31 de outubro de 2021

A FELICIDADE É UMA BUSCA UTÓPICA

Tenho muito a agradecer pelos dias ruins e as decepções que vivi nesses últimos meses, com pessoas próximas e queridas. O mais doloroso é você ser ofendido e traído por pessoas do seu rol de afetos. São essas pessoas que falam de amor e nos atacam sem piedade, nos diminuindo perante as outras pessoas, a ponto de fazermos a seguinte pergunta: “Por que estou submetendo-me a passar por isso”? As vezes não encontro respostas. Quando meu coração esteve apertado, não agendei exames cardíacos: "recorri à poesia". Se compus textos bem escritos com discernimento, devo às esses momentos de angustias.

No entanto, cada vez que fui humilhado, desenvolvi a humildade e reforcei o meu lado bom. Continuo andando na serenidade, principalmente, depois que aprendi que a felicidade é uma busca utópica, sem sentido. Como ser feliz num país em desconstrução e com uma desigualdade indecente entre seus habitantes? Como ser feliz, se além do país à deriva, ainda temos que nos acostumar agora com novas regras de conduta social? E, saindo do geral para o pessoal, ainda temos que lidar com: “a insônia, dívidas, desilusões, discussões e acusações sem o menor fundamento”.

Vamos morrer um dia, aquele dia que otimismo nenhum adia. Então qual o sentido de obstruir ainda mais a vida? As pessoas fazem drama por bobagem, são competitivas, se acham melhores do que são, executam tarefas de forma relaxada, não assumem seus erros, não cuidam de seus afetos e reclamam por não tê-los. Colocam em dúvida tudo, como se fossem os donos da verdade. São essas pessoas que a cada manhã recebem o novo dia com pedras na mão. Falam do seu amor a Deus que não vêem e tratam mal aquele que está ao seu lado todos os dias.

Portanto, também tenho meus momentos de tristeza e angústias, mas não desapareço de mim. Se for uma incomodação pontual, leio um livro, vou dar uma caminhada, espero o dia terminar. Se for mais grave, busco ajuda numa sessão de psicoterapia, converso com amigos, faço mapa astral, ritual xamânico, troco os móveis de lugar, troco os pensamentos de lugar. Me desacomodo. Uso a instabilidade para inaugurar uma estabilidade nova em folha, outra versão da mesma vida. O meu “para sempre” nunca foi feito de linhas retas nem de velocidade constante, e é por isso que a sorte continua ao meu favor.

ESCREVO COMO SE ESTIVESSE CONVERSANDO

Uma das coisas que mais gosto na vida, entre fazer amigos, é conversar e a outra é escrever. Tive um processo de letramento marcado por bons mestres, que produziu em mim um leitor e neste processo de leitura, produziu um cidadão e um exímel professor de filosofia. Podemos aprender de muitas formas, segundo os mestres que tive. Aprendi muito com pessoas relativamente simples, cada uma ao seu modo. Uma delas foi a minha mãe, uma senhora analfabeta que viveu cento e seis anos no melhor da sua saúde. Era portadora de uma profunda sabedoria, a ponto de compreender que a velhice para quem não lê é muito solitária. Ela sentia falta desse hábito. No entanto, li obras que me obrigava a ir ao dicionário, expandir a imaginação, cheguei a pensar na possibilidade de um mundo alternativo. A minha imaginação foi poderosamente incentivada e estimulada por estas obras.

Autores geniais me tiraram da mediocridade e me lançaram no universo do conhecimento, que foi para mim uma nova descoberta. Pude viajar no tempo e no espaço num período de longa duração, talvez para sempre e cada vez mais longe, alcançando novos horizontes. Através da filosofia fui aberto para o mundo que me tornou um cidadão do mundo com uma curiosidade imensa. Procuro sempre ler e estar atualizado com os fatos e  isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. Assim como também, escrever para o Blog. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. O bom é produzir sempre e não deixar a vida passar pelos anos e muito menos deixar escorrer pelos dedos. Escrevo como se estivesse conversando com cada um dos meus leitores. Ao longo desses dez anos de existência do Blog, já são oitocentos e noventa textos postados. Ao longo desse dez anos de Blog publiquei quatro livros. E estou escrevendo um quinto livro.

Aprendi com a educação e a cultura que herdei da minha bondosa mãe, que foi na verdade, procurar sempre pautar as minhas relações no respeito e a ser uma pessoa cada vez mais humana, nesse projeto de humanidade que Deus nos confiou. Portanto, sou uma pessoa feliz por poder levar a vida entregando-me a algo que da prazer, que é escrever. Pouquíssimas pessoas podem fazê-lo. O meu estilo é mostrar a fisionomia da alma. Ela é menos enganosa do que o corpo que mostramos. De modo que, quem quiser escrever para bons leitores é necessário que a tua alma seja uma antena ultrassensível que apanhe as mais ligeiras ondas espirituais que percorrem pelo universo humano. É necessário saber cristalizar em ideias conscientes a inconsciente atmosfera das almas que te cercam. Dizer ao leitor o que ele já sabia nas penumbras do seu "eu interior", mas não sabia trazer a luz meridiana da consciência vigilante. De modo que o escritor faz nascer o que já era concebido e andava em gestação. Entendo que o escritor seja aquele intérprete consciente da "subconsciência universal". Um escritor que possui um amigo para ler seus escritos pode dizer que possui duas almas. 

Continuo escrevendo por uma razão muito simples. Por achar que ainda tenho algo a dizer. Escrevo como se tivesse uma necessidade de explicar o mundo. O escritor não precisa ter a missão de salvar o mundo, mas deve cultivar a responsabilidade de ser honesto consigo mesmo e com os seus leitores, pois um dia seus escritos podem ser lidos por pessoas que gostem de suas ideias. Que através do que o escritor escreve, possa promover mudanças em nosso modo de pensar o mundo e de nossos valores. Como educador tento não fazer nada na vida que venha a envergonhar a criança que já fui um dia. As palavras contidas nos textos que escrevo, estão sempre ali à espera de uma voz que as despertem. Isto é, estão ali para ser acordadas. Ao olhar para alguém que leu o meu Blog, sinto uma emoção que não pode ser traduzida em palavras. Digo a mim mesmo, faça alguma coisa que sirva para alguma coisa que seja útil para alguém. Por isso escrevo. Pois, não tenho a tranquilidade de achar, como os estúpidos que texto complicado é problema do texto ou do autor. Sou o que escrevo e do jeito que escrevo. Só tenho certeza de uma coisa, o que escrevo é melhor do que eu. O que escrevo quero que venha a somar de alguma forma na vida de quem lê.

Portanto, tive que achar um nicho na humanidade que é ser professor de filosofia, não só um título justo, mais um título tecnicamente simpático, porque cabe aos grandes filósofos do porte de: Immanuel Kant (1724-1804), Arthur Schopenhauer (1788-1860), Rubem Alves (1933-2014), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e tantos outros, cujo a lista é extensa. Cabe a eles criar ideias e a nós professor ensiná-las. É uma posição bonita que vai criar algo com os alunos, mas, que cria também ideias a partir dos textos lidos. É quase inacreditável o quanto a frase escrita pode acalmar e domar o ser humano. Um texto sem alma não se sustenta, não sobrevive. Não pode comover e, portanto, não pode criar nenhum laço minimamente catártico com o leitor. Um bom diálogo através da linguagem escrita é como pulsar no amor; tem que ter ritmo, sedução e ser envolvente. Razão pela qual aceitei o desafio de ensinar filosofia para criança numa grande "Instituição Educacional" da nossa região. De coração agradeço aos diretores, coordenadores, corpo docente e os pais que me confiaram esta nova empreitada, será mais um desafio para a nossa van filosofia. Sempre desconfiei que as crianças fossem nossos melhores filósofos. Contudo, aprendi através do amor, que dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.

28 de outubro de 2021

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO AMOR

Vivemos cada qual, o amor, da maneira como conseguimos compreendê-lo. No mais das vezes de forma limitada, sem nos dar conta do tão pouco que dele sabemos. Parece que não relacionamos a confusão, inquietude e solidão que por vezes nos assola, com nossa inabilidade em lidar com o amor. Amamos amiúde de forma equivocada, portanto, necessário se faz que reorganizemos esse sentimento, tão essencial a nossa felicidade.

Darmos atenção a ele é a única maneira de chegarmos a compreendê-lo, e assim experimentar sua a realização. Confundimos o amor com sentimento de posse, desejando de forma incoerente aprisionar, reter, quando ele em sua própria essência é a encarnação da liberdade. Talvez daí provenha toda sorte de desencontros e a razão maior de tanto sofrimento. O Homem nasceu para realizar-se no amor e nele encontrar a possibilidade de alcançar a harmonia genuína que se manifesta no poder da criação.

Há que se dedicar com zelo a perceber a sutileza do movimento desta emoção, essencialmente humana. Sentimento que se expressa através do ritmo cósmico, que abrange a totalidade do universo, enquanto plenifica a unidade; que se perpetua pela eternidade, enquanto esgota-se no momento da paixão. O amor exige muito mais de nós do que a lei jamais ousaria exigir. O verdadeiro amor nunca diz: “Agora já está bom. Já cumpri todas as minhas obrigações”. O amor não para, empurra-nos à frente.

Quando amamos, queremos fazer mais que nossa obrigação. Queremos fazer tudo quanto está ao nosso alcance. Uma vida significativa só pode resultar da experiência do amor e isso duplica o compromisso e dedicação. O amor faz bem para os que dele se ocupam. Temos de nos ocupar com o amor, suar por ele, trabalhar por ele. O amor não chega embrulhado em papel de seda, pronto, com todas as peças no lugar.

Portanto, o amor não é uma emoção, um sentimento, não é sempre terno e doce. É um compromisso com a outra pessoa. O compromisso do amor, seja em que nível for, tem de ser uma coisa permanente, um apostar na vida. O amor funciona, por isso ele é ternura. Mas, conhecer e amar nunca é simples.  Somos criaturas da ilusão. Diante do amor, a questão básica é: você quer realmente amar?

12 de outubro de 2021

PENSAR NO AMOR COMO UM JEITO DE VIVER

Quem ama conversa com as estrelas, com a lua. Ama contemplar o romper da aurora e idolatra o por do sol. Para os amantes que se entregam entre quatro paredes, não desconfiam que elas ouvem suas juras de amor. Só quem ama conversa diante do espelho e com o espelho. Insiste em escrever cartas de amor ridículas, mas, se há amor não tem como não ser ridículas. Penso que ridícula mesmo, são aquelas pessoas que nunca escreveram uma carta de amor. Parodiando Fernando Pessoa.

Os afetuosos, arbitrários na generosidade, transpõem os limites da lei. Discrição e amor partilham da mesma estrada. Afáveis conseguem se tornar mais eloquentes do que a solidão que tenta emudecê-los. O amor é maior que a fé, mais vigoroso que a esperança e mais contundente que a racionalidade. Quem ama vê a vida em cores, sente o perfume da natureza. O amor busca afeto, é prudente e fortalece a relação. O amor é tido por alguns como o mais nobre dos sentimentos na medida em que é regado de benevolência, amizade, carisma, e outros adjetivos do gênero.

Quem ama, espera e suporta a tortura da ausência. Saudade é nome que se da para o buraco que o tempo cavou na alma e não encontrou quem o preenchesse. Amantes são ingênuos. Deixam-se enredar e mal sabem que os cordéis do amor não se esgarçam facilmente. Ao desdenharem do suplício de serem abandonados, padecem em alpendres, diante de álbuns, nos cheiros. Nos atos falhos da alegria, muitos nivelam o fosso em que se meteram devido a dor do abandono. O amor não se protege e nem protege.

Portanto, na história da filosofia alguns pensadores refletiram sobre esse sentimento com o intuito de conceituá-lo de maneira contundente e objetivo. No entanto, suas teorias remetem a um conceito subjetivo e debilitado na medida em que são extensões de suas respectivas filosofias, ou seja, ao estabelecer seus conceitos centrais esses vão servir de base para resolver todo e qualquer problema que envolva a espécie humana.

8 de outubro de 2021

FANTASIAR, DESEJAR E AMAR É DA ESSÊNCIA HUMANA

A fantasia é o que difere o ser humano de um animal irracional. O menino começa a ter curiosidade e a imaginar como é a menina e vai formando uma imagem na sua cabeça, vai idealizando um modelo de mulher. A partir daí formará um ideal de amor que vai surgir na idade adulta, todo o processo do apaixonar-se um pelo outro e ambos passam a enamorar através da fantasia que cada um faz da outra pessoa.

É aqui que começa o primeiro movimento do adolescente cercado de conflitos. Surge o interesse pelo outro, mas ao mesmo tempo é de negação do próprio desejo, quanto ao fato da outra pessoa ser interessante. Isto ocorre em função da primeira marca que fica da dor de amor.

Afinal, quanto maior a expectativa, maior a frustração e cuidamos de segurar estas expectativas. Então, desdenhar faz parte do processo normal do encantamento principalmente na adolescência. É não assumir o outro como objeto do nosso desejo, com medo de nos frustrarmos e sofrermos de novo. Evitamos esse desejo, até percebermos que temos alguma chance. Todavia, neste ponto inicia-se o processo de conquista.

No processo de conquista muitas coisas vão acontecendo. Há um interesse intelectual um pelo outro, o jeito da pessoa, o tom da voz, o sorriso, o encantamento vai se desenrolando bem devagar. O chamado amor à primeira vista, que pode acabar no instante seguinte dependendo da expectativa criada por ambos. Os dois são responsáveis diretos para a continuação ou não desse vínculo.

No momento da conquista, o desejo é transferir aquilo que sente pelo outro para dentro de um vínculo. O primeiro grande erro estratégico é querer transformar logo o que sente em namoro, antes de entender o significado dessa relação. O namoro é uma instituição onde existe um contrato tácito, ou seja, um compromisso moral. Como todo compromisso vira obrigação, ao mesmo tempo você está matando a fantasia e o desejo que sentem um pelo outro. É nesse momento que começam as cobranças.

Entretanto, o namoro neste contexto só serve para matar a fantasia, o carinho, o desejo e a magia que existe entre os amantes. A relação fica um vazio, um buraco. Por essa razão que a grande maioria das pessoas vive insatisfeito na sua subjetividade. Brigam o tempo todo para conquistar um ao outro e, quando conseguem aquilo que queriam, agora não querem mais, talvez quisessem outra coisa que o outro não pode oferecer.

O processo de desejar é um contínuo sim para muitas pessoas. Quando consegue, não sabe o que fazer, então descarta toda a possibilidade desse amor vingar. Certamente vai sair à procura para preencher esse vazio, é o momento do “ficar”. Na verdade, é um momento de muita ansiedade, o ficar é uma relação rápida de percepção curta em que, via de regra, existe uma paixão fugaz, pouco duradoura. Muitas pessoas só entram nessa por medo de ficarem sozinhas.

O que assusta no amor é que há uma identificação, aquele amor paixão, o amor dos iguais, no qual um olha para o outro e vê algo igualzinho a si próprio. Pensam exatamente as mesmas coisas. Antes de um proferir alguma frase o outro já fala a frase. Existe uma sincronicidade nessa relação, para usar uma linguagem junguiana. As chamadas coincidências. Gostam das mesmas coisas. São capazes de ficarem horas conversando e não conseguem esgotar o assunto.

De modo que a complementação desse amor são as diferenças, mas juntos formam um casal perfeito. Muitos amantes não conseguem se separar porque não sentem capazes de enfrentar o mundo sem aquilo que o outro tem e me completa. Significa amar no outro tudo aquilo que falta em mim, então eu fantasio e desejo o que me falta.

Portanto, quando perdemos alguém que amamos, achamos que nunca mais vamos conseguir nos apaixonar. Junto morre a fantasia e o desejo. Na verdade, o que outro fez por nós foi nos mostrar que temos condições de amar e de nos apaixonar. Ninguém leva embora a nossa capacidade de amar. Amar é um dom da essência humana. O que fazemos é aguardar que um dia as fantasias e os desejos ressuscitem novamente com a chegada de outra pessoa que venha e consiga despertar esse sentimento nobre outra vez. Tendo em vista, que a lembrança permanece, pois cada um é único na sua essência.

4 de outubro de 2021

INTRODUÇÃO: CRÔNICAS DO AMOR EM VERSO E PROSA

Começo citando o educador e escritor ítalo-americano Leo Buscaglia (1924-1998), que na minha opinião foi um dos maiores estudiosos do fenômeno “Amor”, que para muitos ainda é um mistério. Buscaglia dizia: A maioria de nós continua a agir como se o amor não fosse um fenômeno a ser aprendido, e sim como se vivesse adormecido em cada ser humano, simplesmente esperando alguma idade mágica de consciência para emergir em toda a sua intensidade. Muitos esperam essa idade para sempre. Recusamo-nos a encarar o fato óbvio de que as pessoas, em sua maior parte, passam a vida tentando encontrar o amor, tentando vivê-lo, e morrendo sem nunca tê-lo descoberto verdadeiramente”.

Crônicas do Amor em Verso e Prosa” é um livro sobre a necessidade e o prazer insubstituível de amar e sentir-se amado. Sobre o motivo que nos impulsiona a empregar a vida nessa busca, que nos faz ao mesmo tempo fortes e vulneráveis, que é fonte de alegrias e frustrações, porém, que leva ao único sentimento capaz de tornar completa nossa existência. No entanto, sou uma pessoa cheia de amor e não me envergonho disso.

A grande descoberta da vida seria a compreensão do momento exato da interseção entre o entendimento racional do amor e o sentimento de fato, o estar amando – “louca e apaixonadamente”. O momento em que não se pode mais evitar a entrega, o altruísmo. Que surge no apreciar, no compreender, no encontrar o melhor de você naquele outro alguém, naquele projeto profissional, naquele ideal antigo ou mesmo nas idas e vindas do dia a dia.

O livro “Crônicas do Amor em Verso e Prosa” fala sobre a necessidade e o prazer insubstituível de amar e sentir-se amado. Sobre o motivo que nos impulsiona a empregar a vida nessa busca, que nos faz ao mesmo tempo e vulneráveis, que é fontes de alegrias e frustrações, porém, que leva ao único sentimento capaz de tornar completa a nossa existência.

É um livro cuja profundidade não se esgota num único título publicado: o seu conteúdo se estende e, em se tratando de tal tema, amplia-se constantemente, tanto e de tal modo que ele se torna uma daquelas literaturas inesquecíveis, verdadeiramente emocionante, ainda que sem a pretensão de sê-lo. Bem como, o nosso interesse em propiciar a um grupo de pessoas das mais variadas idades e oferecer a mais humana reflexão acerca desse sentimento absolutamente transformador, contudo, desafiando o tradicionalismo do egocêntrico reduto acadêmico.  

Com citações de Platão, Sócrates, Soren Kierkegaard, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Erich Fromm, Victor Hugo, Mahatma Gandhi, Martin Buber, Antoine de Saint-Exupéry e tantos outros filósofos reconhecidos mundialmente, todas elas contextualizadas dentro de cada capítulo. Portanto, “Crônicas do Amor em Verso e Prosa” é uma obra que, tal qual o sentimento, tem materializada nas suas palavras a energia contagiante desse fenômeno revolucionário, capaz de nos inspirar ao auto e ao conhecimento integral do ser humano, que, definitivamente, sem o “Amor” nada seria.

3 de outubro de 2021

AQUILO QUE A MEMÓRIA AMOU FICA ETERNO

No livro: “Do Universo à Jabuticaba”, do filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014). Ele traz uma frase chapada e profunda, logo na abertura do livro ao dizer: “Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que a memória amou fica eterno. Portanto, parto do pressuposto que uma pessoa jamais se sentirá plena se amar só para dizer que ama. Amar pela metade, se não se entregar completamente não é amor. Repare que é completamente, não insanamente. Há quem confunda e ache que amor é feito de qualquer jeito, entre xingamentos e beijos, às vezes mais desrespeito que amor. Sinceramente, isso não tem cara de amor, é falta de serenidade. E se não tem paz, não dá para amar. Brigar desgasta, dá desgosto e nos deixa triste. Fujamos de afetos assim, de parceiros (as) desorientados (as).

Amor tem que ter constância. E consistência. Ama-se todos os dias, mesmo que o dia não seja o melhor. O amor fica impresso no silêncio, no respeito ao espaço e tempo do outro, na companhia para o descanso e na esperança de que o outro dia seja melhor. O amor não precisa ser falado, embora seja gostoso ouvir um “eu te amo” da pessoa amada. Isso não tem preço e é um prazer absoluto. Mas ele está muito mais no toque, na forma de falar e no jeito de olhar. Amor é mais sensação que palavras ditas. É quando um sente e o outro percebe e fala o que aquele está sentindo. Quantas vezes você pensou naquela pessoa especial e de repente ela te liga ou aparece na sua frente. Isto é uma linguagem das almas.

Não pode afirmar que ama, alguém que não demostre alegria em falar dos seus sentimentos. Mesmo que o tempo de convivência seja longo, um mínimo de afeto precisa ser demonstrado. É bonito quando alguém inclui o nome do outro em uma conversa qualquer. Inconscientemente, deseja que a pessoa amada se faça presente, ainda que o assunto seja corriqueiro. São coisinhas como: “ele também é assim e ela gosta muito disso”. Dá gosto de ouvir, soa como uma prova dos nove do amor, que aquela pessoa está vivendo.

Amor é lembrar dos produtos preferidos ao cumprir a lista do supermercado; é andar de mãos dadas na rua; é trocar metade de um filme por beijos e abraços; dividir um lanche e um copo de suco e saber que o verdadeiro banquete está na companhia. É saudade boa na ausência e tranquilidade na presença. Se os sentimentos acontecem ao inverso, há algo de errado. Se há mais cabeça baixa que brilho nos olhos, também é sinal de alerta. Se o abraço trocado não tem mais calor, a chama se apagou e talvez já faça algum tempo. Esse é um sinal de alerta que algo não vai bem. É hora de sentar e discutir a relação.

Portanto, o amor precisa ser forjado, não vem de mão beijada e nem é feito apenas de rosas. Não é perfeito, nem feito apenas de momentos felizes ou incríveis. Amor também é abrir mão, é uma conversa difícil e divergente. É desacordo que precisa terminar em acordo, em pedido de desculpas e em promessas de fazer melhor da próxima vez. Só experimenta o verdadeiro amor quem pode fazer dele o seu significado de reciprocidade. Só o amor devolvido na mesma moeda, traz felicidade completa. Bem lá no fundo, se há intimidade a ponto de um abraço dispensar qualquer palavra, seguramente é o amor que está se manifestando silenciosamente. Em resumo, “amar talvez seja isso: descobrir o que o outro fala mesmo quando ele não diz nada”.  

2 de outubro de 2021

SEM O AMOR A VIDA PERDE O SIGNIFICADO

O que sentimos no fundo da alma por uma pessoa, está no desejo ou no amor? Será que desejo e amor se confundem? Para Platão (427-347), não importa, pois, esse deve ser o ponto de partida para um caminho ascendente de contemplação intelectual ou espiritual por essa pessoa. Argumenta ele que é como ir subindo vários degraus: A função do desejo e do amor na alma humana é impulsionar em direção ao alto, em direção à contemplação da beleza em si mesma, eterna e incorruptível.

No entanto, o que Platão nos mostra é, que o amor é um caminhar sobre espinhos, uma loucura e um arrebatamento, mas não deve servir apenas à satisfação dos desejos inferiores da alma. Ele pode e deve envolver jogos eróticos, como carícias, beijos, toques, mas tudo isso no campo das ideias. Como muito bem ensina o Tantra Hindu. Os rituais desses encontros envolvem a aproximação muito lenta do homem com a mulher, aproveitando cada passo, sentindo cada pequeno gesto, olhar, sorriso e contato físico. Uma forma sábia de prolongar estes momentos prazenteiros é viver em eterna delícia. Esta é a essência da mensagem Tântrica, que Platão afirma no mundo das ideias.

Procurar por esse amor estará sujeito quase sempre a encontrar prazer e dor como diz nos diálogos de Platão sobre o amor. É nas relações afetivas que essa combinação paradoxal surpreende e fere, acima de qualquer sensação física. Nesse envolvimento passional as impressões subjetivas sutilmente superam a racionalidade, igualando paixão e amor. Sentimentos que se confundem no coração, mas distinguem-se no cérebro. Pode-se dizer que no porquê e no apesar estão as diferenças semânticas que a emotividade não explica. Só as almas conhecem e conversam telepaticamente, ultrapassando a temporalidade.

Apaixonamo-nos porque o ser amado parece ter virtudes só visíveis aos nossos olhos. Amamos quando descobrimos que, apesar de aparentes as virtudes e ostensivos os defeitos, predominam a confiança e a compreensão. Tendo em vista que na paixão, está o princípio da dor e no amor está o princípio do prazer. Confundir a natureza desses sentimentos é misturar prazer e dor. Com a paixão vem à posse, o ciúme e a cobrança. Com o amor ficam a admiração, o respeito e a lealdade, formas de amar que poucos reconhecem. Nenhum relacionamento sobrevive sem esses ingredientes que decorrem não do arrebatamento – atributo da passionalidade insensata – mas da razão, atributo da maturidade racional.

Entretanto, nos desdobramentos da paixão, o amor e o ódio encontram-se e repelem-se, para negar e consentir no trânsito entre o amor e o não amor à simpatia; entre o ódio e o não ódio, a antipatia; entre o não amor e o não ódio, a insegurança. Regidos por essas forças, os relacionamentos pessoais, familiares ou sociais, aproximam-se ou distanciam-se num oscilar contínuo, mediados pela sinceridade, pelo carinho, pela solidariedade, tanto quanto pela mentira, pelo desprezo ou pelo egoísmo.

Portanto, enquanto houver uma alma apaixonada, o cérebro e o coração dividirão a soberania das emoções, confundindo paixão e amor. Não existe outra forma de descobrir o amor e, sem ele a vida não tem significado. Contudo, desejo aos jovens que não amadureça depressa demais e sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança e do bem, se algum houve, as saudades.

1 de outubro de 2021

O SILÊNCIO PARA O POETA É MARCA DE SUA INSPIRAÇÃO

O amor é como o sol. Uma nuvem pode escondê-lo, mas nunca apagá-lo. Quando daqui algum tempo, espero que muito distante, chegaras aos confins do azul do céu e guardaras justamente no olhar da amada toda cor deste planeta, que com rosas vermelhas enfeitou o amor que o poeta fotografou. Que alegrou a beleza dos rios e dos verdes campos por onde a amada pisou. E as canções de amor que ouvia no silêncio da noite, entre uma melodia e outra o poeta lia nas estrelas as inspirações que escrevia.

Vem mais um dia semear esperança num coração solitário. Uma semente caída de uma árvore pode produzir outra árvore, porque a natureza é feita dessa energia descrita no amor. Só um sonho vagarosamente pela noite adentra e não amanhece se a realidade não vier contemplar o despertar desse amor. Por esse passado o poeta e sua amada, viveram a eternidade de um coração inspirado. Como uma força cósmica, todas as tardes vêm semear esperança neste coração solitário.

O silêncio para o poeta é marca de sua inspiração. Falar da amada é como pintar a natureza. Uma música veio seguindo os passos da mulher amada e o poeta pode ver o brilho em teus olhos, como a cauda de um cometa riscando o céu estrelado em noite fria de inverno. O balanço da música brincava com o espaço solitário do poeta, renovando os anos passados em cada nota musical. Ambos não querem morrer, pois querem ver como será envelhecer.

A mulher amada construiu na cabeça do poeta uma nova moradia. Embriagados pelo amor da fonte universal, olham o vento brincando no quintal, embalando as flores do jardim e transformando tudo em sinfonias. Com essa musicalidade do corpo, é que renova a gratidão de haurir a leveza, que a razão incendeia. Os olhos é uma janela acesa de vida, que tritura as ansiedades e acolhe gente que chora como este simples poeta.

Já dizia o poeta: “deixa o rio andar ou empurra um rio abstrato, mantendo as vidas da vida”. Rasga por dentro uma dor que machuca em cores, a vida passa como cortes de metal, em vagalhões de mar e luz, misturando o céu e a terra. Vinda de outras vidas sangra o espírito que o amor espera. O poeta ouve o que as coisas dizem. Sua fala é a voz das coisas. E as coisas se transformam em poesia. O poeta entra no universo das coisas e faz amor com as palavras. Eis que surge a mulher amada e penetra no corpo do poeta e o novo evangelho se anuncia: “o amor se fez carne”. Agora, ambos estão vivos e a prova de que permanecem no amor é a saudade que eterniza a memória de seus corações. Nesses versos mostra que a vida anterior que retorna em forma de dor que não dói, mas pode ser fatal. Foi assim que pensou o poeta sobre a amada.

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...