27 de junho de 2017

A OFENSA É UM FRACASSO PESSOAL

A quem pertence a nossa paz? De quem é a nossa tranquilidade de espírito? Se for nossa, quem pode tirar? Quem pode me ofender? Como se explica o ressentimento pelo qual algumas pessoas são afetadas? Uma verdade fundamental que ilumina a nossa vida e deixar os ressentimentos para trás, é exercitar o poder espiritual sobre nossa vida. Pois, ninguém tem esse poder de ofender o outro sem que o permita. A menos que passe uma procuração para ser ofendido e julgado. O que Jesus perguntou aos seus algoz: “Querem me condenar?” Ele percebeu o clima pesado. Não respondeu nada, passou no meio do povo e foi embora. Jesus não ficou pedindo: “Por favor me entenda, pelo amor de Deus não façam isso. Sou filho de Deus e vim para salvá-los”. Imagina que ele iria se humilhar a tanto. Tem pessoas que não adianta ficar pedindo compreensão. São portas fechadas e não estão preparadas para tamanha grandeza. São incapazes de gestos nobres, de generosidade. Gestos que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício do outro; magnanimidade. São bons para julgar e condenar, sem pensar no amanhã.  

O ensinamento budista tem um argumento muito interessante sobre a ofensa. Diz a filosofia budista que: “a ofensa é uma brasa que você atira na pessoa para queimá-la, como um fogo na mão que você quer queimar a pessoa o máximo possível, e talvez você consiga. Mas, em cem por cento dos casos, você queima a mão primeiro”. Quem ofende, revela insegurança e fraqueza de espírito. A questão é que sempre vamos encontrar alguém que aponte o dedo para nos execrar em nome da honra e da verdade. Que verdade? Quem pode dizer que conhece toda a verdade? Mas, tem pessoas que são convictas porque vivem de opiniões. Não adianta querer explicar, elas estão surdas e cegas. Só escutam a elas mesmas e muito mal. O próprio Jesus disse: “Pai perdoa, eles não sabem o que dizem, são ignorantes”. Geralmente, são pessoas amargas e mal resolvidas na sua subjetividade. Como dizia o saudoso Padre Léo: “Não adianta dar banho em porcos, o lugar deles é na lama”.

Entretanto, temos que pensar comparativamente, quem pode me ofender? Unicamente a quem eu der esse poder. Sendo assim, a ofensa torna-se um fracasso pessoal. Os Estoicos ensinam que não devemos se alterar diante das coisas que sejam desimportantes. Há poucas brigas muito importantes na nossa vida. Sendo a maioria por motivos fútil e banais. Contudo, existem pessoas rancorosas que nasceram para apontar os erros nos outros, e se esquecem dos próprios, os chamados falsos moralistas ressentidos. Alguns vivem dentro de igrejas e até praticam o ministério eucarístico cristão em suas comunidades. Não passa de uma representação social. Quando assumo o comando da minha vida, estou crescendo em Deus, de modo que a mentira é uma visão distorcida da realidade.

Portanto, todo ponto de vista é visto de um ponto. Somente vemos um pedaço da realidade e não a realidade toda. Se quer ser uma pessoa de coração bom, mergulhe no ágape da vida. Ninguém é bom o suficiente, enquanto não superar o mau que cresce dentro de si. Aquelas pessoas pequena por dentro é que se fazem fortes por fora, quando sabem que nos machucam. Quando começarmos a enxergar o nosso semelhante por um outro ângulo, começamos a enxergá-lo de um jeito novo e mais humano. Nesse momento recebemos uma graça linda de Deus, começamos a enxergar o outro com os olhos da esperança. Porque amar o outro é esperar em Deus.  

21 de junho de 2017

O HOMEM É PARA SARTRE O INFERNO DO OUTRO

Na peça escrita pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980): “Entre Quatro Paredes”, três personagens muito diferentes morrem e vão para o inferno. Lá não encontram o capeta, nem fogo, nem dor, nada do que imaginamos ou prega algumas religiões, ser um inferno. O castigo será a convivência entre eles, por toda a eternidade. Um detalhe interessante é saber que lá não existe espelho, dessa forma o outro será meu reflexo e minha identificação.

Quer situação mais infernal que esta? Pois tem! É saber que estamos nesse inferno, diariamente. Em nome da chamada relações humanas, abrimos mão de nossa verdadeira felicidade para viver em função de algo, e agimos por aparências. Muitas vezes, deixamos de fazer o que realmente nosso interior pede, por achar que vamos ferir convenções e costumes. Realmente, não machucamos os costumes, mas nos ferimos profundamente, principalmente por saber que aqueles que nos impõem seus olhares reprovadores também possuem as mesmas angústias existenciais que a nossa. Fui notando que, por não terem a liberdade e força para lutarem por suas felicidades, imputavam-nos o castigo de não sermos felizes, como deseja a nossa divindade.

Ao entregar nossa vida para que o outro nos comande, estamos nos coisificando, perdendo a razão do nosso existir. Esse sentimento de lutar por nossa liberdade, para que nossa vida tenha um sentido, sempre aparece quando morre alguma pessoa próxima, querida por nós. Sempre falamos que, a partir daquele instante, vamos viver de forma diferente, vamos fazer tudo o que for possível para ser feliz. Essa é uma postura existencialista. Para o existencialismo, não somos nada por definição, vamos nos fazendo na medida que vamos construindo no presente o que queremos para o nosso futuro. Dessa maneira nos diferenciamos das coisas, pois as coisas estão concebidas e nós, humanos, nos lançamos na caminhada do viver.

Entretanto, o grande mistério da vida é perceber que não existe um projeto de vida estabelecido para nós. Somos nós que criamos o existir. O que serviu para minha mãe ou para meus filhos, pode não servir para mim. A grande descoberta da vida é saber estar com quem a gente ama e que não somos robôs, fabricados em uma mesma forma, mas ao contrário somos criados para a liberdade que só o amor nos traz.

Portanto, a angústia surge quando esse sentimento de liberdade bate de frente com o outro que tenta nos formatar. Liberdade é escolha e amar é sentimento inato. Podemos fingir que aceitamos tudo pronto e assumir o papel que foi escrito para nós, ou tomar o comando de nossa existência e tentar escrever a nossa própria história. Um bom exemplo a ser seguido é o de Jesus, que não se deixava levar por aqueles que queriam lhe apedrejar e muito menos por aqueles que queriam coroá-lo. Na maioria das vezes a gente diz que ama, quem na verdade, a gente gosta. São duas coisas distintas. Gostar é querer estar junto, do latim = "gustare", sentir o sabor, provar, ou seja, fazer coisas juntos como: passear, dançar, estar numa roda de prosa ao lado de boas companhias. Ao contrário de amar. Amar é morrer pelo outro. Noventa por cento do mundo não sabe o que é amar e também não quer amar. Basta olhar para Jesus Cristo pregado na cruz, para entender o que é amar. Contudo, Sartre captou essa indiferença do ser humano pelo seu semelhante e construiu seu pensamento sobre o inferno criado pelo homem.  

17 de junho de 2017

O QUE UM PAI MAIS DESEJA?

Para ser um bom pai, o que é necessário? Ser pai é, antes de tudo, ser alguém aberto ao mundo da criança. Para ser pai é fundamental ter a consciência de que não é um super homem ou um semideus. O que um pai mais deseja é a felicidade dos filhos. Vê-los estudando, encaminhando-se para a vida profissional, de forma natural e serena. Para o filósofo Joseph Campbell, a maior autoridade no campo da mitologia, argumenta que nas epopeias, frequentemente, quando o herói nasce, o pai já morreu ou está em algum outro lugar, então o herói tem que partir à procura do pai. Pois ele precisa encontrar esse pai para resgatar sua identidade. Por conseguinte, no colégio que leciono filosofia no ensino fundamental II, juntamente com minhas colegas professoras, trouxemos os pais separados para dançar quadrilha com seus filhos. Todos estão levando a sério os preparativos para esta grande festa junina no colégio. Será um encontro de caráter familiar, onde o pai é o protagonista ao lado da filha amada.

Mas, em que momento da vida é formado o caráter de uma criança? Caráter é um termo usado na psicologia como sinônimo de personalidade. Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em índole ou firmeza de vontade. É um tema básico na mitologia, o filho que sai a procura do pai através dos séculos, este por sua vez simboliza a lei, a censura, o responsável pela formação do caráter do filho. De modo que, na história de Jesus, o seu pai era o Pai do céu, que é um termo simbólico aceito pelos cristãos. Quando é colocado na cruz, Jesus está a caminho do Pai, deixando a mãe para trás. Para Campbell, a cruz que simboliza a terra é, na verdade, o símbolo da mãe. Assim, na cruz Jesus deixa o seu corpo sobre a mãe, de quem ele o havia herdado e, vai para o Pai, a suprema fonte transcendente do mistério. É no Pai que ele vai encontrar a sua verdadeira identidade.

Quem quer ser pai deveria, antes de ter filhos, olhar para o espelho e dizer: “não sou Deus, portanto, o que vier como filho não poderá ser alterado por mim, e terei não só de aceitar, mas também de amar”. Muitos pais não percebem que o filho é uma pessoa singular, que precisa seguir um caminho único, dele próprio. Ninguém quer um filho no caminho do crime ou das drogas, muito menos da prostituição. Até nessa situação extrema, uma boa parte dos pais aprende a amar os filhos. Uma boa parte dos pais percebe, às vezes tardiamente, que, na diferença dos filhos, eles são muito iguais aos pais.

Portanto, nasce aqui o amor de poder viver e passar pela experiência que só os vivos é dado a conhecer. Quando um filho sai para o mundo é algo de corajoso, pois o desconhecido se abre: “o que acontecerá comigo? Serei menosprezado? Terei dificuldades na escola e no emprego?” Sabe que poderá não suportar e em dado momento, terminar como outros colegas seus: no suicídio. O pai pode ser o primeiro a jamais deixar isso acontecer. O pai dá a vida por meio do espermatozoide; deveria mantê-la, nunca tirá-la. Contudo, conheci pais vindo da roça, completamente brutalizado pela vida e analfabeto, mas com muito orgulho dos seus filhos, mesmo aqueles filhos drogados, gays e prostitutas. Como conheci também pais escolarizados, colocando sob tortura, filhos com esses adjetivos. Enfim a figura do pai serve como modelo de comportamento para o menino e também permite que a menina conheça e compreenda o universo masculino. 

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...