas epopeias, frequentemente, quando o herói nasce, o pai já morreu ou está em algum outro lugar, então o herói tem que partir à procura do pai. Precisamos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos, para podermos viver a vida que nos espera, que pode ser no encontro com nossa real identidade, o pai. A pele velha tem que cair para que uma nova possa nascer. Sempre recomendo aos meus alunos: “vão aonde o seu corpo e a sua alma desejam ir. Quando você sentir que é por aí, mantenha-se firme no caminho, e não deixe ninguém desviá-lo dele”. De modo que, procurar o pai numa linguagem mítica, simboliza ir ao encontro de seu caráter. Tendo em vista, que o pai simboliza a lei.

Na história de Jesus, o seu pai era o “Pai do Céu”, que é um termo simbólico aceito pelos cristãos. Quando é colocado na cruz, Jesus está a caminho do pai, deixando a mãe para trás. Para Campbell, a cruz que simboliza a terra é, na verdade, o símbolo da mãe. Assim, na cruz Jesus deixa o seu corpo sobre a mãe, de quem ele o havia herdado e, vai para o pai, a suprema fonte transcendente do mistério. É no pai que ele vai encontrar a sua verdadeira identidade. Na linguagem psicanalítica, o pai simboliza a lei, e quem faz valer ou não essa lei é a mãe.

Há pessoas que nunca tiveram contato com os seus pais. Eu também não conheci o meu pai e gostaria muito de ter conhecido. Não importamos muito com a mãe, porque ela está aí mesmo. Nascemos dela, fomos amamentados e educados por ela. Acompanhou o nosso crescimento, até a idade adulta, pelo menos essa é a regra. A partir daí é chegado o momento de sair à procura do pai. Para a mitologia, encontrar o pai tem a ver com o encontro do seu próprio caráter e do seu próprio destino. Acredita-se que o caráter seja herdado do pai, assim como a lei ou a censura representada na figura paterna. E da mãe herdamos a mente, o sofrimento, a resignação, talvez a culpa. Mas o mistério reside no seu caráter, e o seu caráter é o seu destino.

Por conseguinte, a procura do pai simboliza a descoberta do seu destino. Entretanto, quando encontra o pai, você encontra a si mesmo. Na história de Jesus que estava perdido em Jerusalém, quando tinha doze anos de idade, seus pais o procuram e o encontram no templo, conversando com os doutores da lei, e perguntam-lhe: “Por que você nos abandonou desse modoPor que você nos causou tanto medo e ansiedade?” E ele diz: “Vocês não sabiam que eu devia estar às voltas com a ocupação do meu pai?” Ele estava com doze anos, a idade da iniciação da adolescência, em que o menino parte à procura do pai simbolicamente.

Portanto, a figura do pai serve como modelo de comportamento para o menino e também permite que a menina conheça e compreenda o universo masculino. Práticos, objetivos e racionais, os homens também podem mostrar às crianças uma nova forma de encarar a vida, diferente do ponto de vista feminino. Sobretudo, porque a mãe tem uma tendência natural de proteger demais a prole, ao contrário do pai que estimula a independência e corta o excesso de proteção da mãe. Não é preciso nem falar sobre o suporte emocional que a maior proximidade afetiva do pai representa para os filhos. No entanto, para a formação do “Super Ego”, da censura, do social, da lei, como citei acima, é fundamental para a existência desse referencial masculino.

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