18 de janeiro de 2019

TRANSFORMANDO DESEJO EM VONTADE

O mundo como vontade foi tratado pela primeira vez pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que foi um grande crítico da filosofia hegeliana, porque segundo ele o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831), deu muito atenção para a razão e a subestimou, deixando totalmente de lado tanto a parte instintiva do ser humano quanto a sua vontade. Schopenhauer também teve muita influencia do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), assim como das religiões orientais: “o hinduísmo e o budismo”. A sua grande obra é: “O Mundo como Vontade e Representação”. Segundo ele argumenta que o mundo é constituído e regido por uma grande “vontade universal” e que nós também possuímos parte dessa vontade. Que é uma vontade individual e que a partir dela tomamos contato com esse mundo e que tudo que percebemos através dessa vontade é uma representação do mundo.

De modo que nós não conhecemos o mundo em si, não conhecemos as coisas, como elas são de fato. Como vai dizer Immanuel Kant, que só conhecemos as representações das coisas que chegam até nós, através da nossa vontade. Podemos perceber que Schopenhauer coloca o ser humano no centro do conhecimento. Tudo aquilo que conhecemos do mundo nada mais é do que uma representação das coisas que chegam até nós através dessa interação que temos com o mundo. Depois do desejo vem à vontade. Essa vontade que é uma energia universal, que constitui um mundo sem nenhuma finalidade, sem nenhum propósito, sem nenhum significado, essa energia é a “essência das coisas”. A vontade causa no homem sofrimento, pecado e a morte. E por ela ser irracional, esse sofrimento que existe no homem ele é inevitável e essencial para a vida.

De modo que Schopenhauer entende a vida, como uma cadeia de desejos não satisfeitos em que o prazer é pura ilusão. A questão é que sempre estamos desejando alguma coisa, o homem é um bicho desejante. Esse nosso desejo, não é nada racional, não existe nenhuma motivação por trás dele. E o prazer que era para a gente obter com a aquisição desse nosso objeto de desejo, ele é ilusório. Porque quando a gente consegue, logo vem o tédio. O ser humano está o tempo todo sofrendo, seja porque está desejando, ou seja, porque já conseguiu ter o objeto desejado e aí vem o tédio, aquele vazio, porque não era bem o que esperava. A vida é uma cadeia de desejos não satisfeitos, até porque não sabemos transformar desejo em vontade. Quando não estamos desejando, estamos mergulhados no tédio.

Portanto, para eliminar esse sofrimento Schopenhauer vai buscar essas respostas no budismo e no hinduísmo, entrando praticamente em estado de “nirvana”, ou seja, sublimando todas essas coisas terrenas e acabando assim com a vontade e os desejos sobre as coisas terrenas. Contudo, existem três níveis de purificação que desfaz esse desejo, que desfaz essa vontade que nos causa o sofrimento e a dor. Através da arte começamos a contemplar as grandes obras e passamos a não ver mais o objeto e sim as formas, ideias e essências. E quando chegamos a esse nível de contemplação não sentimos mais desejo pelos objetos, eles deixam de ser útil ou nocivo para nós. Enxergo agora as essências e as ideias. Agora entramos num processo de abstração e nos tornamos o “olho do mundo”. Como humanos somos um com os outros e essa consciência nos causa dor e sofrimento. Mas, ao mesmo tempo ela faz com que sentimos compaixão pelo nosso semelhante. Aqui nasce a ética, o cuidado e o zelo pelo meu próximo. Morre o “ter” e nasce o “ser”.

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