28 de janeiro de 2019

QUANDO AMIZADE SE TRANSFORMA EM PAIXÃO

Aprendemos a pensar sobre as amizades como sendo um forte elo emocional entre pessoas, que se caracteriza pela ausência de interesse sexual, ao menos de forma explícita. Nessa perspectiva, a amizade corresponderia ao fenômeno do amor, livre de ingredientes eróticos. Por outro lado, à amizade desapareceria, transformando-se em relacionamento amoroso. Gosto de pensar na amizade como um ato de amor entre os humanos. No entanto, cabe registrar o caráter extremamente dramático, relacionado com a ruptura dos elos de amizade, em especial quando ela se dá por uma inesperada decepção com algum amigo. Além da frustração pelo fim da relação gratificante, resta o gosto amargo de não se poder confiar em mais ninguém, uma espécie de decepção com as pessoas. Sobra também à desconfiança em relação a nós mesmos, que pensávamos ter um critério apurado, para saber quem é o outro e, de repente, somos surpreendidos por um grave erro de avaliação.

De modo que a observação serve de deixa, para reafirmamos a importância de distinguirmos entre um verdadeiro elo de amizade e as ligações superficiais com pessoas conhecidas, que muitos, chamam de amigos. Amizade é coisa séria; já os conhecidos são muitos e, quase sempre, nem os conhecemos bem. Podemos ter uma impressão favorável de muitos deles, e até mesmo desenvolver um relacionamento íntimo. Mas amigo é aquele em quem confiamos plenamente. Como regra, a amizade não envolve coisas práticas, a não ser pequenas trocas de favores, ou de ajuda em situações dramáticas. A amizade deveria ser importante na escolha de parceiros e sócios em geral, mais isso não corresponde aos fatos.

No entanto, por puro preconceito ou por medo, o homem e a mulher deixam de parecer atraentes um para o outro, em função da amizade. Era assim no passado, quando o uso da palavra amigo determinava que a sexualidade inexistisse. Gostar de estar junto, de trocar ideias sobre as coisas relevantes e as sem importância, achar graça na forma do outro ser, jeito de falar, rir, etc. Tudo isso, em princípio, deveria despertar o desejo de intimidade. Seria mais razoável termos intimidade com pessoa amiga e confiável do que com alguém desconhecido. Na vida real, as coisas não acontecem assim por variadas e complexas razões. Somos mais apegados aos preconceitos do que pensamos. E amizade é algo que, por princípio, não inclui sexo. Ao pensar em intimidade entre amigos, surgem dois medos. O óbvio é o de perdemos o amigo, por algum tipo de contratempo; e o outro, talvez o mais importante, é o de que a amizade, com a introdução do elemento erótico, torna-se uma “paixão” fulminante. Além de fascinante, a paixão pode ser o indicador que o amor paira serenamente no coração de ambos.

Portanto, quando as pessoas tornam-se mais maduras e mais independentes, elas conseguem ver em seus parceiros amorosos, seus melhores amigos. Isso porque os apaixonados foram escolhidos, segundo os mesmos critérios que costumamos usar, para estabelecer elos de amizade solidas como: “a busca de afinidades de caráter, gostos, interesses e, é claro, aquela simpatia pelo jeito de ser um do outro, que é tão encantador e tão difícil de ser definido”. Nesta paixão ainda entra o ingrediente erótico, que como regra, ausente nas boas escolhas sentimentais. É preciso ter cuidado, pois o sexo não raramente, prejudica os ingredientes essenciais, para uma rica e solida amizade. Mas com uma boa dose de amor e respeito de um pelo outro, conseguem harmonizar e transformar o encontro, numa gostosa aventura com sabor de cereja.

25 de janeiro de 2019

UMA AMIZADE SOLIDA É UM ATO DE AMOR

Temos uma forte tendência conservadora, que nos leva a rejeitar, ao menos num primeiro momento, qualquer ideia que não esteja em concordância com o que desejamos. Estamos sempre criando expectativas e nos machucamos por isso. Parodiando o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014), o que eu quero é uma conexão de alma, diálogos inteligentes, elevados e respeitosos. Se for para humilhar o outro e obscurecer ainda mais a alma de alguém, prefiro o silêncio caridoso. É claro que eu penso muito em extravasar minhas verdades, mas descobri que possuímos somente diferentes pontos de vista. A verdade é simplesmente como escolho viver diariamente. Fazer amizades solidas é viver em sintonia com a essência humana.    
De modo que, ao falarmos de amor, parece mais difícil ainda que as pessoas consigam ver seus aspectos menos simpáticos e mais primitivos. Vejo no amor uma busca de completude. Todos nós, desde o início da vida, temos a sensação de sermos incompletos. Parece que só nos sentimos inteiros e em paz, quando estamos ao lado da nossa cara metade. Quando refletimos sobre as relações amorosas entre adultos, percebemos que o modo como se unem é muito semelhante ao sentimento que liga uma criança à sua mãe. A grande verdade é que os ingredientes negativos relacionados ao ciúme, também se manifestam de uma forma muito intensa.
No entanto, é por causa disso que costumamos perceber o amor como um sentimento que acaba se opondo de modo mais ou menos definitivo aos desejos de individualidade. O amor adulto é uma cópia do que se passa na infância. O discurso é mais racional, mas as reações são idênticas às das crianças. Outro tipo de relacionamento íntimo que vivenciamos é o da amizade. Aqui, o prazer da companhia é tão importante quanto o que existe nas relações chamadas amorosas. A confiança recíproca e a cumplicidade costumam ser até maiores do que as alianças encontradas entre os que se amam. Somos mais respeitosos e menos dependentes de nossos amigos.
Portanto, fica claro que o amor é um processo infantil que costuma se perpetuar ao longo da nossa vida adulta. A amizade de boa qualidade é um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão, e sim a aproximação de duas pessoas que tenham importantes afinidades e interesses em comum. Nossa parte adulta estabelece vínculos respeitosos e ricos em intimidades, que correspondem à amizade. Nossa parte infantil tende a estabelecer um elo único com outra pessoa, em relação à qual passamos a ter expectativas similares àquelas que tínhamos de nossa mãe. Contudo, estabelecemos vínculos respeitosos e ricos em intimidades, que corresponde à amizade. Vejo na amizade um processo muito mais adulto do que aquele que chamamos de amor. Uma amizade solida é um ato de amor para conosco.

22 de janeiro de 2019

NINGUÉM É INSENSÍVEL AO OLHAR DO OUTRO

Ao olhar para alguém, principalmente para uma criança, o nosso olhar a levará a fazer coisas além do que ela já vinha fazendo ou mesmo mudar de atividade. Olha-se para um adulto e ele também começa a fazer coisas diferentes, a favor ou contra, mas faz. De modo que, basta olhar para alguém analogamente, para que começamos a encenar. Por alguma razão o olhar do outro nos transforma. Dar atenção, nove vezes em dez, quer dizer olhar para algo que nos chama atenção. Vamos um pouco além. Dar atenção é um ato deveras transcendente pelas consequências que tem, assim como pelos efeitos advindos de sua ausência. Sem atenção, sem o olhar nada se desenvolve.

Se as pessoas não se olhassem, não mudariam como acontece quatro vezes em cinco nos casamentos, poucos anos depois. O primeiro sinal de que estou começando a desinteressar-me por uma pessoa é o fato de olhar para ela cada vez menos. Isso vale tanto para relações afetivas, como para encontros ou conversas casuais. Outro sinal de que alguém está interessado pode ser percebido pela insistência com que se busca no olhar. Dizendo de outro modo, a poderosa influência do olhar reside em sua capacidade de induzir no outro o papel complementar ao de quem determina o momento. O que cada um diz através dos gestos e palavras, exerce influência sobre o outro, de tal forma que essa pessoa é tão responsável e não só pelo que está sendo dito, mas, pelos olhares que estão trocando.
Portanto, o que está acontecendo é uma dança muito bem combinada (ou não) de movimentos, olhares, gestos e sons. São os corpos se comunicando quase sem verbalizar, através de olhares e insinuações prazenteiras. Quando nos entendemos bem com alguém, há uma dança das almas no olhar, nos gestos e sorrisos, ao som e ritmo da musicalidade da voz que compõe o diálogo entre ambos. Quando estamos encantados por alguém, a linguagem não é necessária. Voamos alto em direção a Deus. Esse é o momento ímpar em que estamos em estado de graça. Contudo, procuramos na simplicidade de gestos nobres, como um olhar que nos toca, um abraço que nos comove e um se cuida de coração aberto. “É no olhar que te vejo, no olhar te mexo e no olhar-te desejo”.

20 de janeiro de 2019

PEDAÇOS DE SONHOS E SOFRIMENTOS

O que ofereço de mim com aflição, no meu tear tecida, essa agonia que lanço nestas singelas linhas. Passam-se os dias e não passa ninguém que estenda a mão aos pedaços de sonhos e sofrimentos que o viver, com recursos de alquimia, transforma em iluminuras e vitrais. É dura a indiferença a estes inventos que nascem com força de sangria e arrebentam-me em gozos abissais.

Nem sempre somos compreendidos (às vezes não), bebeste o mundo e o caminhaste levando uma canção interminável como guia. Inevitável ardor de gelo e longa flor sem haste foi à sorte que me coube na vida. Foi comendo e bebendo a claridade do espírito do mundo, que continuei a escrever o amor em pentagramas. Sons da lida com os arcanjos do frio e da saudade, nas muitas solidões entre a terra e o azul celestial.






18 de janeiro de 2019

TRANSFORMANDO DESEJO EM VONTADE

O mundo como vontade foi tratado pela primeira vez pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que foi um grande crítico da filosofia hegeliana, porque segundo ele o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831), deu muito atenção para a razão e a subestimou, deixando totalmente de lado tanto a parte instintiva do ser humano quanto a sua vontade. Schopenhauer também teve muita influencia do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), assim como das religiões orientais: “o hinduísmo e o budismo”. A sua grande obra é: “O Mundo como Vontade e Representação”. Segundo ele argumenta que o mundo é constituído e regido por uma grande “vontade universal” e que nós também possuímos parte dessa vontade. Que é uma vontade individual e que a partir dela tomamos contato com esse mundo e que tudo que percebemos através dessa vontade é uma representação do mundo.

De modo que nós não conhecemos o mundo em si, não conhecemos as coisas, como elas são de fato. Como vai dizer Immanuel Kant, que só conhecemos as representações das coisas que chegam até nós, através da nossa vontade. Podemos perceber que Schopenhauer coloca o ser humano no centro do conhecimento. Tudo aquilo que conhecemos do mundo nada mais é do que uma representação das coisas que chegam até nós através dessa interação que temos com o mundo. Depois do desejo vem à vontade. Essa vontade que é uma energia universal, que constitui um mundo sem nenhuma finalidade, sem nenhum propósito, sem nenhum significado, essa energia é a “essência das coisas”. A vontade causa no homem sofrimento, pecado e a morte. E por ela ser irracional, esse sofrimento que existe no homem ele é inevitável e essencial para a vida.

De modo que Schopenhauer entende a vida, como uma cadeia de desejos não satisfeitos em que o prazer é pura ilusão. A questão é que sempre estamos desejando alguma coisa, o homem é um bicho desejante. Esse nosso desejo, não é nada racional, não existe nenhuma motivação por trás dele. E o prazer que era para a gente obter com a aquisição desse nosso objeto de desejo, ele é ilusório. Porque quando a gente consegue, logo vem o tédio. O ser humano está o tempo todo sofrendo, seja porque está desejando, ou seja, porque já conseguiu ter o objeto desejado e aí vem o tédio, aquele vazio, porque não era bem o que esperava. A vida é uma cadeia de desejos não satisfeitos, até porque não sabemos transformar desejo em vontade. Quando não estamos desejando, estamos mergulhados no tédio.

Portanto, para eliminar esse sofrimento Schopenhauer vai buscar essas respostas no budismo e no hinduísmo, entrando praticamente em estado de “nirvana”, ou seja, sublimando todas essas coisas terrenas e acabando assim com a vontade e os desejos sobre as coisas terrenas. Contudo, existem três níveis de purificação que desfaz esse desejo, que desfaz essa vontade que nos causa o sofrimento e a dor. Através da arte começamos a contemplar as grandes obras e passamos a não ver mais o objeto e sim as formas, ideias e essências. E quando chegamos a esse nível de contemplação não sentimos mais desejo pelos objetos, eles deixam de ser útil ou nocivo para nós. Enxergo agora as essências e as ideias. Agora entramos num processo de abstração e nos tornamos o “olho do mundo”. Como humanos somos um com os outros e essa consciência nos causa dor e sofrimento. Mas, ao mesmo tempo ela faz com que sentimos compaixão pelo nosso semelhante. Aqui nasce a ética, o cuidado e o zelo pelo meu próximo. Morre o “ter” e nasce o “ser”.

16 de janeiro de 2019

AMIZADE É AMOR SEM CARÁTER BIOLÓGICO

Relacionar-se significa que estamos sempre começando, sempre tentando nos tornar conhecidos. A alegria da amizade está na exploração da consciência. Quando investigamos o outro, fazemos o mesmo conosco. Aprofundando-nos no outro, nos aprofundamos em nós mesmos. Tornamo-nos espelho para o outro e o amor torna-se meditação. Quanto mais descobrimos, mais misterioso o outro se torna: “o amor é uma aventura constante”. Pessoas iluminadas têm mais inimigos do que os não iluminados, pois os cegos não perdoam quem enxerga e os ignorantes não perdoam quem sabe mais. Ser amigável, amoroso, autêntico, inocente sem causa é suficiente para disparar muitos egos contra si. De modo que, relacionar-se é uma das maiores coisas da vida: “é amor compartilhado”.

De modo que, para amar é preciso transbordar de amor e para compartilhar é preciso ter o amor. Quem se relaciona respeita e não possui. A liberdade do outro não é invadida, ele permanece independente. Possuir é destruir todas as possibilidades de se relacionar. Compreendo o relacionar-se como um processo. Relacionamento é diferente de relacionar-se: "é completo, fixo, morto”. Antes devemos nos relacionar conosco mesmos e escutar o coração para a vida ir além do intelecto, da lógica, da dialética e das discriminações. É bom evitar substantivos e enfatizar os verbos. Como falei em outra reflexão, a vida é feita de verbos como: “amar, cantar, dançar, relacionar, viver, etc”.

Portanto, somos um fim em si mesmo. Ninguém existe para ser usado. Quem está no auge da solidão só se atrai por quem esteja só. Dois solitários olham um para o outro, mas dois que conheceram a solidão olham para algo mais elevado. Porque a felicidade simplesmente acontece. Para ser feliz é preciso deixar acontecer. O caminho do amor deve ser tomado com tremenda consciência e o da consciência, com tremendo amor. Depois de cada experiência profunda nos sentimos sós e tristes. Mas, a alegria traz a necessidade de compartilhar. A paixão é muito pequena diante da compaixão. Contudo, solidão é mover-se para dentro e amor é mover-se para fora. Ambos os movimentos são enriquecedores e aumenta cada vez mais o potencial do relacionar-se. Só quem é capaz de ser feliz sozinho, pode contribuir com a felicidade do outro.

12 de janeiro de 2019

A VIDA É FEITA DE VERBOS

Depois de algum tempo meditando cheguei a seguinte conclusão: “a vida é feita de verbos; como o verbo amar, cantar, dançar, relacionar, viver, etc.”. Isto é tudo que nos move e nos coloca para cima. Porém, nada machuca mais do que quando um sonho é esmagado, uma esperança morre, o futuro torna-se escuro. A frustração representa uma parte muito valiosa no crescimento espiritual. Como argumenta o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que no ser humano há um enorme gigante chamado “vontade” que carrega em seu ombro um pequeno anãozinho chamado “razão”. Ele quer dizer que o mundo é regido por uma grande vontade universal e que nós também possuímos parte dessa vontade. E tudo aquilo que percebemos do mundo, através da nossa vontade, nada mais é do que uma representação das coisas que chegam até nós. Por isso é que somos como somos.

Entretanto, não se pode amar alguém não livre, pois o amor só existe se dado livremente, quando não é exigido, forçado ou tomado. Quando há atração sexual e o ciúme entra em cena é porque não há amor. Há medo, porque o sexo é uma exploração do corpo. O medo se torna ciúme. Quanto mais controlamos, mais “matamos” o outro. As causas do ciúme estão dentro de nós; fora estão sós as desculpas. O amor não pode ser ciumento. Ele é sempre confiante. Confiança não pode ser forçada. Se ela existir, segue-se por ela. Senão, é melhor separar, para evitar danos e destruição e poder amar outra pessoa. Todavia, quando amamos alguém, confiamos que não quererá outro. Se quiser, não há amor e nada pode ser feito. Só através do outro tornamo-nos consciente de nosso próprio ser. Só num profundo relacionar-se o amor de alguém ressoa e mostra sua profundidade: “assim nos descobrimos”. Outra forma de autodescoberta, sem o outro, é a meditação. Só há dois caminhos para chegar ao divino: “meditação e amor”.

Portanto, o amor se relaciona, mas não é relacionamento, que é algo acabado. Ele é como um rio fluindo, interminavelmente. Há flores do amor que só desabrocham após uma longa intimidade. Relacionar-se significa que estamos sempre começando, sempre tentando nos tornar conhecidos. A alegria do amor está na exploração da consciência. Quando investigamos o outro, fazemos o mesmo conosco. Aprofundando-nos no outro, nos aprofundamos em nós mesmos. Tornamo-nos espelho para o outro e o amor torna-se meditação. Quanto mais descobrimos, mais misterioso o outro se torna: “o amor é uma aventura constante”. Quando estamos apaixonados, a linguagem não é necessária. A gente se comunica por telepatia. O amor não escraviza, não é possessivo nem exigente. Ele liberta, permitindo aos amantes voarem alto, em direção a Deus. Quando apreciamos nossa solidão, nos tornamos meditadores. Só quem é capaz de ser feliz sozinho pode contribuir com a felicidade de outro. Contudo, o amor é mais verdadeiro e autêntico do que nós. Todo caso de amor é um novo nascimento. O ego é como a escuridão, mas quando chega à luz do amor, a escuridão se vai.

9 de janeiro de 2019

DA PAIXÃO PODE NASCER O AMOR

Na filosofia quando levanta a questão do amor platônico, mexe em outro mais pertinente ainda, que é a paixão. Existe algo mais apaixonante em si, do que a paixão? Ao julgar se a paixão vale ou não a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia: “amor e paixão se confundem”. As pessoas confundem o amor com paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com a outra pessoa, isto é, através de uma amizade constituída, estreita. É a capacidade de descentra-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito, que nada quer em troca.

Amar demanda cuidado com o outro, preservar a identidade e as diferenças do outro, sem perder a sua evidentemente. É o mesmo que estar comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo. A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com os seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar, na questão da poluição. Muita gente boa cuidando da nossa casa, o planeta terra.

De modo que, ao contrário do amor está a paixão. Para o filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677), compreendia que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: “a que tipo de objeto está preso pelo amor?” Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto. Para Platão (427-347 a.C.) o amor perfeito só existe no mundo das ideias, ou seja, idealizamos o amor e projetamos no outro. É um gostar de mim no outro. A partir do momento que não for correspondido nas suas expectativas sobre o outro, deixo de amá-lo. Esse amor centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.

Portanto, muitas vezes pensamos que gostamos de uma determinada pessoa só porque ela nos entende. No entanto, o que mais precisamos naquele momento é ser compreendido por alguém que nos olhe com admiração e nada mais. Ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe toda a vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de atitudes amorosas. Ninguém da o que não tem. Se nunca se sentiu amado, é pouco provável que irá se entregar totalmente a um grande amor. Vai estar sempre com uma duvida quanto ao que o outro sente. Buscamos no outro aquilo que não temos, buscamos aquilo que nos faltam e acreditamos encontrar no outro. Contudo, se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor lembre-se: “se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele conquistará o mundo”.

4 de janeiro de 2019

OLHAR NOS OLHOS DE QUEM ME OLHA

Desde que me lembro, vivo buscando com o olhar o que ver. Pois, poeta é aquele camarada que olha para uma coisa e vê outra. Percebo então, o quanto é preciso estar vigilante, a cada segundo, para que o olhar não escape e não me traia. Nada em teus olhos que eu não queira olhar para sempre. O chá e o perfume ainda ecoam os meus sentidos. Cercado pela natureza e ainda no coração o encantamento pelo teu olhar profundo, dizendo alguma coisa, que ainda não decifrei.

Na nossa vida a beleza da tua pele entre os pelos, o dorido dourado nos adoça. Delicia dos macios abrindo-se ao duro do meu transfigurado desejo. Nem bem nasceu uma estrela, o olhar queria ver o que havia dentro dela. Tudo tão claro em toda parte. O frio intenso deixava transparecer o arrepio que sua pela relutava esconder. Deitado numa nuvem enquanto escutava o som melodioso na dança dos olhares.

Amo as nuvens que passam lá longe. Por que me olhas assim, sorrateiramente? Nada é igual depois do teu olhar. Novos raios e sóis pelo meu corpo, inovam de repente o olhar do amor. Quero tua fome sobre mim. O quente gemido no fundo da minha alma, pesa leve e me aquieta surdamente. No querido olhar sustento a esfera girando em giro na sua perfeição. Quando a morte montar nosso corpo, vier vestir-nos para a jornada, talvez não nos encontre triste.

Tuas mãos, os pelos do peito, olhar ancorado em mim, mordidas de santo amor. Ah! Quanta coisa meu olhar enxergou no seu jardim. Fomos para cama dos nossos dias, pela estrada inteira, neste olhar sem fim. Portanto, dos olhos que aguardam, abrirei tuas carnes para tocar o mais aquecido e nela naufragar meu tenso desespero. Sempre teus olhos, estações de clima bom, cantam o sonho que sou na espera desse olhar penetrante.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...