9 de janeiro de 2019

DA PAIXÃO PODE NASCER O AMOR

Na filosofia quando levanta a questão do amor platônico, mexe em outro mais pertinente ainda, que é a paixão. Existe algo mais apaixonante em si, do que a paixão? Ao julgar se a paixão vale ou não a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia: “amor e paixão se confundem”. As pessoas confundem o amor com paixão. Quando estão apaixonadas, julgam estar amando. O amor, porém, é uma vivência mais ampla, é um modo de ser, de viver, que se conquista gradualmente, à medida que se desenvolve a sensibilidade para com a outra pessoa, isto é, através de uma amizade constituída, estreita. É a capacidade de descentra-se, sair de si, ir ao encontro do outro, em uma atitude de zelo e respeito, que nada quer em troca.

Amar demanda cuidado com o outro, preservar a identidade e as diferenças do outro, sem perder a sua evidentemente. É o mesmo que estar comprometido com a realização do outro, é um querer bem ao seu próximo. A capacidade de amar pode expandir-se e atingir um envolvimento e um compromisso com todos os seres vivos e até mesmo com os seres inanimados. Os movimentos ecológicos atestam gestos de amor de pessoas que lutam pela preservação da fauna, da flora, das águas e do ar, na questão da poluição. Muita gente boa cuidando da nossa casa, o planeta terra.

De modo que, ao contrário do amor está a paixão. Para o filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677), compreendia que toda a nossa felicidade e toda a nossa miséria residem num só ponto: “a que tipo de objeto está preso pelo amor?” Se este suposto amor estiver centrado no egoísmo do sujeito que se diz amar de paixão, fuja desse amor. Ele só ama a si próprio. É a carência dele que grita mais alto. Para Platão (427-347 a.C.) o amor perfeito só existe no mundo das ideias, ou seja, idealizamos o amor e projetamos no outro. É um gostar de mim no outro. A partir do momento que não for correspondido nas suas expectativas sobre o outro, deixo de amá-lo. Esse amor centrado no egoísmo é a paixão. A idealização projetada no objeto de desejo.

Portanto, muitas vezes pensamos que gostamos de uma determinada pessoa só porque ela nos entende. No entanto, o que mais precisamos naquele momento é ser compreendido por alguém que nos olhe com admiração e nada mais. Ser amoroso é uma característica da nossa personalidade e pressupõe toda a vivência desde o seio materno. Só quem recebeu o amor é capaz de atitudes amorosas. Ninguém da o que não tem. Se nunca se sentiu amado, é pouco provável que irá se entregar totalmente a um grande amor. Vai estar sempre com uma duvida quanto ao que o outro sente. Buscamos no outro aquilo que não temos, buscamos aquilo que nos faltam e acreditamos encontrar no outro. Contudo, se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor lembre-se: “se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele conquistará o mundo”.

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