3 de outubro de 2021

AQUILO QUE A MEMÓRIA AMOU FICA ETERNO

No livro: “Do Universo à Jabuticaba”, do filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014). Ele traz uma frase chapada e profunda, logo na abertura do livro ao dizer: “Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que a memória amou fica eterno. Portanto, parto do pressuposto que uma pessoa jamais se sentirá plena se amar só para dizer que ama. Amar pela metade, se não se entregar completamente não é amor. Repare que é completamente, não insanamente. Há quem confunda e ache que amor é feito de qualquer jeito, entre xingamentos e beijos, às vezes mais desrespeito que amor. Sinceramente, isso não tem cara de amor, é falta de serenidade. E se não tem paz, não dá para amar. Brigar desgasta, dá desgosto e nos deixa triste. Fujamos de afetos assim, de parceiros (as) desorientados (as).

Amor tem que ter constância. E consistência. Ama-se todos os dias, mesmo que o dia não seja o melhor. O amor fica impresso no silêncio, no respeito ao espaço e tempo do outro, na companhia para o descanso e na esperança de que o outro dia seja melhor. O amor não precisa ser falado, embora seja gostoso ouvir um “eu te amo” da pessoa amada. Isso não tem preço e é um prazer absoluto. Mas ele está muito mais no toque, na forma de falar e no jeito de olhar. Amor é mais sensação que palavras ditas. É quando um sente e o outro percebe e fala o que aquele está sentindo. Quantas vezes você pensou naquela pessoa especial e de repente ela te liga ou aparece na sua frente. Isto é uma linguagem das almas.

Não pode afirmar que ama, alguém que não demostre alegria em falar dos seus sentimentos. Mesmo que o tempo de convivência seja longo, um mínimo de afeto precisa ser demonstrado. É bonito quando alguém inclui o nome do outro em uma conversa qualquer. Inconscientemente, deseja que a pessoa amada se faça presente, ainda que o assunto seja corriqueiro. São coisinhas como: “ele também é assim e ela gosta muito disso”. Dá gosto de ouvir, soa como uma prova dos nove do amor, que aquela pessoa está vivendo.

Amor é lembrar dos produtos preferidos ao cumprir a lista do supermercado; é andar de mãos dadas na rua; é trocar metade de um filme por beijos e abraços; dividir um lanche e um copo de suco e saber que o verdadeiro banquete está na companhia. É saudade boa na ausência e tranquilidade na presença. Se os sentimentos acontecem ao inverso, há algo de errado. Se há mais cabeça baixa que brilho nos olhos, também é sinal de alerta. Se o abraço trocado não tem mais calor, a chama se apagou e talvez já faça algum tempo. Esse é um sinal de alerta que algo não vai bem. É hora de sentar e discutir a relação.

Portanto, o amor precisa ser forjado, não vem de mão beijada e nem é feito apenas de rosas. Não é perfeito, nem feito apenas de momentos felizes ou incríveis. Amor também é abrir mão, é uma conversa difícil e divergente. É desacordo que precisa terminar em acordo, em pedido de desculpas e em promessas de fazer melhor da próxima vez. Só experimenta o verdadeiro amor quem pode fazer dele o seu significado de reciprocidade. Só o amor devolvido na mesma moeda, traz felicidade completa. Bem lá no fundo, se há intimidade a ponto de um abraço dispensar qualquer palavra, seguramente é o amor que está se manifestando silenciosamente. Em resumo, “amar talvez seja isso: descobrir o que o outro fala mesmo quando ele não diz nada”.  

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