29 de setembro de 2015

DOIS TEMAS CENTRAIS DISCUTIDOS POR PLATÃO

Entre os diálogos de Platão (427-348 a.C.), dois temas centrais se destacam e se articulam: a política e a teoria do conhecimento. O Platão na sua obra “A República” procurou construir em “logos” as bases para uma cidade justa e feliz. Para obter êxito nesta tarefa, foi necessário conhecer, saber distinguir e construir uma cidade marcada pelo equilíbrio. Por isso, o conhecimento das partes da alma, das funções de cada um e suas aptidões, para que a cidade possa permanecer em harmonia. O filósofo, neste caso, tem uma função especial: a de esclarecer as condições para a construção desta cidade. Toda cidade, segundo Platão, nasce das necessidades e é necessário encontrar os meios para satisfazê-las e garantir, entre pessoas desiguais e dessemelhantes, a unidade da “polis”. Por isso, a necessidade de cada um conhecer e desempenhar bem suas funções, o que pode acontecer pela educação.

A educação platônica é sustentada no ponto central de sua teoria do conhecimento: saber disciplinar o corpo e a alma, para que seja possível distinguir as meras opiniões (doxa), do conhecimento autêntico (episteme). Neste jogo do dualismo platônico entre a aparência e a essência, está a premissa da existência das “ideias”. O conhecimento do ser humano é iniciado por aquilo que lhe é mais próximo, o sensível, mas devem buscar pela reflexão (dianóia) o estabelecimento de hipóteses que os afastam das coisas sensíveis para estabelecer, exclusivamente pelo pensamento, o conhecimento do mundo das ideias, do qual as pessoas participam (teoria de participação) através da reminiscência.

Portanto, a função da educação, neste caso, é disciplinar o corpo e a alma, começando pela música e pela ginástica, para que se possa atingir a dialética, a ciência máxima que permite o conhecimento do que permanece (influência de Parmênides) e habita o mundo das ideias, maiores as condições para a construção da cidade justa e feliz. Isto não equivale a dizer que tudo é uma repetição, pois, para Platão, as coisas tendem a degenerar-se e há uma teoria cíclica (influência de Heráclito) que marca, por exemplo, as formas de governo. Contudo, as relações entre conhecimento e a política em Platão não podem ser separadas.

27 de setembro de 2015

COMO IGUAIS QUEREMOS AMAR E SER AMADO

Qual a razão de vivermos nesse mundo? Devo dizer que a vida é uma jornada. Uma jornada para descobrir quem somos. E quando chegamos naquela encruzilhada em que descobrimos quem somos de fato, alcançamos à paz interior. Uma vez que encontramos a paz, podemos criar de acordo com a nossa consciência criativa. Isto tem sido muito difícil para nós humanos, criar um mundo que seja próspero, onde reconhecemos uns aos outros como iguais e divinos, momento de compartilharmos e cooperarmos. Parece que não somos tão competentes assim. Por que não compreendemos uns aos outros? Quando estudamos e analisamos os nossos comportamentos, percebemos que todos são iguais. Porém, todos querem amar e todos querem ser amados. E por que o mundo anda tão desigual se somos todos iguais?

Apesar de querermos ser amados, o mais difícil para os humanos é amar uns aos outros e trocar coisas de forma honesta. As pessoas organizaram nosso sistema de tal maneira que todos querem ter lucros. Todo mundo está correndo de um lado para outro, parece que todos têm que lucrar com alguma coisa. Passamos doze horas por dia no trabalho para pagar as contas e por comida em casa, e ainda esperando que tenha trabalho o suficiente para nunca faltar. Ninguém respeita mais ninguém. Todo mundo usa todo mundo para conseguir o que quer. O amor foi totalmente banalizado e esquecido. O nosso sistema passou do dogma religioso para o dogma econômico em que todos têm que pagar alguma coisa.

Os governos não reconhecem a luz e o amor em seu povo. Somos um povo de amor e luz. Mesmo assim, há um ódio espantoso no ar, matam por qualquer coisa, só para se apropriar dos recursos de outros povos. E a humanidade parece não fazer qualquer objeção. Mesmo sabendo que está tudo errado. O que precisa para que tenhamos um mundo mais acolhedor? Talvez nos falte consciência para que tenhamos um mundo mais humano. A solução seria mostrar uma nova face. Mostrar uma face mais amorosa, não de medo, mas de amor. Este é o objetivo do nosso aprendizado. Chegamos a este mundo para ficarmos unidos e cheios de amor. Então tudo o que costumava ser separado em positivo e negativo, masculino e feminino, agora é preciso unir esses dois polos para resgatar o elo perdido. Nessa perspectiva, preconiza-se a ideia de uma natureza humana essencialista e imutável.   

No entanto, nós nunca aprendemos isso. Não aprendemos que o masculino e o feminino precisam se unir para ficarem conscientes. Se não unir o positivo com o negativo a água não aquece. Na verdade, nos deixaram com medo e disseram: “não, o divino, ou Deus, está lá fora e você precisa adorá-lo e precisa ter esperança que ele o abençoará”. Esse é um ensinamento falso. A divindade não está somente fora, essa é apenas metade da verdade. Ela está também dentro de nós. Somos todos seres divinos. Mas o problema com o nosso aprendizado é que precisamos entender que a natureza animal e a natureza divina, que estão separadas, precisam ser unidas. Então é o animal em nós que é medroso, que está sempre lutando para conseguir mais. E é o divino em nós que é capaz de cooperar e ser amoroso.

Todavia, o trabalho para cada ser humano é unir essas duas energia dentro de si. A parte masculina, que é a mente, e a parte feminina, que é o coração. Estes dois precisam funcionar em harmonia. A intuição, que é a energia do amor e da compreensão, guia à mente para fazer a coisa certa. Se acreditássemos em nós mesmos, imediatamente faríamos a coisa certa. Mas não acreditamos em nós, porque acreditamos na divindade em algum lugar lá fora, ou que Deus fará isso por nós. Mas Deus não vai fazer nada disso, por respeito ao livre arbítrio e porque ele já habita o nosso pensamento. É a nossa consciência o nosso juízo de valor. Temos que perdoar o passado, não vamos acusar ninguém. Mas precisamos respirar profundamente e dizer: “como quero viver minha vida? Ou vou ignorar tudo a minha volta? Ou espero levar o meu coração a fazer a coisa certa?” Movidos por uma consciência profunda acerca da complexidade humana e afetiva, sendo assim, seremos amigáveis conosco e com a natureza.

Quando servimos as pessoas com a informação certa, para que elas as tornem quem de fato são, podemos dizer que esse é o nosso lado divino se manifestando. Todo ser humano que respira desse ar, está em sintonia com o divino, não importa em qual cultura ele vive. Estamos aqui para aprender as lições da integração, unindo aos opostos. Somos a luz e a luz atrai a experiência, e é isso que precisamos amar. Se não podemos amar, é porque temos tipos de opiniões diversas sobre as pessoas, não vamos conseguir amá-las, porque estamos sempre julgando, sempre apontando o dedo, esquecendo-se de que há sempre outros três dedos apontando de volta para mim. Mas as pessoas não enxergam isso, veem apenas o único dedo apontado para frente. A lógica é não julgar. O pressuposto de meu existir é amar. Se existo é porque sou fruto desse amor que um dia se materializou. A lógica é não ter medo e acreditar em si mesmo. É como expressar sua luz, ao expressar seu amor. Essa é a mais profunda e significativa experiência humana.

Entretanto, se não podemos fazer isso, não agimos como humanos. É o nosso animal lutando pela existência, está sempre atacando todos à sua volta porque está cheio de medo. Basta olhar para os nossos lideres e ver como eles atacam outros países, por medo. Se amassem as pessoas, elas os amariam de volta. Se há amor, com amor se retribui. A vida é simples, nós é que a complicamos. Mas de alguma maneira há uma força, que conhecemos por força das sombras, que aparenta ser tão forte que as pessoas não acreditam em si mesmas, mas acreditam na força das sombras e servem a elas. Contudo, lucram em cima de todo mundo e funcionam como parasitas. Não que elas queiram ser parasitas. Elas querem realmente é ser amadas. Como todo mundo é igual, não existe ninguém melhor que o outro. Somos iguais no amor e na carência. O que precisamos é que as pessoas expressem seu amor, sejam felizes e se unam com o Todo. Esse é o despertar final.

Por outro lado, parece que os jovens já sabem que o sistema é uma coisa muito ruim, que há algo de muito errado e todos tentam se afastar dele. Mas um dia os jovens terão que pagar as contas. Certamente vai ter que fazer parte do sistema da forma errada e negativo, quanto ao resto da humanidade. Ou seja, como diz o espiritualista holandês Robert Happé: “90% dos jovens são negativos e 10% são agradáveis e confiantes”. Por conseguinte, seria bom estimular uns aos outros a fazer a coisa certa. Não julgando, mas mostrando o caminho. No entanto, muitas pessoas simples que trabalham em hospitais e até em prisões, são pessoas amorosas, porque compartilham sofrimentos, porque amam servir seu próximo. A maioria não percebe, por conta dos dogmas. Estamos aqui aprendendo as lições da integração com o próximo. Precisamos aprender que as situações negativas e positivas podem se unir. Não o positivo em preferência ao negativo, porque assim cria separação. Estes polos precisam ser unidos para que tenhamos uma única grande luz. Isto é consciência cósmica. Dois polos de eletricidade, um positivo e outro negativo junto, a luz se ascende.

Sendo assim, temos que estimular cada um ser igualmente conhecedor e criativo. Não um tentando controlar o outro. Aqueles que estiverem mais elevados na consciência profunda, vão ganhar o respeito de todos. É uma questão de respeito, não uma questão de controle. Estamos agora naquele ponto em que alcançamos a habilidade de abraçar esses conceitos, em que podemos realmente entendê-los. O maior presente que podemos dar a quem de fato amamos é o “presente da confiança”. Confiar na centelha divina que existe em cada um e que podemos fazer a coisa certa. Isso nos trará segurança e firmeza para o conhecimento que temos do outro. Na verdade, a honestidade também é mal entendida, assim como tudo na vida. Tendo em vista, que cometemos erros e nos distanciamos da verdade. Comumente, prestamos mais atenção em tudo que não é verdade e deixamos de lado os fatos que traduz a verdade, para ficar com as opiniões. Se você for honesto consigo mesmo, vai saber que está errado.

Portanto, temos que nos tornar mais confiantes com o nosso próprio nível de discernimento e acreditar mais em nós mesmos. Assim começamos a viver com mais honra e com mais respeito uns pelos outros. Somos todos humanos e a lógica é dominar o animal dentro de cada um. O animal ainda não aprendeu a se unir com seu aspecto divino. O animal que nos habita, está cheio de medo. Temos que decidir conquistar o animal, para que ele não se expresse mais com seus medos. Mas para que o divino se expresse com amor e atitudes cooperativas. Assim teremos um novo mundo. Contudo, somos amor e somos luz e estamos representando as boas energias. A educação precisa informar nossas crianças que elas vieram ao mundo para ajudar no processo de unificação, na integração com os outros, com amizade, com habilidade de cooperar, com qualidades humanistas e capacidade de compartilhar amor. Enfim, compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Sobretudo, por ser o amor à essência da alma e da vida.

25 de setembro de 2015

A FILOSOFIA AO ALCANCE DO PENSAR CRÍTICO

A filosofia sempre esteve ligada ao momento em que o homem começou a fazer perguntas sobre sua existência. Ela nasceu como uma atividade de esclarecimento e de autonomia de pensamento, pensar por si, conhecer a verdade do mundo, exercitar a linguagem autêntica para firmar alianças de tolerâncias e proposições de reconhecimento de igualdades. É importante que entendamos o significado da própria palavra filosofia, pois ela é utilizada de formas muito diferentes. Algumas vezes o termo é usado como “filosofia de vida”, para explicar como uma pessoa conduz sua vida. Também vemos a palavra relacionada ao trabalho, significando como a pessoa ou um grupo organiza o tempo, as decisões e o dia a dia de sua profissão. Há ainda a concepção de “filosofia religiosa”, dentre outros usos. De modo que a filosofia se relaciona à premissa de se constituir num saber, num modo de realizar alguma coisa, por assim dizer, o pensamento que organiza e da direção a essas atividades.

Temos também a filosofia que se aprende nas escolas, que faz parte do currículo escolar. Esta traz consigo um pressuposto de se reconhecer como um conhecimento que envolve a história da cultura, o que pensaram os filósofos em determinadas épocas e em que sentido tais ensinamentos podem nos auxiliar a pensar a vida de hoje, através do debate sobre a ética, a moral, os valores primordiais que trazemos na nossa matriz, ou formando grupos de estudos de filosofia como fizeram em Botucatu SP, reunindo-se uma vez por semana, sob a coordenação da filósofa e educadora Solange Frigato. Uma verdadeira bandeirante da filosofia.

Desse modo, a filosofia pode ser compreendida com um saber que tem por interesse a formação da inteligência crítica das pessoas. Na história podemos buscar informações sobre sua trajetória. Nessa época a filosofia significava um modo de entender o mundo, diferente do que até então predominava, o pensamento mítico, fantasioso. A pergunta sobre o que é e para que serve a filosofia. É uma das grandes questões que a acompanham, desde o seu surgimento até nossos dias. Houve tempos em que a filosofia apareceu como oposição à ciência, diante do entendimento de que esta sempre se ocupava de questões práticas e a primeira seria o exercício livre do pensamento.

Sabemos que a filosofia surgiu na Grécia Antiga, sua história já contém uma caminhada que vai modificando o conceito de reflexão de um pequeno grupo para o estimulo do pensamento crítico e autônomo para o maior número de pessoas, até ocupar a escola, como um conteúdo de nossa formação. Todavia, pensar filosoficamente é a grande intenção desse jeito de conhecer e saber, fazer com que a busca das verdades de cada situação nos auxilie a melhor entender o mundo, as pessoas e a realidade. A filosofia então tem o sentido de nos fazer pensar com nossas próprias ideias, buscando a autonomia, sem nos deixar conduzir por outras pessoas, outros saberes ou poderes; e nos dias de hoje, pelas agências de alienação e engodo coletivo, como a identidade dominante na mídia ou qualquer coisa que conduza o nosso pensamento, assim como as redes virtuais na internet.

Entretanto, é por isso que a filosofia nem sempre teve uma boa aceitação no país ou entre algumas pessoas mais conservadoras. Como argumenta o filósofo e educador Cesar Nunes (UNICAMP): “o compromisso da filosofia em estimular o pensamento crítico e dar a oportunidade de que cada um tire suas próprias conclusões sobre as situações de sua vida, da política, da sociedade, sobre as outras pessoas, pode incomodar àqueles que não têm interesse em deixar o pensamento livre e crítico ganhar espaços em nossa sociedade”. Tendo em vista, que a ideia mais importante é que todos possam exercitar essa forma de pensamento, para descobrir o que há por trás do que nos é repassado pelos meios de comunicação, pelo conhecimento que aprendemos como o único válido e que comecemos a questionar as formas de viver e pensar, buscando, o grande interesse da filosofia: uma vida melhor, em que os seres humanos possam sonhar e usufruir da felicidade.

Portanto, uma vida feliz se constrói com a vivência da igualdade, do pensamento livre, da criatividade, do diálogo, no combate às situações de desigualdade, pelo respeito ao próximo, ao meio ambiente, em particular aos direitos conquistados por crianças, jovens, adultos, mulheres, pessoas com deficiências, idosos, negros, índios e marginalizados. Exercitar o pensamento de cada um por si mesmo é um dos principais compromissos daqueles que têm como interesse a vida plena, a justiça e a felicidade como valores fundamentais do que chamamos de emancipação humana.     

22 de setembro de 2015

DEMOCRACIA COM EDUCAÇÃO

Democracia com educação se faz com escolas decentes, professores capacitados e qualificados para dar o melhor de si. Educar com democracia é um processo, cujo principio básico dessa convivência entre as pessoas é instaurar uma “paz perpétua”. O ser humano por natureza é egoísta. Somos capazes de destruir o outro porque não temos responsabilidade de cuidar do nosso semelhante. Usando aqui de uma metáfora canibal. Come-se o outro para se tornar o outro. No amor essa metáfora está presente através do Eros. Mistura-se com o corpo do outro, comendo o outro. Está no pressuposto cristão: transformar o outro em vinho e pão, isto é, beber e comer o outro. Há aqui uma comunhão absoluta. Seria a Metamorfose de Fraz Kafka (1883-1924), onde o outro acorda como um animal. Na verdade, ele não se tornou literalmente um inseto, tem uma sutileza aí que não é nada sutil. Isto que leva Jean-Paul Sartre (1905-1980), afirmar que o outro é o seu “inferno”. Por conseguinte, nós somos o momento negativo para afirmar o espírito absoluto que nos habita.

A escola tem um papel fundamental nesse processo, pois é o lugar do conhecimento e do aprendizado. O ambiente escolar deve ser pautado numa visão democrática que se inicia, primeiro a partir da hospitalidade e da delimitação da gestão do ambiente onde se desenvolve a educação. Sendo de suma importância que os educadores estimulem seus alunos a participarem do desenvolvimento da escola, criando sempre assembleias, grêmios e outros mecanismos de participação, que oportunizem aos educadores e alunos a tão sonhada cumplicidade, eivada de ações que colaborem para uma educação sempre motivada e incisiva no rumo da qualidade. O fator informação é cada vez mais importante na formação dos adolescentes. O interessante é filtrar essa informação e fazer dela algo a mais no processo de aprendizado crítico e questionador. Não podemos cair no relativismo de dizer, que os jovens ignoram a política e que estão completamente alienados.

Portanto, se queremos democracia com educação, é preciso compreender que o pressuposto da virtude da hospitalidade bebe dessas duas fórmulas simples e inesgotáveis, divisas de nossa modernidade. Torna-te aquilo que tu és. Formam um apelo a uma hospitalidade permanente, sem reservas e sem limites, de nossas casas, nossa pátria, de nossas almas e de nossos corpos. No mundo contemporâneo, a relação com o outro é uma relação de poder. Uma relação mecanicista. Não percebo o outro como meu semelhante, mas, como meu inimigo. Vivemos a mecanização do homem e a espiritualização da máquina. Será isso que nos constitui como humanos?

19 de setembro de 2015

QUE EDUCAÇÃO QUEREMOS PARA AS CRIANÇAS?

Para responder essa pergunta temos que considerar pelo menos uma dimensão social em uma sociedade extremamente desigual, os desejos e as necessidades dos pais em relação à educação de seus filhos são diferentes, dependendo muito de sua situação econômica e social. Mas a dimensão que deveria balizar a educação que se proporciona é a psicológica e ética. Por dimensão psicológica, entendo aquela que Olivier Reboul (1925-1992), em seu livro: “Filosofia da Educação”, aponta como sendo a primeira educação. Este período estende-se do nascimento aos quatro anos.

Nessa fase são os pais ou a família, os responsáveis pela educação da criança. Trata-se da educação que retira os excessos do jeito de viver das crianças como, por exemplo, a birra. Reboul chama-a de “educação dos sentimentos”. Tem a ver com tornar a criança suportável, a fazer amigos, a lapidar sua agressividade e aprender a viver com os outros iguais a ela e os outros adultos.

A dimensão ética é a forma de educação que nos mostra que somos diferentes dos outros animais. Nós, seres humanos, podemos inventar e escolher, pelo menos parte da nossa vida, como diz o filósofo espanhol Fernando Savater (1947). E podemos escolher acertar ou nos enganar. Esse saber viver ou arte de viver é a dimensão ética. Aqui entram os costumes, os caprichos, a liberdade, a amizade, etc.

Todos os pais desejam aos seus filhos uma boa escola. Por escola entendem uma instituição que lhes dará tudo: informações, saberes, conhecimento, comportamento. Mas, os pais querem saber que a escola impõe a rotina que ela acredita ser importante para adquirir conhecimento. A ordem e os costumes impõem essa rotina, mas ela vem de fora para dentro e mantém a sociedade tal como ela é.

Todavia, muitas coisas vem de dentro para fora. É aquilo que nós estabelecemos a partir de nós mesmos. É a capacidade de inventar a nossa própria vida e não viver a vida inventada pelos outros, como diz Savater. Quer dizer que algumas coisas somos nós que temos que dar. Não podemos exigir que a escola de uma educação integral. Nossas ações como pais ou como adultos dão mais lições que os livros. Desse modo, ser capaz de prestar atenção no que os filhos dizem e pensam é pré-requisito para que eles cultivem a capacidade de prestar atenção nos outros, de se relacionar bem com os outros. Querer viver é viver humanamente bem.

Em ultima analise, a educação que podemos proporcionar aos nossos filhos poderá ser aquela que mostra ao filho que cada um de nossos atos é que vai nos definir, vai nos inventar. Transformamo-nos pouco a pouco; mas não de qualquer modo. Nesse caminho, ignorar que outros sofrem, ignorar tantos conhecimentos maravilhosos, ignorar a invenção apenas põe-nos como pessoas mesquinhas no mundo. Porque não dizer infelizes. Podemos querer muito para os nossos filhos. Contudo não podemos apostar na vida sem a ética, sem a ideia de que mesmo as penas da vida valem à pena. Pois viver não é uma ciência exata. Educar também não. Viver e educar tem um que de arte, de invenção e reinvenção.

Portanto, viver e educar requer inteligência. Requer saber rir. Requer ânimo diante das falhas. Termino essa reflexão com um belo trecho do livro de Fernando Savater: “Ética Para Meu Filho”. “Tentei ensinar-lhe formas de andar, mas nem eu, nem ninguém temos o direito de carregá-lo nas costas. Uma vez que se trata de escolher, procure uma opção que lhe permita depois o maior número de outras opções, não faça uma escolha que o deixe encurralado de cara com a parede. Escolha o que o abra para os outros, para novas experiências, para as diversas alegrias. Evite o que o feche e o enterre. Quanto ao mais, boa sorte! E também aquilo que uma voz parecida com a minha gritou no seu sonho quando você era arrastado pelo torvelinho: confiança!”. Enfim, se a educação não pode tudo, não se pode nada sem ela.

15 de setembro de 2015

ANALFABETISMO: UMA FORMA DE EXCLUSÃO

Por que o Brasil ainda é um país cuja grande maioria pode ser enquadrada em algum tipo de analfabetismo? A quantidade quase infindável de questões sobre isso demonstra a complexidade desse problema brasileiro. De uma maneira geral, podemos dizer que é um dos sustentáculos da “cultura da exclusão” que vem sendo forjada desde a nossa colônia escravista. Seus pilares estão fincados nas raízes do Brasil sobre as quais o célebre historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) nos ensinou. Foi produzido pelos “donos do poder”, como aprendemos com o jurista, sociólogo e escritor Raimundo Faoro (1925-2003). É consequente do “pratriarcalismo” e do “mandonismo” ainda presentes nos ossos expostos da nossa fratura social, estudados pelo sociólogo Simon Schwartzman (1939). Estou citando esses três grandes pesquisadores para fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão.

Assim uma primeira aproximação ao problema nos remete à constatação de que este é um fracasso provocado socialmente e não pode ser entendido como fato natural ou, ainda, como uma doença. Muito menos creditado às suas vítimas: os analfabetos, absolutos, funcionais, digitais, políticos ou, numa só palavra, analfabetos sociais. Conseguiremos chegar mais perto dos principais responsáveis quando respondermos as questões fundamentais: quem ganha com essa situação? Quem consegue dividendo e vantagens? A quem não interessa resolver tal problema? Será que os políticos profissionais, por exemplo, gostariam que as suas zonas de atuação, não raramente verdadeiros “currais eleitorais”, estivessem livres dos analfabetismos? Quais são as consequências políticas e sociais para as tantas microrregiões brasileiras? As respostas parecem óbvias o suficiente para não precisarem de maior esclarecimento.

Certamente, as novas descobertas da linguística, do letramento, da cibernética hão de contribuir de modo importante para as soluções do problema. Mas, como nos ensinou o filósofo e educador Paulo Freire (1921-1997), a alfabetização e a escolarização não são práticas neutras, não se alimentam exclusivamente das técnicas, por melhor que sejam. Para o educador e pesquisador do CNPq Afonso Celso Scocuglia, esses problemas são de ordem estruturais, históricos, marcados pela exclusão continuada e agora estendida até para os que frequentam regularmente a escola desqualificada. Temos vários exemplos para demonstrar o descaso na educação, principalmente no ensino público. Hoje vejo a escola pública como um arquivo morto.

Por conseguinte, se a história brasileira não registrou a solução da problemática dos analfabetismos, já que os agravantes atuais são evidentes, pelo menos nos fez aprender que as tentativas de soluções avançam nos momentos em que a sociedade civil se conscientizar e se organizar para pressionar o estado brasileiro e seus dirigentes para assumirem as suas responsabilidades intransferíveis. Enfim, parece que esse é o único caminho a ser concretizado. Fora isso só mesmo denunciar ao Ministério Publico essa lambança do governo, principalmente no estado de São Paulo.    

5 de setembro de 2015

EDUCAR PARA A CIDADANIA

A escola deve fazer mais do que preparar o aluno para o ENEM e formar técnico para a competição no mercado de trabalho. Deve alfabetizar politicamente, construir cidadãos, dar noções de justiça, conscientizar o estudante da importância do seu papel na sociedade, como agente de direitos e deveres. Somente o cidadão consciente das suas competências junto à sociedade irá comprometer-se com causas e fins comuns.

Educar para a cidadania é aspirar uma escola que prepare pessoas não apenas para o trabalho, mas para participar no mundo globalizado de forma crítica, reflexiva e emancipatória. Cidadania é entendida como o conjunto de direitos e deveres que goza um indivíduo no processo democrático. O que lhe permite intervir na direção dos negócios públicos do Estado, de forma proativa, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração.

Este projeto pedagógico objetiva criar condições para uma ação transformadora, capacitando a comunidade educativa em práticas de responsabilidade social, educação ambiental e cidadania, tornando-a multiplicadora de ações cidadãs no cotidiano da escola e construtora de uma sociedade mais justa e igualitária. Como auxiliar os alunos a perceberem o quanto sua participação pode ser útil e importante para a comunidade, levando seu saber e sua ajuda para assim fazer a diferença.

Promover momentos de confraternização, ressaltando a importância do estar com e viver junto, da preocupação pelo outro, da empatia e da melhora da auto-estima dos alunos. Enfatizar a educação para a cidadania, promovendo a igualdade entre as pessoas, utilizando como parâmetro a relevância social da ação dos alunos e da escola. Proporcionar aos alunos o exercício do compromisso, do trabalho em grupo e da defesa dos direitos humanos.

Portanto, pesquisas realizadas no departamento de Educação da Unicamp, nos mostram que todas as ações realizadas surpreenderam pela participação e pelo interesse de professores e alunos. Ao final do projeto, um relatório e um termo de compromisso, elaborados com participação dos alunos, foram encaminhados à Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Educação do Estado de São Paulo, apontando sugestões de projetos de leis e ações para diferentes áreas de cada município. Contudo, escola publica tanto para o mal como para o bem é terra de ninguém. Enfim, essas sugestões foram engavetadas.

2 de setembro de 2015

A RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS

As pessoas são seres em relação. Não sobrevivemos sem relacionar-nos, porque somos fruto de uma relação. Desta relação e desta doação percebemos não só uma carga genética, com características físicas, mas trazemos também características psíquicas e espirituais, ou seja, sentimentos, emoções, valores, que nos tornam diferentes e individuais. Somos únicos, mas só temos sentido quando estamos em relação. Relacionar-se não é difícil, o difícil é separar as pessoas de suas limitações. Normalmente julgamos as pessoas pelos atos e não pelas intenções.

O que acontece nos desentendimentos do casal é que normalmente se olha a limitação e se esquece da pessoa. Queremos que o outro seja do nosso modo. Não podemos falar de relacionamento entre pais e filhos se não falarmos da missão de “ser pai, ser mãe e ser filho”. Filhos não se fazem, se geram. Pais também. Esta condição, este título, ninguém mais pode tirá-lo, nem apagá-lo, seja qual for à condição social ou econômica, ou até mesmo, estado de vida.

Isto implica em deveres e direitos. Se couber aos pais mostrar aos filhos os valores da vida, cabe aos filhos ajudar os pais a se unirem sempre mais. Enquanto os pais ensinam na vida a missão de ser filho, os filhos ajudam os pais a entenderem e viverem a missão de ser pai e mãe. Para isto, temos à nossa disposição um grande valor que se chama diálogo. Ele é indispensável para o conhecimento e o convívio.

Outros valores indispensáveis para o bom desenvolvimento e o equilíbrio da personalidade dos filhos são a bondade e a firmeza. A bondade gera confiança, a firmeza gera segurança. Pais que pensam em ser bons, mas não usam de firmeza, são dominados pelo egocentrismo dos filhos. E pais que só usam de firmeza sem o uso da bondade, são autoritários, geram medo, mentira e desconfiança. Outro valor que considero indispensável para o bom relacionamento é o respeito. Respeito para consigo e para com o outro. Quando os filhos perdem o respeito pelos pais é porque os pais já o perderam por si próprio, ou seja, não se fazem respeitar e não respeitam. Respeito é um valor, mas todo o valor só da frutos se for cultivado.

Imagino que desde a concepção, os filhos se comunicam e, além de copiar valores e contra valores dos pais e até de outras gerações passadas, aprendem a captar e emitir relações, fazendo disto conceitos que podem ser positivos ou negativos e que depois, durante a vida, são traduzidos em gestos e atitudes. Considero também importante à questão dos limites nos filhos. O escritor, médico e sacerdote João Mohana (1925-1995) expressa bem isto. Ele diz num de seus escritos: “o pai e a mãe que têm medo de causar complexo, recalque, frustração, e sob tais pretextos deixam os impulsos fazerem tudo o que querem precisamente estes é que ficam com a casa cheia de complexados, recalcados e frustrados. A vida é quem se encarrega dessa operação”.

O terapeuta Robert Hoffman (1921-1997), conhecido pela sua capacidade intuitiva incomum, ele era um homem talentoso e generoso, dedicado a despertar as pessoas para o poder magnífico e brilhante do amor que habita cada um de nós. Ele acreditava que o amor incondicional era um direito de nascença de todos os seres humanos. Diz ele que a criança, o adolescente e o próprio jovem precisam sentir o peso da autoridade dos pais para que recebam a orientação adequada e adquiram segurança para enfrentar a vida. Se não houver isto, criarão amorfos, sem fibra, egoístas e prepotentes indisciplinados e incapazes de um ato de renúncia ou desprendimento. A grande arte de educar está no saber equilibrar a autoridade com a liberdade, sem confundi-las com autoritarismo nem liberalismo.

Portanto, a liberdade educa, mas a liberdade conquistada, não a liberdade dada. O filho deve conquistá-la e os pais devem da-la aos poucos, em prestações, deve ser concedida à medida que este responde com responsabilidade a confiança depositada nele. Assim sendo, a relação se torna mútua. Contudo, falar de relacionamento entre pais e filhos é algo muito bonito, porém, muito difícil, porque é uma arte. Não é simplesmente falar de um fazer, mas é falar de uma vivência. Não se faz uma relação, mas se vive uma relação.

UMA HISTÓRIA DE AMOR QUE SÓ O TEMPO ENTENDE

Vou dividir com você essa História de Amor, porque ela tem muito do que vivi nesses últimos anos e mais precisamente nos últimos meses. Até ...